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E CONTROLO DE INFEÇÕES
E DE RESISTÊNCIA AOS
ANTIMICROBIANOS
2017
www.dgs.pt
2
FICHA TÉCNICA
Portugal. Ministério da Saúde. Direção-Geral da Saúde.
Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos 2017
Lisboa: Direção-Geral da Saúde, 2017.
ISSN: 2184-1179
PALAVRAS-CHAVE:
Infeção, Antibióticos, Resistência, Microrganismos
EDITOR
Direção-Geral da Saúde
Alameda D. Afonso Henriques, 45 1049-005 Lisboa
Tel.: 218 430 500
Fax: 218 430 530
E-mail: geral@dgs.min-saude.pt
www.dgs.pt
AUTOR
Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos
ÍNDICE
4.1. Enquadramento 19
4.2. Visão 19
4.3. Missão 19
4.5. Implementação 20
4.6. Monitorização 20
5. ATIVIDADES 2017-2018 21
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 23
PROGRAMA DE PREVENÇÃO E CONTROLO DE INFEÇÕES E DE RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS | 2017 4
• O consumo de antibióticos tem vindo a diminuir, • Consumption of antibiotics has been declining, both
quer nos hospitais, quer na comunidade. in hospitals and in the community.
• Manter a prevalência de Klebsiella pneumoniae re- • Keep rate of carbapenem resistant Klebsiella pneu-
sistente aos carbapenemos, em isolados invasivos, moniae below 6%;
abaixo de 6%;
• Reduzir para menos de 8% as infeções hospitalares; • Reduce HAI in hospitals to less than 8%;
• Reduzir para menos de 10% as infeções nas Unida- • Reduce HAI in long-termcare settings to less than
des de Cuidados Continuados Integrados (UCCI). 10%.
PROGRAMA DE PREVENÇÃO E CONTROLO DE INFEÇÕES E DE RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS | 2017 5
GRÁFICO 1 ÍNDICE GLOBAL NACIONAL DE QUALIDADE DOS PROCESSOS E ESTRUTURAS DAS PBCI | 2014 - 2016
1,00
0,95
0,893
0,90
0,866 Índice global de qualidade
dos Processos
0,85 0,841
0,822
0,809 Línear (Índice global de
qualidade dos Processos)
0,80
Índice global de qualidade
0,75 0,734 das Estruturas
GRÁFICO 2 ÍNDICE GLOBAL NACIONAL DE QUALIDADE DAS DEZ ÁREAS DAS PBCI, PORTUGAL | 2014 - 2016
1,0
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3 IGQ 2014
0,2
IGQ 2015
0,1
0,0 IGQ 2016
1 - Colocação/
isolamento dos
6 - Controlo
doentes
2 - Higienização
das mãos
3 - Etiqueta
7 - Manuseamento
respiratória
4 - Utilização de EPI
5 - Descontaminação
de materiais/
equipamentos
ambiental
seguro da roupa
8 - gestão do circuito
dos resíduos
9 - Práticas de
injetáveis
10 - Exposição de
risco/trabalho
1. Avaliação individual do risco de infeção na admissão do É notória a evolução obtida, quer a nível dos processos,
utente e colocação/isolamento dos utentes; quer a nível das estruturas, nos três níveis de cuidados de
2. Higiene das mãos; saúde (hospitalares, primários e continuados).
3. Etiqueta respiratória;
4. Utilização de equipamento de proteção individual (EPI); No gráfico 2 pode observar-se uma evolução positiva dos
5. Descontaminação do equipamento clínico; resultados estratificados pelos dez padrões que compõem
6. Controlo ambiental e descontaminação adequada das as PBCI. Apesar da evolução favorável desde 2014, salien-
superfícies; ta-se a necessidade de reforçar o cumprimento de todas
7. Manuseamento seguro da roupa; estas medidas, com ênfase para a avaliação do risco indivi-
8. Gestão adequada dos resíduos; dual do doente tendo em vista a adequação das medidas
9. Práticas seguras na preparação e administração de in- de isolamento dos utentes e o processo de descontamina-
jetáveis; ção dos dispositivos médicos reutilizáveis e das superfícies
10. Prevenção da exposição a agentes microbianos no local e controlo ambiental em geral.
de trabalho.
2.2. Higiene das Mãos
O gráfico 1 representa o valor do Índice Global de Quali-
dade (IGQ) dos processos e das estruturas (nível de cum- A higiene das mãos por parte dos profissionais é a medida
primentos) a nível nacional, ressaltando-se uma evolução mais eficaz, mais simples e mais económica de prevenir as
positiva que se traduziu num aumento em 12,7% para as IACS. A adesão das unidades de saúde à monitorização das
estruturas e em 7,95% para os processos, entre 2014-2016. práticas de higiene das mãos tem vindo a aumentar de for-
GRÁFICO 3 ADESÃO DAS UNIDADES DE SAÚDE* À MONITORIZAÇÃO DA HIGIENE DAS MÃOS, PORTUGAL | 2011 - 2016
180
140 122
120
95
100 92 93
80
60
40
20
0
2011 2012 2013 2014 2015 2016
Nota: *US agregadas por centros hospitalares e por UCC (agregação das várias tipologias existentes).
Fonte: PPCIRA/DGS. Dados Globais Plataforma das PBCI, Higiene das Mãos. 2016
GRÁFICO 4 TAXA GLOBAL DE ADESÃO À HM NOS CINCO MOMENTOS, PORTUGAL | 2011 - 2016
0,90
0,8722 0,8569
0,8631
0,8455 0,8502
0,85 0,8275
0,8185 0,8145
0,7993
0,80 0,7850
0,7663 0,7758
0,7440 0,7949 0,7806
0,75 0,7672
0,7261 Antes do contacto com o doente
0,7007 0,7095
0,6931 Antes de um procedimento asséptico
0,70 Depois de risco de exposição a sangue e
0,6647 0,6511
0,6524 0,6473 fluidos corporais
0,65 0,6442 0,6486 Depois do contacto com o doente
0,6193 Depois do contacto com o ambiente
envolvente do doente
0,60 0,5900
0,5773 Línear (Antes do contacto com o doente)
0,5611 Línear (Antes de um procedimento asséptico)
Línear (Depois de risco de exposição a sangue
0,55
e fluidos corporais)
Línear (Depois do contacto com o doente)
0,50 Línear (Depois do contacto com o ambiente
2011 2012 2013 2014 2015 2016 envolvente do doente)
Fonte: PPCIRA/DGS. Dados Globais Plataforma das PBCI, Higiene das Mãos. 2016
PROGRAMA DE PREVENÇÃO E CONTROLO DE INFEÇÕES E DE RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS | 2017 7
ma gradual, tendo-se registado em 2016 um aumento des- europeia que apurou que 10,5% dos doentes internados
ta adesão, sobretudo a nível dos Agrupamentos de Centros em Portugal, tinham adquirido infeção em internamento,
de Saúde (ACES) e das Unidades de Cuidados Continuados enquanto a percentagem no conjunto dos países europeus
Integrados (UCCI) (Gráfico 3). era de 6,1%. Na mesma população, em Portugal 45,3% dos
doentes estavam a ser tratados com antibióticos enquanto
A taxa de adesão dos profissionais à higiene das mãos foi na Europa essa percentagem era de 35,8%.
em 2016 de 73%. No gráfico 4 apresenta-se a evolução ao
longo do tempo da taxa global de adesão à higiene das Em 2013, um estudo semelhante a nível dos cuidados con-
mãos nos 5 momentos. tinuados apurou taxas de infeção de 10,4% em Portugal
e 3,4% na Europa, enquanto os doentes medicados com
2.3. Adesão à Monitorização do Uso de Luvas antibióticos correspondiam respetivamente a 9,5% e 4,4%
dos participantes.
Iniciou-se, em 2016, a monitorização do uso de luvas pelos
profissionais de saúde nas diversas unidades de saúde. Ve- Em 2017 foram realizados novos estudos de prevalência de
rificou-se uma adesão de 74 instituições, das quais, 39,0% infeção em Hospitais e em UCCI, com valores provisórios
correspondem a hospitais públicos. Quanto ao nível de tendencialmente favoráveis, a prevalência de IACS no PPS
cumprimento dos três padrões de uso de luvas (seleção/ II, após validação, foi de 7,8% (10,5% em 2012).
colocação, uso/substituição e remoção das luvas), nos hos-
pitais públicos aderentes, evidencia-se um IGQ de 80,7% Coordenados pelo PPCIRA, funcionam regularmente os se-
(Gráfico 5). guintes programas de vigilância epidemiológica da incidên-
cia de IACS em rede europeia e nacional:
2.4. Infeções Associadas a Cuidados de Saúde
1. Unidades de cuidados intensivos de adultos (HAI-Net
Um dos objetivos fundamentais do Programa é a redução UCI);
das taxas de IACS, através da prevenção e do controlo da 2. Infeção nosocomial da corrente sanguínea (VE-INCS);
sua transmissão. 3. Infeção do local cirúrgico (HAI-Net SSI);
4. Infeção adquirida em UCI neonatais (VE-UCIN).
A taxa de infeção é avaliada periodicamente através de es-
tudos de prevalência que medem o total de infeções adqui- Nos últimos anos tem-se assistido a uma tendência global
ridas pelos doentes internados em determinado período de descida da incidência destas IACS monitorizadas em
de tempo. Para além dos estudos de prevalência, que reve- Portugal. Assim, apresenta-se de seguida, a evolução das
lam a taxa de infeção num determinado momento, existem taxas de incidência destas infeções mais relevantes.
os estudos de incidência que medem de forma contínua
e sistemática as taxas de infeção, sendo estes últimos os A pneumonia associada à intubação endotraqueal em UCI
estudos mais fiáveis. de adultos em 2016 foi de 7,1 por 1000 dias de intubação.
No que se refere à infeção associada a cateter intravascular
Em 2012, foi realizado um estudo de prevalência de infe- central (CVC) em UCI de adultos, a taxa de incidência por
ção e consumo de antimicrobianos nos hospitais à escala 1000 dias de cateter foi de 0,9 (Tabela 1).
GRÁFICO 5 ÍNDICE GLOBAL DE QUALIDADE DA AUDITORIA AO USO DE LUVAS NOS HOSPITAIS PÚBLICOS
ADERENTES | 2016
88,0% 86,8%
86,0%
84,0%
82,0% 80,7%
80,0% 78,4%
77,9%
78,0%
76,0%
74,0%
72,0%
Seleção de luvas Uso/substituição de luvas Remoção de luvas Índice global de qualidade
Fonte: PPCIRA/DGS. Dados Globais Plataforma das PBCI, Módulo do Uso de Luvas. 2016
PROGRAMA DE PREVENÇÃO E CONTROLO DE INFEÇÕES E DE RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS | 2017 8
TABELA 1 TAXA DE INCIDÊNCIA E DE ICS (‰) EM A incidência de infecção do local cirúrgico (ILC) pode ser ob-
UNIDADES DE CUIDADOS INTENSIVOS DE ADULTOS | servada na tabela 2.
2008 - 2016
Pneumonia Infeção relacionada Em resumo, na análise geral da evolução da incidência de
associada à com cateter(CSRCVC) infeção em Portugal nos últimos anos, devem destacar-se
intubação por 1000 dias de CVC, resultados positivos na pneumonia associada à intubação,
endotraqueal (PAI) em UCI adultos
nas bacteriémias relacionadas com CVC e por MRSA e na
2008 11,2 2,1
infecção de prótese de joelho e de cólon e reto.
2009 10,6 2,2
2010 8,7 1,4 A participação dos serviços nos programas de vigilância
2011 8,6 1,5 epidemiológica tem sido nitidamente crescente. Esta par-
2012 8,7 1,0 ticipação é definida como obrigatória pelo Despacho n.º
2013 7,4 1,3 15423/2013, de 26 de novembro (3), pelo que deve ser in-
crementada, como única forma de melhorar a qualidade
2014 7,1 1,9
dos dados nacionais, com ênfase para a vigilância epide-
2015 8,4 1,3
miológica da infeção do local cirúrgico, a qual apresenta
2016 7,1 0,9 uma menor adesão.
Fonte: DGS/PPCIRA: Programa de Vigilância Epidemiológica nas UCI (Helics-
UCI) 2.5. Consumo de Antibióticos
A densidade de incidência de bacteriémia nosocomial por O consumo global de antibióticos em Portugal, expresso
MRSA por 1000 dias de internamento foi em 2016 de 0,13. em DHD (doses diárias definidas por mil habitantes por
dia), pode ser observado na tabela 3.
A taxa de incidência da infeção nosocomial da corrente
sanguínea (INCS) em serviços de internamento associado a Estes consumos têm-se mantido abaixo da média da União
CVC e por 1000 dias de CVC foi de 1,7 em 2016. Europeia, quer na comunidade, quer nos hospitais.
Nas UCI neonatal, a sépsis associada a CVC por 1000 dias O consumo global de antibacterianos em Portugal nos cui-
de exposição foi em 2016 de 12,6 (variação entre 9,5 em dados de saúde primários (CSP) mantém-se num nível ainda
2008 para 12,6 em 2016). elevado (21,6), apesar de abaixo da média da Europa (21,9).
TABELA 2 TAXA DE INCIDÊNCIA DE ILC (%) | 2011 - 2016 Na figura 1, pode observar-se o consumo global de antibac-
Colon Biliar Prótese Prótese terianos na comunidade pelas classes ATC, salientando-se
e Recto Anca Joelho
2011 20,7% 2,2% 1,7% 3,4% em Portugal as penicilinas, seguido dos macrólidos e das
quinolonas.
2012 23,7% 2,2% 1,5% 2,3%
2013 16,6% 2,0% 0,8% 2,0%
Quando analisado o consumo de antibacterianos
2014 17,2% 2,4% 0,6% 1,3% por classes nos hospitais em Portugal e na Euro-
2015 18,9% 2,7% 2,0% 1,8% pa, salientam-se as penicilinas, seguido das cefa-
2016 17,9% 2,5% 1,8% 1,6% losporinas/outros betalactâmicos, dos macrólidos,
Fonte: DGS/PPCIRA: Programa de Vigilância Epidemiológica nas UCI (Helics- lincosamidas e estreptograminas e das quinolonas (Fi-
Cirurgia) gura 2), seguido das cefalosporinas e outras classes.
FIGURA 1 CONSUMO GLOBAL DE ANTIBACTERIANOS POR VIA SISTÉMICA NA COMUNIDADE, NA EUROPA POR
CLASSES | 2016
Áustria Áustria
Bélgica Bélgica
Bulgária Bulgária
Croácia Croácia
Dinamarca Dinamarca
Estónia Estónia
Finândia Finândia
França França
Grécia Grécia
Islândia Islândia
Irlanda Irlanda
Itália Itália
Letónia Letónia
Lituânia Lituânia
Penicilinas (J01C)
Luxemburgo Luxemburgo Cefalosporinas/
Outros Betalactâmicos (J01D)
Portugal Portugal
Tetraciclinas (J01A)
Eslóvaquia Eslóvaquia
Macrólidos, Lincosamidas
Eslóvenia Eslóvenia
e Estreptograminas (J01F)
Espanha (a) Espanha (a)
Quinolonas (J01M)
Suécia Suécia
Sulfonamidas e Trimetoprim (J01E)
EU/EEA EU/EEA
Restantes 301 classes
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 0 10 20 30
Fonte: ECDC: Summary of the latest data on antibiotic consumption in the European Union. ESAC-Net Surveillance data. November 2017
FIGURA 2 CONSUMO GLOBAL DE ANTIBACTERIANOS POR VIA SISTÉMICA NOS HOSPITAIS NA EUROPA, 2016, POR
CLASSES DE ANTIBIÓTICOS | 2017
Holanda
Hungria
Polónia
Noruega
Portugal (b)
Bulgária
Bélgica
Suécia
Eslovénia
Estónia
Luxemburgo
Irlanda
Croácia
Dinamarca
UE / EEE
Letónia
Penicilinas (J01C)
França Cefalosporinas/
Grécia Outros Betalactâmicos (J01D)
Itália Tetraciclinas (J01A)
Eslováquia Macrólidos, Lincosamidas
Finlândia (a) e Estreptograminas (J01F)
Reino Unido Quinolonas (J01M)
Lituânia Sulfonamidas e Trimetoprim (J01E)
Malta
Restantes 301 classes
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
Embalagens por 1.000 habitantes/dia
Fonte: ECDC: Summary of the latest data on antibiotic consumption in the European Union. ESAC-Net Surveillance data. November 2017
PROGRAMA DE PREVENÇÃO E CONTROLO DE INFEÇÕES E DE RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS | 2017 10
3,5
2,91
3,0
2,61
2,18
2,5 2,12
2,05 1,92
2,0
Quinolonas em Ambulatório
1,5
Quinolonas em Hospitais
1,0
0,22 0,18 0,18 0,15 0,14 Línear (Quinolonas em Ambulatório)
0,17
0,0 Línear (Quinolonas em Hospitais)
2011 2012 2013 2014 2015 2016
2013 0,146
2014 0,139
2015 0,133
2016 0,124
No âmbito do Programa de Apoio à Prescrição Antibiótica profissionais de saúde. Verificou-se que 66,0% dos hospitais
(PAPA), através das auditorias realizadas pelo PPCIRA às do SNS já tinham um PAPA implementado com um médico
unidades de saúde apurou-se que ainda subsistem dificul- responsável por este programa enquanto nos ACES, apenas
dades em algumas unidades de saúde para darem segui- 14,3% tinham PAPA implementado e 28,6% tinham um mé-
mento à implementação deste programa nomeadamente dico responsável por este programa (Tabela 5).
no que diz respeito à afetação do número de horas para os
Fonte: Questionário aplicado pelo PPCIRA, dirigido aos membros dos GCL-PPCIRA, 2016
PROGRAMA DE PREVENÇÃO E CONTROLO DE INFEÇÕES E DE RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS | 2017 12
2.6. Resistências aos Antimicrobianos isolamento deve determinar o incremento imediato de me-
didas locais de contenção da transmissão e de análise e
A progressiva eliminação de estirpes suscetíveis aos anti- melhoria do padrão de prescrição de antimicrobianos.
bióticos mais utilizados e consequente seleção das resis-
tentes, bem como a transmissão das resistências por estas A Rede Nacional colabora na rede de vigilância epidemioló-
estirpes para outras previamente sensíveis, são mecanis- gica europeia de resistência aos antimicrobianos, enviando
mos biológicos de adaptação particularmente efetivos em anualmente dados representativos da realidade portugue-
grande parte das bactérias. Tratando-se de um processo sa para o sistema European Antimicrobial Resistance Survei-
de ocorrência expectável e natural, a seleção de estirpes llance Network (EARS-Net), coordenado pelo European Cen-
resistentes tem sido potenciada pela utilização frequente- tre for Disease Prevention and Control (ECDC).
mente inapropriada dos antimicrobianos.
Em Portugal, a percentagem de Staphylococcus aureus resis-
Na prática, o aumento das taxas de resistência significa tentes à meticilina (MRSA) tem vindo a diminuir desde 2011
que, perante uma infeção provocada por um determinado (54,6%). Em 2016 este valor foi de 43,6% evidenciando uma
microrganismo, é maior a probabilidade desse microrganis- redução de 20%.
mo ser resistente aos antibióticos habitualmente utilizados,
sendo a infeção apenas tratável por fármacos de mais largo As grandes razões para esta descida, terão por base, não
espetro, por sua vez com maior potencial gerador de re- só a implementação e alargamento do PPCIRA a todas as
sistências. unidades de saúde, mas também a implementação da nor-
ma do MRSA, da Estratégia Multimodal de Promoção das
A inversão desta perigosa espiral é um dos principais obje- PBCI, implementação do PAPA com redução de quinolo-
tivos da prevenção e controlo de IACS e de RAM. O proble- nas/carbapenemos (Gráfico 7).
ma das resistências aos antibióticos não é sequer exclusivo
da saúde humana, estendendo-se a todas as áreas onde Relativamente ao Enterococcus faecalis vancomicina resis-
se utilizam antibióticos, como a pecuária e a saúde animal. tente, ocorreu uma redução em 2016, como consta no
Esse facto levou a OMS a definir o conceito de “one health”, gráfico 8.
ou seja, “uma só saúde”, para traduzir a ideia segundo a qual
apenas uma abordagem global conjunta do problema, en- No que se refere a Escherichia coli resistente a quinolonas,
volvendo todos os intervenientes, permitirá o seu controlo. existe tendência decrescente sendo em 2016 de 30,2%, va-
lor acima da média europeia ( 21%) (Gráfico 9).
Em 2013, um protocolo realizado entre a DGS e o Institu-
to Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) promoveu o No gráfico 10, pode observar-se a tendência decrescente
alargamento da Rede Nacional de Vigilância Epidemiológica do Acinetobacter baumannii MDR em Portugal, que em 2016
de Resistências aos Antimicrobianos, de 22 laboratórios de apresentou um valor de 37,9% de resistência combinada
microbiologia (públicos e hospitalares), para 125 laborató- às fluoroquinolonas, aminoglicosídeos e carbapenemos.
rios (públicos e privados, hospitalares e não-hospitalares) No entanto, ainda se mantém acima da média da união eu-
em 2016, dos quais 110 notificaram os microrganismos ropeia (31,7%).
alerta e problema, de acordo com a norma da DGS número
004/2013, de 21 de fevereiro e atualizada em 13 de novem- A Klebsiella pneumoniae é agente comum nas infeções de
bro de 2015 (4). Estes microrganismos são particularmente trato urinário, respiratório e da corrente sanguínea. Rapida-
preocupantes em termos epidemiológicos, microbiológicos mente se dissemina podendo ser causadora de surtos se
e clínicos, pelo perfil de resistência que apresentam. O seu as medidas de controlo e prevenção não forem adotadas.
30
23,4
25 23,3
22,0
22,1 20,2
20
20,2
15
10 Enterococus faecinum R.
vancomicina
5 7,5
Línear (Enterococus faecinum R.
0 vancomicina)
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
34
33,4
33
32
31 31,7
30,2
30 30,5
80
68,3
70 64,3
60
50 45,0
39,2
37,9
40
Taxa de resistência Acinetobacter às
30 fluoroquinolonas, aminoglicosídeos e
carbapenemos (isolados invasivos)
20
10 Línear (Taxa de resistência Acinetobacter
às fluoroquinolonas, aminoglicosídeos e
0 carbapenemos (isolados invasivos))
2012 2013 2014 2015 2016
6,5 6,4
6,0
5,5
5,0
4,5
4,0
3,7
3,5
3,0
2,5
2,0 1,6
1,5 1,8 1,8 Klebsiella pneumoniae
0,7 0,8 0,8 resistente aos carbapenemo
1,0 0,5
0,5 Línear (Klebsiella pneumoniae
0,0 resistente aos carbapenemo)
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
36,6% 57,1%
2008 - 2016 2008 - 2016
13,5% 52,9%
2011 - 2016 2011 - 2016
INFEÇÃO ASSOCIADA
A CVC EM UNIDADES
DE INTERNAMENTO
Reduziu em
45,0%
2008 - 2016
STAPHYLOCOCCUS
AUREUS RESISTENTE À K. PNEUMONIAE
METICILINA (MRSA) R A CARBAPENEMES
RAM Reduziu em Aumento em
20,1% 73%
2011 - 2016 2015 - 2016
PROGRAMA DE PREVENÇÃO E CONTROLO DE INFEÇÕES E DE RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS | 2017 16
CONSUMOS DE ANTIBACTERIANOS
66% 14,3%
PROGRAMA DE PREVENÇÃO E CONTROLO DE INFEÇÕES E DE RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS | 2017 17
2. Redução do consumo de antibióticos, baseada na imple- Foram disponibilizadas para revisão pelo Conselho Cientí-
mentação de programas de apoio à prescrição de antibióti- fico, as normas da higiene das mãos (8) e do Uso de Luvas
cos (PAPA) e monitorização do seu consumo, aos três níveis nas Unidades de Saúde (9).
de cuidados de saúde (hospitalares, cuidados de saúde pri-
mários e cuidados continuados); Foi elaborada e colocada em discussão no Conselho Cien-
tífico a Orientação sobre as Enterobacteriaceas resistentes
3. Vigilância das resistências dos microrganismos aos an- aos carbapenemos.
timicrobianos, para análise da evolução dos resultados e
implementação e/ou reavaliação das estratégias imple- Deu-se continuidade à implementação do Projeto “STOP
mentadas. - Infeção Hospitalar” que se iniciou em 2015 em 12 uni-
dades hospitalares, promovido pela Fundação Calouste
No ano de 2016 assistiu-se, a nível mundial, a um aumento Gulbenkian e pelo Institute of Healthcare Improvement, em
da consciência para os problemas das RAM e as IACS, cul- articulação com o Ministério da Saúde e o PPCIRA/DGS. No
minando com a reunião de alto nível no âmbito da Assem- âmbito deste projeto, pretende-se reduzir em 50%, no pra-
bleia Geral da ONU, a qual colocou este tema como uma zo de três anos, a incidência de um conjunto de infeções
das maiores ameaças à saúde das populações, justificando hospitalares. Considera-se este objetivo atingível através da
dotação de meios compatíveis. implementação de um conjunto de boas práticas, traduzi-
das em feixes de intervenções, sendo a evolução monitori-
A nível nacional, o PPCIRA colocou o foco na implementa- zada no curto prazo e acompanhada por uma metodologia
ção de dois inquéritos de prevalência de infeção de âmbito designada por aprendizagem colaborativa. A implemen-
europeu, em Hospitais de Agudos e em UCCI com os res- tação do Projeto incide sobre a aplicação no terreno dos
petivos estudos de validação. Estes estudos abrangeram feixes de intervenção dirigidos aos procedimentos relacio-
quase a totalidade dos hospitais e das UCCI , focando-se nados com os dispositivos invasivos mais importantes, pu-
nas IACS, no consumo de antimicrobianos e nas estruturas blicados como normas de orientação clínica da DGS, para
de controlo de infeção existentes. Foram também realiza- que a sua aplicação possa ser generalizada em todos os
das auditorias através de inquéritos de resposta voluntária, hospitais do país.
onde todos os níveis de cuidados foram incluídos.
Deu-se continuidade ao Projeto Guardião do Antibiótico
O relatório anual do PPCIRA (5) continua a ser uma refe- que é uma campanha portuguesa de promoção do bom
rência em termos de monitorização de indicadores nesta uso de antimicrobianos dirigida sobretudo aos profissio-
área. No ano de 2016 foi elaborado o Relatório “A Saúde nais de saúde, onde é suposto que cada profissional de
dos Portugueses” do qual consta um capítulo referente aos saúde faça o seu compromisso de prescrever e acompa-
dados do PPCIRA (6), relativos ao ano de 2015. nhar os utentes com prescrição de antimicrobianos.
Foi anunciada a política nacional de pay per performance na Foram produzidos três manuais técnicos relativos aos In-
área de prevenção e controlo de infeção (Índice Nacional quéritos de Prevalência de Infeção nos Hospitais (PPS II de
do PPCIRA), através do Despacho n.º 3844-A-2016, de 15 de Hospitais) e nas Unidades de Cuidados Continuados (PPS
março (7), do Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, que HALT-3) e manual de monitorização do uso de luvas nas
determinou a criação de um grupo de trabalho interinstitu- unidades de saúde.
cional, a integrar a DGS, o INSA, o INFARMED e a ACSS, no
PROGRAMA DE PREVENÇÃO E CONTROLO DE INFEÇÕES E DE RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS | 2017 18
Realizaram-se seis ações de formação para implementação 3.4. Cooperação e Relações Internacionais
dos Inquéritos de Prevalência de Infeção nos Hospitais (PPS
II de Agudos) e de Infeção nas UCCI (PPS HALT-3) de âmbito Participação na Joint Action da União Europeia em 2017 nas
regional. áreas de prevenção e controlo de infeção e resistências aos
antimicrobianos, tendo o PPCIRA aderido com os workpa-
ckages WP 6.1 e WP 7.
A B C D
Reduzir o consumo Manter taxa de Reduzir prevalência Reduzir prevalência
de antibióticos Klebsiella pneumoniae de infeção adquirida de infeção adquirida
na comunidade < 19 DHD resistente aos em hospitais < 8%; em cuidados continuados
(Doses Definidas Diárias / carbapenemos <6%; < 10%.
1.000 habitantes / dia);
4.5. Implementação
METAS
OBJETIVOS
2020
4.6. Monitorização
METAS
INDICADOR VALOR BASE FONTE / OBS.
2020
5. ATIVIDADES 2017-2018
Descrevem-se, em linhas gerais, as atividades a desenvol- • Disseminar normas de boas práticas na prevenção e
ver em 2017-2018: controlo de infeções e das RAM e do consumo de an-
timicrobianos;
Vigilância Epidemiológica
• Promover e monitorizar a dinamização dos grupos
• Alargar a adesão das Unidades de Saúde aos Pro- de coordenação local ao nível hospitalar, cuidados de
gramas de Vigilância Epidemiológica das Infeções em saúde primários e cuidados continuados integrados;
Rede Europeia e Nacional;
• Rever o Plano Operacional de Prevenção e Controlo
• Promover a dinâmica do grupo de Dinamizadores dos de Infeção em 2018 (POPCIRA) e enquadramento le-
Programas de vigilância epidemiológica; gal das estruturas nacional, regionais e locais de con-
trolo de infeção e de resistência aos antimicrobianos;
• Desenvolver um Protocolo Nacional de VE das IACS
em UCCI; • Planear a integração do programa Stop Infeção Hospi-
talar nas áreas de intervenção do PPCIRA;
• Publicar o relatório anual de Vigilância Epidemiológica
na área do PPCIRA e monitorização dos indicadores • Elaborar e divulgar normas e orientações técnicas de
de saúde, nomeadamente, o Índice global do PPCIRA; prevenção e controlo da infeção associada a Clostri-
dium difficile; Precauções Baseadas nas Vias de Trans-
• Desenvolver e garantir a manutenção de software missão; Rever os Feixes de intervenção das principais
informático de apoio aos programas de vigilância infeções associadas aos procedimentos e dispositivos
epidemiológica de infeções e de controlo na área do invasivos;
PPCIRA;
• Melhorar a qualidade da prescrição de antibióticos,
• Promover o aumento de adesão dos laboratórios e de particularmente quinolonas e carbapenemos;
unidades de saúde à vigilância epidemiológica e notifi-
cação dos microrganismos alerta e problema. • Divulgar e acompanhar a implementação do Plano
Nacional de Combate de Resistência aos antimicro-
Prevenção e Diagnóstico bianos 2017-2020;
• Promover a implementação dos feixes de intervenção • Em conjunto com a DGAV e a APA, elaborar documen-
para a prevenção da pneumonia associada à intu- to relativo à prevenção e controlo da RAM, a ser im-
bação, de infeção relacionada com o cateter venoso plementado em 2018, contendo as metas até 2021;
central, de prevenção da infeção urinária associada
ao cateter vesical e de prevenção da infeção do local • Promover auditoria nacional ao cumprimento das
cirúrgico; disposições do Despacho n.º 15423/2013, de 26 de
novembro (3), no que respeita à composição e con-
• Desenvolver ações de formação de prevenção de in- dições de funcionamento dos GCR-PPCIRA, dos GCL-
feções no sentido de alertar e sensibilizar para os ris- -PPCIRA nos ACES, Hospitais e ULS e dos responsáveis
cos, junto dos profissionais e da comunidade; PPCIRA nas UCCI;
• Promover a implementação do Programa “Guardião • Participar na Joint Action da União Europeia em 2017
do Antibiótico” em todos os Agrupamentos de Cen- nas áreas de prevenção e controlo de infeção e resis-
tros de Saúde e restantes US; tências aos antimicrobianos, tendo o PPCIRA aderido
com os workpackages WP 6.1 e WP 7.
• Dar continuidade ao projeto e-Bug em parceria com o
Ministério da Educação;
PROGRAMA DE PREVENÇÃO E CONTROLO DE INFEÇÕES E DE RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS | 2017 22
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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res-normativas/norma-n-0182014-de-09122014.aspx
7. Despacho n.º 3844-A/2016, de 15 de março. Determina
a criação de um grupo de trabalho interinstitucional, que 13. ECDC: Summary of the latest data on antibiotic
integra a Direção-Geral da Saúde, o Instituto Ricardo Jorge, consump¬tion in the European Union. ESAC-Net Surveillance
o Infarmed e a Administração Central do Sistema de Saú- data. November 2017.
de, no âmbito do Programa de Prevenção e Controlo de
Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos. Disponível 14. ECDC: Surveillance report: Surveillance of Antimicrobial
em: https://dre.pt/web/guest/home/-/dre/73865550/ re¬sostance in Euorpe, 2016. Annual report of the European
details/maximized?serie=II&print_preview=print- An¬timicorbial Resistance Surveillance Network (EARS-Net),
-preview&dreId=73865548 2016.
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