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Interoperabilidade em sistemas de
saúde - O que o Brasil pode aprender
das experiências internacionais?
SUMÁRIO EXECUTIVO
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Texto para Discussão nº 88 – 2022 | Interoperabilidade em sistemas de saúde - O que o Brasil pode aprender das experiências internacionais?
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Texto para Discussão nº 88 – 2022 | Interoperabilidade em sistemas de saúde - O que o Brasil pode aprender das experiências internacionais?
Nível 1 Nível 2
Interoperabilidade Interoperabilidade Estrutural
Fundamental Trata-se de um nível intermediário,
Concentra-se na troca de dados no qual é definido o formato,
de forma segura. Neste nível, a sintaxe e a organização da
o sistema emissor envia o dado, troca de dados, já garantindo
por exemplo um documento que o significado permaneça
digitalizado, e o sistema receptor preservado e inalterado, um
apenas recebe, sem a necessidade compartilhamento de informações.
de interpretar o conteúdo, apenas o
compartilhamento do dado.
Nível 4
Interoperabilidade
Nível 3 Organizacional
Interoperabilidade Este nível inclui governança,
Semântica política, questões sociais, jurídicas
Nível mais completo de e organizacionais, com o objetivo
interoperabilidade, onde se utiliza de prover uma comunicação
toda a estrutura da sintaxe e fornece segura, contínua e oportuna
codificações com padronizações de entre organizações, entidades e
vocabulários padronizados, com indivíduos, o compartilhamento do
interpretação plena dos dados, um conhecimento no nível de conceito
compartilhamento do conhecimento. do negócio em cooperação.
Quando se fala em interoperabilidade, logo se refere à “capacidade que dois ou mais sis-
se pensa em uma conexão total entre todos temas ou componentes têm para intercambiar
os agentes do sistema de saúde ou em um re- informação, bem como de utilizar a informa-
gistro único de saúde do paciente que poderá ção que foi intercambiada” [4]. Os padrões são
ser acessado por qualquer entidade do siste- uma interface que permite o entendimento da
ma de saúde. Esse seria um estágio já bastante informação por quem envia, por quem recebe
avançado de implementação. O fato é que há e permite também a comparação de dados de
níveis de adoção e uso da interoperabilidade, empresas diferentes. Eles possibilitam o con-
e mesmo em níveis baixos de aplicação de sis- senso entre diversos stakeholders do setor em
temas interoperáveis, já se observam impac- relação a um conjunto de regras para meios de
tos positivos. comunicação e serviços genéricos [2].
Para que a interoperabilidade saia do discur- Os padrões são desenvolvidos por organiza-
so conceitual e vá para a prática, é necessário ções reconhecidas pelos agentes dos sistemas
que hospitais, laboratórios, clínicas, operado- de saúde. Nos Estados Unidos, por exemplo,
ras e profissionais de saúde incorporem pro- tal organização necessita ser credenciada
tocolos e padrões de modo que os sistemas pelo American National Standards Institute
conversem automaticamente, sem que seja (ANSI) ou pela International Organization for
preciso a intervenção do homem. Para tan- Standardization (ISO). Os padrões também são
to, são necessários passos anteriores, como desenvolvidos por grupos específicos, como
digitalização dos dados e alguma interopera- sindicatos ou associações. Atualmente, existem
bilidade mínima entre sistemas de uma mes- mais de 40 organizações no mundo que de-
ma instituição. senvolvem padrões diferentes na área de TI de
saúde.
Após a digitalização, portanto, um dos pas-
sos importantes para conectar sistemas é a Abaixo estão exemplificados alguns dos prin-
padronização da informação em saúde, pois de- cipais padrões de interoperabilidade usados
vemos ter em mente que a interoperabilidade no Brasil e no mundo, organizados segundo
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2 https://www.healthit.gov/topic/global-digital-health-partnership
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pegada digital de sua experiência de atenção As seguradoras de saúde privadas nos EUA
à saúde, gerando novas fontes e usos dessas têm se envolvido ativamente na troca de da-
informações eletrônicas de saúde todos os dos, mas os objetivos têm sido primariamente
dias. Mas os dados eletrônicos de saúde ainda para verificar a identidade do paciente, pagar e
permanecem principalmente em silos institu- faturar os serviços de saúde [6].
cionais [6]. Os dados não são amplamente com- Uma variedade de padrões é usada para faci-
partilhados entre os prestadores, exceto para litar a troca de dados nos EUA. Eles geralmente
compartilhamento limitado por meio de algu- são ditados por casos de uso individuais, polí-
mas trocas de informações de saúde, principal- ticas, requisitos organizacionais, governamen-
mente entre prestadores que usam um sistema tais e/ou por recursos de RME.
de um mesmo desenvolvedor. Além disso, há
relatos de que algumas instituições não com- Brasil
partilham dados de saúde deliberadamente ou
No Brasil, a interoperabilidade ainda é um
dificultam o compartilhamento de dados por
processo em desenvolvimento. No setor pú-
motivos comerciais ou proprietários [6].
blico, há alguns anos o governo tem publica-
Em 2016, o Congresso americano aprovou do medidas para tentar estimular a integração
o 21st Century Cures Act [7], uma que lei cria dos sistemas do SUS. Em 2004, foi publica-
penalidades para quaisquer entidades priva- da a primeira versão da Política Nacional de
das que tentem fazer algum bloqueio de in- Informação e Informática em Saúde (PNIIS) e,
formações – não permitindo que pacientes ou desde então, o Ministério da Saúde vem tentan-
médicos recuperem informações de um deter- do desenvolver estratégias de informatização
minado sistema – e requer o uso de interfaces em saúde. A segunda versão da PNIIS veio em
de programação de aplicativos (APIs). Essa re- 2015 e a terceira e mais recente foi apresentada
quisição de uso de APIs significa que os dados em julho de 20214. Um dos principais aspectos
dentro do RME podem ser recuperados por que essa política tenta solucionar atualmen-
outros softwares de tecnologia de informação te é a interoperabilidade entre os vários sis-
de saúde sem que se tenha que implementar temas de informação do SUS - municipais,
qualquer codificação especial ou mecanismos estaduais e nacionais - e como esses sistemas
complexos de recuperação. conversam entre si possibilitando otimização
No que diz respeito à proteção dos dados da gestão. Por exemplo, existe o Sistema de
de saúde que são compartilhados, existe a lei Cadastro do Cartão Nacional de Saúde (SCNS/
Health Insurance Portability and Accountability CADSUS); o Sistema de Cadastro Nacional de
Act (HIPAA) que rege amplamente a prote- Estabelecimento de Saúde (SCNES); o Sistema
ção, transmissão e uso de dados de saúde. de Informações Ambulatórias do SUS (SIA-SUS);
Geralmente, os dados de saúde podem ser o Sistema de Informação de Agravos de
compartilhados entre prestadores de serviços Notificação (SINAN); o Sistemas de Informação
de saúde e parceiros de negócios relevantes do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI);
(por exemplo, seguradoras de saúde), desde o Sistema de informação de Nascidos
que sejam feitos para fins de tratamento, pa- Vivos (SINASC); Sistema de Informação de
gamento ou operações de saúde, sem a ne- Mortalidade (SIM), entre outros [8]. Além dos
cessidade de consentimento ou autorização sistemas de âmbito nacional, existem sistemas
do paciente. No entanto, as regulamentações próprios das gestões estaduais e municipais,
estaduais relacionadas ao consentimento va- criados para atender demandas específicas de
riam muito, e as inconsistências entre os esta- cada local. Em sua maioria, estes diferentes sis-
dos podem dificultar a troca de informações temas não se comunicam entre si, e a situação
de saúde entre partes localizadas em estados é ainda mais grave se considerarmos que ainda
diferentes. Além disso, sob a HIPAA, os indi- há os sistemas da saúde suplementar.
víduos (pacientes) têm direito a uma cópia de
4 RESOLUÇÃO Nº 659, DE 26 DE JULHO DE 2021. Publicado no DOU
seus registros. em:15/06/2022 | Edição: 113 | Seção: 1 | Página: 104.
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Desde 2011, cabe ressaltar, existem docu- as informações administrativas, para a presta-
mentos para a regulamentação do uso de pa- ção de contas entre os prestadores de serviço,
drões de interoperabilidade em todo país, como as operadoras e a ANS.
por exemplo a Portaria do Ministério da Saúde
nº 2.0135, de agosto de 2011, que regulamenta 3. Tendências – desafios e
oportunidades para um
o uso de padrões de interoperabilidade e infor- futuro próximo
mação em saúde para sistemas de informação
em saúde no âmbito do SUS e para os sistemas A pandemia de COVID-19 demonstrou a im-
privados e do setor de saúde suplementar. Os portância e utilidade das estratégias de saú-
padrões recomendados por essa portaria estão de digital [9] e permitiu que países iniciassem
disponíveis no CPIISS – Catálogo de Padrões de ou acelerassem a inserção dessas soluções
Interoperabilidade de Informação de Sistemas nos sistemas de saúde a longo prazo. Ela le-
de Saúde. vou governos e entidades privadas a acelerar
Em 2020, foi publicada a Portaria GM/MS a integração e a conectividade de dispositivos,
n° 3.632, que descreve a ESD28 - Estratégia incluindo monitoramento remoto e coleta de
de Saúde Digital para o Brasil 2020-2028, ten- dados, pois os bancos de dados precisavam ser
do como uma das prioridades o ambiente de atualizados prontamente e as informações de-
interconectividade do sistema de saúde. Com viam ser entregues aos prestadores de atenção
o avanço da pandemia COVID-19, a Portaria primária [10]. No Brasil, a interoperabilidade
nº 1.434 de 28 de maio de 2020 dispôs sobre ainda está em estágios iniciais e uma tendên-
a adoção de padrões de interoperabilidade em cia atual é a busca por padronização, para que
saúde, instituindo o programa Conecte SUS, com a troca de informação entre os sistemas seja
a Rede Nacional de Dados em Saúde – RNDS. mais fluida. Em países desenvolvidos a busca
O Ministério da Saúde obrigou a notificação de por maior interoperabilidade dentro do ecos-
todos os resultados de testes de SARS-CoV2 sistema de saúde já é uma prioridade há mais
(Portaria n° 1.792 de 07 julho de 2020). Em 2021, tempo e eles possuem mais recursos para di-
foi instituída a obrigatoriedade de registro digi- recionar. Por exemplo, o governo australiano
tal de aplicação de vacinas contra a COVID-19 divulgou que irá investir 107,2 milhões de dóla-
(Portaria GM/SM n° 69 de 14 janeiro de 2021), o res australianos para adoção de novas tecnolo-
que representou um grande passo para a inte- gias no sistema de saúde até 2023 [11]. Desse
roperabilidade na saúde pública. montante, serão direcionados 32,3 milhões de
dólares australianos para que os estados e ter-
Na saúde suplementar, o principal marco
ritórios garantam a interoperabilidade dentro
que deu início à padronização das informações
da infraestrutura de saúde digital da Austrália.
de saúde foi a criação em 2003 do padrão TISS,
De acordo com o governo, a melhora da intero-
que, como mencionado anteriormente, organi-
perabilidade tem o objetivo de garantir melho-
za e padroniza as informações trocadas entre
ramentos na qualidade e segurança do sistema
prestadores de serviços e operadoras por meio
de saúde, na transparência e na centralidade
das guias de atendimento utilizadas pelos pla-
do paciente.
nos de saúde. Um dos componentes da TISS é
a TUSS, tabela de codificação e terminologia de Outra tendência acirrada pela pandemia
procedimentos, taxas, diárias, medicamentos, foi o crescimento das vendas dos wearabels,
materiais [8]. ou dispositivos vestíveis, que ajudam as pes-
soas a monitorar exercícios físicos feitos em
Embora tenha havido avanço na troca de in-
casa e a rastrear métricas, como frequência
formações na saúde suplementar, ainda não há
cardíaca e pressão arterial. No Reino Unido, em
a interoperabilidade de dados clínicos dos pa-
2021, estimava-se que 40% dos consumidores
cientes, pois o padrão TISS se limita a padronizar
têm acesso a um smartwatch ou pulseira de
fitness, sendo esse número maior do que os
5 PORTARIA Nº 2.073, DE 31 DE AGOSTO DE 2011. Disponível em: https://bvsms.
saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2073_31_08_2011.html 31% de 2020 [12]. Considerando toda a Europa
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prestação dos serviços em saúde, contribuin- [6] Global Digital Health Partnership, “CONNECTED
do, assim, para uma gestão eficiente, seja no HEALTH: EMPOWERING HEALTH THROUGH
público ou no privado. Nesse sentido, é espera- INTEROPERABI LITY,” 2020.
do que só aumente e cresça o campo da conec- [7] 21st Century Cures Act, 130 STAT. 1033 (2016) ed.,
tividade de dados de saúde no Brasil. vol. Public Law 114–255, 2016.
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