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RESUMO
Apresenta as compreensões de inclusão digital nas políticas de informação à luz dos Livros Verde e Branco.
Discute políticas de informação a partir do regime de informação, baseado em noções conceituais oferecidas
por González de Gómez (1999) e na tentativa de aproximação ao conceito de inclusão digital, na perspectiva
de que seja um elemento primordial no processo de inclusão social. Objetiva-se, segundo um percurso
metodológico constituído pelas pesquisas documental e bibliográfica, verificar a compreensão de inclusão
digital nas políticas dos Livros Verde e Branco. Resulta, à luz da quarta definição apresentada sobre regime
de informação (contexto), que no Livro Verde existe a concepção de que os recursos tecnológicos, com
destaque à Internet, serão vitais ao alcance da inclusão digital – alfabetização digital – inclusão social,
enquanto no Livro Branco reflete-se a preocupação com o contexto territorializado, historicizado, físico/virtual
e coletivo, de modo a compor as ações de informação, não se preocupando apenas com equipamentos
tecnológicos, mas em oferecer formas de capacitação aos usuários. Conclui-se que não existe apenas uma
definição para inclusão digital e que esta ação não garante a inclusão social, mas que esteja presente nas
políticas de informação de uma comunidade, assim como subsidiar a compreensão de que uso das recentes
tecnologias digitais de informação e de comunicação (TDICs) seja encarado como meio e não como fim.
Entende-se, neste sentido, que talvez tal inferência seja a chave para interpretar o significado de inclusão
digital na efetivação da inclusão social.
Palavras-chave: Políticas de informação. Regime de informação. Inclusão digital. Livro Verde. Livro Branco.
Keywords: Information policies. Information regime. Digital inclusion. Green Book. White Book.
Palabras clave: Políticas de información. Régimen de información. Inclusión digital. Libro Verde. Libro Blanco.
3Site: http://bdtd.ibict.br/vufind/
‘Mecanismo operacional...
conjunto de meios [composto] ‘ ... reconhecidos por suas formas de
por regras de formação e transformação... vida ... constroem suas identidades
conjuntos de produtos e serviços de
Atores
através de ações formativas, existindo
informação e das ações de transferência Sociais algum grau de institucionalização...
de informação’. das ações de informação’.
Dispositivos
Componentes Artefatos de
de
do Regime Informação
Informação
Percebe-se que o regime de informação delibera inovação como ferramenta fundamental para o
ações e políticas de informação para diversos desenvolvimento do país. Prova do supracitado
contextos da sociedade, desde o campo científico e enfoque, pela esfera governamental, está no fato
tecnológico, até as ações cotidianas. Neste sentido, da palavra inovação aparecer em cinco dos seis
parte-se para a compreensão de uma das temáticas objetivos propostos para a Política Nacional de CT&I,
discutidas em políticas de informação: inclusão apresentados no Livro Branco (BRASIL, 2002).
digital. Para este desafio, a abrangência discursiva
partirá da quarta definição apresentada sobre Ao levantarmos o termo sociedade da informação,
regime de informação ao levar em consideração o podemos verificar abordagens sobre inclusão digital
contexto nas suas entrelinhas. adotadas nos Livros Verde e Branco, para refletir
acerca da visão apresentada sobre inclusão digital
enquanto uma ação de inclusão social. Neste
RESULTADOS:INCLUSÃO DIGITAL ANTE ponto, fez-se necessário analisar os Livros elencados
OS LIVROS VERDE E BRANCO a partir das políticas de informação que aturam
Os países desenvolvidos, bem como alguns em junto ao crescimento do país, mais especificamente,
desenvolvimento, adotam políticas e iniciativas as quatro definições sobre regimes de informação
para a efetivação da sociedade da informação. apresentadas por González de Gómez (1999).
O Brasil vem acompanhando esse processo A quarta definição oferecida pela autora, como já
e assim criou programas de governo como afirmamos, leva em consideração uma importante
o Livro Verde e o Livro Branco para inserir o estrutura que designa um regime de informação,
brasileiro na sociedade da informação. No referido o contexto, ou seja, situação em que o regime de
processo destaca-se o ciclo de discussões realizadas informação delibera ações e políticas de informação
na Conferência Nacional de CT&I, iniciado com para diversos contextos da sociedade, especialmente
a publicação do Livro Verde da C&T e finalizado os que envolvem o campo tecnológico.
com o Livro Branco, focando principalmente na
A criação e a concretização de uma política de Compreende-se aqui que o Livro Branco apresenta
CT&I que alcance a integração nacional são não apenas a adoção de TDICs para a inclusão
fundamentais para a estabilidade econômica e digital, com fins a inclusão social, mas uma
democrática do país em busca da redução das narrativa em que reconhece a sociedade como a
disparidades regionais, ao qual é objetivo estratégico do conhecimento ao priorizar a construção e
da P&D nacional, a partir da premissa que haja propagação do conhecimento produzido. O livro
“[...] o compartilhamento de esforços para o destaca a capacitação profissional, isto é, que o cerne
desenvolvimento da pesquisa e para a promoção da da discussão está no como fazer o melhor uso
inovação, observadas as especificidades, vocações e das TDICs, de maneira cada vez mais intensa e
aspirações de cada uma das regiões”, dentre estados consciente, e não apenas tecnológica, mas também
e municípios” (BRASIL, 2002, p. 31). economicamente. Silva et al. (2005, p. 30) defendem
“[...] como ponto de partida do conceito de
Atrelado aos benefícios oferecidos pelas TDICs, inclusão digital, o acesso à informação que está
supostamente evitar-se-ia o que o Livro Branco nos meios digitais e, como ponto de chegada, a
denominou desigualdades sociais e hiato digital. assimilação da informação e sua reelaboração em novo
Neste panorama, assim como no Livro Verde, conhecimento, tendo como consequência desejável
destacou-se o avanço na universalização do acesso, a melhoria da qualidade de vida das pessoas”.
especificamente “[...] na alfabetização digital, no
desenvolvimento e implantação da infraestrutura De forma ampla, na educação, o avanço tecnológico
e dos sistemas de comunicações de mais altas promoverá divulgações científicas e a realização de
velocidades, no comércio e serviços eletrônicos, no feiras de ciência e fóruns, bem como agenciará
governo eletrônico e na indústria de equipamentos os caminhos na produção de conhecimento e,
eletrônicos e de software” (BRASIL, 2002, p. 69). consequentemente, a efetiva inclusão social.
Contudo, vale destacar que todo o processo de
alfabetização e letramento digital dependem, de INTERPRETANDO INCLUSÃO DIGITAL
maneira expressiva, da infraestrutura empreendida
nos meios formais e informais de educação No primeiro momento, acredita-se ser importante
promovidos pelo Estado e grupos sociais. É preciso contextualizar a maneira como o significado de
mencionar também que parte do insucesso da inclusão inclusão digital vem sendo compreendido em
digital no Brasil se deu (dá) pela maneira (amplamente) ambos os livros, pois sugerem as TDICs como o
não democrática (todos os tipos de públicos e lugares) caminho para a melhoria das condições de uma
de acesso a infraestrutura tecnológica promovida sociedade. Na literatura, a proliferação desses
pelo Estado e demais iniciativas (particulares), assim recursos, enfocando o acesso à informação, tem
pontuados no Livro Branco: sido encontrada como o ponto chave para a base
sustentável de um país. Conforme esta linha de
[...] tornam-se prioritários a elevação da qualidade e pensamento, inclusão digital pode ser traduzida
do interesse da cobertura dos meios de comunicação como uma espécie de alfabetização informacional
aos assuntos de ciência, tecnologia e inovação; o
desenvolvimento de redes de educação a distância e a
no uso de TDICs: “[...] comunicar-se a partir
ampliação e o aperfeiçoamento de bibliotecas virtuais; de computadores; entender o funcionamento
o treinamento de professores e produção de conteúdos de equipamentos (hardware), seus programas
para internet relacionados à divulgação científica; o (software) e aplicações; produzir, organizar,
fortalecimento e a ampliação de museus e exposições de disseminar e visitar a informação de forma
ciência e tecnologia. (BRASIL, 2002, p. 69) automatizada; resolver problemas por meio do uso da
tecnologia” (CÂMARA, 2005, p. 50, grifo do autor).
Diante das aproximações e distanciamentos entre o No Livro Verde, com destaque ao uso da Internet,
uso de TDICs e a garantia de igualdade social, não existe a concepção de que os recursos tecnológicos
é possível afirmar que exista uma linearidade entre serão vitais para o alcance da inclusão digital –
inclusão digital e inclusão social (SILVEIRA, 2001; alfabetização digital – inclusão social. Assim, entende-se
LEMOS, 2007; MARTINI, 2005). Infelizmente, que o livro citado faz uso da terceira definição de regime
essa falta de exatidão e ocorrência reflete tanto de informação, ou seja, as políticas são abordadas
como “[...] uma importante oportunidade de como orientações com relação a fins, valores e
aprendizado, poder e interação, mas pode ser também objetivos das políticas de informação, respondendo
fonte de desintegração, exclusão social e pobreza, que deseja democratizar o acesso à informação por
quando esse acesso não se dá de forma uniforme” meio da distribuição de computadores e acesso
(ALONSO; FERNEDA; SANTANA, 2010, p. 156). universalizado da Internet como instrumento da
Com base em Mattelart (2002), criou-se uma espécie alfabetização social e consequente inclusão social.
de “marginalização informacional”, isto é, a divisão
entre ricos e pobres de informação, especialmente Quanto ao Livro Branco, percebeu-se a preocupação
identificada entre os que possuem acesso, ou não, com ações que promovam a construção de
às TDICs, pois existem, por trás da máscara da conhecimento, fato este representado pela denominada
inclusão digital, as leis de mercado pela obsolescência sociedade do conhecimento. Para tanto, esta visão leva
de equipamentos de hardware e software, aos quais em consideração importante estrutura que designa
interferem nos preceitos governamentais. um regime de informação: o contexto. Este elemento
deve ser territorializado, historicizado, físico ou
virtualmente concebido, e coletivamente atribuído
CONSIDERAÇÕES FINAIS de modo a compor as ações de informação.
Conforme foi possível observar, ambos os No livro em questão não existe preocupação
livros discutem, no cerne das políticas públicas, apenas em realizar programas de distribuição e
a contribuição da C&T e CT&I para o barateamento de computadores, promoção da
desenvolvimento do país. Os livros apresentam a banda larga, além da criação de telecentros e lan
face de que o uso de recursos tecnológicos pode houses, mas em oferecer formas de capacitação
oferecer subsídios à inclusão social, entretanto, aos usuários como um contributo ao crescimento
pelo discurso de vários autores, percebeu-se que a científico e tecnológico do país.
realidade não acontece conforme é apresentado em
É possível perceber também certa preocupação
propagandas e anúncios governamentais.
com a construção de modelos políticos que
O acesso à informação é imprescindível, mas o uso tragam, em sua base, a cooperação internacional,
de TDICs, simplesmente pelo seu ato, não significa destacando as redes internacionais de pesquisa
que há inclusão digital. Neste quesito, o usuário em áreas consideradas prioritárias, inclusive com
deve compreender o que está fazendo e construir a participação de empresas brasileiras. Toda essa
conhecimentos, aos quais serão usados nos âmbitos cooperação se faz necessária para acompanhar o
culturais, econômicas, sociais, políticos etc., de progresso científico e tecnológico mundial, assim
maneira crítica e autônoma. Somente assim a tão como exposto no Livro Branco ante a preocupação
citada democratização das TDICs estará ocorrendo com a concentração do conhecimento e inovação
em contributo ao desenvolvimento das sociedades. pelos países avançados, pensamento que refletirá
Acreditar que apenas as tecnologias promoverão internamente nos Estados e, consequentemente,
a inclusão social é utópico, pois os equipamentos em sua população.
mais recentes serão utilizados pelas camadas
economicamente privilegiadas, restando à maior
parte da sociedade a obsolescência, um passo
atrasado no uso das TDICs.
166 Ci.Inf., Brasília, DF, v.47 n.2, p.155-168, maio/ago. 2018
Análise sobre políticas de informação: perspectivas do regime de informação
no âmbito da inclusão digital ante os Livros Verde e Branco
Ao analisar os Livros Verde e Branco, compreendeu- BRASIL. MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA.
se que a quarta definição sobre regimes de Livro Branco: ciência, tecnologia e inovação. Brasília: Ministério da
Ciência e Tecnologia, 2002. Disponível em: <http://www.cgee.org.
informação, apresentada por González de Gómez br/arquivos/livro_branco_cti.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2017.
(1999), enquadrou-se na presente proposta
discursiva, já que o contexto faz parte de CÂMARA, M. A. Telecentros como instrumento de inclusão
digital:Perspectiva comparada em minas gerais. 2005. Dissertação
ações e políticas de informação para diversos (Mestrado em Ciência da Informação) – Universidade Federal de
panoramas da sociedade, como ocorre no campo Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005. Disponível em: <http://www.
tecnológico, especificamente na relação acesso gemasdaterra.org.br/docs/tesemaurocamara.pdf>. Acesso em: 12 fev. 2017.
versus social (usuário). E mais, o contexto pode CARVALHO, O. B. de M. Os “incluídos digitais” são “incluídos
ser uma variável elencada nas discussões sobre sociais”? Estado, mercado e a inserção dos indivíduos na sociedade
políticas de informação, especialmente quando se da informação. Liinc em Revista, v. 5, n. 1, 2009. Disponível
em: <http://revista.ibict.br/liinc/index.php/liinc/article/
debate o crescimento do país, neste caso, na relação viewFile/294/184>. Acesso em: 12 fev. 2017.
informação versus tecnologia.
CASTELLS, M. A Galáxia Internet: reflexões sobre internet,
Cogitou-se que a inclusão digital pode contribuir negócios e sociedade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
para a inclusão social, isto é, a promoção da 2004. 325 p.
cidadania ocorrerá a partir da disponibilização de DELAIA, C. R. Subsídios para uma política de gestão da informação
TDICs, de forma democrática, com o objetivo de na EMBRAPA Solos, Rio de Janeiro. 2008. Dissertação (Mestrado
fomentar a transparência de políticas e ações de em Ciência da Informação) - Universidade Federal Fluminense,
Niterói, 2008.
governo. Nesta linha, na crença de que a presente
discussão colabora na compreensão sobre a CI FREIRE, G. H. A. Construção participativa de instrumento de
política pública para gestão e acesso à informação. Perspectiva em
no país, apesar de ambos os livros não terem sido Ciência da Informação, v. 13, n. 3, p. 195-207, 2008. Disponível
efetivados na prática, concluiu-se que não existe em: <http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/
uma única definição para inclusão digital e que article/view/224/511>. Acesso em: 20 fev. 2017.
esta ação não garante a inclusão social, mas que ela ______. Comunicação da informação em redes virtuais de
esteja presente nas políticas de informação de uma aprendizagem. 2004. Tese. (Doutorado em Ciência da Informação)
comunidade, assim como subsidiar a compreensão - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia –
de que uso das recentes TDICs seja encarado IBCT, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2004. Disponível em: <http://www.isafreire.pro.br/gustavo_
como meio e não como fim. Entende-se, neste freire_tese.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2017.
sentido, que a inferência conclusiva seja a chave
______. A construção de instrumento para comunicação de informação
para interpretar o significado de inclusão digital na sobre saúde. 1998. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação)
efetivação da inclusão social. - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.