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ENEM

Governo Lula vai suspender


implementação do novo ensino
médio e mudanças no Enem
Portaria deve ser publicada nos próximas dias;
governo tenta conter desgaste com movimento que
pede revogação da política

3.abr.2023 às 12h31
Atualizado: 3.abr.2023 às 16h33

Paulo Saldaña

BRASÍLIAPressionado por críticas crescentes de


educadores e estudantes, o governo Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) vai suspender a implementação
do novo ensino médio. Uma portaria deve ser
publicada nos próximos dias com a interrupção
do prazo de implementação da política.

O texto também irá sustar as mudanças no Enem


(Exame Nacional do Ensino Médio) previstas
para 2024, que adequariam o exame ao previsto
nas novas regras da etapa. O Enem é a principal
porta de entrada para o ensino superior público
no país.

Essa suspensão ocorrerá, inicialmente, enquanto


perdura o prazo da consulta pública sobre o
tema. Iniciada em março, a consulta tem 90 dias
de duração, com possibilidade de prorrogação, e
mais 30 dias para o MEC (Ministério da
Educação) elaborar um relatório que vai definir o
futuro da política.

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Na prática, a suspensão de ter em 2024 um novo


formato do Enem é a principal consequência.
Dessa forma, o exame continua no formato atual
e ainda não devem ser produzidos itens para um
novo modelo de prova.

Como a lei que reformou o ensino médio


continua valendo, as redes têm autonomia para
manter as aulas como estão, no novo formato.
Isso significa que as escolas podem continuar a
oferecer os chamados itinerários formativos, alvo
de polêmica.

Estudantes protestam em São Paulo pela revogação do


novo ensino médio - Bruno Santos - 15.mar.23/Folhapress

O ministro da Educação, Camilo Santana, tem


dado várias declarações em que se coloca
contrário à revogação do novo ensino médio,
como pressionam setores envolvidos no debate
educacional. Ele tem defendido que haja ajustes
no modelo e que revogar tudo seria um
retrocesso.

A portaria com a suspensão — que altera, por sua


vez, a portaria 521 de julho de 2021— tem
anuência da equipe próxima ao presidente Lula.
A avaliação do Palácio do Planalto é de que o
governo tem sofrido desgastes exagerados ao
manter a reforma, sobretudo entre estudantes —
os jovens não representariam uma base
consolidada de apoio ao presidente muito por
que não viveram os anos dos dois mandatos de
Lula.

Uma revogação total da reforma dependeria de


atuação do Congresso, por ter ocorrido por lei. A
suspensão dos prazos foi a saída vista pelo
governo para acalmar os ânimos dos críticos e
evitar maiores impactos à imagem do governo e
do presidente Lula.

LEIA MAIS
sobre mudanças no ensino médio

1 Pressão por revogação do novo ensino médio é


briga política, diz ex-ministro da Educação

2 Itinerários do novo ensino médio são impostos e


até sorteados aos alunos

3 Escolas estaduais ofertam ao menos 1.526


disciplinas no novo ensino médio

4 Estudantes protestam contra o novo ensino


médio e pedem revogação do modelo

5 Faltam professores para 17% das aulas do novo


ensino médio em SP

6 Entenda o novo ensino médio, que traz


flexibilidade, mas esbarra em falta de vagas

O novo ensino médio foi aprovado em 2017, a


partir de medida provisória (que acelera a
tramitação), e prevê a organização da grade
horária em duas partes.

Assim, 60% da carga horária dos três anos é


comum a todos os estudantes, com as disciplinas
regulares. Os outros 40% são destinados às
disciplinas optativas dentro de grandes áreas do
conhecimento, os chamados itinerários
formativos.

O número de horas anuais obrigatórias passa de


800 para ao menos 1.000, ou de quatro para
cinco horas diárias.

A implementação do novo formato tornou-se


obrigatória em 2022 e tem registrado uma série
de problemas. Os estudantes reclamam,
principalmente, de terem perdido tempo de aula
de disciplinas tradicionais. Há casos de
disciplinas desconectadas ao currículo e
deficiências de oferta dos itinerários a todas as
escolas.

A revogação total não agrada secretários


estaduais de Educação. Eles argumentam ter
realizado trabalho importante para estruturar o
novo modelo. Mais de 80% das matrículas do
ensino médio estão nas redes estaduais.

Em entrevista publicada pelo jornal Diário do


Nordeste, o ministro Camilo Santana disse que
será suspensa "qualquer mudança no Enem em
relação a 2024 por conta dessa questão do novo
ensino médio".

Questionado, o MEC não respondeu.

Um grupo de trabalho que trata do assunto se


reúne na tarde desta segunda-feira (3), e a
portaria será o principal tema da conversa.

Desde o início deste ano, estudantes, professores


e especialistas da área cobram o governo Lula
para que o modelo seja revogado. No dia 15 de
março, estudantes fizeram um protesto
pressionando pela revogação, em uma primeira
rusga de entidades estudantis com a gestão
petista.

O prazo atual de implementação da reforma


culmina com um novo formato do Enem em
2024, quando a primeira turma completa os três
anos da etapa no novo modelo. Por isso, a
portaria que deve ser publicada nos próximos
dias revoga esse prazo de implementação
também.

Criados com o objetivo de dar aos jovens a opção


de escolher uma área para aprofundar os
estudos, os itinerários do novo ensino médio
estão, na prática, sendo impostos e até mesmo
sorteados entre os estudantes nas escolas
estaduais do país.

Por falta de professores, espaço físico,


laboratórios e turmas lotadas, as escolas não
conseguem atender a opção feita por todos os
alunos e acabam por colocá-los para cursar os
itinerários disponíveis. Sem ter a escolha
respeitada, os estudantes têm 40% das aulas do
ensino médio em áreas que não são as de seu
interesse, como mostrou reportagem da Folha.

A consulta pública instituída pelo MEC prevê


audiências públicas, oficinas de trabalho,
seminários e pesquisas nacionais com
estudantes, professores e gestores escolares
sobre a experiência de implementação do Novo
Ensino Médio em todos os estados.

SÃO PAULO - SP - 05.09.2022 - Retrato do aluno Felipe Omu…

ENTENDA O NOVO ENSINO MÉDIO

O que é
Política aprovada em 2017, por medida
provisória, durante Temer (MDB), definiu que
parte da carga horária seria escolhida pelos
estudantes para que pudessem aprofundar os
conhecimentos na área de maior interesse

Estrutura
Ampliou o número de horas de aulas anuais
obrigatórias para a etapa, passando de 800 para
ao menos 1.000. Assim, a carga horária total do
ensino médio foi ampliada em 25%, de 2.400 para
3.000 horas, sendo:

60% reservados para a carga horária


comum, com as disciplinas regulares
40% formados por optativas dentro de cinco
grandes áreas do conhecimento, os
chamados itinerários formativos

Limitações
Ao longo dos três anos da etapa, o tempo
dedicado às disciplinas tradicionais não pode
ultrapassar 1.800 horas. Como antes as escolas
tinham 2.400 horas para distribuir as aulas das
matérias comuns, na prática, o teto reduziu o
tempo dedicado exclusivamente para disciplinas
como matemática, português, história e
geografia

Definição de itinerários e disciplinas


A lei diz que as redes de ensino têm liberdade
para definir quais itinerários e disciplinas
querem criar, desde que estejam dentro de uma
das cinco áreas do conhecimento estabelecidas

Para quem vale


Todas as escolas públicas e privadas do país.
Cerca de 7 milhões de estudantes foram
impactados com a política, a maioria deles (cerca
de 85%) estão matriculados em escolas das redes
estaduais de ensino

Prazos
A lei estabeleceu um prazo de cinco anos para as
redes de ensino se prepararem, seguindo o
seguinte cronograma: 1º ano do ensino médio em
2022, 2º ano em 2023 e os três anos da etapa até
2024. Muitas redes, no entanto, começaram a
implementação antes, como a rede estadual
paulista, que iniciou o processo em 2021

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