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Proposta do MEC para ensino médio reduz carga

diversificada e define só dois itinerários


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define-so-dois-itinerarios.shtml

Paulo Saldaña 4 de agosto de 2023

O governo Lula (PT) pretende reduzir pela metade a carga horária do ensino médio
destinada à parte diversificada do currículo e passar de quatro para duas as opções de
áreas de aprofundamento a serem escolhidas pelos alunos —além da educação
profissional, que continua como opção, mas tem hoje baixa oferta no país.

O MEC (Ministério da Educação) trabalha na finalização de um projeto de lei a ser


enviado ao Congresso para alterar mudanças feitas com o novo ensino médio. A Folha
teve acesso à minuta do projeto, finalizada no fim da semana passada.

Efetivada em 2017, no governo Michel Temer (MDB), a reforma flexibilizou o currículo do


ensino médio. A implementação tem provocado fortes reclamações de alunos,
professores e especialistas, que indicam inviabilidade de aplicação do previsto na
legislação.

O presidente Lula em evento de educação no Palácio do Planalto com o ministro Camilo Santana. -
Gabriela Biló /Folhapress

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As principais queixas estão relacionadas à oferta de disciplinas sem nexo curricular,
dentro dos chamados itinerários formativos, e redução de aulas com conteúdos
tradicionais. O projeto do MEC significa que a parte diversificada não pode superar 600
horas ao longo de três anos do ensino médio —hoje, a lei prevê uma carga de 1.200
horas.

Levando em conta a organização com cinco horas de aulas diárias, o modelo do governo
petista resulta em um dia de aula por semana para aulas referentes à parte diversificada.
Hoje, essa parte representa dois dias por semana.

O bloco comum do currículo, vinculada ao previsto na Base Nacional Comum Curricular,


corresponderia a 80% da carga total no projeto do MEC. As regras atuais definem que
isso deve perpassar apenas 60% do tempo total de aulas da etapa.
A pasta ainda pretende debater o texto do projeto com secretários e entidades, além de
analisar o texto à luz dos resultados das consultas públicas, segundo relatos obtidos pela
reportagem.

Integrantes do governo interpretam o projeto como uma espécie de revogação, o que iria
de encontro com movimentos próximos ao PT que pedem essa definição —embora seja
mantida uma certa flexibilização do currículo.

Questionado, o Ministério da Educação não respondeu até a publicação da reportagem.

O texto do MEC altera o nome de "itinerário" para "percurso de aprofundamento" e


também reduz as opções. O projeto não fala em disciplinas e mantém uma abordagem
de um ensino por áreas.

A reforma de 2017 definiu que a parte diversificada deve ser organizada em cinco
opções: linguagens, matemática, ciências humanas, ciências da natureza e ensino
profissional. Um dos entraves enfrentados por alunos das escolas públicas é que não há,
de fato, todas essas opções nas escolas para que os alunos escolham.

No projeto obtido pela reportagem, são previstas apenas duas opções, além do ensino
técnico profissional. São elas : 1) Linguagens, Matemática, Ciências Humanas e Sociais
e suas tecnologias; e 2) Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e suas
tecnologias.

Também há previsão de que mais conteúdos sejam obrigatoriamente abordados na parte


comum. Hoje, fala-se na obrigatoriedade de "educação física, arte, sociologia e filosofia",
além de português e matemática em todos os anos. O texto novo amplia essa
preconização para todas as áreas do conhecimento, "incluindo cultura digital".

São elas: língua portuguesa e literaturas, línguas estrangeiras e literaturas (com


priorização da língua inglesa e espanhola), arte, educação física, matemática, história,
geografia, sociologia, filosofia, física, química, biologia e "cultura digital, do pensamento
computacional e das tecnologias da informação e comunicação".

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Pressionado por críticas de educadores e estudantes, o governo Lula editou em abril
uma portaria que suspendeu o cronograma de implementação do novo ensino médio. O
ato foi uma forma de reduzir o desgaste do governo com o tema. A pasta havia criado,
no mês anterior, uma consulta pública.

A pasta sempre evitou em falar em revogação do novo ensino médio, o que dependeria
de anuência do Congresso Nacional —uma vez que as diretrizes da reforma foram
inseridas na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação). O discurso do ministro da
Educação, Camilo Santana (PT), sempre foi no sentido de fazer ajustes e não revogar.
O próprio ministro tem defendido, no entanto, de que mudanças precisam ser apreciadas
pelos parlamentares, inclusive para manter a coerência com a crítica de que a reforma
do Temer não foi conversada. Em 2017, o governo mudou a etapa com uma Medida
Provisória, instrumento legislativo que reduz o tempo de discussões.

O projeto do governo Lula institui o que seria chamado de Política Nacional do Ensino
Médio. Além das intervenções de ordem curricular, também há previsão de ações de
melhoria de infraestrutura das escolas e permanência de estudantes.

O governo desenvolverá, de acordo com a minuta, uma estratégia nacional de


permanência estudantil incluindo a concessão de incentivos financeiros, com priorização
dos estudantes que integram famílias inscritas no cadastro do Bolsa Família. A criação
de bolsas para alunos do ensino médio já é uma das promessas do governo.

O MEC ainda avalia quais detalhes da nova política de ensino médio serão
contempladas no projeto de lei. Isso porque é certo de que também haverá ao menos um
decreto para definições pertinentes.
O texto ainda tem a previsão de expandir as matrículas do ensino médio em tempo
integral, com carga horária mínima total de 4.200 horas (7 horas de aulas diárias). Lula
sancionou na semana passada lei de fomento para novas vagas com jornada estendida
em todas as etapas da educação básica.

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