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DOI:10.34117/bjdv6n12-795
RESUMO
A medicalização da vida social é um fenômeno comum na contemporaneidade, que visa deixar os
sujeitos emocionalmente aptos para cumprir os deveres cotidianos. O presente artigo trata
especialmente da medicalização dos sujeitos na educação superior, como forma de regular suas
emoções para que atendam às exigências de produtividade acadêmica, assim sendo, está assente em
um levantamento bibliográfico que discute tanto as percepções discente, quanto docente. Se a
universidade é uma instituição que demanda grande desempenho, a psiquiatrialização de estudantes e
professores universitários tem se mostrado uma forma de controle social disseminado e eficaz.
ABSTRACT
The medicalization of social life is a common phenomenon in contemporary times, which aims to leave
subjects emotionally able to fulfill their daily duties. This article deals especially with the
medicalization of subjects in higher education, as a way of regulating their emotions so that they meet
the requirements of academic productivity, thus, it is based on a bibliographic survey that discusses
both student and teacher perceptions. If the university is an institution that demands high performance,
the psychiatry of university students and professors has proved to be a form of widespread and effective
social control.
1 INTRODUÇÃO
Muito tem se discutido a respeito da medicalização escolar na infância. No entanto, a
medicalização da educação é um fato que ocorre desde os anos iniciais até as últimas fases do processo
educativo: na pós-graduação. Queremos tratar aqui justamente da medicalização de estudantes e
professores universitários que, para atingir um projeto de vida que envolve cursar ou desenvolver sua
docência no ensino superior notam a necessidade de se medicalizar 1 para enfrentar as angústias,
tristeza, raiva e pressão que envolve a formação universitária. Uma forma eficaz de controle social na
contemporaneidade é a regulação química das emoções.
Os psicofármacos tornaram-se então parceiros da manutenção da carreira acadêmica. Ana
Carolina Christofari et al (2015) apontou uma rede de saberes produzidos pelos campos da medicina,
psiquiatria, psicologia e pedagogia que produzem um solo fértil para a irrupção do processo de
medicalização dos modos de ser e de aprender. A medicalização ajuda a construir entre docentes e
discentes os modos como os sujeitos se expressam nas instituições educacionais, se apresentam, falam,
se vestem, se comportam e aprendem. Essa medicalização se traduz em um cenário em que os
problemas de caráter pedagógico, político, social e cultural são traduzidos em questões biológicas e
médicas, fenômeno chamado por ele de “medicalização dos processos de aprendizagem”.
Como discutiu Renata Guarido (2007), a pedagogia tem perdido espaço para a psiquiatria e as
neurociências na abordagem sobre como lidar com estudantes com dificuldade de aprendizado.
Problemas relacionados à educação agora são encaminhados para diferentes especialidades médicas.
Mesmo as políticas de inclusão escolar têm se dado a partir da medicalização para controlar os
incluídos. Sendo assim, a descoberta da manipulação do orgânico via farmacologia tem garantido
corpos disciplinados e com bom aproveitamento. O rendimento acadêmico/escolar dos estudantes tem
sido garantido via manipulação química desses corpos. Guarido (2007) salienta ainda que esse
movimento não está acontecendo à revelia dos saberes pedagógicos. A pedagogia tem adotado e
1
Medicalização é o processo que converte questões não médicas, em problemas médicos. Não implica necessariamente no
uso excessivo de medicamentos, ainda que essa possa ser uma de suas facetas. Sua característica fundamental consiste
na transformação de problemas de ordem social ou processos afetivos e culturais em doenças de ordem biológica, como
transtornos e distúrbios, operando um reducionismo.
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procurado se beneficiar das técnicas de regulação psíquica a fim de garantir no ambiente educacional
uma maior previsibilidade das ações dos sujeitos. Por isso, a própria escola tem se cercado de diversos
profissionais de saúde e medicamentos.
O narcisista depende dos outros para validar sua autoestima. Ele não pode viver sem um público
admirativo. Sua aparente liberdade de laços familiares e de pressões institucionais não o liberta para
ficar sozinho ou glorificar-se de sua individualidade. Ao contrário, contribui para a sua insegurança,
que ele só poderá superar vendo o seu ‘ego grandioso’ refletido nas atenções dos outros ou ligando-se
àqueles que irradiam celebridade, poder e carisma (LASCH, 1983, p. 30-31).
pessoas passam em busca saúde. Mais do que recuperar a saúde, os comprimidos passam a ser vendidos
como solução rápida, o que Lefevre chama de saúde imediata.
Outro procedimento importantíssimo para o sucesso dos medicamentos e que faz parte da
economia simbólica dos medicamentos, é associá-lo à ciência. Assim, a fantasia e a ideologia da "saúde
imediata" estão associadas a algo sólido e respeitável como a Ciência2. No caso, aos antidepressivos,
ansiolíticos, estabilizantes do humor e hipnóticos em geral, são dados caráter altamente científico
usando como recurso os discursos vinculados à neurociência. Nesse contexto, acrescentou Lefevre, o
indivíduo e a sociedade não estão consumindo simples remédios, mas produtos da tecnologia científica.
Eduardo Vargas (2001) trata da necessidade de perceber essas práticas de consumo de
antidepressivos como uma maneira socialmente legitimada de intervir nos corpos e nos
comportamentos, e lidar com o sofrimento. Seus usos estariam relacionados a mecanismos de partilha
moral que condena e criminaliza o uso de algumas drogas e permite o de outras, com base nos saberes
e práticas médicas e no comportamento socialmente desejado.
Para Patrick Arley (2008), mais importante do que entender como os antidepressivos
funcionam é compreender como os deprimidos funcionam com eles. Assim, Arley afirma que o efeito
perverso de tais abordagens contrárias à psiquiatria e a medicalização é perder de vista que muitas
vezes as pessoas precisam deles, que elas demandam por eles. Estes, vistos aqui não apenas como
vítima da ação dos outros, mas agente que interage com os médicos, demandando por antidepressivos,
atribuindo a eles eficácia, exigindo correção quase imediata do mal-estar. Portanto, a função dos
psicotrópicos é provocar diferenças nas performances dos sujeitos, com os quais se associam. Os
psicotrópicos não seriam tão populares entre nós, se não pudessem adaptar-se às demandas diversas
que a sociedade tem para eles. Seria inadequado, portanto, perguntar se os antidepressivos realmente
funcionam, no sentido comum que se costuma atribuir aos medicamentos, o de curar. Mais profícuo
seria procurar entender como as pessoas funcionam com eles.
No caso dos intelectuais, mergulhados em um contexto em que a exigência é de exercício da
racionalidade, no qual as emoções têm papel secundário ou mesmo desprezado, anestesiar o emocional
pode fazer uma grande diferença nas performances dos intelectuais. Silenciar as angústias e permitir
que apenas a lógica acadêmica guie seu trabalho é um caminho que parece profícuo para conquistar o
respeito dos seus pares.
2
Entretanto, essa afirmação precisa ser amplamente problematizada em outras discussões, em virtude do contexto vivido
sobretudo na sociedade brasileira em que se percebe uma grave ‘aceitação’ por muitos indivíduos a qualquer tipo
informação, ao passo que na sua maioria visam atender aos anseios socioeconômicos e políticos independente da sua
validação científica e de seu risco para a integridade da população.
Joel Birman (2014) tem uma percepção bastante pertinente da transformação do uso das
drogas. Segundo ele, se antes, no século XIX, as drogas serviam para possibilitar uma expansão do
olhar sobre o mundo, influenciando a arte e a literatura. A partir da segunda metade do século XX ela
passou a ser um objeto de contestação da política. Utilizada por sujeitos que pretendiam uma
transformação da política, da ética e da cultura ocidental. A partir da década de 1980, há um grande
crescimento das drogas de caráter não contestador, mas que passaram a se inscreverem em um projeto
existencial, voltado sobretudo para ajustar a performance do sujeito à sociedade, ao mundo do trabalho
e aos ideais de desempenho da contemporaneidade. As drogas mais utilizadas no século XXI já não
são uma linguagem de transformação do mundo, mas de conformação de subjetividades.
Para o sucesso da intensificação das drogas não contestatórias, era importante que o mal-estar
que aflige o sujeito passasse a ser reconhecido não como um mal-estar subjetivo, mas corporal. Birman
(2003) denomina “cultura do somático” esse intenso processo de medicalização, em que o mal-estar é
interpretado como especificamente resultante da biologia, de alterações físico-químicas no corpo. O
reconhecimento de que a política e a cultura causavam sofrimento foi crescentemente sendo substituída
pela compreensão de um mal-estar expresso no corpo. Quando se localiza o sofrimento no corpo e o
medica, atribui-se a ele um status de dor e, desse modo, não é possível superá-lo. Somatizado, o
sofrimento não pode ser endereçado ao outro como demanda, de maneira a constituir um mundo de
iguais. O que resta ao sujeito somático é se entregar a exercícios e ginásticas, massagens, dietas e às
drogas, pois este é incapaz de criar mediações no mundo. Por fim, perde as possibilidades que nos
abrem as positividades simbólicas do sofrer.
[...] o sofrimento é uma experiência alteritária. O outro está sempre presente para a
subjetividade sofrente, que se dirige a ele com o seu apelo. Daí sua dimensão de alteridade, na
qual se inscreve a interlocução na experiência do sofrimento. Isso porque a subjetividade
reconhece aqui que não é autossuficiente, como na dor (BIRMAN, 2003, p.192).
Com a psiquiatria, o que se pretende é a regulação ostensiva do mal-estar, para impedir que
este seja transformado em agressividade e em violência pelos sujeitos, na medida em que as instâncias
institucionais de poder não reconhecem a legitimidade das demandas políticas daqueles segmentos
sociais, destituídos que foram de quase tudo (BIRMAN, 2006).
No entanto, há que se lidar com os afetos dos incapazes, dos sem sucesso, dos excluídos. Para
Carreteiro (2003), a lógica que tem predominado tem sido a de silenciá-los. Instituições, indivíduos e
grupos estão envolvidos nesse processo de apagamento, anulação e silenciamento do sofrimento. A
ordem é, procurar ajuda que traga efeitos rápidos e volte o sujeito para a eficácia.
3
Ver https://www.geledes.org.br/existe-algo-toxico-no-mundo-da-pos-graduacao-mestres-e-doutores-que-se-cuidem/
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cenário de precarização ficaram bastante evidentes nessa pesquisa, mas é preciso aqui destacar: a
exigência de produtividade, a sensação de insuficiência e a criação de ambientes de interação ruins.
Essa exigência de produtividade e seus efeitos foram discutidas também por Márcia Bernardo
(2014) e Luis Castiel e Javier Sanz-Valero (2007), segundo os quais a universidade teria aderido ao
modelo toyotista de produção, no qual o artigo científico se configuraria como uma mercadoria
acadêmica, que se situa entre o fetichismo e a sobrevivência. Mas isso não é tudo.
Além da precarização das condições materiais e simbólicas do trabalho docente superior,
Bernardo (2014) trata ainda da precarização subjetiva. Ou seja, do desgaste mental e sofrimento
psíquico acarretado pelo trabalho docente no nível superior. Segundo ele, a “toyotização” da
universidade pode provocar desgaste e adoecimento de modo similar ao que ocorre nas fábricas, ainda
que o trabalho docente seja melhor remunerado do que o operário.
O prestígio social e os bons salários pagos aos professores efetivos de programas de pós-
graduação de universidades federais fornecem muitas vezes o contrapeso ao sofrimento psíquico e
físico a que estão expostos pelas diversas exigências do seu trabalho. Porém, muito comum também é
a sensação de nunca dar conta das exigências que lhes são impostas. São essas características de suas
falas que enfatizam a situação de “precariedade subjetiva” vivenciada, a qual pode ter como
consequência o sofrimento psíquico.
Marie-Christine Josso (2012), o sujeito constrói sua forma de viver tendo o corpo como ponto
de apoio. O viver é um viver encarnado, por isso, aprender a lidar com as intempéries do corpo é
importante em cada história. A utilização do método de história de vida visa evidenciar que os sujeitos,
com suas tendências para a resistência ou conformização, realizam um esforço considerável para lidar
com suas demandas psíquicos e corporais.
Quando trata especialmente do trabalho docente, Josso (2012) destaca a possibilidade de
desenvolver diversos saberes, tais como o “saber-fazer, saber-sentir, saber-pensar, saber-escutar, saber-
denominar, saber-imaginar, saber-avaliar, saber-perseverar, saber-amar, saber-projetar, saber-desejar,
saber-ser em relação com um si encarnado...” (p. 21).
Dar-se conta e sustentar esse corpo encarnado que deseja, sonha, aprende, ensina envolve um
processo de objetivação de si mesmo, a fim de construir seus projetos e percursos. Essa objetivação
daria acesso a compreensão do corpo e/ou da psique como obstáculo, que precisa ser transposto,
domado. Corpo que se constrói também a partir do contato com o outro, seu olhar, intervenção,
exigências, expectativas.
Alain Ehrenberg (2010) compreende a depressão como uma patologia da ação no mundo
contemporâneo, em que a norma é agir, e agir no sentido de demonstrar uma eficácia individual
imediata. Em um mundo que valoriza o sucesso e a autonomia, os sujeitos devem conseguir demonstrar
eficácia individual, reconhecimento social e ascensão profissional e econômica. Mas o sucesso privado
e público exige cada vez mais as mesmas ferramentas: a capacidade de comunicar, negociar, motivar,
gerir o tempo. Nesse contexto, o vencedor individual é também um fardo para si mesmo, dividido entre
a satisfação da conquista e o sofrimento do alto nível de investimento pessoal. A conquista da
autonomia passa a ser acompanhada do sofrimento psíquico. O sujeito, fatigado pela exigência de
construção de si, muitas vezes deprime.
A depressão é um dos sintomas dessa estafante tarefa de realização de si. Ansiedade, distúrbios
alimentares, estresse, enxaqueca também tem sido cada vez mais relatados por docentes. Ao mesmo
tempo, as instituições seduzem e oprimem o sujeito com a ideia de triunfo, de excelência, de qualidade
total, engendrando o imaginário da perfeição e da superação de si próprio. Caso resista a se inserir na
lógica, reproduz-se o imaginário da inutilidade, que acenam aos valores de fracasso, de falta de inserção
e desqualificação.
O fator mais importante destacado por Ehrenberg (2010), é que essa pressão sobre o sujeito
não diz mais respeito à uma sociedade do controle e da disciplina. O discurso praticado é de que há
para o indivíduo a possibilidade de escolha, característica de uma sociedade que prima pela liberdade
e autonomia. A possibilidade de governar a si mesmo faz dele também o único responsável pela sua
trajetória. O vigoroso exercício de realização de si exige de cada vez investimento próprio e
autocontrole.
Atento às metas institucionais, empenhado em alcançá-las, o indivíduo obterá reconhecimento
apenas temporário, visto que as metas são crescentes e periódicas. Ao não atender a elas, sobra ao
indivíduo o desconforto consigo mesmo, o único responsável pelo seu fracasso. Se perfeitamente
convencido do discurso institucional, o indivíduo se voltará contra si mesmo, em um processo de
rejeição de si e adoecimento psíquico e/ou físico. Preocupado em melhorar a si mesmo e preparar-se
para alcançar a realização, a gestão da sensação de fracasso, da tristeza, angústia e sofrimento via
medicamentosa aparece como possibilidade.
Nikolas Rose (2003) define este processo usando o termo “self neuroquímico”, isto é, a
formação neuroquímica da subjetividade. Para ele, essa perspectiva estaria centrada na compreensão
de indivíduos somáticos, aqueles cuja personalidade é localizada no corpo, sobretudo no cérebro. Um
indivíduo somático é aquele que molda a si mesmo nos termos desse corpo biomédico, e tenta
reformular-se, curar-se ou melhorar-se atuando no corpo, seja por meio de dietas, exercícios ou
ingestão de medicamentos.
No entanto, como estou tratando de como essa medicalização é usada para se manter
atendendo às exigências dos programas de graduação e pós-graduação e seu produtivismo, estou me
referindo especialmente à uma medicalização para o sucesso acadêmico. O que objetivo é provocar
uma reflexão sobre os usos e efeitos da medicalização na educação superior. A implantação do
atendimento psiquiátrico está relacionada à adoção de uma política de saúde mental em várias
instituições, dentre elas, Universidade Federal de Goiás . No entanto, cabe atentar para uma discussão
importante a respeito da psiquiatrialização da educação: até que ponto a universidade está biologizando
e patologizando sofrimentos e angústias que ela mesmo cria ao adotar o modelo produtivista?
Essas análises sobre a transformação da universidade em um modelo de produtividade e
gerenciamento aos moldes capitalistas, em que tem se configurado um espaço de tecnicismo e
produtivismo que provoca angústias, ansiedades, depressão, estafa entre seus membros formarão o
referencial importante para a reflexão da pesquisa. Como em diversos outros espaços que adotam a
perspectiva capitalista gerencialista de cobrança de produtividade, a universidade tem levado seus
membros ao adoecimento, que muitas vezes se configuram mesmo como estratégias defensivas, para
usar os termos de Christophe Dejours (2004). Uma dessas estratégias é o uso de medicamentos
reguladores dos humores, calmantes, ansiolíticos, antidepressivos, a fim de que o corpo consiga se
sustentar produzindo apesar de todo o sofrimento que segue enfrentando nas instituições.
3 CONCLUSÃO
Um dos aspectos importantes a se salientar da medicalização de estudantes e professores
universitários é que, diferente das crianças na escola, a regulação afetiva é desejada e procurada pelo
próprio sujeito a fim de que consigam responder às demandas da vida acadêmica. Controlar a tristeza,
raiva, estresse e pressão provocada pela lógica acadêmica de produzir intelectualmente muito em
pouco tempo parece a saída inevitável.
Os medicamentos psiquiátricos realizam uma intervenção no corpo, para transformar a
mente, mais especificamente, a forma de sentir o mundo e os eventos vitais. A argumentação dos
defensores de uma produção de um eu a partir de intervenções químicas é de que os medicamentos
contribuiriam para tornar a vida de seus usuários menos sofridas e mais saudáveis. Dos seus críticos,
é de que não se trata de uma simples transformação, mas um anestesiamento e aquietamento da mente
diante das pressões e violações sofridas no cotidiano. Antidepressivos, tratariam, nesse caso, de fazer
os sujeitos ignorarem sua dor, ao invés de enfrentá-la e aos agentes causadores dela.
A oferta das “pílulas mágicas” vem em consonância com a demanda de cura típica de nossa
atualidade, ou seja, as individualidades não questionadoras, consumindo respostas prontas e
bioquímicas para o mal-estar provocado pelos novos tempos. O mal-estar compreendido desta
maneira deve ser instantaneamente medicado, como se faz com uma dor qualquer no corpo. Outra
possibilidade seria mais conflitiva e lenta: repensarmos a submissão da universidade aos modelos
gerencialistas modernos.
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