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Promoção da

Daniel Magalhães Goulart


Faculdade de Educação
Saúde Mental nas
Universidade de Brasília escolas: Desafios
atuais
danielgoulartbr@gmail.com
Grupo de Pesquisa (CNPq)

Teoria da subjetividade, educação e saúde (UnB)

 Coordenador: Dr. Daniel Magalhães Goulart


 Vice-Coordenador: Dr. José Fernando Patiño Torres

 Linhas de pesquisa
1. A configuração subjetiva do sofrimento de estudantes e docentes de instituições de
ensino: caminhos possíveis de desenvolvimento subjetivo;
2. Processos subjetivos do trabalho comunitário com crianças e adolescentes em situação
de sofrimento subjetivo grave;
3. Dissidências sexuais, de gênero e de arranjos relacionais: desenvolvimento subjetivo e
educação;
4. Subjetividade social de espaços comunitários, instituições de ensino e saúde mental.2
 Foco: Saúde mental nas escolas no contexto
(pós) pandêmico

1. Impactos da pandemia na educação escolar;


2. Desdobramentos desse processo para a saúde
mental de estudantes, profissionais da educação e
da comunidade escolar;
3. Como as instituições e lideranças têm lidado com
essas questões e como se pode qualificar formas
de cuidado e acolhimento;
4. Aprendizado, desafios e perspectivas para as
instituições de ensino nesse processo.
1) Impactos da pandemia
na educação escolar
PANDEMIA DE COVID-19 5

 Processo abrangente, intenso, que marcou e marcará a nossa


história para além daquilo que conseguimos representar
atualmente.
(Beames; Christensen; Werner-Seidler, 2021; Hawrilenko et al., 2021)

 Diversos efeitos colaterais.


 Educação escolar: intensificação de problemas históricos já
identificados no período pré-pandêmico.
 Condições de moradia;
 Acesso à alimentação de qualidade;
 Situação laboral da família;
 Qualidade ou até mesmo possibilidade de acesso à internet,
computadores e celulares;
 Recursos e condições muito díspares entre as próprias escolas.
 Reconhecimento do esforço de muitos
professores, coordenadores pedagógicos,
orientadores educacionais e gestores
escolares.

 Entretanto... para muitos jovens de 17, 18 ou


19 anos: “período perdido”.
6
“Como sabíamos que não reprovaríamos, porque foi
proibido reprovar nesse período, não fazíamos nada”
“Eu ligava o computador ou o celular na aula,
deixava lá ligado e voltava a dormir”
“Acho que eu só dormi durante toda a pandemia”
“Eu não aprendi absolutamente nada nesse período
de ensino remoto”.

Diversas lacunas nas trajetórias desses estudantes que são 7
muito preocupantes, que devemos encarar de frente.

1. A configuração de um inequívoco déficit na


aprendizagem nesse período em suas variadas formas
de expressão e nos mais variados níveis de ensino;

2. Dificuldades na sociabilidade entre pares, com


professores e outros atores da comunidade escolar;

3. Desmotivação em relação ao estudo e à experiência


escolar num sentido mais abrangente.
2) Desdobramentos desse processo
para a saúde mental de estudantes, Uma breve digressão...
profissionais da educação e da • Relação entre os campos da
comunidade escolar nesse contexto educação e da saúde mental
Educação e Saúde:
concepções tradicionais (Alves;
Aerts, 2011).

 Educação: Transmissão de conteúdo:


práticas baseadas em relações
hierárquicas, bem como em padrão de
conhecimento idealizado de forma
geral.

 Saúde: Ausência de doenças: práticas


baseadas no modelo biomédico;
intervenções focais para eliminar os
sintomas e prevenir doenças.
10
Modelo biomédico (Canguilhem, 2004,
Cooper, 1967, Foucault, 1965)

• Ênfase biológica e aproximação


individualista à saúde mental.
• Concepção mecânica das funções
orgânicas;
• Dimensões subjetivas, sociais e
culturais são negligenciadas.
• Caráter central ao saber do
especialista, omitindo a condição
singular e dialógica da pessoa em
sofrimento.
• Foco no controle,na eficiência, na
“docilidade” e adaptação.
• Altamente influenciado pela
poderosa indústria farmacêutica.
11 Desdobramentos do “casamento” dessas
perspectivas de Educação e saúde:

Modalidade clínico-terapêutica (Antunes, 2008; Cruces; Maluf, 2007;


Meira, 2002; Mitjáns Martínez, 2010)

Fundamento em aproximações psicológicas baseadas no modelo


biomédico;
Individualismo e psicologização: reducionismos;
Ênfase na avaliação somativa, no psicodiagnóstico, no atendimento
individual e no encaminhamento;
A medicalização na Educação
12

 Prática de transformar questões sociais e


pedagógicas em problemas de origem e
solução do campo médico.

 A exclusão da diferença e a reprodução de


desigualdades frente às dificuldades de
aprendizagem e ao fracaso escolar;

“A medicina afirma que os problemas sérios e crônicos do


sistema educacional seriam derivados de doenças que
ela, medicina, seria capaz de solucionar, gerando
demanda por seus serviços, ampliando a medicalização”
(Moysés; Collares, 2011, p. 133).
Pesquisa: Transtorno de Déficit de Atenção e 13
Hiperatividade (TDAH) no Brasil

 Uma das “epidemias” no campo da psicopatologia


(Brant; Carvalho, 2012; Itaborahy; Ortega, 2013);
 Brasil: Segundo mercado mundial no consumo de
metilfenidato;
 Aumento de 775% no consumo de metilfenidato entre
1996 e 2015 (Brasil, 2015);

“Mais da metade dos alunos da escola onde meu filho estuda usa
medicamentos” (mãe de um filho de 11 anos, Brasil)
(Alcântara; Goulart, 2016)
 Transferência das responsabilidades
das instituições de ensino à medicina:
empobrecimento do espaço escolar;
 Explosão medicalizante e implosão O
pedagógica (Alcantara; Goulart,
2016); “manicômio”
 A reificação do comportamento sob nas
uma perspectiva normativa;
 Ausência de diálogo e
instituições
instrumentalização das relações; de ensino
 A objetificação do outro (e de nós
mesmos).

14
É nesse mesmo quadro que as expressões de sofrimento 15
no contexto (pós) pandêmico têm se inserido

 O problema da ideia de “pandemia de doenças


mentais”.

ESCOLAS-AMBULATÓRIO / ESCOLAS-PRESÍDIO.
Perspectiva que descuida da matéria-prima para
qualquer trabalho educativo e prática terapêutica que 16

seja significativa: a subjetividade.

Fernando González Rey e a Teoria da Subjetividade

 Subjetividade: sistema simbólico-emocional (González Rey, 2019c, p. 28).


 Desdobramentos para pensar os casos de sofrimento grave (González
Rey, 2011; Goulart, 2019).

 Para além…
1. Das taxonomías naturalizadas da “doença mental”;
2. Da centralização da medicação;
3. Do controle sintomático/comportamental;
4. Das intenções explícitas e do delineamento da política pública
(González Rey, 2007, Goulart, & González Rey, 2016, Goulart, 2017).
Possibilidades de aprofundamento...

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Variedade de processos está relacionada
aos quadros de sofrimento na escola:

 Uso massivo e sem controle das redes sociais;


 Frustrações de diversas ordens;
 Saturação acadêmica;
 Más condições de estudo e trabalho;
 Uso problemático de álcool e drogas;
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 Desafios relacionais dentro e fora da escola;
 Questões de gênero;
 Questões étnico-raciais;
 Violências de diferentes tipos;
 Contexto de neoliberalização.

PARA ALÉM DE UMA LEITURA SOCIOLOGIZANTE DOS PROCESSOS


HUMANOS.
3) Como as instituições e lideranças têm
lidado com essas questões? E como se Modelo clínico-
pode qualificar formas de cuidado e terapêutico
acolhimento?
 Necessidade de reposicionar o nosso olhar: ênfase na
singularidade
20
e nos possíveis caminhos para o
desenvolvimento subjetivo.

“desenvolvimento de novos recursos subjetivos que se desdobram em


mudanças qualitativas em áreas diversas da vida da pessoa, gerando
uma implicação pessoal gradativamente mais profunda na área em
que a configuração subjetiva do desenvolvimento se organiza”.
(Mitjáns Martínez; González Rey, 2017)

 É preciso desmistificar a saúde mental!

 Não devemos conceber os problemas de saúde mental


como sendo do escopo restrito ou exclusivo de profissionais
especializados em saúde mental.

 O cuidado cotidiano da saúde mental é uma tarefa de


todos. A escola não pode se omitir nesse processo.
 O diálogo é um recurso central.

“comunicação com implicação emocional, sustentada por


um vínculo afetivo que não anula as diferenças entre seus
atores. Muitas vezes, o diálogo implica provocações,
tensionamentos e questionamentos que abrem novos
campos de reflexão, desdobrando-se em processos que
estão para além do momento concreto do diálogo. Essa é
uma via potente de escutar o outro, acolhê-lo, ao mesmo
tempo que mobilizá-lo, a partir de seus próprios recursos, a
gerar caminhos alternativos de desenvolvimento subjetivo”
(Goulart, 2023).

 Esse caráter dialógico deve estar na base também da


formação continuada de professores e gestores.
Considerações Finais:

Aprendizado, desafios e perspectivas


para as instituições de ensino nesse
processo
A escola e o professor foram, são e seguirão sendo fundamentais para o mundo
em transformação que vivemos;

 Repensar estratégias educativas possíveis para favorecer caminhos de


desenvolvimento:

 Lutar contra certa tendência à desresponsabilização frente às crises que emergem


no cotidiano escolar;
 Construir campos de ação possíveis preferencialmente em colaboração;
 Mudar as representações e o sistema valorativo dominante sobre a educação, a
aprendizagem e o sofrimento: para além da transmissão de conhecimentos,
aquisição de habilidades específicas e controle do comportamento.
 Construir uma ética do sujeito.
Esse processo demanda um
repensar constante do lugar e do
papel da escola, articulando o
educar ao acolher e ao cuidar.
CONVITE AO
APROFUNDAMENTO
Site
www.fernandogonzalezrey.com

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CONVITE
II Simposio Ibero-
Americano e IV
Simpósio Nacional de
Epistemologia
Qualitativa e Teoria da
Subjetividade
(SEQTS 2023)

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