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BREVE HISTÓRICO DA

PSICOLOGIA ESCOLAR
NO BRASIL

Profa. Dra. Marília Barreira


Patto (1984), “a análise da constituição
histórica e da essência da psicologia científica é
imprescindível, pois nos permitirá entender
mais a fundo o significado de sua participação
nas escolas...”.

- Como e em quais circunstâncias se fundou;


- Como e em quais circunstâncias se manteve;
- Como e em quaiscircunstâncias
vem sendo modificada...
O Modelo Psicométrico
 A psicologia adquiriu seu status científico em 1879 com a
inauguração do Laboratório de Psicologia em Leipzig, na
Alemanha, por Wilhelm Wundt (1832 – 1920);
 Wundt foi precedido por Francis Galton (1822-1911) que,
em 1869, publicou sua obra “Hereditary Genius” como
início de seu Projeto Eugenista (hereditariedade de
talentos - Um homem notável, teria filhos notáveis);
realizou trabalhos em seu laboratório de psicometria –
medidas da capacidade intelectual.
 A primeira escala métrica de inteligência infantil foi
desenvolvida por Binet, na França em 1905.
- Instrumentos: seleção, adaptação, orientação e
classificação
O Modelo Psicométrico
 Séc. XIX - Estados Unidos: Stanley Hall (1844 –
1924);
 1882 – Primeiro laboratório de Psicologia
Americano Publicação do artigo “O conteúdo da
mente das crianças quando ingressam na escola”;

 Surgimento de clínicas e revistas de divulgação de


pesquisas ligadas, principalmente, à área da
psicometria e da psicologia experimental;

 Historicamente a Psicologia surge sob uma ciência


descontextualizada, desconsiderando os
determinantes sociais do fenômeno humano.
O Modelo Psicométrico
❑ Séc. XIX Ensino da Psicologia nas Escolas
Normais
 Por volta de 1906, no Rio de Janeiro, Manoel

Bonfim fundou o Laboratório de Pedagogia


Experimental, planejado por Binet, em Paris.
 Manoel Bonfim: médico sergipiano revelou em
seus trabalhos, seus desencantos com as
limitações e a insuficiência da psicologia de
laboratório para a compreensão do pensamento.
- Necessidade de se olhar para os aspectos
sociológicos.
O Modelo Clínico
❑No início do século XX, as produções em Psicologia cresciam e os
estudos de Sigmund Freud vieram mudar a visão a respeito da origem
das diferenças pessoais.

❑Com a elaboração de uma teoria que considerava a relação do


indivíduo com o grupo familiar determinante da personalidade e, por
sua vez, de como este indivíduo se posicionará no mundo, lançava-se
um questionamento oportuno para a visão do inatismo.

❑ A psicanálise foi trazida para o Brasil pelos médicos. Dá-se uma


introdução ao modelo clínico de psicologia escolar, inspirado na
medicina, cujo objetivo era psicodiagnosticar e tratar crianças que
apresentassem problemas de aprendizagem.
O Modelo Preventivo

❑ Terreno fértil para a disseminação da prática


psicológica de psicoterapia e orientação familiar,
frente a problemas de aprendizagem e a atribuição
de rótulos.
 Movimento de Higiene Mental (década de 20 e
30 do século XX), com funçõespreventivasde
orientação, assistência, pesquisa e ensino de
técnicos especializados em desajustamentosinfantis;
 Liga Brasileira de Saúde Mental (1922)

- Perspectiva diagnóstica, clinica e individualizada


O Modelo Preventivo
❑Esse movimento partia do princípio de que o profissional de
Psicologia deveria se adiantar aos problemas e cuidar do controle do
bem-estar social e individual da nação. Era necessário que as crianças
fossem qualificadas para se conquistar o ideário do Estado Novo de
industrialização.

❑Essas práticas psicoeducacionais ainda estão presentes nos dias de


hoje em muitas instituições de ensino no nosso país, e têm sido
denunciadas por vários autores, direta ou indiretamente.

❑Pode-se vê-las nos Serviços de Orientação Educacional e Psicologia


Escolar, por meio de atendimentos individuais aos alunos frente a
questões que dizem respeito ao cotidiano escolar.
Dados Históricos da Época

 Aprovação da Lei de Diretrizes e Bases em


1961.
 Ampliação do número de escolas públicas.
 Reformas Educacionais (criação das
escolas técnicas).
 Regulamentação da profissão de psicólogo
(1962).
O Modelo Compensatório

 Teoria da Carência Cultural – surge nos EUA (1970)


 Carentes culturais: possuidores de desvantagens
socioculturais que impedem seu bom desempenho
escolar
 Desvantagens presentes em aspectos emocionais,
intelectuais, motores e linguísticos
 Valores, crenças, hábitos e habilidades da classes
dominantes são considerados como mais adequados à
promoção de um desenvolvimento psicológicos sadio
 Crença na incompetência das pessoas pobres
O Modelo Compensatório
❑ Diante dessa explicação, foram realizados Programas de Educação
Compensatória, voltados para as crianças carentes, primeiro nos Estados Unidos
e depois no Brasil. “(...) disseminando a crença de que todos os esforços estão
sendo empenhados no sentido de escolarizar os filhos da pobreza e sanar suas
deficiências” (Patto, 1984).

❑ Com a consideração das diferenças culturais, percebe-se uma tentativa da


Psicologia em considerar os aspectos sociais dos “problemas de aprendizagem”,
mas ainda havia desconsideração das dimensões ideológicas presentes na teoria
em voga, o que não provocou mudanças de postura em psicologia escolar.

❑ O psicólogo realizava um trabalho voltado para o diagnóstico das deficiências


dos carentes mediante testes psicológicos, detectando suas incapacidades e
buscava, juntamente com outros profissionais de educação, programar meios
psicopedagógicos que possibilitassem a aprendizagem das crianças.
Dados Históricos da Época

 Os anos de 1970 também se caracterizaram,


no âmbito da educação, pela promulgação da
lei nº 5.692/71, que ampliou o sistema
educacional e efetivou a expansão da
escolaridade obrigatória gratuita, trazendo
mudanças significativas no contexto escolar;
 Ressignificação da relação da psicologia com
a sociedade.
Dados Históricos da Época
 Programas de Educação Compensatória

Algumas práticas: de ordem sanitária e alimentar,


fatores relacionados a assistência social, influência
das teorias psicanalíticas e das teorias do
desenvolvimento infantil, estudos antropológicos e
sociológicos, pesquisas sobre o pensamento da
criança e interferência da linguagem no rendimento
escolar.
Introdução ao Modelo Crítico
❑ Ao psicólogo é lançado o desafio de superar a visão técnica/clínica
que sempre embasou sua atuação, passando a atuar politicamente, ou
seja, “atuar e refletir politicamente com os indivíduos para
conscientizar-se junto com eles das reais dificuldades da sua
sociedade” (Freire, 1983).

❑ O rompimento com o modelo clínico de atuação implica em romper


com a separação entre as atividades de ensino que seriam
responsabilidade do professor e o comportamento dos alunos, que
por sua vez seriam responsabilidade do psicólogo.

❑ “situar mais adequadamente os processos psicológicos no interior do


processo pedagógico, garantindo a especificidade de nossa atuação, a
partir de uma reflexão sobre o lugar da Psicologia na Educação”.
Introdução ao Modelo Crítico
 Movimento da Escola Nova
 Movimentos sociais e culturais no
Brasil - Lourenço Filho e Anísio Teixeira.
 Ideiais democráticos norte-americanos – John Dewey
 Trazer o cotidiano dos alunos para dentro da escola;
 A educação deve servir para resolver situações da
vida e a ação educativa tem como elemento
fundamental o aperfeiçoamento das relações sociais;
 Capacidade de raciocínio e espírito crítico do aluno
 Requeria igualdade de oportunidades
Introdução ao Modelo Crítico
 Pregavam a oferta de ensino às camadas
populares e não apenas às elites;
 Oferta da educação para desenvolver
potencialidades e manter a harmonia da
sociedade, neutralizando eventuais desordens;
 Trazem uma nova concepção de infância,
recorrendo ao estudo de desenvolvimento da
criança e das teorias de aprendizagem;
 Focava nos métodos de ensino (a escola deve ser
interessante, não pode ser isolada da vida;
adaptar a atividade educativa às necessidade e
possibilidades do aprendiz);
Dados Históricos no Brasil
 1990
 Criação da ABRAPEE
 Busca de subsídios legais para a atuação do
psicólogo na escola.
 Adoção de uma postura crítica e
comprometida com o desenvolvimento social
e com a inclusão por parte do psicólogo
escolar;
 da atuação do psicólogo escolar como
membro efetivo do contexto educacional
Dados Históricos no Brasil

 2000
 Reflexões sobre a formação e a atuação do
psicólogo escolar;
 Novas práticas: prevenção e promoção de
saúde nas escolas;
 atuação institucional;
 participação na formação de professores;
 elaboração do projeto político pedagógico da
escola e experiências de estágios baseadas
em metodologias de pesquisa-ação.
Compromissos e Perspectivas

❑Não há um manual de atuação em psicologia crítica, o que temos é


uma indicação de Souza (2000) de que o momento é de discussões e
a construção-desconstrução da teoria e prática em psicologia escolar
será constante e dialética.
❑No entanto, temos alguns “princípios norteadores da prática”, existe
certo consenso entre os psicólogos educacionais sobre a
necessidade de maior clareza sobre a nossa identidade e finalidade
profissional.
❑O papel do psicólogo escolar está mal delimitado ainda e uma
discussão aprofundada leva a uma discussão da sua própria
formação. Meira (2000) alerta que no trabalho de formação do
psicólogo escolar devemos estar sempre perguntando: qual deve ser
o compromisso ético - político do psicólogo que queremos formar?
Compromissos e Perspectivas

Educação rigorosa e democrática


Concretização das políticas públicas em
educação.
Escolarização libertadora
Professor como educador
Educação de classes populares

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