Você está na página 1de 27

Educação por projetos:

como implementar essa


ideia na sala de aula e no
território
Rafael Ayres de Queiroz
Objetivos
Conhecer a Metodologia da Problematização
com o Arco de Maguerez;

Aplicação no contexto social e educacional


do Arco de Maguerez.
CHAVE

E de repente
o resumo de tudo é uma chave.
A chave de uma porta que não
abre
para o interior desabitado
no solo que inexiste,
mas a chave existe.

A porta principal, esta é que abre


sem fechadura e gesto.
Abre para o imenso.
Vai-me empurrando e revelando
o que não sei de mim e está nos
Outros.

E aperto, aperto-a, e de apertá-la,


ela se entranha em mim. Corre nas
veias.
É dentro em nós que as coisas são,
ferro em brasa – o ferro de uma
chave.

Carlos Drummond de Andrade


O Corpo (1984)
A Função Social da Educação

A educação é uma chave. Chave que abre a possibilidade de se transformar o


sujeito anônimo, sem rosto, naquele que sabe que pode escolher, que é sujeito
participante de sua reflexão, da reflexão do mundo e da sua própria história.

Esta chave permite modificar a realidade, alterando o seu rumo, provocando


as rupturas necessárias e aglutinando as forças que garantem a sustentação
de espaços onde o novo seja buscado, construído, refletido.
A Função Social da Educação

Em um país com imensas desigualdades e contradições, a educação se


apresenta como um fator de esperança e transformação para a sociedade.

Falar de cidadania é falar de igualdades e contradições, a educação se


apresenta como um fator de esperança e transformação.

A o educador, no desempenho do seu trabalho com os grupos, chamamos de


facilitador.
O que, no entanto, pretende facilitar?
Qualquer Projeto surge de uma
ideia que brota ao mesmo tempo na
cabeça e no coração de quem pensa.
Nasce, geralmente, da observação da
realidade e se alimenta da visão que
projetamos no futuro, na qual essa
realidade se apresenta transformada.
O diagnóstico é a primeira etapa de um
planejamento, pois se quem planeja não busca
conhecer o contexto e as pessoas-alvo do seu
trabalho - o que pensam, onde vivem, o que
desejam e do que precisam, corre o risco de não
atender a seus desejos e necessidades.

O diagnóstico pode ser realizado de diversas


maneiras: desde uma simples observação, uma
conversa, visitas às famílias, levantamento de
dados já existentes ou não, até técnicas mais
sofisticadas, como uma pesquisa cientifica
estruturada. O diagnóstico é permanente, vai
emergindo desde o primeiro momento do
planejamento e é revisto periodicamente através
do acompanhamento e da avaliação.
O importante no diagnóstico é que os dados
colhidos auxiliem a conhecer melhor o problema e
o contexto no qual o trabalho será realizado.
De posse dos dados coletados, segue-se a
análise e a reflexão sobre os mesmos, para se
chegar ao entendimento detalhado da situação,
de modo a decidir qual o rumo a ser tomado e
que objetivos perseguir para resolver e/ou
enfrentar as necessidades diagnosticadas.
Certamente, vários problemas serão apontados,
mas, para que o trabalho possa surtir efeito, é
preciso priorizar, ou seja, escolher dentre as
necessidades levantadas aquelas que estão ao
alcance de nossa intervenção.
A segunda etapa do planejamento é a
definição dos objetivos, onde se quer
chegar. Os objetivos que viermos a
estabelecer devem ser claros e precisos,
porque são eles que irão apontar a direção
do nosso trabalho.
Definidos os objetivos, passamos à terceira
etapa do planejamento, que denominamos
meta, que é a qualificação dos objetivos. A
meta estabelece o número de adolescentes
a serem atendidos, quantos educadores
serão necessários para cobrir atendimento e
em que tempo será realizado o trabalho.
A quinta etapa do planejamento trata dos
recursos de que se pode utilizar para a
realização das atividades. É o levantamento
de tudo o que é necessário para que o
trabalho seja realizado, incluindo os recursos
da comunidade e as possíveis parcerias.
A quarta etapa do planejamento é
chamada estratégia e define como fazer se
alcançar os objetivos propostos, ou seja,
trata-se da operacionalização do trabalho.
Na estratégia, são definidos os passos a
serem seguidos, os métodos e as técnicas a
serem utilizadas nas atividades e as
responsabilidades de cada um.
Pesquisando a comunidade, é possível
descobri recursos que até então eram
desconhecidos. O educador deve tentar
aproveitar ao máximo aquilo que
efetivamente existe no ambiente ao seu
redor.
Para tanto, necessita se aproximar e
estabelecer canais de entendimento e
troca com moradores, profissionais e
instituições presentes no contexto
A sexta etapa do planejamento é o
cronograma. Para sua montagem, é preciso
conhecer o tempo disponível para realização
do trabalho, distribuindo-se por esse tempo
as atividades escolhidas para se atingir os
objetivos propostos.
Recursos humanos
Recursos físicos

Recursos materiais
Recursos financeiros
A última etapa do planejamento é a
avaliação.

Apesar de ser colocada como etapa final,


acompanha todo o trabalho como prática
contínua e sistemática. O enfoque da
avaliação deve ser sempre o
aprimoramento da ação social.
Aplicação do Arco de Maguerez no processo de ensino-aprendizagem

A Aprendizagem Baseada em Projetos já é realidade em instituições de nível


superior, mas as iniciativas na Educação Básica ainda estão restritas a projetos
pontuais.

Entretanto, não se deve incorrer no erro de “adoção dessa metodologia”, mas


partindo de um projeto pré-elaborado sendo transferido de um local para outro
(de escola para escola ou de classes para classes), sem pensar nas diferentes
subjetividades, potencialidades e dificuldades, tanto de indivíduos como de
ambientes.
Aplicação do Arco de Maguerez no processo de ensino-aprendizagem

Bender (2012, p. 9) define a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP) como


um modelo de ensino que consiste em permitir que os alunos confrontem as
questões e os problemas do mundo real que consideram significativos,
determinando como abordá-los e, então, agindo cooperativamente em busca
de soluções (grifos meus).
Na busca por modelos de ensino que levem a confrontos de ideias, reflexões e
estruturação de soluções, esse autor aponta estes critérios para a instauração
da ABP:
i) (...) currículo elaborado em trono de problemas com ênfase em habilidades
cognitivas e conhecimentos; ii) (...) ambiente de aprendizagem centrado no
aluno, que utilize pequenos grupos; (...) e iii) resultados dos alunos focados no
desenvolvimento de habilidades (Bender, 2012, p. 24).
Aplicação do Arco de Maguerez no processo de ensino-aprendizagem

É o que propõe o Arco de Charles Maguerez (Figura 1), para o qual a realidade
dos sujeitos é o ponto inicial e o esqueleto de uma aprendizagem ativa.

Figura 1: Esquema representativo do Arco de Maguerez


Aplicação do Arco de Maguerez no processo de ensino-aprendizagem

O processo de problematização proposto pelo Arco de Maguerez é composto


por cinco etapas que se desenvolvem a partir da realidade que se pretende
investigar:

1) Observação da realidade para reconhecimento do problema;


2) Levantamento dos pontos-chaves relacionados ao problema;
3) Teorização dos pontos-chaves para compreensão do problema;
4) Construção de Hipóteses de solução ao problema
5) Aplicação à Realidade das hipóteses de solução (Berbel, 1998; 2012;
Bordenave, 2005; 2009).
Etapa Ações relativas à 1ª etapa da M. P. com o Arco de Maguerez

1. Observação da Realidade (Problema)

* Identifica o recorte de realidade a ser observado;


* Elege a forma de observação;
* Realiza a observação (no formato definido ou possível);
* Registra as observações;
* Analisa o registrado, em seu conteúdo, problematizando-o;
* Elege o foco do estudo a partir de um critério;
* Redige o problema;
* Justifica a escolha do problema.
Etapa Ações relativas à 2ª etapa da M. P. com o Arco de Maguerez

2. Pontos-chave

* Reflete a respeito do problema;


* Identifica possíveis fatores associados ao problema;
* Identifica possíveis determinantes maiores do problema;
* Redige toda essa reflexão, extraindo o seu sentido para o estudo, pelas possíveis
explicações da existência do problema;
* Analisa a reflexão, captando os vários aspectos envolvidos no problema;
* Elege, com critérios, aqueles aspectos que serão estudados na etapa seguinte;
* Redige os pontos-chave.
Etapa Ações relativas à 3ª etapa da M. P. com o Arco de Maguerez

3. Teorização

* Elege a forma de estudar cada ponto-chave;


* Prepara os instrumentos de coleta de informação;
* Testa os instrumentos;
* Organiza as condições para a aplicação dos instrumentos;
* Coleta as informações (aplicação dos procedimentos e instrumentos definidos;
* Tratar as informações;
* Analisa e discute as informações;
* Conclui em função do problema, verificando se as hipóteses explicativas iniciais
foram confirmadas, negadas ou não foram consideradas na Teorização;
* Registra toda a Teorização.
Etapa Ações relativas à 5ª etapa da M. P. com o Arco de Maguerez

5. Aplicação à Realidade (prática)

*Analisa a aplicabilidade das hipóteses;


*Elege, com critérios (exequibilidade, urgência, prioridade etc.) as que julga poder
colocar em prática;
* Planeja a execução das ações pelas quais se compromete
*Coloca-as em prática;
*Registra todo o processo, analisando os resultados, quando possível.
Etapa Ações relativas à 4ª etapa da M. P. com o Arco de Maguerez

4. Hipóteses de Solução

* Elabora as hipóteses de solução para o problema, com base na Teorização e etapas


anteriores
* Abrange diferentes instâncias ou níveis de ação visando à transformação daquela
parcela de realidade estudada
* Usa criatividade para encontrar ações novas
* Explica/argumenta as hipóteses elaboradas
* Registra toda a elaboração
Rafael ayres de queiroz

Psicólogo Clínico
Orientador Profissional
Professor do Curso de Psicologia da FAMEC
Professor do Curso de Psicologia UniFanor
Mestre em Saúde Coletiva
Graduado em Psicologia
Graduado em Filosofia
Graduado em Pedagogia

E-mail:
rafael.ayres.psicologia@gmail.com

Você também pode gostar