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1. O que é ?...

O Trabalho de Projecto é, fundamentalmente, um modus operandi uma


estratégia que implica um método de acção participado, solidário, tendo
em vista objectivos realizáveis e estabelecidos de comum acordo.
Procura-se, através dele, encontrar respostas para determinados
problemas.
Investigar e propor soluções pressupõe a alteração de situações
previamente identificadas, isto é, uma análise-diagnóstico do estado
real das coisas, com o desejo/projecto de mudar qualitativamente pelo
menos alguns aspectos do status quo, percorrendo várias etapas.
A metodologia de projecto assenta numa ordem lógica de
procedimentos e operações que se interligam.
"Transformar um problema em projecto e concretizá-lo é, em última
análise, o objectivo da pedagogia de projecto (..), entendendo-se por
'problema' a 'diferença entre uma situação existente e uma outra que é
desejada"'
Daí decorre que os 'problemas' possam ser de vária ordem: cognitivos,
efectivos, sociais, institucionais, etc.
A metodologia de projecto, enquanto método de planeamento é, a um
tempo, uma forma de saber o que pretendemos, de mobilizar e
identificar os recursos disponíveis e de circunscrever as fronteiras do
campo de acção sobre o qual nos propomos actuar.

2. Como é ?...
Para que o projecto não se revele irrealista, desenquadrado e fortuito,
há que conhecer e diagnosticar a realidade, identificando os problemas
que existem: é a possibilidade de apreensão/compreensão dos
problemas que torna o projecto viável e significativo.
A situação-problema terá de ser descrita, caracterizada, para que seja
possível o seu desdobramento em problemas mais
parcelares. Recorre-se, então, a variadas técnicas de investigação:
Documentais: análise de textos, recolha de informações, consulta de
arquivos (textos, filmes, fotos,...)
Não-documentais: inquéritos por questionário, entrevistas,
observação,...

3. Para quê ?...


"Não ouçam o que eles dizem, vejam antes o que eles fazem.'
( Bergson )
Ora, para resolver os problemas encontrados (e posteriormente
seleccionados), é preciso estabelecer objectivos/metas a atingir, ou
seja, pensar no para quê?, o que permitirá manter, por um lado, o rumo-
do-projecto, sem desvios significativos, eventualmente provocados pela
disseminação de tarefas e actividades, e por outro, a focagem nos
resultados.
3.1. Algumas considerações sobre formulação e selecção de objectivos.
Para uma correcta formulação e selecção de objectivos, tem todo o
cabimento distinguir entre: finalidades ou metas e objectivos gerais e
específicos.
É de todo aconselhável um projecto não se espartilhar em demasiadas
finalidades (pois os seus promotores correm o risco de se perderem),
escolhendo, por isso, uma só finalidade.
É necessário, então, escolher pontos intermédios de chegada: falamos
da definição de objectivos gerais e específicos.
Os objectivos gerais indicam as grandes intenções de um projecto. Em
regra, como também não são formuláveis em termos operacionais,
carecem de datação e de localização precisas.
Os objectivos específicos devem permitir desmontar os objectivos
gerais, pelo que terão que se formular em termos operativos, o que
deixará avaliar da sua concretização. Por outro lado, serão
susceptíveis de ser atingidos a curto prazo e o seu enunciado não dará
lugar a ambiguidades de interpretação sendo, sempre que possível,
quantificados. Os objectivos específicos têm como alcance o sector de
actividade em relação aos quais são definidos.

4. Porquê?...
“Toda a verdade se torna falsa no momento em que nos
contentamos com ela" (Alan)
Um projecto implica, da parte dos intervenientes, motivação, coerência
no caminho a percorrer, pelo que deve estar de acordo com os valores
e princípios que regem a sua conduta na vida e na escola.
Assim sendo, há que perguntar: por que o faço? Apetece-me fazê-
lo? Independentemente das dificuldades, dar-me-á
satisfação? Antevejo o meu enriquecimento como aluno e pessoa?
Se, em grande parte, o projecto se instaura em função de necessidades
e interesses da população-alvo, em boa parte deve ir ao encontro das
nossas legítimas aspirações, sentidas por nós próprios.

5. Com quê e com quem?...


Que condições se reúnem para levar a cabo o projecto? Que recursos
encontramos disponíveis? Trata-se aqui de clarificar os recursos e
forças que poderão contribuir ou obstaculizar a resolução dos
problemas.
Que colaboração poderemos obter? Dos professores? Dos
colegas? Dos funcionários? Dos órgãos directivos? Das instituições
exteriores? Urge, então, estabelecer contactos com quem queremos
desenvolver o projecto, auscultando a sua opinião e procurando
percepcionar o seu grau de motivação. Para isso, há que explicar com
clareza e honestidade, tendo o sentido das limitações, o projecto que se
pretende implantar, as estratégias a adoptar e qual a colaboração que
deseja do seu interlocutor.

6. Como... fazer, saber, registar ?...


Como fazer: diz respeito às estratégias, isto é, às grandes orientações
metodológicas de intervenção do projecto ( ligação entre recursos e
objectivos ): faseamento, recursos, metodologias,...
Como saber: convém não esquecer a necessidade de prever momentos
para reuniões e encontros para se fazer o ponto da situação,
proporcionar e receber o feed-back, medir a distância, em cada fase,
em relação aos objectivos propostos. A informação deve difundir-se de
forma simples e clara, periodicamente, para que todos os intervenientes
(directos ou indirectos) estejam permanentemente a par do
desenvolvimento do processo.
Como registar: regista-se com o intuito de ficar com documentos sobre
o evoluir do processo e da situação: o antes, o agora e o depois. Os
registos fazem parte integrante de todo o trabalho de campo e dão aso
a momentos de pausa e reflexão sobre o andamento das tarefas,
dificuldades, descobertas, eventuais mudanças de orientação!

7. Como avaliar ?...


A avaliação deve estar prevista e integrada no projecto inicial. Os seus
métodos serão estabelecidos de acordo com o tipo de avaliação e de
indicadores disponíveis. É obrigatório avaliar, não só o produto, mas
também o caminho percorrido (avaliação contínua), sublinhando os
seus aspectos positivos e não esquecendo os negativos. A avaliação
do produto final tem um carácter global (processo + produto) que
poderá revestir-se de diferentes formas: questionários; diálogo aberto;
fichas; relatórios.
A elaboração do relatório é um bom método para, de um modo claro,
objectivo e sucinto, poder descrever a situação à partida, o processo, os
reajustamentos pontuais e a situação à chegada.
“Caminhante não há caminho, o caminho faz-se andando.”
(Adaptado do site)
Síntese
O trabalho projeto desenvolve-se nas
seguintes fases:

1. Escolha do tema
2. Definição pormenorizada dos aspectos do
tema que se quer trabalhar
3. Planeamento do trabalho
4. Recolha de documentos, investigação, tomada
de notas
5. Elaboração do ponto da situação
6. Preparação da apresentação do trabalho à
turma
7. Apresentação do trabalho e participação na
apresentação dos trabalhos dos outros grupos
8. Realização do balanço

Trabalho de campo
• A recolha de dados e informações pode
ser feita de muitas e diferentes maneiras,
dependendo do que se quer saber. Pode-
se:
• fazer fotografias, gravações, desenhos,
esquemas;
• procurar documentos escritos,
fotografias, dados quantificados;
• conversar com as pessoas e fazer-lhes
entrevistas mais ou menos formais;
• fazer observações dos locais, da
organização do espaço, da disposição
dos móveis;
• observar o comportamento das pessoas,
os gestos, anotar falas, movimentos,
contar as vezes que determinados
acontecimentos se dão num determinado
espaço de tempo.

Actividade

Proponho-te que desenvolvas, com o teu colega, um Trabalho de Projecto


sobre um dos seguintes temas:

Mas toma nota:


O trabalho de projecto é "um método de trabalho que requer a participação de cada
membro de um grupo, segundo as suas capacidades, com o objectivo de realizar um
trabalho conjunto, decidido, planificado e organizado de comum acordo”.
O trabalho de projecto deve ser orientado para a resolução de um problema,
considerado importante e real. Vai permitir aprendizagens novas e ser estudado ou
resolvido tendo em conta as condições da sociedade em vivemos.

Agora já podes escolher o tema a trabalhar:


Tema 1 _ Irradicação da toxicodependência na escola;
Tema 2 _ Da escola que temos à escola que queremos - Desafios;
Tema 3 _ Como atenuar o desemprego dos jovens no nosso país?
Tema 4 _ Como acabar com violência doméstica?
Tema 5 _ Graffitis: Arte ou vandalismo?
Tema 6 _ Crianças sobredotadas como sobrevivem em Portugal?
Tema 7 _ A solidão no planeta global;
Tema 8 _ A presença da Internet no quotidiano dos alunos;
Tema 9 _ Cidadão do mundo: O nosso mundo está a ficar cada vez mais
pequeno. Que implicações traz para a educação?
Tema 10 _ A poluição: Uma fatalidade do mundo actual?
Tema 11 _ Reciclar para salvar o planeta: Campanha de reciclagem.

A METODOLOGIA DE TRABALHO DE PROJECTO


O Trabalho de Projecto é um método de trabalho que se centra na investigação,
análise e resolução de problemas em grupo. O termo “projecto” vem do latim
pro+jectare e significa “lançar para a frente, atirar”. Projectar significa investigar um
tema, um problema, uma situação com o objectivo de a conhecer e, se possível,
apresentar interpretações e/ou soluções novas.

Uma das características mais marcantes do Trabalho de Projecto é o papel do aluno


no processo de aprendizagem; o trabalho está centrado nos alunos porque são eles
que escolhem os temas, os problemas dos projectos que vão desenvolver, investigar e
apresentar o produto final.

A planificação do projecto e as tarefas inerentes à sua concretização baseiam-se na


iniciativa dos alunos: cabe-lhes escolher e dividir entre si as tarefas, bem como
proceder à sua execução, estando subjacente a planificação das actividades. Este tipo
de trabalho exige, portanto, capacidade de gestão do tempo e das tarefas.

Cabe aos professores acompanhar, coordenar e avaliar a concretização das tarefas


dos projectos e a sua divulgação, isto é, gerir, orientar avaliar o trabalho. Cabe-lhes,
como orientadores, analisar as possibilidades reais de concretização do projecto tendo
em conta os recursos e o tempo disponíveis. Assumem face ao projecto uma atitude
de crítica construtiva, identificando os aspectos fortes e os aspectos fracos para
melhorar o projecto.

O trabalho dos alunos desenvolve-se em pequenos grupos em que os elementos que


os constituem se apoiam e cooperam. Os alunos colaboram e, juntos, procuram
desenvolver o projecto que se propuseram concretizar. É, portanto, uma
aprendizagem cooperativa, isto é, o conhecimento constrói-se no processo de
interacção entre os alunos, entre estes e o professor, bem como com outros
elementos da comunidade. Um dos aspectos mais marcantes do Trabalho de Projecto
é o facto de se fundar no trabalho de grupo o que permite desenvolver o sentido de
responsabilidade, a solidariedade e o espírito de equipa.

Este papel activo dos alunos confere-lhes mais responsabilidades: efectivamente, a


autonomia do trabalho tem como complemento a rees+ponsabilização. Por outro lado,
e este é um dos aspectos mais importantes do Trabalho de Projecto, os
conhecimentos, as experiências e os recursos dos alunos são valorizados constituindo
estímulos para a aquisição de novos conhecimentos.

O professor acompanha o desenrolar do trabalho dos grupos apoiando-os na


ultrapassagem de dificuldades de desenvolvimento assim como na superação de
crises, conflitos e bloqueios que surgem no decorrer do trabalho.

CONHECER, AGIR

O Trabalho de Projecto visa vários objectivos ao nível do saber. O desenvolvimento do


projecto convoca um conjunto de conhecimentos que, geralmente, são apreendidos de
forma fragmentada, veiculados nas diferentes disciplinas, o que conduz, muitas vezes,
a uma visão distorcida da realidade.

Ao desenvolver um projecto, os diferentes conhecimentos são convocados para, de


forma interdisciplinar, os alunos conhecerem um problema, uma questão, recorrendo a
várias áreas do saber para, de forma integrada, concretizarem o projecto.

Um outro aspecto muito importante desta metodologia consiste na aplicação dos


conhecimentos à realidade concreta: este é o ponto de partida e de chegada do
projecto. O trabalho desenvolve-se no contexto social.

É utilizando um conjunto de técnicas de pesquisa que os alunos produzirão


conhecimento sobre a realidade e, poderão intervir nela: a relação teoria-prática é uma
das características mais importantes do Trabalho de Projecto. Nesse processo de
pesquisa e de acção, os alunos desenvolvem um conjunto de competências, de
saberes-fazer que serão úteis na sua vida escolar e profissional.

As fases do desenvolvimento de um projecto

Como já dissemos, um projecto visa conhecer um problema, uma situação. A escolha


e a realização do trabalho desenvolvem-se em grupo, implicando uma prévia
negociação entre os seus membros. Assim, o projecto deve corresponder às
necessidades e interesses do grupo, não podendo ser imposto, porque implica a
adesão e participação activa, motivada e interessada de todos.

Apresentamos, de seguida, seis etapas ou fases do desenvolvimento de um projecto.


(algumas propostas integram etapas, outras desdobram-nas).

1 – Identificação da situação-problema

Esta fase corresponde à escolha da situação-problema que constituirá o projecto a


desenvolver pelo grupo de trabalho. Depois de identificado o campo de problemas
escolhe-se e formula-se o problema a investigar. Esta escolha tem de ser
fundamentada, isto é, deve ser explicitada a razão ou razões da escolha.

2 – Formulação de problemas parcelares

A situação-problema deve ser descrita, enquadrada, caracterizada, o que permitirá o


seu desdobramento em problemas parcelares.

3 – Esboço de planificação de trabalho

Nesta fase procede-se ao levantamento dos recursos (meios de resolução do


problema) e limitações condicionantes do desenvolvimento do trabalho. São definidas
as tarefas a levar a cabo pelos diferentes elementos do grupo, a escolha dos métodos
e técnicas de pesquisa e a respectiva calendarização. Este esboço de planificação
está sujeito a várias reformulações.
4 – Investigação e produção

O contacto com o meio através do trabalho de campo é o momento privilegiado da


recolha de dados que depois terão de ser tratados. É a partir dos dados recolhidos e
trabalhados, da integração dos conhecimentos relacionados com a realidade
estudada, que se concretiza o produto ou os produtos. Estes reflectem a articulação
entre a teoria e a prática, entre o saber e o saber-fazer.

5 – Apresentação dos trabalhos

Os produtos finais são apresentados à comunidade podendo assumir formas diversas:


relatórios, filmes, exposições, dramatizações, objectos, maquetes, etc.

6 – Avaliação

A avaliação é feita ao longo do desenvolvimento do projecto. A avaliação contínua –


auto e heteroavaliação – permite reformular estratégias e reflectir sobre a dinâmica do
grupo de trabalho.
A avaliação do produto final é uma avaliação global – do processo e do produto.

Manuela Matos Monteiro


(a partir de “Área de Projecto, Guia do Aluno” de Manuela Matos Monteiro
Porto Editora, pp. 87-90)

Bem-vindo!

Você sabe o que é personalização do ensino? Esse material foi


desenvolvido para explicar, de maneira interativa, tudo o que você precisa
saber sobre essa abordagem educativa. O conteúdo é dividido em cinco
seções: O QUE É , EXPERIMENTE , COMO FAZ , SUA VEZ e OPINIÃO .
Na seção O QUE É , você terá acesso ao conceito de personalização do
ensino e verá como tem vinculação com influências de pedagogias
clássicas. Também entenderá por que falar desse tema se tornou tão
urgente nas seções: Por que agora? PARTE 1: história e Por que agora?
PARTE 2: tecnologia .
Na EXPERIMENTE , terá um gostinho de como a tecnologia pode
personalizar o ensino.
Na COMO FAZ , entenderá várias formas possíveis de personalizar o ensino
e lerá a história de cinco iniciativas (Âncora, Khan nas Escolas, We <3 to
Learn, GEC Rio de Janeiro, NAVE / Chico Anysio e Summit), todas
gratuitas para o estudante.
A seção SUA VEZ é dedicada a educadores interessados em adotar essa
abordagem, via uso de tecnologia em sala de aula.
Por fim, a seção de OPINIÃO traz algumas impressões que tivemos ao
visitar experiências que praticam a personalização.
Para ter acesso ao material, basta rolar a página para baixo ou, a qualquer
momento, clicar em uma seção específica no menu e ir direto à parte
desejada. Não deixe de clicar nos ícones laterais ao texto principal para
obter informações complementares.

Boa experiência!

O QUE É

CONCEITO

Se fôssemos tentar descrever uma sala de aula de ensino fundamental


típica no Brasil, ela seria em uma escola pública e urbana, com aulas por
4,5 horas por dia e teria por volta de 25 alunos em cada classe.

Se a turma fosse de quinto ano, duas ou três dessas crianças seriam


daquelas que sabem tudo de matemática e que pedem novos desafios
porque já estão lá na frente enquanto os colegas ainda estão absorvendo
os conceitos mais básicos. Oito ou nove delas, por outro lado, estariam
entre as que têm tanta dificuldade que precisam de uma atenção especial;
neste grupo, é provável que ao menos uma tivesse algum déficit de
aprendizagem mais sério. Os 18 ou 19 restantes comporiam um grupo com
conhecimentos de um nível que oscila entre o mínimo necessário e o
adequado.

Esses dados, retirados do Education at a Glance e de estatísticas do MEC


(Ministério da Educação) compiladas pelo QEdu, mostram que, mesmo na
configuração de sala de aula mais comum no país, o desafio de
proporcionar um ensino significativo para cada estudante é imenso. Numa
classe com 25 alunos, os professores precisam lidar com 25 interesses, 25
talentos e 25 necessidades de aprendizagem diferentes.
Não por acaso, a personalização do ensino, ou o ensino personalizado, tem
se mostrado uma das tendências mais fortes da educação no Brasil e no
mundo.

O termo se refere a uma série de estratégias pedagógicas voltadas a


promover o desenvolvimento dos estudantes de maneira individualizada,
respeitando as limitações e os talentos de cada um. Ele leva em
consideração que os alunos aprendem de formas e em ritmos diferentes, já
que também são diversos seus conhecimentos prévios, competências e
interesses.

50 mi
de alunos estão na educação básica no Brasil

83%
Estão matriculados na rede pública

12%
Sabem no 9º ano o que deveriam de matemática

22%
Sabem no 9º ano o que deveriam de português

Influências

Mas a ideia de proporcionar um ensino mais relacionado às necessidades e


expectativas dos estudantes não é algo novo. De acordo com Lilian Bacich,
pedagoga que estuda ensino híbrido em seu doutorado na USP, alguns dos
educadores que mais influenciaram as salas de aula brasileiras já traziam
a preocupação de personalizar a educação, mesmo que usassem outros
termos para descrever o conceito.
O brasileiro Paulo Freire, afirma a especialista, é um deles. O patrono da
educação brasileira, morto em 1997, defendia que o aprendizado acontece
de verdade quando o aluno é levado a compreender o que ocorre ao seu
redor, a fazer suas próprias conexões e a construir um conhecimento que
faça sentido para a sua vida. “Freire falava em aproximar o objeto de
estudo à realidade do aluno. Isso também é personalização”, afirma
Bacich.
Segundo Mitchel Resnick, professor do MIT (Massachusetts Institute of
Technology) e um dos expoentes no estudo do uso da criatividade no
aprendizado, uma das grandes contribuições do brasileiro foi mostrar que
saber ler é importante por ser uma habilidade útil na rotina de qualquer ser
humano, mas é ainda mais crucial porque faz com que os educandos se
tornem autônomos — palavras muito caras aos que defendem a
personalização do ensino. “Freire entendeu que aprender a escrever era
importante não só por questões práticas, mas para se sentir um
participante ativo da sociedade”, afirmou.
Um exemplo de rede de escolas que assumidamente se baseia nos
ensinamentos de Paulo Freire para proporcionar um ensino voltado às
necessidades de cada aluno é a High Tech High. Localizadas na Califórnia,
essas 11 escolas, que são públicas de administração privada, apostam em
quatro pilares pedagógicos: personalização, conexão com o mundo real,
interesse comum em aprender e professor como designer do aprendizado.
Lá, cada aluno tem a mentoria de um adulto para descobrir seus
interesses, talentos e assim buscar autonomamente um aprendizado
adequado às suas necessidades. Todos os dias os estudantes definem um
cronograma de atividades, com o qual se comprometem, e determinam
onde querem chegar. Entre as possibilidades de aprendizagem que têm ao
longo do dia estão projetos em grupo, momentos de reflexão individual,
com e sem tecnologia, e aulas tradicionais.
Por falar em autonomia e mentoria, Bacich não fica apenas em Freire ao
apontar referências tradicionais. Ela relaciona também alguns dos
preceitos da personalização aos ensinamentos de outro educador
importante para o Brasil, o psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky (1896-
1934). Para a especialista, o conceito desenvolvido por ele de zona de
conhecimento proximal se enquadra bem nessa discussão atual. “A zona de
conhecimento proximal é aquilo que o aluno pode fazer tendo o apoio
necessário. Também é um olhar para cada um”, afirma.

COMO FAZ

Para demonstrar como a personalização acontece na prática,


o Porvir pesquisou iniciativas que utilizam diferentes estratégias para
promover um ensino personalizado. Algumas dessas experiências estão
centradas no uso da tecnologia, outras pouco utilizam recursos digitais. Há
aquelas que têm como foco crianças e as que se voltam mais para os
adolescentes. Parte delas estão no Brasil, outras no exterior. Todas são
gratuitas e acontecem em três tipos de escolas: públicas convencionais,
geridas via parceria público-privado ou mantidas por investidores sociais.
Antes de conhecer as experiências, confira algumas características
recorrentes em todas elas:

Autonomia
As escolas que se propõem a oferecer um ensino mais personalizado
colocam o aluno no centro de sua proposta pedagógica e criam
oportunidades para que se torne o principal agente do seu aprendizado.
Não por acaso, o desenvolvimento de indivíduos autônomos é um valor
importante para todas as iniciativas visitadas. A autonomia é estimulada a
partir de diferentes estratégias. Em algumas escolas, os alunos elaboram
seus planos individuais de aprendizado, outras dão ao estudante a
liberdade de fazer escolhas ao longo de sua trajetória escolar.

Ambiente de aprendizagem
Para que os alunos tenham a possibilidade de aprender de diferentes
maneiras, as escolas têm reorganizado seu espaço físico. Na maior parte
das vezes, a opção é por mobiliário flexível, que permite diferentes
arranjos, capazes de abrigar atividades diversas (on-line, experimentações,
debates e até aulas expositivas), tanto realizadas individualmente, quanto
em grupos. Há escolas que aboliram as salas de aula tradicionais. A
presença de dispositivos móveis, como tablets e celulares, também
ampliam a variedade de ambientes em que aprender é possível.

Mentoria
O apoio individual oferecido por um adulto de referência é outra das
estratégias usadas para promoção do ensino personalizado. Normalmente,
cada professor tem um número máximo de alunos que acompanha em
diferentes níveis: rotina acadêmica, projeto de vida, dificuldades fora do
âmbito escolar e articulação com família. Em alguns casos, o mentor (tutor
ou orientador) também é aquele que ajuda o aluno a descobrir seus
talentos e se conectar com pessoas de fora da escola que podem apoiá-lo
no desenvolvimento dessas habilidades. A mentoria não tem como foco o
acompanhamento psicológico, mas o apoio ao estudante no alcance de
metas e na superação de desafios.
Planos individuais de aprendizado
Muito relacionados ao desenvolvimento da autonomia, os planos individuais
de aprendizado são utilizados por algumas das escolas pesquisadas como
instrumentos pedagógicos desenvolvidos com ou sem o apoio da
tecnologia, mas sempre a partir do que o aluno precisa e deseja aprender.
De maneira analógica, costumam tomar a forma de roteiros de
aprendizagem, definidos periodicamente pelo aluno com a ajuda de um
tutor. Com a tecnologia, são elaborados com apoio de plataformas
inteligentes, que entendem como cada aluno aprende melhor e sugerem
caminhos para que ele cumpra seus objetivos educacionais.

Avaliação individualizada e de processo


As escolas investigadas também utilizam formas mais personalizadas de
avaliação. Uma vez que cada aluno segue seu próprio percurso
pedagógico, respeitando ritmo, características e interesses distintos, as
provas padronizadas deixam de fazer sentido. Com isso, as avaliações
passam a ser feitas de forma contínua, com o intuito de acompanhar a
evolução de cada estudante e garantir que ele aprenda. Também observa o
desenvolvimento de competências que extrapolam o âmbito dos conteúdos
formais, mas são igualmente importantes para a formação integral dos
estudantes. A tecnologia tem permitido que algumas dessas avaliações
aconteçam em tempo real, gerando dados que orientam a ação imediata de
professores e dos próprios alunos para assegurar que a aprendizagem
aconteça.
Aprendizado por projetos
As experimentações concretas ou atividades mão na massa têm sido
amplamente utilizadas pelas escolas mapeadas, com grande efeito sobre o
engajamento dos alunos. Geralmente, os projetos são interdisciplinares,
ajudam os alunos a compreender conceitos mais complexos ou abstratos e
permitem o desenvolvimento de uma série de outras competências, como
liderança, criatividade, capacidade de resolver problemas e trabalhar em
grupo. Em algumas escolas, eles são realizados por alunos de idades e
séries diferentes, o que amplia a integração e enriquece a troca. Muito
frequentemente, buscam resolver problemas da vida real, conferindo
sentido ao que se aprende.

Desenvolvimento integral
As escolas que promovem a educação personalizada têm um olhar integral
para o aluno, a fim de assegurar que os conteúdos e estratégias de
aprendizagem dialoguem com o perfil e o projeto de vida de cada um.
Assim, promovem atividades educativas que desenvolvem os estudantes
em diferentes dimensões (acadêmica, física, socioemocional, cultural).

“No ensino híbrido, o aluno aprende em parte virtualmente e tem controle sobre tempo,
lugar, modo e ritmo do estudo”

Tecnologia e Ensino híbrido


O uso mais intensivo e estratégico de recursos tecnológicos na educação
gerou uma nova abordagem pedagógica denominada de ensino híbrido, que
mescla atividades on-line e offline.

No artigo Ensino Híbrido: uma Inovação Disruptiva? — Uma introdução à


teoria dos híbridos, do Clayton Christensen Institute, organização
internacional dedicada ao estudo de inovações disruptivas, os autores
trazem a seguinte definição: “O ensino híbrido é um programa de educação
formal no qual um aluno aprende, pelo menos em parte, por meio do ensino
on-line. O estudante tem algum controle sobre pelo menos um
dos seguintes elementos: tempo, lugar, modo e/ou ritmo do estudo. A
educação ocorre pelo menos em parte em uma espaço físico
supervisionado”.
Os especialistas dividem os tipos de ensino híbrido em quatro grandes
modelos: de rotação, flex, à la carte e virtual aprimorado.

O primeiro modelo, de rotação, é aquele que, dentro de um curso ou


disciplina (ex: matemática), os alunos se revezam entre atividades pré-
determinadas, sendo uma delas necessariamente virtual. Esse modelo
apresenta quatro subtipos: rotação por estações, laboratório rotacional,
sala de aula invertida e rotação individual.
Na rotação por estações, diferentes atividades são propostas durante uma
aula. A turma é dividida em subgrupos, que se revezam nas tarefas.
No laboratório rotacional, o rodízio ocorre entre a sala de aula e um
laboratório de informática. Duas das experiências que visitamos e que
serão detalhadas a seguir praticam esses dois modelos. A sala de aula
invertida é aquele modelo em que o aluno tem o primeiro contato com o
conteúdo virtualmente, fora da escola, e depois discute e tira dúvidas em
aula. Já no modelo de rotação individual, cada aluno tem um roteiro
individualizado e não participa necessariamente de todas as estações ou
modalidades disponíveis.
O segundo modelo é o flex. Nele, certas disciplinas e cursos têm o ensino
on-line como sua espinha dorsal, mas os estudantes comparecem
diariamente à escola ou universidade, com uma agenda flexível a ser
cumprida, de acordo com os objetivos previamente estipulados. Aqui há um
alto grau de personalização, uma vez que estudantes têm roteiro individual
de aprendizagem e não são agrupados por séries. A arquitetura da sala de
aula é bem flexível.
O terceiro é o à la carte. Nesse modelo, os alunos fazem cursos inteiros de
maneira virtual. Têm um tutor on-line e, ao mesmo tempo, continuam a ter
experiências educacionais em escolas tradicionais. Os alunos podem
participar das aulas on-line tanto no campus físico como em outros lugares.
Esse modelo pode ser aplicado, por exemplo, em uma disciplina avançada
de língua estrangeira, em que o professor esteja disponível apenas
virtualmente.
Já o quarto é o virtual aprimorado. Trata-se de um modelo que ocorre
basicamente on-line, em que encontros presenciais para acompanhamento
ocorrem de maneira agendada entre tutores e alunos. Nele raramente
alunos e professores se encontrarão todos os dias da semana.
Veja, a seguir, iniciativas que personalizam o ensino com os elementos
acima apresentados.

Qualquer mesmo. Por lá, tutores e educandos gostam de dizer que o


aprendizado pode acontecer em qualquer espaço, e não apenas nas salas
de aula -- que, por sinal, também não são nada comuns. Elas não têm
carteiras enfileiradas e um professor na frente, ditando o que cada um
precisa aprender. São salões com mesas que se juntam ou se separam,
conforme o jeito que cada um escolheu estudar naquele dia, se sozinho,
em dupla ou em grupo. Tutores ficam disponíveis para ajudar a sanar
dúvidas.

As atividades são definidas por cada aluno com seu tutor e anotadas
em roteiros de estudo individuais, uma das ferramentas pedagógicas que
o Âncora usa para estimular a autonomia e o autoconhecimento dos alunos.
Funciona assim: os alunos descobrem interesses específicos, procuram
seus tutores e, juntos, constroem uma tabela com objetivos de
aprendizagem para um determinado período. Nesse percurso, os alunos
estudam conteúdos das mais diversas disciplinas. Se as crianças se
interessarem em conhecer assuntos mais profundamente, os tutores estão
ali para ajudar. No fim, os alunos têm que desenvolver um projeto a partir
do assunto pelo qual se interessaram.
Naquele dia, por causa da chuva, a maior parte dos alunos estava
estudando nos salões. Mas Ana Carolina Sá, 10, não. Ela estava sob a lona
do circo, com sua tabela periódica e notebook em mãos, estudando como
construir um laboratório de química na escola. Uma prima mais velha havia
mostrado para ela um material da disciplina, ela se interessou e pediu para
a tutora incluir química em seu roteiro. "Eu agora estou pesquisando como
montar um laboratório, que equipamentos eu preciso, essas coisas. Para
isso, eu preciso estudar sobre química. Assim, eu consigo ensinar os
outros. Como é que eu vou ensinar, se eu mesma não souber?", pergunta a
menina.

Espera aí. Química, Carol? Mas você só tem 10 anos. "Se eu estivesse em
outra escola, eu ainda não ia [estar estudando química] porque eu ainda ia
estar no quinto ano. Ainda ia ter que estudar um monte de coisas até
chegar em química. Mas já tô adiantada porque eu aprendo as coisas mais
rápido. Aqui, assim que eu termino de estudar um assunto, eu posso já
passar para outro e aí eu vou aprendendo mais."

PAPEL DO PROFESSOR

POR QUE

A postura do professor em uma aula híbrida e personalizada não é a


mesma que em uma aula tradicional. Aqui, quem deve estar no centro do
processo de ensino-aprendizagem é o aluno, não o professor, que deve
incentivar e propor atividades que valorizem as interações interpessoais.
Para tanto, alguns papéis enraizados na cultura escolar precisam ser
revistos. Outros papéis, por sua vez, precisam ser mantidos.

Veja, a seguir, o módulo sobre o novo papel do professor em sala de aula


do curso sobre ensino híbrido promovido pela Silicon Schools Fund e pelo
Instituto Clayton Christensen (ative legendas em português).
EXEMPLOS

Repensando o papel do professor e as mudanças essenciais que ele


experimenta:

1. De palestrante para facilitador. As palestras seguem ocorrendo nessa


nova proposta, mas estão presentes principalmente nos momentos em que
o professor precisa orientar pequenos grupos sobre os conceitos ou
atividades a serem realizadas. Nos demais momentos, o papel do professor
é facilitar a realização das tarefas dos grupos, incentivando o protagonismo
e a divisão de tarefas dos estudantes nos grupos. Em alguns momentos, o
professor pode sanar dúvidas dos alunos, porém aconselha-se que isso
seja feito após deixar as interações entre os grupos ocorrerem.

2. De agrupamentos fixos para agrupamentos dinâmicos de estudantes. Ao


organizar a turma, o professor deve evitar os agrupamentos apenas por
habilidades, mas possibilitar que os alunos sintam-se à vontade para
transitar entre os grupos. Os grupos são organizados a partir de objetivos
de aprendizagem específicos e os estudantes podem migrar de um grupo
para outro. Uma forma de organizar os grupos ocorre a partir dos dados
sobre os estudantes que já foram levantados. O professor pode fazer uma
tarefa coletiva e, de acordo com as respostas, os estudantes apresentam
os conceitos em que têm mais dúvidas e migrarão para o grupo que
precisam ir para aprimorar esses conceitos. A análise de dados possibilita
essa personalização.

3. De explicação para intervenção. Enquanto os alunos trabalham nos


grupos, o professor pode intervir com mais facilidade, dando uma atenção
individualizada.

4. De foco em conteúdo para foco em conteúdos, habilidades e postura


acadêmica. O professor pode analisar em seu programa quais são os
conteúdos que os estudantes necessitam, a postura para serem bons
aprendizes e as habilidades necessárias para terem sucesso.

5. De generalista para especialista. Fazer um rodízio entre professores


para que cada professor possa ensinar aquilo com que mais se identifica.
“Durante o desafio perceber que é totalmente possível deixar de ser orador
e passar a ser um professor com postura de facilitador…”

CARLA FERNANDA PIRES, professora de ciências

DESAFIO

Após refletir sobre as mudanças essenciais do papel do professor, o


educador deve escolher uma delas e procurar desenvolvê-la em sala.

PASSO A PASSO

1. Escolher uma das cinco mudanças descritas acima, de preferência


aquela que represente um desafio maior, e procurar implementá-la em uma
aula no modelo híbrido;

2. Garantir que, durante a elaboração e realização da aula, o foco de sua


análise esteja na mudança escolhida, mesmo que nesse processo outras
mudanças se evidenciem;

3. Dar um depoimento, em um vídeo de até 3 minutos, sobre essa aula.


Responder a questões como: como foi sua aula (breve descrição)? Qual
mudança de papel você exercitou? O que funcionou? O que não funcionou?
Qual foi o maior desafio?

4. Compartilhar o link de seu vídeo para que outros professores possam


aprender com sua experiência.
Veja vídeo em que um educador compartilha a sua experiência.
SUGESTÕES

- Procurar interagir com professores da escola, sugerindo ou ampliando


discussões sobre essas questões: o que o professor deve deixar para trás
em um modelo de ensino híbrido e personalizado? O que ele deve manter?

- Organizar grupos de estudantes de acordo com as habilidades de cada


um e dividir os papéis deles no grupo. Para isso, verificar com os alunos
qual o trabalho a ser realizado no grupo e qual a atuação de cada um para
alcançar o objetivo final;

- Selecionar um dos grupos em cada aula e trabalhar de forma mais


próxima com esse grupo, atuando como facilitador e intervindo para
esclarecer as eventuais dificuldades desses estudantes.

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