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IV Congresso Internacional –Novas abordagens

em Saúde Mental Infanto-Juvenil

Desigualdades e violências
na infância com sofrimento
psíquico

Dra. Alejandra Barcala


Universidad Nacional de Lanús (UNLa)
“Los astros sobre Villa Cartón”, 1962
© Fundação Antonio Berni.
Desigualdades e sofrimento na infancia e
Adolescência na América Latina

• Desigualdade social

• Diferentes tipos de violência


contra crianças e adolescentes

• Submetidos a repetidos traumas


sociais que têm impacto sobre o
psiquismo.

Novos modos de manifestação do


sofrimento psíquico.
Crianças e adolescentes com sofrimento psíquico e em situação de vulnerabilidade social

 Os determinantes sociais da vida Grande disparidade entre os


quotidiana afetam a subjetividade meninos e as meninas que sofrem e
das crianças e dos adolescentes. os serviços apropriados de cuidados
da saúde.
 Aumento das consultas de crianças e
adolescentes em situação social Ausência de serviços de saúde para
vulnerável.
atendimento psicossocial
Impossibilidade de simbolizar e (encaminhamentos institucionais e
fragmentação organizacional).
elaborar o sofrimento.
Violências institucionais - o sofrimento em crianças e
adolescentes

Vulnerações dos Direitos das crianças


em contextos de desigualdade e
sofrimento psíquico

 Patologização: Diagnósticos,
estigmas e medicação

 Institucionalização psiquiátrica:
Internação e medidas coercitivas.

Xul Solar
Matrizes capitalistas, coloniais, patriarcais e
autocêntricas

Condições que tornam a vida precária


Gestão sócio-política do sofrimento
Práticas de segregação nas suas diferentes formas
Projeto de investigação: Violência institucional na
hospitalização em saúde mental em Buenos Aires
(2017-2022)

Identificar as formas de violência


institucional implementadas no
âmbito do internamento de
crianças e adolescentes por
motivos de saúde mental em
instituições psiquiátricas e serviços
de saúde
Avaliar o grau de cumprimento dos
direitos das crianças nos serviços
de saúde mental de acordo com as
normas internacionais.
Violência institucional na hospitalização em saúde
mental em Buenos Aires, Argentina

Infâncias ( institucionalizadas,
invisibilizadas são alvo de várias
medidas coercitivas, as quais são
parte dos tratamentos desumanos,
cruéis e degradantes

Esses procedimentos são amplamente


utilizados em internações

Deixam marcas importantes na


constituição subjetiva e na construção
da sua identidade.
 Diagnósticos e Estigma.
Patologização do sofrimento

.
• As manifestações dos sofrimentos são
interpretadas desde a psicopatologia.

• Saberes legitimados por manuais de


diagnóstico americanos (DSM IV y 5).
Suposta neutralidade do saber.

• A estrutura de poder da autoridade


médica e os discursos psi instalam-se
com violência sobre os corpos.

• Valor performativo dos diagnósticos Xul Solar

que não considera algumas condições


reais de existência.
Discursos institucionais. Marcas da subjetividade

• Lógicas que patologizam os mal-estares e a


diferença.

• La
• Comportamentos de evitamento e exclusão.

• Os discursos dos agentes institucionais


produzem formas particulares de práticas e
modos de subjetivação.

• Identidades desacreditadas. Identidades


precárias. Estigmatizadas. Visão deficiente
vs. aposta geradora que cria realidades.
 Institucionalização

 Coletivos de crianças com vulnerabilidade


social cujo destino é a institucionalização
psiquiátrica.

 Eliminação da vida social. Inclusão em um


lugar de relegação social.

I nfâncias invisibilizadas como sujeitos


epistémicos geradores de conhecimento e
de narrativas próprias.

 Diminuição na crença nas suas próprias


potencialidades

Cidadanias de baixa intensidade


Institucionalização - Medidas coercitivas

 Aumento progressivo das internações.

 As Violências nas instituições é seis vezes mais


frequente do que a Violência nos lares de
acogida (UNICEF, 2014, Fundación Gulbenkian,
2014).

 Violências simbólicas, estruturais e diretas sobre


os corpos.

 Medidas coercitivas: Contenções físicas e


químicas, quartos de isolamento, e uso
excessivo e/ou indevido da medicação usados
Antonio Berni "La Pesadilla de los injustos" como punição.
Violências na internação por razões de saúde mental

 Restrição das visitas e da comunicação com os parentes.

 Extensão alongada das internações sem


acompanhamento, complementada

 Ausência de tratamento integral e adequado pelas


equipes médicas

 Desinserção escolar e desvinculação familiar e comunitária

 Ausência de atividades durante longos períodos do dia.


Isso facilita a emergência de situações e manifestações
que causam o incremento das contenções físicas e
químicas.

 Aumento do número de reinternações e/ou


transinstitucionalizações.
Violências na internação por razões de saúde
mental
Violências subjetivas como a discriminação de
gênero, as mudanças de quarto por causas relativas
à identidade sexual, a obrigação de compartilhar
espaços e atividades comuns com pessoas de outras
faixas etárias, entre outras práticas.

Agressões verbais e físicas dos profissionais e de


outros internados.

Desqualificação social sexogenérica, pessoas


inferiores, subalternizadas, racializadas.

Práticas tecnocráticas-objetificantes que diluem a


dimensão da subjetividade.
Vozes das crianças

Quais são as opiniões, experiências e vivências


das crianças e dos adolescentes que têm
sofrido institucionalizações no âmbito da saúde
mental?

 Quais são as marcas subjetivas que as


violências deixaram neles e que surgem dos
seus relatos?

 Naturalização das situações e ausência do


Estado. Impossibilidade de confiar seu
sofrimento. Alteridade função do outro.

Antonio Berni  Suspensão do jogo


As crianças residuais

• Essa alteridade -aquela das crianças


patologizada/diagnosticada- assume uma
condição que coloca às crianças em uma situação
de inferioridade e subordinação, segurada pelo
discurso institucional sanitário.

• Saber-poder médico-psiquiátrico-psicológico
contribui no seu próprio exercício à diferenciação
na que a alteridade é entendida em termos de
oposição-aviltação

• Etiquetagem, descritores omniabarcativos.

• Preconceito e estigma (identidades precárias,


desacreditadas, aviltadas). Crianças residuais,
supérfluas, dispensáveis ( Bauman, Judith Butler).

• Anulação das potências das vozes das crianças.

Juanito en la playa, Antonio Berni, 1973,


Desafios para repensar as práticas e consolidar
propostas desde uma perspectiva de direitos

Pensar a saúde mental a partir do paradigma


dos direitos constitui a subjetividade.

• Segregada que retroalimenta a desigualdade e as


violências.

• Superar o estigma e as desigualdades, e inverter o


destino de uma infância cujo futuro está
hipotecado desde a primeira infância.

• Gerar marcos simbólicos que permitam expressar


as vozes das crianças, simbolizar seus sofrimentos,
criar oportunidades para favorecer a construção
de um projeto que articule sonhos e um futuro.
Lições aprendidas

 Iniciativas de cuidados territoriais universais e


abrangentes para enfrentar a estigmatização, a
discriminação e a exclusão de que são vítimas as
crianças e os adolescentes.
 Um modelo de atenção comunitária em saúde
mental, integrado na Rede de Serviços de Saúde,
com ênfase no primeiro nível de atenção.
 Uma abordagem que transcenda o modelo
biomédico, recuperando o valor dos laços sociais e
das redes comunitárias como favorecedores da
integração, autonomia e qualidade de vida das
crianças e adolescentes.
Xul Solar, 1962
Atenção comunitaria integral à crianças e adolescentes
com sofrimento psíquico ou em situações complexas

 Como ficamos disponíveis ante os problemas


descritos? O afeto e a poética (Rita Segato)

 Gerar uma abordagem que vá além do clínico e o


terapéutico-institucional, recuperando o valor
das redes comunitárias como favorecedoras da
integração, a autonomia e a qualidade de vida das
crianças.

 Compromisso ético-político para propiciar a


inclusão das diversas y singulares vozes das
crianças, conseguindo visibilizar suas histórias,
suas trajetórias, seus desejos e pensamentos e
gerar condições para enunciar os fatos que
sofrem, e quebrando a representação da
periculosidade e a vitimização em função das
situações vividas.
Paradigma da Saúde Mental Comunitária
Critérios de boas práticas

 Centralização das crianças e adolescentes e do seu


contexto (e não centralização das doenças ou do
déficit)

 Escutar a uma criança vs. redução objetificante


 Escutar con enfoque de género e
Interculturalidade.

 Historicizar seus vínculos simbolizando os efeitos


traumático suturação e perda. Contextualizar suas
histórias.
Valoração intra-subjetiva no acompanhamento da vida
desde uma lógica de cuidados.

,
Paradigma da Saúde Mental Comunitária
Critérios de boas práticas

 Transformação das instituições e dos serviços


frente a uma perspectiva territorial.
Territorialização dos serviços.

Funcionamento e integração inter-setorial

Responsabilidades compartilhadas:
Entre os atores estatais, privados e as famílias
para garantir o acesso das crianças a seus direitos.
Co-responsabilidade nas estratégias.
Paradigma da Saúde Mental Comunitária
Critérios de boas práticas

Participação. Protagonismo
Consulta às crianças e adolescentes e que sua opinião seja
escutada para a tomada de decisões.
Acesso à informação.
Trabalho sobre a medicação.
Espaços grupais e espaços entre pares.

Apoio aos progenitores e/ ou à familia

 Capacitação aos profissionais

 Trabalho interdisiciplinar
Paradigma da Saúde Mental Comunitária
Critérios de boas práticas
 A Propiciar e facilitar o diálogo através de
diferentes linguagens, estéticas e
manifestações culturais. Pontes de
diálogo.
 Compreender e valorizar a diversidade.
Reconhecimento e aceitação das
diferenças.

Historia de Juanito Laguna, Antonio Berni


 Ativação de políticas sociais integradas.

Transformar as práticas e criar oportunidades Integração e Interdependência


para favorecer a construção de um projeto que dos direitos
articule sonhos e um futuro; demonstrar que
não são uma utopia, senão possíveis as
propostas inovadoras que fortalecem a
capacidade de agência das crianças em um
mundo onde caibam todas e todos.
Desafios para repensar as práticas e consolidar
propostas desde uma perspectiva de direitos

Pensar a saúde mental a partir do paradigma


dos direitos constitui a subjetividade.

• Segregação que retroalimenta a desigualdade e as


violências.

• Superar o estigma e as desigualdades, e inverter o


destino de uma infância cujo futuro está
hipotecado desde a primeira infância.

• Gerar marcos simbólicos que permitam expressar


as vozes das crianças, simbolizar seus sofrimentos,
criar oportunidades para favorecer a construção
de um projeto que articule sonhos e um futuro.
Determinantes sociais que produzem sofrimento durante a pandemia
Fatores de proteção a Saúde Mental

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