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Mestrado em Educação e Intervenção Social

Especialização em Desenvolvimento Comunitário e


Educação de Adultos
UC: Educação Social e Desenvolvimento Comunitário

O sistema de proteção das crianças e jovens em perigo


Escola Superior de Educação do Instituto
Politécnico do Porto
Paulo Delgado
2021
SISTEMA DE PROTEÇÃO

Lei de Protecção Lei Tutelar Educativa


Lei nº 147/99 de 1 de Setembro Lei nº 166/99 de 14 de Setembro

Crianças/jovens em Prática de facto qualificado


perigo até aos 18 anos e como crime por jovem
menores de 12 anos com idade entre os 12 e os
que praticam facto 16 anos
qualificado como crime
Como são afetadas as crianças e jovens pela violência
doméstica?

• Emocionalmente
• Cognitivamente
• Moralmente
• Biologicamente
• Socialmente
• Em geral.
Maus Tratos Infantis

❑“Todo o acto de omissão ou acção por parte de um


progenitor ou tutor que, por uma combinação de valores
da comunidade e de apreciações de peritos profissionais,
se considera inapropriado e lesivo.”
(Garbarino & Eckenrode, 1999, p.22)

❑ “qualquer forma de tratamento físico e (ou) emocional,


não acidental e inadequado, resultante de disfunções e
(ou) carências nas relações entre crianças ou jovens e
pessoas mais velhas, num contexto de uma relação de
responsabilidade, confiança e (ou) poder.”
(Magalhães, 2002, p. 33)

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Tipologia dos maus tratos infantis
❑Existem diversas classificações das várias formas de maus tratos.

❑A tipologia seguinte resulta da consideração de diferentes


perspetivas apresentadas por vários autores.

Síndrome de
Maus tratos
Negligência Corrupção Munchaüsen Abuso sexual
físicos
por procuração

Mau trato e
Abuso Exploração no
Abandono Mendicidade negligência
emocional trabalho
intra-uterina

(Palacios, Jiménez, Oliva & Saldaña , 1998; Gallardo, 1994; Moreno, 2002; Ángel
Moreno, 1996; Arruabarrena, 2001; Magalhães, 2002 cit. por Delgado, 2006)

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Negligência
Definição: Tipos: Indicadores:

Descuido ou omissão Higiene, alimentação, Falta de higiene, fome,


voluntária ou protecção, educação, desnutrição, atraso no
involuntária da saúde, afecto crescimento, vestuário
satisfação das desadequado, carências
necessidade físicas ou ao nível dos cuidados
psico-afectivas de que médicos, períodos
depende o prolongados sem
desenvolvimento supervisão de adultos,
acidentes domésticos,
abandono e absentismo
escolar, etc.
Maus tratos físicos
Definição: Tipos: Indicadores:

Acção intencional que Lesões físicas, Feridas, equimoses,


provoque ou possa doenças, sufocação, cicatrizes,
provocar um dano intoxicação queimaduras,
físico ou uma fracturas, torceduras,
enfermidade deslocações, sinais de
mordeduras humanas,
cortes, lesões internas,
asfixia
Abuso sexual
Definição: Tipos: Indicadores:

Contacto sexual Realização de coito, Dificuldade para andar e


realizado por um adulto outros abusos sexuais sentar, dor e/ou
desde uma posição de com e sem contacto contusões na zona
poder ou de autoridade físico, prostituição, genital, doenças
para realizar actos pornografia, incesto venéreas, gravidez
sexuais ou para obter
estimulação sexual que a
criança ou jovem não
pode compreender e/ou
para as quais não está
preparado
Abuso emocional
Definição: Tipos: Indicadores:

Processo de desvalorização ou Mau trato A relação familiar é caracterizada


de desinteresse que se emocional (recusar, da seguinte forma: insultos,
manifesta por meio de uma aterrorizar ou ameaças, críticas persistentes,
hostilidade verbal crónica ou isolar) ou abandono ridicularização e/ou humilhação,
por uma omissão persistente frieza afetiva, desinteresse,
de resposta às iniciativas de ausência de cuidado e amor,
contacto e de interacção da isolamento, ausência de normas,
criança ou jovem, excesso de disciplina, pelo
comprometendo o envolvimento em situações de
desenvolvimento da sua violência doméstica ou pelo
estrutura afectivo-emocional. estabelecimento de metas
impossíveis de alcançar para a
criança ou jovem
Exploração no trabalho
Definição: Tipos: Indicadores:

Realização de trabalho Trabalho doméstico ou Participação em


obrigatório, que deveria trabalho não-doméstico; atividades laborais;
ser realizado por adultos trabalho assalariado; absentismo e abandono
e que prejudica as trabalho à peça ou à escolar; a não
atividades sociais e as tarefa; trabalho contínuo participação em outras
necessidades da criança ou trabalho sazonal atividades próprias da
(nomeadamente as idade
escolares) tendo como
objetivo obter um
benefício económico
Corrupção
Definição: Tipos: Indicadores:

Promoção de condutas Facilitar e reforçar a Roubo ou agressão;


anti sociais ou conduta desadaptada, tráfico ou consumo de
desviadas impedindo a normal drogas; prática de
nomeadamente na integração da criança; outras actividades
área da utilizar a criança para delictivas
agressividades, praticar condutas
sexualidade, tráfico ou delictivas
consumo de drogas
Síndrome de Munchaüsen por procuração
Definição: Tipos: Indicadores:

Inventar doenças para Invenção de sintomas Reiterados períodos


submeter a criança a ou patologias; de hospitalização ou
contínuos tratamentos administração de tratamentos médicos
médicos ou períodos substâncias para que não produzem
de hospitalização que provocar os sintomas diagnósticos precisos;
não necessitam os sintomas
desaparecem quando a
criança não está em
contacto com a sua
família
Abandono
Definição: Tipos: Indicadores:

Incumprimento total e Abandono de recém Crianças abandonadas


deliberado das nascidos ou de crianças em hospitais,
obrigações parentais em mais crescidas, maternidades, em outras
relação à criança abandono definitivo ou instituições ou em
abandonada por períodos de tempo espaços públicos
(entradas de prédios, por
exemplo); crianças
fechadas em casa;
crianças deixadas na rua
sem qualquer
acompanhamento ou
controlo
Mendicidade
Definição: Tipos: Indicadores:

A criança é utilizada A criança exerce a A criança pede


na prática da mendicidade por sua esmola, sozinha ou
mendicidade iniciativa; os adultos acompanhada
utilizam a criança para
mendigar
Mau trato e Negligência intra-uterina
Definição: Tipos: Indicadores:

Características e Consumo de drogas Síndrome alcoólico


modos de vida da ou de alcoól, dieta fetal, síndrome de
mulher grávida, inapropriada ou abstinência no recém-
intencionais ou escassez de alimentos, nascido ou de
involuntários que, consumo de dependência física de
sendo evitáveis, medicamentos drogas, lesões
prejudicam o cerebrais, atraso no
desenvolvimento do desenvolvimento
feto motor e cognitivo
Maus Tratos Infantis
Relação entre risco e perigo e maus tratos:
❑Conceito de maus tratos relaciona-se com os conceitos
de risco e perigo, uma vez que estes últimos nos
remetem para a presença do primeiro.
(Delgado, 2006)

❑“As situações de maus tratos infantis constituem a


consumação do conflito entre as necessidades da criança
e a sua satisfação pelos adultos responsáveis. Estes actos
ou omissões implicam consequências negativas para o
desenvolvimentos físico e psíquico da criança. Em função
da gravidade que assumem, os maus-tratos podem
constituir para a criança situações de risco, de perigo ou
de urgência.”
(Alves, 2007, p. 61) 16
As medidas de promoção e de protecção

• As medidas de promoção e de protecção de crianças


e jovens têm por finalidade criar os mecanismos de
intervenção necessários para assegurar o
desenvolvimento integral das crianças e dos jovens
em perigo, sempre que o seu bem-estar está
comprometido ou ameaçado.
Medidas de proteção

Medidas no meio natural de vida:


• Apoio junto dos pais
• Apoio junto de outro familiar
• Confiança a pessoa idónea
• Apoio para a autonomia de vida

Medidas de colocação:
• Acolhimento familiar
• Acolhimento residencial
• Confiança a pessoa selecionada para adoção, a família
de acolhimento ou a instituição com vista à adoção

Delgado, 2020
Risco e Perigo
Probabilidade de Conceito mais
ocorrência de uma amplo e
situação de perigo, abrangente que
que produz dano ou implica um
exclusão. perigo potencial.
(Oliveira & Delgado, 2016)
(Comissão de Promoção dos direitos e
“Risco: eminência de da Proteção de Crianças e Jovens,
2016)
perigo efetivo.

Perigo: ameaça à
existência de alguém.”
(Alves, 2007)

Situação em que se concretizou o risco, na ausência de fatores


compensatórios ou de proteção, pondo em causa os direitos e o
bem estar de uma ou várias pessoas.
(Oliveira & Delgado, 2016)

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Risco e Perigo

Ameaça à
existência de
alguém.

Risco Perigo Urgência

Eminência Perigo atual


de ou eminente
perigo para a vida ou
efetivo. integridade
física.

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A situação de perigo
Pode resultar da acção ou omissão:
• Dos pais;
• Do representante legal;
• De quem detenha a guarda de facto;
Se as pessoas referidas nas alíneas anteriores forem
incapazes de actuar de modo a impedi-lo, o perigo
pode ainda resultar da acção ou omissão:
• De terceiros;
• Do próprio menor.
Concepção ampla da situação de perigo
• Abandono
• Os maus tratos físicos
• Os maus tratos psíquicos
• Abuso sexual
• A negligência
• Qualquer forma de exploração ou de trabalho infantil
• Comportamentos ou actividades do próprio menor, se
revelarem a necessidade de educação para o direito

• A descrição é meramente exemplificativa, pelo que às


situações acima referidas, se devem acrescentar todas as que
coloquem em risco o seu desenvolvimento, entendido no
sentido mais lato, uma vez que inclui a saúde, a segurança, a
formação, a educação, o equilíbrio emocional e até os
cuidados afectivos.
Finalidades da Intervenção
• Cessar a situação de perigo;
• Garantir as condições necessárias para o
desenvolvimento integral da criança ou do
jovem;
• Assegurar a recuperação dos menores que
tenham sido alvo de alguma forma de
exploração ou abuso.
Intervenção Sucessiva

MP

Família TRIBUNAIS

CPCJ

Entidades com competência em


matéria de infância e juventude
ESCOLA
PERIGO
Entidades responsáveis
• ENTIDADES COM COMPETÊNCIA EM
MATÉRIA DE INFÂNCIA E JUVENTUDE
• Condições:
• Consentimento dos pais, representantes legais
ou dos detentores da guarda de facto
• Capacidade para remover o perigo
• Não oposição do menor com idade igual ou
superior a 12 anos
Entidades responsáveis
• COMISSÕES DE PROTECÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS
• Condições:
• Incapacidade ou impossibilidade de actuação das
entidades com competência em matéria de infância e
juventude
• Consentimento dos pais, representantes legais ou dos
detentores da guarda de facto
• Não oposição do menor com idade igual ou superior a
12 anos
• Disponibilidade de meios necessários para aplicar ou
executar a medida
As Comissões de Protecção de Crianças e
Jovens no Sistema de Protecção
• instituições oficiais não judiciárias
• com autonomia funcional
• promover os direitos da criança e do jovem
• prevenir ou pôr termo a situações susceptíveis de afectar a sua
segurança, saúde, formação, educação ou desenvolvimento integral
• deliberando com imparcialidade e independência.
•executam as medidas que deliberam.
•colaboração das entidades administrativas e policiais/ singulares
e colectivas; ( ver 28º)
•Duas modalidades de funcionamento: alargada/ restrita
Entidades responsáveis
• TRIBUNAIS
• Condições:
• Inexistência de Comissão de Protecção de Crianças e
Jovens com competência territorial
• Incapacidade de actuação da Comissão de Protecção
de Crianças e jovens competente
• Não obtenção ou retirada do consentimento dos
pais, representantes legais ou dos detentores da
guarda de facto
Tribunais (cont.)
• Incumprimento reiterado do acordo de promoção
celebrado com a Comissão de protecção de Crianças e
Jovens
• Oposição do menor com idade igual ou superior a 12
anos
• Atraso da Comissão da Protecção de Crianças e Jovens
na tomada de decisão (6 meses após o conhecimento
da situação)
• Desacordo do Ministério Público quanto à legalidade
ou adequação da decisão proferida pela Comissão de
Protecção de crianças e Jovens
• Apensação do processo da Comissão de Protecção ao
processo judicial
Avaliação da atividade das CPCJ
Relatório Anual 2020
• https://www.cnpdpcj.gov.pt/relatorio-atividades
- PPP em 2020 p.40
- Categorias de perigo comunicadas p.41
- Comunicações nos últimos 5 anos p.42
- Entidades comunicantes p.45
- Categorias de perigo diagnosticadas p.47
- Medidas aplicadas p.54
- Evolução das medidas de colocação p.55
- Crianças e jovens com deficiência ou
incapacidade p.74
Sinalização
• Acto de dar conhecimento de uma situação ou de
uma suspeita de maus tratos mediante denúncia
• A denúncia é obrigatória para os funcionários
públicos, ainda que os agentes do crime não sejam
conhecidos, quanto a crimes de que tomaram
conhecimento no exercício das sua funções e por
causa delas (art. 242º CPP).
Sinalização
• Qualquer pessoa que tenha conhecimento das
situações de perigo pode comunicá-las às
entidades responsáveis

• A comunicação é obrigatória para qualquer


pessoa que tenha conhecimento de situações
que ponham em risco a vida, a integridade
física ou psíquica ou a liberdade da criança ou
do jovem.
Formulário de comunicação de
situações de perigo
• https://www.cnpdpcj.gov.pt/comunicar-situacao-de-
perigo

• Identificação da criança (incluindo a escola ou


infantário)
• Morada
• Detalhes sobre a suspeita ou incidente (quando e
onde, quem, nome do alegado abusados, descrição
de alguma lesão)
• Comunicação anónima ou com identificação
Referências

• Arruabarrena, M. (1996). Evaluación y tratamento familiar. In Paúl, J. e Arruabarrena, M.


(Eds.), Manual de Protección Infantil (pp. 283-326). Barcelona: Masson.
• Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e da Proteção de Crianças e Jovens (2016).
Avaliação da atividade das Comissões de Proteção das Crianças e Jovens. Lisboa: Comissão
Nacional de Promoção dos Direitos e da Proteção de Crianças e Jovens.
• Gallardo, J. (1994). Maus Tratos à Criança. Porto: Porto Editora.
• Garbarino, J. & Eckenrode, J. (1999). El significado del maltrato. In J. Garbarino & J.
Eckenrode, Porque las famílias abusan de sus hijos (pp. 15-44). Barcelona: Granica.
• Magalhães, T. (2002). Maus tratos em crianças e jovens. Coimbra: Quarteto.
• Moreno, A. (1996). Psicología del Desarrollo, del Desamparo y de la Inadaptación. In
González, E. (Coord.), Menores en Desamparo y Conflicto Social (pp. 85-134). Madrid:
Editorial CCS.
• Oliveira, J. & Delgado, P. (2016). Ócio digital: riscos e desafios para uma geração
permanentemente conectada. In XI edição de OcioGune 2016. Foro Internacional de
Investigación, Pensamiento y Reflexión en torno al Ocio (aguarda publicação).
• Palacios, J., Jiménez, J., Oliva, A. & Saldaña, D. (1998). Malos tratos a los niños en la familia.
In Rodrigo, J. & Palacios, J. (coord.), Familia y desarrollo humano (pp. 399-422). Madrid:
Alianza Editorial.

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