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15/05/2021

Módulo 12.1.4
Negligência

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Definição
› Negligência e abandono
– Não satisfação de necessidades básicas, de conforto, higiene,
alimentação, afecto, educação e saúde;
– Regra geral, é continuada no tempo;
– Manifesta-se de forma activa (quando existe intenção) ou passiva
(quando resulta de incompetência ou incapacidade dos
cuidadores);
– Não implica necessariamente défice de cuidados a nível afectivo.

› Tipo de maus-tratos, previsto na lei portuguesa.

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Sub-tipos de negligência
› Físico
– Abandono;
– Expulsão;
– Deixar os filhos aos cuidados de terceiros com frequência e durante
longos períodos de tempo;
– Alimentação insuficiente ou desadequada;
– Indumentária;
– Higiene pobre.

› Médico/Clínico
– Negar/ignorar/atrasar o acesso aos cuidados de saúde necessários.

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Sub-tipos de negligência
› Supervisional
– Descuido;
– Ignorar;
– Exposição ao perigo (ex.: cabos eléctricos, drogas, armas, facas);
– Deixar a criança com terceiros incapazes;
– Permitir (ou não proibir) determinados comportamentos (ex.: consumir
drogas, roubar);
– Deixar os filhos (muito novos) em casa sozinhos.
› Emocional/psicológico
– Não dar afecto, atenção, apoio;
– Expor à violência;
– Isolar a criança (privar do contacto com outras pessoas).
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Sub-tipos de negligência
› Educacional

– Permitir o absentismo;

– Desinteresse das obrigações (ex.: reuniões de pais; não-resposta a


contactos por parte da comunidade escolar);

– Não inscrever no ensino obrigatório;

– Desatenção às necessidades educativas especiais.

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Factores compreensivos relacionados com o cuidador


› Antecedentes pessoais
› Personalidade
› Funcionamento psico-emocional
› Expectativas sobre a criança
› Capacidade de cuidar e apoiar o desenvolvimento da criança
› Estratégias de educação adoptadas pelos ascendentes do próprio
› Falta de suporte social
› Incapacidade de pedir e de receber ajuda
› Défice de competências de coping e de resolução de problemas
› Falta de suporte conjugal no desempenho da parentalidade

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Factores compreensivos relacionados com a criança

› Prematuridade

› Vinculação pobre com o cuidador

› Condição médica

› Qualidade dos cuidados médicos com crianças prematuras

› Necessidades especiais específicas da criança (físicas e/ou mentais)

› Criança “difícil” (temperamento)

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Factores compreensivos relacionados com o contexto

› Pobreza/exclusão social

› Eventos de vida significativos

› Padrões de interação entre a criança e o cuidador

› Conflitos de papéis do cuidador

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Negligência e violência doméstica


› Casos de negligência são muito mais comuns em agregados familiares
com violência doméstica;

– Falta de disponibilidade psico-emocional/física para cuidar dos filhos;

– Além de que os filhos expostos a violência doméstica podem


desenvolver traumas, ansiedade, isolamento, depressão, problemas
de comportamento, agressividade, hiperactividade,
psicossomatização, enurese nocturna, problemas escolares, bullying,
etc.

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Consequências
› O impacto da negligência é diferente consoante as circunstâncias e a
vítima;
› Impacto nas seguintes áreas:
– Saúde e desenvolvimento;
– Cognição e desenvolvimento intelectual;
– Desenvolvimento psico-emocional;
– Comportamento e socialização.

› Estas áreas estão interligadas e influenciam-se mutuamente.

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Consequências
› Este tipo de maus-tratos pode constituir-se como uma experiência
traumática para as crianças e jovens;

› O trauma produz efeitos significativos a nível psicológico e pode


condicionar o normal desenvolvimento da pessoa.

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Impacto
› Depende das seguintes variáveis:
– Idade da criança;
– Presença e força dos factores de protecção;
– Frequência, duração e gravidade da negligência;
– Relação entre a criança e o cuidador.
› Leve, moderado ou grave.

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Factores de risco
› Contextuais: pobreza, exclusão social; zona residencial perigosa e
com poucos serviços e estruturas de apoio;
› Fraco suporte social/familiar/comunitário/serviços (emocional,
prático, decisões e resolução de problemas, companheirismo e
apoio);
› Familiares: problemas conjugais, violência doméstica,
monoparentalidade, desemprego, problemas financeiros, fraca
coesão e comunicação entre os membros, menor envolvimento com
os filhos;

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Factores de risco

› Parentais: infância problemática dos cuidadores, abuso de


substâncias psicoactivas, problemas físicos e/ou mentais; fracas
competências parentais e de resolução de problemas, desinteresse,
comportamentos criminais, idade, baixa escolaridade;
› Criança/jovem: tenra idade (exigem mais atenção e cuidados);
temperamento e comportamento (internalização), problemas físicos
e/ou mentais; prematuridade, pertencer a um gangue.

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Factores de risco

› Os factores interagem entre si;

› Um ou dois factores de risco podem não ter grande impacto;


enquanto três ou mais, já poderão ter; é cumulativo = mais factores
de risco + probabilidade de desenvolver problemas.

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Factores de protecção
› Criança/jovem: ser saudável, desenvolvimento normativo, inteligência
acima da média, ter hobbies e interesses, humor sintónico, auto-estima
positiva, boa relação com os pares, temperamento “fácil”, bons
mecanismos de coping, boas competências sociais, locus de controlo
interno, autonomia;

› A nivel da prevenção e intervenção, promover a resiliência e reforçar os


factores de protecção, tem sido uma estratégia cada vez mais adoptada;
porém, é importante planear a intervenção da forma mais completa
possível:
– Factores de risco e de protecção = alvos de intervenção
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Avaliação
› Apurar a credibilidade das queixas (investigação);
– Recolha de informação: família/cuidadores + alegada(s) vítima(s) +
fontes colaterais;
– Estabelecer a frequência, gravidade, duração, idade da vítima e sub-
tipo de negligência.
› Avaliação de risco inicial;
› Estabelecido o nível de risco procede-se à tomada de decisão;
› Agir em conformidade com o risco;
› Planear a intervenção;
– Encaminhar para a estruturas de apoio;
– Delinear cronograma.

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Maus-tratos
› Os maus-tratos exercidos contra as crianças e jovens consistem em actos
deliberados, por omissão ou negligência, que atentam contra a sua
dignidade física, psicológica ou emocional;

› Podem ser cometidos por pessoas, instituições ou sociedades e privam as


crianças e jovens dos seus direitos básicos;

› Os maus-tratos infantis são comummente recorrentes e progressivos;

› As estatísticas mostram que a grande maioria dos maus-tratos ocorre


dentro do seio familiar.

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Prevenção e Intervenção

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Intervenção
› Consoante o nível de risco:
– Elevado: retirada e/ou afastamento da criança/jovem do
contexto/pessoa(s) onde/com quem ocorreram os comportamentos
negligentes;
– Médio: ponderar a retirada ou afastamento; intervenção sobre os
factores de risco e de protecção existentes;
– Baixo: intervenção sobre os factores de risco e de protecção
existentes.

› ATENÇÃO: o risco é flutuante e deve ser avaliado ao longo do processo


(factores de risco estáticos e dinâmicos) antes da tomada de decisão.

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Modelo ecológico
› Intervenção individual, familiar, social e contextual

1.Foco nos pontos fortes e nos factores de protecção, assim como nas
necessidades da criança, família e comunidade;

2.Foco na criança/jovem (minimizar danos, promover o bem-estar físico e


psicológico);

3.Foco na história desenvolvimental daquela criança e daquela família,


naquela comunidade e avaliar as necessidades específicas de cada
caso, ao longo do tempo;

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Modelo ecológico

› Intervenção individual, familiar, social e contextual

4.Promover as respostas a nível comunitário e encaminhamento para as


estruturas de apoio (criar pontes);

5.Tentar manter a criança do seu lar e na sua comunidade sempre que


possível (promover a segurança, sentimento de pertença e com laços
afectivos permanentes);

6.Respeitar e integrar os factores culturais.

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Intervenção individual
› Mitigar impacto psicológico (intervir sobre a sintomatologia depressiva e
ansiosa / trauma)
› Promover a resiliência;
› Adaptação à mudança;
› Promover as competências sociais, resolução de problemas e de gestão
emocional;
› Promover a auto-estima.

› Encaminhamento para outras valências, se necessário (ex.: pediatria,


pedopsiquiatria, terapia da fala, terapia ocupacional)

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Intervenção individual
› É extremamente importante estabelecer uma relação de confiança e de
segurança com a criança ou jovem;
– Vai ter de revisitar as memórias dos eventos que causaram sofrimento,
abordar os pensamentos intrusivos, construir novos significados e
desenvolver novas competências.

› A psicoterapia é eficaz neste âmbito, combinada com estratégias que


abordam o impacto psicofisiológico do trauma;
› Terapias criativas (arte) e terapias expressivas também são aconselhadas.

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Intervenção familiar
› Psicoeducação;
› Competências parentais (aquisição e treino de competências);
› Competências sociais, de resolução de problemas, de literacia emocional e de
gestão das emoções e auto-controlo;
› Encaminhar para estruturas de apoio (ex.: saúde, emprego, serviços sociais,
associações);
› Motivação para a mudança;
› Construção do plano de intervenção e cronograma em conjunto;
› Envolver todos os membros capazes do agregado;
› Supervisionar e avaliar ao longo do processo (alterar plano e estratégias se
necessário).

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Intervenção familiar
› Modelo cognitivo-comportamental:
– Instruções verbais (informação acerca das necessidades e dos
cuidados apropriados para as crianças);
– Treino de competências sociais (de interacção adequada com os
filhos);
– Gestão das emoções negativas/sress (ensinar estratégias de
relaxamento e mecanismos de coping mais adequados);
– Reestruturação cognitiva (substituir pensamentos negativos por
crenças e comportamentos que conduzem a um funcionamento
optimizado).

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Programas comunitários
› Desenvolvidos para a população em geral para prevenir a estigmatização
das famílias em risco:
– Prevenir a acumulação de factores de risco;
– Focar a resiliência e a adaptação;
– Promover o envolvimento activo dos pais, jovens e restante
comunidade;
– Assegurar o acesso aos serviços à população com maior risco;
– Providenciar avaliações especializadas em tempo útil para sinalizar,
intervir e prevenir novos comportamentos de risco;
– Realização de follow-up;
– Construir um ambiente seguro onde as famílias possam expor
questões, organizar ideias e construir planos de acção.

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Elementos-chave na intervenção
› Estabelecer uma boa relação com a família (envolvimento e
cooperação);
› Construir um plano de intervenção que cubra as necessidades da
família e da criança/jovem;
› Estabelecer objectivos de forma simples e clara (objectivos específicos,
mensuráveis, realistas e com cronograma);
› Focar os factores de risco e de protecção e utilizar o modelo ecológico
de intervenção;
› Monitorizar o progresso (recolher informação; documentar o progresso);
› Avaliação contínua.

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Referências recomendadas
› Chalk, R., Gibbons, A., & Scarupa, H. J. (2002). The multiple dimensions of
child abuse and neglect: New insights into an old problem [On-line].
Available: www.childtrends.org/files/ChildAbuseRB.pdf.
› DePanfilis, D. (2000b). What is inadequate supervision? In H. Dubowitz &
D. DePanfilis (Eds.), Handbook for child protection practice (pp. 134–136).
Thousand Oaks, CA: Sage.
› Erickson, M. F., & Egeland, B. (2002); Gaudin, J. M. (1993b). Effective
intervention with neglectful families. Criminal Justice and Behavior, 20(1),
66–89.
› Fraser, M. W. (1997), Risk and resilience in childhood: An ecological
perspective. Washington, DC: National Association of Social Workers
Press.

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Referências recomendadas
› Glaser, D. (2002). Emotional abuse and neglect (psychological maltreatment):
a conceptual framework. Child Abuse & Neglect, 26, 697–714.
› Holden, E. W., & Nabors, L. (1999). The prevention of neglect. In H. Dubowitz
(Ed.), Neglected children: Research, practice, and policy (pp. 174–190).
Thousand Oaks, CA: Sage.
› Wolfe, D. A. (1993). Prevention of child neglect: Emerging issues. Criminal
Justice and Behavior, 20(1), 90–111.
› Zuravin, S. J. (1991); English, D. (1999); Egeland, B. (1988). The
consequences of physical and emotional neglect on the development of
young children. Child Neglect Monograph: Proceedings from a Symposium
(pp. 7–19). Washington, DC: U.S. Department of Health and Human Services.

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