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12/05/2021

Módulo 12.1.5
Bullying

FÁTIMA QUADROS - fatimaquadros@gmail.com

Definição

› Atitudes e comportamentos agressivos intencionais continuados;

› Violência desenrolada geralmente em contexto escolar.

› Provocada por um indivíduo ou um grupo;

› De natureza física e/ou psicológica;

(Dreyer, 2004)

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Prevalência
› Estudo sobre a violência nas escolas portuguesas, realizado por Costa e
Vale, a pedido do Ministério da Educação:
– Amostra composta por 4925 alunos do 8º e 11º anos, de 142 escolas públicas;
– As agressões mais referidas foram: a agressão física e a agressão verbal;
– 29% dos alunos referiram que foram agredidos, 64% declararam que foram
empurrados, 68% afirmaram que foram insultados e 55% asseguraram que
foram ameaçados com gestos e palavras;
– Relativamente à agressão sexual, 20% dos alunos afirmaram ter sido vítimas
de situações de exibicionismo e 10% conheciam um colega que foi violado
fora da escola.

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A lei portuguesa
› Proposta de criminalização do bullying: Proposta de Lei n.º 46/XI/2.ª, de 2010,
inserida nos “Crimes contra a integridade física”;
– crime de violência escolar: “maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos
corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais, a membro de comunidade
escolar” a que pertençam;
– agressor punido com pena de um a cinco anos de prisão; aos menores de 12 a
16 aplicadas, em alternativa, medidas tutelares educativas;
– Caducou.
› Instrumentos jurídicos vigentes:
– Estatuto do Aluno e da Ética Escolar (Lei n.º 51/2012);
– Crime de ofensa à integridade física simples (artigo 143.º do Código Penal);
crime de injúria (artigo 181.º do Código Penal);
– 12-16 anos = medidas tutelares educativas; 16-21 anos = regime aplicável a
jovens delinquentes (Decreto-Lei n.º 401/82).
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Considerações importantes
› Os agressores manifestam desejo de intimidação e de domínio, aliado ao
abuso de poder;
– Ostentam comportamentos de perseguição e opressão repetida:
› Verbal: insultos, alcunhas, ameaças;
› Física: roubo, dano, agressão;
› Psicológica: humilhação, chantagem;
› Indirecta: exclusão social, rumores pejorativos;
› Ciberbullying: através das tecnologias de informação e
comunicação (internet ou telemóvel).

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Cyberbullying: manifestações
› Flaming – envio de mensagens insultuosas; para um grupo, ou para a própria
pessoa, através de e-mail ou outros meios;
› Assédio online – envio repetitivo de mensagens ofensivas, via e-mail ou através
de outros meios de envio de mensagens de texto;
› Dissimulação – fazer passar-se por uma outra pessoa e denegrir a sua imagem;
› Outing – enviar ou publicar informação privada, embaraçosa ou sensível sobre
outra pessoa;
› Humilhação – publicar revelações falsas, lesivas e cruéis sobre alguém; denegrir a
sua imagem;
› Exclusão – excluir cruelmente alguém de um grupo;
› Cyberstalking – perseguição online, assédio, incluindo ameaças de dano ou
intimidação.

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Cyberbullying

› Entre colegas da mesma sala ou da mesma escola; ou estranhos;

› Muitas vezes o bullying offline sobrepõe-se ao online;

› Especificidades:
– Maior anonimato;
– Maior público;
– Maior gravidade? Maior humilhação?
– Dificuldades acrescidas na intervenção.

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Conceitos importantes

› Por vezes cria-se uma rede de relações de grupo que promove e reforça a
agressividade;

› Autor-agressor: fisicamente forte, temperamento explosivo, confiante,


pouca empatia,

› Autor-passivo: mais inseguro, menos auto-estima e menos popularidade;

› Vítima-agressora: vítimas que se tornam agressoras.

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Conceitos importantes

› Vítima-passiva: maior parte das vítimas; tímidas, reservadas, pouco


reactivas às agressões; desânimo aprendido;

› Vítima provocadora: mais agressiva e reactiva com a generalidade das


pessoas, dificuldades na socialização;

› Vítima-agressora: incapacidade de lidar com os actos das quais é vítima;


age por vingança ou compensação; busca pela popularidade.

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Conceitos importantes
› Testemunhas passivas: não reagem ao que assistem, geralmente por
medo;
› Testemunhas activas: incitam os actos de violência a que assistem
mesmo que não se envolvam directamente nas agressões;
› Testemunhas neutras: não reagem, não mostram interesse nem empatia
pelo que assistem.

› A omissão ajuda à perpetuação dos comportamentos de bullying;


› As testemunhas também podem vir a desenvolver alguns problemas sócio-
afectivos (e.g. ansiedade generalizada).

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Consequências comuns nas vítimas:


› Sintomatologia depressiva e ansiosa;
› Psicossomatização (e.g. dores de cabeça e de estômago, “crises de
ansiedade”; pesadelos);
› Diminuição da auto-estima;
› Angústia e stress;
› Absentismo e insucesso escolar (e.g. dificuldades de concentração;
desmotivação, fugas);
› Alterações na interacção social (e.g. isolamento, fobias, timidez);
› Comportamentos suicidários;
› Comportamentos desviantes (e.g. violência, roubos).

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Consequências comuns na comunidade


escolar:

› Insegurança na escola (professores, alunos e restantes funcionários);

› Dificuldades de relacionamento no contexto escolar;

› Desmotivação e desinvestimento;

› Abandono precoce.

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Avaliação

› Objectivos:

– A natureza/severidade dos danos na criança/jovem;

– Estabelecer o nexo de causalidade;

– Prognóstico do caso;

– Recomendações/propostas de actuação (áreas sobre as quais deve


incidir a intervenção).

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Avaliação
1. Preparação (estudo dos documentos disponíveis; selecção da metodologia e
instrumentos de avaliação)
2. Recolha de informação colateral
– Escola (percepção e conhecimento da situação; denúncia; medidas tomadas;
alterações de comportamento do aluno vítima);
– Progenitores/cuidadores (antecedentes relevantes do menor; percepção e
conhecimento da situação; denúncia; alterações de comportamento do
menor; medidas tomadas; situação actual);
– Outros (desde que justificado).
3. Entrevista com o menor
4. Avaliação instrumental
5. Integração dos dados e elaboração do relatório

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Entrevista
› Guiões de entrevista
– Explorar antecedentes relevantes (e.g. familiares, escola, amigos, lazer,
saúde física e mental anterior aos factos).
› Relato sobre os factos
– Início;
– Pessoas envolvidas;
– Comportamentos e dinâmicas de agressão;
– Frequência, intensidade (escalada?) e duração;
– Reacções (vivência do próprio, familiares, amigos, escola);
– Consequências (mudanças nas várias esferas de vida do menor);
– Revelação/denúncia.

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Entrevista
› Observação clínica semi-estruturada (atenção ao desenvolvimento cognitivo;
expressão emocional; interacção; comportamento verbal e não-verbal);
› Estratégias:
– Explicar objectivos da avaliação (consentimento informado);
– Criar empatia (e.g. exploração de temas neutros);
– Adequar linguagem e vocabulário à idade do examinando;
– Facilitar o relato livre;
– Evitar questões fechadas e sugestivas;
– Evitar interromper;
– Clarificar aspectos importantes no final do relato livre;
– Sumarizar o que foi dito no final e deixar espaço para examinando acrescentar
ou corrigir informação;
– Agradecer.
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Avaliação instrumental
› Intelectual: Escala de Inteligência de Wechsler para Crianças (WISC-III); Matrizes
Progressivas Coloridas de Raven; Teste da Figura Humana; Bateria de Provas de
Raciocínio (BPR);
› Clínica: Teste dos 90 Sintomas – Revisto (SCL-R-90); Inventário de estado-traço de
ansiedade para Crianças (STAIC); Escala de Ansiedade Manifesta para Crianças (CMAS-
R); Questionário de Avaliação da Auto-Estima; Teste do Desenho da Família; Inventário de
Depressão de Beck (BDI); Inventário de Depressão para Crianças (CDI);
› Problemas de comportamento: Questionário de Auto-Avaliação Para Jovens (YSR);
Questionário de avaliação da criança – relatório do professor (TRF); Questionário de
comportamento da criança (CBCL); Escala de Conners para professores e pais;
› Personalidade: Inventário Clínico de Millon para Adolescentes (MACI); Roberts
Apperception Test for Children (RATC-2);
› Específico: Peer Victimization Scale (Veiga, 2008);

› NOTA: adequar à idade, objectivos da avaliação e nível desenvolvimental do examinando


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Intervenção

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Grupos-alvo

› Vítimas

› Agressores

› Família nuclear

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Intervenção individual: vítima


› Auto-estima;
› Auto-confiança;
› Competências sociais;
› Resolução de conflitos;
› Intervenção na sintomatologia depressiva e/ou ansiosa.

› Dotar de conhecimentos acerca das dinâmicas envolvidas no bullying


(saber identificar, evitar e lidar com elas); prevenção.

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Família nuclear
› Pais
– Utilizam medidas punitivas agressivas e/ou violentas?
› Irmãos
– Relação conflituosa e violenta?

› Importante trabalhar a vinculação e fortalecer os laços familiares;


› No cyberbullying os pais devem demonstrar interesse e envolvimento
sobre os conteúdos que os filhos acedem, sem, no entanto, serem
demasiado intrusivos e restritivos.

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Família da vítima
› Estratégias de acção após tomada de conhecimento do problema:
– Apoio, atenção, valorização das queixas e escuta activa;
– Possível encaminhamento para consulta de psicologia e
pedopsiquiatria;
– Evitar medidas precipitadas (e.g. contacto directo com agressor e
respectiva família);
– Não incitar à violência enquanto resposta;
– Desmistificar ideias erróneas;
– Incentivar o educando a não circular sozinho e saber como actuar em
caso de nova vitimização.

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Intervenção individual: agressor

› Grande parte dos estudiosos desta problemática avançam para a

caracterização do bully como alguém com fracas competências sociais;

› Porém, há modelos compreensivos que defendem que nem todos os

agressores são indivíduos socialmente inadequados; mas, pelo contrário,

têm fortes competências sociais e são “mestres” na arte de manipular.

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Intervenção individual: agressor


› Fracas competências sociais: o bully utiliza deliberadamente estratégias
de domínio e poder nas suas relações sociais; menor inteligência;
fisicamente forte; utiliza a agressividade e violência para manter o estatuto
social; fraca empatia;

› Cegueira social: o bully tem fraca capacidade em compreender o


comportamento social, intenções, pensamentos e emoções dos outros;
não se relaciona de forma socialmente apropriada; fraca empatia; age de
forma violenta com base na própria insegurança social;

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Intervenção individual: agressor


› Inteligência social: o bully é capaz de interagir socialmente e de exercer o
controlo sobre os outros de modo a responder às suas necessidades (de
forma subtil ou exposta); identifica indivíduos mais vulneráveis e explora-
-os através do medo; calculista; mais difícil de ser detectado; tem
capacidade de empatia; planeia, antecipa as reacções dos outros;
manipula terceiros contra a vítima.

› Grande inteligência social, menos utilização da violência física, mais


manipulação e agressão psicológica.

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Intervenção individual: agressor

› Empatia;

› Desenvolvimento moral e ético;

› Competências sociais;

› Resolução de conflitos;

› Literacia emocional;

› Gestão das emoções;

› Auto-controlo.

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Família do agressor
› Estratégias de acção após tomada de conhecimento do problema:
– Apoio, atenção, valorização das queixas e escuta activa;
– Possível encaminhamento para consulta de psicologia e
pedopsiquiatria;
– Perceber se o agressor compreende o problema;
– Focar os efeitos nas vítimas e promover a empatia;
– Promover o respeito pelo o outro e clarificar que o bullying não é
tolerado;
– Tentar perceber o motivo da agressividade (e.g. pressão social,
necessidade de atenção, vitimização no passado).

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Eficácia dos modelos interventivos

› Intervenção com os pares:

– Apoio por parte dos pares (que recebem treino e formação específicos);

– Na hora do recreio organizam-se jogos e actividades estruturadas para


todos participarem;

– Nas escolas secundárias, alunos mais velhos orientam e aconselham


os mais novos.

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Eficácia dos modelos interventivos

› Punitivo:

– Castigos e sanções disciplinares;

– A sua aplicação não é consensual, porque podem ser contra-produtivas


(potenciando sentimentos negativos contra a escola, os professores e
os colegas);

– Parece ser mais eficaz no ensino secundário do que no primário.

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Eficácia dos modelos interventivos


› Medidas restaurativas:
– Resolver o conflito e reparar os danos, intervindo-se com o agressor:
promover a empatia, reconhecer o impacto dos danos que causou à
vítima, dar uma oportunidade para repará-los;
– Responsabiliza-se o autor e foca-se mais a vítima, no sentido de alertar
para as consequências causadas;
– Abordagem que tem crescido e demonstra ser eficaz a reduzir o
bullying, a promover a auto-estima e a capacidade de empatia.

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A considerar

› As mesmas estratégias de intervenção no bullying parecem ter resultados


eficazes no cyberbullying;

› Ainda que se possam avançar com estratégicas de intervenção e


prevenção mais específicas e direccionadas para o cyberbullying, que
foquem as “boas práticas” na utilização da internet e das redes sociais.
– E.g.: como reportar casos de cyberbullying; como recolher provas;
informação acerca dos direitos e da lei vigente; cuidados a ter em
certos websites.

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Prevenção

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Grupos-alvo

› Comunidade escolar
– Encarregados de educação (reuniões)
– Alunos (grupos de discussão; apoio dos pares)
– Professores/educadores (treino e formação)
– Outros funcionários (treino e formação)

› Comunidade em geral

– Campanhas de sensibilização

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Recomendações gerais
› Avaliar o problema na escola e determinar a gravidade do mesmo;
› Promover o conhecimento/consciência dos actos de bullying;
› Criar um ambiente propício e seguro;
› Implementar um código de conduta na escola que defina especificamente
o que é considerado bullying e como o denunciar e impedir;
› Definir e divulgar as consequências formais de tais actos;
› Criar programas de educação/formação para pais, alunos e restante
comunidade escolar;
› Encorajar o pessoal educativo a identificar os alunos em risco (vítimas e
agressores);
› Incentivar a boa comunicação entre os pais e os educadores.

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Eficácia
› Ttofi e Farrington (2011) analisaram 44 programas de intervenção =
redução dos comportamentos de bullying entre 20-23% e diminuição da
vitimização entre 17-20%;

› Variáveis que influenciam a eficácia dos programas:


– Idade: maior sucesso interventivo até ao 7º ano de escolaridade; é
um desafio maior reduzir o bullying com adolescentes;
› Uma das explicações avançadas é de que a adolescência é um
período em que o estatuto social é muito relevante; e o bullying
pode influenciar a popularidade.
– Dimensão da escola

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Referências recomendadas
› Ang, R. P. (2015). Adolescent cyberbullying: A review of characteristics, prevention and
intervention strategies. Aggression and Violent Behavior, 25(A), 35–42.
› Barton, E. A. (2006) Bully Prevention, Tips and Strategies for School Leaders and
Classroom Teachers. USA: Corwin Press.
› Carvalhosa, S. F., Lima, L. e Matos, M. G. (2001); “Bullying – A provocação/vitimação
entre pares no contexto escolar português”, Análise Psicológica , 4 (XIX): 523-537.
› Evans, C. B. R., Fraser, M. W., & Cotter, K. L. (2014). The effectiveness of school-based
bullying prevention programs: A systematic review. Aggression and Violent Behavior,
19(5), 532–544.
› Kaukiainen, A., Bjorkqvist, K., Lagerspetz, K., Osterman, K., Salmivalli, D., et al. (1999).
The relationships between social intelligence, empathy, and three types of aggression.
Aggressive Behavior, 25, 81–89.
› Smith, P. K., & Brian, P. (2000). Bullying in schools: lessons from two decades of
research. Aggressive Behavior, 26, 1–9.
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