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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL


CAMPUS DE PATOS-PB
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO III

Área de concentração: Clínica Médica de Pequenos Animais

Juliana Nóbrega Barbosa

Patos-PB
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL
CAMPUS DE PATOS-PB
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO III

Clínica Médica de Pequenos Animais – HVUIMT/UFCG

Juliana Nóbrega Barbosa

Prof. Dr. Gildenor Xavier Medeiros


(Orientador)

Dra. Rosileide dos Santos Carneiro


(Supervisora)

Patos-PB
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL
CAMPUS DE PATOS-PB
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

JULIANA NÓBREGA BARBOSA

Relatório de Estágio Supervisionado submetido ao Curso de Medicina Veterinária como


requisito parcial para obtenção do grau de Médico Veterinário.

ENTREGUE EM ...../...../..... NOTA GERAL:______

BANCA EXAMINADORA

_________________________________ 9,5
Prof. Dr. Gildenor Xavier Medeiros Nota

_____________________________________ ______
Prof. MSc. Thiago da Silva Brandão Nota
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Atendimentos realizados em caninos na Clínica Médica de Pequenos Animais


do HVUIMT durante o período de maio a julho de 2022......................................................9

Tabela 2 - Atendimentos realizados em felinos na Clínica Médica de Pequenos Animais


do HVUIMT durante o período de maio a julho de 2022....................................................10

Tabela 3 - Estadimento clínico da leishmaniose visceral canina........................................13

Tabela 4 - Protocolos para tratamento de Leishmaniose Visceral Canina (LCV)..............15

Tabela 5 - Análise hematológica do paciente, em 11/07.....................................................17

Tabela 6 - Valores bioquímicos séricos do paciente, em 11/07..........................................17

Tabela 7 - Análise hematológica do paciente, em 19/07.....................................................18


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................6
2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS................................................................................7
2.1 Casos Clínicos acompanhados durante estágio...........................................................9
3 LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA ASSOCIADA A TUMOR VENÉREO
TRANSMISSÍVEL CANINO: RELATO DE CASO......................................................13
3.1 Revisão de literatura....................................................................................................13
3.1.1 Leishmaniose Visceral canina.....................................................................................13
3.1.2 Tumor Venéreo Tranmissível canino..........................................................................15
3.2 Descrição do caso clínico..............................................................................................16
4 CONCLUSÃO.................................................................................................................20
REFERÊNCIAS................................................................................................................21
6

1 INTRODUÇÃO

O estágio supervisionado obrigatório III (ESO III) é um componente curricular


obrigatório do curso de Medicina Veterinária que tem como objetivo fornecer aos
estudantes a oportunidade de ampliar e aperfeiçoar seus conhecimentos técnicos no setor
escolhido, assim como viabilizar o acesso a experiências práticas para a formação de um
Médico Veterinário. Além disso, o ESO III proporciona ao estudante o conhecimento de
um ambiente de trabalho, adquirindo experiência com o trabalho em equipe, as
responsabilidades e compromissos necessários para a vida profissional.
O ESO III é uma disciplina do 10º período do Curso de Medicina Veterinária, da
Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, Campus Patos – Paraíba. O referido
estágio foi realizado no Hospital Veterinário Universitário Prof. Dr. Ivon Macêdo Tabosa
da Universidade Federal de Campina Grande (HVUIMT/UFCG), campus de Patos, no
estado da Paraíba. As atividades foram desenvolvidas na Clínica de Pequenos animais, de
segunda-feira à sexta-feira, sendo a carga horária diária de 6 horas, somando em 30 horas
semanais, com realização do dia 03/05 até o dia 20/07, constituindo carga horária total de
330h, representando uma parte das 315 horas referentes à disciplina ESO III.
No HVUIMT/UFCG, funcionam diversos setores, sendo estes: Clínica Médica de
Pequenos Animais, Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Anestesiologia Veterinária,
Patologia Clínica, Patologia Animal, Diagnóstico por Imagem e Clínica Médica e
Cirúrgica de Grandes Animais.
Na Clínica de Pequenos Animais, as atividades desenvolvidas foram supervisionadas
pela Dra. Rosileide dos Santos Carneiro e pelos Médicos Veterinários do Programa de
Residência Multiprofissional Angélica Beatriz, Télio Samuel, Gilson Ludgério, Wanessa
Soares, Paulo Douglas e Vanda Jales.
Durante o ESO III, a aluna acompanhou e participou dos atendimentos e consultas
médicas de caráter de urgência ou emergência, auxiliou e executou aplicação de
medicações ambulatoriais, acompanhou a evolução e resposta dos animais internos e
auxiliou no monitoramento, tratamento e manejo desses sob supervisão dos médicos
veterinários responsáveis.
7

2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

No estágio supervisionado obrigatório - ESO III, realizado na Clínica Médica de


Pequenos Animais (CMPA) do HVUIMT, foi possível acompanhar atendimentos médicos
desenvolvidos e auxiliar nas atividades do internamento. Durante os atendimentos, as
atividades desenvolvidas incluíram a realização de exame físico e anamnese, coleta de
material e amostras para exames laboratoriais e complementares como hemograma,
bioquímicas séricas, urinálise, análise de líquidos cavitários, citologia, cultura fúngica ou
bacteriana e testes rápidos. No internamento, foram feitas administrações medicamentosas,
alimentações, monitoramento com aferição de parâmetros vitais e realização de curativos.
A rotina do estágio na CMPA foi desenvolvida seguindo as normas estabelecidas pelo
setor. Na CMPA, o primeiro contato com o animal se dá através da triagem, onde são
definidas a ordem dos atendimentos de acordo com as prioridades de urgência ou
emergência. Após isso, o tutor é encaminhado à recepção para fornecimento de dados que
levarão à localização da ficha do animal (caso esse tenha cadastro ativo no sistema do
HVUIMT) ou mesmo realização de cadastro que deve incluir informações acerca da
identificação e características do animal, assim como dados do responsável. Em seguida, a
consulta médica inicia-se pela anamnese, onde são colhidas informações com o tutor
acerca da queixa principal, assim como informações sobre alimentação fornecida, presença
ou ausência de apetite, ingestão hídrica, aspecto da urina e fezes, histórico ambiental e
manejo (se acessa à rua ou possui animais contactantes), histórico clínico prévio,
administração de alguma medicação recente, presença de ectoparasitas, assim como a
administração de fármacos para controle desses e de endoparasitas (vermífugos) e medidas
profiláticas como vacinação. Obtidas informações gerais sobre o paciente, a anamnese é
direcionada para o sistema acometido de acordo com a queixa do tutor, afim de investigar e
compreender a causa da alteração acusada pelo tutor.
Após detalhada anamnese, deverá ser realizado o exame clínico geral, onde serão
avaliados: estado de consciência e comportamento; frequência cardíaca e respiratória,
temperatura retal; avaliação de mucosas, palpação de linfonodos, estado nutricional/escore
corporal, tempo de preenchimento capilar e turgor cutâneo. Ademais, é feita a avaliação de
presença ou ausência de sensibilidade à palpação abdominal, análise da cavidade oral
(presença de halitose, gengivite, periodontite, úlceras, placas bacterianas e/ou corpo
estranho) e ausculta cardiopulmonar.
8

Feito o exame físico geral, o clínico deverá se direcionar para o exame físico específico,
onde serão examinados os sistemas referentes à queixa principal relatada pelo tutor.
Examinando sistemas através de alterações em: globo ocular, conduto auditivo, aparelho
genital, digestório, locomotor, tegumentar, cardiorrespiratório e nervoso. Com esse
conjunto de informações obtidas, o clínico poderá elaborar hipóteses diagnósticas que
muitas vezes necessitarão de confirmação através de exames laboratoriais e
complementares.
No Hospital Veterinário, os setores trabalham em conjunto em busca do correto
diagnóstico e consequente tratamento apropriado para os pacientes ali atendidos. Todos os
animais acompanhados necessitaram de exames laboratoriais para melhor direcionamento
do diagnóstico. Setores como Laboratório de Patologia Clínica, Laboratório de Patologia
Animal, Diagnóstico por Imagem e Laboratório de Microbiologia foram cruciais para a
confirmação dos diagnósticos; assim como os setores de Anestesiologia e Cirurgia de
Pequenos Animais foram essenciais para os tratamentos cirúrgicos.
Sob supervisão dos médicos veterinários residentes da CMPA, foi permitido realizar
coleta de amostras para os exames laboratoriais e complementares, como coleta de sangue
venoso, confecção de lâminas ao realizar técnicas de imprint, raspado cutâneo e punção
com agulha fina (aspirativa ou por capilaridade), coleta de medula óssea, urina e líquidos
cavitários. Além disso, foi possível fazer desobstrução e sondagem uretral, acompanhar
realização de testes rápidos (SNAP 4X, cinomose, parvovirose), realizar fluidoterapia
intravenosa ou subcutânea, dentre outras atividades pertinentes.
Determinado o prognóstico do animal, avalia-se a necessidade de internamento do
mesmo. Aqueles pacientes que apresentam quadros clínicos críticos e que necessitam de
cuidados intensivos para estabilização do quadro são encaminhados para o internamento, a
fim de serem acompanhados e supervisionados, sendo avaliada a evolução do quadro do
animal, através da administração de medicamentos em horários determinados, assim como
outros cuidados específicos de acordo com a necessidade de cada paciente.
9

2.1 Casos clínicos acompanhados durante o estágio

Durante os meses de realização do ESO III, foram acompanhados 28 cães e 23 gatos,


somando 51 animais ao todo. Dentre os caninos (tabela 1), os principais diagnósticos
observados foram: neoplasias (7/28) e hemoparasitoses (6/28). Já nos felinos (tabela 2), os
três principais diagnósticos foram: afecções uterinas (3/23) e alterações em tecido mamário
(3/23).

Tabela 1 - Atendimentos realizados em caninos na Clínica Médica de Pequenos


Animais do HVUIMT durante o período de maio a julho de 2022 (continua).
Registro Data Sexo Idade Diagnóstico
40740 03/05/22 Fêmea 6 anos Piometra
49776 06/05/22 Fêmea 6 anos Neoplasia maligna mamária; pneumotórax
49717 09/05/22 Fêmea Adulta Tumor Venéreo Transmissível
48812 10/05/22 Fêmea 13 anos Otohematoma
49894 18/05/22 Fêmea 1 ano Dermatite úmida aguda
44396 20/05/22 Macho Adulto Abscesso cutâneo; hemoparasitose
49965 26/05/22 Fêmea 5 anos Tumor Venéreo Transmissível
49967 26/05/22 Macho 6 anos Leishmaniose
49970 26/05/22 Fêmea 5 meses Hemoparasitose
49976 27/05/22 Fêmea 3 meses Parvovirose
50005 31/05/22 Fêmea 12 anos Doença renal
50017 01/06/22 Macho 10 meses Fratura em membro pélvico esquerdo
50023 01/06/22 Fêmea 10 anos Carcinoma Mamário
38707 02/06/22 Fêmea 6 anos Subinvolução uterina
50077 07/06/22 Fêmea 1 ano Tumor Venéreo Transmissível
47945 08/06/22 Fêmea 7 anos Cisto epidermoide

43458 09/06/22 Fêmea Adulta Hemoparasitose

50094 09/06/22 Fêmea 7 anos Fratura em membro torácico esquerdo


50096 09/06/22 Macho 2,5 anos Tumor Venéreo Transmissível
27960 14/06/22 Macho 14 anos Hiperplasia prostática; hérnia perineal
50292 04/07/22 Fêmea 7 meses -
10

Tabela 1 - Atendimentos realizados em caninos na Clínica Médica de Pequenos


Animais do HVUIMT durante o período de maio a julho de 2022 (conclusão).
Registro Data Sexo Idade Diagnóstico
50152 07/07/22 Fêmea 5 anos Hemoparasitose
50259 08/07/22 Fêmea 5 anos Hemoparasitose;, úlcera de córnea
50353 11/07/22 Macho 5 meses Verminose
50363 11/07/22 Fêmea 1 ano Hemoparasitose; papilomatose
Tumor Venéreo Transmissível; Miíase;
50358 11/07/22 Macho Adulto
Leishmaniose
48281 13/07/22 Macho 2 anos Diabetes Mellitus
50404 14/07/22 Fêmea 10 anos Piometra

Conforme a tabela acima, foi possível observar que na casuística de atendimentos em


caninos ocorreu prevalência de Hemoparasitoses (6 casos) e Neoplasias (7 casos), sendo o
Tumor Venéreo Transmissível (TVT) responsável por 5 entre 7 diagnósticos de
neoplasias.
Dentre as hemoparasitoses, se destaca a erliquiose, uma doença transmitida por
carrapatos que tem altos números no Brasil, sendo uma das mais frequentes na rotina de
médicos veterinários e, de uma forma geral, como uma das mais frequentes
hemoparasitoses de cães. (DE REZENDE ACURCIO et al., 2021).
O TVT é uma doença que se encontra em grandes números no Brasil, haja visto o
escasso número de animais não castrados e a excessiva quantidade de cães errantes são
fatores que esclarecem a alta incidência no país (FONSECA et al., 2017).
No município de Patos, o grande número de animais errantes é um fator de grande
influência para a transmissão das duas doenças supracitadas, justificando a prevalência
dessas afecções durante o ESO III.

Tabela 2 - Atendimentos realizados em felinos na Clínica Médica de Pequenos


Animais do HVUIMT durante o período de maio a julho de 2022 (continua).
Registro Data Sexo Idade Diagnóstico
49732 03/05/22 Fêmea 3 anos Piometra
49714 04/05/22 Macho Adulto Abscesso cutâneo em região
11

temporomandibular esquerda
41330 05/05/22 Fêmea 5 anos Otite exterma

Tabela 2 - Atendimentos realizados em felinos na Clínica Médica de Pequenos


Animais do HVUIMT durante o período de maio a julho de 2022 (conclusão).
Registro Data Sexo Idade Diagnóstico
49768 05/05/22 Macho 3 anos Carcinoma de células escamosas
49795 09/05/22 Macho 4 anos Nefrite; cistite; obstrução uretral
Fetos em sofrimento; encefalopatia
49844 13/05/22 Fêmea 5 anos
hepática
49858 16/05/22 Fêmea 10 anos Carcinoma mamário
49864 16/05/22 Macho 9 meses Broncopneumonia
49874 17/05/22 Macho 4 meses -
49917 20/05/22 Macho 3 meses Disjunção de sínfise mentoniana
49950 24/05/22 Fêmea 2,5 anos Hérnia diafragmática
49996 30/05/22 Fêmea 2 anos Lesão perfurante em região inguinal
50029 02/06/22 Macho 2 meses Complexo respiratório felino
50040 03/06/22 Fêmea 1 ano Hiperplasia adenomatosa mamária
38264 07/06/22 Macho 5 anos Síndrome de Pandora
50083 08/06/22 Fêmea 8 meses Complexo respiratório Felino
49226 09/06/22 Macho 7 meses Úlcera de córnea; dermatofitose
50121 13/06/22 Fêmea Adulta Fetos mortos
49853 21/06/22 Macho 3 anos Esporotricose
Cistite; urolitíase; lesão medular
50367 12/07/22 Macho 11 anos
lombossacral
50379 12/07/22 Fêmea 2 anos Complexo gengivite estomatite
50426 15/07/22 Macho 3 anos Gastrite
28145 20/07/22 Fêmea 9 anos Carcinoma mamário

Durante o ESO III, a predominância de casos em felinos foi marcada por afecções
uterinas (3), sendo estas: fetos em sofrimento, fetos mortos e piometra; e por alterações em
12

tecidos mamários (3), sendo estas: carcinoma mamário (2) e hiperplasia adenomatosa
mamária (1).
Uma possível justificativa para esses números é o uso de anticoncepcionais em gatas,
que é responsável por causar diversas alterações em tecidos uterinos e mamários. O acetato
de medroxiprogesterona, o acetato de megestrol e a proligestona são os anticoncepcionais
mais comercializados e podem causar: hiperplasia endometrial cística, piometra,
hiperplasia mamária, tumores mamários, pseudociese, diabetes melitto, supressão
adrenocortical, retenção e morte fetal (ARAÚJO, 2013).
Como o município de Patos carece de ações efetivas para o controle populacional de
felinos, como promoção de campanhas de castração, os tutores ainda recorrem ao uso de
anticoncepcionais para animais devido seu baixíssimo custo em relação à
ovariohisterectomia.
13

3 LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA ASSOCIADA A TUMOR VENÉREO


TRANSMISSÍVEL CANINO: RELATO DE CASO

3.1 Revisão de Literatura


3.1.1 Leishmaniose Visceral Canina
Os protozoários do gênero Leishmania são os agentes causadores das leishmanioses que
podem acometer cães, gatos, humanos e outros mamíferos, causando manifestações
tegumentares, mucocutâneos ou viscerais nestas espécies. O vetor responsável pela
transmissão é o flebótomo Lutzomyia longipalpis. Na Medicina Veterinária, se destaca a
leishmaniose visceral canina (LCV) devido seu caráter antropoozonótico e por ser a
leishmaniose mais recorrente em cães, sendo a Leihmania infantum o principal agente
etiológico (NELSON; COUTO, 2015; ABBIATI et al, 2019).
Segundo os autores Nogueira e Ribeiro (2015), os animais infectados podem ou não
desenvolver a enfermidade, principalmente em regiões endêmicas onde muitos animais
podem desenvolver anticorpos específicos e até cura espontânea. Nos animais acometidos,
os sinais clínicos podem serem intensificados por fatores como: tipo de resposta
imunológica humoral ou celular, genética, sexo, idade, nutrição, coinfecções, fatores
imunossupressivos, presença de ecto ou endoparasitas. Nos animais infectados, o período
de incubação tem ampla margem de variação, podendo ficar incubado de 3 meses até 7
anos, apresentando quadro clínico: agudo, subagudo, crônico e regressivo. O estadiamento
clínico está descrito na tabela 3.

Tabela 3 - Estadimento clínico da leishmaniose visceral canina (continua).


Estágio de evolução Características
Grau 1: exposto Baixos títulos sorológicos. Exames parasitológicos e moleculares
negativos. Assintomáticos ou com sinais associados a outras
doenças. Vivendo ou oriundos de áreas com transmissão.
Grau 2: infectado Baixos títulos sorológicos. Parasito detectado em exame
parasitológico ou molecular. Assintomáticos ou sinais associados
14

a outras doenças. Em áreas enzoóticas, pode ser possível a


detecção de DNA de Leishmania pela PCR de pele ou de sangue
periférico, quando houver flebótomos; na ausência de lesões
evidentes, não é suficiente para considerar o cão infectado.
Tabela 3 - Estadimento clínico da leishmaniose visceral canina (conclusão).
Estágio de evolução Características
Grau 3: doente Citologia positiva, altos títulos sorológicos e, raramente, cães do
estágio anterior. Um ou mais sintomas de leishmaniose presentes.
Na ausência de sinais físicos, alterações laboratoriais compatíveis
com leishmaniose definem esse estágio.
Grau 4: grave Cães gravemente doentes: evidente nefropatia ou doença renal
crônica, sinais concorrentes (oculares, articulares) associados à
leishmaniose, os quais requerem tratamento imunossupressivo.

graves alterações clínicas concomitantes, animais não responsivos
ao tratamento ou com recidivas logo após o término do
tratamento.
Fonte: Adaptado de Nogueira e Ribeiro (2015).

Segundo Aguiar e Rodrigues (2017), os métodos de diagnóstico utilizados são do tipo


direto ou indireto, incluindo: identificação direta das amastigotas através do aspirado de
medula óssea, baço, fígado ou linfonodos; utilização de isolamento em cultura
microbiológica; PCR ou ELISA. Sendo a aspiração de medula óssea o método direto mais
recomendado.
Aguiar e Rodrigues (2017) afirmam: a LCV não tem cura, mas o tratamento leva à
diminuição da carga parasitária e melhora clínica, mas não livra o animal de ser um
reservatório, nem previne contra recidivas sintomatológicas. O tratamento abrange
diferentes procotocolos, incluindo substâncias Leishmaniostáticas, imunoterapia,
medicações para suporte e dieta apropriada.
Viana (2019) pontua que os animais em tratamento deverão ser monitorados a cada seis
meses, através de analises sorológicas, parasitológicas e/ou moleculares. Assim, elenca os
seguintes protocolos terapêuticos descritos na tabela 4:
15

Tabela 4 - Protocolos para tratamento de Leishmaniose Visceral Canina (LCV).


Estádio Terapêutica
Estádio 1: sem sinais clínicos Imunoterapia + imunomodulação
Estádio 2: sinais clínicos Imunoterapia + imunomodulação + alopurinol +
ausentes ou discretos miltefosina
Estádio 3: doença moderada Imunoterapia + imunomodulação + alopurinol +
miltefosina; seguir as diretrizes da IRIS para manejo da
nefropatia e controle da PSS
Estádio 4: doença grave Imunoterapia + imunomodulação + alopurinol +
miltefosina; seguir as diretrizes da IRIS para manejo da
DRC e controle da PSS
Estádio 5: doença muito grave Imunoterapia + imunomodulação + alopurinol +
miltefosina; seguir as diretrizes da IRIS para manejo da
DRC e controle da PSS
IRIS: Internacional Renal Interest Society; PSS: pressão sanguínea sistêmica; DRC:
doença renal crônica. Fonte: Adaptado de Viana (2019).

3.1.2 Tumor Venéreo Transmissível Canino


O tumor venéreo transmissível canino (TVTc) é o mais antigo tumor de que se tem
relato. Pesquisas genéticas apontam sua ocorrência a cerca de 11 mil anos em lobos e
canídeos e de aproximadamente 500 anos nos canídeos modernos. Vatel em 1828, no livro
Les Eléments de Pathologie Vétérinaire, citou TVTc como um tumor situado em genitália
externa de cães. Nesse mesmo ano, Delabere Blaine, relatou o TVTc como um “acúmulo
sanguinolento” procedendo de “lesões ulcerosas de vagina e pênis de cães, de aparência
verrugosa ou cancerosa” (DALECK; NARDI, 2016).
16

A transmissão pode decorrer mediante o contato de células tumorais viáveis com uma
lesão prévia existente na superfície epitelial (BIRHAN; CHANIE, 2015). No Brasil, o
TVTc abrange 20% dos cães, sendo a segunda neoplasia de maior incidência.
O TVTc apresenta-se de forma única ou múltipla, com dimensões variando entre alguns
milímetros até 10 cm, áreas inflamadas, ulceradas e podem assumir formato característico
de couve-flor (ZACHARY; MCGAVIN, 2018).
O tratamento oncológico é específico e decorrente de vários fatores, tais como: o tipo de
tumor, grau histológico e estágio (BILLER et al., 2016). Dentre os procedimentos
terapêuticos realizados para o TVTc, estão a cirurgia, imunoterapia, radioterapia e a
quimioterapia antineoplásica, que é o tratamento de eleição (TINUCCI; CASTRO, 2016).
A primeira linha de escolha para o tratamento do TVTc é o sulfato de vincristina, com
eficiência relatada em mais de 80% dos casos. Todavia, alguns tumores tornam-se
resistentes a esse fármaco, instituindo a necessidade de substituição do mesmo (SAID et
al., 2009). Nas circunstâncias onde o TVTc apresentar resistência ao tratamento com
vincristina, não apresentando remissão das lesões, a doxorrubicina pode ser associada ao
protocolo quimioterápico (HUPPES et al., 2014).

3.2 Descrição do caso clínico

Foi atendido no HVUIMT/UFCG, no dia 11 de julho de 2022, um canino, macho, sem


raça definida, adulto, pesando 18,2 kg, animal de rua. A queixa principal do tutor era de
que o animal apresentava lesão na orelha que posteriormente apresentou larvas de moscas
e secreção mucopurulenta e por vezes sanguinolentas.
Ao realizar exame físico, foi possível observar que o animal estava ativo, em estação,
com mucosas normocoradas, escore corporal regular e linfonodos sem alteração em
tamanho ou consistência. A palpação abdominal não revelou nenhuma alteração, bem
como a ausculta cardiopulmonar. Na região de pina do pavilhão auricular esquerdo, foi
observada lesão necrótica com presença miíase e odor fétido; também foi observado
nódulo de consistência firme em região cervical, aderido à musculatura; lesões em coxins
dos membros torácicos direito e esquerdo; onicogrifose; pelos opacos e quebradiços com
presença de ectoparasitas, regiões de alopecia distribuídas de modo multifocal.
Diante da investigação clínica, foram colhidas amostras e solicitados exames
laboratoriais de hemograma, bioquímicas de perfil renal e hepático, e citologia (Punção por
17

Agulha Fina) do nódulo em região cervical. As amostras foram enviadas e analisadas no


Laboratório de Patologia Clínica do HVUIMT.
Nas tabelas 5 e 6 estão descritos, respectivamente, os resultados do hemograma e das
bioquímicas séricas no dia 11/07/2022.

Tabela 5 - Análise hematológica do paciente, em 11/07.


Eritrograma Referência – Cães*
Hemácias 4.87 (x10⁶/µL 5.5 – 8.5 (x10⁶/µL
Hemoglobina 9.0 g/dL 12.0 – 18.0 g/dL
Hematócrito 29.1% 37 – 55%
VCM 59.8 fL 60 – 77 fL
CHCM 30.9 g/dL 32 – 36 g/dL
Leucograma
Leuc. totais 14.100/µL 6.000 – 17.000/µL
Segmentados 11.421/µL 3.000 – 11.500/µL
Eosinófilos 141/µL 150 – 1.250/µL
Monócitos 1.833/µL 150 – 1.350/µL
Linfócitos 705/µL 1.000 – 4.800/µL
Plaquetograma
Plaquetas Agregados plaquetários (+++-) 200 – 500/mL
*Fonte: Manual de Patologia Clínica Veterinária – UFSM, 2009.

Tabela 6 - Valores bioquímicos séricos do paciente, em 11/07.


Bioquímico Valores Referências - Cães*
ALB 1,59 g/dL 2.6 – 3.3 g/dL
ALT 23,3 U/L 21 – 86 U/L
CRE 0,6 mg/dL 0.5 – 1.5 mg/dL
FAL 52,0 U/L 20 – 156 U/L
PT 7,4 g/dL 5.4 – 7.1 g/dL
URE 20,0 mg/dL 21.4 – 59.92 mg/dL
*Fonte: Manual de Patologia Clínica Veterinária – UFSM, 2009.
18

As alterações encontradas no hemograma consistem em valores de hemácias,


hemoglobina, hematócrito, VCM e CHCM abaixo dos seus respectivos valores de
referência, o que corresponde a uma anemia leve. O leucograma apresentou alterações
abaixo dos valores de referência no que se refere aos eosinófilos e linfócitos e acima da
referência nos monócitos. Nota-se que o animal apresentou agregados plaquetários. No
esfregaço sanguíneo foram observadas moderadas anisocitose e hipocromia.
O resultado da bioquímica sérica representou diminuição dos níveis de ALB e URE, e
aumento nos valores de PT. O restante estava dentro dos valores de referência ou não
indicava alterações significativas.
O tratamento escolhido para a miíase foi uma associação de tratamento ambulatorial
com tratamento domiciliar. No ambulatório do HVUIMT, o animal foi sedado pela equipe
do setor de Anestesiologia Veterinária para a realização da limpeza da ferida, retirada de
miíase e curativo. Para casa, o médico veterinário responsável prescreveu o uso de
Capstar™ em dose única para eliminação completa das larvas, Tramadol na dose 2 mg/kg,
a cada 12 horas durante 7 dias e Dipirona na dose 25 mg/kg, a cada 12 horas durante 7 dias
para controle de dor e Ganadol Pomada para realização de curativos diários. Além o
tratamento para miíase, foram prescritos Doxiciclina, Prednisolona e Hemolitan para
tratamento domiciliar, devido à suspeita de hemoparasitose.
A amostra do nódulo cervical foi enviada para o laboratório no dia 11/07 e foi analisada
no dia 13/07. Na amostra foi observada celularidade sugestiva de Tumor Venéreo
Transmissível.
No dia 19 de julho, o cão voltou ao Hospital Veterinário para o retorno clínico, onde foi
reavaliado. Foi observada boa cicatrização no pavilhão auricular esquerdo. Entretanto, o
animal apresentou piora no quadro geral: perda de peso (>1kg), presença de nova lesão
infectada por miíase entre os dígitos do membro pélvico esquerdo e linfoadenomegalia do
linfonodo poplíteo esquerdo.
Diante do quadro clínico apresentado, foram solicitadas reavaliação do hemograma
(tabela 7), citologia de medula óssea para pesquisa de Leishmania spp., bem como
radiografia para pesquisa de metástase e ultrassonografia abdominal.

Tabela 7 - Análise hematológica do paciente, em 19/07 (continua).


Eritrograma Referência – Cães*
Hemácias 5.5 (x10⁶/µL 5.5 – 8.5 (x10⁶/µL
19

Hemoglobina 11.1 g/dL 12.0 – 18.0 g/dL


Hematócrito 34.4% 37 – 55%
VCM 62.5 fL 60 – 77 fL
CHCM 32.3 g/dL 32 – 36 g/dL

Tabela 7 - Análise hematológica do paciente, em 19/07 (conclusão).


Leucograma
Leuc. totais 20.000/µL 6.000 – 17.000/µL
Segmentados 17.200/µL 3.000 – 11.500/µL
Eosinófilos 400/µL 150 – 1.250/µL
Monócitos 2000/µL 150 – 1.350/µL
Linfócitos 200/µL 1.000 – 4.800/µL
Plaquetograma
Plaquetas 228.000/µL 200 – 500/µL
*Fonte: Manual de Patologia Clínica Veterinária – UFSM, 2009.
Nos exames de imagem, os achados ultrassonográficos indicaram esplenomegalia
infecciosa e na radiografia de tórax foram vistos achados sugestivos de remodelamento
cardíaco e discreto padrão alveolar e bronquial nos campos pulmonares.
A punção de medula foi realizada com animal sedado (acepram 0,05mg/kg/IM e
propofol 3mg/kg/IV) e teve como resultado a observação de amastigotas de Leishmania
spp. na amostra enviada.
Diante do diagnóstico direto de Leishmaniose, o responsável optou pela eutánasia,
devido à falta de condições financeiras para custear o tratamento. O animal foi eutanasiado
com protocolo de medicação pré-anestésica: xilazina 1 mg/kg/IV e cetamina 10 mg/kg/IV;
indução com propofol 3mg/kg/IV e administração de 1 mL de Cloreto de Potássio pela via
intravenosa.
20

4 CONCLUSÃO

O Estágio Supervisionado Obrigatório III é crucial para a formação acadêmica do


aluno, tanto a nível pessoal quanto profissional, possibilitando ao estudante colocar em
prática todo o conhecimento teórico-prático adquirido no decorrer do curso, além de
agregar mais aprendizado ao acompanhar diversos casos clínicos, aprimorando técnicas e
desenvolvendo diversas atividades sob supervisão.
A orientação e supervisão durante o período de estágio é fundamental, sendo muito
importante que o estudante escolha um local com profissionais responsáveis, que
trabalham em harmonia e priorizam o respeito nas relações interpessoais, estando aptos a
repassar os conhecimentos necessários para o desenvolvimento profissional do estagiário.
Diante disso, o ESO III proporciona experiência e preparação para diversas situações
que o aluno irá se deparar no mercado de trabalho, auxiliando na obtenção de qualificação
para oferecer assistência médica responsável aos animais, de acordo com sua área de
atuação escolhida.
REFERÊNCIAS
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13, p. 152, 2019.

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