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DESCRIÇÃO

Democracia e sociedade brasileira: um panorama histórico. Entre o público e o privado: o


combate
permanente à corrupção. Os processos democráticos constitutivos de uma sociedade
economicamente
inclusiva.

PROPÓSITO
Analisar o quadro histórico do sistema político brasileiro e sua democracia
representativa, considerando
a complexa relação entre esfera pública e privada, bem como
teorias, processos, avanços e projetos de
inclusão social.

PREPARAÇÃO
Levando-se em conta a riqueza e as múltiplas possibilidades de análise deste Tema, seria
importante ter
em mãos um bom Dicionário de Teoria Política ou de Ciências Sociais.
Sugerimos o Dicionário de
Política, de Norberto
Bobbio, e o Dicionário de Sociologia, da UFSC/Repositório, ambos disponíveis em
formato virtual.
OBJETIVOS

MÓDULO 1

Descrever o panorama da democracia no Brasil e seu sistema de


representação

MÓDULO 2

Comparar as esferas pública e privada no contexto do combate à


corrupção

MÓDULO 3

Identificar os grupos identitários nacionais no processo


democrático

INTRODUÇÃO
Ao falarmos de “Democracia e Mercado”, entramos em um assunto cuja leitura sobre o
sistema político
no Brasil está associado não apenas a grupos que são representados, mas
também àqueles que não se
encontram substancialmente
representados na esfera política. Portanto, nesta disciplina, buscaremos
responder: como
a história nacional e o seu desenvolvimento democrático ajudam a perceber os
alinhamentos e os desalinhamentos da representação política?

Primeiramente, vamos descrever um panorama histórico da democracia e sua relação com a


sociedade
brasileira no que se refere à representação no sistema
político. Veremos como isso ocorre em três
seções, onde
trabalharemos: os períodos de transição do sistema político; a redemocratização
brasileira; e o conceito de representação na política contemplando aspectos teóricos.

Vamos também identificar as diferenças e os limites entre os setores público e privado a


partir da teoria
habermasiana, bem como discorrer, com base na estrutura brasileira,
acerca do combate à corrupção.
Iremos ainda apresentar
como esse assunto é discutido atualmente, além de conhecer o conceito de
democracia inclusiva e como se dá o processo de uma (outra face da)
democracia inclusiva e suas
diferentes maneiras de representação
no Brasil, levando em consideração as chamadas ações
afirmativas.

MÓDULO 1

 Descrever o panorama da democracia no


Brasil e seu sistema de representação

DOS SISTEMAS POLÍTICOS BRASILEIROS:


TRANSIÇÕES
O que é democracia?

O termo democracia pode ser definido de maneira bem objetiva: trata-se de um governo em
que o povo
é soberano; de um sistema de governo em que o povo elege seus representantes
por meio de eleições
periódicas.

No verbete produzido por Norberto Bobbio, a teoria moderna de democracia é conhecida


como:

TEORIA DE MAQUIAVEL, NASCIDA COM O ESTADO


MODERNO NA FORMA DAS GRANDES MONARQUIAS,
SEGUNDO A QUAL AS FORMAS HISTÓRICAS DE
GOVERNO
SÃO ESSENCIALMENTE DUAS: A MONARQUIA E A
REPÚBLICA, E A ANTIGA DEMOCRACIA
NADA MAIS É QUE
UMA FORMA DE REPÚBLICA (A OUTRA É A
ARISTOCRACIA), ONDE SE ORIGINA O
INTERCÂMBIO
CARACTERÍSTICO DO PERÍODO PRÉ-REVOLUCIONÁRIO
ENTRE IDEAIS DEMOCRÁTICOS E
IDEAIS REPUBLICANOS
E O GOVERNO GENUINAMENTE POPULAR É CHAMADO,
EM VEZ DE
DEMOCRACIA, DE REPÚBLICA.

(1998, p. 326)

Uma síntese do processo de alternâncias no (e do) sistema de governo brasileiro nos


ajudará a
compreender que a democracia não é um sistema fechado ou concluído. A
democracia enfrenta
constantes metamorfoses no que diz respeito
à representação do povo e aos mecanismos de ação para
a concretização de políticas
diversas. Vejamos...

O período Imperial, iniciado em 1822 (com a Independência), encerrou-se no


dia 15 de novembro de
1889, quando foi proclamada a República no Brasil.


Nesse momento, os militares estiveram à frente do governo brasileiro.


O Marechal Deodoro da Fonseca assumiu a Presidência da República em 1891,
renunciando em
novembro do mesmo ano e sendo sucedido por seu vice, Floriano
Peixoto.

Nomeado de Primeira República (ou República Velha), o período entre os anos de 1889 a
1930 foi
marcado por forte apoio popular contra os monarquistas. As oligarquias agrárias
dos estados de São
Paulo e Minas Gerais possuíam
uma forte influência e, por isso, alternavam-se constantemente no
poder. Essa
alternância de presidentes civis ficou conhecida como “política do café com leite”

Fonte: EnsineMe.
O fim da Primeira República ocorreu com a Revolução de 1930, quando Júlio Prestes havia
vencido as
eleições. Dentre os anos de 1930 a 1934, Getúlio Vargas assumiu
provisoriamente o Estado, abrindo as
portas para a chamada Era
Vargas.

Essa Revolução – ou seja, a tomada do poder pelas armas – aconteceu porque forças
políticas
nacionais, especialmente no sul e nordeste, não se viam representadas no
governo do país, já que as
Oligarquias de São Paulo e Minas
Gerais alternavam-se na Presidência. Essas forças viram em Getúlio
Vargas a chance de
chegarem à liderança Nacional.

Em 1934, realiza-se uma Assembleia Nacional Constituinte. Nasce, então, a Segunda


República.

Fonte: Wikipédia

É nesse período que entram para a história brasileira o voto secreto,


o voto de mulheres, o ensino
primário obrigatório e as leis
trabalhistas. Três anos depois, Vargas promulga uma nova
Constituição,
em
que a liberdade partidária havia sido suprimida, assim como a
independência dos Três Poderes e o
federalismo. Com o fechamento do
Congresso Nacional, criou-se o Tribunal de Segurança Nacional, e o
presidente
escolhia quem seriam os governadores e, estes, nomeariam os
prefeitos. Era o Estado Novo
(1937 – 1945).

As eleições livres para o cargo de presidente e para o Parlamento


aconteceram apenas em 1945.
Vargas, que havia sido eleito senador,
em 1951, tornou-se presidente pelo voto popular. Seu projeto
tinha a
criação
da Petrobrás como pauta para um governo desenvolvimentista. O
período Vargas
terminou com seu suicídio em agosto de 1954. Um ano
depois, o Brasil ascendeu para a industrialização
com Juscelino
Kubitschek.

Fonte: Wikipédia

Fonte: Wikipédia

Para concluir essa primeira etapa de transições, Jânio Quadros foi


eleito presidente em 1960. Quadros
permaneceu apenas sete meses no
cargo, e seu vice, João Goulart (Jango), deveria assumir a
presidência.
Jango, além de ser simpático à Revolução Cubana, tinha como projeto
político a reforma
agrária e a nacionalização (ou encampação) de
empresas estrangeiras. Essas ideias não encontraram
apoio entre
militares,
proprietários de terras, empresários, latifundiários. Por isso, os
militares que
ocupavam cargos de ministros não queriam empossar
Jango, pois o consideravam “de
esquerda”.

"DE ESQUERDA"

Lembremos que, nesse período, em âmbito mundial, vivíamos a


Guerra Fria, que polarizava
Capitalistas de um lado
(direita), liderados pelos EUA; e Socialistas
(esquerda)
de outro, liderados
pela URSS. Essa polaridade também existia no
Continente Americano, incluindo, portanto, o
Brasil.

Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul (1961), criou um manifesto para que
Jango, seu
cunhado, fosse devidamente empossado. Tais ações e reações gestaram uma crise
política que teve
seu desdobramento com a emenda
constitucional que aprovou o regime parlamentarista no Brasil.
Todavia, no ano de 1963,
o presidencialismo foi votado por plebiscito realizado por Jango.

Os discursos de Jango em favor das reformas aumentaram a crise política e, no dia 31 de


março, os
militares organizaram-se contra o vice-presidente – que acabou se exilando no
Uruguai. Com a tomada
do governo pelos militares,
chefes militares e filiados da União Democrática Nacional (UDN), o golpe
começou a ser
desenhado. No ano de 1968, o regime militar decretou o Ato
Institucional nº 5, conhecido
também como AI-5, em que a
ditadura civil-militar fora implantada de maneira plena.

Durante os anos 1969-1974, o governo do general Emílio Garrastazu Médici foi reconhecido
por muitos
como responsável pelo desenvolvimento econômico, chamado de “milagre
brasileiro” ou “milagre
econômico”. Sua política buscou
o arrocho salarial, resultando em altas
taxas de lucro e concentração
de renda, até a crise do petróleo em 1973.
O contexto político-social fora marcado pelo êxodo rural
somado ao crescimento
industrial vertiginoso, por isso falava-se em “milagre econômico”. Todavia, após
anos de
recessão, o desenvolvimentismo assumia a feição conservadora,
antidemocrática e antipopular;
chegara-se ao ápice da produção industrial que, mais
tarde, na década de 1990, o neoliberalismo viria
para solapar.

Paes (1997) descreve que a década de 60 teve, além de crescimento econômico, um


desenvolvimento
tecnológico que atingiu a todos, indistintamente. Essa declaração é
arriscada, uma vez que a economia
brasileira viveu sua crise
entre 1961 a 1966 e a mudança de vetor no que tange ao crescimento
industrial da
ditadura acontece após 1969, por conta desse processo de industrialização (indústrias
automobilísticas, produtos eletrônicos etc.) e do AI-5,
que pôs fim às agitações e mobilizações contra o
novo regime.

Afinal, houve ou não o “milagre econômico”?

O “milagre” deu-se pela incorporação da economia brasileira ao capitalismo monopolista,


pelo arrocho
salarial, pelo aumento da taxa de
mais-valia, pela exploração do trabalho respaldada por
um governo
autocrático e autoritário (FERNANDES, 2006).

ARROCHO SALARIAL

Caso em que o reajuste salarial não acompanha a inflação.

A massa dos trabalhadores, que fazia o trabalho


manual e pesado, no campo e na cidade, nas fazendas
e nas
indústrias, teve o valor do salário diminuído, sem que diminuísse o
tempo ou a intensidade da
exploração.


Já os trabalhadores do “colarinho branco”,
gestores e burocratas tiveram uma fatia do bolo mais
expressiva.
Contudo, os maiores beneficiados foram as multinacionais, os grandes
monopólios
produtores de mercadorias
e serviços, e o recém-criado mercado financeiro e de capitais.

DA REDEMOCRATIZAÇÃO BRASILEIRA

Em 15 de março de 1985, deu-se o término da ditadura civil-militar no Brasil. Com a


redemocratização
do país, o ARENA mudou seu nome para Partido Democrático Social (PDS),
e o MDB para Partido do
Movimento Democrático Brasileiro
(PMDB). O pluripartidarismo abriu as portas para a criação do Partido
Trabalhista
Brasileiro (PTB), Partido Democrático Trabalhista (PDT), Partido Popular (PP), Partido
dos
Trabalhadores (PT). Essa era uma oportunidade
de novos rostos e novas representações da sociedade
no campo partidário (GOHN, 2019).

Em 1985, Tancredo Neves havia sido eleito através do voto indireto em 1985, mas faleceu
na véspera
de sua posse.

E O QUE SIGNIFICA O VOTO INDIRETO?


Historicamente, a Constituição de 1824 havia adotado o sistema do voto indireto,
em que os próprios
políticos votavam no lugar dos demais cidadãos. O processo
ocorria em dois graus, para as eleições
para a Câmara dos
Deputados e Senado. À época, os “cidadãos ativos” da paróquia escolhiam os
eleitores que, consequentemente, elegiam os parlamentares. Os
cidadãos eram aqueles que votavam
nas eleições de primeiro
grau; já o eleitor, nas eleições de segundo grau. Esse sistema
era utilizado na
França (1789-1820) e as etapas eram as seguintes:
primeiramente, as assembleias elegiam os
delegados para as assembleias
de departamentos; em seguida, os delegados escolhiam os deputados.
Tal modelo
também fora adotado em países como Espanha (1810) e Portugal (1822). No Brasil,
o voto
indireto foi utilizado durante o período do Império
e teve seu fim em 1881 (NICOLAU, 2012). Mas
retornaria, com o Regime Militar
(1964-1984), apenas sendo definitivamente eliminado com a
Constituição de 1988.

Com a redemocratização no Brasil, a população teve direito ao voto direto para a


presidência. Em 1989,
o país participou de dois turnos, em 15 de novembro e em 17 de
dezembro. O candidato eleito com
53,03% para a presidência
foi Fernando Collor de Mello, deixando seu oponente, Luiz Inácio Lula da
Silva, com
46,97%. Embora Collor tenha entrado para a história como o primeiro presidente eleito
pelo
voto direto após a ditadura, teve o término
de seu mandato antes do tempo devido a um impeachment
(GLASENAPP, 2018).

Fonte: EDER CHIODETTO/FOLHAPRESS

No cenário que antecedeu as eleições de 1989, tivemos a Constituição Federal


Brasileira de 1988.
Ela é a garantia de
direitos e deveres dos cidadãos brasileiros. Seu artigo 14 “estabelece que a
soberania
popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor
igual para
todos”. No Brasil, o voto é facultativo
entre 16 e 17 anos, sendo obrigatório a partir dos 18 anos. O voto
não é obrigatório
para pessoas acima de 70 anos e analfabetos.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA

Vale conferir o texto integral da Constituição Federal Brasileira, de


preferência em sua versão
digital (planalto.gov.br), onde é possível
identificar legislações complementares e alterações.

Fonte:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

DA REPRESENTAÇÃO (NA) POLÍTICA: QUESTÕES


TEÓRICAS

Os partidos políticos são importantes em uma democracia, pois são responsáveis por
garantir
representação diversa e posicionamentos contrários (agonísticos). A política
(MOUFFE, 2015) deve ser
caracterizada pelo agonismo,
e não pelo antagonismo, uma vez que este se refere aos grupos “nós” /
“eles”. Sendo que:
AGONISMO
No agonismo, “eles” são adversários políticos a serem vencidos com
as regras do jogo democrático.

ANTAGONISMO
No antagonismo, “eles” são interpretados como inimigos a serem
derrotados a qualquer custo.

Fonte: Wikipédia

Durante a ditadura civil-militar, os partidos foram extintos. Isso ocorreu em 27 de


outubro de 1965 com a
decretação do Ato Institucional nº 2 (AI-2), feita por Castello
Branco (GALVÃO, 2016). Os partidos
cumprem papel essencial
em um governo representativo, por isso a ditadura, buscando manter a
imagem democrática,
oficializou o sistema bipartidário com a Renovadora Nacional (ARENA), que
representava o
governo, e com o Movimento Democrático Brasileiro
(MDB), uma frágil e controlada
oposição. Entretanto, a representação da sociedade
brasileira na política nesse período foi alvo de
grandes críticas, tendo em vista a
pouca representatividade de camponeses, trabalhadores,
grupos não
elitizados, dentre outros.

AFINAL, O QUE SERIA A REPRESENTAÇÃO?


REPRESENTAÇÃO É
IMAGENS DE COISAS,
ESPECIALMENTE IMAGENS DE OBJETOS SIMPLES, NÃO
(SE DIZ QUE) OS “REPRESENTAM”. NÓS NÃO APONTAMOS
PARA A IMAGEM
DE UMA ÁRVORE OU DE UMA CASA OU
DE UMA MESA E DIZEMOS: “ISSO
REPRESENTA UMA
ÁRVORE (UMA CASA, UMA MESA)”. É PROVÁVEL QUE
DIGAMOS: “ISSO É UMA ÁRVORE”. […] “ISSO
REPRESENTA UMA ÁRVORE” É
O QUE PODEMOS DIZER
SOBRE UMA MANCHA COLORIDA OU UM RABISCO QUE
TENTA INDICAR UMA ÁRVORE, MAS NÃO SE PARECE COM
UMA.

(PITKIN, 1967, p. 68)

O que é representar alguém na política? E o que


deve fazer um representante? O representante é o
povo ausente? E quem é o povo?

Antes de responder a essas questões, é preciso reconhecer que “povo” não é uma categoria
econômica,
mas política. São pessoas submetidas a um governo. Desse modo,
“povo se opõe exatamente a
governo: povo e
governo são antípodas na relação de dominação política própria das mais
diversas
sociedades humanas” (MIGUEL, 2014, p. 20). O que conecta o povo à democracia
representativa são as
eleições (MANIN et al, 2006), ausentes
na ditadura civil-militar, pois a característica primordial de
qualquer ditadura é a
supressão de direitos.

Outro modo de entender a representação (PRZEWORSKI, 1994) é, ao se falar mandato público,


analisar
duas questões:

Os programas de governo.

Os candidatos que realmente podem


cumprir suas promessas.

Todavia, não se pode afirmar que o indivíduo eleito cumprirá o papel estabelecido pelo
partido nem as
promessas feitas aos seus eleitores.

 EXEMPLO
A votação da Reforma da Previdência ocorreu em julho de
2019 na Câmara dos Deputados. O PDT
havia orientado todos os seus membros a
votarem contra a Reforma. Porém, Tabata Amaral e outros 7
deputados contrariaram
o
partido. O PDT abriu um processo disciplinar contra eles, prevendo, inclusive,
expulsão. Em casos como esse, deveria haver (PRZEWORSKI, 1994), no mínimo, uma
obrigatoriedade
a fim de que o eleitor tenha certeza
de que sua escolha será respeitada.

No sistema democrático, a representação por prestação de contas


(accountability) acontece quando os
eleitores votam e o representante eleito
age de acordo com os interesses deles.

Mas essa maneira não é de toda eficaz, uma vez que os eleitores não possuem informações
completas
na prestação de contas. Daí, um outro aspecto ajuda a compreender essa forma
de representação: o
uso do voto – ou “pedras de
papel” (PRZEWORSKI, 1998, p. 49) – não apenas para a simples eleição,
mas também para
que o cidadão demonstre, por meio das informações que colheu sobre as atividades
passadas dos candidatos, uma maneira de punir ou
premiar os representantes. Nesse aspecto, a
racionalidade do “não voto”
como forma punitiva provocaria nos políticos uma atenção maior para
manterem-se
virtuosos.

Fonte: rafapress/ Shutterstock.com

No campo das instituições, eleições e representações, diversos autores (PRZEWORSKI, 1994;


SCHUMPETER, 1976; PITKIN, 1967) reconhecem as diferentes democracias e o nível de
representatividade popular dentre elas. Alertam, assim,
para o fato de que os eleitores devem ser
capazes de imputar responsabilidade sobre o
governo e de votar para retirar partidos com desempenho
insatisfatório.

Seguindo a categoria da representação, a teoria pluralista (DAHL, 1997) ajuda a


compreender como
cidadãos são guiados e se mobilizam por um entendimento
esclarecido de seus interesses. Em
outras palavras, só
haverá participação política dos indivíduos no momento que seus interesses
estiverem em
discussão. Isso faz com que a política seja reduzida a um processo de escolha e poderia
legitimar, inclusive, ditaduras paternalistas,
onde os cidadãos comuns receberiam de certas elites uma
cartilha de “verdadeiros”
interesses para toda a sociedade.

Se as eleições são a essência da democracia, como


fazer para que os atores da sociedade se envolvam
com a política, independentemente se
seus interesses estão ou não em pauta? O que se pode perceber
é que a democracia permite
maior representatividade e cobrança dos eleitores diante dos políticos,
todavia a
discussão acerca de uma representatividade substantiva do povo brasileiro, bem como os
processos de punição para o partido e/ou para o político
que não agem constitucionalmente, é cada vez
mais presente.

VOTO E DEMOCRACIA
O vídeo apresenta os dois conceitos, exemplificando a
importância do voto e diferenciando os sistemas
de eleição indireta ou direta.
VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. A DEMOCRACIA É UM SISTEMA DE GOVERNO EXERCIDO NO BRASIL. A


CONSTITUIÇÃO FEDERAL (CF) DE 1988 GARANTE, POR EXEMPLO, UM DOS
ELEMENTOS MAIS IMPORTANTES QUANTO À PARTICIPAÇÃO POPULAR, QUE É
O VOTO DIRETO E SECRETO. DE ACORDO COM O ARTIGO 14 DA CF, MARQUE
A ALTERNATIVA CORRETA:

A) O povo elege seus representantes para que, consequentemente, uma nova assembleia emposse
deputados, senadores e presidência da república.

B) Apenas cidadãos filiados a partidos políticos têm direito ao voto.

C) O voto é direto, secreto, com valor igual para todos.

D) A CF estabelece a soberania popular através do voto direto exercido exclusivamente por homens.

E) A CF estabelece a soberania popular por meio do sufrágio universal e pelo voto indireto e secreto,
com valor igual para todos.

2. NESTE PRIMEIRO MÓDULO, OBSERVAMOS ALGUNS CONCEITOS TEÓRICOS


NO CAMPO DA REPRESENTAÇÃO POLÍTICA. UM DELES É DO CIENTISTA
POLÍTICO NORTE-AMERICANO ROBERT DAHL. ASSINALE A RESPOSTA QUE
CORRESPONDE À SUA TEORIA PLURALISTA:

A) A teoria ajuda a compreender como cidadãos são guiados e se mobilizam de acordo com seus
próprios interesses.

B) A teoria ajuda a compreender como políticos são guiados e se mobilizam de acordo com seus
próprios interesses.

C) A teoria ajuda a compreender como cidadãos são devidamente representados na política brasileira.

D) A teoria ajuda a compreender como grupos identitários nacionais formam comunidades específicas
para serem devidamente representados.

E) A teoria ajuda a compreender como cidadãos são desfavorecidos com os partidos políticos.

GABARITO
1. A democracia é um sistema de governo exercido no Brasil. A Constituição Federal (CF) de 1988
garante, por exemplo, um dos elementos mais importantes quanto à participação popular, que é o
voto direto e secreto. De acordo com o artigo 14 da CF, marque a alternativa correta:

A alternativa "C " está correta.

O Art. 14 da Constituição Federal “estabelece que a soberania popular será exercida pelo sufrágio
universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos”.

2. Neste primeiro módulo, observamos alguns conceitos teóricos no campo da representação


política. Um deles é do cientista político norte-americano Robert Dahl. Assinale a resposta que
corresponde à sua teoria pluralista:

A alternativa "A " está correta.

Seguindo a categoria da representação, a teoria pluralista de Robert Dahl (1997, p. 132) ajuda a
compreender como cidadãos são guiados e se mobilizam por um “entendimento esclarecido de seus
interesses”.

MÓDULO 2

 Comparar as esferas pública e privada no


contexto do combate à corrupção

DO PÚBLICO E DO PRIVADO: PERSPECTIVA


TEÓRICA
O espaço é uma dimensão significante na sociedade. Pela plataforma antropológica, a
ocupação de
determinado território não ocorre somente por suas condições naturais, mas
também pelas estruturas
socioculturais daquela sociedade.

Fonte: MasaPhoto/ Shutterstock.com

A cidade caracteriza certa inovação das estruturas sociais e de seus


poderes.

Fonte: TEA OOR / Shutterstock.com

Carrega em si espaços identitários marcados por grupos sociais e por


um grupo étnico dominante.

Fonte: Caio Pederneiras/ Shutterstock.com

Moradores em bairros nobres e moradores em lugares periféricos.

Mas a cidade é muito mais do que a reunião de pessoas e recortes geográficos, ela
expressa uma
dimensão relacional, competitiva, de grandes embates emancipatórios.

Diante da complexidade das relações e da política que envolve a satisfação de demandas


sociais, temos
de refletir sobre os conceitos e os limites entre o espaço público e o
privado. Teórica e objetivamente,
podemos compreender
que:

ESFERA PÚBLICA
A esfera pública é um espaço em que indivíduos públicos e privados
discutem os assuntos públicos.
ESFERA PRIVADA
A esfera privada é dimensão em que o sujeito possui certa
autonomia/autoridade sem a intervenção do
Estado, como no ambiente familiar, a
religião etc.

O sociólogo alemão Jürgen Habermas explora tanto o surgimento


quanto a desintegração da esfera
pública, com o surgimento
do consumo em massa de notícias e afins. No campo teórico, o conceito de
esfera pública
pode ser definido como o espaço formado de indivíduos reunidos para discutir as
necessidades da sociedade, do Estado, da política.
Habermas (2003) estudou a esfera pública
concentrada nas mesas aristocráticas dos
séculos XVII-XVIII. Em síntese: a burguesia defendia que,
para se frequentar a esfera
pública, era necessário apresentar comportamento culto,
condições de
argumentação e para o debate, entre outras características semelhantes.

JÜRGEN HABERMAS

Jürgen Habermas (1929) é um filósofo alemão e um dos mais influentes


sociólogos do pós-guerra.
É conhecido por suas teorias sobre a razão
comunicativa e considerado um dos mais ilustres
representantes da segunda
geração da Escola de Frankfurt.

Fonte: ebiografia.com

O autor elucida as categorias do que é público e


privado a partir da origem grega. Tais categorias
foram transmitidas
pelos preceitos romanos durante a Idade Média e somente no Estado moderno
ganharam aplicação processual jurídica. Na Grécia Antiga, o patriarca protagonizava o
contexto familiar
de modo que todos os membros estavam submetidos a ele. O patriarca
(homem livre) era aquele que
exercia sua liberdade
na esfera pública. Habermas demonstra, com a leitura dessa estrutura, que as
duas
esferas representavam um único poder.

Fonte: Joyce Nelson / Shutterstock.com

No que se refere à sociedade feudal, não poderia comprovar uma separação


entre as esferas, uma vez
que o senhor fundiário era a representação do
poder. Para Habermas (2003, p. 20), trata-se
de uma
representação da dominação, “ao invés de o fazer pelo povo, fazem-no perante o
povo”. Essa ideia de
representação está ligada intrinsecamente a atributos de
determinado ator social, cujo código
comportamental é classificado
como nobre.

 EXEMPLO

No Brasil, o conceito de patriarcalismo


já foi utilizado para explicar, por exemplo, o tema da corrupção –
que veremos
na próxima seção.

A Europa (séc. XVII-XVIII) é o local de origem da esfera pública burguesa, indivíduos


privados que se
reuniam para debater com as autoridades a regulação da sociedade civil e
a própria conduta do Estado.
Por isso, a esfera
pública passou a guardar relação direta com as questões políticas.

Como poucos sabiam ler, a imprensa produzia para a esfera pública composta pelo leitor
burguês.
Somente a comercialização da comunicação de massas transformou o que era foro
privilegiado de
debate em outro campo de consumo
cultural. A esfera pública se converteu em um mundo fictício
controlado pela chamada
indústria cultural (ADORNO; HORKHEIMER, 1985).

SAIBA MAIS SOBRE INDÚSTRIA CULTURAL


O termo nasceu em 1947, quando os autores se propuseram analisar o mundo das
artes em relação aos
avanços da tecnologia produzidos pela Revolução Industrial
e pelo capitalismo. Indústria cultural se
refere à produção
em massa, muito comum nas indústrias, nas fábricas, e que foram adaptadas à
produção de artes. Em outras palavras, a indústria fomenta (com as técnicas do
sistema capitalista) uma
nova forma de se produzir arte
e cultura. Exemplo: se o filme com gênero aventura possui um
consumo
expressivo, a indústria cinematográfica se concentrará nesse tipo de
produção; se a música pop gera
lucro, a gravadora buscará
músicos que produzam tal conteúdo. Podemos concluir que os objetivos da
indústria cultural visam:

Ao lucro

À manutenção do pensamento dominante para


que a cultura se mantenha como processo de
manobra da população.

Esse segundo elemento traz uma questão complexa no que se refere à produção por
demanda, pois a
produção também pode ser inovadora para se construir uma nova
forma de dominação.

Habermas (2003) aponta que, no transcorrer da história, leitores se transformam em


consumidores de
informações sensacionalistas (modelo considerado altamente comercial). A
esfera pública se
transforma, portanto, em teatro e
faz da política (nesse caso, a democracia) um espetáculo de
manipulação em que líderes e
partidos buscam rotineiramente o consentimento de uma população
despolitizada. Por conta
disso, Habermas considera que a esfera pública
só pode ser reconstruída
quando:

O princípio crítico de
publicidade é afirmado e colocado em prática.

Os processos burocráticos e de tomadas de decisões


do Estado são limitados e devidamente
controlados.

Os conflitos de interesses estruturais são


relativizados.

E QUANDO PODEMOS DATAR A SEPARAÇÃO ENTRE


AS ESFERAS?
RESPOSTA

Pelo menos teoricamente, ocorre no contexto moderno.

O século XVIII foi palco de um processo de polarização onde o poder feudal, representado
pela Igreja,
foi esfacelado, resultando na distinção entre público e privado. Habermas
aponta que, nesse ambiente,
surgiu a esfera pública
burguesa, na qual a movimentação de mercadorias e de informações constituiria
o próprio
comércio capitalista oitocentista. Como podemos perceber, a concepção histórica da
esfera
pública burguesa possui alguns níveis, e um deles é o nível da história socioeconômica, o que acentua o
caráter de classe (SILVA,
2002).

Habermas (2003) explica ainda que a interpenetração entre Estado e sociedade resulta da
seguinte
dialética:

Por um lado, encontra-se a transferência de


competências do Estado para grupos corporativos da
sociedade.


Por outro lado, está a estatização da sociedade
quando o Estado se estende aos setores privados –
onde a esfera
pública burguesa desenvolveu-se.

Ele entende que o sistema capitalista explica a centralização do poder estatal e sua
intervenção na
sociedade influenciada sobretudo pela classe burguesa. Todavia, a
repolitização da esfera pública
formada
por indivíduos privados fez com que a família patriarcal burguesa perdesse determinadas
funções. Como consequência, a família se ocupou cada vez mais do privado, enquanto a
esfera social
do trabalho inclinou-se mais ao
público.

Mesmo com a mudança estrutural familiar, o que


ajudou a distinguir o público do privado, houve uma
nova configuração na relação entre
as esferas, chamada de “refeudalização da esfera pública”.

Isso ocorre quando a esfera pública da sociedade civil assume características feudais,
por exemplo a
linguagem na mídia. O poder seria garantido pela
linguagem, em que a leitura de livros, revistas e
outros
ocorreria por meio de consumo acrítico pelas famílias. Aqui, retomamos a questão da
indústria
cultural. Sociologicamente, o declínio da esfera pública literária resulta em
dois grupos:

Fonte: Golden Brown / Shutterstock.com

O grupo de especialistas, capazes de construir discurso público.

Fonte: oneinchpunch / Shutterstock.com

A massa de consumidores acríticos e passivos.

A política é um alvo em potencial quando falamos desse tipo de produção. No Brasil, por
exemplo,
políticos contratam profissionais em marketing a fim de venderem uma
imagem ideal para os eleitores;
os seus
discursos são montados para “agradar à freguesia”. As categorias políticas, econômicas e
sociais são utilizadas por elites para desviarem a atenção dos reais problemas do país.
Uma dessas
categorias é o patrimonialismo,
utilizado para explicar a fonte da corrupção nacional.
INDUSTRIA CULTURAL E O PÚBLICO/ PRIVADO
Assista ao vídeo a seguir para aprender mais a respeito do
conceito de Indústria Cultural e sua
interferência na percepção do
público/privado nas sociedades contemporâneas.

DO COMBATE À CORRUPÇÃO

A instrumentalização técnica é um traço marcante do capitalismo (DUFOUR, 2008). Ela


consome corpos
(“corpos produtivos”) e espíritos. A racionalidade liberal torna pessoas
em objeto, tratando-as como algo
negociável. A sua
única preocupação é com o lucro. O resultado dessa racionalidade é a
dessimbolização, ou seja, quando limites e valores da civilização são
tratados sem a devida
importância. Por exemplo, quando valores
como “liberdade” e “verdade” são discutidos e tratados como
mercadoria.

Fonte: fran_kie/ Shutterstock.com


A dessimbolização faz com que o indivíduo, o eleitor, o sujeito participante de uma
democracia, tenha
sua visão alterada, tornando-o cada vez mais acrítico. Uma das
ferramentas utilizadas para essa
dessimbolização é o esvaziamento
da linguagem. Esse esvaziamento representa a distorção da
realidade. Na
política, isso ocorre quando se reduz o adversário a “inimigo”, por meio da percepção
“antagônica” (MOUFFE, 2015) e os valores democráticos
não são devidamente considerados. Por fim, o
eleitor procura eleger a partir de
categorias morais e acríticas.

Nesse ambiente, até o combate à corrupção pode tornar-se mercadoria. Há autores que
consideram a
existência de consumidores ávidos pelo tema porque foram formatados para
absorverem quaisquer
notícias (CASARA, 2017). A publicidade
é uma face curiosa nesse processo: por um lado, o rendimento
de proprietários dos meios
de comunicação de massa; por outro, seu uso político para a construção de
“verdades” por
conveniência, ou seja, as fake news.

Diante de tantas notícias fabricadas, o que não é


verdade sobre a corrupção?

Não discutimos a sua existência, pois sabemos que ela existe em pequenas e grandes
escalas. Porém,
precisamos refletir, com base em autores nacionais, sobre como o combate
à corrupção passa por, pelo
menos, duas vias: a primeira
é a corrupção real tornada um produto (mercado), que pode ser atestada
pela exposição
teórica da seção anterior; a segunda, a discussão sobre o motor (os responsáveis) da
corrupção nacional. Saiba mais a seguir:

A CORRUPÇÃO COMO PRODUTO


O empobrecimento (esvaziamento) da linguagem tem como objetivo negar análises
mais sofisticadas,
havendo assim uma aproximação do anti-intelectualismo.
Esse é o papel (CASARA, 2017) do
neoliberalismo: substituir
a crítica pelo indivíduo acrítico e consumidor. As redes sociais, por
exemplo,
são uma ferramenta que favorece a ligeireza da leitura.

Pequenos textos são adequados ao gosto do


consumidor justamente para tornar a informação atrativa
e
incitar o seu compartilhamento em grupos familiares, de amigos e outros.

Poderíamos classificar como intenção de reproduzir


efeitos de verdade aquilo que foi imposto por
grupos
dominantes cujo interesse é moldar a realidade de acordo com suas ideologias
de mercado.

A corrupção, além de contribuir para uma divisão de classes cada


vez maior e impossibilitar que
serviços públicos de qualidade estejam a
serviço da sociedade, tornou-se uma espécie de espetáculo a
ser vendido. Um
dos elementos que fomentam tal espetacularização é a
moralização da política. A
causa de combate à corrupção no
Brasil, capitaneada pela Operação Lava Jato, por exemplo, ilustra
bem como a
moralização
da política incide sobre a lógica sistêmica da política, especialmente com a
condenação moral e jurídica da negociação entre partidos e políticos, o que
dificulta a formação de
maiorias governamentais e agrava
os efeitos da crise programática.

A intervenção da Lava Jato (REIS, 2017) no sistema político não


considera as características do sistema
que favorece as chances eleitorais
daqueles políticos envolvidos em esquemas ousados de
movimentação financeira
nada transparente. A operação observa a corrupção apenas como um
problema
moral na relação entre pessoas, e não como um problema das regras de
financiamento e da
organização do sistema eleitoral como um todo.
Com isso, destrói as estruturas formais e informais
específicas da política,
sem as quais o próprio sistema político não poderia se autotransformar no
sentido de enfrentar com eficácia a corrupção. Sem a estabilização
de relações de confiança na troca de
apoios e no ajuste informal de
interesses, o sistema político não consegue encadear decisões
coletivamente
vinculantes com o alcance e a eficácia necessários para um combate
institucionalizado da
corrupção.

As semelhanças com a moralização não religiosa são


evidentes: a política e o debate público são
transformados em polarizações
sensacionalistas que absolutizam o código moral que:

DIVIDE OS
ADVERSÁRIOS EM BINÁRIOS MANIQUEÍSTAS
QUE FACILMENTE
PASSAM DE UMA PAUTA
MACROSSOCIAL PARA O FOCO NA MORAL OU
ÉTICA DE
UM GRUPO OU INDIVÍDUO.

(MACHADO; MISKOLCI, 2019, p. 958)

No campo do combate à corrupção, isso cria oportunidades de poder para a


moralização religiosa na
política, especialmente com a vinculação entre
religião e meios de comunicação de massa. Esse vínculo
pode funcionar
como recurso para punição moral de políticos e partidos, que terá seu
desdobramento
em lucros e dominação.

O MOTOR DA CORRUPÇÃO NACIONAL


No Brasil, muito já se escreveu sobre o combate à corrupção. Um dos
principais fatores afirmados como
responsáveis pela corrupção é o sistema
patrimonialista. Mas é importante esclarecer que nosso país
não pode
ser classificado como o único em que a corrupção se encontra presente.

O Brasil (SOUZA, 2017; 2018) não protagoniza a corrupção no


mundo. Mas, para entender isso, é
necessário desmontar as categorias de
análise produzidas por intelectuais para se entender
a
sociedade brasileira e demonstrar que a desigualdade deve ser refletida a
partir da escravidão, e não da
herança de um Estado corrupto.

Um dos conceitos problematizados por Souza (2018) é justamente o


de patrimonialismo. Em relação à
desigualdade social, o
autor acredita que a classe média é vítima em todo o processo, mas, ao mesmo
tempo, um braço responsável por ampliar tal distanciamento social.
Manipulada pela mídia, essa classe tornou-se seletiva na
operação Lava Jato, por exemplo.

Segundo Souza, a fim de esconder a verdadeira corrupção da qual


o país é vítima, desvia-se a atenção
para o patrimonialismo enquanto a nação
é subtraída por transações globais.

A lógica do funcionamento do mercado e da elite dominante se


tornam invisíveis nessa conjuntura;
apenas a esfera estatal tem notoriedade.
Nesse ambiente, o ator social não consegue compreender o
que produz e como
produz – ou o que é produzido e como é produzido. Não é possível, portanto,
enxergar na esfera pública as relações de subordinação. Nesse ponto, exorta
que são as falsas ideias
que fazem as pessoas de tolas.
E o efeito de tolos é o produto do esforço para quem os engana e
oprime.

A causa fundamental do declínio do sistema democrático (CROUCH,


2004) é o desequilíbrio entre os
interesses corporativos e de outros grupos,
o que leva a face da política a ser novamente notada como
um negócio de
elites fechadas, como nos tempos pré-democráticos. Essa visão de Crouch
coaduna com
a de Souza (2018). Ambos acreditam que o motor da corrupção é o
mercado dirigido por interesses das
elites e que os políticos
seriam apenas a chamada “ponta do iceberg”.

INTELECTUAIS

Lançando mão de uma das principais obras do pensamento social brasileiro, a saber,
Raízes do
Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, Souza (2017, p. 8) aponta que o
sucesso desta obra
clássica ocorreu por conter ali
uma “narrativa totalizadora” e uma legitimação “para uma
dominação oligárquica e
antipopular com a aparência de estar fazendo crítica social”. O conceito
de
patrimonialismo utilizado para definir a política
nacional por Sérgio Buarque (seguido por
Raymundo Faoro, com definições históricas, e
Fernando Henrique Cardoso, que o transforma em
teoria) é apontado como uma ideia para
legitimar interesses econômicos de uma elite que,
além de
dominar o mercado, é a real fonte do poder e da corrupção no país, gerando,
assim, extrema
desigualdade social.

VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. VIMOS NESTE MÓDULO, A PARTIR DE J. HABERMAS, A DISTINÇÃO ENTRE
AS ESFERAS PÚBLICA E PRIVADA. ASSINALE ABAIXO A ALTERNATIVA NÃO
QUE CORRESPONDE AOS CONCEITOS:

A) A esfera pública é onde atores públicos e privados discutem assuntos públicos.

B) Não se pode comprovar a separação entre as esferas pública e privada na sociedade feudal.

C) A divisão das esferas pública e privada pode ser datada no contexto moderno.

D) Na sociedade grega antiga, o homem livre (patriarca) exercia sua liberdade na esfera pública.

E) A esfera privada é onde indivíduos públicos e privados discutem assuntos que dizem respeito ao
privado.

2. EXISTEM MUITAS JUSTIFICATIVAS E APONTAMENTOS SOBRE O


PROTAGONISMO DA CORRUPÇÃO NO BRASIL. A PARTIR DO QUE FOI
ESTUDADO, ESPECIALMENTE DOS FUNDAMENTOS DE A ELITE DO ATRASO:
DA ESCRAVIDÃO À LAVA JATO (SOUZA, 2017), PODEMOS AFIRMAR QUE O
CONCEITO QUE AJUDA A MASCARAR O VERDADEIRO MOTOR DA
CORRUPÇÃO NACIONAL É:

A) O patrimonialismo

B) A escravidão

C) A elite

D) A classe média

E) O mercado

GABARITO

1. Vimos neste módulo, a partir de J. Habermas, a distinção entre as esferas pública e privada.
Assinale abaixo a alternativa não que corresponde aos conceitos:

A alternativa "E " está correta.

Teórica e objetivamente, podemos entender a esfera pública como lugar em que indivíduos públicos e
privados discutem os assuntos públicos. Deve ser o ambiente em que se garante as ideias e os
posicionamentos dos indivíduos: sejam pessoais sejam representante de algum segmento da sociedade.
Isso não ocorreria, necessariamente, na esfera privada.

2. Existem muitas justificativas e apontamentos sobre o protagonismo da corrupção no Brasil. A


partir do que foi estudado, especialmente dos fundamentos de A elite do atraso: da escravidão à
Lava Jato (SOUZA, 2017), podemos afirmar que o conceito que ajuda a mascarar o verdadeiro
motor da corrupção nacional é:

A alternativa "A " está correta.

Souza alerta que, a fim de esconder a verdadeira corrupção da qual o país é vítima, desvia-se a atenção
para o patrimonialismo enquanto a nação é subtraída por transações globais.

MÓDULO 3

 Identificar os grupos identitários


nacionais no processo democrático

PERSPECTIVAS TEÓRICAS DA DEMOCRACIA


INCLUSIVA
O filósofo político e economista Takis Fotopoulos (1997) fundou o movimento
democracia inclusiva.
Em sua visão, não se trata de uma teoria, mas de
experiências recolhidas da história produzidas por
setores
socialistas e democráticos. Sua obra Towards an inclusive democracy (Rumo a uma
Democracia
Inclusiva) é uma resposta tanto ao triunfo do neoliberalismo quanto ao que
ele entende por fracasso do
socialismo.

Fonte: Wikipédia

Fotopoulos (1997) oferece uma alternativa filosófica diante da crise mundial da


concentração do poder
em determinada esfera.

A sociedade possui esferas distintas, mas que se conectam, como a política, a


economia, a ecologia etc.


Quando o poder é concentrado apenas na economia, por exemplo, os outros
quadros são impactados
negativamente.

Embora o filósofo grego seja um crítico do socialismo dos países comunistas antigos, seu
argumento
reage contra os social-democratas, uma vez que estes entendem que o controle
estatal do mercado é
suficiente para se alcançar
a justiça social.

Fotopoulos responsabiliza o neoliberalismo pela


crise social e ambiental, que cresce constantemente, e
sugere como resposta a
democracia inclusiva. Em sua visão, a extensão do mercado jamais foi
algo
inevitável.
A história do sistema capitalista não se trata apenas de acumulação de capital, mas do
resultado de lutas entre o grupo que controla o mercado e o restante da sociedade.

MAS O QUE SIGNIFICA DEMOCRACIA INCLUSIVA?


RESPOSTA

Fotopoulos a define do seguinte modo:

A ESTRUTURA INSTITUCIONAL QUE VISA À DISTRIBUIÇÃO


IGUALITÁRIA DO PODER POLÍTICO, ECONÔMICO E SOCIAL
[...] EM OUTRAS PALAVRAS, COMO O SISTEMA QUE VISA À
ELIMINAÇÃO EFETIVA DA DOMINAÇÃO HUMANA SOBRE
OUTROS SERES HUMANOS.

(1997, p. 206)

Importante lembrar que a democracia inclusiva não


é um modelo econômico, mas um projeto político
mais amplo e que integra a esfera em
questão.

A democracia inclusiva trata-se de uma forma de organização que busca reintegrar a


sociedade aos
temas da economia, da política e da natureza. Todas essas esferas são
impactadas pela concentração
de poder situada em grupos
de diferentes elites.

A democracia inclusiva seria a única capaz de viabilizar uma solução para sair da crise,
pois baseia-se
na distribuição igualitária de poder, e não na concentração. Em outras
palavras, nesse modelo
democrático, a esfera pública
não inclui apenas a esfera política (de tomada de decisões, do exercício
do poder
político), mas também a área econômica (exercício do poder político e
econômico) e a
ecológica (relações
entre a sociedade e a natureza). Neste caso, ao contrário da esfera privada, a
pública
abarca diferentes áreas em que decisões podem ser tomadas de maneira coletiva e
democrática. O modelo proposto por Fotopoulos não requer
uma espera para que haja sua evolução,
pois ele pode ser criado a qualquer momento. Em
suas palavras:

O OBJETIVO IMEDIATO DEVE SER A CRIAÇÃO, A


PARTIR
DE BAIXO, DAS CLASSES POPULARES DE PODER
POLÍTICO E ECONÔMICO, ISTO É, O
ESTABELECIMENTO
DE BASES LOCAIS E O DOMÍNIO PÚBLICO DA
DEMOCRACIA DIRETA E ECONÔMICA
QUE, EM ALGUM
MOMENTO, IRÁ CONFEDERAR A FIM DE CRIAR AS
CONDIÇÕES PARA O
ESTABELECIMENTO DE UMA NOVA
SOCIEDADE.

(FOTOPOULOS, 1997, p. 284)

Sua tese apresenta a democracia inclusiva como inevitável por causa da lógica do sistema
de mercado
capitalista e o poder de suas elites que, consequentemente, gerenciam a
cadeia de corrupção,
controlam as finanças, controlam
o próprio mercado e capitulam ao neoliberalismo. E quais são seus
argumentos? O autor
considera quatro componentes básicos. São eles: a democracia política/direta;
democracia
econômica; democracia social; democracia ecológica.
Vejamos as definições:

A DEMOCRACIA POLÍTICA OU DIRETA


A autoridade é do demos, do povo, na esfera pública. Em outras
palavras, na democracia política, é a
coletividade que toma as decisões
sobre assuntos políticos de maneira direta, sem representatividade,
uma vez que a democracia representativa não é eficaz, é uma falsa
representação do povo. Portanto, na
democracia direta, são as pessoas que
decidem de forma coletiva sobre todos os aspectos da vida
política.

A DEMOCRACIA ECONÔMICA
A autoridade do demos é exercida sobre a esfera econômica. Pessoas
responsáveis (maioridade), em
assembleia, decidem as questões econômicas que
interferem nas necessidades mais básicas da
sociedade, como
saúde, educação, segurança etc. Na democracia inclusiva, a propriedade
privada não
deve existir e os recursos produtivos devem pertencer ao
demos (que seria a propriedade demótica dos
meios de produção).
A DEMOCRACIA NO NÍVEL SOCIAL ABRANGENTE
Refere-se ao micronível, aos ambientes do trabalho, da casa, do espaço da
educação. A democracia
nessa esfera significa a distribuição igualitária do
poder.

A DEMOCRACIA ECOLÓGICA
Nesta esfera, o objetivo é criar condições objetivas e subjetivas de maneira
que cada indivíduo na
sociedade seja devidamente (re)integrado na natureza.
Aqui se pretende educar a consciência para que
a natureza
não seja interpretada/usada como objeto para se alcançar lucro, uma vez que
já existe uma
crise ecológica no mundo.

No Brasil, o modelo de democracia é o representativo, mas existem


grupos, conhecidos como grupos
identitários, que buscam relacionar a
ideia de representação com a distribuição de poder na
sociedade.
Vamos conhecer um pouco mais sobre esses grupos?

DAS POLÍTICAS AFIRMATIVAS: UMA OUTRA FACE DA


DEMOCRACIA
INCLUSIVA

Uma sociedade economicamente inclusiva requer representação política devida. Todos são
representados devidamente? Os grupos identitários auxiliam nesse processo?

O LIBERALISMO IDENTITÁRIO DEIXOU DE SER UM


PROJETO POLÍTICO E SE METAMORFOSEOU NUM
PROJETO DE EVANGELIZAÇÃO. A DIFERENÇA É A
SEGUINTE: EVANGELIZAR É DIZER VERDADES AO PODER.
FAZER POLÍTICA É CONQUISTAR O PODER
PARA
DEFENDER A VERDADE.

(LILLA, 2018, p. 18)

O autor norte-americano Mark Lilla cita o movimento de direitos civis, mas com a intenção
de
demonstrar como os direitos das mulheres, de homossexuais, dentre outros grupos,
foram beneficiados
com tal movimento. Discute ainda
a sociedade norte-americana e apresenta dados das décadas de
1970-80, em que cidadãos
passaram a se concentrar menos na relação com o país e mais com os
diferentes grupos
sociais. Sua visão crítica é que o identitarismo
torna o sujeito menos inclinado ao
debate político em escala nacional.

Fonte: Luiz Bueno/ Estadão

Por outro lado, o debate acerca da representação política, do multiculturalismo e das políticas de
reconhecimento no
Brasil encontra cada vez mais espaço. Importante ressaltar que dois elementos são
importantes no campo da democracia. O primeiro é a percepção quanto aos grupos
representados
politicamente; segundo, quanto aos grupos subrepresentados.

MULTICULTURALISMO

Convivência de grupos distintos em um mesmo espaço territorial.


Fonte: TheVisualsYouNeed / Shutterstock.com

A luz que se acendeu para a discussão nas últimas décadas trouxe à tona os conflitos
étnico-culturais e
apontou para a importância do reconhecimento público de minorias
discriminadas. Reconhecer o outro é
a possibilidade de
uma interação social mais saudável e menos conflituosa. O ato do reconhecimento
mútuo
constitui o processo de identificação e indica, consequentemente, a própria constituição
do ser
humano em sociedade.

Já na esfera do trabalho, onde a realidade contemporânea expõe o caráter


precarizador das
atividades, sujeitos excluídos, ou sem chances de inclusão, são
diretamente afetados econômica e
emocionalmente, com
relação à sua autoestima, autoconfiança, autoimagem etc.

O debate acerca de uma construção identitária no


Brasil, um país miscigenado e de desigualdades
sociais consideráveis, tem como foco a
luta pelo reconhecimento a partir dos valores comuns e
compartilhados, como dignidade,
liberdade,
igualdade, valor social, todos garantidos pela Constituição
Federal.

Nessa esfera do trabalho, há que se sublinhar que a lógica social é


marcada pela competitividade e
pelo sistema capitalista. Os chamados “diferentes”
possuem outras características sociais, étnicas e
raciais
e não conseguem se adequar ao modelo por questões históricas, por falta de paridade e
oportunidade, além de processos estruturais negativos construídos desde a colonização,
como o
racismo.

Neste aspecto, é importante ressaltar a defesa do contexto multicultural ligado à


necessidade de uma
política capaz de fomentar, nas instituições públicas, o
reconhecimento das diferenças e a defesa dos
direitos especiais aos
grupos que sofrem algum tipo de preconceito ou algo semelhante. Por essas e
outras, o
debate acerca dos grupos sociais, das identidades e da inclusão apresenta-se como
protagonista nas lutas de movimentos sociais no Brasil.

A discussão sobre demandas sociais possui dois


lados:
A defesa por políticas
distributivas, aproximando-se de um discurso sobre justiça.

A defesa por políticas de


reconhecimento e representação, onde se argumenta a necessidade de
reconhecer as
diferentes identidades dos grupos sociais.

E qual seria o ponto de convergência entre ambos? As estratégias


políticas buscam dar visibilidade
a grupos que são historicamente marcados pela exclusão
e vários tipos de violências, tentando
promover a paridade
de participação.

E O QUE SIGNIFICA AÇÃO AFIRMATIVA?


Trata-se de um conjunto de políticas em que todas as pessoas devem
ser tratadas de maneira
igualitária. A falta de oportunidades iguais é o fator
responsável por impedir o acesso desses indivíduos
a determinados lugares
de poder e de produção de conhecimento. Qualquer processo discriminatório
(racismo, xenofobia, machismo, homofobia) constrói estereótipos que resultam em
classificações de
subcidadania e precariedade civil, tais
como: pessoas inferiores ou incapazes etc. Essas ações
discriminatórias impedem
determinados grupos (LGBTQIA+, negros, mulheres, dentre outros) de
alcançarem o
devido reconhecimento e valorização social.

Para entendermos um pouco melhor, vamos imaginar as seguintes


situações, frequentes em nossa
realidade:

Um membro da comunidade LGBTQIA+ não é contratado para um


emprego devido ao seu gênero.

Uma mulher negra que, mesmo sendo qualificada, não consegue


lograr êxito na mesma empresa
em que trabalha um homem ou uma mulher branca.

Um jovem negro que, após entrevista de emprego, não é


contratado por não ter “aparência
desejada”.

O que há de semelhante em todos esses casos? Os


personagens em questão não correspondem ao
“modelo eurocentrado” (homem,
heterossexual, branco, cristão etc.) e, por conta disso, foram vítimas de
processos discriminatórios.
Muitas vezes, nesses casos, não há um tipo de punição para os
responsáveis pela
discriminação, que somente oferecem respostas neutras e/ou naturalizadas para
justificar suas ações. A ação afirmativa surgiu para tentar
transformar essa realidade.

O objetivo das ações afirmativas (GEMAA, 2011) é a política focal para combater todo o
tipo de
discriminação (étnica, religiosa, racial, gênero) e aumentar a participação de
minorias no processo
político, bem como no acesso
a questões básicas como saúde, educação, emprego, reconhecimento
cultural. Assim, não
apenas as políticas públicas, mas também as privadas, devem se voltar para o que
define
a Constituição Federal: a igualdade material,
neutralização da discriminação (de qualquer ordem),
dentre outras questões semelhantes.
E POR QUE AS AÇÕES AFIRMATIVAS SÃO VISTAS
COMO MEDIDAS
ESPECIAIS?

RESPOSTA

Porque agem com foco nos grupos excluídos/marginalizados. Elas são temporárias, pois
terminam após
alcançarem seus objetivos, e suas ações podem ser realizadas pelo
Estado ou por iniciativa privada.
Falamos do Brasil, mas
há muitos outros países com experiências em políticas afirmativas, por exemplo:
México,
Bolívia, Equador, Paraguai, Argentina, Peru, África do Sul, Índia, dentre outros.

Quais são as leis brasileiras com histórico de políticas afirmativas?

LEI 5.452/1943
LEI 5.465/1968
LEI 8.112/1990
LEI 9.504/1997
LEI 10.639/2003
LEI Nº 12.990/2014

LEI 5.452/1943
A Lei dos Dois Terços (5.452/1943), promulgada na era Vargas, em que 2/3 dos
trabalhadores de uma
empresa deveriam ser brasileiros.

LEI 5.465/1968

A Lei do Boi (5.465/1968), com reserva de vagas para agricultores e filhos de


agricultores nos ensinos
médio e superior.

LEI 8.112/1990

A Lei de Cotas (8.112/1990), em que portadores de deficiência física têm cotas para o
serviço público.

LEI 9.504/1997

A Lei de cotas para mulheres em candidaturas partidárias (9.504/1997).

LEI 10.639/2003

A Lei 10.639/2003, que tornou o ensino de História e da Cultura Africana obrigação no


sistema
educacional (público e privado) brasileiro.

LEI Nº 12.990/2014

Reserva aos negros de 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas nos concursos
públicos para
provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da
administração pública federal, das
autarquias, das fundações públicas,
das empresas públicas e das sociedades de economia mista
controladas pela União.

As políticas afirmativas pretendem subtrair do imaginário coletivo a ideia de


superioridade de um grupo
diante de outro, assim como denunciar as discriminações e
violências.

Fonte: EnsineMe.

Na esfera econômica, o objetivo é combater as


desigualdades, estabelecendo acordos de inclusão no
mercado de trabalho e
discutindo medidas de prevenção e enfrentamento ao racismo institucional.

Fonte: EnsineMe.

Na política, visa aumentar a representatividade


desses grupos identitários, construir cadastro de
programas de ações afirmativas
tanto nos três poderes do Governo, quanto em iniciativas privadas.

Fonte: EnsineMe.

Na segurança, busca reduzir as mortes por


homicídio da juventude negra.

Fonte: EnsineMe.

Na sociedade, tem como meta apoiar e criar


campanhas de conscientização e valorização do respeito
às diferenças.
IDENTITARISMO E REPRESENTATIVIDADE
Assista a seguir ao vídeo que irá esclarecer, por meio
de exemplos, a complexa relação entre os
conceitos de identitarismo e
representatividade.

VERIFICANDO O APRENDIZADO
Para desbloquear o próximo módulo, é necessário
que você responda corretamente a uma das
seguintes questões:
1. TAKIS FOTOPOULOS ESCREVEU SOBRE UM MOVIMENTO CONHECIDO
COMO DEMOCRACIA INCLUSIVA, OBSERVANDO EXPERIÊNCIAS DE OUTROS
MOVIMENTOS HISTÓRICOS. A DEMOCRACIA INCLUSIVA POSSUI ALGUNS
COMPONENTES. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE NÃO CORRESPONDE A
ESSES COMPONENTES:

A) Democracia direta

B) Democracia econômica

C) Democracia social

D) Democracia racial

E) Democracia ecológica

2. DE ACORDO COM AS AÇÕES AFIRMATIVAS QUE, SUMARIAMENTE, BUSCAM


A IGUALDADE E A JUSTIÇA NA SOCIEDADE, PODEMOS CONSIDERAR QUE
DETERMINADOS GRUPOS SOCIAIS NÃO SÃO, EM SUA GRANDE MAIORIA,
TRATADOS COM DISCRIMINAÇÃO NA SOCIEDADE BRASILEIRA.

À QUAL GRUPO ESTAMOS NOS REFERINDO?

A) Membros da comunidade LGBTQIA+

B) Membros das elites

C) Negros

D) Índios

E) Mulheres

GABARITO

1. Takis Fotopoulos escreveu sobre um movimento conhecido como democracia inclusiva,


observando experiências de outros movimentos históricos. A democracia inclusiva possui
alguns componentes. Assinale a alternativa que não corresponde a esses componentes:

A alternativa "D " está correta.

O autor considera quatro componentes básicos: a democracia política/direta; democracia econômica;


democracia social; democracia ecológica. Em sua proposta, não se apresenta minorias especificamente,
pois seu objetivo é abarcar todos os indivíduos em sua democracia inclusiva. Assim, a questão racial
estaria presente, por exemplo, na sua preocupação com a democracia social.

2. De acordo com as ações afirmativas que, sumariamente, buscam a igualdade e a justiça na


sociedade, podemos considerar que determinados grupos sociais não são, em sua grande
maioria, tratados com discriminação na sociedade brasileira.

À qual grupo estamos nos referindo?

A alternativa "B " está correta.

Essas ações impedem determinados grupos (LGBTQIA+, negros, mulheres, dentre outros) de
alcançarem o devido reconhecimento e valorização social. Embora o termo “elite” seja bastante
genérico, é senso comum que representa os indivíduos possuidores das condições sociais que os
estabelecem na sociedade, sem carências, em diversos âmbitos. E são exatamente tais carências que
necessitam ser suprimidas para que haja igualdade em um determinado grupo social.

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como observamos, a democracia não é um sistema totalmente consolidado, e sim um regime
que
necessita de constante recuperação, reestruturação
e renovação. Na história brasileira,
há registros
de eleições suspensas e indiretas, ditaduras, cassações políticas. A
democracia, embora não seja
perfeita, é o sistema que garante, minimamente, a
representação do povo. Ainda que, na prática, essa
representação
não contemple a todos, a política de ações afirmativas busca criar condições a fim de
que
o maior número de pessoas seja assistido. Embora haja diferentes argumentos, teorias
e projetos para o
sistema de governo, o Brasil
segue com sua democracia representativa, pluripartidária e eleições diretas
regulares.
Segue, igualmente, sua luta contra a corrupção, suas interpretações acerca da sociedade
e
suas lutas quanto a uma maior inserção dos
grupos “excluídos” em todos os setores.
FALA, MESTRE!
Mestres de diversas áreas do conhecimento compartilham as informações que tornaram suas trajetórias
únicas e brilhantes, sempre em conexão com o tema que você acabou de estudar! Aqui você encontra
entretenimento de qualidade conectado com a informação que te transforma.

A relação entre Estado e mercado

Sinopse: José Luiz Niemeyer, coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec RJ, e
Guilherme Benchimol, fundador da XP Inc, conversam sobre a relação entre o Estado e o Mercado.

Sinopse: José Luiz Niemeyer, coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec RJ, e
Guilherme Benchimol, fundador da XP Inc, conversam sobre a relação entre o Estado e o Mercado.

CONQUISTAS

VOCÊ ATINGIU OS SEGUINTES OBJETIVOS:

 Descreveu o panorama da
democracia no Brasil e seu sistema de representação

 Comparou as esferas pública e


privada no contexto do combate à corrupção

 Identificou os grupos
identitários nacionais no processo democrático
AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro:
Zahar, 1985.

BOBBIO, N.; et al (orgs). ). Dicionário de Política– Vol. 1.


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São Paulo, 2006.

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(2000-2015): uma
perspectiva comparada. Jundiaí: Paco Editorial, 2016.

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Thoth, 2018.

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aos impactos pós-junho de
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a uma categoria da
sociedade burguesa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.

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liberal no mundo pós-
políticas identitárias. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

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Lua Nova, nº 67, p. 105-
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Paulo: Ed. Unesp, 2014.

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Janeiro: Zahar, 2012.

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política. 4ªed. São Paulo: Ática,
1997.

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Rio de Janeiro:
Relume-Dumará, 1994.

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Democracy. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.

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2017.

SCHUMPETER, J. A. Capitalism, Socialism and Democracy. New York: Harper


Perennial, 1976.

SILVA, F. C. Espaço público em Habermas. Lisboa: Imprensa de Ciências


Sociais, 2002.

SOUZA, J. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro:


Leya, 2017.

__________.Subcidadania brasileira: para entender o país além do


jeitinho brasileiro. Rio de Janeiro:
Leya, 2018.

EXPLORE+
Para aprender um pouco mais sobre o complexo conteúdo abordado neste tema, recomendamos:

O documentário Ditadura Militar no Brasil: de 1964 a 1985, produzido


pela TVEscola, e disponível
em portais de vídeo, como
YouTube.

O filme O que é isso, companheiro?, distribuído pela Columbia


TriStar Filmes do Brasil, sobre a
luta armada durante o período do regime
militar, no país.

A entrevista O que é democracia inclusiva?, de T. Fotopoulos,


concedida a Oliver Ressler, em
2003, e disponível em portais de vídeo,
como YouTube.

A reportagem O cisma do século 21, publicada na Folha de São


Paulo, em 24 de abril de 2005,
que apresenta o diálogo entre Jürgen
Habermas e o então Cardeal Joseph Ratzinger
sobre as
bases pré-políticas e morais do Estado
democrático. 

O artigo Uma homenagem ao bom senso, de  Walter Williams, um dos


maiores economistas do
séc. XX, apresentando sua visão acerca da
Ações Afirmativas.

Artigo Os três cabos de guerra que vigoram no Brasil, de  Helio


Beltrão, acerca da atual
Democracia Brasileira.

O livro História do Brasil, de Bóris Fausto, que apresenta


todo o processo de transição, desde o fim
da Primeira República
de forma clara e com grande aprofundamento.

O site oficial da Agência Câmara de Notícias, onde você


pode conhecer melhor  a história do voto
no Brasil.

O texto integral da Constituição, de preferência em sua


versão digital encontrada na no site oficial
do Planalto, onde também
é possível encontrar legislações
complementares e alterações.

CONTEUDISTA
Nelson Lellis Ramos Rodrigues

 CURRÍCULO LATTES

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