Náusea e vômitos são sintomas comuns em pacientes com câncer,
seja pela própria doença, seja pelo tratamento realizado. Independente da causa, este sintoma tem importante impacto na qualidade de vida e estado nutricional dos pacientes. Na tentativa de oferecer o melhor tratamento possível aos pacientes, estes sintomas devem ser prevenidos e tratados de maneira correta. Em pacientes recebendo quimioterapia, a incidência, prevalência e intensidade da náusea/vômitos depende de vários fatores, sendo os mais importantes o risco emético da quimioterapia e variabilidade dos pacientes. O risco emético dos quimioterápicos foi definido por Hesketh (vide tabela 1). Para combinações, as seguintes regras se aplicam: 1. A adição de agentes nível 1 não contribuem para o poder emetogênico da combinação 2. A adição de 1 ou mais agentes nível 2 aumenta o poder emetogênico da combinação em 1 nível acima do agente de maior poder 3. A adição de 1 ou mais agentes nível 3 ou 4 aumenta o poder emetogênico da combinação em 1 nível para cada quimioterápico
Tabela 1 – Risco Emético dos Principais Quimioterápicos utilizados em
Carmustina>250mg/m2 Cisplatina>50mg/m2 Ciclofosfamida>1500mg/m2 Dacarbazina Procarbazina 2 – Estratificação de Risco
A estratificação de risco emético de cada paciente será realizado
durante a primeira internação, sendo então realizada a programação de profilaxia anti-emética para os ciclos de quimioterapia. No caso de transplante de células tronco hematopoéticas (TCTH), a estratificação de risco será realizada pela equipe de enfermagem, durante a avaliação pré-TCTH.
3 – Tratamento
A profilaxia anti-emética é mais importante e mais fácil de ser realizada
do que o tratamento da náusea/emêse. Portanto, todo paciente deve ser avaliado e iniciado a profilaxia antes do início da quimioterapia. Os anti-eméticos são classificados conforme o seu índice terapêutico. São considerados anti-eméticos de alto índice terapêutico os antagonistas 5-HT3 (ondansetrona e granisetrona), os corticoesteróides e os antagonistas do receptor na neuroquinina-1(aprepitanto). Os agentes com baixo índice terapêutico são a metoclopramida, fenotiazinas e benzodiazepínicos. 3.1 – Pacientes de Alto Risco
Para pacientes de alto risco, a associação de antagonistas 5-HT3,
corticóides e inibidores da neuroquinina-1 é recomendada, principalmente na vigência do uso de derivados da platina, pelo risco de náusea/êmese tardia. Em caso de uso do aprepitanto, a dose de corticosteróides (dexametasona) deve ser diminuída em 50%.
3.2 – Pacientes de Risco Intermediário
No caso de pacientes de Risco Intermediário, a associação de antagonistas
5-HT3 com corticóides é recomendada, sendo que em caso de quimioterapia realizada em um único dia, uma das duas medicações deve ser mantida por 48 a 72 horas após o término, para evitar o risco de náusea tardia.
3.3 – Pacientes de Baixo Risco
Dose única de corticóides ou de antagonista 5-Ht3 são suficientes
neste caso. Nenhuma profilaxia para náusea tardia é necessária. Tabela 2 – Profilaxia anti-emética sugerida no HIAE Risco Emetogênico Medicação Recomendada Mínimo (<10%) Nenhuma Baixo (10 a 30%) Ondansetrona 8mg 8/8h OU Dexametasona 12mg/dia OU Metoclopramida 10-40mg 6/6h Moderado Antes da Quimioterapia: Aprepitanto 125mg E Dexametasona 12mg E Ondansetrona até 32mg/dia Nos dias subseqüentes: Aprepitanto 80mg D2-D3 E Dexametasona 12mg/dia E Ondansetrona até 32mg/dia Alto Antes da Qtx: Aprepitanto 125mg E Dexametasona 12mg E Ondansetrona até 32mg/dia Nos dias subseqüentes: Aprepitanto 80mg D2-D3 E Ondansetrona até 32mg/dia
OBSERVAÇÃO: Dexametasona em TCTH alogênico deverá ser utilizado
SOMENTE em casos de náuseas e vômitos de difícil controle quando todos os outros agentes foram utilizados, SEMPRE após discussão com preceptor responsável.
No caso de náusea/vômito em vigência de profilaxia, a recomendação
inicial é a adição de um agente de classe diferente, como os agentes de baixo índice terapêutico. Caso não haja resposta, a profilaxia antiemética deve ser trocada pela profilaxia de alto risco. 3.4 – Náusea/êmese antecipatória
A terapia da náusea/êmese antecipatória deve ser realizada com o uso
otimizado de anti-eméticos em cada ciclo do tratamento. No caso de manutenção do quadro, medidas não farmacológicas, como relaxamento, acupuntura ou musicoterapia pode ser tentado. O tratamento farmacológico da náusea/êmese antecipatória pode ser realizado com benzodiazepínicos, como lorazepam 0,5 a 2mg na noite anterior e pela manhã, antes da quimioterapia.