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Aminoglicosídeos têm atividade bactericida 

dependente da concentração .
Esses antibióticos  ligam-se à subunidade 30S do ribossomo, inibindo assim a síntese
proteica da bactéria. A espectinomicina  é um antibiótico bacteriostático quimicamente
relacionado com os aminoglicosídeos.

Farmacocinética

Os aminoglicosídios são pouco absorvidos por via oral, mas são bem
absorvidos por peritônio, cavidade pleural, articulações e pele lesionada.

Os aminoglicosídeos costumam ser administrados por via IM se não houver


acesso venoso disponível. Os aminoglicosídios penetram bem no líquido
extracelula, exceto no humor vítreo, no líquido cerebrospinal, nas secreções
respiratórias e na bile (particularmente, na obstrução biliar). A injeção
intravítrea é necessária para tratar a endoftalmite. A injeção intraventricular
costuma ser necessária para obter níveis intraventriculares altos o suficiente
para tratar a meningite.

Os aminoglicosídios são excretados por filtração glomerular e possuem uma


meia-vida de 2 a 3 h; a meia-vida aumenta exponencialmente quando a taxa
de filtração glomerular cai (p. ex., na insuficiência renal ou no idoso).

Indicações para aminoglicosídeos


Os aminoglicosídios são usados para

 Infecções graves por Gram-negativos  (especialmente as decorrentes


de Pseudomonas aeruginosa)
São ativos contra a maioria dos bacilos aeróbios e anaeróbios facultativos
Gram-negativos, mas não têm atividade contra anaeróbios e a maioria das
bactérias Gram-positivas, exceto muitos estafilococos; entretanto, alguns
bacilos Gram-negativos e estafilococos são resistentes.
Aminoglicosídios que são ativos contra P. aeruginosa incluem tobramicina
(particularmente), gentamicina e amicacina. Estreptomicina, neomicina e
canamicina não são ativos contra P. aeruginosa. A gentamicina e a
tobramicina possuem espectro similar contra bacilos Gram-negativos, mas a
tobramicina é mais ativa contra P. aeruginosa e a gentamicina é mais eficaz
contra Serratia marcescens. A amicacina é frequentemente ativa contra
patógenos resistentes à gentamicina e à tobramicina.
Os aminoglicosídios não são frequentemente utilizados de modo isolado,
exceto para tratar peste bubônica e tularemia. Geralmente, são usados com
betalactâmicos de amplo espectro em infecções graves com suspeita de
espécies de bacilos Gram-negativos. Entretanto, por causa da maior
resistência aos aminoglicosídeos, a fluoroquinolona pode substituir essa
classe nos esquemas empíricos iniciais dependendo dos padrões de
suscetibilidade a fluoroquinolonas na comunidade local. Se o patógeno for
sensível ao tratamento antibiótico, o aminoglicosídeo pode ser suspenso após
2 ou 3 dias, exceto em caso de infecção por P. aeruginosa sensível aos
aminoglicosídeos.
A gentamicina ou, menos comumente, a estreptomicina pode ser utilizada
com outros antimicrobianos para tratar endocardite decorrente de
estreptococos ou enterococos. A resistência dos enterococos aos
aminoglicosídios tornou-se um problema comum. Uma vez que a terapêutica
da endocardite por enterococo requer uso prolongado de aminoglicosídios
que são potencialmente nefrotóxicos e ototóxicos, associados a fármacos
ativos contra a parede celular da bactéria (p. ex., penicilinas ou vancomicina)
para alcançar sinergismo bactericida, a escolha do aminoglicosídio deve ser
baseada principalmente em teste de sensibilidade in vitro. A alta sensibilidade
in vitro dos aminoglicosídios prediz quando baixas doses destes devem ser
associadas a um fármaco ativo contra a parede celular. Se a cepa é
suscetível a altos níveis de gentamicina e estreptomicina, prefere-se a
gentamicina porque níveis no soro podem ser prontamente determinados e a
toxicidade é menor. Altos níveis de resistência à gentamicina in vitro não
excluem a suscetibilidade dessas cepas de enterococos a altas doses de
estreptomicina; nesses casos, deve-se usar estreptomicina se essas cepas
são suscetíveis a níveis altos da estreptomicina.
Há poucas opções terapêuticas disponíveis para a endocardite por
enterococos resistentes a níveis altos de gentamicina e estreptomicina; não
existe nenhuma combinação de fármacos/aminoglicosídeos sinérgica com
atividade na parede celular na endocardite por essas cepas, mas a
combinação de ampicilinas e ceftriaxona ativas recentemente mostrou ser
eficaz e minimizar o risco de nefrotoxicidade. Muitos médicos começaram a
usar ampicilina mais ceftriaxona em vez de ampicilina com gentamicina para a
endocardite por Enterococcus faecalis, mesmo para cepas sem resistência
aos aminoglicosídeos, porque a eficácia é semelhante e a toxicidade é menor.
A estreptomicina apresenta uso limitado por causa da resistência e da
toxicidade. É usada para tratar tularemia e peste e, com outros
antimicrobianos, para tratar tuberculose. A canamicina ainda pode atuar no
tratamento de certos casos de tuberculose resistente a múltiplos fármacos em
combinação com outros antibióticos.
Por sua toxicidade, a neomicina é limitada ao uso tópico, em quantidades
pequenas. A neomicina está disponível para usos oftálmico, otológico, oral e
retal e como irrigante vesical. O uso oral como agente tópico contra a
microbiota intestinal inclui a preparação intestinal pré-cirúrgica e o tratamento
de coma hepático.

Contraindicações aos aminoglicosídios


Os aminoglicosídios são contraindicados para os pacientes alérgicos.

Uso durante a gestação e o aleitamento


Para os aminoglicosídeos, evidências sugerem risco fetal (p. ex.,
toxicidade auditiva), mas os benefícios clínicos podem superar o
risco. Se um aminoglicosídeo for usado durante a gestação ou se a
paciente engravidar enquanto estiver tomando um aminoglicosídeo,
ela deve ser informada sobre o potencial risco para o feto.

Os aminoglicosídios passam para o leite materno, mas não são bem


absorvidos por via oral. Portanto, são considerados compatíveis com
o uso durante o aleitamento.

Efeitos adversos dos aminoglicosídeos


Todos os aminoglicosídios produzem

 Toxicidade renal (em geral, reversível)

 Toxicidade vestibular e auditiva (em geral, irreversíveis)

 Prolongamento dos efeitos dos bloqueadores neuromusculares

Sinais e sintomas do dano vestibular são vertigem e ataxia.

Fatores de risco associados às toxicidades renal, vestibular e auditiva são


 Doses altas ou frequentes

 Níveis séricos muito altos

 Terapia de longa duração (em particular, > 3 dias)


 Idade avançada

 Doença renal preexistente

 A coadministração de vancomicina, ciclosporina ou anfotericina B,


contrastes iodados ou outras nefrotoxinas

 Para toxicidade auditiva, predisposição genética, problemas auditivos


preexistentes ou coadministração de diuréticos de alça

Doses elevadas administradas durante um longo período de tempo


tipicamente geram mais preocupação com a toxicidade renal, mas mesmo
doses baixas dadas por um curto período de tempo podem piorar a função
renal.

Pacientes que recebem aminoglicosídios por tempo superior a 2 semanas e


aqueles em risco de toxicidade vestibular e auditiva devem ser monitorados
por meio de audiogramas seriados. Ao primeiro sinal de toxicidade, o fármaco
deve ser suspenso (se possível) ou ter sua dose ajustada.

Os aminoglicosídios podem prolongar o efeito de bloqueio neuromuscular (p.


ex., succinilcolina ou fármacos similares ao curare) e piorar a fraqueza em
doenças que afetam a transmissão neuromuscular (p. ex., miastenia grave).
Isso ocorre em especial com a administração muito rápida ou quando níveis
séricos são excessivamente altos. Algumas vezes os efeitos são solucionados
mais rapidamente com neostigmina ou cálcio intravenoso. Outros efeitos
neurológicos incluem parestesias e neuropatia periférica.

Reações de hipersensibilidade são incomuns, exceto para dermatite de


contato por causa de neomicina tópica. Altas doses orais de neomicina
podem produzir má absorção.

Considerações sobre a dosagem de


aminoglicosídeos
Como os efeitos tóxicos dependem mais da duração dos níveis terapêuticos
do que dos níveis máximos, e como a eficácia farmacológica dependente
mais da concentração do que do tempo, evita-se a administração frequente. A
dosagem de 1 vez/dia IV é preferível à intermitente tradicional para a maioria
das indicações. Dose única/dia pode não ser preferível quando usada para
sinergia Gram-positiva (p. ex., endocardite enterocócica) ou em pacientes
gestantes, pacientes com queimaduras significativas (> 20% da área de
superfície corporal) ou que apresentam insuficiência renal (depuração da
creatinina < 40 mL/minuto). Aminoglicosídeos IV são geralmente infundidos
ao longo de 30 a 60 minutos.
Se o paciente está abaixo do peso corporal ideal, deve-se usar o peso
corporal total (PCT) para calcular as doses. Se o PCT for maior que o PCI,
mas inferior a 120% do PCI, a dosagem deve se basear no PCI. Se o PCT for
maior que 120% do PCI, deve-se utilizar o peso corporal ajustado (PCA) para
calcular as doses:

 PCI em kg (homens): 50 + [2,3 × (altura em cm/2,54] – 60)

 PCI em kg (mulheres): 45,5 + [2,3 × (altura em cm/2,54) – 60]

 PCA em kg: PCI + [0,4 × (PCT – PCI)]

CALCULADORA CLÍNICA:
Peso corporal ideal

Nos pacientes com função renal normal, a administração uma vez ao dia é

 Gentamicina ou tobramicina: 5 mg/kg (7 mg/kg se os pacientes forem


graves) a cada 24 h

 Amicacina: 15 mg/kg a cada 24 h

Se os pacientes responderem clinicamente à dose de 7 mg/kg de gentamicina


ou tobramicina e a função renal continua normal, a dose uma vez ao dia pode
ser reduzida para 5 mg/kg após os primeiros dias de terapia.

Os níveis séricos de pico devem ser determinados após a primeira dose em


pacientes em estado crítico. Em todos os pacientes, níveis máximos e
mínimos são medidos após a 2ª e a 3ª dose (quando a dose diária de
aminoglicosídio é dividida) ou quando a duração do tratamento durar > 3 dias,
bem como após alteração da posologia. A creatinina sérica é medida a cada 2
a 3 dias e, se estável, não é necessário medir novamente os níveis séricos de
aminoglicosídeos. A concentração máxima é o nível alcançado 60 minutos
depois de uma injeção intramuscular (IM) ou 30 minutos após o término da
infusão IV de 30 min. Níveis mínimos são medidos 30 minutos antes da dose
seguinte.
Na dosagem de 1 vez/dia, são desejáveis níveis de pico no soro de pelo
menos 10 vezes a concentração inibitória mínima (CIM). Esse nível de pico
desejado é tipicamente de 15 a 20 mcg/mL para a gentamicina (31,35 a 41,80
micromol/L) e a tobramicina (32,08 a 42,78 micromol/L). A dose é ajustada
para assegurar os níveis séricos máximos terapêuticos (para facilitar a
atividade dependente da concentração) e os níveis mínimos atóxicos. Em
pacientes criticamente enfermos, que têm probabilidade de aumentar os
volumes de distribuição e que recebem doses iniciais mais altas, os níveis
séricos máximos alvo são 16 a 24 mcg/mL para gentamicina (33,44 a 50,16
micromol/L) e tobramicina (34,22 a 51,34 micromol/L) e 56 a 64 mcg/mL
(95,65 a 109,31 micromol/L) para amicacina. Para a gentamicina e a
tobramicina, os níveis mínimos devem ser < 1 mcg/mL (< 2,09 micromol/L
para a gentamicina e < 2,14 micromol/L para a tobramicina) 18 a 24 horas
após a primeira dose no caso de dose única/dia, e entre 1 e 2 mcg/mL (entre
2,09 e 4,18 micromol/L para a gentamicina e entre 2,14 e 4,28 micromol/L
para a tobramicina) no caso da dosagem intermitente tradicional.
Para pacientes com insuficiência renal na dosagem intermitente tradicional, a
dose de ataque é a mesma que para pacientes com função renal normal; em
geral, amplia-se o intervalo entre as doses em vez de diminuir a dose. Há
diretrizes disponíveis sobre doses de manutenção com base em creatinina
sérica ou valores de depuração da creatinina (ver tabela Dosagem
intermitente tradicional para aminoglicosídeos em adultos ), mas não são
muito precisas e medição dos níveis séricos sanguíneos é preferível.
Quando os pacientes estão tomando altas doses de algum betalactâmico
junto com um aminoglicosídeo, os altos níveis séricos dos betalactâmicos
podem inativar os aminoglicosídeos em amostras de soro in vitro obtidas para
determinar os níveis do fármaco, a menos a amostra seja analisada
imediatamente ou congelada. Se pacientes com insuficiência renal receberem
concomitantemente aminoglicosídeos e altas doses de betalactâmico, a
concentração sérica do aminoglicosídeo pode diminuir por que a interação in
vivo é prolongada.

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