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UM RECIFE ESOTÉRICO.

A CRIAÇÃO E A EXPANSÃO DAS ORDENS


ESOTÉRICAS NA CAPITAL PERNAMBUCANA (1959-2000)

Diego Chaves Ramos Sampaio


Mestre em História-UFPB
diegochaves.r23gmail.com
Resumo
O desenvolvimento do Esoterismo Ocidental no Recife foi objeto de estudo em minha
dissertação de mestrado, intitulada de Esoterismo Ocidental e Nova Era: a Tradição
Inventada Presente na Trajetória da Antiga e Mística Ordem Rosacruz (AMORC) no
Recife/PE (1959-1981), defendida em 2020, onde pude discorrer mais especificamente a
respeito da AMORC. Levando-se em conta a amplitude do tema e a ausência de estudos
específicos, resolvi fazer um estudo inicial a respeito das demais Ordens Esotéricas que
estiveram presentes no Recife naquele período, além da AMORC, das quais destaco a
Sociedade Teosófica, Eubiose e o Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento. A
expansão desses grupos mostra que a cidade acolheu o Esoterismo Ocidental, de modo
que podemos pensar um Recife Esotérico. Destacamos que a divulgação feita por essas
Ordens nos jornais de grande circulação foram fundamentais para torna-las públicas e
atrair os recifenses para conhecer tais espaços.
Palavras-chave: Esoterismo Ocidental, Ordens Esotéricas, Recife.

Entre os anos de 1959-2000 foi presenciado na cidade do Recife a criação e a


expansão de diferentes Ordens Esotéricas, a exemplo da: I) Sociedade Brasileira de
Eubiose, II) Sociedade Teosófica, III) Antiga e Mística Ordem Rosacruz (AMORC) e,
IV) Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento. Estas ordens tem em comum o fato
de estarem inseridas dentro do Esoterismo Ocidental, este que é definido, de acordo como
Antoine Faivre (1994), como uma tradição de pensamentos presentes no Ocidente desde
o período Renascentista.

Consta-se a existência das Ordens Esotéricas na Capital Pernambucana durante o


século XX desde 1914, sendo o Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento a
primeira Ordem a chegar no Recife1. Este grupo chegou a ter outras filiais na cidade nos
anos posteriores, a exemplo do Tattwa Vivekananda (1924)2, Tattwa Parabrahma

1
A Província, 28 de Junho de 1914, N°174
2
A Província, Recife, 10 de Agosto de 1924.
(década de 30) e o Tattwa Prentice Mulford (década de 40 a 50). Porém, desses, somente
o Tattwa Cavalheiros da Luz (década de 50) ainda realiza suas atividades nos dias atuais.

A Sociedade Teosófica chegou ao Recife na década de 20, através da Loja


Theosophica Henry Olcott (1921)3. Além da Loja Henry Olcott, a Sociedade Teosófica
teve a Loja Teosófica Ghandi (1949) e a Loja Teosófica Estrela do Norte (1970) como
grupos ligados a esta Ordem no Recife. Atualmente, somente a Estrela do Norte está em
funcionamento. A chegada da AMORC no Recife se deu no ano de 1959, na denominação
de Pronaos Cavaleiros da Rosa, mudando posteriormente para o nome de Pronaos
Recife, em 1960. Este grupo se elevou nos anos subsequentes à Capítulo (1962) e Loja
(1971), estando em atividades no Recife desde a sua fundação. De todas as Ordens, a
AMORC é a que teve uma consolidação mais ampla quanto as atividades executadas e
aparições na mídia. Por fim, a Eubiose, embora tenha sido fundada em 1954 no Recife4,
encontramos as menções na mídia referidas ao grupo somente a partir da década de 70.

O período abordado nesta pesquisa se relaciona com o movimento da Contracultura,


iniciado na década de 1960 por jovens que criticaram os valores morais vigentes. Tais
questionamentos refletiram na espiritualidade, na busca por explicações fora das religiões
judaico-cristã. Este fenômeno ao atingir o campo espiritual é por nós compreendido como
movimento Nova Era, cujo contexto levou os atores sociais ao contato com ideias
esotéricas difundidas nos livros, músicas e em trechos de jornais a partir de meados do
século XX, favorecendo o crescimento e a consolidação das Ordens Esotéricas.

1. O Esoterismo Ocidental na abordagem da História Cultural das Religiões:


da Fenomenologia à História.

Os estudos sobre o Esoterismo Inicial foram inicialmente abordados no meio


acadêmico por filósofos e pesquisadores das Ciências das Religiões, sobretudo com a
Fenomenologia. Dessa forma, o Esoterismo era muitas vezes visto como algo “acultural”,
“atemporal” e “universal”. Este posicionamento pode ser percebido através do

3
A fundação dessa Loja pode ser analisada no Jornal A Província, em 30 Maio de 1921.O nome Henry
Olcott era uma homenagem a um dos fundadores da Sociedade Teosófica, em 1875.
4
A Eubiose foi fundado inicialmente com o nome de Instituto Cultural Aquários, ligado à Sociedade
Teosófica Brasileira, nome da Ordem antes de 1969
pensamento de Pierre Riffard, conforme descreve Dione Lorena Tinti, em sua tese de
doutorado O comércio da Literatura Esotérica, implicações de um fenômeno sociológico
(2004)

A observação de Pierre Riffard (1996, p. 27), de que o esoterismo é um


fenômeno social sem ser um fenômeno cultural, pois, embora ele situe-se no
interior de uma coletividade, com estatutos, sujeição de seus discípulos aos
instrutores etc., de alguma forma ele permanece exterior às instituições, mesmo
daquelas mais intelectuais ou espirituais, assim como também vive à margem
dos costumes, da língua comum, da educação. (TINTI, 2004, p.88)

O argumento, segundo Riffard, seria de que a cultura pode ser compreendida como
“um conjunto de valores e conceitos, comportamentos e técnicas transmitidos por uma
sociedade” (RIFFARD, 1996, p.27), onde o Esoterismo, embora seja ensinado pela
transmissão, a mesma não seria pela via cultural, mas sim por “imitação ou educação
(TINTI, 2004, p.88). Riffard também elabora o entendimento de “Esoterismo Universal”,
como se ele estivesse presente na sociedade desde os primórdios da humanidade,
independente da historicidade.

Com a virada cultural dos anos 70, os historiadores expandiram os estudos


relacionados a Cultura e Sociedade, incidindo também nas Religiões. Com a noção de
que todo ser humano é um ser cultural (SERNA & PONS, 2013), trazendo esta análise
para o fenômeno religioso, temos um desdobramento do vasto universo da História
Cultural, cujo termo História Cultural das Religiões passou a ser utilizado por
pesquisadores que atuam nesta vertente de estudo. Para Pettazzoni (1883- 1959), “toda
religião é um produto histórico, culturalmente condicionado pelo contexto e, por sua vez,
capaz de condicionar o próprio contexto em que opera” (MAZZENZIO, 2005, p.149). A
visão utilizada pela História Cultural das Religiões, contudo, enxerga o fenômeno
religioso de maneira distinta da visão fenomenológica, conforme Eliane Moura da Silva.

para a fenomenologia religiosa, o fenômeno do sagrado não comporta apenas


o aspecto irracional: seria uma experiência de totalidade. A fenomenologia
religiosa analisa hierofantias, ou seja, as coisas onde o sagrado se manifesta e
a religião é considerada um fenômeno universal e humano. As diferentes
religiões seriam, simplesmente, manifestações de uma única faculdade humana
(SILVA, 2010. p. 12).

Como reflexo de estudo da História Cultural das Religiões no campo do


Esoterismo, podemos fazer o questionamento quanto as visões fenomenológicas de Pierre
Riffard, pois, ao dizer que o Esoterismo é um fenômeno universal e a acultural, deixa-se
de levar em conta as peculiaridades de como o Esoterismo se difundiu dentro da cultura
das sociedades em que esteve presente. O pesquisador Antoine Faivre criticou essa visão
de Riffard, sobre Esoterismo Universal

Faivre considera metodologicamente mais seguro partir do ponto de vista


empírico de que o esoterismo é uma noção ocidental, pois, ao contrário de
outras áreas culturais (Egito antigo, Extremo Oriente, civilizações ameríndias
etc.), o esoterismo ocidental tem estatuto próprio. O autor está ciente de que
existem palavras em outras partes que não o Ocidente que correspondem mais
ou menos ao esoterismo, mas que são carregadas de conotações diferentes e
sentidos diversos, e que, apesar de compreender a tentação de buscar-se suas
invariantes, considera difícil pensar-se em um “esoterismo universal” (TINTI,
2004, p.82)

Para Faivre, o Esoterismo Ocidental em si é uma forma de pensamento cuja base


central é definida pelas “componentes” ou “características fundamentais do Esoterismo”,
que se fizeram presentes no Ocidente durante o período renascentista.

Chamamos de Esoterismo no Ocidente moderno uma forma de pensamento


identificável pela presença de seis características fundamentais ou
componentes, distribuídos de acordo com uma dosagem variável dentro de seu
vasto contexto histórico e concreto. Quatro são intrínsecas no sentido de sua
presença simultânea ser necessária e suficiente para que um material de estudo
pertença ao Esoterismo. A elas vem acrescentar-se a duas, que chamaremos
secundárias, isto é, não fundamentais, cuja presença é frequente ao lado das
quatro outras (FAIVRE, 1994, p. 17).

Levando-se em conta o nosso estudo a respeito das Ordens Esotéricas, o conceito


proposto pelo autor Antoine Faivre será utilizado para a nossa abordagem, visto que a
Teosofia (Sociedade Teosófica e Eubiose), o Rosacrucianismo (AMORC) e o Círculo
Esotérico apresentam elementos ligados as componentes propostas por Faivre para
definição do Esoterismo Ocidental. Adotamos a História Cultural das Religiões como
abordagem teórica, visto que relacionamos a expansão das Ordens Esotéricas na cultura
ocidental, após meados do século XX, com o movimento Nova Era, que propiciou o
contato dos sujeitos históricos com as ideias esotéricas.

2. A Nova Era e o crescimento das Ordens Esotéricas

O ambiente de criticidade promovido pela Contracultura não tardou para que isso se
refletisse na maneira de como as pessoas concebiam os ensinamentos das religiões
judaico-cristãs. Por este motivo, a Nova Era surge como consequência desse período de
transformações culturais incidindo na espiritualidade.

O Pensamento New Age em geral se caracteriza por um padrão de crítica


cultural implícita ou explícita, que permeia o conjunto. Dentro do contexto do
New Age podemos encontrar uma ampla variedade de ideias e convicções, mas
há uma insatisfação com alguns aspectos do pensamento ocidental, conforme
encontrados na cultura contemporânea. Aqueles que são atraídos pelo New
Age não têm necessariamente ideiam muito explícitas sobre a vinda de uma
“nova era”, mas todos concordam que essa sociedade poderia ser diferente.
(HANNEGRAFF, 1998, p. 291, apud, MENDIA, 2013, p. 186).

A Nova Era teria possibilitado à troca de experiências culturais no âmbito


religioso, levando os indivíduos ao contato com diferentes correntes de pensamentos
espirituais e religiosidades. Dentre os pensamentos ligados à espiritualidade que teriam
se difundidos na Nova Era, destacamos o Esoterismo Ocidental.

Para a Nova Era, o termo esoterismo recebe a conotação de tudo aquilo que
está no interior do indivíduo, ainda de forma oculta, e que é passível de ser
desvendado e alcançado mediante práticas, procedimentos e estudos, cabendo
ao indivíduo a tarefa da descoberta. Ao contrário de se referir a uma tradição
histórica, passou a significar um tipo de religião que tem sua base em
elementos subjetivos focados na experiência interior (GUERRIERO, 2016,
p.15)

A popularização de oráculos, de mapas astrais e indivíduos que desejavam “tirar”


a sorte em leituras de mãos (quiromancia), despertavam a atenção da sociedade. Além
da astrologia e das Artes Divanatórias, leituras de pensadores como Helena Blavatsky,
Papus, Spencer Lewis, Aleister Crowley possibilitaram conhecer a Teosofia, o
Martinismo e o Rosacrucianismo. O Esoterismo Ocidental se popularizou no Brasil após
meados do século XX em diferentes formas: jornais, músicas, editoras de livros e,
sobretudo, pela expansão das Ordens Esotéricas. Amauri Oliveira explica que

[...] no século XX são as viagens dos gurus ocidentais ao Oriente, e de gurus


orientais ao Ocidente, locais como o Tibete, a Índia, ou o Japão, são apontados
como locais de “fonte de sabedoria”, a Nova Era emerge assim como processo
de convergência discursiva, mas também de práticas, que possibilita diversos
arranjos performáticos... No cenário brasileiro, a Nova Era também se delineou
a partir do século XX, ainda que possamos apontar à existência de sociedades
iniciáticas, no caso a maçonaria, já no século XVIII, no entanto, é a partir do
século XX que temos a proliferação da Sociedade Teosófica, dos Rosa-Cruzes,
da Comunhão do Pensamento. (OLIVEIRA, 2011, p.70-71).
Silas Guerriero também parte deste entendimento quando destaca diversos grupos
espiritualistas que se expandiram com a Nova Era, dos quais, observam-se as ordens
esotéricas aqui analisadas.

Entre os grupos mais organizados e ligados ao esoterismo, à religião ou mesmo


direcionado aos estudos iniciáticos, podemos citar [...] a Ordem Rosa-
cruz(AMORC) [...] a Sociedade Teosófica do Brasil[...] a Sociedade Brasileira
de Eubiose [...] e o Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento.
(GUERRIERO, 2006, p. 102).

Quando falamos em Ordens Esotéricas, estamos nos referindo à existência física de


um grupo de ensinamentos que são voltados a difundir os conhecimentos do Esoterismo
Ocidental aos praticantes. Ao utilizar o termo Ordens, podemos estar nos referindo a
denominações que podem ser identificadas pela nomenclatura de “Sociedade”,
“Fraternidade”, “Círculo” ou um algum outro nome próprio. As Ordens Esotéricas
possuem seus ensinamentos baseados na iniciação de seus membros, seja pelo estudo, por
juramentos ou através de rituais. Iremos agora apresentá-las no Recife.

3. As Ordens Esotéricas no Recife

3.1. Sociedade Brasileira de Eubiose

Henrique José de Souza (1883-1963) fundou na cidade de Niterói-RJ, em 1924, um


grupo espiritualista de influência teosófica denominado de Dhraranâ. Seu significado é
Sociedade Mental Espiritualista, passando a se chamar Sociedade Teosófica Brasileira
em 8 de Maio de 1928. Após a morte do fundador, a administração e estudos do grupo
ficou a cargo da sua esposa e seu filho, que 1969 mudou o nome para Sociedade Brasileira
de Eubiose, que significa “Ciência da Vida”. A Eubiose tem como objetivo preparar os
seus membros para a Era de Aquários, termo esotérico que foi bastante difundido durante
a Nova Era. Através desse entendimento, ela procurava expor suas ideias no Recife
através da realização de palestras que eram divulgadas nos jornais.

A Sociedade Brasileira de Eubiose, com sede na cidade mineira de São


Lourenço, tem um de seus associados realizando palestras aos domingos, às 16
horas, no salão nobre da Associação dos Exatores de Pernambuco, gentilmente
cedido pela sua diretoria, sob o tema <A Eubiose ou Ciência da Vida >.
Segundo explica o conferecionista, a <Eubiose>, também denominada <
Ciência iniciática das Idades, é aquela que ensina os meios de se viver em
harmonia com as leis Universais, por isso é mesmo a raíz do Supremo
Conhecimento. A Sociedade Brasileira de Eubiose tem como principal
finalidade preparar o homem para o advento da nova rala na < era de aquários>,
e o vem fazendo desde longos anos. (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife,
caderno 3, 12/12/1972, p. 12)

A Eubiose se considerava um grupo não sectário, composto de livre-pensadores


e aberto aos indivíduos de diversas religiões. Tal característica envidencia o aspecto
eclético de seus membros, sendo algo comum também às demais Ordens Esotéricas. Vide,
por exemplo, as declarações do vice-presidente da Eubiose do Rio de Janeiro.

Mas não tem dogmas, não é uma religião, não é sectária. É, porém, a raiz
comum de todas as filosofias, ciências, artes e religiões do mundo. Por isto
mesmo não é contrária a nenhuma delas. E da aos homens a nítida compreensão
do seu destino no lento evoluir das idades. Aprende-se a compreender a
bondade, o amor, a simplicidade, as virtudes, enfim, quem nos somos.
(DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, caderno 1, 31/12/1971, p. 2)

Esta entrevista que aparece no Diário de Pernambuco refletia a forma de como


a Eubiose se apresentava ao público: como uma ordem que tinha uma missão no Brasil.
Com isto, procurava através das palestras despertar a atenção dos simpatizantes na Capital
Pernambucana. Em 2013, a Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (ALEPE)
aprovou a Lei N°15.216/20135, instituindo o dia Estadual da Eubiose em 10 de Agosto.

3.2 Sociedade Tesófica

A Sociedade Teosófica foi fundada em Nova York em 1875, abrindo a sua seção
nacional no Brasil no ano de 19196. Durante a Nova Era, ela se expandiu dado a
popularização dos livros da sua fundadora, Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891) e do
crescimento das suas Lojas. Os ensinamentos da Teosofia são feitos através de reuniões
internas para membros, além de palestras públicas e estudos de leituras sobre esoteristas
que pertenceram a Sociedade. Na cidade do Recife, tivemos três grupos ligados à
Sociedade Teosófica: I) Loja Henry Olcott; II) Loja Ghandi; III) Loja Estrela do Norte.
A Loja Teosófica Henry Olcott, fundada em 1921, fez-se presente durante a
segunda metade do século XX, ainda que tenhamos notado menor frequência, se

5
Esta informação está disponível no Portal de Leis da ALEPE:
http://legis.alepe.pe.gov.br/arquivoTexto.aspx?tiponorma=1&numero=15216&complemento=0&ano=2
013&tipo= . Acesso: 8 de Agosto de 2021
6
É datada a existência de Lojas Teosóficas antes de 1919, em 1902- Loja Dharmah (Pelotas, RS)
comparado a períodos anteriores, de anúncios de palestras e convites na mídia. Em 1962,
encontramos o seguinte anúncio no Diário de Pernambuco: “a Loja Teosófica Henry
Olcot, com sede na rua das Ninfas, está convidando todos os sócios e pessoas interessadas
a fim de assistirem, quarta-feira, proxima, mais uma reunião de estudos. Será debatido o
tema Fundamento da Teosofia” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, caderno 1,
2/09/1962, p.1).
Dado ao fato de auxiliar no crescimento da Teosofia no estado, esta Loja chegou
a receber a visita de teosofistas da Seção Nacional da Sociedade, a exemplo de Armando
Sales, que foi membro do Diretório Geral do Partido Social Progressista. Nesta matéria
encontramos um encontro dele com o então deputado Augusto Lucena, na época.

O deputado Estadual Augusto Lucena receberá, no Recife, com as honras


devidas, o prof. Armando Sales, membro do Diretório do Partido Social
Progressista e Secretário Geral da Sociedade Teosófica no Brasil. Fax o mesmo
viagem de inspeção às Lojas Teosóficas do Nordeste, pronunciando
conferências sôbre temas ligados à Teosofia, nesta cidade. (DIÁRIO DE
PERNAMBUCO, 1962, 10 de Maio, p.1).

No ano de 1975, para comemorar os 100 anos de fundação da Sociedade


Teosófica, a Loja Henry Olcott fez um convite aberto à população do Recife para
participação do evento, demonstrando haver uma quantidade de atividades no seu interior:

A loja Henry Ocoult situada na rua das Ninfas, 73, da Sociedade Teosófica no
Brasil, tem o prazer de convidar a todos os seus amigos e admiradores para as
festividades do centenário da fundação da Sociedade Teosófica Mundial, no
próximo domingo, a partir das 16 horas .(DIÁRIO DE PERNAMBUCO,
Recife, Caderno 2, 12/11/1975, p.2).

Esta foi a última menção que encontramos no tocante as atividades da referida


Loja, uma vez que ela encerrou suas atividades no Recife neste período entre 1975-1978.
A segunda Loja Teosófica que se fez presente no Recife foi a Loja Ghandi, fundada em
1949, é possível encontrar também informações a respeito desse grupos nos periódicos
até 1953. Assim como a Loja Henry Olcott, ela também encerrou seu funcionamento no
Recife. No entanto, em 1978, há uma matéria no Diário de Pernambuco destacando as
atribuições de uma antiga frequentadora da Loja Henry Ocoult, Maria José, que foi
responsável por expandir a Teosofia no Recife através da Loja Estrela do Norte, fundada
em 10/07/1970.

Figura 12: Reportagem sobre o crescimento da Teosofia no Recife


(DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, Caderno -Seção B, 13/08/1978, p.1).

Apesar do título citar que a Teosofia chegava ao Recife, sabemos que esta
informação esta equivocada, haja vista a existência de outros grupos teosóficos na cidade
em períodos anteriores. Na própria matéria, inclusive, faz-se menção a Loja Henry Olcott.
A matéria mostra que houve uma relação de Maria José e este grupo, na qual ela teve o
primeiro contato com as ideias teosóficas: “amigos levaram na então (era 1945) à
Sociedade Teosófica Henry Ocoltt, situada à época na rua das Ninfas. Ali começou a
participar de reuniões semanais e descobrir múltiplas facetas da doutrina, que preenchia
perfeitamente as suas aspirações”. (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, Caderno -
Seção B, 13/08/1978, p.1). Contudo, Maria José demonstrava insatisfações na forma de
como os ensinamentos eram transmitidos para a população, uma vez que ela acreditava
que a Loja deveria ser mais aberta ao público.

Eu senti que a teosofia não podia ser conduzida como naquela loja, de portas
fechadas, misteriosamente, sem alcançar a tantos com os mesmos conflitos
interiores que eu tivera um dia. Era preciso ser mais divulgada. E foi a partir
de um Encontro Nacional de Teosofistas, em São Paulo, onde fui a única
representante de Pernambuco, que decidi optar por outro caminho. (DIÁRIO
DE PERNAMBUCO, Recife, seção B, 13/08/1978, p.1)

Este fato levou Maria José a ter uma divergência com os membros e fazer um
apeno à seção nacional para fundar outro grupo teosófico na cidade, criando a Loja
Estrela do Norte. Visto que isto simbolizava a expansão da Teosofia, seu desejo teve boa
receptividade pelos coordenadores nacionais da Sociedade Teosófica, que a ajudaram a
transformar a garagem de sua casa em uma sede da teosofia no Recife.

Com o apoio de teosofistas famosos, como Carmen Pisa, Jhon Coats( atual
presidente da sociedade teosófica mundial) e Ulisses e Eneide Rezende, dona
Maria José fundou, no início desta década, a Loja Estrela do Norte, na garagem
de sua própria casa. Hoje, ampliando uma sala, ela reune 40 pessoas, às terças-
feiras pela manha e às quartas-feiras, à noite, numa pregação que, em geral,
dura hora e meia, mas que pode prolongar-se por tempo indeterminado,
dependendo do debate que provoque. (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife,
seção B, 13/08/1978, p.1)
De fato Maria José conseguiu popularizar a Teosofia no Recife na segunda metade
do século XX através da Estrela do Norte, recebendo públicos de diferentes idades que
apresentavam diversas “inquietudes espirituais”.

Numa casa modesta da rua Diogo Alvares, na Torre, Maria José de Jesus, mãe
de duas filhas, avó de quatro netos, recebe dia e noite, dezenas de pessoas que,
aflitas, buscam em seus conselhos, uma orientação para um sem número de
problemas. São adolescentes, jovens e pessoas de uma idade avançada, vindas
das mais diferentes áreas de atuação humana, de bairros distantes e situações
variadas que procuram numa palavra, um caminho. Não há bola de Cristal,
nem búzios, nem cartas de baralho. Numa pequena sala de reunioes, tendo à
sua frente um quadro de Cristo, Dona Maria apenas fala, ouve e... “vê”. Ali, os
de alguns ou nenhuma religião, se reunirem duas vezes por semana para
discutir e divulgar uma doutrina que vem do início da era cristã, mas só agora
começa a tomar vulto em pernambuco: a Teosofia. (DIÁRIO DE
PERNAMBUCO, Recife, seção B, 13/08/1978, p.1)

Convém destacar que, embora Maria José tenha falado que achava os
ensinamentos da Loja Henry Olcollt fechados, encontramos em períodos anteriores
inúmeras matérias, de diferentes jornais do Recife, sobre os convites desse grupo para a
população recifense. Por outro lado, podemos dizer que a Loja Estrela do Norte cumpriu
seu papel em difundir a Sociedade Teosófica em Pernambuco na segunda metade do
século XX, completando 51 anos de existência em 2021

3.3. O Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento


O Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento (CECP) foi a única ordem que
carregava explicitamente em sua nomenclatura a menção ao nome do Esoterismo. Foi
fundado em 1909 na cidade de São Paulo, pelo português Antônio Olívio, que destinava
um tempo particular para poder estudar astrologia, cabala junto a outros simpatizantes
(RAMACHANCDRA, 2010). O CECP foi a primeira Ordem Esotérica fundada no Brasil,
onde seus ensimanetos agregavam estudos sobre filosofia oriental, conhecimentos sobre
cartomantes, tarot, gnose e outras formas de pensamento sobre o Esoterismo Ocidental.
Além disso, agregou várias pessoas de diferentes religiões, vide os praticantes da
religião espírita, apesar de apresentar diferenças em termos de ensinamentos e
organização (NOGUEIRA, 2015). No Recife entre 1959-1981 vimos diversos anúncios
publiciários nos jornais acerca do Tattwas (centros de irradiação mental), de modo a
convidar a população para participar das reuniões

Na sua sede provisória, na rua da Palma, n°429, 2° andar, sala n°16 do Edifício
São João, realiza-se, hoje, às 20horas, no Tattwa Cavalheiros da Luz, uma
sessão solene de comemorativa do oitavo ano da fundação do Centro, sob a
direção do sr. Antônio Roque, presidente-delegado, que está convidando à
comunidade esotérica, associados, famílias e sociedades congeneres. Será sido
a mensagem aos Tattwas, enviada pelo Círculo Esotérico da Comunhão do
pensamento. (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 26/02/1960, p 8).

O grupo se reunia no Tattwa Cavalheiro da Luz, cujas “reuniões esotéricas”


aconteciam semanalmente. No entanto, um dia ao mês as reuniões eram abertas ao
público, sendo antes divulgadas nos jornais para àqueles que tivessem interessem de se
juntar. As mensagens lidas para estas reuniões vinham da sede, em São Paulo, intituladas
de Mensagem aos Tattwas: “no seu templo provisóio, na rua da Palma, n°429, 2° andar,
sala n°16 do Edifício São João, realiza-se amanha a reunião mensal esotérica, com leitura
da Mensagem aos Tattwas, enviada pelo círculo esotérico da comunhão do pensamento,
de São Paulo, aos seus filiados”. (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, Caderno 2,
26/08/1960, p.8).
Encontramos a existência de outro Tattwa, que foi chamado de “Deus é nossa
vida”. Contudo, apesar de atualmente este último contar com maior movimentação que
àquele, o Tattwa Cavalheiro da Luz, no período de nossa pesquisa, foi o que mais obteve
participação de membros e ajudou na difusão do CECP no Recife. No ano de 1979, ele
foi reconhecido pela prefeitura de Recife como sendo de utilidade pública.

CONSIDERA DE UTILIDADE PÚBLICA, O CENTRO DE IRRADIAÇÃO


MENTAL TATTWA "CAVALHEIROS DA LUZ". O Prefeito da Cidade do
Recife faço saber que o Poder Legislativo decretou e eu sanciono a seguinte
Lei: Art. 1º Fica considerado como de utilidade pública, o Centro de Irradiação
Mental Tattwa "Cavalheiros da Luz", sob os auspícios do Círculo Esotérico da
Comunhão de Pensamento, com sede e domicílio fiscal à Rua 24 de Maio, 36,
1º andar, sociedade civil com personalidade Jurídica, e de caráter beneficente
e assistencial. Recife, 11 de dezembro de 1979, GUSTAVO KRAUSE,
Prefeito (CÂMARA MUNICIPAL DO RECIFE, Lei 14°052/79)

3.4. A Antiga e Mística Ordem Rosacruz (AMORC)

A AMORC foi fundada no ano de 1915, nos Estados Unidos, por Harvey Spencer
Lewis, sendo uma das Ordens Esotéricas que mais se popularizam no Ocidente.

O símbolo da Rosa e da Cruz constitui no século XX o objeto de um interesse


considerável que ultrapassa em muito as fronteiras do paramaçonaria. Criada
em 1915 por Spencer Lewis (1883-1939), a AMORC já contava com milhões
de adpetos quando da morte do seu fundador. É o primeiro movimento de
massa da História do Esoterismo Ocidental. Aberta ao mundo exterior e para a
modernidade, proporciona a seus membros uma cultura quanto uma vida
iniciática (FAIVRE, 1994, p. 104).

A Existência de Rosacruzes no Brasil é datada desde 1940, onde podemos destacar


três cidades que foram pioneiras dos ensinamentos da AMORC no País: São Paulo, Belém
e Rio de Janeiro. O grupo fundado no Recife, em 1959, foi o primeiro da AMORC na
Região Nordeste. Chamou-nos atenção a rápida expansão que a AMORC teve na Capital
Pernambucana, no quantitativo de membros e atividades que influenciaram na sua
elevação de Pronaos a Capítulo e, posteriormente, a Loja7.
Se comparado a outras Ordens no Recife, a AMORC teve um crescimento
significativo no tocante a membros e atividades, além de aparecer com mais frequência
na mídia. Quando fizemos a busca online na Hemeroteca Digital, notamos que ela foi
notícia em diversos conteúdos se comparado aos demais grupos esotéricos no Recife,
fator que evidencia a sua popularidade. As matérias referidas à AMORC procuravam
tornar público a realização dos seus eventos e festividades de acordo com o calendário da
Rosacruz. Tomemos como exemplo esta matéria no Diário de Pernambuco mencionando
a Festa da Pirâmide.

No próximo dia 21, quando o sol em sua trajetória elíptica cruzar o equador
celeste para o equinócio outonal, os rosacruzes de todo o mundo estarão
comemorando a construção da grande Pirâmide de Kheops. Às 10h horas, na
data de 25/09/1960, em Recifem uma reunião se fará em que simbolicamente
será comemorada a construção do grande monumento, cuja história remonta,
há mais de 4000.a.C, no reinado de Amenophis IV, Faraó do Egito, que
constitui a primeira personalidade que tem destaque na história. A cerimônia
ocorrerá na Universidade Rural, em Dois Irmãos, sendo franquiada a
permanência (JORNAL DO COMMÉRCIO, Recife, caderno 1, 18/09/1960, p.
1).

A AMORC, embora fundada no século XX, alega que a sua fundação histórica se
deu no Egito Antigo, em 1350 a.C, motivo pelo qual os eventos e festividades dessa
Ordem fazem associações com esta civilização. Concebemos este fato como uma
Tradição Inventada presente em sua trajetória. Como falamos em nossa dissertação, este
elemento ajudou a popularizar a AMORC, pois ao se apresentar dessa forma, a AMORC

7
Os Organismos Afiliados da AMORC são divididos nas seguintes denominações: Pronaos, Capítulo e Loja.
Pronaos designa um grupo em até 30 membros, podendo estudos de Átrios- ensinamentos iniciais na
AMORC. O Capítulo abrange um grupo de 30 a 50 indivíduos, diferenciando-se do Pronaos por poder
realizar as Convocações Ritualísticas em um Templo Rosacruz. A Loja abrange mais de 70 indivíduos, sendo
responsável por fazer as Iniciações de Graus.
adentrava no imaginário coletivo como um grupo que possuía legitimidade e
autenticidade quanto aos seus ensinamentos. Ao mesmo tempo, era um elemento atrativo
para os que tinham curiosidade na civilização egípcia. Além da Festa da Pirâmide, outra
festividade da Ordem baseada no Egito era o Ano Novo Rosacruz, período em que o grupo
celebrava a data de fundação histórica

Os membros da ordem rosacruz comemorarão às 19 horas, em seu templo,


provisoriamente localizado na sua augusta, 699, com uma ceia o início do ano
novo, simbolizando uma nova vida para todos os integrantes daquela corrente
filosófica. Este ritual teve origem há mais de 40 séculos, no Egito, segundo
informações do mestre da Ordem, sr. José Sironi. (DIÁRIO DE
PERNAMBUCO, Recife, caderno 1, 23/03/1969, p. 12).

A expansão da AMORC no Recife fez com que este grupo fosse considerado de
utilidade pública pela câmara dos vereadores da Cidade, ainda na denominação de
Capítulo. A lei N°9770/67, que Considera de Utilidade Pública Municipal o Capítulo
Recife da Ordem Rosacruz (AMORC), foi aprovada no dia 6 de junho de 1967: “foi
sancionado também, pelo prefeito interino, projeto de lei de autoria do vereador
Wandenkolk Vanderlei, aprovado unanimemente pela Câmara municipal, considerando
de utilidade pública, na área municipal, o Capítulo Recife, da Ordem Rosacruz
(AMORC)” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, caderno 1, 9/06/1967).

Após ter se elevado à Categoria de Loja, em 1971, o grupo teve uma consolidação
dos seus ensinamentos. Uma Loja rosacruz por comportar com um quantitativo de
membros maiores que os Pronaos e Capítulos, deve dispor de mais atividades. Dentre
elas, destacamos as conferências públicas, reuniões sociais, convenções e iniciações de
grau (acessível a Rosacruzes que vivem em outras cidades). No ano de 1978, a Loja
Recife foi escolhida para sediar um Conclave Regional, evento de grande participação de
rosacruzes da região Nordeste. O evento foi divulgado pelo Diário de Pernambuco no dia
31 de dezembro de 1977, onde os rosacruzes fazem um convite a pessoas que não eram
membros, como uma chance de conhecerem a Ordem:

Realiza-se no Recife, 13 a 15 de Janeiro, o 1° conclave Rosacruz da Região


Nordeste, com a presença da Grande Mestra Maria A. Moura, Haverá
experimentos, foro, exposição de arte rosacruz, iniciação do 1° Grau do
templo, convocações ritualísticas e iniciação do 9° grau. As inscrições para a
promoção encerram-se no dia 2 e familiares de membros da Ordem e
convidados podem inscrever-se, mas não podem assistir as palestras e
cerimônias do templo (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, 31/12/1977,
p.6)

Dado a visibilidade que a Ordem teve com este evento, bem como a sua expansão,
encontramos uma matéria no Diário de Pernambuco com conteúdo exclusivo a respeito
da AMORC. O título da matéria era Rosacruz: uma ordem secular estuda os mistérios da
vida, em 19 de novembro de 1978.

Cresce no Recife, o movimento da Antiga e Mística Ordem Rosacruz, que teve


sua origem no Egito, durante o reinado de Amenophis IV, no ano de 1350.
A.C. Isso é o que relata os documentos rosacruzes, que afirmam também ter a
sociedade nascido como Escola de Mistério, de sabedoria secreta e reunindo
desde aquela época até nossos dias pessoas interessadas em obter
conhecimentos esotéricos (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, seção c,
19/09/1978, p. 1)

Ao ler esta matéria, o jornal assume que a AMORC está se expandindo no Recife,
baseado nas atividades da Loja, fator que mostra a sua consolidação na capital
pernambucana. Nota-se também a menção à Tradiçao Inventada da AMORC,
comentando a crença interna da Ordem de que “segundo as provas documentais da
AMORC” o grupo teria surgido no Egito Antigo, embora não haja uma comprovação
histórica ou pública sobre este evento. Na matéria também são citados os benefícios de
pertencer a AMORC, conforme a entrevista da Mestra Neusa Dutra, que cita os
“benefícios espirituais” aos que são afiliados:

Os rosacruzes oferecem as pessoas oportunidade de reorganizar sua vida, de


acrescentar a ela elementos necessários que proporcionam a satisfação pessoal
e o pleno viver. Eles podem auxiliá-los a encontrar-se a si mesmos, de modo
que cada dia se torne uma experiência alegre e não uma existência fortuita ou
uma prova (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, seção c, 19/09/1978, seção
c, p. 1)

Ao fim da matéria, são feitas algumas menções às atividades do rosacruzes no


Recife, a respeito do dia das reuniões e solenidades realizadas pela Loja Recife. Nota-se
o convite feito àqueles que desejassem conhecer o local, estando a AMORC de “portas
abertas” para receber os visitantes.

A Loja recifense oferece aos membros a participação em várias atividades.


Todos os sábados eles se reúnem para convocação no templo da Loja. Ela é
proibida aos estranhos e se constitui no tradicional ritual da Rosacruz. Mas, a
loja não é vedada aos desconhecidos, estando suas portas abertas a quem
desejar qualquer tipo de informação, ou mesmo quem tiver curiosidade de
visitar suas dependências e mesmo seu templo. Solenidades secretas e públicas
também fazer parte das atividades da Loja. Entre as últimas, estão as festas de
ano novo e natal, além da aposição de nome (batismo), uma das mais velas
realizadas pelos rosacruzes (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife, seção c,
19/09/1978, p. 1)

Para comemorar os 60 anos do grupo no Recife (2019), foi lançado um livro


interno chamado de Doação e Renúncia, 60 anos da Loja Rosacruz Recife, organizado
pelos membros Rodrigo Marinho e Lindsay Pessoa. O livro contém algumas
documentações8 do grupo e depoimentos de membros que descrevem a sua relação com
a AMORC. Outros depoimentos com o maior quantitativo de membros entrevistados
podem ser acessados na plataforma Youtube da Loja Recife9

Conclusão

Dentro desta pesquisa que estamos iniciando, procuramos neste artigo expor ao
público a respeito da fundação, atividades e eventos que contribuíram para a expansão
das ordens esotéricas no Recife- a ponto de algumas serem reconhecidas pelo município
como órgãos de “utilidade pública” Notamos que em decorrência da circularidade de
ideias sobre o Esoterismo em diferentes meios na Nova Era, as Ordens Esotéricas
encontraram um terreno fértil para se difundir, à medida que utilizavam a mídia para
tornar públicas suas atividades e crenças.

Apesar das Ordens apresentarem diferenças entre si no tocante a origem,


fundação, tradição ou ensinamento, elas procuravam se apresentar como detentoras do
conhecimento esotérico e dos mistérios “ocultos” da natureza. Mostravam também um
caminho para as “inquietudes espirituais” dos indivíduos, que desejavam ir além das
religiões judaico-cristã. O fato de serem não sectárias contribuiu para atraírem os
simpatizantes e curiosos, sem que fosse preciso que os frequentadores tivessem que
abandonar a sua crença religiosa para pertencer ou conhecer alguma dessas Ordens.

Referências

8
As documentações completas (1959-1981) e publicadas pela primeira vez em um trabalho acadêmico
estão disponíveis nos anexos de nossa Dissertação de Mestrado. Ver:
https://repositorio.ufpb.br/jspui/browse?type=author&value=Sampaio%2C+Diego+Chaves+Ramos&loca
le=pt_BR .
9
Disponível em: https://www.youtube.com/channel/UC-9ohhfr5yEQMCgciE7as1w . Acesso:12/08/2021
CHAVES, Diego. Esoterismo Ocidental e Nova Era: a Tradição Inventada presente
na trajetória da Antiga e Mística Ordem Rosacruz (AMORC) na cidade do Recife
(1959-1981). 2020. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa, 2020. Disponível em:
https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/20304

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08/07/2021
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pensamento esotérico de matiz rosacruciano de Fernando Pessoa. 2016. Tese
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