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Artigo Original

Estudo piloto em neonatos utilizando o laser de baixa


intensidade no pós-operatório imediato de mielomeningocele
Pilot study in neonates using low-level laser therapy in the immediate postoperative period of
myelomeningocele
Nathali Cordeiro Pinto1, Fernando Campos Gomes Pinto2, Eduardo Joaquim Lopes Alho3,
Elisabeth Matheus Yoshimura4, Vera Lucia Jornada Krebs5, Manoel Jacobsen Teixeira6, Maria Cristina Chavantes7

RESUMO ABSTRACT
Objetivo: Analisar o comportamento da reparação tecidual de incisão Objective: To analyze the tissue repair behavior after corrective
cirúrgica corretiva em neonatos submetidos ao laser de baixa intensidade, surgical incision in neonates submitted to low-level laser therapy,
auxiliando a redução de incidência de deiscência pós-operatória de in an attempt to diminish the incidence of postoperative dehiscence
correção cirúrgica de mielomeningocele realizada imediatamente após following the surgery for myelomeningocele performed immediately
o nascimento. Métodos: Estudo piloto, prospectivo, com 13 pacientes after birth. Methods: It is a prospective pilot study with 13
operados ao nascimento de mielomeningocele e submetidos ao laser myelomeningocele patients submitted to surgery at birth who
de baixa intensidade como adjuvante. Foi aplicado, ao longo da incisão received adjuvant treatment with low-level laser therapy (Group
cirúrgica, o laser de diodo C.W., λ = 685 nm, p = 21 mW, com E = A). Diode laser C.W., λ = 685 nm, p = 21 mW, E = 0.19 J was
0,19 J por ponto, totalizando valores de energia entregue por paciente punctually applied along the surgical incision, summing up 4 to 10 J
entre 4 e 10 J, de acordo com a área da cicatriz cirúrgica, e comparando energy delivered per patient, according to the surgical wound area
com os resultados obtidos previamente de 23 pacientes operados sem and, then, compared with the previous results, which were obtained
a terapia com o laser (Grupo B). Resultados: Este estudo revelou from 23 patients undergoing surgery without laser therapy (Group B).
significativa redução de deiscências no pós-operatório de neonatos, Results: This pilot study showed a significant decline in dehiscence
quando submetidos ao laser de baixa intensidade comparados ao of surgical wounds in neonates submitted to low-level laser therapy
controle (7,69 versus 17,39%, respectivamente), evidenciando ser um as compared to controls (7.69 versus 17.39%, respectively),
método de tratamento eficaz, seguro e não-invasivo. Conclusão: Esta demonstrating this is an effective, safe and noninvasive treatment
nova proposta terapêutica adjuvante com o laser de baixa intensidade method. Conclusion: This new adjuvant therapeutic proposal with
auxiliou na reparação tecidual da ferida operatória, evitando morbidades, low-level laser therapy aided healing of surgical wounds, preventing
além de diminuir o tempo de internação, sinalizando possível redução morbidities, as well as decreasing hospital stay, which implies cost
de custos tanto para os pacientes quanto para a instituição. of reduction for patients and for the institution.

Descritores: Recém-nascido; Doenças congênitas, hereditárias Keywords: Infant, newborn; Congenital, hereditary, and
e neonatais e anormalidades/cirurgia; Terapia a laser de baixa neonatal diseases and abnormalities/surgery; Laser therapy,
intensidade; Deiscência da ferida operatória/prevenção e controle; low-level; Surgical wound dehiscence/ prevention & control;
Meningomielocele/cirurgia; Regeneração tecidual guiada/métodos; Meningomyelocele/surgery; Guided tissue regeneration/methods;
Complicações pós-operatórias Postoperative complications

Trabalho realizado na Unidade Neonatal e no Departamento de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP, São Paulo (SP), Brasil.
Pós-graduanda (Doutorado) do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP (SP), São Paulo, Brasil.
1

Doutor, Neurocirurgião do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP, São Paulo (SP), Brasil.
2

Doutorando pela Universidade de Würzburg - Alemanha.


3

Professora-associada do Departamento de Física Nuclear do Instituto de Física da Universidade de São Paulo - USP, São Paulo (SP), Brasil.
4

Livre-docente, Médica do Setor da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo (SP),
5

Brasil.
Livre-docente, Professor titular da Disciplina de Neurocirurgia do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP, São Paulo (SP), Brasil.
6

Professora, Diretora da Central Médica de Laser do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo (SP), Brasil.
7

Autor correspondente: Nathali Cordeiro Pinto – Rua Dr. Eneas de Carvalho Aguiar – Cerqueira Cesar – CEP 05403-900 – São Paulo (SP), Brasil – Tel.: 11 3069-5233 – e-mail: nathalicordeiro@hotmail.com
Data de submissão: 31/07/2009 – Data de aceite: 11/12/2009

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INTRODUÇÃO favorecendo a analgesia e a cicatrização tanto em


A mielomeningocele (MMC) é a forma mais prevalente animais quanto em humanos(10,11). A literatura evidencia
de malformação do tubo neural, situação em que ocorre três possíveis níveis de interações, nos quais vários
o fechamento incompleto do tubo neural embrionário. aspectos da fototerapia podem ser considerados:
É uma das mais incapacitantes malformações molecular, celular e orgânico. Karu(12) descreveu que o
congênitas, respondendo por 75% dos casos com maior LBI é responsável por efeitos fotofísicos, fotoquímicos
incidência na região lombar e/ou sacral(1). Na Unidade e/ou fotobiológicos nas células e nos tecidos-alvo.
de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIN) do Hospital Sabe-se hoje que, essa modalidade terapêutica,
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade auxilia na resolução do processo inflamatório com
de São Paulo (HC/FMUSP), no período de junho de resolução da reparação tissular da ferida cirúrgica pela
2005 a dezembro de 2006 (18 meses), foram admitidos fotobiomodulação dos tecidos operados(13). Em estudos
3.072 recém-nascidos vivos, cuja incidência de doenças anteriores também foram evidenciados tais benefícios
congênitas neurocirúrgicas foi de 1,14%, representando em pacientes cirúrgicos de várias faixas etárias tratados
0,36% de MMC e totalizando 11 casos, sendo tratados dessa mesma maneira(4-9). A interação da radiação
logo após o nascimento com cirurgia. eletromagnética ocorre, principalmente, num meio
Muitas considerações têm sido feitas em relação ao onde há um estado redox instável (típico em situações
melhor momento para a reparação cirúrgica objetivando de estresse fisiológico), estimulando determinadas
diminuir as complicações, acima de tudo as deiscências, moléculas fotoaceptoras existentes tanto na membrana
fístulas e infecções. No presente serviço, o “tempo zero” celular quanto na crista interna da membrana
cirúrgico (imediatamente ao nascimento) mostrou a mitocondrial, sendo capaz de auxiliar o tecido lesionado
menor taxa de deiscência, 13% comparado a 29%, na busca da homeostase tecidual.
quando o procedimento era realizado até 48 horas após Na literatura, são raros os trabalhos utilizando o
o nascimento(2). Apesar destes bons resultados, a taxa LBI em crianças e neonatos. Nos estudos de Ailioaie(14-
de deiscência pós-operatória ainda se encontra elevada,
15)
foram avaliadas e tratadas crianças com melhora
principalmente quando suas terríveis consequências são excepcional após a laserterapia. Não obstante, não foram
levadas em consideração (fístula liquórica, meningite encontrados outros relatos na literatura, sobretudo no
etc). uso preventivo do LBI em feridas pós-cirúrgicas de
No estudo de Filgueiras e Dytz(1), entre as complicações neonatos.
pós-cirúrgicas ocorridas, a fístula liquórica foi a mais
prevalente, com 50 casos (16,5%), seguida da deiscência
de ferida, com 30 casos (9,9%), e da infecção da lesão OBJETIVO
cirúrgica, com 23 casos (7,6%). Ventriculite, septicemia e O presente trabalho tem como objetivo avaliar o
escoliose responderam por 38 casos (12,5%). comportamento da cicatrização de mielomeningocele
A terapia com laser de baixa intensidade (LBI) operada e submetida, preventivamente, à terapia
começou a ser empregada no Instituto do Coração (InCor) local com LBI no período pós-operatório imediato,
há alguns anos para auxiliar o processo de cicatrização na tentativa de reduzir complicações, vindo a auxiliar
de feridas cardíacas e evidenciou, concomitantemente, na reparação tecidual, bem como no arrefecimento de
ter resposta anti-inflamatória e analgésica eficientes. incidência de deiscência pós-operatória em neonatos.
Diversos estudos empregando este método vêm
sinalizando a eficácia do LBI na reparação tecidual
imediatamente após cirurgias cardiovasculares, como MÉTODOS
também após cirurgias ortopédicas(3). A laserterapia Este projeto foi analisado e aprovado (Protocolo
é capaz de prevenir a formação de deiscências pós- Pesquisa # 0576/09) pelo Comitê de Ética do HC/
cirúrgicas e leva à recuperação funcional mais rápida, FMUSP. Os pais de todos os pacientes portadores
reduzindo o tempo de internação hospitalar(4-9). Seu de MMC deste estudo leram e assinaram o termo de
uso preventivo é não-invasivo, indolor e seguro; além consentimento informado da instituição.
disso, é um método de fácil aplicação sem necessidade O estudo foi conduzido na Unidade Neonatal
de se tocar na lesão, podendo ser realizado no próprio do HC/FMUSP, em conjunto com o Departamento
berçário. de Neurocirurgia da HC/FMUSP e com o Serviço da
A literatura tem mostrado bons resultados em Central Médica de Laser Incor do HC/FMUSP. Todas
pesquisas in vitro e in vivo com o uso do LBI. Nas as lesões congênitas foram diagnosticadas no período
últimas décadas, sua utilização vem crescendo por pré-natal e foram tratadas de acordo com o protocolo
meio de estudos sobre os efeitos dessa irradiação na “tempo zero”, com correção cirúrgica imediata da
função biológica e as dúvidas vêm sendo esclarecidas, MMC ao nascimento.

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Foram estudados, prospectivamente, 13 pacientes Foi realizado um follow-up da evolução da ferida


operados de MMC imediatamente ao nascimento e cirúrgica durante um período de 6 a 12 meses, sendo
submetidos à terapia adjuvante de forma preventiva possível observar uma extensa área de lesão tratada
no pós-operatório imediato (POI) com o LBI. Foram imediatamente após a cirurgia com o LBI (Figura 2a) e
avaliados dois grupos, sendo que o Grupo A constituía- após um ano (Figura 2b).
se de pacientes tratados no período de julho de 2007 a
abril de 2008 com laser de Diodo CW (DMC, Brasil),
com os seguintes parâmetros: λ = 685 nm, 21 mW de
potência, aplicado ao redor da incisão a cada 2 cm,
totalizando 0,19 J de energia entregue por ponto.
Neste estudo, a incidência de fístula incisional,
deiscência da ferida operatória e infecção (meningite/
ventriculite) pós-operatórias, foi comparada com os
dados retrospectivos de 23 pacientes portadores de
MMC, também operados imediatamente ao nascimento,
pela mesma equipe médica, nas mesmas instalações,
durante o período de junho de 2004 até dezembro de Figura 1. Pós-operatório imediato (a) e 11º pós-operatório, após uma aplicação
2006, sem a aplicação da terapia adjuvante com laser, do laser de baixa intensidade (b)
constituindo-se o Grupo B.

RESULTADOS
As características epidemiológicas e os dados cirúrgicos
observados denotaram similaridade e homogeneidade
entre os grupos (Tabelas 1 e 2). Na grande maioria
dos casos (46,1%), uma única sessão de iluminação foi
necessária (Figuras 1a e 2b). Não obstante, ao serem
evidenciadas possíveis deiscências na ferida cirúrgica, Figura 2. Neonato no segundo pós-operatório após uma única aplicação do laser
de baixa intensidade durante o pós-operatório imediato (a) e follow-up de 12
foram administradas novas doses, conforme evidenciado
meses após a cirurgia de mielomeningocele (b)
na Tabela 3.
Tabela 3. Quantidade de aplicações do laser de baixa intensidade após
Tabela 1. Dados epidemiológicos de ambos os grupos procedimento neurocirúrgico
Características da população Grupo A (LBI) Grupo B Número de pacientes (%) Total de aplicações do LBI
Número de pacientes 13 23 6 (46,1) 1
Masculino 6 11 5 (38,5) 2
Feminino 7 12 2 (15,4) 3
Peso ao nascimento (média, g) 2.889 2.944 LBI: laser de baixa intensidade.

Idade da mãe (média, anos) 24,8 23,2


Diagnóstico pré-natal 13 (100%) 23 (100%) Dentre as complicações identificadas até 30 dias
Hidrocefalia 6 (46%) 15 (65%) após a cirurgia, os pacientes do Grupo A, que foram
* LBI: laser de baixa intensidade. submetidos à terapia preventiva com LBI, revelaram
duas vezes menos deiscências do que quando comparado
Tabela 2. Dados cirúrgicos
ao Grupo B (7,69 versus 17,39%, respectivamente).
Características do defeito Grupo A (LBI) Grupo B
Ademais, no Grupo B identificou-se um paciente
Dimensão do defeito (cm2)
que veio a desenvolver deiscência e necessitou de
Média 16,4 16,9
reoperação, conforme identificado na Tabela 4.
Máximo 36,8 80
Mínimo 10,0 2,25 Tabela 4. Complicações pós-operatórias
Localização do defeito
Complicações Grupo A (LBI) Grupo B
Toracolombar 1 5
Número de deiscências 1 /13 (7,6%) 4 /23 (17,4%)
Lombossacral 12 18
Deiscências mínimas 1 3
Ruptura pré-operatória 6 (60%) 9 (39%) Deiscências maiores com necessidade de
Procedimento cirúrgico 0 1
reoperação
Fechamento direto 12 21 Fístula liquórica 1/13 (7,6%) 3/23 (13%)
Retalho cutâneo 1 2 Infecção cirúrgica/meningite 1/13 (7,6%) 2/23 (8,7%)
* LBI: laser de baixa intensidade. LBI: laser de baixa intensidade.

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DISCUSSÃO colágenas e elásticas durante o processo cicatricial em


Os defeitos do tubo neural apresentam causas animais. Segundo Bjordal et al., o LBI incrementa a
multifatoriais, estando presentes fatores genéticos e angiogênese por meio do aumento na secreção do fator
ambientais, com maior incidência em classes sociais de crescimento e formação de vasos colaterais na região
desfavorecidas. No levantamento realizado, de janeiro lesada em vários estudos de células e animais, durante os
de 2000 a agosto de 2001, pelo Estudo Colaborativo sete primeiros dias após a lesão(20). Neste estudo piloto,
Latino-Americano de Malformações Congênitas foram encontrados dados de redução de morbidade
(ECLAMC), encontrou-se uma prevalência média de dos infantes, após a aplicação do laser nas primeiras
2,4/1.000 nascimentos nos cinco países da América horas do pós-operatório imediato, possivelmente este
Latina(16). O Brasil denotou a maior taxa (3,3 por mil), foi o responsável por promover também uma resposta
seguido da Argentina (2,6 por mil) e do Uruguai (1,7 por eficiente dentre o Grupo A.
mil)(16). Para Filgueiras e Dytz(1), a MMC foi o defeito As complicações locais, como infecção e deiscência
mais prevalente (91%), localizado principalmente na de sutura cirúrgica e a fístula liquórica, podem adiar
região lombossacral, dado também identificado em um o momento da alta hospitalar. Estas excrescências
estudo prévio (Grupo B). também atuam como porta de entrada para infecção
A taxa de deiscência encontrada nas MMC operadas sistêmica e, particularmente, do SNC, além de elevar
nos últimos anos no Berçário de Alta Complexidade o tempo de espera para a realização de derivação
do HC/FMUSP, apesar de reduzida, representa ainda ventricular(18). No presente trabalho, observou-se que
uma porcentagem alta com risco de fístula liquórica e o LBI atuou como agente biomodulador nas feridas
meningite. A morbimortalidade e o prognóstico funcional cirúrgicas, sendo capaz de reduzir as complicações,
destes pacientes têm relação direta com as complicações quando comparado com o grupo não-tratado com
infecciosas; portanto, técnicas adicionais para incrementar laser, auxiliando na cicatrização precoce da incisão
os resultados cirúrgicos são sempre bem-vindas. cirúrgica em neonatos, corroborando os resultados
A deiscência de sutura no reparo cirúrgico do encontrados por Bjordal et al.(13,20).
defeito espinhal pode significar infecção local e tensão Neste trabalho constatamos que a taxa total de
nos pontos. Pang(17) considerou que lesões extensas deiscência da ferida operatória foi menor no grupo que
são fatores predisponentes para deiscência, infecção e recebeu a laserterapia (Grupo A) do que comparado ao
fístula liquórica. Neste trabalho, foi encontrada média Grupo B, que recebeu apenas o tratamento convencional
no tamanho das incisões cirúrgicas semelhantes entre de rotina na Unidade Neonatal. A laserterapia denota ser
os grupos (Tabela 2), sendo que o tamanho máximo uma nova possibilidade terapêutica eficaz, incorrendo
de incisão foi de 36,8 cm2 e o mínimo de 10 cm2 no numa melhora dos resultados no pós-operatório,
grupo tratado com laser, no qual se denotou menor principalmente, na prevenção de deiscências ou de suas
morbidade. recorrências, buscando respostas terapêuticas seguras
No estudo de Braga(18), sobre recém-nascidos e não-invasivas. Neste estudo pioneiro, foi proposta a
que apresentaram extensa lesão espinhal (maior que utilização do LBI para incrementar a reparação tissular
5 cm), 47% evoluíram com deiscência de sutura do na incisão cirúrgica pós-correção de MMC, sendo que
reparo cirúrgico, 35% com fístula liquórica, 24% com estes resultados sinalizam uma menor taxa de deiscência
infecção no sistema nervoso central (SNC) e 6% com cirúrgica. Nessa afecção, especificamente, a resposta
infecção local. Diferentemente, no presente estudo, adequada de cicatrização protege a criança do risco de
7,69% dos neonatos que fizeram uso do LBI evoluíram infecção no SNC, o que poderia causar sequelas e atraso
com deiscência. Entretanto, um porcentual bem mais no desenvolvimento neuropsicomotor destes neonatos.
elevado (17,39%) dos neonatos que não se beneficiaram Estudos futuros que conduzam a valores ideais
dessa terapia adjuvante desenvolveu deiscências, sendo de dose poderão provavelmente contribuir com
que em um dos casos houve necessidade de reoperar a um prognóstico ainda melhor para esses pacientes.
lesão deiscente. O seguimento dos pacientes deste estudo se faz
In vitro, o LBI tem evidenciado modulação da necessário, já que, possivelmente, o LBI poderá ainda
atividade de uma variedade de células envolvidas no trazer um benefício adicional de longo prazo, que seria
processo de reparação tissular, incluindo macrófagos, a diminuição da taxa de medula ancorada, evitando-se,
fibroblastos, queratinócitos, células gigantes, linfócitos assim, novas intervenções cirúrgicas no futuro.
e células endoteliais(19).
Em estudo realizado por Pugliese et al.(10), o LBI
contribuiu para uma intensa redução do edema do CONCLUSÃO
infiltrado inflamatório, bem como com incremento A análise deste estudo em neonatos sinaliza a redução
da vascularização, além de maior produção de fibras da incidência de deiscência de ferida cirúrgica de

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mielomeningocele com a administração do laser de [Presented at 28th American Society for Laser Medicine and Surgery (ASLMS)
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