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ESTUDO DA VIABILIDADE TÉCNICA DE UM CICLO DE LIQUEFAÇÃO


DE GÁS NATURAL DE PEQUENA ESCALA

Débora Mei Shen


debora.shen@gmail.com

José R. Simões Moreira


jrsimoes@usp.br

Resumo. Atualmente, o gás natural é uma das principais formas de energia primária consumida no mundo. Entretanto, observa-se
que sua participação na matriz energética brasileira é muito pequena, já que a infra-estrutura de transporte ainda é deficitária,
dependendo significativamente da utilização de uma rede gasodutos pouco ramificada e interligada. Além disso, a grande
dependência de poucas fontes de suprimento de gás natural ainda gera certa insegurança no mercado interno, principalmente após
as recentes crises envolvendo a Bolívia Desta forma, novas tecnologias relacionadas à flexibilização das formas de transporte e à
diversificação das fontes produtoras de gás natural estão sendo amplamente pesquisadas. Dentro deste escopo, este projeto aborda
a tecnologia do gás natural liquefeito (GNL), apresentando-se um estudo de viabilidade técnica para um ciclo termodinâmico de
liquefação de gás natural em pequena escala. Este ciclo, ao aproveitar a energia que é liberada durante o rebaixamento de pressão
no processo de transferência de custódia do gás natural, torna-se menos dependente de fontes externas de energia; ou até mesmo
auto-suficiente sob o ponto de vista energético.

Palavras chave: Gás natural; Liquefação; Termodinâmica (Simulação).

1. Introdução

Embora seja uma das principais formas de energia primária consumida no mundo, a participação do gás natural na
matriz energética brasileira pode ser considerada pequena, principalmente quando se leva em consideração a grande
quantidade de reservas (prováveis e provadas) existentes no país. Este fato pode ser justificado ao se observar que a
infra-estrutura de transporte e distribuição ainda é deficitária, dependendo significativamente da utilização de uma rede
gasodutos pouco ramificada e interligada. Além disso, a grande insegurança a respeito da estabilidade de fornecimento
de gás natural, desencadeada pelas recentes crises com um dos principais fornecedores do produto ao país, também é
responsável por uma freada brusca no crescimento da participação do gás natural na matriz energética.
Dessa forma, visando aumentar a participação do gás natural no mercado brasileiro, diversos projetos relacionados
a tecnologias que possibilitem uma maior flexibilidade neste setor estão sendo amplamente difundidos. Na área de
transporte e fornecimento de gás natural, têm-se destacado as tecnologias de gás natural comprimido (GNC) e gás
natural liquefeito (GNL). Tais processos permitem o armazenamento de grandes quantidades de gás natural em
pequenos volumes, viabilizando assim o transporte através de caminhões, navios ou trens. Assim sendo, pode-se
contribuir para aumento do mercado consumidor de gás natural, uma vez que assim é possível transportar de gás natural
até regiões onde a demanda pelo produto ainda não justifica o elevado investimento necessário para a construção de
uma rede de gasodutos convencionais. Além disso, dentre estas tecnologias, o GNL, por apresentar uma redução de
volume superior ao GNC, possibilita ainda o transporte intercontinental de gás natural, o que proporciona uma maior
diversificação dos possíveis fornecedores deste produto, garantindo também uma maior estabilidade no fornecimento.
Dentro deste contexto, neste trabalho, será dado enfoque ao chamado gás natural liquefeito, obtido através da
refrigeração do mesmo a uma temperatura de aproximadamente -162ºC, ou inferior, a uma pressão próxima da
atmosférica, o que demanda uma quantidade considerável de energia.

2. Sistemas “Letdown”

Através de gasodutos, grandes quantidades de gás pressurizadas são transportadas dos campos produtores aos
consumidores finais. Dentro da cadeia produtiva do gás natural, costuma-se diferenciar os gasodutos utilizados para
transporte e os gasodutos utilizados para distribuição. Os gasodutos de transporte, geralmente, possuem dimensões
maiores e operam a pressões mais elevadas que os gasodutos de distribuição, transportando, portanto, uma maior
quantidade de gás natural. Estes gasodutos percorrem grandes distâncias, levando o gás natural dos centros produtores
aos grandes centros consumidores, operando em uma faixa de pressões que pode variar entre 5 MPa e 10 MPa.
Interligados aos gasodutos de transporte, existem os gasodutos de distribuição, que têm um raio de ação mais local ou
regional. Estes últimos, por sua vez, costumam operar entre 3,5 e 0,1 MPa, podendo, algumas vezes, operar a pressões
inferiores a 1 bar, principalmente quando ligados a consumidores residenciais.
A interligação entre o gasoduto de transporte e o gasoduto de distribuição é formada por uma estação redutora de
pressão, conhecida como “city gate”. Nesta estação, ocorre a chamada transferência de custódia do gás natural –
transferência da responsabilidade sobre o gás natural, que deixa de ser da empresa transportadora e passa a ser da
empresa distribuidora.
Atualmente, o processo de redução de pressão que ocorre nos “city gates” se dá através de um conjunto de válvulas
de estrangulamento, dissipando sob a forma de calor, vibração e outros efeitos turbulentos irreversíveis, o grande
potencial de energia existente devido ao diferencial de pressões entre o gasoduto de transporte e o gasoduto de
distribuição.
Neste trabalho, é estudado então o chamado processo “letdown”, que utiliza a energia da pressão do próprio
gasoduto de transporte, que de outra forma seria dissipada nas válvulas de redução de pressão, para a produção de
energia para movimentar o ciclo de liquefação de gás natural. A Fig. (1) indica, de maneira esquemática, o princípio de
funcionamento de um ciclo de liquefação baseado em um processo “letdown”.

Figura 1 – O sistema “letdown”

3. Obtenção de GNL Direto

Existem especulações de que seria possível obter GNL através da simples expansão do gás natural em uma turbo-
máquina, onde, simplificadamente, o processo de expansão pode ser considerado isentrópico.
Em uma primeira análise, visando facilitar o processo de simulação, adotou-se a hipótese de que o gás natural seria
composto somente por metano. Pode-se verificar então, através de um diagrama temperatura-entropia (T-s), apresentado
na Fig. (2), que esta forma de obtenção de GNL não é factível, para esta hipótese adotada. Para uma pressão final de
500 kPa, não há condensação de metano, enquanto que para uma pressão final de 100 kPa, é obtida uma mistura na qual
ainda há grande quantidade de vapor (título próximo a 1). Considerando que processo real não é isentrópico, o título da
mistura final será ainda maior, indicando a condensação de uma parcela muito pequena de metano. Ainda, caso
considere-se a obtenção de GNL através da expansão através de uma válvula de estrangulamento (considerando uma
expansão isentálpica), nota-se, através do diagrama temperatura-entalpia (Fig. (3)), que também não é possível produzir
GNL através deste processo.

Figura 3 – Diagrama Temperatura – Entalpia (T-h) para o


metano
Figura 2 – Diagrama Temperatura – Entropia (T-s)
para o metano

Considerando uma composição teórica para o gás natural, apresentada na Tab. (1), e observando a questão de
equilíbrios de fase e termodinâmicos, pode-se realizar uma análise análoga à análise efetuada anteriormente.

Tabela 1 – Composição para o gás natural.

Componente Fração na mistura


Metano (CH4) 90,16 %
Etano (C2H6) 7,84 %
Nitrogênio (N2) 2,00 %
Observando a Fig. (4), onde se apresenta um diagrama entropia- temperatura (s-T) para a mistura, nota-se que,
nesta segunda hipótese, também não é possível obter o GNL direto, uma vez que, no estado final indicado, não alcança-
se a faixa de condensação de metano, que é o componente de maior presença. Novamente, considerando que processo
real não é isentrópico, pode-se afirmar que a obtenção de GNL diretamente através deste processo torna-se ainda mais
irrealizável.
Considerando a obtenção de GNL diretamente através da expansão através de uma válvula de estrangulamento
(considerando um processo isentálpico), observa-se, através do diagrama entalpia-temperatura (h-T), apresentado na
Fig. (5), que também não é possível produzir GNL através deste processo.
Ainda, em ambas as figuras, é indicada a temperatura inicial mínima de resfriamento para que seja possível a
obtenção de GNL direto – aproximadamente 8°C para a expansão isentrópica e -62ºC para o estrangulamento
adiabático.

Expansão Isentrópica Estrangulamento Adiabático

2 200
P = 0,1MPa Estrangulamento
100 adiabático
1 Estado
0 final

0 Estado
-100
Estado Estado inicial
final Expansão isentrópica inicial P = 0,1 MPa
Entropia (kJ/kg.K)

Entalpia (kJ/kg.K)
-1 -200

-300
-2
Faixa de -400
condensação
Faixa de
-3 do metano -500 condensação
do metano
-600
-4
Temperatura Temperatura
-700 mínima para o
mínima para o início
-5 da condensação início da
P = 10 MPa -800 condensação
P = 10 MPa
-6 -900
-170 -150 -130 -110 -90 -70 -50 -30 -10 10 30 -170 -150 -130 -110 -90 -70 -50 -30 -10 10 30
Temperatura (°C) Temperatura (°C)

Figura 4 – Diagrama entropia – temperatura para uma Figura 5 – Diagrama entalpia – temperatura para uma
mistura multicomponente. mistura multicomponente.

4. O Ciclo Proposto

O ciclo proposto para liquefação de gás natural é ilustrado esquematicamente na Fig. (6). O gás natural, ao ser
transferido do gasoduto de transporte para o de distribuição, atravessa o ciclo de liquefação, onde uma parcela (f) do gás
é liquefeita, sendo mantida no tanque de armazenamento. O restante do gás, juntamente com a fase vapor que ficaria
retida no tanque de armazenamento, é enviado então ao gasoduto de distribuição, sendo necessário, em alguns casos,
adequar sua pressão à pressão de distribuição no local e elevar sua temperatura para que não haja problemas na rede de
distribuição, como por exemplo, formação de gelo.
As partes principais deste ciclo são um turbo-expansor (TE), um trocador de calor (TC-resf) de contra-corrente,
uma válvula de “flashing” (VF) e um tanque de armazenamento. Cabe observar que o trocador de calor (TC-resf) é
também o evaporador de um ciclo de refrigeração (CR) de compressão mecânica a vapor. Este ciclo, além do
evaporador, é formado por um compressor (CP), um condensador (TC) e uma válvula de expansão (VE). A potência
mecânica produzida pelo turbo-expansor ( W & ) é utilizada para acionar o ciclo de compressão a vapor ( W & ), e outros
E C

equipamentos auxiliares, como o compressor para elevar a pressão do gás que volta à linha de distribuição, que pode ser
movimentado também por um motor de combustão interna movido a gás natural.
Dentro das considerações já realizadas, pode-se analisar o sistema de liquefação de gás natural proposto,
considerando também as seguintes características do sistema:
• Capacidade de produção  entre 10 e 50 m³ de líquido/dia;
• Dados da linha de alta pressão  P1 = 10 MPa e T1 = 30°C;
• Pressão da linha de distribuição  entre 0,5 e 3,5 MPa, variando 0,5 em 0,5 MPa;
• Pressão de armazenamento do GNL  0,1 MPa;

4.1. Equações de Modelagem e Balanço

Conhecidos o estado termodinâmico do gás natural da linha de alta pressão (indicado por 1, na Fig (6)) e a
eficiência isentrópica do expansor (ηS), pode-se obter o estado 2 (na saída do expansor) através da Eq. (1), onde hi é a
entalpia específica correspondente ao estado i, e h2s é a entalpia do estado 2 ideal (considerando expansão isentrópica).

h 2 = h 1 − ηS ⋅ (h 1 − h 2S ) (1)

Desta forma, pode-se calcular também o trabalho produzido no turbo-expansor através da expansão do gás natural,
através da Eq. (2).

WE = h1 − h 2 (2)
Definindo-se o estado 4 (pressão e temperatura) de forma a garantir a obtenção de gás natural liquefeito na saída da
válvula de “flashing”, e admitindo que o processo de expansão através da mesma é isentálpico, isto é, h3 = h4, pode-se
então calcular a fração f que é liquefeita, utilizando para isso, a Eq. (3), baseada na aplicação da 1ª Lei da
Termodinâmica no TC-resf. Nesta equação, ηCOMP corresponde à eficiência isentrópica do compressor.

f ⋅ (h 3 − h 2 ) = WE ⋅ COP ⋅ η COMP (3)

Deve-se notar que a temperatura T3 – na saída do trocador de calor – deve ser maior que a temperatura de
vaporização do fluido de trabalho do ciclo de refrigeração. Desta forma, fica evidente que fluido utilizado no ciclo de
refrigeração será também um fluido criogênico, como por exemplo, o nitrogênio.
Para definir o estado 5, na entrada do gasoduto de distribuição, foi estimada uma temperatura na qual a
probabilidade de formação de gelo na rede de distribuição seria quase nula. Desta forma, pode-se então calcular o calor
necessário para condicionar a fração (1-f) de gás natural que não é liquefeito, chamado Qreq1, através da Eq. (4).

Q req1 = (1 − f) ⋅ (h 5 −h 2 ) (4)

Além disso, é também necessário fornecer calor e elevar a pressão do gás natural que retorna do tanque de
armazenamento, utilizando para tanto a Eq. (5).

Q req2 = f ⋅ x ⋅ (h 5 − h 4 ) (5)

Deve-se mencionar, ainda, que todas as equações acima foram obtidas ao considerar a hipótese de que a massa total
de trabalho neste ciclo é de 1 kg de gás natural. Assim sendo, todos os valores encontrados para trabalho e calor têm
como unidade [kJ/kg total de gás natural]. Como exemplo, considerando a expansão de 1 kg de gás natural no turbo
expansor, são gerados WE kJ e são requeridos Qreq kJ.

Figura 6 - Ciclo proposto.

5. Resultados

Na análise do ciclo proposto, foram consideradas as seguintes hipóteses, além das hipóteses já listadas:
• Fluxo mássico total de gás natural: m & T = 1 kg/s ;
• Eficiência isentrópica do expansor: η S = 85% ;
• Eficiência isentrópica do compressor: η COMP = 80%
• Temperatura e pressão do estado 1, na entrada do ciclo: T1 = 30ºC e P1 = 10 MPa;
• Não há variação de pressão no interior do trocador de calor, isto é, P2 = P3; e
• Temperatura de entrada no gasoduto de distribuição: T5 = 15°C
Utilizando o software EES (Engineering Equation Solver), realizaram-se primeiramente simulações variando o
valor da pressão P2 (pressão do gasoduto de distribuição), considerando um valor constante para o coeficiente de
desempenho do ciclo de refrigeração (COP). Desta forma, pode-se avaliar a influência deste parâmetro na fração f
produzida (quantidade de gás natural liquefeito sobre a quantidade de gás natural cuja pressão foi reduzida no turbo-
expansor).
Posteriormente, para verificar também a influência do valor COP na quantidade de GNL produzida, foi feita uma
nova análise, variando seu valor entre 2 e 4 e mantendo os valores de pressão P2 constantes.
Cabe ressaltar que tais análises foram realizadas considerando-se primeiramente a hipótese de que o gás natural é
composto somente por metano, sendo, portanto, estes os resultados apresentados na Seção (5.1). Posteriormente,
visando obter resultados mais próximos ao comportamento real do gás natural, utilizou-se a composição aproximada
mostrada na Tab.(1), obtendo os resultados indicados na Seção (5.2).

5.1 Análise 1

Como já mencionado anteriormente, em uma primeira análise, a modelagem do ciclo termodinâmico foi
simplificada, considerando-se a hipótese de que o gás natural é composto somente por metano (CH4). Além disso, para
possibilitar uma análise mais detalhada da influência da pressão do gasoduto de distribuição na quantidade de GNL
produzida, as simulações foram realizadas considerando uma faixa de pressão de distribuição que variava entre 10 MPa
e 0,5 MPa.
Como exemplo dos resultados, a Tab. (2) ilustra os valores encontrados em função da pressão P2, para um
coeficiente de desempenho para o ciclo de refrigeração (COP) igual a 3. Deve-se ressaltar aqui que, nesta simulação,
não há a necessidade de calcular o valor de Qreq2, uma vez que, no estado 4, todo o metano foi liquefeito e não há fase
vapor para ser retornada ao gasoduto de distribuição.
Ainda analisando os valores apresentados na Tab. (2), nota-se que o valor de Qreq1 não varia linearmente com a
temperatura do gás natural T2 ou com a pressão P2, uma vez que este valor depende também da fração (f) de gás natural
que é liquefeita. Caso não houvesse a influência da fração f, o valor de Qreq1 seria inversamente proporcional ao valor da
pressão P2. Isto ocorre uma vez que, quanto menor a pressão no estado 2, menor a temperatura T2, resultando em uma
maior demanda de calor para adequar a temperatura do gás natural que retorna ao gasoduto de distribuição. Entretanto,
como pode ser observado na Fig. (7), quanto menor o valor da pressão P2, maior o valor da fração f, indicando que mais
gás natural liquefeito foi produzido. Tendo essa afirmação como base, pode-se concluir que, numa situação em que
quase todo o gás natural expandido é liquefeito (f é próximo a 1), será necessário uma grande quantidade de calor para
uma pequena quantidade de gás, implicando, portanto, em um valor muito pequeno para Qreq 1.
Na Fig. (7), que ilustra a influência do valor do COP na fração de gás natural que é liquefeita e na quantidade de
calor requerida, pode-se observar ainda que, quanto maior o valor do COP, maior a quantidade de gás natural liquefeita
e consequentemente, menor a quantidade de calor requerida. Este efeito já era esperado, uma vez que o COP é um
indicador da eficiência do ciclo de refrigeração; quanto maior seu valor, menores as perdas.

Tabela 2 - Resultados da primeira simulação: fração de GNL produzida em função da pressão P2, para COP= 3.

P2 T2 WE WC Qreq1 P2 T2 WE WC Qreq1
F f
[kPa] [°C] [kJ/kg] [kJ/kg] [kJ/kg] [kPa] [°C] [kJ/kg] [kJ/kg] [kJ/kg]
10000 30 0,00 0,00 0,00 0,00 5000 -15,89 71,94 57,55 0,23 63,44
9500 26,39 5,86 4,68 0,02 0,00 4500 -22,26 81,68 65,34 0,26 71,89
9000 22,62 11,93 9,54 0,04 0,00 4000 -29,19 92,26 73,81 0,30 79,39
8500 18,67 18,23 14,58 0,05 0,00 3500 -36,77 103,90 83,12 0,35 85,66
8000 14,53 24,80 19,84 0,07 1,276 3000 -45,19 116,80 93,44 0,40 90,25
7500 10,17 31,66 25,33 0,10 12,54 2500 -54,68 131,40 105,12 0,45 92,42
7000 5,567 38,85 31,08 0,12 23,54 2000 -65,62 148,40 118,72 0,53 90,92
6500 0,7002 46,41 37,13 0,14 34,2 1500 -78,69 169,10 135,28 0,62 83,24
6000 -4,469 54,40 43,52 0,17 44,46 1000 -95,25 195,90 156,72 0,75 63,44
5500 -9,982 62,88 50,30 0,20 54,25 500 -119,2 236,30 189,04 0,96 11,42

Influência do Coeficiente de Desempenho (COP)


1,2 140

120
1,0
Calor fornecido [kJ/kg total]
Fração de GNL produzida

100
0,8

80
0,6
60

0,4
40

0,2
20

0,0 0
10000 7500 5000 2500
Pressão de distribuição [kPa]

Fração de GNL (COP=2) Fração de GNL (COP=3) Fração de GNL (COP=4)


Calor fornecido (COP=2) Calor fornecido (COP=3) Calor fornecido (COP=4)

Figura 7 – Influência do valor do COP do ciclo de refrigeração nos resultados.


5.2 Análise 2

Nesta análise, é utilizada a composição apresentada na Tab. (1), visando obter resultados que apresentem a
influência do equilíbrio químico e termodinâmico entre as fases da mistura multicomponente durante o processo de
liquefação. Cabe ressaltar que a composição adotada também é simplificada, embora apresente propriedades bastante
semelhantes a um gás natural de composição real.
Analogamente à análise anterior, a Tab. (3) ilustra os resultados obtidos em função de P2, para um COP=3.
Novamente, observa-se que o valor de Qreq total não varia linearmente, embora neste caso, haja a necessidade de
calcular o valor do calor necessário para retornar a parcela de vapor que se acumula no tanque de armazenamento à
linha de distribuição (Qreq 2). Isso se deve ao fato de que, nesta análise, o título da mistura na entrada do tanque de
armazenamento (estado 4) não é igual a zero, embora esteja bastante próximo, como mostra a Tab. (4), que apresenta as
propriedades dos estados termodinâmicos do ciclo, para uma pressão de distribuição de 1500 kPa.

Tabela 3 – Resultados da segunda simulação: fração de GNL produzida em função da pressão P2, para COP= 3.

Wexp Qreq 1 Qreq 2 Qreq total


Pdistribuição [kPa] Fração f hentrega (kJ/kg)
[kJ/kg] [kJ/kg] [kJ/kg] [kJ/kg]
500 1,00 213,3 28,41 0 92,43 92,43
1000 1,00 188,8 24,37 0 70,87 122,35
1500 0,84 161,4 20,3 31,07 57,58 129,11
2000 0,71 141,7 16,19 48,42 48,74 127,33
2500 0,62 125,6 12,06 57,03 41,91 121,90
3000 0,54 111,7 7,896 60,55 36,29 114,40
3500 0,47 99,2 3,702 60,68 31,50 105,55

Tabela 4 – Propriedades dos estados termodinâmicos do ciclo, para uma pressão de distribuição de 1500 kPa.

Composição Molar
Pressão Temp. Torvalho hmistura
Estados Líquido Vapor Titulo
[kPa] [°C] [°C] [kJ/kg]
N2 C1 C2 N2 C1 C2
1 0 0 0 2 90 8 10000 30,00 -39,76 -11,26 --
2 0 0 0 2 90 8 1500 -85,97 -85,79 -172,62 --
3 0 92 8 86 14 0 1500 -150,80 -85,79 -788,1 --
4 0 91 9 19 82 0 100 -163,00 -125,6 -788,1 0,11

Da mesma forma que na seção anterior, observa-se na Fig. (8) que a fração f, para um mesmo valor de COP,
diminui conforme a pressão de distribuição aumenta, uma vez que diminui também a quantidade de energia liberada no
processo de rebaixamento de pressão. Além disso, quando se considera uma mesma pressão de distribuição, a fração f
de GNL produzida aumenta conforme aumenta o COP do ciclo de refrigeração, já que o rendimento do ciclo aumenta.

Influência do Coeficiente de Desempenho - COP


1,1 170

1,0
150
0,9
Calor requerido [kJ/kg total]

0,8 130
Fração f de GNL

0,7
110
0,6

0,5 90

0,4
70
0,3

0,2 50
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500
Pressão de distribuição [kPa]

Fração de GNL (COP=2) Fração de GNL (COP=3) Fração de GNL (COP=4)


Calor requerido (COP=2) Calor requerido (COP=3) Calor requerido (COP=4)

Figura 8 – Influência do valor do COP do ciclo de refrigeração nos resultados.


5.3 Comparação entre os resultados

Para efeito de comparação entre os resultados encontrados nas duas análises realizadas, pode-se calcular, em ambos
os casos, qual a massa de gás natural que deve ser expandida no turbo-expansor para que seja possível produzir 1 kg de
GNL. Tais valores estão apresentados na Tab. (5), em função do coeficiente de desempenho (COP) e da composição
adotada.
Com base nos resultados apresentados, pode-se concluir então que, quanto maior a quantidade de metano presente
na composição do gás natural, menor a quantidade de gás que deverá ser expandida para produzir 1 kg de gás natural
liquefeito. Entretanto, a diferença obtida (0,3 kg) não deve ser considerada significativa a ponto de inviabilizar a
liquefação de um gás que possua uma menor quantidade de metano em sua composição.

Tabela 5 – Razão mássica necessária para produzir 1 kg de GNL

100% CH4 90,16% CH4; 7,84%C2H6; 2% N2


COP=2 COP=3 COP=4 COP=2 COP=3 COP=4
kg GN kg GN kg GN kg GN kg GN kg GN
Pressão f f f f f f
kg GNL kg GNL kg GNL kg GNL kg GNL kg GNL
3500 0,23 4,3 0,35 2,9 0,46 2,2 0,23 4,8 0,35 3,2 0,47 2,4
3000 0,26 3,8 0,40 2,5 0,53 1,9 0,26 4,3 0,4 2,8 0,54 2,1
2500 0,30 3,3 0,45 2,2 0,61 1,7 0,31 3,7 0,46 2,5 0,62 1,8
2000 0,35 2,9 0,53 1,9 0,70 1,4 0,36 3,2 0,54 2,1 0,71 1,6
1500 0,41 2,4 0,62 1,6 0,82 1,2 0,42 2,7 0,63 1,8 0,84 1,3
1000 0,50 2,0 0,75 1,3 0,99 1,0 0,51 2,2 0,77 1,5 1,00 1,1
500 0,64 1,6 0,96 1,0 1,00 1,0 0,68 1,7 1,00 1,1 1,00 1,1

6. Conclusões

Devido às recentes crises envolvendo o fornecimento de gás natural, está sendo dado um grande enfoque às
tecnologias relacionadas a formas alternativas de transporte do gás natural, como o gás natural liquefeito (GNL) e o gás
natural comprimido (GNC). Sob a forma de GNL ou GNC, o gás natural pode ser então armazenado e transportado
através de carretas, trens ou navios, da estação de liquefação/compressão até o mercado consumidor, dispensando a
utilização de gasodutos. Desta forma, pode-se diversificar então as possíveis fontes de fornecimento de gás natural,
tornando o Brasil menos dependente de alguns poucos fornecedores, como a Bolívia. Além disso, estas formas de
transporte do gás natural, chamadas “gasodutos virtuais”, quando relacionadas ao mercado interno, são uma das formas
mais eficientes para suprir regiões com baixas ou médias demandas, que não justifiquem o elevado investimento em
gasodutos. No entanto, devido às vantagens apresentadas pelo gás natural liquefeito em relação ao gás natural
comprimido, este trabalho deu maior enfoque a esta tecnologia e às formas de obtenção de GNL.
Foram realizadas duas análises do processo de liquefação, considerando composições distintas. A primeira análise,
mais simplificada, considera que o gás natural é composto somente por metano e permite verificar a influência global de
diversos parâmetros do sistema na quantidade final de gás natural liquefeito que pode ser produzida. A segunda análise,
por sua vez, ao considerar uma mistura multicomponente, permite verificar o comportamento das substâncias durante o
processo de liquefação e sua influência na quantidade de GNL que pode ser produzida.
Assim, primeiramente, concluiu-se que o chamado GNL direto, que poderia ser obtido através de uma expansão
simples em um turbo-expansor, entre dois níveis de pressão distintos, não é tecnicamente viável. Isto significa dizer
que, para as duas análises realizadas, não é possível obter GNL considerando somente uma expansão isentrópica. Com
base nesta informação, foi elaborada uma configuração para um ciclo de liquefação de pequena escala, que aproveita
então a energia gerada no turbo-expansor durante o processo de rebaixamento de pressão para movimentar um ciclo de
refrigeração. Tal processo de aproveitamento de energia é atualmente denominado “letdown”.
Em uma primeira análise da viabilidade técnica do ciclo de liquefação proposto, pode-se concluir que é possível
liquefazer todo o gás natural que é expandido no turbo-expansor, caso este seja composto somente por metano. No
entanto, isto exige que o fluido de trabalho do ciclo de refrigeração seja capaz de trabalhar a temperaturas cada vez
menores, dificultando a operação do ciclo de liquefação. No entanto, apesar deste entrave, observa-se que a
configuração proposta para um ciclo de liquefação auto-suficiente do ponto de vista energético é factível.
Pode-se concluir também que a porcentagem de GNL produzida pode ser aumentada diminuindo-se a pressão P2
(na saída do turbo-expansor) ou aumentando-se o valor do coeficiente de desempenho do ciclo de refrigeração. Tais
medidas aumentam a eficiência do ciclo, reduzindo temperatura T3, na saída do trocador de calor de resfriamento.
Já na segunda análise realizada, considerando-se o gás natural como uma mistura multicomponente, observa-se que
os resultados obtidos são análogos aos resultados anteriores, isto é, os parâmetros que influenciam os resultados são
semelhantes.
Ao comparar os resultados das duas simulações realizadas, calculando, em ambos os casos, a massa de gás natural
que deve ser expandida no turbo-expansor para que seja possível produzir 1 kg de GNL, pode-se notar que, quanto
maior a quantidade de metano presente na composição do gás natural, menor a quantidade de gás que deverá ser
expandida para produzir 1 kg de gás natural liquefeito. Entretanto, a diferença obtida (0,3 kg) não deve ser considerada
significativa a ponto de inviabilizar a liquefação de um gás que possua uma menor quantidade de metano em sua
composição.
Finalmente, considerando que o ciclo não necessita de uma fonte externa de energia e visa à produção em pequena
escala, mostra-se que sua utilização, principalmente para armazenamento de gás durante períodos de baixa demanda
(“peak-shaving”), é viável, sendo teoricamente possível liquefazer 100% do gás natural que é expandido no turbo-
expansor, dependendo das condições de trabalho. Além disso, através das análises apresentadas neste trabalho, pode-se
afirmar que a instalação de um ciclo de liquefação “letdown” no ponto de transferência de custódia pode contribuir
significativamente para a expansão da área de atuação do gás natural, diversificando os possíveis fornecedores e as
formas de transporte.

7. Referências

Abreu, P. L. e Martinez, J., 2003. A. Gás Natural: O Combustível do Novo Milênio. Plural Comunicação, 2a edição,
Porto Alegre.
Arruda, F. I. F. de, 2002. Viabilidade técnico-economica da implantação de uma unidade de liquefação de gás natural.
Trabalho de Conclusão de Curso, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
ANP, 2005. Agência Nacional de Petróleo. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/gas/gas_precotarifas.asp>. Acesso
em: 11/02/2006.
BEN, 2004. Balanço Energético Nacional. Disponível em: <http://www.mme.gov.br>. Acesso em 02/02/2006.
Barron, R., 1966. Cryogenic systems. Series in Mechanical Engineering. McGraw Hill, Nova York,
Comgás, 2006. Companhia de Gás de São Paulo. Disponível em: <http://www.comgas.com.br>. Acesso em
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GTI: Gas Technology Institute, 2005. Small Scale Liquefier Development. Disponível em:
<http://www.nrel.gov/vehiclesandfuels/ ngvtf/pdfs/gti_liquefier.pdf>. Data de acesso: 09/02/2006.
Lom, W. L., 1974, Liquefied Natural Gas, Applied Science Publishers, UK.
PETROBRAS, 2006. Disponível em: <http://www.petrobras.com.br>. Acesso em 15/04/2006.
Poulallion, P. Manual do gás natural. Coleção José Ermírio de Moraes, 1986
Shen, D., e Simões-Moreira, J. R., 2006. Use gas pipeline pressure to liquefy natural gas or generate electricity.
Hidrocarbon Processing, Janeiro de 2006.

8. Direitos autorais

A autora é a única responsável pelo conteúdo do material impresso incluído no seu trabalho.

STUDY OF TECHNICAL VIABILITY OF A SMALL-SCALE NATURAL GAS LIQUEFACTION SYSTEM

Débora Mei Shen


debora.shen@gmail.com

José R. Simões Moreira


jrsimoes@usp.br

Abstract. Nowadays, natural gas is one of the most popular sources of energy used in the world. However, its participation in the
Brazilian energetic matrix is still very small, since the transport infrastructure is still deficit, depending significantly on the use of a
pipeline system little ramified and linked. Moreover, the great dependency on few natural gas suppliers still generates insecurity in
the home market, mainly after the recent crisis involving Bolivia. In such a way, new technologies related to the diversification of the
transport forms and suppliers of natural gas are being strongly researched. In this context, this project discusses the liquefied natural
gas (LNG) technology, presenting a technical feasibility study for a thermodinamical cycle to liquefy natural gas in small scale. This
cycle, by using the energy generated in the pressure degradation during the process of custody transfer, becomes less dependant of
external energy sources, or even auto-sufficient from the energetic view.

Key words: Natural Gas; Liquefaction; Thermodynamic (Simulation)

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