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LABORATÓRIOS DE CIÊNCIAS DE ENGENHARIA QUÍMICA

TÉCNICA LABORATORIAL

OPERAÇÕES UNITÁRIAS

TRANSPORTE PNEUMÁTICO

Ano Letivo 2022 / 2023


(P4)
Laboratório de Ciências de Engenharia Química

1. Interesse
O transporte de sólidos é uma operação de grande importância na economia de muitos processos industriais,
podendo chegar a atingir 80% do custo operacional total.

Nos processos contínuos que incluem correntes com sólidos granulares, um dos equipamentos mais utilizados
e o transportador pneumático. O princípio básico utilizado é o da fluidização das partículas sólidas com ar ou
gás inerte, seguida do respetivo escoamento em fase diluída juntamente com o gás. De entre as suas principais
vantagens, contam-se a total contenção de produto no tubo transportador, a grande flexibilidade de
implantação, os baixos custos de manutenção e a facilidade de automatização. Dado, porém, que a potência
requerida por este sistema de transporte é comparativamente superior ao de outros sistemas alternativos, o
respetivo projeto é também relativamente mais exigente.

São de referir os casos da utilização do transportador pneumático como equipamento de contacto em


operações unitárias do tipo transferência de calor, secagem de sólidos ou reação química (catalítica ou gás—
sólido).

2. Objectivos
Um dos parâmetros fundamentais requeridos pelo cálculo das condutas de transporte pneumático é a
velocidade mínima de transporte, ou seja, a velocidade que a corrente de ar deve possuir para arrastar as
partículas sólidas, quer nos troços verticais, quer nos horizontais. Essa velocidade depende do tamanho, da
densidade e da forma das partículas, sendo 10-15 m/s no caso de cereal em grão ou sementes e cerca de 7 m/s
no caso dos pellets de PEAD. Um dos objetivos do trabalho é a determinação experimental desse parâmetro.

A velocidade mínima de transporte experimental obtida pode ser comparada com a velocidade mínima de
transporte teórica, calculada pela expressão da lei de Newton para a queda livre de partículas esféricas em
regime turbulento (103 < Re < 2x105), constituindo esta comparação o segundo objetivo.

Para permitir todos estes cálculos teóricos e determinações experimentais é necessário um terceiro objetivo:
a determinação das propriedades dos sólidos em estudo, nomeadamente as densidades (reais e aparentes) e
os diâmetros equivalentes.

3. Introdução
Num leito fixo de partículas atravessado por uma corrente de ar no sentido ascendente, o primeiro efeito da
força de atrito que é exercida pelo ar é a reorientação das partículas no sentido da diminuição da sua
resistência à passagem do ar. Com o aumento do caudal, o leito vai-se expandindo progressivamente e a perda
de pressão no fluido aumenta.

Atinge-se assim uma porosidade limite para a qual as partículas estão já separadas umas das outras. Neste
estado, a força de atrito exercida sobre as partículas iguala o seu peso aparente, passando estas a mover-se
em leito fluidizado suportadas pelo fluido. A perda de pressão p deixa de variar significativamente com o
caudal de ar (ver Fig. 1) porque passa a ter um valor que praticamente equilibra o peso aparente do Ieito por
unidade de área, isto é:

p =L (1 – ) (S – ) g (1)

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em que L é a altura do leito fluidizado,  a sua porosidade, S e  as densidades do sólido e do ar e g a
aceleração da gravidade.

Continuando a aumentar o caudal de ar, a turbulência do leito aumenta, assim como a sua altura e porosidade.
Quando a velocidade intersticial do ar atingir o valor correspondente à velocidade terminal de queda livre das
partículas, a velocidade relativa ar-sólido anula-se e dá-se o arrastamento do sólido pelo fluido. Neste ponto,
pode considerar-se em primeira aproximação que a porosidade atinge o valor limite 1 e entra-se no regime
de transporte pneumático. A velocidade mínima de transporte vmt pode, portanto, ser estimada pela lei de
Newton para a queda livre de partículas esféricas em regime turbulento (103 < Re < 2x105), entrando com o
diâmetro equivalente DS (Perry, cap. 5):

𝐷𝑆 ( 𝜌𝑆 − 𝜌 )𝑔
vmt ≈ 1,74. √ 𝜌
(2)

Enquanto não há transporte, a porosidade  aumenta com


a velocidade superficial do ar v de forma idêntica à relação
empírica de Richardson-Zaki para a expansão de leitos
fluidizados em líquidos (Gil, 1987):
v = vmt n (3)

equação esta que pode servir de base para a estimativa


experimental de vmt, representando log v em função de log
 e extrapolando para log  = 0.
A velocidade do ar é calculada pela expressão

2 𝛥𝑝
0
𝑣 = 𝐶 √𝜌 ( 𝛽′ 4 −1 )
(4)

em que p0 é a queda de pressão, ’ = D / D0 é a razão


entre os diâmetros da tubagem e do orifício e C(’) é o
coeficiente de descarga do orifício C ≈ 0,61 (Perry, cap. 5).
Os gráficos da Fig. 1 dão as representações log-log
simplificadas da queda de pressão p e da porosidade 
em função da velocidade superficial do ar v, onde se vê
que os pontos correspondentes à velocidade mínima de
fluidização vmf e à velocidade mínima de transporte vmt são
pontos de transição brusca.
No arrastamento do sólido pelo fluido faz-se a distinção
entre o regime de transporte em fase densa e o regime em
fase diluída, embora a separação entre os dois não seja
bem definida. O segundo caso é o que tem mais interesse
no transporte pneumático de granulados e verifica-se para
as velocidades mais elevadas (25-35 m/s).
No regime em fase diluída, a razão mássica material / ar não costuma ser superior a 15, podendo mesmo ser
inferior a 1, e a mistura bifásica comporta-se do ponto de vista da mecânica de fluidos como um gás denso.

Assim, no transporte pneumático vertical, a relação entre queda de pressão na tubagem e velocidade do ar é
em parte semelhante à que se verifica para o gás simples, conforme se vê na Fig. 2 que representa o chamado
diagrama de fase.

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4. Instalação Experimental
A instalação experimental está representada na Fig. 3. É constituída essencialmente por uma coluna vertical
em perspex, com escala graduada. pela qual passa uma corrente de ar proveniente de três ventiladores
centrífugos em série, situados na base. A corrente de ar, depois de regularizada por passagem através de um
feixe de tubos, atravessa uma rede metálica sobre a qual assenta no início do ensaio um leito fixo de sólidos.

O caudal de ar é regulado por uma válvula de diafragma, na admissão do ventilador intermédio 2, e é medido
em orifícios calibrados instalados na conduta de entrada (orifício 1) e no topo da coluna (orifício 2). Os sinais
dos transmissores de pressão diferencial dos orifícios são enviados para indicadores digitais do painel (FI’s).
A comparação entre as medições dos dois orifícios permite estudar a influência da concentração de sólidos na
medição do caudal.

A medição da perda de carga através do leito de partículas é feita com um medidor de pressão diferencial
(PI) ou com um manómetro de tubo em U com água corada, em paralelo.

O conjunto de peças ligado ao topo da coluna é. amovível, o que permite a introdução de material para a
realização dos ensaios descontínuos (ver Fig. 3). A descarga e recolha do material é feita neste caso através
duma manga flexível, como se mostra na figura a tracejado.

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A instalação dispõe ainda de um sistema de recirculação para ensaios contínuos. Este sistema é constituído
fundamentalmente por um ciclone, uma tremonha com visor de nível e uma válvula rotativa (eclusa) que faz
recircular o granulado para a base da coluna. A eclusa é atuada por um motor de velocidade variável regulada
por um variador da frequência da corrente de alimentação.

O material acumulado na base da coluna após entupimento pode ser descarregado por um pequeno tubo
lateral. A tremonha é realimentada pela tampa, através de um funil.

Tabela 1 – Material a utilizar consoante o número do grupo.

GRUPO Material

# 02 PEAD

# 04 Grão de bico

# 06 Feijão

# 08 Milho

# 10 PEAD

# 12 Grão de bico

# 14 Feijão

# 16 Milho

# 18 PEAD

NOTA: Todos os grupos farão adicionalmente um ensaio somente com 100 grs de cortiça, sendo
necessário também medir as propriedades da mesma.

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5. Técnica
5.1. Propriedade dos sólidos

Determinar:

A.1 Densidade aparente do sólido ap, por medição do volume a granel ocupado por determinada massa
numa proveta de 250 mL (3 vezes, no mínimo). (grãos: 0,7 – 0,9 x 103 kg/m3; PEAD: 0,55 – 0,7 x 103 kg/m3);

A.2 Densidade real do sólido S, por medição do volume de água ou álcool (consoante densidade relativa >
ou < 1) necessário para perfazer o volume total de 250 mL numa proveta contendo uma massa conhecida
de sólido; para evitar a retenção de ar nos interstícios das partículas, introduzir primeiro uma parte do
líquido na proveta e só depois introduzir o sólido (3 vezes, no mínimo). (grãos: 1,2 – 1,4 x 103 kg/m3;
PEAD: 0,90 – 0,95 x 103 kg/m3);1

A.3 Diâmetro equivalente das partículas DS, por medição do volume médio de cada grão num conjunto de n
grãos (n > 100) ou por análise granulométrica (PEAD);

5.2. Ensaios descontínuos

B.1 Retirar com cuidado a peça do topo da coluna;

B.2 Limpar o sólido introduzindo pequenas quantidades na coluna de cada vez (200 – 300 g) e arrastando as
impurezas e detritos pela passagem de ar;

B.3 A descarga do material é feita instalando no topo a peça adequada (curva 180˚ com manga);

B.4 Após a limpeza, introduzir a massa a ensaiar (200, 400, 600, 800 g) e preparar a descarga e recolha;

B.5 Medir a altura inicial do leito L0;

B.6 Com a válvula de admissão totalmente fechada, ligar os ventiladores necessários;

B.7 Fazer o registo de leituras para a curva de fluidização, percorrendo a gama completa de velocidades do
ar até haver transporte; 2

B.8 Repetir desde B.4 com nova massa de sólidos;

B.9 Desligar os ventiladores.

REGISTO DE LEITURAS

1
Atenção à absorção de água pelo cereal ou sementes: a proveta deve ser despejada logo que possível.
2
Acima de determinada massa de sólidos, dependendo do material, a expansão do leito deixa de ser estável e regular e
o material tende a subir e descer em bloco, tornando o ensaio pouco fiável.

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6. Tratamento de Resultados
1ª parte
1) Calcular ap, S e DS para o material a estudar.

2ª parte
2.1) Calcular a porosidade do leito fluidizado pela expressão:
( 1 − 𝜀0 ) 𝐿0
𝜀 =1−
𝐿
em que 0 = 1 – ( ap / S ) é a porosidade inicial do leito fixo;

2.2) Calcular a velocidade do ar pela queda de pressão p0 no orifício 2

2 𝛥𝑝0
𝑣=𝐶√
𝜌 ( 𝛽′ 4 − 1 )

em que ’ = D / D0 é a razão entre os diâmetros da tubagem e do orifício e C(’) é o coeficiente de descarga


do orifício C ≈ 0,61 (ver Perry, cap. 5);

2.3) Representar log  = f(log v), fazer a regressão linear só dos pontos alinhados e tirar a velocidade mínima
de transporte vmt por extrapolação para  = 1 (ver fig. 1);

2.4) Repetir para as diversas massas utilizadas e representar vmt = f(massa); aplicar o critério da rejeição ao
valor mais desviado da média.

3ª parte
3.1) Calcular a velocidade mínima de transporte recorredndo à Lei de Newton para queda livre de partículas
esféricas em regime turbulento. Comparar o valor médio de vmt com o valor previsto pela equação (2)

7. Equipamentos e Produtos Químicos


• Coluna vertical em perspex com diâmetro interno D = 80 mm e altura útil 2,6 m, com escala;
• 3 Ventiladores centrífugos Efacec PE6 em série, com pressão estática nominal na descarga de 145 mm
de coluna de água (CA) por unidade (considerar eficiência atual de 60%);
• 2 Orifícios calibrados de diâmetro D0 = 62 mm (paraD = 80 mm, C ≈ 0,61);
• 3 Transmissores calibrados de pressão diferencial Ashcroft, gama 0 - 3,00 “CA (orifício 1), 0 - 2,00 “CA
(orifício 2) e 0 - 10 “CA (perda de carga na coluna) com erro ±1% da escala;
• 2 Indicadores digitais Newport (p0 nos orifícios 1 e 2) calibrados para 0 - 1000 %o (±1);
• 1 Indicador digital Academy (perda de carga p na coluna) com indicação em mm CA e com
memorização de valores máximo e mínimo;
• Manómetro de coluna de água (CA) com escala em mm;
• Provetas graduadas de 250 mL;
• Régua graduada em mm;
• Balança técnica, capacidade 1510 g, erro ±0,1 g;
• Balança técnica, capacidade 10.000 g, divisões 10 g;
• Cereal ou sementes;
• Polietileno de alta densidade (PEAD) em pellets.

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Bibliografia
Chemical Engineers’ Handbook, 4th ed., ed. J. H. Perry, McGraw-Hill Int. Student Ed. (1963).

Coulson, J. M., Richardson, J. F, Tecnologia Química, Vol II, 2ª Ed., caps. 6 e 7, Fund. Gulbenkian, 1968.

Farbar, L., The Venturi as a meter for gas-solids mixtures, Trans. ASME, pp. 943-951 (1953). (Biblioteca do
DEM].

Foust, A. S., Wenzel, L. A., Clump, C.C., Maus, L, Andersen, L. B., Principles:of Unit Operations, 2ª ed., cap. 22,
J. Wiley (1980) (Biblioteca do DEQ).

Gil, M. G. B., Processos Industriais, IST (1987).

Gomide, R., Operações Unitárias, Vol 1: Operações com Sistemas de Sólidos Granulares, S. Paulo (1980).

McCabe, W. L., Smith, J. C., Harriot, P., Unit Operations of Chemical Engineering, 4th ed., cap. 7, McGraw-Hill
(1985).

Molerus, O., Principles of flow in disperse systems, caps. 5 e 6. Chapman & Hall (1993).

Techniques de l'Ingénieur, Mises en contact entre phases solides et gaseuses, A5850 e A5852 (Biblioteca
Central).

Zenz, F. A., Particulate solids - The third fluid phase in chemical engineering, Chem. Eng., Nov 28, 1983, 61-67.

Zenz, F. A. e Othmer, D. F., Fluidization and Fluid_particle Systems, caps. 2, 3, 7, 10 e 11. Reinhold Pub. Co., N.
York (1960) (Biblioteca do DEQ).

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Tópicos para relatório e tratamento de resultados

Resumo
• que grandezas ou relações foram determinadas
• que métodos foram usados e em que equipamento (dimensões da coluna, etc.)
• em que condições experimentais (massas, caudais, gama de velocidades, etc.)
• com que resultados (valores médios com erro, etc.)
• mostrando o quê (concordância ou desvios relativamente à literatura)

Parte experimental
• conforme técnica
• eventuais alterações

Resultados3 (síntese)
• tabela-resumo das propriedades dos sólidos
• tabelas e gráficos da vmt = f(massa) e valores médios

Discussão e Conclusões
• comparação das propriedades medidas com valores esperados (incluir granulometria PEAD)
• representações Richardson-Zaki (influência da massa na vmt ?)
• comparação das vmt com valores teóricos e esperados (interpretação dos desvios)
• validade dos métodos utilizados para os objetivos pretendidos (simplicidade, precisão, desvios,
problemas, limitações, melhorias? etc.)

Referências
Anexos
• Folhas de Registo
• Gráficos
• Cálculos Auxiliares.

3
Apresentar todos os valores com unidades SI, n° correcto de algarismos significativos, gráficos com escalas
adequadas legendas.

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