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MANUAL DE CONTABILIDADE GERAL

Introdução a Contabilidade

1. Introdução

1.1 Considerações Gerais


Para melhor introduzirmos e compreendermos o significado da contabilidade,
iniciaremos o nosso estudo com uma referência à noção de actividade económica, empresa e a
alguns conceitos a elas associados.

A - A actividade económica
Necessidades, bens e actividade económica

Necessidade é todo o estado de carência que se pode e deseja remediar.


Este estado de carência traduz-se geralmente por uma sensação desagradável, mas também pode
resultar do desejo de prolongar ou aumentar uma sensação agradável. Assim, todo o desejo de dispôr de
um meio capaz de diminuir ou fazer cessar uma sensação penosa ou de conservar ou aumentar uma
sensação agradável é uma necessidade.
Entre outras, conhecemos por exemplo, as necessidades de alimentação, respiração, habitação,
vestuário e distração.
Quando a satisfação de uma necessidade implica um certo custo ( a prestação de trabalho, a
realização de uma despesa), temos uma necessidade económica.
Necessidade económica é todo o estado de carência que se deseja e pode remediar mediante um
certo custo.
Assim, algumas necessidades são sempre económicas ( alimentação, habitação ), outras nunca
são económicas ( respiração ) e algumas outras são ou não económicas consoante o tempo e o lugar
considerados ( a necessidade de água, no verão ou no inverno, no equador ou nos polos ).
As necessidades constituem o verdadeiro motor da actividade económica estando na origem de
todo o progresso técnico, o qual por sua vez vai criando novas necessidades.
Os meios aptos à satisfação das necessidades designam-se por bens.
São bens, por exemplo, o ar, a água, o trigo, o pão, os fatos, as casas, os automóveis, a luz e calor
solares - todos eles satisfazem necessidades.
Nem todos os bens satisfazem necessidades económicas. De facto, o ar e a luz solar podem ser
obtidos sem esforço apreciável, a sua substituição pode ser feita sem qualquer sacrifício, ou custo, pois
existem em quantidades ilimitadas, são bens livres.
Outros bens, como o trigo, os fatos, os automóveis, existem em quantidades limitadas, pelo que
a sua obtenção implica um certo esforço ( têm um custo ) - são bens económicos.
Até agora temos pensado apenas em bens materiais, nas coisas que satisfazem as nossas
necessidades - os alimentos, os fatos, as casas, etc., visto que uma grande parte da actividade económica
visa a obtenção desses bens.
No entanto, nem todas as necessidades são satisfeitas com bens materiais. Pensemos por exemplo,
na necessidade de instrução: podemos satisfazê-la recorrendo aos serviços dum professor. Pensemos ainda
na necessidade de viajar: a maior parte das vezes recorremos aos serviços de uma empresa de transportes.
Em qualquer dos casos foram os serviços - do professor e do transportador - que satisfizeram as
necessidades. No primeiro caso nem sequer foi necessária a intervenção de qualquer bem material; no
segundo foi posto à nossa disposição um meio de transporte.
Podemos definir os serviços como prestações dos homens que se destinam a satisfazer
directamente as nossas necessidades, com o auxílio ou não de bens materiais.
Porque satisfazem necessidades, os serviços são bens, mas bens imateriais, que apresentam ainda
uma outra particularidade notável: a sua produção e consumo são instantâneos e inseparáveis.
Podemos compreender, agora, que será económica toda a actividade que, lutando contra a
escassez, visa a satisfação das necessidades, mediante um certo custo.
Numa economia de trocas complexas, baseadas na divisão do trabalho, segundo o lema “produz
para mim que eu produzirei para ti”, como é a do mundo actual, a actividade económica há-de
compreender os seguintes fenómenos:
- a obtenção dos bens económicos, ou seja, a produção;
- o aumento das forças produtivas, designando-se tal de acumulação;
- a passagem dos bens dos produtores para os consumidores, ou seja, a distribuição;
- a utilização dos bens na satisfação das necessidades, designando-se tal por consumo.

Assim, o consumo é o capítulo final ou epílogo da história de qualquer bem económico, ou seja,
da série de operações indispensáveis à sua obtenção e distribuição, as quais constituem o seu ciclo
produtivo.

B – A Empresa

As empresas, células base da actividade económica, são vulgarmente entendidas como conjuntos
organizados de meios materiais e humanos, virados para a produção de bens e serviços. Constituídas
sem horizonte temporal definido, têm contudo à semelhança das demais organizações, um ciclo de vida
limitado, o qual, pode ser dividido nas três fases seguintes :
 institucional, em que se decide a sua criação, através da obtenção e combinação dos recursos
necessários para sua entrada em funcionamento;
 funcionamento ou de execução, na qual se desenvolve todo o processo de transformação,
ou seja, o da produção de bens e serviços, com vista à obtenção de certos resultados;
 liquidação, na qual se procede à extinção da empresa.

Sendo a fase de execução a de mais longa duração, e tendo em conta a necessidade de se obter
informações regulares sobre o andamento dos negócios, houve necessidade de a dividir em intervalos de
tempo, no fim dos quais se apuram os resultados, se elabora o balanço, se discute a actuação da direcção,
se aprovam as contas, etc. A cada um desses períodos normalmente coincidentes com os anos civis,
designa-se por período administrativo. A parte da gestão correspondente a cada período administrativo,
denomina-se exercício económico.
No desenvolvimento da sua actividade económica, a empresa estabelece
relações, umas viradas para os aspectos internos, outras para o exterior.
Estas relações traduzem-se por fluxos de bens e serviços, aos quais correspondem usualmente
fluxos monetários de sentido inverso.

Vejamos em esquema, esses fluxos :

FLUXOS DA EMPRESA
Fluxos reais Fluxos
monetários
Fornecedores
( materiais,
despesas pagamentos
mão-de- Compras Fornecedores
obra…) custos
Produção Caixa/Depósitos

receitas
Compradore Vendas proveito Compradores
s s recebimento
zona interna
s

Três ópticas distintas podem ser evidenciadas :


 A primeira óptica é a financeira e diz respeito ao movimento da empresa perante o exterior.
Está directamente relacionada com a remuneração dos factores e dos bens e serviços
transaccionados. Nesta óptica podemos distinguir : as despesas, que correspondem à
remuneração dos factores produtivos e as receitas, que correspondem à remuneração das
vendas efectuadas e/ou dos serviços prestados. Em suma, despesas e receitas, dizem respeito
a factos que originando, as primeiras obrigações a pagar e as segundas direitos a receber, irão
provocar, respectivamente, saídas e entradas de valores monetários para a empresa.

 A segunda óptica é a económica ou produtiva, e anda ligada à transformação e incorporação


dos diversos materiais, mão-de-obra, etc., até se atingir o produto ( bem ou serviço ) final.
Os valores incorporados e gastos na produção designam-se custos. Por sua vez, os produtos
acabados de fabricar e aptos para a venda designam-se proveitos. Em síntese, a empresa ao
consumir bens e serviços tem custos; ao produzi-los tem proveitos.

 Por último, a terceira óptica é a de tesouraria ( ou de caixa ) e corresponde às entradas e


saídas monetárias da empresa. Nesta óptica podemos destinguir os recebimentos, que
correspondem à entrada de valores monetários para a empresa, e os pagamentos, que dizem
respeito às saídas de valores monetários.
Classificação das Empresas

Podemos classificar as empresas sob três pontos de vista:


* jurídico
* económico
* fiscal

Classificação jurídica

Recolhemos do código comercial os elementos seguintes, com vista à motivação deste assunto:
Artigo 13.º
( Quem é comerciante )
São comerciantes:
1.º As pessoas que, tendo capacidade para praticar actos de comércio, fazem deste profissão;
2.º As sociedades comerciais
As sociedades comerciais serão de uma das seguintes espécies: ( art. 105º C.C.e art.1º Lei das
Sociedades por Quotas )
 Sociedades em nome colectivo; ( …. & C.a)
 Sociedades anónimas; ( …., SARL )
 Sociedades em comandita; ( …., em C.ta)
 Sociedades por quotas ( …., Lda. )

Em conformidade com aqueles diplomas legais, são considerados empresas:


1. Os comerciantes em nome individual
2. As sociedades comerciais

As sociedades comerciais podem ser ainda das seguintes espécies:


1. Sociedades em nome colectivo - é caracterizada pela responsabilidade, solidária e ilimitada,
de todos os associados.
2. Sociedades por quotas - de responsabilidade limitada e constituídas somente por escritura
pública.
3. Sociedades Anónimas - em que os associados limitam a sua responsabilidade ao valor das
acções com que subscrevem para o capital social.
4. Sociedades em Comandita - quando um ou mais associados respondem como se a sociedade
fosse em nome colectivo, e outro ou outros apenas fornecem valor determinado, limitando a
este a sua responsabilidade.

Em conformidade com o artigo 18.º do Código Comercial, os comerciantes são obrigados:


1.º A adoptar uma firma;
2.º A ter escrituração mercantil;
3.º A fazer inscrever no registo comercial os actos a ele sujeitos;
5.º A dar balanço e a prestar contas.

Firma é o nome pelo qual o comerciante é conhecido na sua actividade comercial.

Reis &
Bento, Lda. A firma individualiza O Comerciante.

C O nome do
Continente estabelecimento O Estabelecimento.
e a sua insígnia
individualizam

A marca individualiza O Produto.

Podemos encontrar ainda as Sociedades Cooperativas, que não são propriamente espécies de
sociedades comerciais, e só podem constituir-se com fins específicos consignados por lei. Assim as
sociedades cooperativas podem pertencer a qualquer das quatro espécies enumeradas, consoante a forma
que adoptarem.

Classificação económica

Do ponto de vista económico as empresas são de dois tipos:


Empresas Comerciais: são empresas essencialmente vocacionadas para a comercialização, isto
é, adquirem determinado bem e vendem esse mesmo bem sem lhe alterarem as características iniciais.
Neste caso não há transformação.
Empresas Industriais: são empresas directamente afectas ao processo produtivo. Estas empresas
adquirem matérias primas e outras e transformam-nas em produtos (produtos acabados). Neste caso, existe
transformação.

Numa classificação mais analítica neste grupo, isto é, quanto ao objectivo económico, alguns
autores efectuam distinção entre:
 empresas produtoras ou transformadoras
 empresas comerciais
 empresas financeiras
 empresas de serviços ( transportes, seguros )
 empresas extractivas
 ……

Classificação Fiscal

De acordo com a reforma fiscal em vigor, que vista a modernização do País e melhor integração
à escala regional e internacional, a classificação das empresas sob o ponto de vista fiscal, varia em função
da dimensão das empresas, da sua complexidade organizativa e dos requisitos contabilísticos a que estão
sujeitas. Tal encontra-se concretizado na formação de três grupos distintos de contribuintes ( art. 95 do
C.I.R ):

 Grupo A - aqueles a quem pode ser exigido que disponham de escrita organizada, que
possibilite o apuramento, de forma clara, dos resultados positivos ou negativos do exercício
de uma actividade.
 Grupo B - formado essencialmente por empresas mais pequenas, que embora dispondo de
alguns registos contabilísticos simplificados não asseguram uma tão precisa determinação do
lucro efectivamente obtido.
 Grupo C - conjunto de pequenas actividades ou negócios de tipo individual e sem recurso
significativo a trabalho assalariado, a quem seria extremamente oneroso e difícil exigir
registos de movimentos das actividades comerciais ou industriais exercidas, e sobre quem se
lançam taxas específicas em função do ramo de actividade.

Outra classificação dada as empresas e de acordo com o regime de tributação do Imposto sobre
o Valor Acrescentado, as empresas situam-se em:

 Regime Normal de Tributação - que engloba as empresas classificadas no grupo A da


Contribuição Industrial e ainda todas as que realizam operações de importação ou exportação
e as que tenham um volume de negócios anual superior a 250 milhões de meticais.
 Regime de Tributação Simplificado - para sujeitos passivos que no ano civil anterior tenham
atingido um volume de negócios superior a 100 milhões de meticais e inferior a 250 milhões
de meticais, que não possuam nem sejam obrigados a possuir contabilidade organizada para
efeitos de tributação sobre o rendimento nem realizem operações de importação ou
exportação.
 Regime de Isenção - para os que relativamente ao ano civil anterior o seu volume de negócios
seja igual ou inferior a 100 milhões de meticais, e que não possuam nem sejam obrigados a
possuir contabilidade organizada para efeitos de tributação sobre o rendimento, nem realizem
operações de importação ou exportação.

1.2 A evolução e o papel da Contabilidade como instrumento de Gestão


A génese da contabilidade é explicada - segundo a maioria dos autores - pela necessidade sentida
pelo homem de preencher as deficiências da memória, mediante um processo de classificação e registo
que lhe permitisse recordar facilmente as variações sucessivas de determinadas grandezas, para que em
qualquer momento pudesse saber da sua extensão.
Assim, a contabilidade primitiva visava fundamentalmente suprir as limitações da memória
humana. Além disso, desempenhava igualmente uma outra função importante : a de constituir um meio
de prova entre partes discordantes ou em litígio.
Os processos de registo utilizados, que inicialmente eram bastante simples, foram-se
generalizando e refinando, tendo chegado aos nossos dias sistematizados naquilo que se designa por
método contabilístico. Este método, é constituído por um conjunto de registos relativos às grandezas que
se pretendem observar e às variações aumentativas e diminutivas que essas grandezas possam sofrer.
Graficamente, estas grandezas são usualmente apresentadas num diagrama ( em T ), a que se
convencionou chamar conta.
O grande desenvolvimento dos princípios contabilísticos tal como hoje os conhecemos deveu-se
fundamentalmente ao movimento económico-político que foi a revolução industrial. É, aliás, o próprio
desenvolvimento das unidades de produção capitalistas que vai determinar o aperfeiçoamento do método
contabilístico. De facto, a crescente utilização de recursos matérias, financeiros e humanos tornou
inadequada a contabilidade tradicional, obrigando-a a adaptar-se às exigências do desenvolvimento
verificado.
A contabilidade, que a princípio tinha um papel de natureza jurídica
transforma-se progressivamente numa fonte de informações, na medida em que
pode facultar a todo o momento o conhecimento da situação do comerciante e o
andamento dos seus negócios. Neste domínio, a contabilidade tradicional, que
registava apenas as relações da empresa com o exterior, conseguiu uma maior
expressão nas empresas comercias. Só com o desenvolvimento da técnica
contabilística foi possível a sua aplicação às empresas transformadoras.
A contabilidadde era no entender de grande número de autores, ( e ainda hoje muitos a consideram
como tal ) uma técnica que tinha como finalidade, escrever e registar os factos patrimoniais ocorridos,
tendo em vista conhecer :
1. Posição devedora ou credora da empresa em relação aos que com ela transaccionam;
2. Composição e valor do património;
3. Custo dos bens ou serviços vendidos;
4. Origem e a causa dos encargos e rendimentos;
5. A natureza e importância dos resultados;
6. Responsabilidade dos diversos agentes obrigados a prestar contas dos valores a si
consignados.
Apresentar hoje a contabilidade como uma técnica de registo dos factos patrimoniais passados, é
limitar o seu campo de análise e consequentemente deixar de lhe atribuir uma característica importante :
a de constituir um meio eficiente de gestão.
Presentemente às empresas não interessa apenas o registo histórico dos
factos patrimoniais. Também a previsão do futuro é um facto relevante na gestão
moderna, assente também ela, nos dados fornecidos pela contabilidade.
Assim, com o desenvolvimento das técnicas de gestão foi-se operando uma mudança gradativa
no conceito tradicional da contabilidade. A Contabilidade já não é entendida apenas como um elemento
de simples recolha e interpretação dos dados históricos. É, além disso, uma técnica eficiente de gestão.
De facto, a gestão moderna, não se limita a recordar o passado e a conhecer o presente. Torna-
se necessário também conhecer o futuro, planear a actividade, estabelecer objectivos, mediante uma
prévia selecção entre as diversas alternativas possíveis. Ora, o estabelecimento destas opções exige
elementos que as fundamentem. Os dados de contabilidade constituem um importante auxiliar no
fornecimento desses elementos. Além disso, após seleccionados os objectivos, há a necessidade de
estabelecer o controlo, sem o qual aqueles não teriam significado. Mais uma vez, a contabilidade surge
como precioso auxiliar, fornecendo os elementos indispensáveis e procedendo ao próprio controlo.
Também é sabido que a tributação é, na maioria dos países lançada sobre o
lucro real das empresas. Daqui advém a necessidade de ser efectuada de
acordo com as normas e preceitos legais, para que assim os valores
apresentados mereçam credibilidade.
Igualmente a nível da economia nacional e internacional, as informações obtidas na contabilidade
se revelam úteis. Nenhum estado pode orientar devidamente a sua economia, sem que possua as
informações sobre a situação das empresas, da sua eficiência, dos sectores mais rentáveis, dos custos de
produção, volume de matérias necessárias, etc… .
Se bem que o campo de acção por excelência da contabilidade, seja a empresa privada, o seu
âmbito é mais vasto, recorrendo a ela os próprios departamentos governamentais. A administração pública
para estabelecer o seu orçamento e para seguir a aplicação das verbas que lhes estão consignadas, necessita
de recorrer à técnica contabilística.
Do exposto, se verifica, que a contabilidade é um importante instrumento de gestão. Como tal,
para que sejam respeitados os sãos princípios da Contabilidade, torna-se necessário que o responsável
pela sua aplicação na empresa conheça perfeitamente o trabalho que irá efectuar.
O verdadeiro técnico de contabilidade deve estar apto em qualquer momento a responder a
questões como as seguintes :
 Quanto possuem a empresa ?
 Qual o valor dos stocks existentes em armazém ?
 Qual é a posição devedora ou credora em relação àqueles com quem a empresa estabelece
relações comerciais?
 Como se estão a processar a liquidação dos débitos a terceiros e o recebimento dos créditos
concedidos ?

É devido à vastidão dos problemas que abarca, que o técnico deve conhecer, além dos processos
de registo das operações, matérias tais como, direito fiscal, direito comercial, organização de
empresas, gestão financeira, etc.
Do exposto, qual a noção que deveremos ficar de contabilidade? É difícil estabelecer uma

noção clara e ao mesmo tempo completa que abranja o campo de estudo da contabilidade.

Apresentamos, a mero título de exemplo, várias noções que lhes foram atribuídas :

1 ) “A contabilidade é a doutrina do controlo económico e da determinação do rédito em


qualquer espécie de empresa’’- Tessanova .

2) “A contabilidade é a ciência do património’’ - Masi.

3) “A contabilidade é a disciplina que estuda os processos seguidos nas unidades


económicas, para revelação da gestão’’ - Zappa.

4) “A contabilidade é um método de investigação da actividade económica’’ - Popoff.

Segundo o Professor Gonçalves da Silva, a contabilidade é a técnica da relevação patrimonial.


A relevação consiste na descrição, na colocação em evidência de determinados factos. O mesmo autor
faz a diferenciação entre :
“ a contabilidade em strictu sensu, ou seja escrituração, que é a técnica de registo e de representação de
todas as transformações sofridas pelo património de qualquer entidade económica durante o exercício
da sua actividade, de modo a saber em qualquer momento a sua composição e o seu valor.

A contabilidade em latu sensu, que é a ciência dos processos descritivo - quantitativos utilizados
na análise, registos, interpretação e controlo dos factos de gestão. Visa “quantificar” tudo o que ocorre
numa unidade económica fornecendo, simultaneamente, dados para a tomada de decisões da gestão.

2. A CIÊNCIA DA CONTABILIDADE
2.1 Técnica e ciência

2.1.1. Natureza

O registo da actividade económica de qualquer unidade económica faz-se de acordo com a


chamada técnica contabilística, a qual compreende a captação, medição e representação dos factos
observados e o seu tratamento com vista a obtenção de determinadas informações.
No entanto, essa técnica apoia-se actualmente numa automatização, isto é, num conjunto coerente
de difinições, postulados e requisitos, conducentes por via inferencial a teoremas e leis que apresentam
uma apreciável potencialidade explicativa e preditiva, e que conferem a contabilidade um carácter
científico, tanto mais que, como veremos, esta disciplina utiliza um método específico, distinto de
qualquer outro.
Podemos dizer, portanto que a contabilidade é uma ciência de natureza económica.

2.1.2 Objecto

Mas qual será o objecto da contabilidade?


Que se estudará nesta ciência?
Vamos considerar a unidade económica que melhor conhecemos - a família - e pensemos no que
será, ou poderia ser, a contabilidade familiar ou contabilidade doméstica.
Fundamentalmente, essa contabilidade há - de registar as receitas da família (ordenados dos
membros da família e quaisquer outros rendimentos) e as despesas da família (renda da casa, alimentação,
vestuário combustíveis, diversões, etc), comparando as receitas actuais com as do passado e planeando
as receitas e despesas futuras.
Assim, as informações fornecidas pela contabilidade permitirão a família:

-Recordar a sua actividade passada;


-Tomar decisões no presente;
-Programar o futuro, elaborando um plano de actividades, cuja tradução monetária se
designa por orçamento.

Depois, pelos registos efectuados posteriormente, a família poderá controlar as suas despesas e
receitas, comparando as anteriores previsões com a realidade, analisando os eventuais desvios e tomando
as decisões convenientes.
Ora, em qualquer unidade económica existem estes mesmos problemas e outros análogos.
Assim, o objecto da ciência da contabilidade é a realidade económica, passada, presente e
futura, de qualquer unidade económica.
Naturalmente, essa realidade económica será analisada, essencialmente, em termos quantitativos.
2.1.3 Finalidade

A - Informações - suporte das decisões

Qual será o interesse da contabilidade doméstica?

Para além do mais, fornecer as informações indispensáveis para a família:


- saber, em qualquer momento, o que lhe devem e o que deve, informações estas que traduzem a
situação familiar;
-Apreciar o resultado da sua actividade, relativamente a origem e aplicação dos recursos
familiares;
-analisar os desvios entre a actividade anteriormente programada e a realidade (controlo);
-tomar as decisões mais convenientes;
-elaborar novo orçamento.

Como é evidente, estas informações interessam principalmente aos membros da própria família,
mas não só, poderão interessar também a eventuais financiadores (no caso da família solicitar ou ter obtido
um empréstimo) e, até, ao Estado, na medida em que os rendimentos familiares estejam sujeitos a
impostos.

Ora, o mesmo acontece com as restantes unidades económicas.


Então, podemos afirmar que a finalidade da ciência da contabilidade é a obtenção de
informações úteis para todos os interessados, com vista a uma racional tomada de decisões.

B - Classificação das informações

Para melhor compreender a classificação das informações contabilísticas, será conveniente deixar
a unidade familiar e considerar, agora, a unidade típica de produção - empresa - pensando especialmente
numa empresa industrial.

Então, poderemos distinguir:


a) As informações que respeitam às operações realizadas com o exterior (operações externas)
Estas informações, de carácter económico-financeiro, são dirigidas não só aos responsáveis pela
administração da unidade económica, mas também a todos os interessados em conhecer os resultados
obtidos e a situação da unidade: sócios, pessoal, clientes e forcecedores, financiadores e até o próprio
Estado, por duas razões fundamentais: primeiro, porque alguns dos impostos lançados sobre as unidades
económicas são baseados nos lucros obtidos; depois, e sobretudo, porque só é possível conhecer a
actividade económica sectorial e nacional pela agregação das informações relativas a cada unidade
económica.

b) As informações respeitantes às operações realizadas no interior da própria empresa


(operações internas).
Estas informações, de carácter económico-técnico, são dirigidas exclusivamente aos vários
responsáveis da unidade económica, a todos os níveis (administradores, directores, chefes de secção,
encarregados das oficinas, etc.), especialmente interessados em conhecer os resultados por funções,
secções e produtos.
Sócios Pessoal Financiadores

ZONA DE CONTACTOS

Orçamento

Zona das Operações

Fornecedores Internas Clientes


Controlo

COM O EXTERIOR

Estado

C - Requisitos das informações

Naturalmente que as informações fornecidas pela contabilidade apenas serão úteis na medida em
que satisfaçam os seguintes requisitos:

a) Relevância
A informação deve fornecer um elemento de resposta a uma questão e orientar a acção.
Então, a contabilidade deve ser organizada em função das necessidades sentidas ou previsíveis
dos utilizadores das informações.

b) Oportunidade (ou actualidade)


A informação deve ser fornecida no momento em que é necessária, pois em caso contrário será
mais que inútil.
De facto, o valor duma informação contabilística decresce com o quadrado do tempo decorrido
até a sua recepção pelo destinatário.
c) Quantificação
A informação deve ser quantificável, traduzida em números, geralmente representativos de
unidades monetárias, mas algumas vezes de unidades físicas.
Uma informação qualitativa corre o risco de ser diferentemente interpretada por cada pessoa.

d) Economicidade
O custo da informação deverá ser inferior a vantagem que ela proporciona.
Em caso contrário, será preferível prescindir dessa informação.

2.1.4 Definição

A contabilidade é uma ciencia de natureza económica, cujo objecto é a realidade económica


de qualquer entidade pública ou privada, analisada em termos quantitativos e por método
específico, com o fim de obter as informações indispensáveis a gestão dessa entidade, nomeadamente
ao conhecimento da situação patrimonial e dos resultados obtidos e ao planeamento e controlo das suas
actividades.

2.2 Hipóteses básicas

A contabilidade pressupõe a existência dos seguintes fenómenos (postulados), com base nos quais
se definem os conceitos fundamentais e inferem as regras de funcionamento;

UNIDADE ECONÓMICA: existe uma pessoa jurídica, singular (indivíduo) ou colectiva


(associação de indivíduos);

PATRIMÓNIO: cada unidade económica possui e/ou administra um conjunto de objectos


económicos ( bens, direitos e obrigações), susceptíveis de expressão monetária;

CONTAS: existe um sistema hierarquizado de subconjunto de valores patrimoniais, com


determinadas características comuns e específicas, que representa a estrutura patrimonial;

FACTOS PATRIMONIAIS: existe uma série de fenómenos que originam variações na estrutura
patrimonial e, portanto nas respectivas contas;

DUALISMO PATRIMONIAL: todo o facto patrimonial implica sempre variações em duas


contas, variações de igual valor, mas de efeito contrário;
FORMA DE REPRESENTAÇÃO: existe pelo menos uma forma de representar os factos
patrimoniais, que permite registar as variações da estrutura patrimonial e das contas.

Estes postulados só adquirem plena revelância quando associados a este outro:

FINALIDADE: existem e são conhecidos alguns objectos específicos ou necessidades de


informação, para orientar a administração da unidade económica, necessidades que devem ser satisfeitas
por determinado sistema contabilístico.

Ora, todas as unidades económicas se debatem, pelo menos, com as seguintes necessidades de
informação:

- conhecer, a todo momento, a sua situação patrimonial, a qual pode ser periodicamente resumida
num documento chamado BALANÇO, síntese agregativa de determinado conjunto de contas;

- conhecer, a todo o momento, a natureza dos resultados obtidos em determinado período, a qual
pode ser periodicamente patenteada num documento chamado DEMONSTRAÇÃO DOS
RESULTADOS LIQUIDOS, síntese agregativa doutro conjunto de contas.

2.3. Divisões

Tal como acontece em todas as outras ciências, também no tronco comum da contabilidade
podemos contemplar vários ramos disciplinares.

2.3.1.A contabilidade geral

O tronco comum será constituído pela contabilidade geral, que compreende os conceitos
básicos, as regras de funcionamento e os princípios contabilisticos (teoria da contabilidade) e as formas
de representação, ou seja, a escrituração propriamente dita (técnica contabilística geral).

CONTABILIDADE TEORIA da Contabilidade

GERAL TECNICA Contabilística


Geral
2.3.2 A contabilidade aplicada

As ramificações do tronco comum, em seu conjunto, correspondem a aplicação da contabilidade


geral (teoria e técnica) a unidades económicas de variada natureza, dimensão e objectivos, com distintas
necessidades de informação.
Antes de mais, podemos distinguir a contabilidade aplicada a unidades económicas privadas
(famílias, empresas e outros organismos), a unidades económicas públicas ( Estado, autarquias locais e
organismos autónomos) e ao respectivo conjunto (Nação).

Contabilidade
CONTABILIDADE PRIVADA
Contabilidade
PUBLICA
APLICADA Contabilidade
NACIONAL

Convém salientar, entretanto, que a Contabilidade da empresa se distingue da contabilidade


doméstica e naturalmente, da contabilidade pública, na medida em que, estando aqui em causa a satisfação
de necessidades sem comprometer o equilíbrio entre as receitas e as despesas, se privilegiam os fluxos
financeiros, característica fundamental da chamada Contabilidade Administrativa.

2.3.3 A contabilidade da empresa

Na contabilidade da empresa podemos distinguir: a contabilidade das relações com o exterior


(contabilidade financeira), do movimento interno ou de produção (contabilidade de custos) e do
planeamento e controlo (contabilidade orçamental).

Convém salientar que:

- na maior parte das empresas apenas existe a contabilidade financeira;


- nem todas as empresas industriais dispõem de contabilidade de custos;
- em poucas empresas existe uma contabildade orçamental, mas em contrapartida, ela é
obrigatória na contabilidade pública.

Contabilidade Financeira
Contabilidade
Contabilidade de Custos
da
Empresa Contabilidade Orçamental
Note-se que as expressões “ contabilidade agrícola,” “contabilidade industrial”,
contabilidade bancária”, “contabilidade de seguros”, etc., nada mais significam que a contabilidade
aplicada as empresas daqueles ramos de actividade, muito especialmente aos seus problemas específicos.

2.3.4 As informações como objecto da contabilidade

Todos os ramos disciplinares até agora considerados têm como objecto a realidade económica e
por finalidade a obtenção de determinadas informações.
No entanto, essas próprias informações podem ser objecto de certos ramos disciplinares.
De facto, as informações contabilísticas podem ser:
- estudadas para delas se extrairem novas informações (análise contabilística);
- examinadas para verificar e confirmar a sua veracidade e exactidão (revisão contabilística ou
auditoria);
-agrupadas com as informações relativas a outras empresas (consolidação contabilística) para
obter a contabilidade de um “ grupo de sociedades” ( excluindo, naturalmente, as relações entre as
sociedades do grupo).

Note-se que toda a contabilidade aplicada pode ser objecto de análise contabilística e que a revisão
contabilística também é habitual na contabilidade pública.

Análise Contabilística
Revisão Contabilística
Contabilidade
Consolidação
Contabilística
Acabamos de ver como é vasto e diversificado o mundo da contabilidade, muito embora nos
limitemos, por enquanto, a estudar a contabilidade geral (teoria e técnica) e a sua aplicação a empresa,
simplesmente porque esta abarca a maior parte da problemática contabilística.

2.3.5 Esquema geral

C C Cont. Financeira Análise


o
o n EMPRES Cont. de Custos Contabilíst.
C n t Contabilida AS Cont. Revisão
a
O t Teoria b de A
Orçamental Contabil.
i C d
N a da l
Privada FAMILIA o m Consolidação
T b Contabilidade i S
Org.Autón n i
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A i a
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B l d Contabilida b s
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I i de Autarquias l r
L d A Pública Locais i a
p d t
I a l . .
D d Técnica i Estado
Região
A e Contabilística c
Nação
D Geral a
Contabilida
E G d Grupo de
de
e a
2.4 Relações com as outras disciplinas

2.4.1 Relações formais

Tendo por objectivo a realidade decorrente da actividade económica, exercida pelo homem, numa
sociedade complexa, caracterizada pela divisão do trabalho, a contabilidade não pode deixar de estar
relacionada com o Direito (conjunto de leis ou preceitos reguladores da vida social).
De facto, se os registos contabilísticos gozam de determinada eficácia jurídica ( força probatória),
se as informações contabilísticas interessam a generalidade das pessoas, nomeadamente aos
administradores, sócios, pessoal, financiadores e Estado, compreende-se que o Direito imponha
determinadas formas para a obtenção e apresentação dessas informações contabilísticas, muito
especialmente o Direito Comercial, regulador das relações comerciais, e o Direito Fiscal, regulador das
relações entre o Estado e os contribuintes.

2.4.2 Relações instrumentais

Tendo por finalidade o conhecimento da realidade, económica, através da sua captação, medição
e representação, sempre em termos quantitativos, a Contabilidade também estará relacionada com a
Matemática, a Estatística e outras técnicas quantitativas, na medida em que utiliza estas ciências como
instrumentos para a consecução dos seus fins.

2.4.3 Relações essenciais

Sendo uma ciência de natureza económica, a Contabilidade não pode deixar de estar
essencialmente relacionada com a Economia, muito especialmente com a economia da Empresa, com
a qual chega a ser confundida.
No entanto, para além da não limitação da Contabilidade à empresa, poder-se-ão evidenciar as
seguintes diferenças:

a) Enquanto a Economia da empresa estuda a natureza dos fenómenos económicos empresariais,


a contabilidade apenas estuda os seus efeitos quantitativos;
b) Enquanto a Economia estuda a combinação óptima dos factores de produção, com vista a
obtenção dos melhores resultados, a contabilidade apenas estuda a captação, medição e
representação da realidade observada e os desvios entre o que devia ser e o que foi;
c) Enquanto a Economia da Empresa se preocupa essencialmente com a tomada de decisões, a
Contabilidade apenas se preocupa com a obtenção das informações que possam servir de base
àquelas decisões.

2.5 Evolução

2.5.1 Período empírico (dos primeiros tempos a 1494)

Produzir, contar e trocar são próprios da natureza humana.


Desde sempre, o homem foi um agente produtor e transformador da natureza, que logo foi
obrigado a resolver o problema da contagem e que, cedo, se apercebeu das vantagens da troca.
Por outro lado, havemos de considerar a limitada capacidade de memória do homem, que o
obrigou a tomar nota ou registar os factos relacionados com a sua actividade, enquanto um inato
sentimento de propriedade o levava a valorizar o resultado dessa mesma actividade.
Assim, deste conjunto de actividades, faculdades e sentimentos, nasceu espontaneamente a
contabilidade.
Mas,embora a técnica de registo se tenha aperfeiçoado progressivamente, acompanhado a
crescente complexidade das trocas, a verdade é que, até 1494, a contabilidade teve um carácter empírico,
essencialmente prático, não ultrapassando o registo simplista e incompleto da realidade económica
observada.

2.5.2 Período científico

A - Fase legalista (de 1494 a 1920)

A fase científica da contabilidade inicia-se em 1494, com o aparecimento da obra “Summa de


arithmetica, geometria proportioni et proportionalita”, do italiano Luca Pacioli.
Nesta obra se descreve, pela primeira vez, o célebre princípio das“ partidas dobradas”, que veio
revolucionar a técnica contabilística, possibilitando aos comerciantes e mercadores um melhor
conhecimento da sua situação financeira, muito especialmente das suas dívidas a receber e a pagar.
No entanto, as informações fornecidas pela contabilidade da época estavam dominadas por
preocupações de ordem jurídica, na medida em que os registos eram considerados, sobretudo, como meio
de prova das operações realizadas, e o conhecimento da situação do comerciante ( determinada pelos seus
bens, direitos e obrigações, ou seja, pela relação entre os recursos próprios e alheios) interessava,
especialmente, para avaliar as possibilidades de cumprimento das obrigações actuais e futuras, porquanto
os seus bens e direitos constituiam a melhor garantia dos credores.
Como é evidente, as informações contabilísticas relativas a situação do comerciante e aos
resultados obtidos não podiam deixar de, em maior ou menor grau, influenciar as suas decisões
económicas, mas este aspecto era meramente acessório em relação ao carácter eminentemente legalista
da contabilidade, que iria perdurar por vários séculos.

B - Fase económica (de 1920 a 1950)

Quando, no final da primeira Grande Guerra (1914-18), surgiu na Alemanha uma inflação
galopante, (subida vertiginosa e permanente dos preços), verifica-se que a contabilidade, embora desse a
conhecer os direitos e ogrigações do comerciante perante terceiros, ja não podia oferecer uma imagem
válida da situação da empresa, na medida em que o valor contabilístico dos bens ficava, dia a dia, cada
vez mais desactualizado. Então, as informações contabilísticas deixam de representar qualquer garantia
para terceiros, até porque empresas que continuavam a apresentar elevados lucros se iam encontrando em
situação financeira cada vez mais difícil, em consequência da sua progressiva descapitalização.
Perante esta quase falência da contabilidade, muitos autores alemães começam a por em causa a
subordinação das informações contabilísticas aos aspectos jurídicos, passando a dar maior importãncia
aos aspectos económicos, numa séria tentativa para conferir validade àquelas informações, até que, em
1919, Eugenne Schmalenbach, com a sua obra “O Balanço Dinâmico”, acaba por inverter,
definivamente, a importância relativa das finalidades da informação contabilística: agora, a qualidade
dessas informações fica estreitamente vinculada ao conhecimento da realidade económica, tanto de ordem
empresarial como nacional, devendo proporcionar aos responsáveis, a todos os níveis, uma adequada
tomada de decisões, enquanto os aspectos legalistas passam para uma posição secundária.
A contabilidade deixa de preocupar-se exclusivamente com o passado e começa a considerar
seriamente o presente, na medida em que possa servir de predição ao futuro - as tomadas de decisões
passam a apoiar-se numa base informativa substancialmente mais ampla, aspecto que vem enriquecer
notavelmente a contabilidade.
Abrem-se, portanto, novos horizontes a ciência contabilística, que rapidamente recupera e alarga
o seu prestígio, sendo a época em que aparecem alguns conceitos fundamentais e se começam a aplicar
critérios mais válidos, os quais acabam por impôr a actualização da respectiva legislação, completamente
alheada das novas realidades económico-empresariais, muito embora não tenham conseguido eliminar
radicalmente o anterior princípio da “objectividade” legalista.
No entanto, dever-se-á reconhecer que os contabilistas desta época começaram a preocupar-se
demasiadamente com a elaboração de complicados mecanismos de cálculo, sem qualquer identificação
com a realidade económica, de modo que os respectivos resultados, ou não correspondiam às necessidades
dos responsáveis, ou conduziam a previsões constantemente desmentidas pelos factos.

C - Fase formalista (de 1950 aos nossos dias)

Infelizmente, vai ser precisa outra Grande Guerra (1939-45) para que a contabilidade encontre
novos rumos.
De facto, a complexidade de certos problemas bélicos e a necessidade da sua rápida resolução
(pensemos, por exemplo, na determinação da ordem de aterragem de uma esquadrilha de aviões que, após
uma missão de combate, se encontra sobre o campo de aviação, dispondo os aparelhos de reduzidas, mas
diferentes, quantidades de combustível), obrigaram os cientistas que trabalhavam no pentágono ( edifício
de forma pentagonal, em Washington, onde funciona o Secretarido de Defesa e o Estado-Maior-General
das Forças Armadas dos Estados Unidos da América) a desenvolverem um conjunto de novas técnicas
quantitativas, designadas por Investigação Operacional, com o auxílio de computadores cada vez mais
aperfeiçoados, pois também nessa data se verifica uma verdadeira revolução no campo da Informação e
da Cibernética.
Ora, em breve se constactou que essas técnicas de investigação operacional poderiam ser
aplicadas, com resultados surpreendentes, nos mais diversos ramos de actividade científica, sempre que
estivesse em causa a escolha da melhor entre várias soluções possíveis.
No campo empresarial, essas novas técnicas permitiam a optimização da conduta do empresário,
sempre e quando as informações fornecidas pela contabilidade fossem correctas e suficientes, mas aqui a
sua imediata aplicação estava prejudicada pelo atrsaso em que se encontravam os estudos metodológicos
da ciência da contabilidade - raros tratadistas se haviam preocupado, até então, com o estudo dos
principios fundamentais que serviam de base à técnica contabilística.
Assim, a partir de 1950, vários autores passam a dedicar-se ao estudo da análise formal da
contabilidade, estabelecendo axiomas, definições, teoremas e requisitos, susceptíveis de tratamento lógico
e matemático, para chegar a resultados cada vez mais ricos de pontecialidades explicativas e preditivas.
No entanto, a formalização rigorosa da teoria contabilística só é estabelecida em 1964, pelo
canadiano Richard Mattessich, com a sua notavel obra “Accouting and Analytical Methods -
Measurement and projection of Income and wealth in the Micro and Macro Economy”.
Actualmente, a principal característica dos programas de investigação da ciência da contabilidade
é animar a sua formalização, explorando todas as possibilidades de tratamento lógico e matemático dos
dados e das informações, aproveitando o instrumental oferecido pela informática e pela investigação
operacional, estas também em franco progresso, pelo que será de prever para as últimas décadas do seculo
xx uma evolução rápida e substancial nos domínios da contabilidade.

2.5.3 Resumo

Fases Nomes e
Períodos Designaç Limites Livros Características
ão …. Notáveis
Empírico ____ a _____ Registo simplista de dados
1494
C 1494 Luca Pacioli Registo das operações como meio de prova e
i Legalista a (Italiano) conhecimento da situação da empresa como
e 1920 “Summa de garantia dos seus credores
n arithmética,…
1920 E.Schmalenba
” Conhecimento da realidade económica
t Económi a ch passada, presente e futura, para obtenção das
í ca 1950 (Alemão) informações indispensáveis a uma consciente
f “O Balanço tomada de decisões
i Dinâmico”
R.Mattessich Elaboração dos princípios contabilísticos,
1950 (Canadiano) formalizando as suas posições, submetendo-as
Formalist a “Accounting a tratamento lógico e matemático, para obter
a …… and informações com maior potencialidade
Analytical explicativa e preditiva.
Methods”

2.6 A Contabilidade na República de Moçambique

As unidades económicas, qualquer que seja a sua natureza - empresas, associações - necessitam
de ter informação sobre o seu património, os seus rendimentos e custos. O fornecimento desta informação
que normalmente se apresenta na forma quantitativa é desempenhada pela contabilidade, sendo a sua
natureza predominantemente financeira, isto é expressa em unidades monetárias, normalmente, no país
em que a unidade económica actua, e tem como objectivo principal poder ser utilizada na tomada de
decisões sobre a entidade a que se refere.

Informação sobre os bens propriedade de uma empresa, as suas dívidas, as suas


vendas os seus custos e outras de idêntica natureza, necessárias para a gestão desempenhar
a sua função são exemplos do papel que a contabilidade, nas suas diversas vertentes,
desempenha.

O Estado por sua vez, para garantir uma correcta planificação do País, recorre às informações
prestadas pela Contabilidade.

A Contabilidade na República de Moçambique, é regulada pelo Plano Geral de Contabilidade


com base nas normas Internacionais de Relato Financeiro – PGC – NIRF, aprovado pelo Decreto nº
70/2013 de 22 de Dezembro, que é o instrumento legal que define as linhas mestras de orientação a serem
observadas na preparação das Demonstrações Financeiras.

Para além do PGC – NIRF, há que ter em conta o Código dos Impostos sobre o Rendimento o
Código do Imposto sobre o Valor acrescentado (CIVA), a legislação sobre Reintegrações e Amortizações
Decretos 71 e 72 /2013.

3. O PATRIMÓNIO

3.1 Noção e Classificação


O património é um conjunto de valores pertencentes a determinada unidade económica e
administrado com certo objectivo. É o conjunto dos bens, direitos e obrigações pertencentes a uma
entidade jurídica num dado momento.

As principais características que podem ser associadas aos bens constitutivos de um património
são:

Heterogeneidade - Os bens não são homogéneos, isto é, apresentam uma grande diversidade, não
sendo todos do mesmo tipo.
Monetarização - Um bem ou direito para ser considerado num património necessita de poder ser
traduzido em moeda. Uma qualidade como a bondade não pode considerar-se fazendo parte do património
de um indivíduo, contrariamente ao que sucede com uma peça de vestuário.
Sujeição Administrativa - Todos os elementos de um património devem estar em maior ou menor
grau sujeitos à administração do proprietário desse património.

Elementos Patrimoniais
Corpóreos Bens Específicos

Direitos
Incorpóreos
Obrigações Comuns

Se a unidade económica é um indivíduo, dir-se-á património individual; se é uma sociedade


teremos património social.
O património duma nação designar-se-á por património nacional e incluirá o património público
( do Estado ) e o património privado ( dos cidadãos ).
Qualquer património individual pode estar subdividido em duas parcelas distintas: o conjunto de
valores afectos ao exercício do comércio ( património comercial ) e o conjunto dos restantes valores (
património particular )
Património Comercial é o conjunto de valores afectos ao exercício do comércio.

Exemplo
Em 1 de Março de 2013, o comerciante “NovaVida, Lda” apresentava os seguintes elementos
patrimoniais:
Dinheiro em cofre para negócio 30.000,00
Depósitos a ordem no Standard Bank – conta da empresa 120.000,00
2 Máquinas de escrever para o negócio 196.000,00
Débito do cliente Mustaf 25.000,00
Um edifício comercial 800.000,00
Crédito a Joice trabalhador da empresa 50.000,00
Saque a Mendes, nosso cliente 15.000,00
Conjunto de estantes para uso doméstico 120.000,00
Aceites a Costa, nosso fornecedor 40.000,00
Mercadorias diversas 190.000,00
Uma viatura para uso pessoal 245.000,00
3 Computadores, 2 para uso nos escritórios da empresa e um para a filha do gerente 75.000,00
6 Cadeiras, 4 para uso no negócio e as restantes para uso doméstico 72.000,00
Dívidas comerciais na Papelaria Académica 12.500,00
Mobiliário do escritório central 12.000,00
Sofás para uso doméstico 48.000,00
4 Máquinas calculadoras , 3 para o negócio e 1para uso doméstico 18.000,00
Uma camioneta CANTER para o transporte de mercadorias 250.000,00
Letras a pagaraos credores da empresa 10.000,00
Empréstimos contraídos no BCI para o negócio 1.200.000,00
Pretende-se:
a) Que classifique o património em bens, direitos e obrigações;
b) Que classifique o património em individual ou comercial

3.2 Massas Patrimoniais

Os elementos patrimoniais podem ser reunidos em grupos que desempenham a mesma função
económica ou financeira, constituindo verdadeiras massas patrimoniais. Estas podem agrupar-se em
duas categorias. A primeira constituída pelos bens e direitos designada de Activo e a segunda constituída
pelas obrigações, ou simplesmente Passivo.

Os elementos patrimoniais activos e passivos são valores concretos, devem estar representados
em moeda, e o valor do património corresponde à diferença entre o valor do Activo e o valor do Passivo.
Essa diferença de valores do Activo e do Passivo também se designa de património líquido ou
Situação Líquida, que corresponde à fortuna do comerciante. Este valor, não correspondendo
especificamente a qualquer elemento concreto, mas sim a todo o complexo de elementos patrimoniais
concretos, é um valor abstracto, o qual se poderá apresentar desdobrado em várias parcelas, também
valores abstractos, se nisso houver conveniência.

Representação gráfica:

PATRIMÓNIO

PASSIVO
ACTIVO Valores Concretos

Valores Concretos
SITUAÇÃO LIQUIDA
Valores Abstractos
As massas gerais do Activo, Passivo e Situação Líquida ainda se podem dividir em subgrupos ou classes,
formando massas parciais, de acordo com a função específica que desempenham na unidade económica.

Atendendo à natureza desses elementos, é possível considerar as seguintes classes:

No Activo
* Meios Circulantes - Caixa e Bancos ( inclui o dinheiro em cofre e os depósitos em Bancos)
- Dívidas de terceiros ( inclui todas as dívidas a receber dos clientes,
trabalhadores, sócios e outros devedores )
- Títulos Negociáveis ( inclui as aplicações financeiras de curto
prazo - inferiores a um ano).
- Existências (inclui os bens comercializáveis e outros, considerados
meios circulantes materiais )

 Meios Imobilizados ( inclui os bens detidos com continuidade ou permanência


(imobilizações ) e que não se destinam a ser vendidos ou transformados.

No Passivo
* Credores - Dívidas a Terceiros ( inclui as dívidas a pagar a fornecedores, instituições de
crédito, Estado, trabalhadores, etc. )

Na Situação Líquida
* Fundos (Capital ) Próprios - (inclui o valor inicial do património - capital -, os lucros
retidos dos anos anteriores - reservas e resultados transitados - e o lucro ou prejuízo
do exercício, entre outros) .

ACTIVO PASSIVO
Disponibilidades Débitos a Curto Prazo

Créditos a Curto Prazo Débitos a Médio e Longo


Prazo
Créditos a Médio e longo
prazo
SITUAÇÃO LIQUIDA
Existências Inicial
Retida
Imobilizações Adquirida no Exercício
3.3 Valor do Património e da Situação Líquida

Situação Líquida é a expressão do valor do Património.


O valor do Património é a quantia que seria necessária para dar e obter, isto é, para receber em
troca todo o activo, ficando ao mesmo tempo com o encargo de pagar todo o passivo.

Sendo o Activo, um conjunto de valores positivos e o passivo o conjunto de valores negativos,


o valor do património corresponde à soma algébrica das duas classes de elementos.

Exemplo:

Património de Y

Activo
Numerário ( dinheiro ) ................... 20.000
Edifício ........................................... 200.000
Viatura ............................................ 120.000
Dívidas a Receber ........................... 80.000
-----------
Total ......... 500.000
Passivo
Dívidas a Pagar .............................. 30.000
Empréstimo Bancário .................... 70.000
-----------
Total ......... 100.000

Assim teremos:
Activo .................... 500.000
Passivo .................. 100.000 –
----------
Situação Líquida .... 400.000 ........ Valor do Património

A expressão numérica do valor do património chama-se Situação Líquida, Capital Próprio ou


Património Líquido.
Como se pode compreender a Situação Líquida ou Capital Próprio em termos monetários num
dado momento representa o valor que o proprietário da empresa teria direito de receber se optasse
por encerrar a sua actividade liquidando o património (transformação do activo em valores monetários,
pagando de imediato todo o passivo) isto do ponto de vista contabilístico, nesse momento.
Três casos podem ocorrer em cada situação patrimonial:

1º - A > P ---- Situação Líquida Activa, ou seja, A = P + S.L. Activa


2º - A = P ---- Situação Líquida Nula, ou seja, A = P
3º - A < P ---- Situação Líquida Passiva, ou seja, A + S.L.Passiva = P ou A = P – S.L.Passiva

3.4 Estrutura patrimonial

O Activo, constituído pelos bens e direitos, representa a estrutura económica da unidade, ou seja,
o emprego ou aplicação dada aos seus recursos financeiros, para alcançar os objectivos propostos.

O Passivo e a Situação Líquida representam a estrutura financeira da unidade, ou seja, a origem


dos seus recursos, havendo a considerar os fundos próprios ( situação líquida ) e os fundos alheios (
passivo ).

As disponibilidades constituem o activo disponível e as existências e os créditos, com os quais se


pode realizar dinheiro, constituem o activo realizável.

A soma do activo disponível com o activo realizável corresponde ao Activo Circulante


(disponibilidades + créditos + existências )

As imobilizações, destinadas a assegurar e auxiliar o funcionamento da empresa, facilitando ou


possibilitando a transformação dos valores circulantes, constituem o Activo Fixo.

Nos fundos alheios, regra geral, os débitos a curto prazo são débitos de funcionamento,
originados pelas operações correntes de exploração, enquanto os débitos a médio e longo prazo são
débitos de financiamento, especificamente relacionados com a obtenção de recursos financeiros.

A diferença entre o activo circulante e o passivo de curto prazo, equivalente à diferença entre os
fundos permanentes (soma do passivo a médio e longo prazo com a situação líquida) e o activo fixo
designa-se por Fundo de Maneio.

O valor do fundo de maneio dá-nos uma ideia aproximada da situação financeira da empresa, na
medida em que responde às necessidades financeiras de exploração.
Estrutura Económica
ACTIVO Estrutura Financeira
Aplicação de Recursos PASSIVO + SIT.
LIQUIDA
D Origem dos Recursos
I DISPONIBILIDADE F DÉBITOS
S S U
P C N A A
R I C. L
E R CURTO PRAZO H
A CRÉDITOS C E
L U I
L FUNDO P DÉBITOS O
I
A E A MÉDIO E
Z
N DE R LONGO
A
EXISTÊNCIAS T M PRAZO
V
E MANEIO A SIT.LIQ.INICIA P
E
N
L L R
E
F F O
N SIT.LIQ.RETID P
I IMOBILIZAÇÕES I T A
X X R
E SIT.LIQ.Adquiri I
O O
da O

A situação Financeira da empresa pode ser apreciada, para além do montante e evolução do Fundo
de maneio, pela:

 Comparação entre o Activo circulante e os débitos a curto prazo (rácio de liquidez geral).

 Comparação entre o Capital próprio e o passivo total ( rácio de solvabilidade total )

A situação económica da empresa pode ser apreciada pela comparação entre os resultados e o
capital próprio ( rácio de rentabilidade do capital próprio ).

3.5 Factos Patrimoniais

O património de uma empresa não se mantém estático ao longo dos tempos. Pelo contrário, está
sujeito a uma contínua transformação. Esta transformação pode ser motivada por duas espécies de
acontecimentos: os normais ou voluntários que resultam de operações efectuadas voluntariamente pela
empresa, e, acontecimentos extraordinários ou involuntários, que são independentes da sua vontade. No
primeiro caso, podem apontar-se as operações correntes tais como: compras, pagamentos, vendas, saques,
aceites, recebimentos, etc.; no segundo caso apontam-se os incêndios, roubos, quebras, etc.. Tanto umas
como outras constituem factos patrimoniais.

Pode-se dizer que os factos patrimoniais aparecem associados a tudo aquilo que implique
variações no património. É a observação, classificação, registo e controlo destes factos patrimoniais que
constitui o trabalho contabilístico.

Os factos patrimoniais classificam-se em dois tipos:


a) Factos Permutativos
b) Factos Modificativos

É Permutativo quando provoca uma alteração na composição do património, mas não no seu
valor – são também considerados como factos qualitativos.

Será Modificativo, quando implica, além da variação na composição, uma alteração no valor do
património – são também designados factos quantitativos.

Os primeiros são os mais frequentes, podendo-se apresentar como exemplo, a compra de

mercadorias, o pagamento de uma dívida, a aquisição de um edifício, etc.

Os segundos implicam uma alteração na situação líquida (valor do património ). São exemplos,
as operações que originam um lucro ou prejuízo para a empresa como a venda de mercadorias com lucro,
a venda de um móvel por um preço inferior ou superior ao representado no património, etc.

Seja o património de Z:

Activo Passivo
Numerário ............. 50.000 Dívidas a Pagar ............... 60.000
Mercadorias .......... 80.000 Empréstimos a reembolsar 40.000
Móveis Diversos ... 180.000 ----------
Depósitos em Bancos 140.000 100.000
----------
450.000

Considerem-se as seguintes duas operações:


a) Depósito no Banco, de 20.000;
b) Venda de mercadorias a pronto pagamento, por 30.000 que lhe haviam custado 25.000.
A primeira operação implica a retirada da empresa de 20.000, diminuindo assim o numerário
existente na empresa, e a entrega desse valor à guarda do Banco, aumentando assim o montante de
Depósitos em Bancos. Feito o registo desta operação, o património de Z passará a ficar assim
representado:
Activo Passivo
Numerário ............. 30.000 Dívidas a Pagar ............... 60.000
Mercadorias .......... 80.000 Empréstimos a reembolsar 40.000
Móveis Diversos ... 180.000 ----------
Depósitos em Bancos 160.000 100.000
----------
450.000

O Valor do Património ( que corresponde ao Activo – Passivo ) mantém-se inalterável em relação


à posição anterior, tendo havido apenas uma alteração na composição do mesmo (mexidas em numerário
e depósitos em bancos ) por igual valor. Este facto é classificado como Facto Patrimonial Permutativo
ou Qualitativo.

A segunda operação, originará saída de mercadorias que haviam custado 25.000 contra uma

entrada de numerário no valor de 30.000 (valor da venda), o que resultará num lucro de

5.000.

O património ficará assim representado:

Activo Passivo
Numerário ............. 60.000 Dívidas a Pagar ............... 60.000
Mercadorias .......... 55.000 Empréstimos a reembolsar 40.000
Móveis Diversos ... 180.000 ----------
Depósitos em Bancos 160.000 100.000
----------
455.000
Se calcularmos o valor do património ( Activo – Passivo ) facilmente verificaremos que o valor
encontrado ( 355.000 ) é diferente do valor do património anterior ( 350.000 ). Nesta operação, houve
alteração, quer na composição, quer no valor do património, pelo que o facto é classificado como Facto
patrimonial Modificativo ou Quantitativo.
Exemplo
Um comerciante iniciou suas actividade em 2 de Janeiro de 2012, quando tinha um capital de
5.000,00.

Durante o mês de janeiro, efectuou dentre várias, as seguintes operações:

1. Compra de mercadorias em numerário .......................................... 4.800,00


2. Factura no 1/12 da Livraria Académica referente a mercadorias .. 12.300,00
3. Venda de mercadorias compradas no dia anterior ......................... 6.000,00
4. Pagamento em dinheiro das despesas de água e energia ................ 3.300,00
Pretende-se: Análise e classificação dos factos patrimoniais.
QUADRO DE ANÁLISE E CLASSIFICAÇÃO DE FACTOS PATRIMONIAIS
IMPLICAÇÕES/ALTERAÇÕES CLASSIFICAÇÃO
DESCRIÇÃO VARIAÇÕES A – P =SL
1 - Compra de Mercadorias (A) + 4.800,00 + 4.800,00 Qualitativo ou
mercadorias em dinheiro. Numerário (A) – 4.800,00 - 4.800,00 Permutativo
0,00 - 0,00 = 0,00
2 –Compra de Mercadorias(A) +12.000,00 Qualitativo ou
mercadorias a prazo Dívidas (P) + 12.000,00 +12.000,00 - +12.000,00 = 0,00 Permutativo
o
conforme fact. n 1/12
3 – Vendade mercadorias Mercadorias (A) - 4.800,00 - 4.800,00 Quantitativo ou
a pronto pagamento. Numerário (A) + 6.000,00 + 6.000,00 Modif. positivo
+ 1.200,00 - 0,00 = +1.200,00
4 – Pagamento de Numerário (A) - 3.300,00 Quantitativo ou
despesas de água e - 3.300,00 - 0,00 = -3.300,00 Modif. negativo
energia.

Métodos de Análise dos Factos Patrimoniais.

As atividades desenvolvidas pelas unidades económicas originam factos patrimoniais que produzem
constantes alterações na estrutura das contas (variações patrimoniais), que podem ser analisadas pelos
seguintes métodos:
1. Balanços Sucessivos – quando para cada facto patrimonial produz-se um balanço, ou seja, depois de
ocorrer um facto patrimonial é necessário elaborar-se o Balanço. É um método desgastante a avaliar
pela quantidade de balanços que deverão ser produzidos tendo em conta o volume das operações
realizadas;

2. Quadro de Variação das Contas – que pressupõe a elaboração de um quadro que vai comportar a
extensão inicial, as variações do período e a extensão final. Este método também é impraticável, uma
vez que as unidades económicas realizam volumes elevados de operações nas suas actividades;
3. Método Digráfico – o método digráfico ou das contrapartidas ou ainda das partidas duplas, foi
inventado pelo frade franciscano Luca Paciolli (autor da monumental enciclopédia matemática
“Summa de Arithmetica Proportini et Proportionalita”, na qual inclui o “Tratactus de Computis et
Scripturis” – 1494, que foi a primeira obra impressa de doutrina contabilística).

Segundo este método, todo o débito numa conta origina o crédito noutra e vice-versa, isto é, cada facto
patrimonial determina um registo em duas ou mais contas, por forma que o valor de cada débito (ou
débitos) corresponda sempre um crédito (ou créditos) de igual valor.

Nas unidades económicas é impossível utilizar os dois primeiros métodos dado o volume das variações
patrimoniais a registar. Para além disso, as unidades económicas são obrigadas a ter um registo
cronológico dos factos patrimoniais através do Diário e um registo sistemático dos mesmos através do
Razão, bem como a utilização do método digráfico.

Este é o método adequado e que será usado no registo das variações patrimoniais. Nesta fase da análise e
classificação dos factos patrimoniais, não iremos usar o Diário e o Razão, mas sim, um quadro simples
que nos permita compreender melhor esta matéria.

4. As Contas

4.1 Noção de Conta

Em cada massa patrimonial, os respectivos elementos podem ser agrupados


em diversos subconjuntos com determinadas características comuns e específicas,
de acordo com a sua natureza e/ou função que desempenham na empresa. São
precisamente esees subconjuntos que se designam por conta.

Assim a Conta é um conjunto de elementos patrimoniais com determinadas caracter´siticas


comuns e específicas.

Deste modo, e por exemplo, formarão um conjunto diferenciado, ou uma conta, todas as dívidas
a receber originadas pela venda a prazo de existências. E, naturalmente, cada conta será designada por um
título que dá a conhecer a natureza e/ou função dos elementos nela agrupados. Nesta ordem de ideias, a
conta que reúne todas aquelas dívidas a receber poder-se-á intitular «Dívidas de Clientes» ou, mais
simplesmente, «Clientes», pois este termo é suficiente para caracterizar os elementos agrupados na conta
( as dívidas dos clientes, pela venda a prazo de existências ).
Então, não terá dificuldades em saber quais são os elementos agrupados na conta «Fornecedores
» - todas as dívidas a pagar a fornecedores, originadas pela compra a prazo de existências, claro.

4.2 Compreensão e Extensão

Em qualquer conta haverá sempre a considerar os seus aspectos qualitativo e quantitativo, ou


seja, a sua compreensão e a sua extensão.

A compreensão de uma conta é determinada pelas características comuns e específicas dos


elementos nela agrupados, devendo ser evidenciada, o mais claramente possível, pelo título dessa conta.

Entende-se por extensão o valor da conta, expresso em unidades menetárias.


O valor duma conta é essencialmente variável, pois a sua extensão inicial aumenta e diminui com
as operações e acontecimentos da vida da empresa, ou seja, com os factos patrimoniais.

4.3 Representação Gráfica

Numa perspectiva prática, associamos a conta num aspecto gráfico em que os elementos
patrimoniais aparecem inscritos num quadro. Uma das mais populares e úteis representações da conta é o
chamado “T”, que se apresenta no exemplo seguinte:

Débito Caixa Crédito


Entrada de Capital 5.000.000 Pagamento de Renda 50.000
Serviços Prestados 150.000 2.000.000
Compra de Viatura
Compra de Computador 500.000
Pagamento de Salários 60.000

Como se vê, temos um total de 5.150.000 no lado esquerdo ou débito, que corresponde às entradas
de dinheiro, e um total de 2.610.000, no lado direito, ou crédito, que corresponde às saídas de dinheiro.
A diferença entre o débito e o crédito, denomina-se saldo e corresponde ao valor (ou extensão) da conta.
Neste exemplo o saldo é de 2.540.000 e corresponde ao dinheiro existente em cofre.

4.4 Classificação e caracterização das contas

Numa conta existem dois elementos fundamentais. O título que define o âmbito dos elementos
englobados na conta, no nosso exemplo – Caixa – e a sua extensão que varia continuamente de acordo
com as transacções efectuadas.
ou
1. Título/(denominação própria) – é a expressão (ou palavra) por que se designa a conta. Esta deve
ser escolhido de tal forma que revele imediatamente a natureza dos elementos que a compõem, isto
é, nos dê a conhecer o seu conteúdo. Tem como finalidade identificar a conta e distingui-la de todas
as outras. Deve ser claro no que respeita à característica comum dos elementos a que diz respeito.

2. Extensão ou Valor da conta – representa a quantidade, expressa em unidades monetárias contida na


conta no momento em que se analisa. Como é evidente, o valor de uma conta é essencialmente
variável – a sua extensão inicial aumenta e diminui com as operações e acontacimentos da vida da
empresa, ou seja, com os factos patrimoniais.

Ex:
Título Extensão
2.2 – Mercadorias 2.000.000,00
4.1 – Clientes 1.750.000,00

Os requisitos essenciais de uma conta são:

Homogeneidade:
Uma conta só pode incluir os elementos que obedecem à característica comum que ela abrange. Por
exemplo a dívida de um cliente é registada na conta de Clientes que serve para registar essas dívidas
e não na conta Caixa onde se regista o dinheiro existente na empresa.

Integralidade:
Todos os elementos com a característica definida devem ser incluídos na conta.

As contas podem distinguir-se de acordo com a natureza dos seus saldos:


Saldo devedor:
Quando o débito é superior ao crédito. As contas dos bens Activos têm saldo devedor.
Saldo nulo:
Quando o débito é igual ao crédito.
Saldo credor:
Quando o crédito é superior ao débito. As contas do Passivo têm saldo credor.

4.5 Métodos de registo contabilístico


Os registos das transacções efectua-se nas contas, debitando-as e creditando-as mas de tal modo
que a equação do balanço permaneça válida.
Para isso é necessário que os movimentos a débito sejam iguais aos movimentos a crédito.
É esta a essência do chamado método digráfico cuja autoria é atribuída ao frade franciscano Luca
Paccioli que o teria descrito numa obra publicada no século XV.

A palavra DÉBITO corresponde ao somatório dos valores inscritos no lado esquerdo do esquema ou no
1o membro da conta. O acto de inscrever um certo valor no 1o membro da conta ou na secção do DÉBITO
ou DEVE, diz-se DEBITAR;
A palavra CRÉDITO corresponde ao somatório dos valores inscritos no lado direito do esquema ou no
2o membro da conta. O acto de inscrever um certo valor no 2o membro da conta ou na secção do CRÉDITO
ou do HAVER, diz-se CREDITAR.
A diferença entre o somatório dos valores inscritos a Débito e o somatório dos valores inscritos a Crédito
duma conta, no momento da sua análise, designa-se por SALDO – que corresponde à sua extensão ou
valor num determianado momento. Ao determinar-se o saldo de uma conta, ou seja, ao comparar o
somatório dos valores inscritos a Débito e o somatório dos valores inscritos a Crédito, três hipóteses
podem ocorrer, ou seja, teremos três situações correspondentes à natureza do saldo:
 DÉBITO > CRÉDITO – O SALDO É DEVEDOR
 DÉBITO = CRÉDITO – O SALDO É NULO
 DÉBITO < CRÉDITO – O SALDO É CREDOR

Uma vez determinado o saldo, este adiciona-se ao lado cuja soma for de menor valor, obtendo-se assim
uma igualdade entre os dois membros da conta. Esta operação corresponde ao Fecho ou Balanceamento
da Conta.
Fechar uma Conta – corresponde à soma das colunas dos valores do Débito e do Crédito, depois de as
saldar, sublinhar com dois traços (trancar) cada soma.
Reabrir uma Conta – é inscrever o saldo na coluna do Débito se na conta fachada o mesmo era Devedor,
ou, inscrever o saldo na coluna do Crédito se na conta fechada o mesmo era Credor.

Vejamos agora como as mesmas transacções podem ser registadas utilizando as contas
respectivas.
Supondo iniciar o negócio com 5.000.000, que poderemos considerar corresponde à abertura da
escrita. As contas envolvidas são Caixa para registar o dinheiro, uma conta do Activo, e a conta de Capital,
uma conta da Situação Líquida. Ambas as contas aumentam na extensão em 5.000.000 devendo a Caixa
ser debitada e o Capital creditado por igual montante.

Esquematicamente utilizando os “tês”.


D C D
Caixa Capital C
(1) 5.000.000 (1) 5.000.000

Tomando por base a equação do Balanço e os conceitos de débito e crédito como definidos
anteriormente, estabelecem-se as regras de movimentação de contas, como segue:

= +
Activo Passivo Situação Líquida
Débito Crédito Débito Crédito Débito Crédito
Custos ( + ) Proveitos(+)
Aumentos Diminuições Diminuções Aumentos Prejuízos Lucros

O conhecimento destas regras é fundamental para o técnico contabilista proceder a


movimentação das contas. Vejamos seguidamente como tal se processa com o pagamento da renda do
escritório.
O primeiro passo na execução dos registos nas contas consiste em analisar cuidadosamente qual
ou quais os factos patromoniais subjacentes e identificar as contas que deverão ser alteradas.
No caso do pagamento da renda verifica-se em primeiro lugar a saída de 50.000 do dinheiro
existente. Este resgista-se na conta Caixa, pelo que esta é a primeira a ser efectuada tendo diminuído de
extensão, pelo que sendo uma conta do Activo e considerando as regras de movimentação deve ser
creditada. Por outro lado, o pagamento da renda traduz-se na assumpção de um custo ou seja de facto uma
diminuição da situação líquida, e que se deve registar numa conta subsidiária de resultados, Outros Custos,
a qual deve ser debitada. Em esquema temos:

Contas Natureza Montante Movimento


Caixa Activo 50.000 Diminui - C
Outros Custos Sit. Liquida Passiva 50.000 + Custos - D

Pelo que a nova situação é:

D Caixa C D Capital C D Outros Custos C


(1)5.000.000 (2) 50.000 (1)5.000.000 (2) 50.000
No caso das contas da Situação Líquida pode facilitar-se o raciocínio distinguindo as contas onde
se registam os aumentos da mesma situação líquida a que poderemos chamar de contas de lucros ou contas
de situação liquida activa. Estas contas são creditadas pelos aumentos e debitadas pelas diminuições.
As contas onde se registam as diminuições da situação líquida a que poderemos chamar contas
de prejuízo ou de situação líquida passiva, são debitadas pelos aumentos ( dos prejuízos ) e creditadas
pelas diminuições ( dos prejuízos ).

As regras de movimentação de contas são em resumo:

Contas do Activo
Debitam-se pelos aumentos e creditam-se pelas diminuições
Contas do Passsivo
Debitam-se pelas diminuições e creditam-se pelos aumentos
Contas da Situação Líquida Passiva ( Custos e prejuízos )
Debitam-se pelos aumentos ( mais custos ou mais prejuízos ) e creditam-se pelas diminuições (
menos custos ou menos prejuízos )
Contas da Situação Liquida Activa ( proveitos ou lucros )
Debitam-se pelas diminuições ( menos proveitos ou menos lucros ) e creditam-se pelos aumentos
( mais proveito ou mais lucros ).

Ou

CONTAS REGRAS DE MOVIMENTAÇÃO


ACTIVO Debitam-se pelos saldos iniciais e pelos aumentos e Creditam-
(Calsses 1, 2, 3 e 4) se pelas diminuições.
PASSIVO E CAPITAL Creditam-se pelos saldos iniciais e pelos aumentos e Debitam-
PRÓPRIO (Classes 4 e 5) se pelas diminuições.
CUSTOS Debitam-se pelos saldos iniciais e pelos aumentos e Creditam-
(Classe 6) se pelas diminuições.
PROVEITOS Creditam-se pelos saldos iniciais e pelos aumentos e Debitam-
(Classe 7) se pelas diminuições.
RESULTADOS Debitam-se pelas perdas e prejuízos e
(Classe 8) Creditam-se pelos ganhos e lucros

4.6 Contas Colectivas, Divisionárias e Singulares

As contas definem-se pelo seu título, que resume o âmbito dos elementos patrimoniais por elas
abrangidas. Ora este âmbito, pode ser mais alargado ou mais restrito podendo contas de âmbito mais
restrito ser agrupadas em contas com âmbito mais alargado.

Por exemplo os depósitos no Banco Austral são registados na conta Banco Austral, enquanto os
que se encontram no Banco Internacional se registam no Banco Internacional.
No caso do âmbito da conta ser os depósitos bancários independentemente do banco em que se
encontram, temos então a conta Depósitos à Ordem, que engloba as duas anteriores.
Temos assim contas elementares, como as duas primeiras, e contas complexas, colectivas ou
gerais. As contas que são sub-divisões de contas chamam-se sub-contas ou contas divisionárias. Por
vezes a relação entre as contas mais gerais, e as elementares exprime-se pelo grau. Assim dizem-se contas
do segundo grau e, sucessivamente, terceiro, quarto, etc.
Como é evidente o valor (saldo) de uma conta geral é igual à soma dos saldos das contas
divisionárias.

Por vezes a existência de contas com âmbito muito vasto exige, por uma necessidade de análise
que se criem contas do mesmo nível ou grau, onde se registam originariamente as transacções e que depois
se transferem, para a chamada conta principal. Estas contas denominam-se contas subsidiárias. Por
exemplo a conta Resultados do Exercício, tem como contas subsidiárias as contas de Vendas onde se
registam as vendas realizadas, Despesas com o pessoal, onde se registam os custos com o pessoal, e muitas
outras que opurtunamente serão estudadas.

Classificação das contas.


1. Quanto à natureza dos elementos que constituem o património:
 Contas Singulares ou Elementares – são aquelas que não se decompõem noutras contas, não se
encontram subdivididas noutras contas. Ex: (1.1 – Caixa, 3.6 – Activos Tangíveis de
Investimento, 5.1 – Capital,...);
 Contas Colectivas ou Gerais – aquelas que são formadas pela reunião de várias sub-contas da
mesma natureza de menor grau, têm contas filhas. As contas colectivas também são chamadas
“contas mãe”. Ex: (1.2 – Bancos, 4.1 – Clientes, 4.4 – Estado, etc...);
 Contas Divisionárias ou Sub-contas – as que resultam da decomposição das contas colectivas
ou gerais, são chamadas de “contas filhas”. Ex: (1.2.1 – Depósitos à Ordem, 4.1.1 – Clientes
conta corrente, 4.4.3 – Imposto sobre o Valor Acrescentado, etc...).
2. Quanto ao Grau.
1o Grau 2o Grau 3o Grau Enésimo
Contas Colectivas Sub-Contas Sub-Contas Grau
1.2 – BANCOS 1.2.1 – Depósitos à Ordem 1.2.1.1 – Standard Bank .................
2.1 – COMPRAS 2.1.1 - Mercadoris 2.1.1.1 – Milho ................
4.1 – CLIENTES 4.1.1 – Clientes C/C 4.1.1.1 – Licoloma, Lda ................

Variações das Contas.


Qualquer facto patrimonial implica a variação de duas ou mais contas e nunca de uma só. Apesar de em
alguns casos, variar só uma do Activo ou do Passivo, implicando tal, que a outra conta seja a da Situação
Líquida ou Fundos Próprios.
Em poucas palavras quer dizer que as variações positivas de um ou vários elementos patrimoniais e/ou de
Situação Líquida são sempre acompanhadas pelas variações negativas do mesmo valor de um ou vários
elementos patrimoniais e/ou de Situação Líquida.
As variações da conta podem ser:
 Simples – variam apenas duas contas (um Débito contra um Crédito);
 Complexas – variam mais de duas contas (um Débito contra vários Créditos, vários Débitos
contra um Crédito e vários Débitos contra vários Créditos).

Nas variações das contas, os factos patrimoniais qualitativos ou permutativos implicam variações
em contas do Activo e/ou do Passivo, enquanto que os factos patrimoniais quantitativos ou modificativos
implicam variações em contas do Activo e/ou do Passivo e também nas contas da Situação Líquida, pois
alteram o valor do património

4.7 Sistemas de Contas

Outro aspecto muito importante é a definição clara das contas a serem utilizadas, o seu âmbito e
regras de movimentação, ou mais genericamente a definição do sistema contabilístico a utilizar.

Noção de Plano de Contas

O sistema contabilístico abrange os documentos, registos, livros e relatórios emitidos, mas


igualmente os procedimentos, descritos ou não em manuais, e as instruções utilizadas no processo. Dentro
dos elementos essenciais dos sistemas contabilísticos deve existir uma enumeração, exaustiva das contas
a serem utilizadas, definindo o seu âmbito bem como as regras gerais e particulares da sua movimentação.

Ao conjunto das contas, regras de movimentação e sua articulação chama-se Plano de Contas.
Todas as entidades necessitam deste plano para permitir executar os seus movimentos contabilísticos,
desde as de menor dimensão até aos grandes grupos económicos.
Estes últimos, que normalemnete abrangem elevado número de empresas, por vezes espalhadas
pelos mais diversos países, por necessidade de uniformidade no tratamento contabilístico, alargam mesmo
o conceito do plano de contas elaborando verdadeiros manuais de contabilidade que descrevem os
princípios contabilísticos adoptados, as políticas contabilísticas, lista das contas, âmbito das mesmas, e
regras de movimentação das transacções menos vulgares.

Um plano de contas, para poder ser considerado como tal, e poder desempenhar as suas funções,
deve abranger: princípios contabilísticos adoptados, políticas contabilísticas, listas das contas,
âmbito das contas e regras específicas de movimentação. Os modelos dos documentos e
demonstrações financeiras são igualmente peças importantes para que o plano de contas desempenhe
a sua função.

4.8 As contas mais usadas a luz do Plano Geral de Contabilidade

As contas são utilizadas para registar todos os elementos patrimoniais, quer sejam Activo, temos
então contas do Activo, quer sejam do Passivo, contas do Passivo, ou da Situação Líquida, contas da
Situação Líquida. Estas últimas poderão ainda subdividir-se em contas de Capital, Reservas e Resultados.
Vejamos seguidamente o âmbito de algumas das contas mais utilizadas de acordo com a natureza
dos elementos patrimoniais que englobam, (tal como se encontram definidas no Plano Geral de
Contabilidade):

Contas do Activo
Caixa:
Inclui as notas de banco, moedas e outros meios monetários equivalentes
Bancos:
Regista o movimento das contas bancárias.
Clientes:
Engloba as dívidas a receber resultantes da venda de mercadorias, produtos ou serviços.
Mercadorias:
Bens adquiridos para venda sem que sofram transformações.
Produtos Acabados:
Bens produzidos pelas empresas que já estejam finalizados.
Matéria- Prima:
Bens adquiridos ou produzidos pela empresa destinados a serem incorporados no processo
produtivo.
Construções:
Engloba os edifícios e outras construções.
Equipamento:
Integra os instrumentos e máquinas utilizados na produção.
Ferramentas e utensílios:
Integra ferramentas e outros utensílios.

Encargos de Constituição:
Engloba os custos de constituição e que são incluídos no processo de constituição de uma
empresa.
Imobilizações Financeiras:
Incluem o valor das participações financeiras noutras empresas.
Contas do Passivo:
Créditos Bancários:
Engloba as dívidas provenientes de empréstimos bancários.
Fornecedores:
Engloba as dívidas a pagar às entidades a quem se adquirem produtos ou serviços.
Credor-Estado:
Para registar as dívidas para com o Estado resultantes de impostos.
Credores-Sócios:
Engloba as dívidas para com os sócios.

Contas da Situação Líquida


Capital:
Para as sociedades, respeita ao capital subscrito. Para as empresas em nome individual
compreende o capital inicial, mas também o capital adquirido.
Reservas:
Contas constituidas em geral à custa de retenção de lucros.
Lucros ou Prejuízos:
Serve para o apuramento do resultado de cada exercício económico.

Para apuramento de resultados, tal como vimos anteriormente, utilizam-se contas subsidiárias das
quais podemos destacar:

Contas de Custos:
Custos de Vendas:
Regista os custos das vendas de mercadorias.
Remunerações:
Engloba os valores pagos e outros custos com os trabalhadores.
Fornecimento de Terceiros:
Engloba os custos com as aquisições de bens e serviços como àgua, energia, conbustíveis, artigos
de expediente, etc.
Encargos Finaceiros:
Regista os juros e outros encargos de natureza financeira.
Amortizações do exercício.
Regista a depreciação das imobilizações atribuídas ao exercício.

Contas de Proveitos:
Vendas:
Engloba o valor resultante da venda de mercadorias e produtos.
Vendas de Serviços:
Engloba os valores resultantes dos serviços prestados.
Receitas financeiras:
Engloba os proveitos e ganhos de natureza financeira como juros, rendimentos de capital, etc.
Outros proveitos:
Regista os proveitos que não sejam próprios dos objectivos principais da empresa.

5. Demonstrações Financeiras (TORALMENTE DESAJUSTADO AO PGC – NIRF)

As Demonstrações Financeiras, Balanço, Demonstração de Resultados, Mapa de Origens e


Aplicações de Fundos ou outras preparadas de acordo com as necessidades dos utilizadores, são na
generalidade das situações o produto final do processo contabilístico. Apesar disso, poderemos considerá-
los como um bom meio para a iniciação do estudo da Contabilidade.

5.1 Inventário

Os elementos constitutivos de um Património podem descrever-se numa lista, devidamente


valorizada a que se chama Inventário.
Património e Inventário são noções completamente distintas: o Património é o conjunto de
valores, o Inventário é o documento em que esses valores estão descritos. Na relação escrita dos elementos
patrimoniais, regra geral, os elementos activos aparecem por ordem crescente de liquidibilidade, enquanto
o passivo aparece ordenado por ordem crescente de exigibilidade.

Os inventários poder-se-ão classificar:

Quanto à Ordenação - Simples ou Corrido: quando não existe a preocupação de ordenar


devidamente os elementos patrimoniais.
- Classificados ou Selectivos: quando os elementos patrimoniais
activos e passivos aparecem agregados em contas.
Quanto à Extensão - Gerais: quando a respectiva listagem inclui todos os elementos
patrimoniais pertencentes à empresa.
- Parciais: quando apenas são listados determinados elementos
patrimoniais. Ex.: inventário das existências em armazém,
inventário dos clientes, etc.
Quanto à Apresentação - Verticais: quando os elementos patrimoniais são dispostos
verticalmente.
- Horizontais: quando os elementos patrimoniais são seriados em
dois blocos horizontais.

Na inventariação de um património poder-se-ão distinguir quatro etapas:

1a. A Identificação, que consiste em verificar os elementos patrimoniais existentes.


2a. A Classificação, que consiste em agrupar os elementos patrimoniais em contas.
3a. A Descrição, que consiste em distribuir os elementos patrimoniais pelas contas já existentes.
4a. A Avaliação, que consiste em atribuir um valor monetário aos elementos patrimoniais.
Finalidades do lnventário.
 Conhecer o capital que se vai aplicar no início de actividade – Inventário Inicial;
 Conhecer a situação real do património no período previamente definido – lnventário periódico;
 Conhecer a situação do património após a ocorrência de um facto anormal – lnventário
Extraordinário.

As empresas com escrita organizada, deverão possuir, por imposição da lei, um livro adequado
para aí elaborarem os inventários. Este livro é conhecido na actividade comercial por Livro de Inventário
e Balanços.

Exemplo de um Inventário Geral Simples, no dispositivo Vertical

Inventário de Carlos Relvas em 31 de Dezembro de 199__

ACTIVO
5 cadeiras @ 10.000 50 000 00
1 Montra frigorífica 200 000 00
Crédito ao cliente J. Silva 56 500 00
1 Carrinha Opel 2 500 000 00
100 Kg. Manteiga Cacau 80 000 00
@ 800
200 L de óleo "Flor" @ 200 000 00
1.000
10.000 latas de conserva 2 000 000 00
@ 200
1 balança decimal 128 000 00
2 máquinas de escrever 155 000 00
50 títulos de Tesouro 50 000 00
Dinheiro em Caixa 13 500 00
Trespasse do 1 800 000 00
Estabelecimento
Depósitos a Ordem no BF 127 000 00
7 360 000 00

PASSIVO
Letras a Pagar a Simoes 38 000 00
Reis
Débito a Sotema, SARL 125 000 00
Empréstimo do BCM 3 700 000 00
4 063 000 00

Exemplo de um Inventário Geral Classificado, no dispositivo vertical:


Inventário de A. Costa em 31 de Dezembro de 199__

ACTIVO
1 Meios Circulantes
Financeiros
11 Caixa
Dinheiro em cofre 73 300 00
12 Bancos
Depósito no Banco de 398 700 00
Fomento
Depósito no Banco Austral 125 000 00 523 700 00
13 Clientes
Dívida de J. Lopes 38 350 00
Dívida de Pedro Faria 72 000 00 110 350 00
17 Títulos Negociáveis
Saque s/ P. Santos, Lda. 44 750 00
Saque s/ Rui Martins 32 400 00 77 150 00
18 Outros Devedores
Débito de Dr. Sá Reis 20 000 00
804 500 00
2 Meios Circulantes
Materiais
21 Mercadorias
3000 litros de azeite 750 000 00
2000 litros de óleo 300 000 00 1 050 000 00
3 Meios Imobilizados
31 Construçoes
Edifício do Armazém 500 000 00
33 Outros Meios Básicos
2 armários 10 000 00
2 secretárias 8 600 00
6 cadeiras 2 900 00
1 máquina de escrever 24 000 00
1 máquina de calcular 15 000 00
60 bidoes 150 000 00 210 500 00
37 Imobilizaçoes Financeiras
1 Prédio de arrendamento 150 000 00
860 500 00
Total do Activo 2 715 000 00

PASSIVO
4 Contas de Credores
41 Créditos Bancários
Emprestimo do Banco 800 000 00
Austral
43 Fornecedores
Dívida a A. Ferreira 141 800 00
Dívida a S. Moreira 260 450 00 402 250 00
44 Credores Estado
Dívida a Rep. Finanças 33 080 00
47 Letras a Pagar
Aceite a Costa & Durao 100 000 00
Total do Passivo 1 335 330 00

5.2 Balancete

A informação contabilística registada nas diversas contas encontra-se dispersa, não sendo
possível com facilidade observar directamente a situação da entidade. Isto pode conseguir-se através da
elaboração de um Balancete, que consiste num mapa resumo de todos os movimentos efectuados num
determinado período, classificados por contas e com evidenciação do respectivo saldo.
Uma das funções mais importantes dos Balancetes é garantir que não existiram erros ou omissões
na execução dos registos contabilísticos. De facto o total dos movimentos a débito têm que ser igual ao
total dos movimentos a crédito. Igualmente as somas dos saldos devedores têm que ser igual à soma dos
saldos credores. Quando tal não se verifica é sinal de que se verificou qualquer erro na execução dos
registos.
Para melhor compreensão, apresenta-se um balancete a título de exemplo:

Balancete do Razão da Sociedade Comercial, Lda em Abril de 199___


Contas Movimentos Acumulados Saldos
Débito Crédito Devedor Credor
Caixa 5.720 3.353 2.367
Bancos 2.000 2.000
Clientes 1.700 150 1.550
Mercadorias 50 50
Equipamentos 100 100
Fornecedores 600 1.200 600
Letras a Pagar 150 150
Capital 5.000 5.000
Reservas 50 50
Remunerações aos Trabalhadores 120 120
Serviços de Terceiros 83 83
Vendas de Serviços 570 570
Totais 10.423 10.423 6.320 6.320

5.3 Balanço

Como se viu anteriormente o Inventário geral dos bens dá a conhecer a riqueza do seu titular.
Quando explicitamente através de um documento se compara o Activo e o Passivo, fazendo realçar a
diferença entre ambos, através da determinação da Situação Líquida, também designada, muitas vezes,
de Capital Próprio estamos perante uma peça contabilística chamada BALANÇO, que tem como principal
finalidade relatar a situação patrimonial de uma entidade, num determinado momento.
A designação de Balanço, poderá etimologicamente basear-se no facto de que estamos perante
uma comparação (balanceamento) entre o Activo e o Passivo com evidência do resultado dessa
comparação pela Situação Líquida. Este facto traduz-se esquematicamente pela chamada Equação do
Balanço:

ACTIVO - PASSIVO = SITUAÇÃO LÍQUIDA


ou de outra forma:

ACTIVO = PASSIVO + SITUAÇÃO LÍQUIDA

Esta equação é a base de toda a técnica contabilística, baseada na chamada dupla entrada, em
que os registos são apresentados sempre balanceados.
Sendo o Balanço essencialmente uma comparação entre o Activo e o Passivo para fazer realçar
o valor da Situação Líquida, essa comparação poderá ser efectuada de duas maneiras distintas ou dois
tipos de representação:
 Representação Horizontal em que se representa o Activo ao lado esquerdo e o Passivo e a
Situação Líquida ao lado direito.
 Representação Vertical em que o Activo aparece em primeiro lugar, seguido do Passivo e da
Situação Líquida.

Outra distinção que por vezes se faz entre os diversos tipos de Balanço, é entre Balanços
Sintéticos e Balanços Analíticos, sendo estes últimos mais detalhados no que se refere ao grau de
agregação dos diferentes bens patrimoniais. O extremo de um Balanço sintético é aquele em que apenas
se mencionam os totais do Activo, do Passivo e da Situação Líquida.

Objectivos da elaboração do Balanço.


 Apuramento da situação patrimonial num determinado momento, isto é, mostrar a qualquer
momento a situação patrimonial ou a situação económica e financeira da empresa – Aspecto
Estático do Balanço.
 Determinação dos resultados num dado momento – Aspecto Dinâmico do Balanço.

Expressão ou Equação Geral do Balanço.


ACTIVO = PASSIVO + SITUAÇÃO LIQUIDA

 O Activo – designa-se por primeiro membro do balanço e representa a estrutura económica,


ou seja, a aplicação dos recursos financeiros.
 O Passivo e a Situação Líquida – designa-se por segundo membro do Balanço e representa
a estrutura financeira, ou seja, a origem dos recursos financeiros. Podendo estes, ser próprios
ou alheios.

Classificação do Balanço.
 Quanto ao momento da sua elaboração.
- Balanço lnicial – o que se elabora no início da actividade económica;
- Balanço Final – o que se elabora no fim de cada exercício económico;
- Balanço de Fundação – o que se elabora no momento em que a empresa é criada ou fundada
- Balanço de Liquidação – o que se elabora quando a empresa deixa de exercer as suas funções
(Extingue-se). Importa recordar que vários são os motivos que podem levar à liquidação de
empresas. A falência, a Fusão e a Transformação;
- Balanço de Cessão – quando há lugar a partilha.
 Quanto à Estrutura.
- Balanço Analítico – quando as informações nele contidas são apresentadas duma forma
detalhada, ou seja, inclui as contas colectivas e as sub-contas até o menor grau possível;
- Balanço Sintético – quando as informações nele contidas são apresentadas duma forma resumida,
ou seja, inclui as contas colectivas e também pode incluir as contas do segundo grau.

 Quanto à representação.
- Horizontal – em que o primeiro membro aparece ao lado esquerdo (Activo) e o Segundo membro
vem do lado direito (Passivo e Situação Líquida);
- Vertical – em que o segundo membro (Passivo e Situação Liquida) vem imediatamente abaixo do
primeiro membro (Activo).

Quando se compara o Activo e o Passivo na elaboração de um Balanço podemos ter 3 situações:


a) O Activo ( A ) é maior que o Passivo ( P ) pelo que a equação do Balanço será:
A = P + SL
Caso em que se diz que temos uma Situação Líquida Activa ou positiva, o que equivale a
existência de Capitais Próprios.
b) O Activo é igual ao Passivo, sendo então a equação do Balanço:
A=P
Esta situação embora rara, não é impossível. Não existe Situação Líquida, sendo os valores dos
bens exactamente igual ao valor das dívidas.
c) O Passivo é superior ao Activo. Neste caso diz-se que estamos perante uma Situação Líquida
com sinal negativo e que se designa Situação Líquida Passiva. A equação do Balanço passa
a ser:
A = P - SL
E diz-se que estamos perante uma situação de Passivo descoberto ou Déficit. Trata-se de uma
situação de falência em que os valores dos bens possuídos é inferior ao valor das dívidas
assumidas.

Características ou Requisitos do Balanço:


 Clareza – os diversos elementos patrimoniais do balanço devem ser apresentados duma forma
simples e clara de modo a facilitar a sua compreensão e interpretação.
 Exactidão – os valores das diversas contas devem corresponder efectivamente ao valor real dos
respectivos elementos patrimoniais.
 Integridade – nas contas devem se incluir todos os valores patrimoniais activos, passivos e
situação líquida, devendo se respeitar o princípio da proibição das compensações, isto é, as contas
mistas não devem apresentar um único saldo.
 Consistência – na elaboração do balanço devem utilizar-se os mesmos critérios e normas durante
os vários exercícios económicos.
 Uniformidade – na elaboração do balanço devem utilizar-se os mesmos critérios e normas ao nível
sectorial ou nacional. Para o caso do nosso país e, especificamente no que diz respeito à
contabilidade das empresas que não são do ramo de seguros e bancário, deve se utilizar o modelo
do balanço que vem expresso no PGC.
 Sinceridade – a sinceridade do balanço exige que os seus elementos patrimoniais sejam avaliados
correctamente, isto é, com base em factos objectivos. Contudo, deve minimizar-se ao máximo a
subjectividade de certas rubricas como: provisões, amortizações, stocks entre outras rubricas.

5.4 Demonstração de Resultados

As transacções afectam não só a composição qualitativa do património como também o seu valor.
Assim se compararmos o valor do mesmo património no início e no final de um período, verificamos que
normalmente este valor se altera, para mais ou para menos.
No primeiro caso diz-se que se obteve um resultado positivo, um lucro e no segundo que se teve
um resultado negativo, um prejuízo. O valor do lucro ou do prejuízo são indicadores de desempenho da
gestão do referido património.
Este conceito de resultado, como diferença do valor do património em dois momentos distintos,
não pode no entanto ser sempre considerado como indicador seguro de lucratividade da entidade, porque
nos casos em que há entradas de meios adicionais, por exemplo, através de aumentos de capital, se dão
aumentos de património que não sendo gerados pelas operações de modificação dos elementos
patrimoniais, não podem ser considerados como lucros.
Existem igualmente diminuições do valor do património como por exemplo a distribuição de
lucros aos sócios de uma sociedade, que não podem ser considerados prejuízos, mas apenas diminuições,
isto é, mera partilha do património pelos seus titulares.

O resultado de um exercício pode ser definido, como a diferença do valor do Património, entre
dois momentos, desde que se excluam os aumentos ou diminuições do mesmo provocados por factos não
relacionados com a actividade da entidade.
As dificuldades em determinar o resultado apenas pelo acréscimo ou decréscimo do valor do
Património, e a necessidade de analisar os componentes positivos ou negativos dos resultados, conduziram
a técnica contabilística a desenvolver um método de determinação dos resultados, cujo modelo podemos
encontrar no exemplo seguinte:

Sociedade Comercial, Lda.


Demonstração de resultados do ano de 199__

Contas de Custos Contas de Proveitos

Custo de M. Circul. Mat. Vendidos 491.195 Vendas de Mercadorias 516.364


Remunerações aos Trabalhadores 9.996 Receitas Financeira 1.720
Serviços e Fornecim. de Terceiros 13.544 -----------
Encargos Financeiros 1.287 518.084
Impostos e Taxas 4 Resultados Extraordinários 252
Amortizações do Exercício 1.108 --------------
---------
517.134
Resultados Extraordinários 56
----------
517.190
Impostos sobre o Rend.Exercicio 404
----------
517.594
Resultado Líquido do Exercício 742
----------- -----------
518.336 518.336
======= =======

Como se pode verificar, os contabilistas definem Resultado (equivalente a rendimento ) com base
nas transacções concluídas em vez de o calcularem através do acréscimo, ou decréscimo da riqueza, como
fazem os economistas. Assim o resultado é a diferença entre os Proveitos e os Custos resultantes das
transacções concluídas. Para os contabilistas, o aumento de valor de um bem por exemplo de 1.000 para
1.500 só poderá ser considerado lucro no momento da sua venda e portanto atribuído ao período em que
essa venda se concretiza.

São as transacções concluídas, é que alteram o valor do património, isto é, produzem resultados,
que aparecem agrupadas na Demonstração de Resultados.
6. Documentos Comerciais

6.1 Definição

Os Documentos Comerciais são comprovativos das transacções comerciais e servem de base para
os registos contabilísticos. Por exemplo, uma Factura mostra-nos que houve uma venda a crédito e que a
contabilidade vai poder classificar e efectuar o respectivo registo com base nessa factura.

6.2 Classificação

Os documentos comerciais podem ser classificados em: Internos e Externos.


Internos – são aqueles que justificam transacções dentro da empresa. Ex.: Requisições de
matérias de um departamento para outro, dentro da empresa, folhas de salários, etc.
Externos – são aqueles que justificam transacções dentro e fora da empresa. Ex.: Notas de
encomendas, facturas, vendas a dinheiro, recibos, etc.

6.3 Arquivo
Nos escritórios modernos, está cada vez mais presente um centro de produção de informação e
não apenas um registo de transacções. Deve-se registar não só os factos históricos, mas também recorrer
a novas formas de gestão que servirão de base às decisões a serem tomadas pelos administradores.
O Arquivo é o lugar onde se recolhe e guarda-se documentos, informações de interesse, com
objectivo de conservar e assegurar resposta a todos os pedidos de consulta provenientes dos vários
sectores da organização ( empresa ou instituição ).
Existem porém, várias funções que são indispensáveis no arquivo:
- A recolha de factos;
- A selecção de factos úteis para gestão;
- A conservação ordenada dos factos recolhidos e classificados;
- A procura de factos recolhidos e conservados para consulta.

O Arquivo é a selecção indispensável na empresa sobre a qual devem incidir todas as atenções, é
o lugar onde são ordenados, conservados e consultados todos os documentos, de forma a obter dados para
uma boa condução da empresa. Para assegurar um bom funcionamento do arquivo é necessário executar
as tarefas com regularidade, tendo sempre em conta as regras de ordenação e classificação de documentos.
Para que estes objectivos sejam atingidos é necessário que:
- o elemento humano possua as capacidades e qualidades pessoais e profissionais necessárias a um
funcionamento regular de acordo com as normas;
- o arquivo deve ser instalado em locais apropriados com o material necessário, tendo sempre em
conta os princípios básicos de economia ( estudo técnico das regras de adaptação entre o
trabalhador e o equipamento de trabalho );
- devem ser utilizadas as classificações de documentos considerados racionais;
- deve funcionar sob a responsabilidade de um indivíduo especializado nesta matéria que se designa
por arquivista.

De acordo com o P.G.C., os documentos comprovativos das operações registadas nos livros de
contabilidade devem ser arquivados por um período de 10 anos.
Para facilitar a consulta, normalmente os documentos são arquivados em pastas de acordo com a
natureza e por ordem de data, mês e ano, ficando os mais recentes em cima, pois, estes são os mais
solicitados.

6.4 Contrato de Compra e Venda

A compra e venda é um contrato pelo qual um dos contraentes – vendedor – transmite a


oportunidade de um bem ou de um crédito a outro contraente – comprador – mediante um preço
previamente combinado. É pois, um contrato bilateral ou oneroso porque:
- o vendedor obriga-se a entregar um bem;
- o comprador por sua vez compromete-se a pagar o preço desse bem.

Condições de compra e venda


Antes de proceder a qualquer encomenda deve-se colocar as seguintes questões: o que comprar?
Em que condições?. É necessário proceder a escolha da mercadoria, quer em qualidade quer em
quantidade e fixar condições como: prazo de entrega, local, preço do bem, os custos adicionais, a forma
de pagamento, etc.
Para se eliminarem as dúvidas de quem paga de transporte, de seguros e a responsabilização de
conservação da mercadoria, a câmara do comércio internacional publicou as definições que ficaram
conhecidas por incoterms ( international commerce trade terms), que inclui as abreviaturas a seguir
indicadas:

Transporte por rodovia


FOT ( Free on track ) – local de expedição ou de destino – sobre camião no local de expedição
ou destino. Todas as despesas até ao lugar de carregamento ou destino são por conta do vendedor.

Transporte por caminho de ferro


FOR ( Free on rail ) – sobre o vagão na estação de expedição ou estação de destino. Todas as
despesas até a estação de expedição ou de destino são por conta do vendedor.

Transporte marítimo
FAS ( Free along ship ) – livre ao lado do navio no porto de embarque (ou no porto de destino).
Todas as despesas até junto do porto de embarque ( ou de destino) são de responsabilidade do vendedor.
FOB ( Free on bord ) – porto de embarque – livre a bordo no porto de embarque. Todas as
despesas até a colocação das mercadorias dentro do navio no porto de embarque são da responsabilidade
do vendedor.
CIF ( Cost, insurance and freight ) – porto de destino – livre no porto de destino. Todas as
despesas ( frete, seguro, etc.) até ao porto de destino são por conta do vendedor.

Há que distinguir-se as responsabilidades das empresas abrangidas pelas expressões:


CIF – Maputo, por exemplo.
- Na alfândega do porto de origem ( ou porto de destino ) – todas as despesas até a alfândega do
porto de origem ou de destino são por conta do vendedor.
- A porta da alfândega do porto de origem ( ou do porto de destino) – a responsabilidade do
vendedor termina à porta da alfândega do porto de origem ( ou de destino ) ocorrendo a partir daí
todas as despesas por conta do comprador.
- No armazém geral ou no entreposto – o vendedor entrega as mercadorias no armazém geral ou
no entreposto, ficando estas à disposição do comprador que terá de pagar direitos aduaneiros.

Existem outras formas de entrega de mercadorias:


- No armazém do vendedor;
- No armazém do comprador.

Nota: Todas as despesas pagas pelo vendedor são incluídas na factura. E das diversas
nomenclaturas estudadas as que mais importância damos, são o FOB e o CIF.

Incoterm – é um documento que estabelece regras internacionais de interpretação de termos


comerciais.

Fases da documentação de Compra e Venda

1º - Encomenda

C Nota de Encomenda
O 2º - Entrega V
M E
P Guia de Remessa N
R Talão de recepção D
A E
D 3º - Liquidação D
O O
R Factura, Nota de debito/crédito R
4º - Pagamento

Recibo

1ª Fase: Encomenda

O comprador comunica ao vendedor a quantidade, qualidade e o preço das mercadorias que


deseja adquirir e combinam condições de entrega e pagamento
- Nota de encomenda – é o documento onde o comprador especifica a quantidade da mercadoria
pretendida, bem como as condições de entrega e pagamento. Regra geral, é preenchido em
duplicado sendo o original para o vendedor e o duplicado para o comprador.

Outros documentos:
- Nota de venda – muitas vezes, a encomenda surge pelo contacto do representante do vendedor
(caixeiro viajante) com o comprador; é preenchida em triplicado e é semelhante à nota de
encomenda.
- Requisição – é muito usado no comércio a retalho e serve para o comprador levantar de imediato
as mercadorias no armazém do vendedor.
- Ordem de Compra – é um documento utilizado pelo comprador para mandar o seu comissário
comprar mercadorias.
2ª Fase: Entrega

O vendedor envia as mercadorias, dando assim a execução da encomenda feita pelo


comprador.
- Guia de remessa – este documento acompanha as mercadorias e serve para o comprador proceder
à conferência dos artigos recebidos.
- Talão de recepção – é devolvido pelo comprador ao vendedor após recepção das mercadorias e,
confirma a recepção em bom ou mau estado das mesmas.

3ª Fase: Liquidação

O vendedor indica ao comprador o montante em dívida ( valor das mercadorias – descontos


+ despesas de compras + imposto «IVA» = total da dívida).
- Factura – é o documento mais importante do contrato de compra e venda, é este o comprovante
oficial da compra. A factura pode ser emitida até ao 5º dia após a realização da operação, por isso
pode ou não acompanhar as mercadorias.
As facturas podem classificar-se em:
- Facturas de Praça – o vendedor e o comprador são da mesma praça.
- Factura de expedição – o vendedor e comprador são de praças diferentes.
- Factura provisória ou condicional – o vendedor envia mercadorias à condição. Essa factura
deverá ser substituída por uma definitiva após o comprador definir com que mercadorias fica.
- Factura simulada ou pró-forma – documento, por vezes utilizado no comércio
internacional, através do qual o vendedor dá a conhecer ao comprador as condições de
fornecimento das mercadorias pretendidas.

- Nota de débito – é o documento que rectifica positivamente o valor da factura quando o vendedor
por lapso, se esqueceu de mencionar alguma despesa por conta do comprador ou errou algum
cálculo a seu favor.

- Nota de crédito – é o documento que rectifica negativamente o valor da factura, isto é, a favor
do comprador. Geralmente, quando o vendedor tiver aplicado valores a mais nos preços,
devolução de mercadorias por parte do comprador e outras situações.

4ª Fase – Pagamento
O pagamento encerra o contrato de compra e venda e consiste na entrega do valor em dívida pelo
comprador ao vendedor. O pagamento de uma dívida pode ser:
- Imediato – quando se realiza em simultâneo com o fornecimento do bem ou serviço.
- Diferido – quando tem lugar em momentos diferentes.
- Total – quando o comprador entrega na íntegra o valor em dívida.
- Parcial – quando o comprador entrega parte do valor em dívida.

- Recibo – é o documento que prova um pagamento efectuado. Este documento é emitido pelo
vendedor e entregue ao comprador no momento de cobrança da factura.

O preço

Na fixação do preço há dois aspectos a considerar:


- Que moeda utilizar?
- Os contraentes são do mesmo país, logo a moeda a utilizar será do próprio país.
- Os contraentes são de países diferentes – em regra deve-se considerar a moeda de um dos

países, aquele que oferece maior estabilidade e segurança, ou ainda moeda de um terceiro

país, observando o factor estabilidade e segurança.

- Que quantidade de moeda?


- Por acordo dos contraentes – o preço é definido pelos contraentes.

- Por lei – os preços são fixados pelo Governo com objectivo de evitar especulação e

permitir o consumo de certos produtos pelas pessoas de pouco poder de compra.

- Por concurso público – tem por base os preços médios das mercadorias negociadas num

determinado dia.

- Por leilão – é oferecida por preço base, os presentes irão fazer crescer o preço, e é ganha

por quem oferecer o preço mais alto.

Descontos e Abatimentos

Com o objectivo de incrementar as vendas, é corrente os vendedores, mediante certas condições,


concederem aos seus clientes descontos de natureza comercial e/ou financeiro.
São descontos comerciais as reduções do preço (abatimentos) que resultam da aquisição de
grandes quantidades ou de fornecimento de um produto ligeiramente diferente do encomendado. Estes
descontos, originam a redução do custo de aquisição vulgarmente chamados de abatimentos.
São os seguintes os descontos considerados comerciais:
- Desconto de revenda – concedidos pelos armazenistas aos retalhistas para a possibilidade
de lucro do intermediário.
- Desconto de qualidade – concedido ao compraqdor quando a qualidade não corresponde a
combinada.
- Bônus – concedido ao comprador que ultrapasse determinado montante ou quantidade.
- Bom peso – quantidades de mercadorias não facturadas, remetidas pelo fornecedor ao seu
cliente com o objectivo de fazer face a possíveis quebras.

São descontos financeiros, as reduções da dívida por antecipação de pagamento.


São os seguintes os descontos considerados financeiros:
- Desconto de pronto pagamento – concedido ao comprador sempre que o pagamento se
efectuar no acto de entrega das mercadorias ou no prazo máximo de 8 dias após a entrega.
- Desconto por antecipação de pagamento – concedido ao comprador quando paga as
mercadorias antes do prazo acordado.
- Descontos sucessivos ( 6% + 3%) – podem ser comerciais ou financeiros – significa que o
primeiro é de 6% incidindo sobre o valor líquido do bem, o segundo é de 3% incidindo sobre
o valor líquido do bem após o primeiro desconto.

6.5 Títulos de Crédito

São documentos representativos de um crédito que uma pessoa (credor) tem sobre a outra
(devedor) e pode-se transmitir facilmente, passando a qualidade de credor de uma para outra pessoa, em
muitos casos pela mera transferência do documento e, noutros, com mais o preenchimento de
formalidades simples.
Nestes termos, o direito de os títulos de crédito representarem e consubstanciarem, não pode ser
exercido sem a posse do documento. Quer dizer, se nós formos legítimos possuidores de um cheque, por
exemplo, e se por qualquer eventualidade o inutilizarmos, não podemos receber a importância dele
constante, porque não o apresentamos ao banco sacado.
A posse do título em si, é pois, condição indispensável para se exigir o crédito ali inscrito. E é
atendendo a esta característica fundamental do título de crédito, além de outras, que ele se tem definido:
o documento necessário para exercer o direito literal que nele se menciona.

Características:
- Literalidade - deve entender-se que o documento só vale o que nele está inscrito.
- Autonomia – significa que o portador do título tem o direito próprio, independentemente de
quaisquer obrigações entre o primitivo credor e o devedor.
- Transmissibilidade – significa que os títulos de crédito são transmissíveis, o que permite
em alguns casos, o recebimento do seu valor antes da data do seu vencimento.

Classificação

Quanto a espécie de bens que representam:


- Títulos representativos de moeda – dão ao seu proprietário o direito de receber moeda em
troca do título. Ex.: cheques, letras, livranças, etc.
- Títulos representativos de mercadorias – dão ao seu proprietário o direito de receber
mercadorias em troca do título. Ex.: conhecimento de embarque, etc.
- Títulos representativos de participação de capital – títulos que concedem poderes de
características especiais. Ex.: acções, etc.
- Títulos representativos de serviços – que dão direito a beneficiar-se da prestação de
serviços. Ex.: bilhetes de cinema, de passagem, etc.

Quanto a natureza de intervenientes:


- Públicos – emitidos pelo estado ( obrigações do tesouro )
- Particulares – emitidos por particulares ( letras, acções, etc. )

Quanto a forma de transmissão:


- Títulos nominativos – a transmissão dos títulos de crédito nominativos efectua-se por meio
de declaração e averbamento. Estes títulos são emitidos a favor de uma pessoa determinada,
perante a qual o emitente se obriga; e, quando aquele os quiser transmitir, bastar-lhe-á fazer
uma declaração escrita, da qual conste o nome do novo possuidor, declaração que será
averbada nos livros de registo da entidade que emitiu os títulos. Exemplos frisantes de títulos
desta natureza são as acções e obrigações ( quando nominativas)
- Títulos à ordem – transferem-se por meio de endosso. Este não é mais do que uma simples
ordem, geralmente escrita no verso do documento e expressa nos seguintes termos “pague-se
ao Sr. Fulano ou à sua ordem”. Os títulos desta natureza, que o uso comercial mais tem
generalizado, são as letras, livranças, cheques ( quando não forem ao portador), etc.
- Títulos ao portador – a transmissão opera-se por simples tradição, isto é, sem muitas
formalidades: apenas a passagem do título da mão de uma pessoa para a mão de outra. São
títulos ao portador de uso muito frequente: notas de banco, e quando passadas ao portador –
os cheques, as acções, as obrigações, etc.

Quanto ao vencimento:
- Títulos ao portador – pagos no momento em que se apresentam ao devedor. Ex.: vales de
correio, cheques, etc.
- A prazo – pagos após um certo período previamente estabelecido . Ex.: letra, etc.

6.5.1 A Letra

É um título à ordem, sujeito a certas formalidades, pelo qual uma pessoa (sacador) ordena a
uma outra (sacado) que lhe pague a si ou a um terceiro ( tomador ), certa importância em determinada
data.
Uma letra deve conter o seguinte:
a) Local de emissão;
b) Data de emissão;
c) Valor nominal da letra em algarismos;
d) Vencimento da letra;
e) Ordem de pagamento;
f) O beneficiário da letra;
g) Quantia da letra por extenso;
h) Origem da letra;
i) Nome e residência do sacado (que deve pagar a letra);
j) Local do pagamento da letra;
k) Assinatura do sacador;
Quando não se indica o lugar onde foi passada, considera-se como tal o lugar ao lado do nome do
sacador.

Operações com a letra

- Saque – é a ordem de pagamento dada pelo sacador a outrém (aceitante/sacado) para que pague
a si ou a sua ordem, ou ordena que o referido pagamento se faça directamente à terceira pessoa,
normalmente um seu credor, e que, por esse facto, assume a posição jurídica de tomador da letra.

- Aceite – é o acto pelo qual o sacado se obriga a pagar a letra na data do vencimento. A letra pode
ser apresentada pelo portador para aceite no domicílio do sacado. É o acto de assumir o
compromisso de pagar o valor da letra.
Tipos de aceite:
- Aceite completo – além da assinatura deve-se escrever a palavra “aceito”.
- Aceite incompleto ou em branco – constituído apenas pelas assinaturas.

- Endosso – endossar uma letra significa transferir para outrém todos os direitos dela emergentes.
A pessoa que transfere o título denomina-se endossante; o seu adquirente chama-se endossado. O
endosso deve ser feito na letra ou numa folha ligada a esta – o anexo – e tem de ser assinado pelo
endossante.
Há duas formas de endosso:
- Endosso completo – em que se designa o novo proprietário da letra (endossado), e
constituído usualmente pela fórmula:
“Pague-se ao Sr. F... (endossado) ou a sua ordem”
Maputo, 30 de Agosto de 2002
(assinatura do endossante ).
- Endosso incompleto (ou endosso em branco ) – constituído pela simples assinatura
do endossante, escrita no verso da letra ou da folha anexa.

- Aval – é uma garantia dada por terceiro, ao pagamento total ou parcial de uma letra. Esta garantia
pode ser prestada por qualquer signatário da letra. O avalista ou o dador do aval responsabiliza-
se pelo pagamento da letra, tanto da pessoa a favor de quem testa o aval (avalado ou afiançado),
como de qualquer signatário para com esta obrigação. Deve acrescentar-se também, que não é
necessário pedir primeiro ao avalado o cumprimento da obrigação, para depois, e só na recusa
deste, se exigir o pagamento a qualquer outro signatário obrigado, pois todos são solidariamente
responsáveis para com o portador. O aval, nos mesmos termos do aceite ou do endosso, pode
também ser completo ou incompleto.
- O aval completo é constituído pela assinatura do avalista precedida das fórmulas:
“Bom para aval”, “dou o meu aval a favor de f..”, “por aval”, “por garantia”, etc.
- O aval incompleto é constituído pela simples assinatura do avalista aposta na face
anterior da letra, excluída evidentemente a assinatura do sacador e do aceitante.

- Protesto – é o acto de o portador lavrar junto do notário (ou qualquer autoridade jurídica) uma
reclamação por falta de pagamento ou mesmo por falta de aceite. Consiste pois, em comprovar
essa recusa para que possa exercer os seus direitos de acção contra todos intervenientes (sacador,
aceitante, avalista e outros co-obrigados).

- Desconto bancário – é a operação pela qual o beneficiário endossa a letra a um banco, antes do
seu vencimento, recebendo o valor líquido, isto é, o valor nominal da letra deduzidos de juros e
das demais despesas bancárias.
As despesas mais usuais no desconto bancário são:
- O juro, comissões ou prémio de desconto (percentagem calculada com base no valor
nominal, dependendo se o ano considerado para o efeito do cálculo é civil ou
comercial ).
- Prémio de transferência ( quando as letras são de outras praças, a percentagem é
sobre o valor nominal).
- Imposto ( percentagem sobre o valor dos juros mais a comissão).
- Portes ( importância variável, dependendo dos gastos em postais, telefonemas,
impressos, etc. ).

- Cobrança bancária – é a operação que se assemelha ao desconto, diferindo pelo facto de


endossar-se ao banco depois de vencida a letra, normalmente, quando o aceitante for de praça
diferente.

- Reforma da letra – consiste na substituição da letra antiga por uma outra letra nova (ou letras)
com vencimento posterior. Normalmente a reforma processa-se devido a falta de liquidez por
parte do sacado, e que vendo-se na impossibilidade de poder cumprir com a sua obrigação,
solicita ao sacador a reforma da letra. A reforma pode ser total, quando substitui-se na
totalidade do valor em dívida e parcial, quando há lugar a um pagamento de uma parte do
valor em dívida, substituindo-se o remanescente.

6.5.2 O Cheque

O cheque é um título à ordem, sujeito a certas formalidades, pelo qual uma pessoa, que tem
qualquer importância disponível num banqueiro (depositário ou sacado), dispõe dela total ou
parcialmente.
O cheque é, na sua essência e tal como a letra, uma ordem de pagamento (dada pelo depositante
– sacador ao seu banqueiro – sacado ou depositário). Todavia, a letra pode constituir numa ordem de
pagamento à vista ou a prazo, e mais ordinariamente a prazo, a verdade é que o cheque tem sempre a
natureza de ordem de pagamento à vista.

O cheque deve conter:


- A palavra “cheque” escrita no próprio texto do título;
- O mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada;
- O nome de quem deve pagar (sacado);
- A indicação do lugar em que o pagamento se deve efectuar;
- A indicação da data e o lugar onde o cheque é passado;
- A assinatura de quem passa o cheque.

O título que faltar qualquer um dos registos atrás enumerados não produz efeitos como cheque,
salvo as excepções seguintes:
a) Não se indicando o lugar do pagamento, considerando-se como tal o lugar designado
ao lado do nome do sacador e, na falta deste ou qualquer outro, o cheque é pagável
no lugar em que o sacado tem o seu estabelecimento principal.
b) Não se indicando o lugar da emissão (lugar onde o cheque é passado), considera-se
como tal o lugar designado ao lado do nome do sacador.
Forma de emissão do cheque
- Cheque nominativo – é o que contém o nome da pessoa a quem, ou a ordem de quem, deve
ser pago, e não se pode pagar a qualquer outra que no título não esteja mencionada. Este
cheque pode ser passado à ordem do próprio sacador – ou emitente – ou a terceira pessoa, o
beneficiário.
- Cheqe ao portador – é aquele que não contém o nome a quem deve ser pago, e pode ser
pago a qualquer um que se apresente a cobra-lo.
- Cheque cruzado – denomina-se cruzado o cheque atravessado, na face principal, por duas
linhas paralelas e que não pode ser pago senão a um banqueiro ou a um cliente do sacado. O
cruzamento do cheque pode ser efectuado pelo sacador ou pelo portador e reveste duas
modalidades:
a) Cruzamento geral – atravessa-se simplesmente o cheque, ao alto, por dois
traços paralelos. Este só pode ser pago pelo sacado, a qualquer banqueiro ou
a um cliente do sacado.
b) Cruzamento especial – procede-se do mesmo modo, mas entre os dois traços
escreve-se ( em regra, também ao alto) o nome do beneficiário.
- Cheque visado – denomina-se por cheque visado aquele que após ter sido passado em nome
de um certo beneficiário, passa-se pelo banqueiro para lhe certificar, isto é, dar garantia de
existência de provisão (saldo em banco). O portador deste cheque tem 100% de garantia de
que o cheque que lhe foi emitido tem dinheiro em conta.
- Cheque de viagem ou “travellers cheques” – são os cheques usados para efeitos de viagens,
os quais podem ser levantados no destino e, têm a vantagem de poderem ser levantados em
qualquer banco.

6.5.3 Livrança

É um título à ordem, sujeito a certas formalidades, pelo qual uma pessoa se compromete para com
a outra, a pagar determinada importância em certa data. A livrança , é pois, um título comprovativo de
dívida e tem a particularidade de ser “à ordem” e de se transmitir por endosso.
De harmonia com o art. 75º da lei uniforme relativa às letras e livranças, a livrança deve conter:
- A palavra “livrança” escrita no texto do título;
- A promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada;
- A época do pagamento;
- A indicação do lugar em que se deve efectuar o pagamento;
- O nome da pessoa ou a quem, ou à ordem de quem, deve ser paga;
- A indicação da data e o local onde a livrança é passada;
- A assinatura de quem passa a livrança ( o subscritor).
O escrito em que faltar alguns dos requisitos indicados anteriormente não produzirá efeitos como
livrança, salvo as excepções seguintes:
a) Quando não se indica a época do pagamento, considera-se pagável à vista.
b) Quando não se indica o lugar do pagamento, considera-se como tal o lugar onde
o escrito foi passado, e este considerar-se-á também o lugar do domicílio do
subscritor da livrança.
c) Quando não se indica o lugar onde a livrança foi passada, considera-se como tal
o lugar designado ao lado do nome do subscrito.

Ex.: Em 27 de Julho do ano passado, António Marcos, sito na rua Irmão Rubi nº 17 – Maputo,
vende a João Luís, mercadorias no valor de 50.000.000,00 Mts pagáveis em 15 de Novembro do mesmo
ano. Para liquidação João Luís subscreveu no próprio dia da venda uma livrança à ordem de seu
fornecedor.

Livrança
Maputo, 27 de Julho de 2002 50.000.000,00 Mts
A 15 de Novembro de 2002 pagará a V. Srª. por esta única via de
Livrança, a quantia de cinquenta milhões de meticais.
Valor de transacção comercial
Ao Il.mo Sr. António Marcos
Rua Irmãos Rubi nº 17
Maputo João Luís

6.5.4 Extracto de factura

Podemos definir como extracto de factura, o título à ordem, sujeito a certas formalidades, que
podemos representar o crédito proveniente duma venda mercantil a prazo, realizada entre comerciantes e
obrigatoriamente emitido sempre que esta transacção não seja efectivada por meio de letra.
O extracto de factura deve ser passado no acto da entrega das mercadorias, ao mesmo tempo que
a factura. Porém, quanto às compras e vendas parcelarmente realizadas dentro de um período semanal,
quinzenal ou mensal, poderão passar-se simples notas de remessa em dois exemplares, dos quais um fica
em poder do comprador e outro será devolvido ao vendedor com a assinatura ou rúbrica e carimbo
daquele.
O extracto de factura deve conter:
a) O número da ordem da factura;
b) A data de emissão;
c) O nome e o domicílio do vendedor;
d) O nome e o domicílio do comprador;
e) O saldo líquido da factura original;
f) O número do copiador e os respectivos fólios;
g) A época do pagamento;
h) O lugar onde deve ser efectuado o pagamento;
i) A assinatura do vendedor;

6.5.5 Acção

A acção é pois, a parte de capital, de certas sociedades comerciais, consubstanciada num


documento representativo dessa participação do património social. Ao próprio documento representativo
do capital se chama também acção, documento que pertence à categoria dos títulos de crédito, tal como
as letras, livranças, cheques e outros.
As acções são sempre de igual valor e geralmente de valor nominal baixo, mas não inferior a
1.000,00 Mts.

O documento – a acção – deve ser assinado por um ou mais administradores ou directores da


sociedade e contém obrigatoriamente, pelo menos os seguintes elementos:
- A firma e a sede da sociedade;
- A data da escritura da constituição bem como o cartório notarial onde esta foi
lavrada, a data da publicação e o número da pessoa colectiva;
- O valor do capital social;
- O valor nominal de cada acção e o valor liberado;
- O número de acções incorporadas no título e o seu valor nominal global.

Importa ainda realçar que existem acções de participação em capitais – aqueles cujos sócios
subscrevem para fazer parte da sociedade e permanecem na sociedade por muito tempo, e acções da
própria empresa, as que se destinan a serem transaccionadas – os títulos negociáveis – e que são de curto
prazo.

6.5.6 Obrigações

A obrigação é um título de crédito que corresponde a uma fracção de um empréstimo geralmente


a longo prazo. O seu reembolso pode ser total (de uma só vez, em certa data) ou parcial. Neste último
caso, que é o mais frequente, o reembolso aos portadores de obrigações – obrigacionistas – faz-se
gradualmente, em períodos previamente fixados, quer através de sorteio, quer por meio de compras no
mercado, por parte da sociedade emitente.
A remuneração das obrigações e o juro fixado na altura da emissão e a respectiva taxa depende
naturalmente das condições do mercado.
Pode por isso acontecer, que numa certa emissão a taxa de juro seja fixada em 6% e noutra
posterior, ela seja elevada a 8% ou ainda baixar para 4%. Daí que teremos situações de obrigações
transaccionadas acima ou abaixo do par ou ainda com prémio de emissão ou prémio de reembolso.

Exercício de Aplicação

A empresa Alfa, Lda. com sede em Maputo, na Avenida Salvador Allende n. 1300, NUIT
40.600.560 dedica-se à comercialização de produtos alimentares, e solicitou em 20/06/01 através da nota
de encomenda nº 180/01 à Empresa Beta, Lda. sita na Avenida Samora Machel, nº 172 em Nacala (NUIT
60.563.896), os seguintes produtos:

- 15.000 Kgs de açúcar “MK” @ 8.000,00 Mts.


- 16.000 Kgs de arroz “NICO” @ 6.000,00 Mts.
- 10.600 Litros de óleo “SKY” @ 15.000,00 Mts.
- 6.800 Kgs de farinha de milho “BRANCO” @ 3.000,00 Mts.

Em 30 de Junho, a empresa Beta enviou as mercadorias solicitadas acompanhadas pelo Guia de


Remessa nº 1260. No dia 10 de Julho o comprador devolve o Talão de Recepção confirmando a chegada
de mercadorias conforme a sua solicitação.

No dia 15 de Julho o vendedor emitiu a Factura nº 260, tendo em conta as seguintes informações
:

- Desconto de revenda – 5% + 2%.


- Seguro marítimo 4.800.000,00 Mts.
- Transporte até ao porto de Nacala 1.800.000,00 Mts.
- Estiva portuária 400.000,00 Mts.
- Frete marítimo 10.600.000,00Mts.
- Descarregamento no Porto de Maputo 600.000,00 Mts.

- IVA conforme o código do IVA.

Em 20 de Julho o vendedor inviou a Nota de Débito nº 30 para acréscimo das despesas de


armazenagem e de 56 embalagens não retornáveis, de 1.860.000,00 Mts e 840.000,00 Mts
respectivamente ( IVA de 17% ).

Em 30 de Julho o vendedor enviou a Nota de Crédito nº 22 concedendo o desconto de 4,5%


referente aos produtos tributáveis.
Em 20 de Agosto, o vendedor saca a Letra nº 156 a 30 dias de data, em que a Modas Satar de
Maputo, avalisa em 25 de Agosto, tendo sido aceite na mesma data.

Em 20 de Setembro o comprador enviou o Cheque n. 198090 sobre o BIM pelo montante da


dívida.

Em 22 de Setembro o vendedor emitiu o Recibo n. 1698 confirmando o pagamento.

Pretende-se:

1. Preenchimento de todos os documentos mencionados, considerando que o contrato de compra


foi de:
a) FOB – Nacala
b) FAS
c) CIF

2. Apresente o valor em dívida para cada alínea do nº 1.

7. Contabilização das Transacções. Lançamentos

Os factos patrimoniais ou transações que traduzem as modificações patrimoniais são a base dos
registos contabilísticos e da preparação dos dois documentos básicos da denominada prestação de contas
de uma entidade: Balanço e Demonstração de Resultados. Vamos neste capítulo estudar mais
detalhadamente essas transações e as técnicas utilizadas no seu registo através da denominação da
revelação contabilística.

7.1 Conceito de Transacção

As transacções são o elemento originário dos registos contabilísticos e portanto de todo o seu
processamento. Para este efeito podemos considerar transacções como todo o facto (económico, jurídico)
que se traduz por uma modificação de um património, quer de natureza quantitativa quer de natureza
simplesmente qualitativa.

7.2 Tipos de Transacções

As Transacções ou factos patrimoniais podem classificar-se em dois tipos fundamentais:


Modificativas ou quantitativas quando alteram o valor do património.

Permutativas ou qualitativas quando produzem, apenas alterações na composição do


património, sem alterar o seu valor.

São exemplos de transacções modificativas a venda com lucro de uma mercadoria, o pagamento
de ordenados, o pagamento de uma renda, o recebimento de juros, etc.
Como transacções permutativas temos por exemplo, a compra de mercadoria, o pagamento de
uma dívida, o recebimento de um crédito, a compra de uma máquina, etc.
Como início de todo o processo contabilístico as transacções são registadas em documentos que
vão servir como base de “prova” dos registos a serem efectuados. Por exemplo quando se vende uma
mercadoria ou se presta um serviço emite-se uma factura. Quando se compra uma máquina, esta vem
acompanhada de uma factura emitida pelo vendedor. No pagamento de uma dívida através de dinheiro
depositado no Banco, emite-se um cheque e o credor passa um recibo como quitação. Estes documentos
podem ter origem interna ou externa. No entanto a sua existência é essencial para a execução da
contabilidade

5.3 Regras de Movimentação das Contas

Os registos das transacções efectua-se nas contas, debitando-as e creditando-as, mas de tal modo,
que a equação do balanço permaneça válida.
Para isso é necessário que os movimentos a débito sejam iguais aos movimentos a crédito.
Este assunto já foi devidamente abordado no capítulo 4 no nº 4.5, cujo resumo das regras de
movimentação das contas foi assim apresentado:

Contas do Activo
Debitam-se pelos aumentos e creditam-se pelas diminuições
Contas do Passsivo
Debitam-se pelas diminuições e creditam-se pelos aumentos
Contas da Situação Líquida Passiva ( Custos e prejuízos )
Debitam-se pelos aumentos ( mais custos ou mais prejuízos ) e creditam-se pelas diminuições (
menos custos ou menos prejuízos )
Contas da Situação Liquida Activa ( proveitos ou lucros )
Debitam-se pelas diminuições ( menos proveitos ou menos lucros ) e creditam-se pelos aumentos
( mais proveito ou mais lucros ).

5.4 Lançamentos
Denomina-se lançamento o registo contabilístico de uma transacção, qualquer que seja a sua
natureza. Qualquer lançamento afecta pelo menos duas contas e o valor dos registos a débito é
necessariamente igual aos registos a crédito.

5.4.1 Diário
O livro onde o registo das transacções se efectua cronologicamente, transacção a transacção,
com indicação das contas debitadas, das contas creditadas, descrição da transacção e respectivo valor,
designa-se por Diário.

Os lançamentos no Diário são constituídos por:


 Data: localidade, dia, mês e ano
 Cabeçalho ou Contas movimentadas: título(s) da(s) conta(s) debitada(s) e creditada(s)
 Importância(s): valor das variações patrimoniais
 Histórico: Descrição sucinta e precisa da operação, com indicação do documento.

Os lançamentos podem ser classificados de acordo com o número de contas movimentadas e a


natureza dos movimentos. No primeiro caso temos os seguintes tipos:
1a. fórmula: Uma conta debitada e uma conta creditada;
2a. fórmula: Uma conta debitada e várias contas creditadas;
3a. fórmula: Várias contas debitadas e uma conta creditada;
4a. fórmula: Várias contas debitadas e várias contas creditadas.

Quanto à sua natureza os lançamentos podem classificar-se nas seguintes categorias:


* Lançamentos de abertura: respeitam ao registo de valores iniciais de um comerciante em nome
individual ou de uma sociedade, para início da contabilidade.
* Lançamentos Correntes: os que respeitam ao registo normal (corrente) das transacções.
* Lançamentos de Estorno: os que dizem respeito à correcção de erros.
* Lançamentos de regularização: são os que têm por objectivo rectificar o saldo de algumas contas
durante o trabalho de fecho de exercício, de modo a adequar o seu saldo à sua verdadeira extensão;
* Lançamentos de transferência ou apuramento de resultados: respeitam à transferência de
saldos durante o processo de encerramento de contas.
* Lançamentos de encerramento ou fecho: efectuados no final de cada exercício para
encerramento de escrita e mudança de exercício;
* Lançamentos de reabertura: efectuados no início de cada exercício para reabertura da escrita.
Diário Geral

Maputo, 31 de Janeiro de
2000
1 11. Caixa (conta 1
debitada)
A 56. Capital (conta 2
creditada)
entrada de dinheiro
para rea-
lizaçao do capital 5 000 000 00
____________
____________
2 68. Outros Custos 3
68.1 Rendas e
Alugueres
A 11. Caixa 1
Pagamento da renda
do es-
critório relativa a Janeiro 50 000 00
____________
____________

Descrição ou histórico
Fólio do Razão
Valor do lançamento
Numeração do lançamento

5.4.2 Razão
As contas, no sistema de escrituração manual, encontram-se agrupadas num livro a que se chama
de Razão. Para simplificação e exemplificação de como se movimentam as contas, utilizaremos os “ Ts”.
É evidente que nos livros, o formato das contas terá de ser bastante mais completo para permitir o registo
de mais informação sobre os registos efectuados, embora seja, no geral semelhante aos “Ts” que
utilizamos. Este formato dependerá das necessidades e natureza das contas, mas em especial, quando se
trata de contas do Razão geral, apresenta o seguinte aspecto:

Débito 11. C a i x a ( Fólio 1 ) Crédito


Data Descrição Valor Data Descrição Valor
2000 2000
Jan. 31 a 56.Capital 1 5.000.000 Jan. 31 de 68. OutrosCustos 2 50.000

Débito 56. C a p i t a l ( Fólio 2 ) Crédito


Data Descrição Valor Data Descrição Valor
2000
Jan. 31 de 11. Caixa 1 50.000.000

Débito 68. Outros Custos ( Fólio 3 ) Crédito


Data Descrição Valor Data Descrição Valor
2000
Jan. 31 a 11.Caixa 3 50.000

Quase todas as contas do Razão Geral têm necessidade de serem subdivididas. Nestes casos o
aspecto gráfico e traçado das contas utilizadas, pode ser muito variável, dependendo da natureza dos
movimentos a registar.

Balancete

Utilizando método digráfico, toda a operação é simultaneamente lançada a débito de uma conta(s) e a
crédito de outra(s). Para se verificar a igualidade dos débitos e dos créditos de todas as contas depois do
registo das respectivas variações, utiliza-se um dispositivo designado Balancete.
O Balancete é um quadro recapitulativo de todas as contas do razão, onde consta a soma do débito e do
crédito de cada conta e os respectivos saldos (Devedor e Credor).

Modelo Clássico do Balancete


Fólio

Contas Movimentos Saldos


Débito Crédito Devedor Credor

O Balancete é pois, um resumo do Razão onde a soma dos totais do débito e do crédito devem ser iguais
a total do Diário.Consequentemente, os totais das contas dos saldos devedores e credores devem ser
iguais.
Se qualquer das igualidades não se verificar, então pode ter havido erro, sendo necessário uma análise do
trabalho efectuado. Os Balancetes não evidenciam erros cometidos no Diário, tais com substituição de
contas, inversão de contas, omissão de lançamentos e duplicação de lançamentos. Portanto, as quantias
registadas a débito e a crédito das contas podem ser iguais. Só quando isto não acontece, isto é, quando
se regista num e não no outro, os erros são detectados pelo Balancete.
A comparação entre total do Balancete e total do Diário, permite verificar se os lançamentos foram
completamente passados ao razão. Normalmente, se o total do Balancete for inferior ao total do Diário,
poderá haver um ou mais lançamentos do Diário não lançados no razão, inversamente, poderá haver
duplicação na passagem dos lançamentos do Diário ao razão (total do Balancete superior ao total do
Diário).
Durante o exercício económico, são elaborados periódicamente Balancetes, Geralmente todos os meses
com a finalidade:
1) Conferir débitos e créditos;
2) Eliminar os erros de passagens do Diário ao Razão;
3) Verificar a situação (económica e financeira) da empresa ainda que duma forma preliminar se é boa ou
má.

NOTA: O Balancete mostra a concordância entre os totais dos débitos e dos créditos, coincidindo também
com o total do Diário - Tripla igualidade.
SOMA DOS DÉBITOS = SOMA DOS CRÉDITOS = SOMA TOTAL DO DIÁRIO
E consequentemente, a soma dos saldos devedores tem de ser igual a soma dos saldos credores.
Se qualquer das igualidades não se verificar implica que houve erro. A comparação entre o total do
Balacente e o total do Diário permite-nos verificar se os lançamentos foram bem escriturados.

5.4.3 Estorno
O trabalho de escrituração comercial está sujeito a erros, pelo que, quando qualquer erro é
encontrado este deve ser corrigido de imediato. Contudo, a sua correcção não deve ser efectuada através
de rasura ou apagamento do registo, pois isso poderá indicar o desejo de esconder ilicitamente qualquer
facto. É por vezes a própria legislação que impõe regras neste sentido impondo a utilização do lançamento
de estorno para corrigir erros. Estes lançamentos podem ser de mais variada natureza, no entanto, a
maneira mais simples de realizar um estorno é anular o lançamento contrário através da realização de um
lançamento inverso e repetir o lançamento correctamente. No entanto, algumas vezes, este procedimento
não é possível devendo cada caso ser analisado cuidadosamente, adoptando-se, o procedimento adequado
mas tendo em vista que deve ser deixada evidência clara do erro que se está a corrigir, não efectuando
rasuras.

Os estornos podem surgir por:


 Omissão de registo: as operações devem ser registadas por ordem de datas. No caso de nos aparecer
um documento por registar fora de ordem de data, devemos proceder normalmente ao seu registo no
Diário e passagem ao Razão;
 Duplicação de registo: caso a empresa tenha registado duas vezes a mesma operação, para proceder
a correcção, poderá adoptar um dos métodos seguintes: a) anula-se o segundo registo, utilizando-se o
lançamento inverso; b) risca-se o segundo lançamento de modo a que se veja o que está escrito; c)
faz-se um terceiro lançamento com a quantia simétrica das anteriores; d) repete-se o lançamento com
o complemento aritmético da quantia.
 Inversão de Contas: no caso de, ao registar a operação, se ter trocado a conta debitada pela creditada,
podemos corrigir o registo recorrendo a um dos seguintes métodos: a) anular, com um traço a
vermelho (de modo a que se leia o que fica riscado) o primeiro lançamento e, seguidamente, proceder
ao lançamento correcto; b) fazer o lançamento correcto pelo dobro do valor; c) anular o primeiro
registo pelo inverso, e depois proceder-se ao lançamento correcto.
 Substituição de Contas: no caso de se movimentar uma conta ou contas incorrectamente, para
proceder à sua rectificação pode seguir-se um dos métodos: a) cortar a vermelho o que se encontra
incorrectamente registado e fazer o registo correcto; b) anula-se o primeiro lançamento e depois faz-
se o registo correcto; c) faz-se um registo em que se movimenta a conta errada e a que devia figurar.
 Alteração de quantias: caso se tenham movimentado correctamente as contas, mas haja engano nas
quantias, para rectificarmos o registo pode seguir-se um destes métodos: a) cortar a vermelho a
quantia errada, substituindo-a pela quantia certa; b) fazer um registo pela diferença; c) anular o
primeiro registo e depois proceder ao correcto.

Acho eu que falta o esquema da contabilização das operações com IVA

COMTABILIZAÇÃO COM IVA


Generalidades
Como foi visto na parte introdutória da disciplina, a principal caracteristica do IVA é a dedução
que consiste em debitar o Estado (4.4 ESTADO) pelo IVA suportado nas compras de bens e
serviços, e creditá-lo (4.4 ESTADO) no IVA liquidado (facturado ou recebido) na venda de bens
e serviços. Como normalmente o IVA liquidado nas vendas é superior a suportado nas compras,
o total do IVA suportado mensalmente é deduzido no liquidado, apurando-se a diferença como
sendo o IVA a entregar ao Estado.

COMPRAS DE BENS E SERVIÇOS (de mercadorias bem como despesas de compra).


Para possibilitar uma boa gestão de stocks, a conta compra, 2.1 COMPRAS, deve dividir-se em
tantas subcontas quantas a natureza de bens ou serviços adquiridos pela empresa (se mercadrias,
matérias-primas, etc.); estas a taxas de IVA a que os bens estão sujeitos.
Em princípio, IVA suportado na compra de bens e serviços, seria debitado na conta 4.4 ESTADO
– 4.4.3.1 IVA suportado, que seria mais tarde transferido para a mesma conta, na sub-conta
4.4.3.2 IVA Dedutível. Uma vez que normalmente o IVA suportado é o dedutível, aconselha-se
a contabilização directa na sub-conta 4.4.3.2 IVA Dedutível.

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