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O CUIDADO COMO DIREITO SOCIAL E COMO QUESTÃO DE POLÍTICA

PÚBLICA

Michelly Laurita Wiese1


Keli Regina Dal Prá2
Regina Célia Tamaso Mioto3

Resumo: Atualmente muitos países buscam responder a um dos desafios do mundo contemporâneo
que é a demanda por cuidados. O artigo de caráter teórico tem por objetivo discorrer sobre o
cuidado como direito e sua incorporação na política social brasileira e a relevância do cuidado na
sua dimensão familiar e domiciliar. Neste sentido, é importante que a organização social do cuidado
como direito seja assumida coletivamente através das relações entre Estado, família e indivíduo. A
família também tem assumido o cuidado técnico especializado com forte traço de gênero ao
demandar a mulher o cuidado familiar e domiciliar. Com estas considerações desenvolve-se a
discussão articulada em dois tópicos. O primeiro pontua, brevemente, o cuidado como direito e a
sua incorporação na política social brasileira. O segundo trata do cuidado na sua dimensão familiar
e domiciliar, que expressa o alto grau de responsabilização das famílias no contexto brasileiro. Estas
problematizações sobre o tema requerem estudos, aprofundamentos, conhecimento e escutas por
parte de profissionais, usuários, sujeitos envolvidos direta ou indiretamente no cuidado.
Palavras-chave: Cuidado. Política Social. Família.

Introdução

No bojo das mudanças de caráter social, econômico e demográfico um grande número de


países tem buscado responder a um dos desafios do mundo contemporâneo que é a demanda por
cuidados. Segundo Orozco (2006, p.8-9) essa questão se define como
[...] un problema socioeconómico de primer orden, que afectaal conjunto de lapoblación y
no sólopuedepercibirseen toda sumagnitud si dejamos de centrar lavisiónenlos mercados y
lo monetizado y, en cambio, situamos como categoría analítica básica lasostenibilidad de la
vida; es decir, si buscamos comprenderlas formas en que cada sociedadresuelve sus
problemas de sostenimiento de la vida humana.

Isso significa dizer que no contexto da sociedade capitalista o enfrentamento da questão do


cuidado se faz dentro dos limites colocados por essa formação socioeconômica, que não tem como
centralidade o atendimento das necessidades humanas. Porém, apesar de todos os limites impostos

1
Assistente Social. Doutora em Serviço Social, Professora Adjunta do Departamento de Serviço Social da UFSC;
integrante e coordenadora do NISFAPS. Florianópolis/Santa Catarina/Brasil. E-mail: michelly.wiese@ufsc.br.
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Assistente Social. Doutora em Serviço Social, Professora Adjunta do Departamento de Serviço Social e do Programa
de Pós-graduação em Serviço Social da UFSC; integrante do Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar Sociedade, Família e
Política Social (NISFAPS). Florianópolis/Santa Catarina/Brasil. E-mail: keli.regina@ufsc.br.
3
Assistente Social. Professora da Universidade Católica de Pelotas no Programa de Pós-Graduação em Política Social e
professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFSC. Integrante do NISFAPS.
Florianópolis/Santa Catarina/Brasil. E-mail: regina.mioto@gmail.com.

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por essa ordem, pode se detectar avanços legislativos em muitos países que direcionam para o
reconhecimento do cuidado como um direito e da premência e se pensar de modo mais equitativo a
distribuição da responsabilidade do cuidado tanto no interior da família como entre as instituições
públicas. Na América Latina tais avanços são muito mais lentos que o desejado e a responsabilidade
do cuidado continua recaindo desproporcionalmente sobre as famílias. Especialmente sobre as
mulheres quando se defronta com a desigualdade e o desequilíbrio presente entre trabalho
remunerado e não remunerado e entre mulheres e homens. Isso indica que apesar do
reconhecimento cada vez maior do cuidado como um direito e consequentemente como uma
questão de política pública, continua-se convivendo com uma visão de que ele é um problema das
famílias, especialmente das mulheres.
Esta visão segundo Mioto e Dal Prá (2015) vem sendo bastante reforçada no Brasil, a partir
dos anos de 1990, quando o pensamento neoliberal vai redesenhando o projeto de seguridade social
instituído pela Constituição Federal de 1988. Nesse contexto, a família é alçada como uma instância
de primeira linha na provisão de bem-estar e um canal fundamental nos processos de privatização
da seguridade Social. Batthyány (2015) acrescenta que, sendo o cuidado um dos campos da
proteção social, não pode deixar de antever a difícil equação institucional que congrega o Estado, as
empresas, as famílias e o terceiro setor, no encaminhamento de suas proposições e resoluções.
Nesse escopo, considerando a busca pela igualdade de gênero, a inclusão do cuidado na agenda
pública implica na condução de um conjunto articulado de políticas de cuidado que associam o
campo da proteção social, das políticas de emprego e das políticas de desenvolvimento. Isso se
articula à perspectiva da autora que considera que o cuidado pressupõe cuidado material que
implica em trabalho, cuidado econômico que implica em custo econômico e cuidado psicológico
que implica em vínculo afetivo, sentimental e emotivo. Além disso, pode ser realizado sob forma
beneficente no contexto familiar ou de forma remunerada no marco ou não da família. Mioto
(2015), adotando a análise de Saraceno (1996) trata o cuidado no âmbito da família como parte do
trabalho familiar. Este compreende o conjunto de atividades desenvolvidas pela família no processo
de provisão de bem-estar social e abrange as tarefas domésticas; o cuidado de seus membros,
especialmente os dependentes; e também os investimentos que as famílias têm de fazer no campo
das relações com outras instituições que lhe exigem energia, tempo e habilidades.
Nesse contexto é importante considerar que a equalização de responsabilidades de cuidado
entre as diferentes instâncias é fundamental, uma vez que a realidade tem demonstrado que quanto
maior responsabilidade pelo bem-estar é delegada a família maior é o incremento da desigualdade.

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Isso porque as famílias estão clivadas pelos três grandes eixos da desigualdade que são classe,
gênero e etnia, além das diferentes formas de organização e de relações com as políticas sociais.
Para Batthyány (2015) o direito ao cuidado para ser universal deve ser reconhecido e exercitado em
condições de igualdade e acrescenta que
distintos regímenes de bienestar se asociaránasí a distintos regímenes de cuidado, de
acuerdo a los modos enlos que se asignanlas responsabilidades de cuidado y se
distribuyenloscostos de proveerlo. Para caracterizar unrégimen de cuidado interesa saber
dónde se cuida, quién cuida y quién paga loscostos de ese cuidado (BATTHYÁNY, 2015,
p.11).

Com estas considerações desenvolve-se o presente artigo que está articulado em dois
tópicos. O primeiro pontua, brevemente, o cuidado como direito e a sua incorporação na política
social brasileira. O segundo trata do cuidado na sua dimensão familiar e domiciliar, que expressa o
alto grau de responsabilização das famílias por ele no contexto brasileiro. Por fim, as conclusões.

O cuidado como direito e a sua incorporação na política social brasileira

A questão do cuidado se configura como um ponto de inflexão para os regimes de bem-estar


social a partir da incorporação massiva das mulheres no mercado de trabalho, sem pista de
reversibilidade nas sociedades ocidentais, e com o reconhecimento dos direitos de cidadania. Assim
compreende-se que as relações entre as políticas econômicas e sociais conformam a organização
social do cuidado que se vincula às formas através das quais são distribuídas e geridas a provisão de
cuidados e que acabam sustentando o funcionamento econômico e social. Por isso se torna
importante entender como são consideradas as demandas por cuidado em uma sociedade, como são
providos e por quais instâncias, sabendo-se que a organização social do cuidado, nas sociedades
capitalistas, sempre implica na distribuição de responsabilidades de provisão de bem-estar entre o
mercado, o Estado e a família/comunidade(ARRIAGADA; TODARO, 2012).
Nesse contexto, Batthyány (2015) afirma que o cuidado tem sido tratado como uma
categoria chave para o desvelamento de dimensões da vida de homens e mulheres e também como
categoria capaz de revelar aspectos importantes dos arranjos sociais relacionados às necessidades
pessoais e bem-estar. Nessa perspectiva o cuidado é compreendido tanto como trabalho e relação
interpessoal, como responsabilidade socialmente construída e inscrita em contextos sociais e
econômicos particulares. Dessa forma o direito ao cuidado, como universal, vem sendo reconhecido
e incluído como mais um dos pilares - ao lado da previdência social, da saúde e da educação - da
cidadania social. Ou seja, passa-se a pensar que o cuidado, especialmente de dependentes (crianças,

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idosos, deficientes) deve ser assumido coletivamente e não apenas quando a família está ausente.
Essa nova concepção implica necessariamente uma nova forma de conceber as relações entre
Estado, família e indivíduo calcada na responsabilidade social do cuidado das pessoas.
O direito ao cuidado pressupõe três grandes vertentes que são as de cuidar, de ser cuidado e
de cuidar-se (cuidar de si) que, segundo Pautassi (2007), congrega tanto obrigações negativas como
obrigações positivas. As obrigações negativas referem-se aquelas características dos direitos
econômicos e sociais que impelem o não impedimento de crianças à educação infantil, o acesso dos
idosos os serviços de saúde. As obrigações positivas são aquelas vinculadas à produção de meios
para se poder cuidar e garantir que o cuidado de fato aconteça em condições de igualdade, sem
discriminação e que também não seja concedido a nenhum grupo reduzido, como por exemplo,
aquele com vínculo formal de trabalho. Ou seja, se torne uma realidade para todos os cidadãos e
cidadãs. Para a autora garantir o direito universal do cuidado, por um lado, amplia as possibilidades
de elegibilidade de cada pessoa em relação as diferentes esferas, sejam elas estatais e privadas. Por
outro lado, possibilita uma mudança na dinâmica do cuidado. Tanto para Pautassi (2010), como
para Batthyány (2015) a perspectiva do cuidado como direito, descarta a compreensão que as
políticas de cuidado sejam conduzidas a partir da perspectiva de apoio as mulheres que se inserem
ou desejam se inserir no mercado de trabalho, visão bastante comum entre políticos e agentes
sociais. Ao contrário, ele não é um benefício para as mulheres e sim um direito de todos e de todas
que necessita ser normatizado e organizado através de arranjos institucionais e orçamentários.
Partindo dessa compreensão o direito ao cuidado vem sendo cada vez mais reconhecido no
mundo ocidental e incluído em vários tratados internacionais, no escopo dos direitos humanos,
envolvendo alguns aspectos fundamentais no seu processo de construção. O primeiro concerne ao
fato que o direito de receber cuidados necessários em diferentes etapas e circunstâncias da vida não
pode estar atrelado à lógica do mercado, a vinculação a renda ou a presença de redes ou de laços
afetivos. O segundo implica no direito de escolher se o cuidado deve acontecer, ou não, nos limites
do cuidado familiar não remunerado e com isso abre-se a possibilidade de eleger alternativas de
cuidado não restritas à lógica das obrigações familiares. Não restringir o cuidado a lógica da
obrigatoriedade familiar não significa desconsiderar as leis civis ou tratados internacionais, mas
impõe-se a necessidade de encontrar outras formas de gestão do cuidado que não penalize as
famílias, especialmente as mulheres. O terceiro se refere as condições de trabalho no setor de
cuidados balizados pela valorização social e econômica pertinente a tarefa de cuidar
(BATTHYÁNY, 2015, CAFARO, 2014).

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O reconhecimento do direito ao cuidado é um processo em construção, cujo reconhecimento
depende de ações políticas comprometidas com a ampliação de direitos e com a garantia do caráter
universal que deve presidi-los. A condução de ações nessa direção se torna uma questão
fundamental quando se defronta com o caráter familista da política social brasileira, além de uma
escassa produção de conhecimento sobre essa temática (MIOTO; CARLOTO; CAMPOS, 2015).
Com base no debate de Goldani (2005) sobre as interrelações entre família e política social é
muito plausível inferir que, no Brasil, as políticas sociais se constroem com forte referência na
família. Para a autora as “políticas referidas as famílias” agrupam um conjunto de medidas e
instrumentos que têm o objetivo de fortalecer suas funções sociais, seja a partir de sua estrutura, de
suas características ou de demandas de seus membros. Recobrem tanto políticas de caráter
universal, como as focalizadas no combate à pobreza, à violência doméstica, dentre outras. Nesse
sentido reforça o processo de responsabilização da família pelo cuidado penalizando-as cada vez
mais à medida que, com suas características contemporâneas e inscritas no marco da desigualdade,
não conseguem responder às expectativas de cuidado depositadas sobre elas. O não reconhecimento
das características familistas da política social brasileira tem invisibilizado o debate sobre aquilo
que Goldani (2005) propõe como “políticas para as famílias”.Tais políticas partem do
reconhecimento das “famílias reinventadas” onde “el matrimonio legal ya no es lafuente primaria
de compromisos y cuidados entre losmiembros” (GOLDANI, 2005, p.10) e, portanto, projeta-se a
necessidade de novas articulações entre o trabalho para o mercado, o trabalho para a família e a
provisão de bem-estar por parte do Estado. Nesse sentido, a desfamilização de muitos dos encargos
delegados às famílias é vista como fundamental para a preservação da convivência e do bem-estar
das famílias.Nesse contexto, embalado pela ideologia neoliberal que grassa no país, a família e o
domicílio continuam sendo peças chaves no processo de privatização cada vez maior do cuidado.

O cuidado na sua dimensão familiar e domiciliar

A relação entre cuidado e família tem variado ao longo do tempo e, segundo Gutierrez e
Minayo (2010, p.1498), pode-se pensar em dois momentos historicamente marcados que
demonstram uma “flutuação” na relação entre essas duas categorias. O primeiro momento ocorreu a
partir do modelo de Estado de bem-estar, no qual parte das funções familiares relacionadas ao
cuidado foi atribuída a outras instituições sociais, enfatizando “a responsabilidade dos governos, o
‘dever do Estado’, deixando em segundo plano o papel dos indivíduos”. Já o segundo momento diz
respeito ao Estado mínimo, desenvolvido a partir das proposições neoliberais, que “tendem a

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devolver à família e aos indivíduos a responsabilização pela educação, pela saúde e pela
segurança”.
No contexto neoliberal, a devolução para a família das responsabilidades com educação e
saúde, por exemplo, reflete na intensificação de cuidados domiciliares com diferentes segmentos da
população, os quais deixam de ser atendidos pela rede de serviços, como é o caso, principalmente,
de idosos, de pessoas com doenças crônicas que as tornam dependentes para atividades da vida
diária, de pessoas com deficiência, de crianças em idade de educação infantil e de crianças e
adolescentes em idade escolar. Refletindo, também, na diminuição ou na ausência de serviços como
creches, escolas integrais, internação hospitalar, centros-dia para atendimento de idosos e de
pessoas com deficiência, centros de convivência, instituições de longa permanência, entre outros.
O cuidado domiciliar assumido pelas famílias se expande, principalmente na área da saúde,
a partir da década de 1960, devido à falta de leitos hospitalares e às enormes filas para internação.
Juntamente com as necessidades médicas dos doentes de guerra, aumentava a expectativa de vida
da população, e, com isso, o envelhecimento populacional, que trazia uma transição epidemiológica
e acarretava em aumento de doenças crônicas degenerativas, sendo necessários cuidados
continuados de medicina e de enfermagem.
Segundo Serafim e Ribeiro (2011), com o aumento de doenças de caráter crônico ocorre
também o aumento da necessidade da população por serviços de saúde, visto que tais doenças
levam à sobrevida e que, por vezes, necessitam de recursos de alta tecnologia, gerando elevados
custos hospitalares. Desta forma, a disponibilidade de leitos hospitalares torna-se cada vez mais
escassa e insuficiente, sendo necessárias novas opções para o cuidado em saúde da população.
Uma dessas opções em crescente desenvolvimento, no contexto de Estado mínimo, tem sido
o chamado home care, termo comumente utilizado para denominar cuidado à saúde em domicílio,
que tem sua origem na língua inglesa, traduzindo-se literalmente como “cuidados no lar”. Para
Mendes (2001), considera-se home care todo serviço de assistência domiciliar à saúde. Esse termo
pode ser compreendido como uma modalidade de cuidado contínuo à saúde dedicado a pacientes e
a seus familiares em espaço extra-hospitalar, por meio da prestação de serviços que visam à
continuidade do tratamento hospitalar (LEME, 2013). Os serviços que integram essa modalidade
vão desde os cuidados básicos em enfermagem até a internação com suporte respiratório avançado,
ou seja, o home care compreende todas as formas de atenção à saúde no domicílio.
Parte das atividades de home care se relaciona aos cuidados de longa duração –
principalmente àqueles ofertados aos segmentos mais dependentes (idosos, doentes crônicos e

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pessoas com deficiência) – se constituindo como “o apoio material, instrumental e emocional,
formal ou informalmente oferecido por um longo período de tempo às pessoas que o necessitam,
independentemente da idade” (UN-DESA, 2008, apud CAMARANO, 2014, p.607). Em geral,
esses cuidados dão conta de atividades da vida diária, como tomar banho, usar o banheiro e se
alimentar sozinho, sendo, portanto, cuidados não especializados (CAMARANO, 2014).
Por outro lado, reconhece-se que, devido ao aumento da expectativa de vida e das doenças
crônicas, os idosos possuem doenças cujos tratamentos e manutenções necessitam,
caracteristicamente, do uso intensivo de tecnologia, o que implica em um maior gasto com este
grupo etário, tendo em vista que, quanto maior o emprego de tecnologia, maior serão os custos e a
complexidade dos cuidados (BERENSTEIN; WAJNMAN, 2008).
Estes cuidados, mais ou menos especializados, podem ser oferecidos no domicílio, na
comunidade e em instituições; podem ser prestados pelas famílias, pelos amigos e/ou vizinhos, de
modo informal, ou ofertados por profissionais especializados, seja por parte do Estado ou do
mercado privado, de modo formal (CAMARANO; KANSO, 2010).
No entanto, os cuidados informais domiciliares predominam em todo o mundo, podendo
inclusive ser designados como: assistência domiciliar, atenção domiciliar, internação domiciliar e
atendimento domiciliar (TAVOLARI; FERNANDES; MEDINA, 2000; REHEM; TRAD, 2005;
LACERDA et al, 2006). Essas modalidades de cuidado domiciliar são desenvolvidas pela
necessidade de humanizar a assistência à saúde, mas principalmente para reduzir os custos
relacionados ao sistema de saúde.
Os cuidados são exercidos por cuidadores formais ou informais. O cuidador formal é um
profissional que recebe um treinamento específico para a atividade e exerce a função de cuidador
mediante remuneração, com vínculos contratuais. Já o cuidador informal é geralmente um membro
familiar, como: filha(o), irmã(o), esposo(a), normalmente do sexo feminino e que é “escolhido”
entre os familiares por ter melhor relacionamento ou intimidade com a pessoa a ser cuidada e por
apresentar maior disponibilidade de tempo (BORN, 2008).
No âmbito dos cuidadores familiares, na maioria das famílias, uma única pessoa assume a
maior parte da responsabilização do cuidado, sendo geralmente as mulheres que assumem essa
responsabilidade: esposas, filhas, noras, irmãs.
A partir do momento em que se tornam cuidadoras, as mulheres assumem inúmeras funções
que não somente a de cuidar especificamente de outra pessoa no processo saúde/doença. Acabam
desenvolvendo diversas outras atividades no espaço doméstico, ou seja, no espaço de reprodução,

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como cuidar da casa, dos filhos, do marido etc; o que, por inúmeras vezes, traz sérias consequências
ao seu cotidiano, como atritos nas relações familiares e reações emocionais, bem como
consequências sobre a saúde, sobre a vida profissional, relacionadas à diminuição de atividades de
lazer, entre outras.
Muitas vezes assume-se a “responsabilidade” do cuidar em razão de alguns motivos, tais
como: obrigação ou dever moral, pois existe uma responsabilidade social e familiar e normas
sociais que “devem” ser respeitadas; reciprocidade; gratidão; sentimento de culpa ou mesmo para
evitar a censura da família, de amigos e de conhecidos. Isso, por vezes, afeta diretamente o
cuidador, seja na sua própria saúde, na falta de ajuda, na falta de suporte das redes de apoio ou dos
próprios familiares.Isso demonstra que o care ou o cuidar
têm vários significados, sendo expressões de uso cotidiano. Elas designam, no Brasil, um
espectro de ações plenas de significado nativo, longa e amplamente difundidas, muito
embora difusas no seu significado prático. O ‘cuidar da casa’ (ou ‘tomar conta da casa’),
assim como o ‘cuidar das crianças’ (ou ‘tomar conta das crianças’) ou até mesmo o ‘cuidar
do marido’, ou ‘dos pais’, têm sido tarefas exercidas por agentes subalternos e femininos,
os quais (talvez por isso mesmo) no léxico brasileiro têm estado associados com a
submissão, seja dos escravos (inicialmente), seja das mulheres, brancas ou negras
(posteriormente) (GUIMARÃES; HIRATA; SUGITA, 2012, p.154).

No cuidado da casa e da família, as mulheres tradicionalmente assumiram uma dupla


jornada, intensificando seu tempo de trabalho, enquanto os homens não assumiram da mesma forma
a sua parte na responsabilidade das tarefas domésticas. A diferença de gênero no uso do tempo se
aprofunda nos grupos socioeconômicos mais pobres, nos quais as mulheres gastam mais tempo com
as tarefas do domicílio. No que diz respeito ao trabalho doméstico, as mulheres em geral são
responsáveis por ele, e quando este é compartilhado com outra pessoa, trata-se também de outra
mulher (SORJ, 2004).
Estudos sobre o trabalho das mulheres no Brasil (BRUSCHINI, 2007) revelam que as que
mais trabalham na atividade produtiva, atualmente, são aquelas que mais consomem seu tempo no
domicílio, na atividade reprodutiva, enfrentando enorme sobrecarga de trabalho e dificuldades de
conciliação entre as responsabilidades familiares e as profissionais. Esta perspectiva de análise
articulando a esfera da produção econômica e da reprodução social permitiu observar as
consequências das obrigações domésticas na vida das mulheres, limitando seu desenvolvimento
profissional. Com carreiras descontínuas, salários mais baixos e empregos de menor qualidade, as
mulheres muitas vezes acabam por priorizar seu investimento pessoal na esfera privada
(BRUSCHINI, 2006).

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O cuidado com os filhos é uma das atividades que mais consome o tempo de trabalho
doméstico das mulheres, e quando se trata dos filhos na ação de desenvolver as atividades
domésticas, as filhas declaram cuidar muito mais de afazeres domésticos do que os filhos, o que
pode ser considerado um sinal de que a assimetria de gênero se encontra em franca reprodução no
interior das famílias (BRUSCHINI, 2006).
Assim, o significado ou o sentido de cuidado está relacionado não somente ao processo
saúde/doença, mas sim a um aspecto mais abrangente, que diz respeito a “doar” parte de sua vida
para outra pessoa, estando ela doente ou não. O cuidado remete a zelo, atenção, responsabilidade,
dedicação e compromisso, principalmente por parte da figura feminina.
O envolvimento dos membros da família com as tarefas destinadas à reprodução social
depende de fatores culturais e institucionais. Estudos revelam que, em países desenvolvidos, há um
envolvimento maior dos homens com essas tarefas, decorrente de cargas menores de trabalho
remunerado. Quanto à questão institucional, países europeus entendem que o cuidado dos filhos é
responsabilidade dos indivíduos (não apenas da mãe) e também do Estado e das empresas. Esse
engajamento de todos os agentes envolvidos permite a busca de soluções coordenadas, como
licenças para qualquer um dos pais, oferta de creches públicas ou de espaços criados pelas empresas
para permitir que os pais possam estar próximos dos filhos (GELINSKI; PEREIRA, 2005).
Para as mulheres, há uma enorme sobrecarga de trabalho e dificuldades de conciliação entre
as responsabilidades familiares e as profissionais. A idade, a escolaridade e o trabalho remunerado
têm efeito relevante sobre o tempo dedicado ao trabalho doméstico, principalmente pelas mulheres.
É importante reforçar a ideia de reconhecer, por isso, a necessidade de políticas sociais de apoio a
essas trabalhadoras, sobretudo àquelas de mais baixa renda.

Considerações finais

O debate sobre o cuidado ganha espaços cada vez mais significativos, seja no âmbito dos
serviços socioassistenciais das diversas políticas sociais, no espaço das famílias ou em instituições
privadas e da sociedade civil. Há avanços legislativos sobre o cuidado garantindo que este possa ser
exercido, seja pela família como pelo Estado, através de políticas sociais. Mas há também ênfases
focalistas e familistas que recaem direta e diferenciadamente sobre as famílias no que se refere ao
cuidado, em especial as mulheres. Na garantia do cuidado a família acaba sendo a primeira
instância para a provisão do cuidado de seus familiares o que coloca em evidência a difícil equação
entre as instituições Estado, empresas, famílias e o terceiro setor no encaminhamento de suas

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posições e resoluções. O não reconhecimento das características familistas da política social tem
deixado invisível o debate sobre as “políticas de família”. Nesta direção, a inclusão do cuidado na
agenda pública conduz a um conjunto articulado de políticas que associem o campo da proteção
social, das políticas de emprego e das políticas de desenvolvimento, garantindo assim o cuidado sob
a perspectiva do direito. Por isso é salutar entender como são providas as demandas por cuidado
porque a organização social do cuidado sempre implica na distribuição de responsabilidades de
provisão de bem-estar entre o mercado, o Estado e a família/comunidade.
O cuidado é uma responsabilidade socialmente produzida e inserida em contextos sociais e
econômicos particulares compreendido tanto como trabalho, como relação interpessoal. Dessa
forma o direito ao cuidado deve integrar mais um dos pilares da cidadania social o que significa
assumi-lo de forma coletiva e não apenas quando a família está ausente. O cuidado como um direito
universal deve ampliar as possibilidades de escolha de cada pessoa em relação às diferentes esferas
(públicas e privadas) e possibilita a mudança na dinâmica do cuidado. Então, para a concretização
do direito ao cuidado é fundamental garantir em diferentes etapas e circunstância da vida o direito a
receber cuidados sem estar atrelado a lógica de mercado, renda, presença de redes ou de laços
afetivos; garantir o direito de escolha por parte da família se o cuidado acontece ou não, nos limites
do âmbito familiar não remunerado, para eleger alternativas de cuidado que não se restrinja as
mulheres e; as condições de trabalho no setor de cuidado balizados pela valorização social e
econômica pertinente a tarefa de cuidar.
Ao se tratar a relação entre cuidado e família, no contexto neoliberal, a responsabilização da
família para com determinadas ações de proteção social reflete na intensificação de cuidados
domiciliares com diferentes segmentos da população os quais deixam de ser atendidos pela rede de
serviços. Com isso, o cuidado domiciliar assumido pelas famílias se expande, em especial, na saúde
com o aumento de doenças de caráter crônico e a própria necessidade por serviços de saúde ao se
garantir a sobrevida das pessoas. Uma das saídas encontradas para estas novas configurações no
âmbito da saúde é a institucionalização do home care que trata do cuidado à saúde em domicilio,
por meio de prestação de serviços que visam à continuidade do tratamento hospitalar. O home care
se relaciona aos cuidados de longa duração e implica em apoio material, instrumental e emocional,
formal ou informalmente oferecido por um longo período de tempo às pessoas que o necessitem.
Estas questões remetem a refletir que o cuidado significa zelo, atenção, dedicação que geralmente
se vincula ao papel da mulher. Por isso, o sentido de cuidado não pode se relacionar somente ao

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processo saúde/doença, mas de uma forma mais ampla como a doação de tempo, sentimentos,
habilidades, ou seja, parte de uma vida para outra pessoa que pode estar doente ou não.
As problematizações aqui destacadas em muito requerem estudos, aprofundamentos,
conhecimento e escutas por parte de profissionais, usuários, sujeitos envolvidos direta ou
indiretamente no cuidado para que a partir da realidade social vivenciada se possa vivenciar o
cuidado como direito inscrito nas políticas sociais e sirva de apoio às classes trabalhadoras que
necessitam da proteção social do cuidado.

Referências

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CARE AS A SOCIAL LAW AND AS A PUBLIC POLICY QUESTION

Abstract: Many countries nowseektoansweroneofthecontemporary world challengesisthedemand


for care. The theoreticalcharacterofarticleaimstodiscussthecare as a rightand its incorporation in
Brazilian social policyandtheimportanceofcare in theirfamilyandhouseholdsize. In thissense, it
isimportantthatthe social organizationofcare as a
righttobetakencollectivelybytherelationshipbetweenstate, familyand individual. The
familyhasalsotakenspecializedtechnicalcarewithstrong traces ofgenretorequire a womantofamilyand
home care. With these considerations the discussion is developed articulated in two topics. The first
one briefly points out care as a right and its incorporation into Brazilian social policy. The second
deals with care in its family and home dimension, which expresses the high degree of accountability
of families in the Brazilian context. These problematizations on the subject require studies,
deepening, knowledge and listening on the part of professionals, users, subjects involved directly or
indirectly in the care.
Keywords: Care. Social Policy. Family.

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