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Muitos cidadãos estrangeiros, nomeadamente dos Grandes Lagos e asiáticos, sobretudo estes
últimos são acusados pelos residentes de Gilé de, a coberto do comércio da castanha de caju,
se envolverem em esquemas de dilapidação dos recursos minerais. Artur Mário, professor de
profissão, disse em contacto com a nossa Reportagem estar agastado pelo facto de muitas
pessoas pretenderem explorar os recursos minerais e florestais para garantir a sobrevivência
das suas famílias, mas que estão a ser proibidas ou ameaçadas de prisão pelas autoridades
policiais, facto que dá lugar a descontentamento popular naquele distrito.
Questionou, por exemplo, para onde são encaminhados os impostos resultantes da exploração
dos recursos minerais. É de opinião que o Governo deve adoptar uma política que visa canalizar
metade da receita para os locais de extracção dos recursos minerais por forma a serem
solucionados problemas concretos da comunidade.
Ainda de acordo com as suas palavras, o distrito de Gilé debate-se com sérios problemas de
falta de energia, água potável e uma unidade sanitária com serviços, como cirurgia e radiologia.
O centro de Saúde da sede distrital é constituído de várias e pequenas casas rondáveis com
reduzida capacidade de internamento, o que faz com que os doentes graves e mulheres
grávidas sejam transportados, se a ambulância estiver a funcionar, para a vila de Alto Molócuè
ou cidade de Nampula. Uma vez nestes locais, o doente debate-se com problemas de dinheiro
para regressar à casa.
Carlos Beirão, comerciante de profissão, afirmou, por seu turno, que a delapidação de recursos
acontece, igualmente, em relação à madeira.
Aqui as autoridades não permitem que as populações explorem a madeira para o seu benefício,
mas em contrapartida vários toros têm sido vistos a serem transportados para Quelimane.
“Mesmo quando se trata de uma obra pública, a mão-de-obra vem de Quelimane e Nampula,
mesmo naqueles trabalhos que temos pessoas capazes. Muitos são desempregados e a única
fonte de sobrevivência é a comercialização da castanha e amendoim, actividades que
substituem o emprego formal. Mas o sucesso da produção depende muito de factores
climáticos e controlo de pragas.
Residentes dos locais onde se procede à extracção dos recursos minerais serão organizados em
associações de operadores do sector mineiro artesanal de pequena escala. Esta nova estratégia
do pelouro dos Recursos Minerais e Energia visa, fundamentalmente, acabar com o velho
problema de exclusão dos moradores que se afirmam injustiçados, porque a sua riqueza está a
ser explorada, sem ganhar dos benefícios sociais.
Estão identificadas seis áreas para a exploração de ouro no distrito de Alto Molócuè e Púri. A
Agência de Desenvolvimento Económico da Zambézia predispôs-se a formar todas as
associações criadas em matéria de gestão de pequenos negócios.
“Não é possível, porque o Porto de Pebane não está a funcionar faz muito tempo. Além disso e
admitindo as nossas fragilidades de controlo, temos fiscais espalhados por esses locais. São
esses que no passado apreenderam e desmantelaram redes de ilegais nos distritos de Gilé e
Ile”, justificou-se Nogueira, para depois dizer que cidadãos foram presos no ano passado,
devido à actividade ilícita.
Seja como for, a verdade é que mesmo esse controlo não é tão eficiente, porque amiúde
muitos cidadãos comercializam ilegalmente esse ouro em Quelimane. São vários os casos de
burla que acontecem decorrente desse negócio de minerais.
PARENTE ÓRFÃO
Perspectivava-se, igualmente, a abertura de um supermercado na vila-sede distrital por um
empresário com interesses comerciais em Nampula. Murade Aly tinha dito que, igualmente,
levaria a Gilé uma série de serviços comerciais. Promessa idêntica foi feita por outros
empresários que estavam a emergir e que pretendiam abrir lojas, pensões, restaurantes de
modo a atrair outros empresários.
Quando há duas semanas escalámos novamente aquele distrito, constatámos que pouco ou
nada tinha sido feito. Os dois restaurantes que funcionam na vila nunca têm comida para os
clientes. Se alguém pretende passar uma refeição precisa de pagar antes para os empregados
irem ao mercado fazer compras para o almoço ou jantar. Aliás, num desses restaurantes foi
preciso negociar com ele de casa para ir ao trabalho fazer refeições.
O Governo distrital não tem gerador operacional há um mês. Os geradores dos empresários
locais funcionam apenas duas a três horas, ou seja, das dezoito às vinte horas. Os serviços nas
pensões são caros, mas as condições são um autêntico caos, numa região com enormes
potencialidades minerais, agrícolas, florestais e outros.
Aliás, muita gente tem celulares em Gilé, mas servem apenas para jogos e outras funções.
Quando se pretendem comunicar têm que percorrer mais ou menos 120 quilómetros para o
posto administrativo de Alto Ligonha. Apenas os comerciantes e membros do Governo é quem
tem essa possibilidade numa região onde os transportes semicolectivos são muito raros.
Entretanto, o administrador distrital de Gilé, José Cherequejanhe, afirma que a energia da HCB
é importante e tudo indica que entre Setembro e Outubro o distrito poderá estar iluminado. “Há
muitos serviços que precisam de energia permanente e, se nas datas previstas a energia
chegar, muita coisa vai mudar para o melhor”, disse o administrador distrital.