Você está na página 1de 3

Minérios devem beneficiar população de Gilé

Exploração mineira e florestal : População de Gilé reclama benefícios


RESIDENTES da vila-sede distrital de Gilé, a norte da província da Zambézia, consideram ser uma “injustiça
económica” o facto de estarem a viver num distrito  potencialmente rico em recursos minerais, actualmente a
serem explorados por várias companhias ou dilapidados por cidadãos estrangeiros, quando perto de noventa
por- cento da população local vive em condições de extrema pobreza. A falta de infra-estruturas básicas,
nomeadamente de unidades sanitárias, escolas e água potável são algumas das preocupações apresentadas
pelos cidadãos, dentre eles comerciantes e professores, quando abordados  pela nossa Reportagem.
Maputo, Sábado, 10 de Março de 2007:: Notícias
 

Entretanto, o director  provincial dos Recursos  Minerais e Energia, na Zambézia, Alfredo


Nogueira, refuta essas acusações, afirmando que a população não está a ser sincera nas suas
alegações, uma vez que o Governo tem criado, na medida do possível,  todos os mecanismos
para que as comunidades beneficiem dessa riqueza.

Reconheceu, no entanto, que no princípio eram tomadas medidas administrativas para 


controlar a exploração e comercialização ilegal de minérios, mas o Governo mudou de
estratégia e pretende legalizar as associações de modo a que se tire proveito da actividade e,
consequentemente, resolver seus próprios problemas. “Na região de Púri, no Gilé, por exemplo,
fornecemos equipamentos de trabalho para a exploração mineira, entre os quais, duas
motobombas, galochas, pás e picaretas e a população correspondeu”, disse Nogueira, tendo
acrescentado que o que a população pretende é que o Governo declare a exploração e
comercialização de minérios sem nenhum controlo da actividade.

Muitos cidadãos estrangeiros, nomeadamente dos Grandes Lagos e asiáticos, sobretudo  estes
últimos são acusados pelos residentes de Gilé de, a coberto do comércio da castanha de caju,
se envolverem em esquemas de dilapidação dos recursos minerais. Artur Mário, professor de
profissão, disse em contacto com a nossa Reportagem estar agastado pelo facto de muitas
pessoas pretenderem explorar os recursos minerais e florestais para garantir a sobrevivência
das suas famílias, mas que estão a  ser proibidas ou ameaçadas  de prisão pelas autoridades
policiais, facto que dá lugar a descontentamento popular naquele distrito.

Questionou, por exemplo, para onde são encaminhados os impostos resultantes da  exploração
dos recursos minerais. É de opinião que o Governo deve adoptar uma política que visa canalizar
metade da receita para os locais  de extracção dos recursos  minerais por forma a serem
solucionados problemas concretos da comunidade.

Ainda de acordo com as suas palavras, o distrito de Gilé debate-se com sérios problemas de
falta de energia, água potável e uma unidade sanitária com serviços, como cirurgia e radiologia.
O centro de Saúde da sede distrital é constituído de várias e pequenas casas rondáveis com
reduzida capacidade de internamento, o que faz com que os doentes graves e mulheres
grávidas sejam transportados, se a ambulância estiver a funcionar, para a vila de Alto Molócuè
ou cidade de Nampula. Uma vez nestes locais, o doente debate-se com problemas de dinheiro
para regressar à casa.

Carlos Beirão, comerciante de profissão, afirmou, por  seu turno, que a delapidação de recursos
acontece, igualmente, em relação à madeira.

PROIBIDA A EXPLORAÇÃO DE MADEIRA


Maputo, Sábado, 10 de Março de 2007:: Notícias
 

Aqui as autoridades não permitem que as populações explorem a madeira para o seu benefício,
mas em contrapartida vários toros têm sido vistos a serem transportados para Quelimane.
“Mesmo quando se trata de uma obra pública, a mão-de-obra vem de Quelimane e Nampula,
mesmo naqueles trabalhos que temos pessoas capazes. Muitos são desempregados e a única
fonte de sobrevivência é a comercialização da castanha e amendoim, actividades que
substituem o emprego formal. Mas o sucesso da produção depende muito de factores
climáticos e controlo de pragas.

LEGALIZAÇÃO DAS COMUNIDADES

Residentes dos locais onde se procede à extracção dos recursos minerais serão organizados em
associações de operadores do sector mineiro artesanal de pequena escala. Esta nova estratégia
do pelouro dos Recursos Minerais e Energia visa, fundamentalmente, acabar com o velho
problema de exclusão dos moradores que se afirmam injustiçados, porque a sua riqueza está a
ser explorada, sem ganhar dos benefícios sociais.

Entretanto, o director provincial de Recursos Minerais e Energia da Zambézia, Alfredo Nogueira,


disse que o processo de legalização já iniciou, mesmo enfrentando o problema da falta de
documentação dos membros das associações de operadores artesanais. Para a fonte, se os
membros dessas associações tivessem os referidos documentos, a sua instituição iria prestar
um apoio incondicional na elaboração dos estatutos, embora essa não seja a vocação daquela
instituição.

“O Governo quer ver as populações envolvidas na produção e comercialização dos produtos


mineiros, mas isso passa por uma organização e legalização das associações”, disse a fonte,
para quem a formalização dos grupos tem por objectivo a emissão de senhas para as famílias
explorarem os recursos.. “Queremos que esses grupos declarem ao Governo que estão
realmente a produzir”, realçou.

Estão identificadas seis áreas para a exploração de ouro no distrito de Alto Molócuè e Púri. A
Agência de Desenvolvimento Económico da Zambézia predispôs-se a formar todas as
associações criadas em matéria de gestão de pequenos negócios.

Porto de Pebane sem minérios


Entretanto, Alfredo Nogueira, refuta as informações que dão conta que o Porto de Pebane é a
principal saída de minerais delapidados por cidadãos asiáticos que se encontram em maior
número nos distritos de Gilé e Pebane e que, a coberto do comércio da castanha, estão a
“roubar” várias espécies de minerais. Algumas pessoas contactadas pelo “Notícias”, em Gilé e
Pebane, disseram que por detrás da castanha há muito negócio oculto, incluindo a de madeira.

“Não é possível, porque o Porto de Pebane não está a funcionar faz muito tempo. Além disso e
admitindo as nossas fragilidades de controlo, temos fiscais espalhados por esses locais. São
esses que no passado apreenderam e desmantelaram redes de ilegais nos distritos de Gilé e
Ile”, justificou-se Nogueira, para depois dizer que cidadãos foram presos no ano passado,
devido à  actividade ilícita.

Seja como for, a verdade é que mesmo esse controlo não é tão eficiente, porque amiúde
muitos cidadãos comercializam ilegalmente esse ouro em Quelimane. São vários os casos de
burla que acontecem decorrente desse negócio de minerais.

Gilé: retrocesso de um processo


Maputo, Sábado, 10 de Março de 2007:: Notícias
 

As perspectivas de desenvolvimento socioeconómico que despontavam há dois anos no distrito


de Gilé estão a registar um retrocesso, o que pode ser muito perigoso para as populações que
ouviram de empresários projectos ambiciosos. Quando há dois anos a nossa Reportagem
escalou Gilé, perspectivava-se um sector empresarial dinâmico, porque os próprios operadores
económicos se tinham comprometido em transformar as dificuldades em desafios para o
desenvolvimento, o que fora assumido perante as populações.

PARENTE ÓRFÃO
Perspectivava-se, igualmente, a abertura de um supermercado na vila-sede distrital por um
empresário com interesses comerciais em Nampula. Murade Aly tinha dito que, igualmente,
levaria a Gilé uma série de serviços comerciais. Promessa idêntica foi feita por outros
empresários que estavam a emergir e que pretendiam abrir lojas, pensões, restaurantes de
modo a atrair outros empresários.

Quando há duas semanas escalámos novamente aquele distrito, constatámos que pouco ou
nada tinha sido feito. Os dois restaurantes que funcionam na vila nunca têm comida para os
clientes. Se alguém pretende passar uma refeição precisa de pagar antes para os empregados
irem ao mercado fazer compras para o almoço ou jantar. Aliás, num desses restaurantes foi
preciso negociar com ele de casa para ir ao trabalho fazer refeições.

O Governo distrital não tem gerador operacional há um mês. Os geradores dos empresários
locais funcionam apenas duas a três horas, ou seja, das dezoito às vinte horas. Os serviços nas
pensões são caros, mas as condições são um autêntico caos, numa região com enormes
potencialidades minerais, agrícolas, florestais e outros.

As infra-estruturas, nomeadamente edifícios públicos e particulares que estão na vila não


ultrapassam quinze unidades. Segundo soubemos, o Governo provincial agendou para Julho
deste ano uma sessão extraordinária alargado aos administradores distritais e outros quadros, o
que pode constituir preocupação dada a incapacidade do distrito em oferecer o número de
camas para os participantes ao encontro. O administrador insiste que mesmo assim há
condições para acomodar a todos.

  OS SONHOS DE GILÉ


Como sonhar não é proibido, os cidadãos residentes na vila-sede distrital de Gilé estão na
expectativa de que melhores dias virão. As expectativas residem, fundamentalmente, na
construção de um centro de Saúde de raiz com capacidade para internamento, bloco operatório
e radiologia, a extensão dos serviços de telecomunicações da rede fixa e móvel e energia da
rede nacional da Hidroeléctrica de Cahora Bassa.

Aliás, muita gente tem celulares em Gilé, mas servem apenas para jogos e outras funções.
Quando se pretendem comunicar têm que percorrer mais ou menos 120 quilómetros para o
posto administrativo de Alto Ligonha. Apenas os comerciantes e membros do Governo é quem
tem essa possibilidade numa região onde os transportes semicolectivos são muito raros.

Entretanto, o administrador distrital de Gilé, José Cherequejanhe, afirma que a energia da HCB
é importante e tudo indica que entre Setembro e Outubro o distrito poderá estar iluminado. “Há
muitos serviços que precisam de energia permanente e, se nas datas previstas a energia
chegar, muita coisa vai mudar para o melhor”, disse o administrador distrital.

Você também pode gostar