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11. Devido à mudança do governo e suas atuações, bem como à abertura da instalação de
diversas indústrias no litoral da República Democrática de Equiste, os comerciantes e
empreendedores locais se viram obrigados a fechar os seus estabelecimentos ou
vendê-los às indústrias, pois as águas cristalinas começaram a ficar poluídas e o
desmatamento começou a tomar proporções significativas, desmotivando o turismo.
12. A população local que trabalhava nos comércios e empreendimentos locais viu em
pouco tempo o cenário de desemprego tomar conta. Após a resistência da população
local em aceitar empregos junto às indústrias extrativas e petroleiras, como forma de
protesto à mudança, boa parte da população acabou se submetendo às vagas existentes
para garantir a sua sobrevivência e a dos familiares.
13. Inicialmente, as vagas se mostravam atrativas, contando com diversos benefícios e
obedecendo a legislação trabalhista vigente. Todavia, após três meses, houveram
cortes drásticos, sob justificativa de que o país se encontrava numa crise econômica e
que seria a única possibilidade dos empregos serem mantidos. No intervalo de mais 4
meses, as jornadas de trabalho passaram a contar com mais de 12 horas diárias, de
domingo a domingo, sem descanso ou folga, por um valor de R$ 650,00, o que
correspondia a ⅓ do valor do salário mínimo vigente. Questões que violavam as
normativas trabalhistas da República Democrática de Equiste.
14. Corroborando com o cenário e como forma de evitar demandas trabalhistas, o
governo aprovou uma lei permitindo a flexibilização da normativa trabalhista vigente,
deixando à critério das empresas as condições de trabalho a serem acordadas, sob
justificativa de que os trabalhadores poderiam negociar com os empregadores as
questões trabalhistas e fomentar o crescimento da economia, dando maior liberdade
ao empregado.
15. Com o passar do tempo, diversas denúncias de trabalho análogo à escravidão
começaram a aparecer, entretanto, sem nenhuma aparição de muita relevância na
mídia local, até 23 de julho de 2017. Neste dia, Regina Maria, senhora de 65 anos e
funcionária da indústria PetroEquiste Energia S.A., desmaiou de fadiga em meio ao
horário de trabalho, vindo a falecer horas depois. O caso foi noticiado na mídia e, a
partir de então, outros casos semelhantes começaram a aparecer. Os colegas de
trabalho de Regina Maria informaram que durante o período de trabalho, eles não
tinham autorização para se alimentar, tomar água ou utilizar o banheiro, e que havia
punição para quem descumprisse as regras da empresa. Relataram, ainda, que no caso
de Regina Maria, nenhum atendimento foi prestado, tendo o corpo da vítima ficado no
chão até o final do turno, quando os seguranças a levaram para o ambulatório médico,
sem batimentos cardíacos mais.
16. Os responsáveis pela indústria foram procurados e, em sua defesa, alegaram que
Regina Maria possuía problemas de saúde prévios e o falecimento havia se dado em
decorrência disso. Em entrevista ao vivo para o canal local, um dos responsáveis
informou que não adiantava a família entrar com pedidos de indenização pois eles
sabiam a verdade, e que os colegas de trabalho de Regina Maria estariam fantasiando,
pois a mesma recebeu atendimento no mesmo momento, tendo vindo a falecer quando
estava a caminho do hospital.
17. Lua Maria, filha de Regina Maria, ficou inconformada com as declarações e resolveu
buscar amparo judicial. Na data de 30 de julho de 2017 ajuizou ação trabalhista
cumulada com pedido de indenização, pleiteando também a determinação de pedido
público de desculpas por parte da empresa.
18. No âmbito do procedimento da ação, o juiz de primeira instância considerou que não
havia provas suficientes para concluir que a indústria petroleira PetroEquiste Energia
S.A. ocasionou a morte de Regina Maria, e em 10 de agosto de 2017, deu ganho de
causa à empresa.
19. Insatisfeita com a decisão, Lua Maria interpôs recurso de apelação de acordo com as
normas processuais em vigor. Em 19 de janeiro de 2018, foi proferida decisão de
segunda instância, que confirmou a decisão do juiz de primeira instância. Na decisão,
a Câmara de Cassação alegou não ter sido devidamente provado que a falecida estava
submetida a regime de trabalho análogo à escravidão e afirmou que "se as condições
de trabalho fossem tão ruins, Regina Maria deveria ter pedido demissão e buscado
outro serviço, pois Equiste dispõe de muitas vagas de emprego".
20. Diante desta última decisão, Lua Maria interpôs recurso de amparo ao Tribunal
Constitucional de Equiste, entidade que sem muitos entraves aceitou sua jurisdição.
Esta instância é extraordinária e não está sujeita a prazos, segundo a legislação em
vigor. Atualmente a ação está em processo de análise.
21. Todavia, durante o decorrer da ação, a filha de Regina Maria sofreu constantes
ameaças de morte caso não retirasse a demanda. Lua Maria, filha de Regina Maria,
desde o início da nova gestão governamental, atuou junto às organizações de direitos
humanos contrárias às indústrias extrativas e petroleiras. Lua Maria fez parte de
diversos protestos e atuou junto dos principais espaços de debate relacionados à
temática, visando a proteção do meio ambiente e das condições trabalhistas que as
indústrias impunham, sendo uma das principais representantes acerca da temática.
22. Lua não gostava de ver sua mãe trabalhando para uma indústria extrativa, mas pouco
pode fazer para dissuadi-la, tendo em vista que ambas não possuíam um bom
relacionamento e Lua não teria condições financeiras de arcar com as despesas da
mãe.