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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA ____________________ DA


COMARCA DE (CIDADE/ESTADO)

Autos nº XXXXXXXXXXXXXXXX

(NOME), já qualificado no processo em epígrafe, e epígrafe, referente a pensão


alimentícia de (NOME DO FILHO), representada por sua genitora (NOME), já
qualificadas, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, informar e requerer:

No processo em voga, houve decisão liminar, concedida em XX/XX/XXXX,


determinando o pagamento de alimentos provisórios no importe de XXXX (VALOR
DOS ALIMENTOS), devendo ser pago até o dia XXX de cada mês, a ser depositado
na conta da genitora da menor.

Todavia, com os novos rumos mundialmente tomados, faz-se necessário uma


revisão temporária da decisão interlocutória, com fulcro no art.296 do CPC, nos
moldes da fundamentação abaixo.

Diante da notória pandemia, declarada pela Organização Mundial da Saúde – OMS,


em 11/03/2020, bem como pelo Estado de Calamidade Pública decretado por meio
do Decreto Legislativo n.6, de 2020, em razão do Covid-19, as orientações das
autoridades públicas nacionais e internacionais, com o objetivo de impedir a
disseminação do vírus é de quarentena.

Para fins de ilustrar a atual situação mundial, apresentamos um trecho do texto do


Professor Carlos E. Elias de Oliveira[2]:

Março de 2020.
Os Estados Unidos fecharam as fronteiras para voos procedentes da
Europa.
A Itália relembra, “na própria pele”, uma das maiores tragédias de
sua história, ocorrida no ano 79 d.C.: a erupção do vulcão Vesúvio,
que dizimou a cidade de Pompeia. A cena é desoladora: excessos de
corpos para ser enterrados, superlotação de hospitais, corpos já sem
a alma abandonados em uma casa com a esperança de, um dia, ser
honrado na famosa cerimônia do último adeus.
Os cidadãos de vários países devoram as gôndolas dos
supermercados para fazer estocagem de alimentos, como que a se
preparar para o Apocalipse.
Inúmeros outros países impõem medidas de controle de entrada e
saída de pessoas, de confinamento obrigatório (“quarentena”) e de
suspensão de atividades que conglomeram pessoas.
O coronavírus, cuja estreia aterrorizadora ocorreu na cidade chinesa
de Wuhan, está cavalgando nas asas do vento para perturbar a
tranquilidade de todas nações do Planeta.
Apesar de se tratar de um antígeno com pouco índice de mortalidade
(alguns debocham chamando-o de uma simples gripe) e com maior
ameaça a idosos, a velocidade de contágio do coronavírus é incrível,
criando uma demanda por assistência hospitalar além da capacidade
dos governos. Grande parte das mortes se deve à falta de
infraestrutura para satisfazer a abrupta demanda.
No Brasil, o cenário não é tão diferente.
Em 16 de março de 2020, já há a confirmação de 200
contaminações.
No Estado de Rio de Janeiro, estima-se que, se as pessoas não
permanecerem em casa, haverá cerca de 24 mil casos de
contaminação em apenas um mês.
Em vários Estados brasileiros, aulas foram suspensas, academias
foram proibidas de funcionar, eventos foram cancelados etc.
Os impactos econômicos são inegáveis. A Bolsa de Valores passou
por um verdadeiro banho de sangue, com o preço de várias ações
despencando em queda livre. Restaurantes, shoppings e comércios
estão esvaziados. A população se recolhe à sua casa e evita as ruas.

Diante desse cenário, o Réu que trabalha como (PROFISSÃO), viu-se


drasticamente sem qualquer renda de forma abrupta. Dessa forma, não possui
condições de adimplir os alimentos no importe determinado em decisão
interlocutória.

Mister ressaltar que o único meio de renda do Réu é com seu labor e, com as
proibições, não obtém renda de qualquer outro lugar, bem como não poderia já que,
com a ordem de isolamento, não teria como realizar os procedimentos de sua área
on-line.

Ademais, não é demais ressaltar, mas a crise econômica que ora se instalou no
mundo inteiro não deixou de atingir o Réu, o qual foi drasticamente atacado pelas
medidas, tendo uma redução sem precedentes de sua renda.
Insta mencionar que o Réu não busca prejudicar sua filha, ora Autora, pela qual
detém todo respeito e amor, ciente de sua condição de provedor principal. E, desta
forma, indica que a redução dos alimentos provisórios é almejado apenas durante
os meses que se perdurar o isolamento bem como nos dois meses seguintes (para
fins de retomada da economia), sendo retomado após este prazo, com o
parcelamento dos valores que não forem pagos no período de redução,
preservando o princípio da irrenunciabilidade dos alimentos.

O requerimento do Réu fundamenta-se no art.296, do CPC, devido a concretização


de um fato novo, bem como com base no art.1.699, que prevê a possibilidade de
revisão dos alimentos diante da assunção de nova condição financeira do
alimentante ou de quem os recebe.

No mesmo sentido, vem amparado no art.505, I do CPC, mutatis mutandis, uma


vez que no presente caso, o Réu teve drástica redução de seus vencimentos, sem
qualquer condição de manter os alimentos e sua própria subsistência. Outrossim, tal
situação se enquadra perfeitamente ao fato fortuito e de força maior, tipificado no
Código Civil, no art.393.

O binômio necessidade/possibilidade deve sempre permear as decisões que fixam


alimentos sob o viés da proporcionalidade, sob o risco de grave dano ao
alimentando, conforme destaca a doutrina especializada de Maria Berenice Dias::

os alimentos devem sempre permitir que o alimentando viva do modo


compatível com a sua condição social. Ainda que seja esse o direito
do credor, na quantificação de valores é necessário que se atente às
possibilidades do devedor de cumprir o encargo. Assim, de um lado
há alguém com direito a alimentos e, de outro, alguém obrigado a
alcançá-los.

Este entendimento é amparado pela redação legal, ao afirmar que a prestação de


alimentos não pode inviabilizar o sustento do próprio alimentante, nos moldes do
art.1.695 do CC/02.

Afinal, conforme entendimento jurisprudencial, os Alimentos devem ser fixados com


base na capacidade do alimentante, tanto para aumentar como para diminuir os
valores pactuados, sendo medida de urgência a revisão temporária dos valores
determinados em decisão interlocutória.
É preciso ter em mente que muitas pessoas perderam totalmente os seus ganhos
com o isolamento social. O que não se pode é excluir totalmente o pensionamento
pois o credor ficaria ser qualquer condição de subsistência. Mas é um momento em
que todos têm que se esforçar, pagar menos, receber menos (temporariamente) e
adaptar as novas condições e necessidades.

Desta feita, por uma ordem estatal, o Réu ficou obrigado a não trabalhar – por um
bem comum – e, por óbvio, sem poder laborar, não obtém a renda necessária para
suprir os alimentos provisórios determinados.

Considerando que a remuneração do Réu teve uma redução absurda, indica que,
durante o isolamento social, propõe o pagamento de alimentos no importe de 70%
do salário mínimo vigente, o qual será pago com suporte de familiares, para que sua
filha não fique desprovida bem como que o Réu tenha condições de se manter,
efetuando o pagamento o valor dos alimentos não adimplidos neste período em 10
(dez) parcelas fixas, iniciando-se no terceiro mês de encerramento do isolamento e
liberação das atividades laborais, sem prejuízo dos alimentos vincendos.

Termos em que,

Pede-se deferimento.

(Cidade/Estado), (XX) de (mês) de 20(XX).

________________________________________________________
(NOME)
OAB/XX (XXXX)

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