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Ministério da Educação

Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica


Instituto Federal Catarinense
Campus Rio do Sul

ALANA MACHADO COSTA

MIOPATIAS PEITORAIS

Rio do Sul
2022
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1
2. WHITE STRIPING (WS - ESTRIAÇÕES BRANCAS) ............................. 1
3. WOODEN BREAST (WB - PEITO AMADEIRADO) ............................... 2
4. PEITO ESPAGUETE OU SPAGHETTI MEAT (SM) ............................... 4
5. MIOPATIA PEITORAL PROFUNDA (MPP) ............................................ 6
6. MIOPATIA DORSAL .................................................................................... 7
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 8
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 8
1. INTRODUÇÃO

As miopatias podem envolver o músculo peitoral maior (m. pectoralis major) e/ou
o músculo peitoral menor (m. pectoralis minor) que são responsáveis pelo levantamento e
rebaixamento das asas. O músculo peitoral maior é o principal músculo propulsor, formado por
fibras de contração rápida, que respondem com rápido aumento de massa muscular quando
submetidos a dietas com valores nutricionais altos.
Através da hipertrofia das fibras musculares, tem sido feito a seleção para o
crescimento da massa muscular do peito, com aumento do diâmetro das fibras, redução do
espaço para o tecido conjuntivo e aumento na degeneração muscular, limitando o suporte
sanguíneo que compromete o fornecimento de nutrientes e a remoção dos metabólicos que são
produzidos pelas fibras musculares, causando distúrbios iônicos e, consequentemente,
miopatias e necroses, sendo que os músculos peitorais são mais suscetíveis.
A taxa de crescimento acelerado é a causa mais provável para o surgimento das
miopatias. Com a alteração do metabolismo muscular, o aumento da produção de radicais livres
e o acúmulo de cálcio intracelular podem favorecer alterações na integridade da membrana
fibrosa e da degradação de proteínas.

2. WHITE STRIPING (WS - ESTRIAÇÕES BRANCAS)

Descrita pela primeira vez em 2009, a estriação branca ou White striping (WS) é
uma condição caracterizada pela ocorrência de estrias brancas paralelas às fibras musculares
que acomete, principalmente, o músculo peitoral de frangos de corte e em menor grau as coxas
e sobrecoxas. Embora sua etiologia seja desconhecida, estudos recentes demonstraram que a
ocorrência de WS está relacionada com maiores taxas de crescimento. Também tem sido
demonstrado que machos possuem maior incidência desta miopatia, o que pode ser explicado
pelo maior peso corporal destes animais.
Uma análise histológica e química do músculo peitoral com estriações musculares
indica que as linhas brancas são compostas principalmente por tecido adiposo, graus diversos
de degeneração e regeneração, e um aumento do tecido conjuntivo.
De acordo com o grau de severidade, a WS pode ser classificada em:
• Grau 0: filés normais;

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• Grau 1: moderado com pequenas estrias brancas e menor que 1 mm de
espessura;
• Grau 2: severo com estrias brancas de 1 a 2 mm de espessura;
• Grau 3: estrias brancas grossas maior que 2 mm de espessura cobrindo toda
a superfície do músculo.

Figura 1 - Classificação de estrias brancas no músculo pectoralis major de frango de corte


Fonte: DUARTE, 2021

A ocorrência de white striping pode diminuir significativamente a aceitação da


carne para consumo e afeta a decisão de compra. Esta desordem muscular não prejudica apenas
a aparência do produto, mas também as propriedades tecnológicas como capacidade de retenção
de água, textura e perda por cocção. A percepção sensorial de um grande depósito de gordura
no peito de frango com WS causa rejeição pelos consumidores.

3. WOODEN BREAST (WB - PEITO AMADEIRADO)

Descrita pela primeira vez em 2014 na Finlândia, a miopatia denominada como


peito ‘’amadeirado” (woody) ou “de madeira” (wooden) é identificada por apresentar o músculo
do peito enrijecido e pálido, podendo em alguns casos ser recoberto por líquido viscoso. Tem
sido evidenciada em frangos de corte das linhagens pesadas e de crescimento rápido. Em casos
mais severos, é observada a presença concomitante de lesões da miopatia white striping. A

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etiologia e os fatores que causam o aumento desta miopatia no músculo peitoral não foram
identificadas até o momento.

Figura 2 - Pectoralis major de frango de corte macroscopicamente normal (1). Músculo com a presença da miopatia
wooden breast (2)
Fonte: GROSS, 2016

Clinicamente, a presença da miopatia pode ser detectada por palpação do músculo


do peito de aves vivas a partir de 3 semanas de idade, sendo mais evidenciado em aves com
maior peso inicial e final, não sendo relatado a presença de lesões macroscópicas nos órgãos
dos animais acometidos com esta miopatia.
A carne com a presença de WB apresenta propriedades tecnológicas inferiores, tais
como capacidade de retenção de água reduzida além de alterações na textura. Essas
modificações alteram não apenas o processamento, mas a qualidade final da carne.
O aumento nos níveis de cálcio sarcoplasmático e sódio intracelular e sua
consequente alteração na homeostase celular pode ser uma causa inicial de desenvolvimento
desta anormalidade, assim como a presença de estresse oxidativo e seus efeitos degenerativos
no músculo esquelético, e condições hipóxicas no músculo que tendem a estimular a
proliferação de células satélites, importante para a regeneração do músculo esquelético.
Conforme o grau de severidade, a miopatia WB pode ser classificada em:
• filés normais ou grau 0 (cor e consistência normal);
• filés moderados ou grau 1 (consistência endurecida e cor pálida na área
cranial com poucas estrias brancas);

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• filés severos ou grau 2 (endurecido e pálido no músculo inteiro e com várias
listras brancas).
O grau de ocorrência e severidade do WB no peito de frango também está
relacionado com o aumento do peso vivo e a taxa de crescimento.

Figura 3 - Escores de wooden breast em filés de peito de frangos de corte

Fonte: ASSUNÇÂO et al, 2020

Esta anormalidade causa a formação de fibras com textura firme e resistente à


compressão em vários níveis, e em casos graves observa-se uma proeminente saliência na
região caudal do peito coberta com fluido claro e viscoso, com ou sem lesões multifocais
petequeais na superfície.
Devido ao defeito visual e a diferença na dureza, o corte que apresenta a miopatia
WB é geralmente rejeitado pelo consumidor, pois a aparência visual é o principal atributo para
avaliar a qualidade de um produto de carne pelo consumidor. Os files de peito de aves que
foram acometidas por WB apresentaram uma textura rígida após o processo de cocção, sendo
necessário usar mais força para conseguir romper as fibras. O corte cárneo acometido por
miopatias WB e que foi classificado como severo é rejeitado pelos consumidores, ocasionando
perdas econômicas para o setor avícola.

4. PEITO ESPAGUETE OU SPAGHETTI MEAT (SM)

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O peito espaguete é caracterizado por apresentar o tecido conjuntivo intramuscular
imaturo, ao qual modifica a integridade estrutural do músculo do peito. Este defeito proporciona
má coesão da carne que se torna frouxa na estrutura fazendo com que os feixes de fibras
musculares possam ser separados facilmente com os dedos.
Esta miopatia pode ser classificada de acordo com a severidade da coesão no filé
de peito em:
• grau 0 (sem coesão);
• grau 1 (estrutura frouxa moderada perceptível ao toque na superfície
cranial);
• grau 2 (lacerações superficiais extensas).

Figura 4 – Filé de peito de frango com miopatia peito espaguete (fibrosa e esponjosa)
Fonte: AVIAGEN

Foi relatado menor teor de proteína atrelado ao maior nível de umidade nos filés de
peito acometidos pela miopatia de peito espaguete quando comparados aos filés normais. Além
de infiltração de gordura e tecido conjuntivo, observa-se aumento da porção de água extra-
miofibrilar em relação a água contida no meio intra-miofibrilar, representando menor
capacidade de retenção de água.
Em virtude disso, torna-se inviável a comercialização na forma in natura dos files
que apresentam esta miopatia. No intuito de amenizar as perdas econômicas, estes files podem
ser utilizados no preparo de produtos de carnes processadas, entre eles: salsicha de frango, file
de frango marinados, cozidos, desfiados e congelados, sendo de suma importância entender o
impacto da miopatia na composição e funcionalidade da carne.

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5. MIOPATIA PEITORAL PROFUNDA (MPP)

Conhecida como doença de Oregon ou doença do músculo verde, a miopatia


peitoral profunda (MPP) foi descrita pela primeira vez em 1967-1968 como “miopatia
degenerativa” em criações de perus no Canadá, Estados Unidos (EUA) e na Grã-Bretanha.
Ocorre quando há necrose isquêmica do músculo do peito, como resultado do
esforço do levantamento de asas, onde o músculo fica incapaz de se expandir. A causa desta
miopatia pode estar relacionada à falta de aporte sanguíneo e oxigênio ao músculo, devido a
tentativa de selecionar aves com musculatura peitoral bem desenvolvida através do intenso
melhoramento genético. As peças musculares afetadas normalmente apresentam coloração que
varia do amarelo claro, verde ou verde azulado, com uma textura fibrosa e seca, com aparência
edematosa.
Clinicamente esta doença causa pouco problema, sendo que o maior prejuízo está
relacionado com a condenação e o descarte da carcaça ou da peça no abate, já que é possível
identificá-la somente depois da desossa, com a separação dos músculos peitorais dos ossos. A
parte que foi afetada deve ser retirada, enquanto o resto da carcaça pode ser adequado para o
consumo humano. Porém o processo de corte dessa região destrói o produto com o maior valor
comercial, trazendo perdas econômicas para as indústrias.

Figura 5 - Músculos peitorais partir de 42 dias de idade de frangos de corte que apresentam a miopatia peitoral profunda:
descoloração verde do músculo peitoral menor
Fonte: Ferreira, (Informativo Técnico Polinutri )

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Esta miopatia pode ser classificada como:
• Categoria 1 - miopatia peitoral aguda inicial, caracterizada por uma lesão
inflamatória aguda;
• Categoria 2 - miopatia peitoral com desenvolvimento das lesões, com lesão
do file interno, podendo ser encontrado algumas vezes circundada por um
anel hemorrágico;
• Categoria 3 - miopatia peitoral envelhecido, é comum encontrar somente a
parte do meio do file comprometido, essa categoria trata-se de uma
degeneração progressiva com aspectos esverdeado do tecido corrompido.

6. MIOPATIA DORSAL

O musculo envolvido nesta lesão é o latissimus dorsi ou musculo grande dorsal,


localizado na região dorsal entre as asas, um musculo superficial e bilateral. Esta miopatia
acomete frangos de corte a partir dos 33 dias de idade, e a possível causa é a alta velocidade de
crescimento da linhagem, algumas vezes, concomitantemente à miopatia peitoral profunda.
A miopatia do músculo grande dorsal caracteriza-se por edema amarelado do tecido
subcutâneo sobrejacente ao músculo, com equimoses na superfície, difusamente esbranquiçado,
edemaciado e com a consistência diminuída.

Figura 6 - (A) Carcaça com acometimento de miopatia dorsal cranial unilateral (B) Miopatia Dorsal Cranial com edema
gelatinoso ao corte.
Fonte: MORÉS et al, 2019

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O músculo grande dorsal auxilia no movimento das asas dirigindo o movimento do
úmero na contração dos músculos peitorais. As modificações fisiológicas que ocorrem no
músculo durante a movimentação das asas poderiam determinar alterações na perfusão
sanguínea e no pH, levando à necrose.
A miopatia dorsal pode ser classificada como:
• Leve - amarelamento na região cranial do dorso;
• Moderada - carcaça que apresenta aumento de volume na região entre asas
e pescoço;
• Grave - possui um aumento de volume na região entre asas e pescoço, pele
com coloração verde amarelada e presença de hemorragia no musculo.

A etiologia da miopatia dorsal não está definida, e esta lesão vem causando
prejuízos econômicos devido o rebaixamento e condenação, além da qualidade visual destas
carcaças. Os efeitos causados por essa lesão na saúde sistêmica de frangos de corte ainda são
desconhecidos. Acredita-se que a deficiência de vitamina E, selênio e níveis tóxicos de
ionóforos, pode estar ajudando no aparecimento dessa miopatia.
As lesões aparentes devem ser retiradas e encaminhadas para fábrica de farinha, já
as partes que estão sem as lesões como as asas, poderão ser comercializadas como carne in
natura.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vários estudos demonstram que as miopatias peitorais estão relacionadas as


linhagens de aves que possuem rápido crescimento, alto peso de carcaça ao nascer e no abate,
principalmente, naquelas linhagens com grande desenvolvimento do peito, o corte mais caro da
ave.
Acredita-se que o controle da curva de crescimento possa reduzir
significativamente a ocorrência dessas miopatias em frangos, através do controle alimentar
quantitativo e redução da lisina digestível por períodos específicos da vida do animal.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ASSUNÇÃO, Andrey Sávio de Almeida. GARCIA, Rodrigo Garófallo. KOMIYAMA, Claudia
Marie. MARTINS, Renata Aparecida. Anormalidades musculares emergentes no músculo
Pectoralis major de frangos de corte – revisão. Research, Society and Development, Vargem
Grande Paulista, v 9, n 3, mar 2020. Disponível em:
https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/2775. Acesso em: 27 jun 2022.

AVIAGEN. Miopatias do músculo peitoral. Aviagen, mar 2020. Disponível em:


http://pt.aviagen.com/assets/Tech_Center/BB_Foreign_Language_Docs/Portuguese/Breast-
Muscle-Myopathies-2019-PT.pdf. Acesso em: 5 jul 2022.

DUARTE, Micaelly Da Silva. Ocorrências de miopatias no peito de frangos de corte. 2021. 35


p. Dissertação (Zootecnia). Pontifícia Universidade Católica de Goiás, 2021. Disponível em:
https://repositorio.pucgoias.edu.br/jspui/bitstream/123456789/3140/1/REPOSITORIO%20MI
CAELLY.pdf. Acesso em: 27 jun 2022.

ECCO, Roselene. BRAGA, Juliana Fortes Vilarinho. Miopatia em frangos de corte. Cadernos
técnicos de Veterinária e Zootecnia: Sanidade Avícola, Belo Horizonte, n 76, p. 117-125, mar
2015. ISSN 1676-6024. Disponível em:
https://vet.ufmg.br/ARQUIVOS/FCK/file/editora/caderno%20tecnico%2076%20sanidade%2
0avicola.pdf. Acesso em: 27 jun 2022.

FERREIRA, Nayara Tavares. A base das miopatias peitoral nas linhagens modernas de frangos
de corte. Informativo Técnico Polinutri, n 2. Disponível em:
https://www.polinutri.com.br/upload/artigo/254_p.pdf. Acesso em: 07 jul 2022.

GROSS, Letícia da Silveira. Alterações histopatológicas no músculo pectoralis major de


frangos de corte acometidos com wooden breast e white striping. 2016. 33 p. Dissertação
(Medicina Veterinária). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016.
Disponível em:
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/148243/001001031.pdf?sequence=1&isAl
lowed=y. acesso em: 27 jun 2022.

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LEITE, Natalia de Morais. Caracterização de anomalia tipo “wooden breast/ white stripping”
em peito de frangos de corte. 2018. 40 p. Dissertação (Tecnologia de Alimentos). Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, Londrina, 2018. Disponível em:
http://riut.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/3553/1/LD_PPGTAL_M_Leite%2c%20Natalia%20d
e%20Morais_2018.pdf. Acesso em: 27 jun 2022.

MAPA. Nota técnica sobre carcaças de frango de corte acometidas com miopatia. Mapa, dez
2019.

MONTAGNA, Francieli Sordi. Incidência de miopatia peitoral em frangos de corte de


diferentes sistemas de produção. 2017. 47 p. Dissertação (Zootecnia). Universidade Federal da
Grande Dourados, 2017. Disponível em:
https://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/bitstream/prefix/1199/1/FrancieliSordiMontagna.pdf.
Acesso em: 27 jun 2022.

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