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Ministério da Educação

Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica


Instituto Federal Catarinense
Campus Rio do Sul

ALANA MACHADO COSTA

SEMENTES DE OLERÍCOLAS: Sementes de alface e tomate

Rio do Sul
2022

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Tomate (Solanum lycopersicum)

Introdução

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2021,


no Brasil foram produzidas 3.679.160 toneladas de tomate, colhidas em uma área de 51.907
hectares, com rendimento médio de 70.880 kg/hectare, resultando em um valor de produção de
R$ 6.478.833 mil. O estado de Goiás se destaca pela quantidade produzida ( 1.026.055
toneladas), área colhida (10.677 hectares) e rendimento médio da produção ( 96.100
kg/hectares), mas é o estado de São Paulo tem o maior valor em produção de tomate, com R$
1.596.861 mil contra R$ 723.801 mil do estado de Goiás. O Estado de Santa Catarina fica em
9° em valor de produção de tomate, com R$ 288.622 mil, em quantidade produzida, o estado
fica em 7° lugar com 158.286 toneladas de tomate, possui a 6° maior área colhida de tomate
com 2.507 hectares com uma produtividade de 63.138kg/hectare, sendo a cidade de Caçador a
maior produtora do estado.

Botânica

O tomateiro (Solanum lycopersicum) apresenta caule herbáceo abundante em


ramificação lateral, com 2 hábitos de crescimento:
• Crescimento indeterminado: crescimento contínuo da haste principal com
inflorescência a cada 3 internódios, adaptadas para o sistema de cultivo
tutorado;
• Crescimento determinado: o crescimento da haste principal cessa quando há
a emissão da inflorescência na extremidade da haste principal, adaptada para
sistema de cultivo rasteiro.
A inflorescência pode ser simples ou complexa, do tipo racemo com crescimento
indeterminado ou do tipo cimeira com flor terminal. A flor é hermafrodita com 5 estames livres
e anteras soldadas entre si formando um cone que envolve e protege o estilete/estigma,
característica que facilita a operação manual de emasculação em cruzamentos controlados. O
número de flores por cacho e pegamento dos frutos é altamente influenciado pela temperatura
ótima para a espécie. A flor do tomateiro apresenta o fenômeno chamado heterostilia,
apresentando três tipos de flores: brevistilas, medistilas ou longistilas. O fruto é do tipo baga
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composto pela película (casca), polpa, placenta e sementes que estão imersas em uma
mucilagem placentária dividida em lóculos, que podem ser bi, tri tetra ou plurilocular. A
semente do tomateiro apresenta formato oval, com depressões laterais, apresentando de 3 a 5
mm de comprimento e 2 a 4mm de largura, coberta por uma cobertura protetora formada por
tegumento ou testa e tricomas e, ainda, possui tecido de reserva formado por dois cotilédones e
endosperma.

Exigências climáticas

Os fatores ambientais têm alta influencia na produção de frutos, seja para consumo
in natura, processamento industrial ou produção de sementes. A temperatura é o fator que tem
maior influência no tomateiro. As temperaturas ideais para o tomateiro são de 274°C durante
o dia e 182°C durante a noite, não tolera temperaturas muito baixas, tendo germinação e
emergência negativamente afetadas quando as temperaturas estão abaixo de 10°C. Temperatura
ótima diurna para o pagamento do fruto é de 19°C a 24°C e a noturna fica entre 14°C e 17°C.
Sob altas temperaturas, sendo acima de 30°C diurna e acima de 20°C noturna, ocorre
abortamento de flores. A umidade relativa ideal fica entre 60% e 80%. Quando a umidade está
muito elevada favorece o desenvolvimento de doenças e dificulta a fecundação, quando muito
baixa, reduz o índice de pegamento de frutos. O tomateiro é indiferente ao fotoperíodo.

Estabelecimento no campo

A produção de mudas é feita, em geral, em bandejas multicelulares mantidas em


estrutura protegida por tela antiafídeo, de modo a evitar a entrada de insetos vetores de viroses,
e posterior transplantio para o local definitivo quando as mudas apresentarem de 4 a 6 folhas,
aproximadamente, após 20 a 30 dias depois da semeadura. O local para a produção de sementes
de tomate pode ser feito em campo ou em cultivo protegido e certificando-se de que a área não
tem histórico de cultivo anteriores de outras solanáceas, como o fumo, batata, beringela, jiló,
pimenta e pimentão.

Tratos culturais

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Os tratos culturais seguem o mesmo indicado para o cultivo de tomate in natura ou
para processamento industrial, alterando apenas o espaçamento, que no caso de produção de
sementes, será maior para facilitar a inspeção periódica com a finalidade de eliminar plantas
doentes ou fora do padrão desejado. Na produção de sementes de cultivares de polinização
aberta, independentemente do hábito de crescimento, recomenda-se o sistema de cultivo
rasteiro e em condição de campo. Para a produção de sementes híbridas F1 recomenda-se o
cultivo protegido, tutorando as linhagens de hábito indeterminado ou semideterminado. A
irrigação deve ser feita por gotejamento, para reduzir a incidência de doenças foliares.
Em campos de produção de sementes o controle de doenças e pragas assume maior
relevância dada a capacidade de transmissão ou transporte de doenças através das sementes.
Aquelas doenças que devem ser priorizadas são:
• Murcha de fusário (F. oxysporum f.sp. lycopersici);
• Pinta-preta (Alternaria solani);
• Septoriose (Septoria lycopersici);
• Mancha-de-cladospório (Cladosporium fulvum);
• Podridão-de-sclerotínia (Sclerotinia sclerotiorum);
• Cancro bacteriano (Clavibacter michiganensis subsp. michiganensis);
• Mancha bacteriana (Xantomonas spp.);
• Pinta bacteriana (Pseudomonas syringae pv. tomato);
• Mosaico do tomate (ToMV);
• Mosaico do fumo (TMV).
Com relação as pragas, aquelas que devem receber atenção especial são:
• Broca pequena (Neoleucinodes elegantalis);
• Mosca minadora (Liriomiza spp.);
• Traça do tomateiro (Tuta absoluta);
• Tripes (Thrips tabaci, T. palmi e Frankliniella schulzei);
• Mosca branca (Bemisia tabaci, B. tabaci Biotipo B, Trialeurodes
vaporariorum);
• Pulgões (Macrosiphum euphorbiae, Mizus persicae).

Tipos de cultivares e Técnicas de produção de sementes

Cultivares de polinização aberta (PA)


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As cultivares de polinização aberta são constituídas de linhagens puras,
homogêneas e obtidas pelos métodos de melhoramento recomendado para espécies autógamas.
Atualmente, esse tipo de semente está restrito ao segmento amador, que inclui a produção de
hortaliças e pequena escala, hortas caseiras, comunitárias, escolares, entre outras. Algumas
empresas produzem sementes de cultivares de polinização aberta em larga escala para
exportação. Em geral, as empresas produtoras de sementes realizam contrato com empresas
processadoras de tomate, onde a empresa processadora fica com a polpa e a empresa de
sementes fica com a sementes que seria resíduo do processamento de tomate para a indústria.
Porém, sementes obtidas desta forma podem apresentar baixa qualidade e alto índice de mistura
mecânica com outras cultivares.

Híbridos F1

A produção de sementes híbridas F1 de tomate envolve, predominantemente, o


cruzamento simples de duas linhas puras usadas como parentais as quais devem ser
geneticamente não relacionadas. Apesar do alto custo da semente híbrida F1, é produzida em
larga escala devido as diversas vantagens que apresenta, em relação à:
• Produtividade;
• Precocidade;
• Uniformidade;
• Padronização;
• Qualidade do fruto;
• Resistência a pragas e doenças;
• Rendimento;
• Ciclo mais curto;
• Maturação concentrada;
• Ampla gama de resistência ou tolerância a doenças limitantes.

Origem e qualidade de semente básica

Um requisito essencial para a produção de semente de tomate é o suprimento


adequado de semente básica com alto grau de pureza genética conseguido por meio da escolha
criteriosa e isolamento do local onde será realizada a multiplicação de sementes, sendo cruciais
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a inspeção do campo para eliminação de plantas atípicas (roguing) e realização de operações
cuidadosas de colheita, extração, secagem e beneficiamento das sementes. O isolamento de
campo de produção de sementes básicas deve ser de 50m e de campo de produção de sementes
certificadas deve ser de 25m. Porém, em cultivares ou linhagens parentais que apresentam flor
do tipo longistila, o isolamento deve ser de 150 m, no mínimo. O isolamento é dispensável
quando o cultivo é feito em estrutura protegida. O roguing é obrigatório para garantir a pureza
genéticas dos lotes de sementes básicas, sendo feito nas fases de pré-floração, início do
florescimento e frutificação e ao final da frutificação, com o objetivo de eliminar plantas e
frutos fora do padrão desejado.

Execução dos cruzamentos Controlados

Na execução de cruzamentos para obtenção de sementes híbridas, a parental


feminina deve ser aquela de maior capacidade de produção de sementes. Em cruzamentos entre
linhagens de crescimento determinado e indeterminado, a linhagem de porte determinado deve
ser usada como parental polinizador. A proporção recomendada de plantas masculinas para as
plantas femininas é de 1:4. O parental polinizador deve ser semeado de 15 a 20 dias antes do
feminino para garantir disponibilidade de pólen desde o início da operação.

Emasculação

Essa operação tem início entre 55 e 65 dias após a semeadura, eliminando-se as


flores da primeira inflorescência. A emasculação deve ser iniciada nos botões florais do
segundo racemo em diante. Todos os utensílios utilizados devem ser desinfetados com álcool
antes de iniciar a operação. Essa operação tem o objetivo de retirar o cone de anteras das flores
ainda fechadas. A fim de diferenciar frutos cruzados dos autofecundados pode-se eliminar
sépalas das flores femininas polinizadas, também servindo como marcador para identificação
durante a colheita. É recomendável a eliminação de todas as flores não polinizadas.

Coleta de pólen

As flores do parental masculino, das quais o pólen será retirado, devem ser
coletadas na véspera da antese. O cone de anteras deve ser removido e colocado em envelopes

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de papel manteiga para secar a 30cm de distância de uma lâmpada de 100W por 24h, a uma
temperatura de 30°C, ou ao sol. Após a secagem, os cones de anteras devem ser colocados em
um pote de plástico ou de vidro, cobrindo com uma malha fina e vedando com a tampa. Após,
deve ser chacoalhado, e o pólen transferido para um pote pequeno.

Polinização

A polinização deve ser executada logo em seguida à emasculação, levando-se o


recipiente contendo o pólen até o estigma das flores emasculadas, tocando delicadamente.
Polinização bem-sucedida é reconhecida após uma semana, com o início do desenvolvimento
do fruto. Reitera-se a necessidade de eliminar as flores não emasculadas para reduzir a
contaminação decorrentes de flores autofecundadas.

Colheita dos frutos

O número de frutos por planta depende da linhagem, sendo, no geral, 30 frutos por
planta para linhagens de frutos grandes, 40 frutos para linhagens com frutos medianos e 50 ou
mais para linhagens com frutos pequenos. A colheita dos frutos para retirada das sementes deve
ser realizada manualmente em estádio de completa maturação e sem exibir lesões de doenças e
danos por insetos. Se houver possibilidade climática e de mão de obra, a colheita deve ser
realizada no período da manhã e a extração da semente no período da tarde, pois há um reflexo
positivo na qualidade fisiológica da semente. Algumas cultivares podem apresentar
viviparidade, que é a germinação da semente ainda dentro do fruto. Essa anomalia pode ocorrer
quando o fruto está excessivamente maduro, atacado por determinados patógenos, na aplicação
excessiva de adubos nitrogenados ou na aplicação de promotores da síntese de etileno.

Extração da semente e fermentação

Em pequena escala, geralmente é feita manualmente. Em grande escala são usadas


máquinas extratoras que podem ser acionadas pela tomada do trator ou motor elétrico ou
estacionário, cujos componentes essenciais são:
• Moega alimentadora;
• Rampa de escoamento;

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• Peneira cilíndrica;
• Bandeja coletora de sementes.
As sementes são coletadas junto com a mucilagem e colocadas em baldes ou tonéis
para a fermentação, etapa que visa retirar a camada de mucilagem que recobre a semente. A
fermentação pode ser feita de forma natural ou química. Na fermentação natural, as sementes
com a mucilagem são colocadas em recipientes e deixadas em repouso por 24 a 48 horas, a
depender da temperatura. Em altas temperatura, o tempo de fermentação é reduzido, no entanto,
o processo pode não se completar, afetando as etapas seguintes. Em baixa temperaturas, o
tempo de fermentação é aumentado, contudo, pode induzir a aceleração do metabolismo da
semente e maior consumo das reservas, reduzindo taxas de germinação e vigor. A fermentação
reduz contaminação por Clavibacter michiganense subsp. michiganense. No método químico,
o ácido clorídrico é o mais utilizado, devido a maior rapidez e economia do processo, e a
colocação mais clara e brilhante às sementes. O uso de ácido clorídrico também reduz a
contaminação pelos vírus dos mosaicos do fumo (TMV) e do tomate (ToMV). É importante
agitar períodocamento a massa a fim de homogeneizá-la, obtendo uma fermentação uniforme,
e não deve ser adicionado água à massa.

Lavagem das sementes

Após a fermentação, as sementes devem ser lavadas por processo intermitente, para
pequenas quantidades, ou contínuo para a produção em grande escala. No processo
intermitente, água é adicionada a massa, fazendo com que as sementes migrem para o fundo, e
separando a parte sobrenadante. O processo é repetido até que as sementes sejam limpas. No
sistema contínuo a massa fermentada é colocada em uma calha onde existe um sistema de água
em circulação e um sistema de comportas. A água em movimento agita as sementes, fazendo
com que se depositem no fundo, separando-se da mucilagem, enquanto as comportas retem as
sementes.

Secagem das sementes

A secagem das sementes deve ser criteriosa para evitar perda de qualidade. Ao sair
da lavagem, as sementes estão com 40% a 50% de umidade, devendo ser centrifugadas antes
da secagem. A temperatura ideal de secagem está entre 32°C a 42°C, e deve ser realizado e

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ambiente ventilado, durante 24 horas. Em seguida, as sementes as sementes são transferidas
para secadores ou estufas elétricas, com temperatura de 38°C, até atingir 6% de umidade para
o acondicionamento em embalagens herméticas. Recomenda-se revolver as sementes durante
todas as etapas de secagem para homogeneização da umidade. As sementes também podem ser
secas ao sol e não devem ser umedecidas novamente.

Beneficiamento das sementes

Deve ser retirado os tricomas das sementes de tomate, utilizando um equipamento


que pressiona a massa de sementes contra uma chapa cilíndrica de ferro fundido, sem causar
danos e sem prejudicar a germinação e vigor das sementes. Em seguida as sementes devem
passar por máquinas de ar e peneiras, mesa de gravidade ou sopradores pneumáticos para
eliminar o resto de tricomas, película e placenta.

Tratamento de sementes

Podem ser realizados diferentes tipos de tratamentos para a melhor germinação e


emergência das plântulas em campo, como:
• Tratamento fúngico: eliminar microrganismos e/ou proteção durante a
germinação e emergência, uso comum do thiram e captan;
• Termoterapia: para controle de patógenos como TMV e ToMV, com uso de
calor seco a 70°C por 48 horas;
• Calor úmido: com uso de água quente a 50°C por 30 minutos para o controle
de bacterioses internas;
• Film coating: película protetora para melhorar a uniformidade e eficiência
do tratamento fungicida e melhorar a visualização durante a semeadura;
• Seed priming: condicionamento osmótico para a melhor germinação em
condições de estresse, como baixa temperatura e salinidade;
• Peletização: uniformidade e melhor distribuição durante a semeadura.

Embalagem e armazenamento

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O grau de umidade das sementes deve ser em torno de 6% para o acondicionamento
em embalagens a prova de umidade como latas e sacos aluminizados. As sementes devem ser
armazenadas em ambiente refrigerado, a temperatura de 4°C para conservação a médio prazo
(menos de 10 meses) e a temperatura de -20°C para a conservação a longo prazo (mais de 10
anos). Locais quentes e úmidos devem ser evitados, pois favorecem a rápida deterioração,
reduzido a germinação, podendo até perder a viabilidade rapidamente.

Avaliação da qualidade da semente

Para os testes de germinação e pureza para a semente de tomate exigido pelo


Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), seguindo as Regras de Análise
de Sementes (RAS), recomenda-se realizar o teste de tetrazólio:
Já a Instrução Normativa n°42, de 17 de setembro de 2019, que estabelece os
padrões de identidade e de qualidade para a produção e a comercialização de sementes de
espécies olerícolas, condimentares, medicinais e aromáticas, define para o tomate as seguintes
características:

Tabela 1 - Padrões de identidade e qualidade para a produção e comercialização de sementes


de tomate
Peso mínimo da amostra
Peso mínimo da amostra
Peso máximo do lote de trabalho para análise
média ou submetida
de pureza
10.000 kg 10 g 7g

% mínima de sementes % máxima de outras


% mínima de germinação
puras sementes
S1 e S1 e S1 e
Básica C1 C2 Básica C1 C2 Básica C1 C2
S2 S2 S2
98% 98% 98% 98% 0,0% 0,1% 0,1% 0,1% 70% 80% 80% 80%

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Alface (Lactuca sativa)

Introdução

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2017,


no Brasil foram produzidas 671.509 toneladas de alface, colhidas de 108.382 estabelecimentos,
resultando em um valor de produção de R$ 1.204.557 mil. O estado de São Paulo se destaca
pela quantidade produzida ( 268.139 toneladas) e valor em produção de alface ( R$ 413.676 mil
). Já o estado de Minas Gerais tem o maior número de estabelecimentos que produzem alface,
sendo 19.088 estabelecimentos contra 11.346 estabelecimentos no estado de São Paulo. O
Estado de Santa Catarina fica em 7° em valor de produção de alface e em quantidade produzida,
com R$ 45.500 mil e18.347 toneladas de alface, respectivamente, além de ser o 3° em número
de estabelecimentos produtores de alface, com 11.612 estabelecimentos, sendo a cidade de
Caçador a maior produtora do estado.

Botânica

Pertencente à família Asteraceae, possui duas fases distintas no ciclo de


desenvolvimento, sendo a primeira a fase vegetativa, onde se desenvolve a alface hortaliça, e a
segunda, a fase reprodutiva, quando a planta emite o pendão floral. Vários fatores ambientais
influenciam o pendoamento, sendo a temperatura mais importante deles. Temperaturas acima
de 25° estimulam e induzem o início do pensamento, dias longos associados com altas
temperaturas aceleram esse processo. A alface apresenta inflorescência do tipo capítulo,
formado por 3 brácteas que envolve de 10 a 25 flores ou floretes. O cálice é coberto com um
anel de cerdas denominadas de “papus”. A alface é uma planta autógama devido à sua estrutura
cleistogâmica, pois, antes da antese, o pistilo emerge, e ao passar pelo tubo de anteras, é
autopolinizado. Por esta razão, não existe a produção comercial de semente híbrida de alface.,
pois a biologia floral não permite sua produção. Para realizar o cruzamento, os floretes do
capítulo devem ser despolinizados com jatos de água e posteriormente, secos e polinizados,
com pólen da flor de outra cultivar de interesse. Após o cruzamento, a flor que recebeu o pólen
deve ser identificada. O florescimento da alface é contínuo e sequencial. Cerca de 90% das
sementes são originárias de flores que abrem nos primeiros dias após a antese da primeira flor.
Geralmente, as sementes originárias dos dois primeiros picos de floração são mais pesadas do

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que as mais tardias. A semente da alface é, na verdade, um aquênio, ou seja, um fruto seco, cuja
semente está ligada pela região do funículo. O indicativo da maturidade fisiológica ocorre
quando as brácteas e os “papus” secam para a dispersão pelo vento.

Estabelecimento da cultura

O cultivo da alface destinada à produção de sementes segue as mesmas exigências


e tratos culturais para o cultivo da alface hortaliça, alterando-se a escolha da área e o
espaçamento. No Brasil, predomina o sistema de produção de sementes a partir de mudas
obtidas de raiz nua em sementeiras para posterior transplantio, porém o uso de bandejas fornece
mudas mais uniformes, reduz o estresse do transplantio e melhora o estande. A irrigação
preferencial deve ser por sulco ou gotejamento.

Isolamento e roguing

Sendo uma espécie cleistogâmica, a ocorrência de cruzamento natural em alface é


muito baixa. Assim, recomenda-se o isolamento mínimo de 2m a 30m entre campos de
produção de semente de diferentes cultivares.
O roguing consiste na retirada de plantas que não possuem as características de
interesse, sendo realizada em três fases:
• Primeira: quando as plantas atingirem de 4 a 6 folhas;
• Segunda: quando a planta atingir o ponto de colheita da alface hortaliça;
• Terceira: após a emissão do pendão floral e durante o florescimento.

Tratos culturais

Algumas variedades de alface formam a chamada “cabeça”, que é a compactação


de folhas no centro da planta. Essa característica impede o crescimento normal do pendão,
dificultando a produção de sementes. Existem alguns métodos que podem ser utilizados para
promover o correto crescimento do pendão. Um deles é cortar ou abrir a parte superior da
cabeça, o suficiente para permitir o pendoamento, cuidando para não danificar a gema apical.
Outro método consiste em exercer uma pressão sobre a cabeça a fim de romper o conjunto de

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folhas que formam a cabeça e arrancá-la. Lembrando que a formação da cabeça é contínua,
sendo necessário esse tipo de procedimento durante todo o ciclo.
Em campos de produção de sementes o controle de doenças e pragas assume maior
relevância dada a capacidade de transmissão ou transporte de doenças através das sementes.
Aquelas doenças que devem ser priorizadas são:
• Mosaico do alface (Letuce mosaic vírus - LMV);
• Vira-cabeça (Tospovirus);
• Queima da saia (Rizoctonia solani);
• Podridão de esclerotínia (Sclerotinia sclerotiorum);
• Mancha cerosa (Pseudomonas cichorii);
• Botrytis;
• Oídio (Oidium spp.);
• Nematóide das galhas (Melodoigyne sp.);
Com relação as pragas, aquelas que devem receber atenção especial são:
• Larva minadora (Liriomiza sativae, L. trifolli, L. huidobrensis);
• Tripes;
• Mosca branca (Bemisia tabaci Biotipo B);
• Pulgões.

Controle de plantas daninhas

A alface não possui arquitetura para cobrir e sombrear o solo, bloqueando o


crescimento de plantas daninhas, por isso, é recomendável o controle efetivo de daninhas por
meios mecânicos de forma superficial. Deve-se ter cuidado também com as espécies de plantas
daninhas que possuem sementes que não são passíveis de serem separadas das sementes de
alface durante o beneficiamento. A serralha (Sonchus oleraceaus) não deve permanecer no
campo de produção de sementes devido ao risco de cruzamentos.

Maturação e colheita das sementes

A maturação fisiológica ocorre de maneira sequenciada, assim como ocorre a


floração, sendo completa quando é visível a presença de cerdas (papus) brancas na
inflorescência. Devido a capacidade de dispersão natural da semente, quanto mais adiar a
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colheita com intenção de aumentar a produtividade, maior o risco de perdas com ventos fortes
e debulha natural. A colheita pode ser feita de três maneiras:
• Primeira: curvando-se as plantas sobre sacos e agitando-as, provocando a
queda das sementes; pode ser repetido por 3 a 4 vezes, aumentando a
produtividade; mais onerosa e pouco usada em áreas comerciais;
• Segunda: cortar a plantas quando alcançar cerca de 50 a 60% de maturação
das sementes; a colheita deve ser realizada de manhã para reduzir a debulha
natural;
• Terceira: corte das plantas de forma mecânica; ocorre considerável debulha
natural e perda, além do risco de colheita conjunta de sementes de plantas
daninha dificultando o processo de limpeza e beneficiamento.

Secagem das sementes

A secagem das sementes pode ser feita mantendo-as sobre um tecido ou lona até o
completo secamento da planta, em campo ou em galpão. Recomenda-se a secagem até 6% de
umidade para o acondicionamento em embalagens impermeáveis.

Beneficiamento das sementes

Após a secagem, as sementes são trilhadas e feito a pré-limpeza em máquinas


apropriadas. A limpeza da palha é feita em peneira ou equipamentos de coluna de ar. Na
máquina de ar e peneira, é feita a remoção das impurezas leves, menores e maiores que as
sementes de alface. As sementes de alface, impurezas maiores e de igual tamanho que as
sementes são separadas por diferença de densidade e peso específico na mesa densimétrica. A
classificação de sementes para a peletização é feita por empresas especializadas.

Tratamento de sementes

São recomendados vários tipos de tratamento visando os patógenos associados as


sementes, como uso de hipoclorito de sódio para Xanthomonas axonopodius pv.vitans e
termoterapia para o controle de Septoria lactucae. Assim como o priming, que consiste na
embebição das sementes em solução osmótica, reduzindo o problema de termoinibição; e a

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peletização, para modificar o formato e tamanho da semente, facilitando os processos de
manuseio e distribuição das sementes, visando redução no consumo de sementes e precisão da
semeadura, além de ser veículo para defensivos, nutrientes, inoculantes, entre outros.

Embalagem e armazenamento de sementes

Como regra geral, usa-se a umidade relativa do ar para o nível a que a semente deve
ser secada e conservada. O teor mais baixo que a semente pode atingir é 30% a 25% de UR o
que equivale a 25°C, 5% do teor de umidade na semente. Sementes de alface secas, embaladas
e conservadas em baixa temperatura podem se manter viáveis por vários anos, porém, a espécie
é considerada de baixo potencial de armazenabilidade.

Avaliação da qualidade da semente

Os testes de germinação e pureza para a semente de alface exigido pelo Ministério


da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), seguindo as Regras de Análise de Sementes
(RAS), devem ser em:
• Substratos: “entre papel” (EP), “sobre papel” (SP) ou sobre areia (SA);
• Temperatura: constante de 20°C ou 15°C;
• Contagem das plantas normais: inicial aos 4 dias e final aos 7 dias após a
montagem do experimento.
Em caso de dormência, é prescrito:
• Pré-esfriamento a 10°C por 3 dias;
• Usar luz pelo menos durante meia hora antes do teste; luz adicional durante
o teste é desejável para sementes dormentes. A temperatura não deve
exceder 20°C. Se houver muitas sementes dormentes reteste a 15°C.
• Fornecer LUZ por 8-16 horas, pode ser benéfico ao teste. A iluminação dos
testes é geralmente recomendada para se obter um melhor desenvolvimento
das plântulas. Se em certos casos a luz é necessária para promover a
germinação de sementes dormentes ou se, por outro lado, a luz pode inibir
a germinação e o substrato deve ser mantido no escuro, isto está indicado na
última coluna.

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Já a Instrução Normativa n°42, de 17 de setembro de 2019, que estabelece os
padrões de identidade e de qualidade para a produção e a comercialização de sementes de
espécies olerícolas, condimentares, medicinais e aromáticas, define para a alface as seguintes
características:

Tabela 2 - Padrões de identidade e qualidade para a produção e comercialização de sementes


de alface
Peso mínimo da amostra
Peso mínimo da amostra
Peso máximo do lote de trabalho para análise
média ou submetida
de pureza
10.000 kg 30 g 3g

% mínima de sementes % máxima de outras


% mínima de germinação
puras sementes
S1 e S1 e S1 e
Básica C1 C2 Básica C1 C2 Básica C1 C2
S2 S2 S2
98% 98% 98% 98% 0,0% 0,1% 0,1% 0,3% 70% 80% 80% 80%

Determinação de outras sementes por número (n° máximo por peso da amostra)
Outras espécies cultivadas Sementes silvestres Semente nociva tolerada
S1 e S1 e S1 e
Básica C1 C2 Básica C1 C2 Básica C1 C2
S2 S2 S2
0 2 3 8 0 2 3 12 0 3 4 15

Peso da amostra para semente nociva proibida ou tolerada


30 g

Referências

NASCIMENTO, Warley Marcos (ed.). Produção de sementes de hortaliças. Brasília, DF:


Embrapa, 2014. 2 v. ISBN 9788570353009 (v. 1 e 2).

BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Regras para análise de sementes.


Brasília, DF: Mapa /ACS, 2009. 399 p. Disponível em:
https://pergamumweb.ifc.edu.br/pergamumweb_ifc/vinculos/000018/00001896.pdf. Acesso
em: 22 nov. 2022.

BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Instrução Normativa nº 42, de 17


de setembro de 2019. Brasília: DF: Mapa. Disponível em:
16
https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=19/09/2019&jornal=515&pa
gina=4&totalArquivos=110. Acesso em: 21 nov. 2022.

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