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Introdução
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Machado, G. S. Abordagem de íons fortes no equilíbrio ácido-básico. Seminário apresentado na disciplina
Bioquímica do Tecido Animal, Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, 2014. 8p.
a concentração de H+ se altere muito até que a resposta mais lenta, os rins consigam eliminar o
excesso de ácido ou base no corpo (Guyton & Hall, 2006).
Compreender as mudanças no equilíbrio ácido base é essencial para o diagnóstico e
tratamento clínico adequado. Perante essa realidade, para entender as mudanças no equilíbrio
ácido-base existem dois modelos conhecidos: o método Henderson Hasselbach (método mais
difundido e utilizado na clínica devido a sua fácil interpretação) e o método de íons fortes
(Método de Stewart). O objetivo deste trabalho é apresentar o Método de Stewart e descrever
os aspectos importantes para futuras pesquisas relacionadas com esse tópico.
Método de Stewart
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parcialmente dissociados no plasma, podendo ser voláteis ou não voláteis.
Então, baseado na lei da conservação das massas e cargas (eletroneutralidade), criou um
complexo matemático de fórmulas para descrever o balanço ácido básico. Com base nesses
princípios, Figge et al. (1998) definiram a relação entre fosfato, albumina plasmática e íons
hidrogênio, concluindo que a albumina é o maior contribuinte dos ácidos fracos (Durward et al.,
2003).
Assim as três variáveis independentes são a diferença de íons fortes (strong ion diference:
SID), pressão parcial de dióxido de carbono (pCO2) e concentração total de ânions fracos não
voláteis (Atot). As variáveis dependentes são concentração de íons hidrogênio [H+], e
consequentemente pH e HCO-3 (Figura 1).
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Diferença entre íons fortes - strong ion difference (SID)
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Com relação às variáveis dependentes, elas seriam manipuladas pelo organismo
secundariamente a alterações primárias nas variáveis independentes. O bicarbonato seria
regulado pelos rins, mas em função das alterações da pCO2. A concentração de íons hidrogênio,
e consequentemente o pH, seria determinado principalmente pela dissociação da água, solvente
das soluções biológicas. Apesar de sua importância nos processos fisiológicos,
+
quantitativamente a [H ] não seria tão importante do ponto de vista da eletroneutralidade, pois
esta se encontra na magnitude de nmol/L enquanto outros íons se encontram em mmol/L (escala
1.000.000 de vezes maior).
O gás CO2 tem uma baixa solubilidade em água e quatro reações podem ocorrer:
1. Dissolução em água
2. Reação em água para formar o ácido carbónico
3. Dissociação de ácido carbónico para formar íons de bicarbonato
4. Dissociação de bicarbonato para formar íons de carbonato
As quatro reações podem ser ilustradam com a seguinte reação:
Um ácido fraco, por definição, é um que se dissocia parcialmente em seus íons constituintes
para chegar ao seu equilíbrio. O ânion fraco total (Atot) representa a número total de diferentes
ácidos fracos com CO2 no sistema. Os ácidos não dissociados são descritos como HA e os
dissociados como A-. A reação de dissociação de ácido mais fraco é: HA <=> H+ + A-.
Com base na lei da conservação da matéria, se HA e A não participar em outras reações
(solução), a quantidade de [HA] e [A] se mantém constante em seguida: [Atot] = [HA]+ [A-]
(Häubi et al., 2006).
Os principais ácidos fracos no plasma são proteínas e fosfatos. A albumina é a proteína mais
importante que atua como um ácido fraco. Os fosfatos são os reguladores de cálcio no
organismo, e compõem 5% do Atot quando os seus níveis estão normais. Portanto
concentração albumina pode ser utilizado para estimar o Atot em plasma (Häubi, 2004). A
elevação da Atot caracteriza uma acidose metabólica e sua redução uma alcalose
metabólica.
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Implicações do Método de Stewart
Pela abordagem de Stewart, podem ser observados seis distúrbios do equilíbrio ácido-base,
ao invés de quatro na abordagem tradicional, distúrbios metabólicos por alterações de diferença
de íons fortes ou ânions fracos não voláteis totais, ou respiratórios por alterações de pressão
parcial de dióxido de carbono (Figura 2) (Constable, 2000).
Apesar de mais complexa, a abordagem quantitativa é considerada mais precisa, pois leva
em consideração aspectos como eletrólitos e teor de proteínas plasmáticas, sabidamente
importantes em diversas condições clínicas. Essa nova perspectiva ajudaria a explicar as
aparentes inconsistências nos exames laboratoriais quando interpretados de acordo com a
abordagem tradicional (Constable et al., 2005; Moviet et al., 2013).
A abordagem dos íons fortes de Stewart não foi um método prático, falho em fornecer as
concentrações plasmáticas dos ácidos fracos não voláteis e a constante de dissociação dos
ácidos fracos no plasma. Em medicina o método não é muito utilizado na prática clínica por ser
uma equação matemática complexa e precisar de no mínimo 10 parâmetros mensurados através
de exames (Barbosa et al., 2006). No entanto, Constable em 1997, propôs um método
simplificado dos íons fortes, no entanto é pouco provável, que o modelo de íons fortes
simplificado substitua clinicamente a abordagem tradicional, pois há algumas incógnitas difíceis
de serem calculadas (DiBartola, 2012).
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Equação simplificada de Stewart:
𝐾. 𝐴𝑡𝑜𝑡
𝑆𝐼𝐷 −
𝑝𝐻 = pK + log 𝐾 + 10−𝑝𝐻
𝑆. 𝑝𝐶𝑂2
Considerações finais
Referências
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