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RELATÓRIO CONCLUSIVO

Processo nº. 15933/2022

A COMISSÃO PERMANENTE DE SINDICÂNCIA, nomeada pela


Portaria nº PMC/431, de 11 de maio de 2021, tomou conhecimento da
instauração de Processo de Sindicância – Processo Administrativo nº
15933/2022 - Portaria nº PMC/576, de 8 de novembro de 2022.
Procedido à análise, segue para a apreciação do Excelentíssimo Senhor
Prefeito, RELATÓRIO CONCLUSIVO, conforme a seguir:
Os fatos contidos no processo nº 15933/2022 foram levados à
apuração, conforme determinado pelo despacho do Senhor Prefeito – fl.
02 – tendo em vista o conteúdo da Notificação – fl. 03, endereçada a
empresa JOÃO JOSÉ NASCIMENTO - ME – datada de 21 de outubro
de 2022, na qual a empresa foi instada a apresentar defesa sobre
situação não-conforme identificada durante a execução do contrato nº.
PMC/04/2022, qual seja: indícios de uso de equipamento (chave tic tac
ou liga e desliga) no horimetro da retroescavadeira.
O referido contrato tinha como objeto a locação de equipamentos
para o Município de Congonhas, inclusive mobilização, com operador,
sendo disposto que a medição deveria ser por hora produtiva,
devidamente aprovada e atestada pelo fiscal.
O Senhor Prefeito determinou a apuração da conduta do servidor
Frederico Pinto Alves de Paula e demais servidores se houver em
relação a execução do contrato nº PMC/04/2022.
Foi constatado também a necessidade de se apurar possíveis
desvios na execução do contrato, como: indícios de servidor do
Município estar operando máquina de empresa contratada;
comercialização de material (escória); realização de serviços em
propriedade particular utilizando-se do cargo público; execução de
serviço sem expedição da ordem de serviço e indícios de recebimento
de propina.
Nas fl. 05/08 constam depoimentos prestados na Gerência de Área
de Atos Funcionais, Lotação e Corregedoria. Nas fl. 12 consta a Portaria
de instauração de Sindicância. Nas fl. 14 e seguintes constam
convocações, depoimentos, documentos, fotos e vídeos que serviram
para a instrução do presente processo.
Em síntese, esses são os fatos.
A Comissão Permanente de Processo de Sindicância apura a
prova da existência de fatos reprováveis perante o Estatuto do Servidor
ou que constituam crime tipificados no Código Penal e demais
legislações correlatas, além de indicar a quem deva recair o indicio da
suficiente autoria.
Registra-se que o Processo de Sindicância é autônomo, sendo
que sua instauração não é requisito para abertura de Processo
Disciplinar, podendo o Processo Disciplinar também ser instaurado de
forma autônoma, independente da existência de sindicância.
Pois bem, a presente apuração foi iniciada haja vista os indícios de
irregularidade ocorrida na execução do contrato nº PMC/04/2022,
firmado entre o Município de Congonhas e a empresa JOÃO JOSÉ
NASCIMENTO – ME – AGRONAL.
O contrato nº PMC/04/2022 teve como objeto, conforme clausula I:
“Contrato de LOCAÇÃO DE EQUIPAMENTOS inclusive mobilização,
com operador, para atender as necessidades da Secretaria Municipal de
Obras e Infraestrutura”.
Foi previsto para o referido contrato um valor total de R$
1.2015.144,00( hum milhão, duzentos e quinze mil, cento e quarenta e
quatro reais) – item 3.2.
No item 3.8 foi estabelecido a forma de liquidação e apuração do
valor devido à empresa referente a cada medição, veja-se:
“3.8. Os serviços serão medidos por hora, efetivamente
comprovada e atestada pelo servidor responsável, através
de parte diária, respeitando a garantia mínima
descriminada no Anexo A por mês, sendo:
3.8.1. Hora produtiva de uma equipamento é a hora de
trabalho efetivo. PAGAMENTO DA HORA PRODUTIVA –
100% sobre o valor unitário contratado.
3.8.2. Hora improdutiva corresponde à hora de trabalho em
que o equipamento e motorista fica parado.
PAGAMENTO DA HORA IMPRODUTIVA – (%) conforme
Anexo D.”

No item 10.06 foi disposto que as demandas deveriam ser


solicitadas por meio de Ordem de Serviço, veja-se:

10.06. A CONTRATADA obriga-se a prestar a locação dos


equipamentos assim como o transporte de material de
qualquer natureza, nas mesmas condições e preços
registrados na ARP – Ata de Registro de Preços nº.
PMC/002/2022, durante todo o prazo de validade da ARP,
solicitada através de Ordem de Serviço, sendo
discriminado a Diretoria solicitante equipamento(s), a
quantidade de horas, o periodo de utilização, emitida pelo
GESTOR DO CONTRATO.

Na Notificação endereçada a empresa JOÃO JOSÉ


NASCIMENTO - ME – datada de 21 de outubro de 2022, foi informado à
empresa contratada que no dia 18 de outubro de 2022 foi identificado o
uso de equipamento (chave tic tac ou liga e desliga) no horímetro da
retroescavadeira, ocasionando o mal funcionamento do sistema de
registro de horas, fazendo com que haja registro como horas produtivas
até mesmo daquelas em que o equipamento não se encontra em
produção.
Conforme depoimento prestado pelo Senhor Frederico Pinto Alves
de Paula, fl. 22/23, este relatou que: no dia 18 de outubro, identificou
que na máquina retro tinha um dispositivo “ Tic Tac. Que no final de
setembro e inicio de outubro, quando parou para analisar as partes
diárias, verificou que as maquinas não tinham condições de fazer 8 ou 9
horas direto trabalhadas naquela frente de serviço. Que no dia 18 de
outubro, próximo ao horário de almoço, foi ao Goiabeiras e pediu ao
operador que deixasse o depoente operar a máquina para avaliá-la, Que
percebeu que um dos botões, mesmo quando deligada a máquina, o
horímetro continuava rodando... Que chamou o gerente Heitor e ele
compareceu no pátio onde a maquina estava... Questionado Heitor
sobre a chavinha, o mesmo informou que seria algo que Sr. João teria
colocado, conforme gravado em vídeo... que como o Sr. João não havia
trazido eletricista, ele pediu para que o depoente indicasse alguém que
pudesse fazer a retirada, sendo indicado pelo depoente um eletricista.
(estes relatos retirados do depoimento juntado nas fl. 22/23).
Chamado novamente para prestar esclarecimentos, compareceu
novamente o Senhor Frederico Pinto Alves de Paula – fl. 59/60 e relatou
que comunicou pessoalmente ao proprietário da empresa que deveria
fazer a remoção do aparelho encontrado na maquina. Que a decisão foi
tomada na sala de Roberto Ganso com Sr. João, proprietário da
empresa. Na presença de Roberto, Sr. João se comprometeu a
regularizar a situação.
Chamado a prestar declarações, compareceu perante esta
Comissão Permanente de Processo de Sindicância o Senhor Flávio dos
Santos, Eletricista, sendo informado que: “... recebeu telefonema do Sr.
Frederico perguntando se poderia fazer um serviço em duas maquinas,
explicando que havia necessidade dar manutenção em horímetro de
máquinas que estava ficando ligado direto mesmo com a máquina fora
de operação... Que estava disponível para fazer o serviço... Que se
dirigiu próximo ao Centro de Informação ao Turista. Que Frederico
chegou primeiro e posteriormente o dono da empresa. Que não retirou o
horímetro que marcava direto somente deu manutenção na parte
elétrica para que ele somente funcionasse com a máquina estivesse em
operação. Que realmente um horímetro estava marcando direto em uma
das maquinas, mesmo com o desligamento da mesma. O dono da
máquina autorizou que fizesse o conserto e pagou a execução. Que o
conserto ficou em R$ 200,00.”
Nas fl. 61 consta vídeo juntado pelo Senhor Frederico, no qual foi
filmado ele questionado o Gerente da empresa AGRONAL sobre o
horímetro em pleno funcionamento com a máquina desligada, momento
em que é possível identificar que o empregado da AGRONAL relata que
o Sr. João quem instalou o equipamento.
Sobre os indícios de que o servidor Frederico Pinto Alves de
Paula estaria operando as maquinas da empresa AGRONAL, foi
apurado que na própria oitiva do Senhor Frederico: “Que já chegou
operar a máquina da empresa para liberar a estrada em casos
emergenciais.
No depoimento do servidor Ederson Vieira Gonçalves foi relatado:
“que Frederico é muito profissional e que tinha conhecimento de
maquinas e quando os operadores iam ao banheiro ele inclusive
operava as maquinas”.
No depoimento do servidor Leonardo Pinheiro Egídio foi relatado:
“Que segundo Frederico, ele próprio operava a máquina.”
No depoimento do servidor Fernando Marques Silva foi relatado:
“Que Frederico sempre operava máquinas, que o depoente já o viu
operando duas vezes, mas o mesmo não era operador. Que em alguns
serviços, Frederico trabalhava nos finais de semana, mas não tinha
vínculo empregatício para operar máquina.”
Sobre a denúncia de que o Senhor Frederico estaria
comercializando material do município, como escória, e que realizava
serviços em seu sítio, utilizando-se de equipamento e material à
disposição do município, verificamos que foi ventilado esse assunto no
depoimento do servidor Roberto Francisco da Silva, no depoimento do
servidor Ederson Vieira Gonçalves e do servidor Fernando Marques
Silva.
Verifica-se que o próprio Senhor Frederico assumiu que em seu
sitio localizado no distrito de Santa Quitéria já foi levado material para
recuperação das vias de acesso, sendo informado que este serviço
sempre era feito para atender aos sitiantes da região.
A uma primeira análise entende esta Comissão que o fato do
sitiante ser servidor público do município não impede que ele seja
contemplado com o apoio de recuperação de estradas fornecido a todos
que dele necessitam na zona rural.
O grave problema neste aspecto é a ausência total de qualquer
controle das demandas atendidas pelo município, por não haver
qualquer registro de ordem de serviço, fazendo com que as maquinas e
materiais para atendimento da população fiquem sujeitas aos mandos e
desmandos desse ou daquele servidor, não havendo uma listagem e
programação claras nas quais se possa verificar o regular atendimento
igualitário do cidadão, possibilitando assim possíveis favorecimentos.
Quanto os relatos sobre possível comercialização de material,
embora haja rumores sobre esta pratica, não foi produzida prova neste
sentido, contudo se caso ocorreu tal conduta, esta prática poderia ser
bem obstada com a inserção de boas práticas de gestão nos contratos
firmados pelo município; uma delas é a utilização da ordem de serviço,
pois com este procedimento, registra-se quantidade, beneficiário, data e
demais dados importantes para um eficaz rastreamento.
Conforme já citado acima, no item 10.06 do contrato nº
PMC/04/2022 é exigida a emissão da “ordem de serviço”. Trata-se de
ferramenta de gestão indispensável ao mínimo de controle das
atividades produzidas pelas empresas contratadas pelo município,
porém conforme comprovado nos autos, tal ferramenta não foi utilizada,
sendo portanto descumprida regra basilar para a execução das
atividades.
No depoimento prestado pelo Senhor Frederico foi relatado: “que
para os atendimentos diários não é gerada ordem de serviços dentro de
propriedades particulares para recuperar estradas de acesso...que já
solicitou que fossem formalizadas as demandas com a emissão de
ordem de serviço, porém não foi atendido”.
No depoimento prestado pelo Senhor Ederson foi relatado: “que
atualmente nos serviços prestados pela SEMOBI com as máquinas, não
são geradas ordens de serviços”.
Leonardo Egídio relatou em seu depoimento que “... a designação
das maquinas, ordens de serviços, eram realizadas por Roberto Ganso,
juntamente com Frederico e segui o planejamento”.
Fernando Marques relatou em seu depoimento que: “...as
solicitações chegam por telefone ou processo administrativo e há um
planejamento pelo depoente, mas não há ordem de serviço e padrão
para cada serviço”.
Conforme relatado em quase todos os depoimentos houve um fato
tratando de possível recebimento de propina pelo Senhor Frederico,
pelos relatos, o Senhor João José Nascimento teria oferecido ao
servidor, na época, Frederico Pinto Alves de Paula a quantia de R$
3.000,00( três mil reais).
No depoimento do Senhor Frederico este relatou que: “...no dia
20(outubro) antes do horário de almoço, com as maquinas ainda
paradas, Sr. João chamou o depoente em outro pátio entregou 3 mil
reais ao depoente e entendeu que seria propina. Que entregando o
dinheiro foi solicitado por Sr. João que o depoente não comentasse
nada sobre a questão da máquina”.
Vale lembrar que a notícia de adulteração do horimetro tomou
repercussão no dia 18 de outubro, sendo que conforme relatado pelo
servidor Roberto Francisco Silva, no dia 20 de outubro foi encaminhada
uma correspondência para a empresa AGRONAL, relatando os fatos e
solicitando uma resposta em 10 dias. Verifica-se pelo documento de fl.
03/04 que a notificação foi datada no dia 21/10/2022.
Que conforme fl. 31/34 o Senhor Frederico compartilhou com Sr.
Prefeito, Secretária de Obras e Secretário Adjunto de Obras, a
informação de adulteração dos horímetros no dia 18 de outubro de
2022.
No depoimento do servidor Roberto e confirmado pelo Senhor
Frederico, em reunião ocorrida na Secretaria de Obras, o Senhor
Frederico apresentou a quantia aos presentes, informando que o dono a
AGRONAL o teria subornado com a quantia de 3 mil reais e que aceitou
o dinheiro para o fim de produzir prova do ocorrido.
Verifica-se que a conduta do Senhor Frederico não foi respalda
pelos demais servidores, pois ao receber a quantia, poderia configurar
participação e aceitação inegável por parte do servidor.
Informa o Senhor Frederico em depoimento que: “...na segunda
feira, pela manhã o Sr. João entrou em contato com o depoente, via
telefone e pediu para encontrar, sendo informado pelo depoente que
estava no pátio do Goiabeiras, momento em que ao encontrar com o Sr.
João, o devolveu a mesma quantia, isso tudo filmado”. Nas fl. 61 foi
juntado vídeo a pedido do Senhor Frederico sobre o momento da
devolução do valor de R$ 3 mil reais ao dono da empresa AGRONAL.
Diante de todo o apurado entende esta Comissão por indicar como
responsáveis pelas não conformidades apontadas os seguintes autores,
de acordo com as competências e atribuições de cada cargo, verificando
assim a prova de existência de fato reprovável perante o Estatuto do
Servidor:
Roberto Francisco da Silva – Secretário Adjunto de Obras e
Infraestrutura – conduta: omissão quanto a ausência de tomada de
medidas necessárias para resguardar o patrimônio municipal (não
acionou as autoridades policiais) infringindo assim o previsto no inciso I;
III do artigo 125 da Lei Municipal nº. 3.428/2014;
Frederico Pinto Alves de Paula – servidor exonerado – e há
época dos fatos lotado no cargo Comissionado de ASSESSOR I –
responsável pela fiscalização e acompanhamento dos serviços
prestados por meio do contrato nº. PMC/04/2022 – conduta: operar
equipamento sem que esteja autorizado; omissão quanto a ausência de
tomada de medidas necessárias para resguardar o patrimônio municipal
(não acionou as autoridades policiais); recebeu e manteve em seu poder
quantia em dinheiro (propina) destinada a coibir a atuação de
fiscalização do poder público, infringindo o previsto no inciso I; III; IX do
artigo 125 e inciso XII e XV do artigo 126, todos da Lei Municipal nº.
3.428/2014;
Ederson Vieira Gonçalves – Diretor de Área de Frotas e
Manutenção – Gestor do Contrato nº. PMC/04/2022 – conduta: Deixou
de observar e cumprir regulamento contratual, pela não utilização de
ordens de serviço, consentindo em pratica propicia a causar dano ao
erário, infringindo assim o inciso I; III do artigo 125 da Lei Municipal nº.
3.428/2014;
Leonardo Pinheiro Egídio – Diretor de Área de Conservação de
Prédios Públicos – conduta: Deixou de observar e cumprir regulamento
contratual, pela não utilização de ordens de serviço, consentindo em
pratica propicia a causar dano ao erário, infringindo assim o inciso I; III
do artigo 125 da Lei Municipal nº. 3.428/2014;
Fernando Marques Silva – Gerente de Área de Vias Públicas –
responsável pela fiscalização do contrato nº. PMC/04/2022(responsável
pelo planejamento administrativo e de execução do contrato) – conduta
Diretor de Área de Conservação de Prédios Públicos – conduta: Deixou
de observar e cumprir regulamento contratual, pela não utilização de
ordens de serviço, consentindo em pratica propicia a causar dano ao
erário, infringindo assim o inciso I; III do artigo 125 da Lei Municipal nº.
3.428/2014;
Verificada a prova de existência de fato reprovável perante o
Estatuto do Servidor, conforme enquadramento apresentado, assim
restam indicados os fatos reprováveis e o indicio de suficiente autoria.
Conclui, portanto, esta Comissão pela abertura de processo
disciplinar conforme determina o art. 153 da Lei nº 3428/2014, devendo
o presente processo de sindicância ser encaminhado ao Ministério
Público, pela autoridade competente, conforme determina o artigo
158, tendo em vista os indícios da ocorrência de ilícito penal.

À apreciação do Senhor Prefeito do Município de Congonhas.

Congonhas, 19 de janeiro de 2023.

Ricardo Alexandre Gomes Fabiana da Conceição Silva


Presidente da Comissão Membro
Jonathan Souza Coelho Carmo Ramon Oliveira Dias
Membro Membro

Denise Lima Gonçalves Magalhães Alice Henriques Silva Teixeira


Membro Membro

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