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INSTITUTAS DO JURISCONSULTO GAIO

- Todos os povos regidos por leis e costumes usam um direito que em parte ​lhes é próprio​ e
em outra parte ​comum a todos os homens
- Direito civil (​ius civile​): direito inerente à própria cidade e que cada povo promulga para si
mesmo
- Direito das gentes (​ius gentium)​ : direito que a razão natural constituiu entre todos os
homens e que todos os povos usam
- Nos direitos do povo romano (​direito civil romano/ius civile romano)​ constam: ​leis,
plebiscitos, senatusconsultos, constituições imperiais, editos dos que têm o direito de
promulgá-los e respostas dos prudentes
# ​leis:​ é o que o povo romano (todos os cidadãos, incluindo os patrícios) ordena e constitui
# ​plebiscitos: ​é o que a plebe (demais cidadãos, excluindo os patrícios) manda e constitui;
inicialmente os patrícios não eram submetidos às disposições dos plebiscitos, mas após a
promulgação da lei Hortênsia os plebiscitos passaram a prescrever todo o povo,
equiparando-se às leis
# ​senatusconsultos: ​é o que o Senado ordena e constitui, tendo força de lei
# ​constituições imperiais: ​é o que o imperador ordena mediante decreto, edito ou epístola
tendo, obviamente, força de lei; “tem força de lei o que agrada ao príncipe”
# ​editos dos que têm o direito de promulgá-los: s​ ão ordens dadas pelos que têm o direito de
editá-las, no caso, os magistrados do povo romano; o mais amplo direito é o dos editos dos
pretor urbanos/peregrinos
OBS​: nas províncias, a jurisdição que caberia aos pretores passa a caber aos ​governadores​; os
editos dos ​edis curis ​têm sua jurisdição exercida nas províncias pelos questores (exceção das
províncias de César nas quais não enviam-se questores, ou seja, esses editos lá não existem)
# ​respostas dos prudentes: ​sentenças e opiniões daqueles que podem constituir o direito; se
todos forem de mesma opinião essa resposta terá força de lei, ao passo que se discordarem
caberá ao juiz seguir a resposta que melhor lhe parecer
- Todo o direito usado refere-se às ​pessoas, ​às ​coisas o​ u às ​ações

Às pessoas
- S​ TATUS LIBERTATIS​: ​todos os homens são ​livres​ ou ​escravos​; os homens livres
dividem-se em ​ingênuos​ (nascidos livres) ou ​libertos​ (manumitidos de justa escravidão e
tornando-se ​cidadãos romanos, latinos ​ou ​incluindo o número dos deditícios​)
- ​STATUS CIVITATIS​:
# deditícios: disposição da lei Élia Sência prevê que escravos
algemados/estigmatizados/torturados/designados ao combate/exibidos em espetáculos
públicos/encarcerados que forem manumitidos tornam-se livres do mesmo modo que os
peregrinos deditícios (​ os que outrora lutaram contra o povo romano e entregaram-se à
rendição); os escravos desse tipo que forem manumitidos incluem-se no número dos
deditícios, não alcançando cidadania romana ou latina; obtém péssima liberdade, não
podendo de nenhum modo fazer testamento ou receber por testamento, não podendo
conquistar cidadania romana de nenhum modo e sendo proibidos de residir em Roma ou no
raio de 100 milhas dela sob pena de ter seus bens vendidos em público
OBS​: escravos manumitidos que não são do tipo que se incluem no número dos deditícios
tornam-se ​cidadãos romanos ​ou ​latinos
# cidadãos romanos: aqueles escravos manumitidos que tiveram mais de 30 anos, forem
pertencentes ao senhor por direito dos Quirites (direito romano) e manumitidos por justa e
legítima manumissão (​vindicta, censo o​ u ​testamento​)
# cidadãos latinos: os que não cumprirem todas as condições para tornarem-se cidadãos
romanos quando manumitidos; não se permite que eles próprios façam testamento, nem que
recebam diretamente o título de herança ou legado por testamento (​mas podem receber por
fideicomisso*​) e nem serem dados como tutores em testamento
*fideicomisso: estipulação testamentária em que o testador constitui uma pessoa como
herdeiro/legatário impondo certa condição que, quando verificada, faz com que a pessoa
transmita a outrem, indicada pelo testador, o legado/herança (​substituição de herança/legado​)
- Escravos que manumitidos tornam-se cidadãos latinos são chamados de ​latinos junianos
(latinos por assimilarem-se aos latinos coloniários, junianos pois recebem a liberdade pela lei
Júnia)
- Como os cidadãos latinos podem obter direito quiritário (conquistar cidadania romana)?
# lei Élia Sência determinou que os menores de 30 anos manumitidos e tornados latinos que
se casarem com cidadãs romanas/latinas coloniárias/de sua mesma condição (provando isso
diante de 7 testemunhas cidadãs romanas púberes), e procriarem um filho que ao atingir 1 ano
seja apresentado ao pretor ou ao presidente da província, podem, o homem e a mulher,
receber a cidadania romana por vontade do magistrado a que se apresentam
OBS​: mulher cidadã romana e homem cidadão latino o filho nasce com a condição da mãe
(filho nasce cidadão romano)
# esse direito de obter a cidadania romana, além de disposto na lei Élia Sência, foi também
previsto por senatusconsulto, estendendo essa possibilidade aos menores de 30 anos e aos
maiores de 30 anos manumitidos que tornaram-se cidadãos latinos
# se morreu cidadão latino antes de provada a causa, pode a mãe, provando a causa, tornar-se
cidadã romana
# lei Visélia: os manumitidos maiores ou menores de 30 anos que tornaram-se latinos obtém
a cidadania romana se, em Roma, exercerem por 6 anos funções de guarda noturno
# edito de Cláudio: aqueles que construírem navio para navegação de no mínimo dez mil
alqueires de trigo, ou que transportam trigo para Roma durante 6 anos
# senatusconsulto: aqueles que completarem um triênio de milícia
# disposição de Nero: aqueles que tiverem patrimônio de 200 mil sestércios ou mais e
edificarem, em Roma, casa na qual empregassem mais da metade desse patrimônio
# disposição de Trajano: aqueles que exercerem por um triênio em Roma a profissão de
padeiro, empregando por dia mais que 100 alqueires de trigo
# aqueles que forem manumitidos novamente por aquele a quem pertencem, dessa vez
maiores de 30 anos e cumprindo os requisitos para alcançar a cidadania romana (​“se o
escravo computado entre os teus bens for meu, tu podes a ele dar manumissão pela 1ª vez
tornando-o latino, mas a 2ª manumissão cabe a mim, tornando ele cidadão romano e meu
liberto; porém, os bens que ele deixar quando morrer a ti será dada a posse”​)
- ​STATUS FAMILIAE​: algumas pessoas são ​sui iuris​ (não estão sujeitas a direito alheio, são
independentes, são “donas de si”, não devem nada a ninguém) e outras são ​alieni iuris ​(estão
sujeitas a direito e poder alheio)
*​alieni iuris:
# escravos → ficam sob o poder dos senhores, que têm sobre os escravos direito de
propriedade; esse poder é advindo do direito das gentes, pois em quase todos os povos o
senhor tem poder de vida e morte sobre o escravo, e tudo o que o escravo adquire é para o
senhor; não é mais lícito a ninguém castigar exageradamente ou sem causa seus escravos:
conforme dispôs a constituição do imperador Antonino, aquele que matar seu escravo sem
causa recairá à jurisdição da mesma forma daquele que matou escravo alheio; ademais, essa
constituição também sancionou a crueldade excessiva dos senhores, fazendo com que se os
maus-tratos forem absurdos o senhor seja obrigado a vender seu escravo
# filhos → ficam sob o poder dos pais (​pátrio poder/pater potestas​) os filhos gerados por
justas núpcias, tendo os pais direito de disciplinar e de fazer obedecer; poder próprio do
direito civil romano; os cidadãos romanos têm seus filhos sob seu pátrio poder se casarem
com mulheres romanas ou se tiverem conúbio com latinas/peregrinas (como pelo conúbio os
filhos seguem a condição paterna pois considera-se justas núpcias, nascem cidadãos romanos
e recaem sob o pátrio poder do pai)
# pessoas ​in mancipio → ​pessoas do sexo masculino/feminino que se encontram em poder do
pai podem ser mancipadas da mesma forma que os escravos, assim como as pessoas ​in manu
que podem ser mancipadas pelos coempcionadores; mancipação é como uma venda
imaginária na presença de 5 testemunhas cidadãs romanas púberes e o libripende (carrega a
balança de bronze); mancipam-se desse modo: pessoas livres e escravas, animais que são
coisas ​mancipi c​ omo bois, cavalos, mulas e asnos, terrenos itálicos, prédios urbanos ou
rústicos; mancipação X coempção: mulher, fazendo a coempção, não se reduz à condição de
escrava, enquanto que mancipados ficam na mesma condição que escravos, só podendo
receber herança/legado se a pessoa sob cujo mancípio estejam simultaneamente, no mesmo
testamento, manumiti-las e instituí-las como herdeiras/legatárias

***CASAMENTO: ​não nos é lícito casar com quaisquer mulheres​; quem contrair núpcias
execráveis e incestuosas não se considera que tenha mulher nem filhos (aos nascidos dessa
mera união considera-se que tenham apenas mãe, assemelhando-se a condição dos filhos de
pai incerto, chamados de ​filhos espúrios​, ou seja, filhos sem pai); ​proibições de casamento​:
# entre pessoas que mantém relações de pai a filho, mesmo que por adoção e ainda após
dissolvida a adoção (ex: pai e filho, mãe e filha, avô e neta)
# entre irmão e irmã, quer sejam descendentes de mesmos pai e mãe, quer sejam de só um
deles; nesse caso, não pode-se unir com a irmã adotiva enquanto durar a adoção, mas após a
minha emancipação ou a dela é permitido o casamento
# com tia materna/paterna
# com 2 mulheres ao mesmo tempo
# com quem outrora foi sogra, nora, enteada ou madrasta
# com filha de minha irmã (OBS: é lícito casar com filha de meu irmão, após reforma feita
pelo imperador Cláudio para casar-se com Agripina, filha de seu irmão)
- Às vezes ocorre a filhos que não caem sob poder do pai desde o nascimento, mas que
posteriormente ficam sob o pátrio poder → latino casado com mulher da qual teve filho latino
ou com cidadã romana da qual nasceu cidadão romano não terá o pátrio poder sobre o filho, a
não ser que seja provada a causa e adquira o direito quiritário → o mesmo ocorre com
cidadão romano que se casa com latina/peregrina acreditando ser ela cidadã romana: se tiver
dela um filho não estará sob seu pátrio poder pois o nascido não será cidadão romano,
seguindo a condição da mãe de latina/peregrina → em decorrência de um senatusconsulto é
permitido provar a causa do erro cometido e garantir cidadania romana ao filho e a mulher,
recaindo ambos sob o poder do pai → contradição: se cidadã romana casasse por erro com
peregrino ele poderia tornar-se cidadão romano, porém, se cidadão romano casasse por erro
com peregrina ela não se tornaria cidadã romana
- “Nenhum filho segue a condição paterna a não ser que tenha havido conúbio entre pai e
mãe”
- Se um cidadão romano casar-se com peregrina com a qual tem conúbio, contrai com ela
justas núpcias e o filho é cidadão romano, recaindo sob o poder do pai → dessa mesma forma
se a cidadã romana se casar com peregrino, mesmo não havendo conúbio o filho é legítimo
do pai
- Disposição da lei Minícia: contraído casamento entre cidadão romano e peregrina, sem
conúbio anterior, o nascido segue a condição do pai peregrino; também, cidadão romano que
se casa com peregrina, têm nascido peregrino (há espaço para divergências)
- Nascido de cidadão romano e latina nasce latino
- Entre latino e cidadã romana o nascido é cidadão romano
- Pelo conúbio o nascido segue a condição do pai, ao passo que o nascido de matrimônio
contraído diferentemente segue a condição da mãe pelo direito das gentes
- Senatusconsulto do imperador Adriano: segue a condição da mãe tanto o nascido de latino e
peregrina como o nascido de peregrino e latina
- Nascido de cidadã romana e peregrino é peregrino, a não ser que tenha havido entre eles
conúbio
- Nascido de escrava e homem livre nasce escravo, ao passo que o nascido de mulher livre e
escravo nasce livre
- Nascido de mulher livre com escravo alheio nasce escravo
- Nas hipóteses em que o nascido segue a condição materna e não a paterna ele não cai sob o
pátrio poder, mesmo que o pai seja cidadão romano
- Se escrava conceber de cidadão romano, for manumitida e tornada cidadã romana, vindo a
dar a luz nessas condições, o nascido será cidadão romano mas não cairá sob o pátrio poder
pois não foi concebido em relação legal
- Concebidos ilegitimamente: ficam no estado em que a mãe tem no tempo do nascimento
- Concebidos legitimamente: ficam no mesmo estado que a mãe estava durante a concepção
***ADOÇÃO: tanto filhos naturais quanto adotivos estão sob nosso poder; a adoção
funciona de dois modos:
# pela autoridade do povo: ​AD-ROGAÇÃO​ → adoção de pessoas ​sus iuris​, havendo
consulta recíproca para expressar a vontade do adotante e do adotado; feita em Roma ou nas
províncias perante governadores
# por ordem de magistrados (ex: pretor): ​ADOPTIO​ → os que estão sob poder dos pais, ou
seja, adoção de pessoas ​alieni iuris​, sendo descendentes de 1º grau (filho/filha) ou de graus
inferiores (neto/neta, bisneto/bisneta)
- Não se adotam mulheres por autoridade do povo, porém, perante o pretor ou perante o
procônsul/legado nas províncias, a adoção de mulheres é feita
- Por autoridade do povo certas vezes aceita-se a adoção de impúberes e certas vezes não
- Impotentes e eunucos podem adotar
- Mulheres não podem adotar pois não tem sob seu poder nem os filhos naturais
- Pode-se dar o adotado em adoção a outrem por qualquer tipo de adoção (seja por autoridade
do povo, perante pretor ou perante presidente da província)
- No caso de adoção perante o povo, se o ad-rogado tiver filhos sob seu poder, sujeitam-se ele
e seus filhos ao poder do ad-rogante, ficando eles como espécie de netos do adotante

***PESSOAS ​IN MANUS​: direito exclusivo de cidadãos romanos; tanto homens quanto
mulheres podem cair sob poder de outrem, porém só as mulheres caem sob a ​manus; ​se por
qualquer motivo a mulher estiver sob a ​manus ​do marido, entende-se que ela adquire os
direitos de filha, ficando no “lugar de filha” (​in loco filiae)​ ; ocorre de 3 modos:
# pelo uso: mulher que permanecesse casada sem interrupção durante 1 ano era usucapida,
passando para a família do marido e ocupando o lugar de filha (​in loco filiae)​ → se não
quisesse ficar ​in manu​, conforme disposição da Lei das 12 Tábuas, deveria ausentar-se
anualmente por 3 noites seguidas (​usurpatio trinoctii)​ ; esse direito em parte foi abolido e em
parte simplesmente caiu em desuso
# por ​confarreatio: ​cerimônia religiosa em que era feita uma espécie de sacrifício a Júpiter
Fárreo
# por ​coemptio: ​venda simulada na presença de 5 testemunhas cidadãs romanas púberes e do
libripende (portador da balança) → a mulher pode recorrer à coempção não só com o marido,
mas também com estranho, sendo feita por matrimônio (ficando ​in loco filiae)​ ou por fidúcia
(feita seja por marido, ficando então ​in loco filiae​, seja por estranho, com a finalidade de
evitar a tutela e afastar o tutor)

***COMO LIBERTAM-SE OS QUE ESTÃO SUJEITOS A PODER DE OUTREM:


- Escravos por manumissão
- Pessoa sujeita ao pátrio poder pela morte do ascendente → sempre que morto o pai os
filhos/filhas tornam-se ​sui iuris​, porém morrendo o avô tornam-se ​sus iuris​ ​somente se não
houver mais possibilidade recaírem sob o pátrio poder de seu pai (por exemplo por ele estar
morto)
- O autor de certos crimes, punido com exílio pela lei Cornélia, perde a cidadania romana e
seus filhos ficam libertos de seu poder, do mesmo modo que se ele estiver sujeito a poder de
algum ascendente também fica liberto
- Se feito prisioneiro pelo inimigo fica suspenso o pátrio poder, pelos direitos de
postliminium​, sendo sujeito a readmissão quando retornar (​postliminium​ prevê que os
prisioneiros que retornam à pátria readquirem todos os direitos primitivos); morrendo o pai
no cativeiro, os filhos tornam-se ​sus iuris;​ do mesmo modo, se os prisioneiros forem
filhos/netos, o poder a que estavam sujeitos também fica suspenso pelos direitos de
postliminium
- Libertam-se do pátrio poder os filhos pela consagração, flâmine Diales, e as filhas
tornando-se virgens Vestais
- Filhos do sexo masculino libertam-se do pátrio poder mediante emancipação por 3
mancipações, ao passo que filha do sexo feminino e demais descendentes se emancipam por
apenas 1 mancipação
- Emancipação: o pai mancipa o filho a outrem
- Emancipação do filho de sexo masculino: mancipa, manumite, mancipa, manumite e
mancipa; para que o filho seja herdeiro do pai natural e não do pai fiduciário, após a terceira
mancipação deve ser remancipado pelo pai fiduciário e manumitido pelo pai natural
- Pai pode emancipar o filho e conservar o neto, emancipar o neto e conservar o filho ou
tornar todos ​sus iuris
- Pai que dá o filho em adoção deixa de tê-lo em seu poder
- Mulheres que ficam ​in manu​ deixam de estar sob o pátrio poder
- Uma vez feita a coempção as mulheres libertam-se completamente do pátrio poder
- Mulheres saem da ​manus ​de modo idêntico àquele pelo qual as filhas libertam-se do pátrio
poder
- Diferença entre fazer a coempção com o marido e com estranho: ao marido não pode-se
coagir à remancipá-la (do mesmo modo que filha não coage o pai), ao passo que ao estranho
pode
- Os que estão ​in mancipio​, se manumitidos por ​vindicta​, por censo ou por testamento,
tornam-se ​sus iuris
- Pode-se conseguir a liberdade mediante o censo mesmo contra a vontade da pessoa cujo
mancípio está
- Mancipação em virtude de ação noxal → pater tinha a possibilidade de abandonar o filho à
parte ofendida por esse para se livrar de possíveis reparações patrimoniais (​abandono noxal)​

***TUTELA: administração de bens e negócios daqueles que por disposições necessitam


dessa gestão
- Pais podem nomear tutores em testamento aos filhos que têm sob seu poder, sendo
impúberes do sexo masculino ou mulheres de qualquer idade e até casadas (pois as mulheres
têm “instabilidade de caráter”)
- Quando dá-se tutor por testamento a filho/filha, atingindo a liberdade o filho liberta-se da
tutela, mas a filha permanece → mais tarde por lei as mulheres libertam-se da tutela apenas
em razão do direito dos filhos (​ius liberorum)​ , com exceção das virgens Vestais
- Pode-se nomear tutor por testamento aos meus netos/netas somente para que após a minha
morte não caiam sob poder do pai → portanto se meu filho estiver em meu poder, na época
de minha morte, meus netos não poderão receber tutor por meu testamento, caindo todos sob
poder do pai
- Como em vários casos os filhos póstumos equivalem-se aos já nascidos, decidiu-se poder
nomear tutor a filho póstumo
- À mulher que está ​in manu,​ assim como à filha e também à nora que está ​in manu​ do filho
(ocupando lugar de neta), pode-se nomear tutor
- Mulher ​in manu​ ganha a liberdade do marido para escolher o tutor que quiser, seja para
todos os fins, seja para 1 fim, 2 fins etc
- Opção plena (mulher pode optar pelo tutor quantas vezes quiser) X opção limitada (mulher
só pode optar quantas vezes forem prescritas)
- Tutores especialmente nomeados são chamados de ​dativos
- ​Tutores selecionados por opção são chamados de ​optativos
- Pela Lei das 12 Tábuas os agnatos são chamados ​tutores legítimos;​ agnatos = unidos em
parentesco pelas pessoas do sexo masculino, sendo instituto do ​ius civile romano ​(ex: irmão
nascido de mesmo pai, filho de irmão, tio paterno etc)
- Os unidos por parentesco de pessoas de sexo feminino não são agnatos, mas cognatos, ou
seja, parentes pelo direito natural (ex: tio materno, filho da irmã etc)
- Os direitos de agnação cessam com alteração de capacidade, ao passo que os direitos de
cognação não cessam do mesmo modo, pois leis civis podem alterar direitos civis mas não
atingir direitos naturais
- Lei Cláudia aboliu tutores agnatos para as mulheres
- Impúbere do sexo masculino tem como tutor o irmão púbere ou o tio paterno
- A tutela cabe aos agnatos, mas não a todos eles concomitantemente, somente aos de grau
mais próximos
- Tutela dos libertos e dos filhos de libertos compete ao patrono e aos filhos deste, sendo
tutela legítima
- ​A herança dos libertos mortos sem testamento cabe aos patronos e filhos deste
- ​Tutela fiduciária: q​ uando manumitimos uma pessoa livre a nós mancipada pelo pai ou
coempcionador; porém, a tutela dos latinos e latinas impúberes não cabe aos manumissores,
mas sim aos quais pertencem por direito quiritário (se a escrava se tornou latina por aquele a
quem pertence, ou entre os bens ou por direito quiritário, os bens e a tutela cabem ao senhor);
não há possibilidade nesse tipo de tutela de o tutor ceder o seu posto (revogar a tutela)
- Foi permitido aos agnatos e patronos, bem como aos manumissores de indivíduos livres,
ceder a tutela das mulheres a outrem perante o magistrado (​in iure​) → isso não se aplica
perante a tutela dos pupilos
- ​Tutor cessionário​ → aquele a quem se outorga a tutela, a quem se cede a tutela; morrendo
ou tutor cessionário ou sofrendo alteração de capacidade, a tutela volta a quem a cedeu
- Por senatusconsulto foi permitido às mulheres solicitar outro tutor em lugar do ausente, e
com essa solicitação extinguia-se a tutela do ausente (isso não é lícito no caso de a liberta
solicitar outro tutor para o patrono ausente)
- Filho do patrono, ainda impúbere, torna-se tutor da liberta embora não possa impor a esta
sua autoridade
- Se a liberta estiver sob tutela legítima de louco/mudo permite-se solicitar tutor para
constituição de dote
- Tutor suspeito removido da tutela ou aquele que não pode ser tutor por justa causa,
nomeava-se outro tutor no lugar revogando a tutela do 1º; em Roma o tutor é solicitado ao
pretor e nas províncias ao presidente das províncias
- Dava-se também tutor no caso de haver conflito entre tutor e mulher/pupilo, pois não
podia-se agir em causa própria; esse tutor que substituía em caso de conflito chamava-se ​tutor
pretoriano
- Quem não tiver nenhum tutor receberá: em Roma, pelo pretor urbano ou tribuno da plebe,
um tutor chamado ​tutor atiliano (​ em virtude da lei Atília); na província pelo presidente da
província, seguindo disposições das leis Júlia e Tícia
- Por essas leis acima mencionadas: se for dado tutor a alguém, em testamento, com certa
condição, pode ser efetivado tutor enquanto não estiver pendente a condição; sendo dado
tutor enquanto não houver herdeiro deve este ser pedido, deixando ser tutor depois que outro
o substituir
- Tutor capturado pelo inimigo deve ser substituído, podendo, se voltar à pátria, restituir a
tutela pelos direitos do ​postliminium
- ​Pelo direito de todas as cidades os impúberes estão sob tutela, pois pela razão natural deve
ser nomeado tutor àqueles que não atingiram a idade legal
- Nenhuma ação fundada na tutela é facultada à mulher contra o tutor, pois mulheres que já
atingiram idade legal só possuem tutor por formalidade
- Quando os tutores administram os negócios dos pupilos devem prestar contas de sua tutela
após atingida a puberdade
- A puberdade é atingida aos 14 anos pelos homens e aos 12 anos pelas mulheres
- Entre peregrinos as mulheres não estão em tutela como entre os cidadãos romanos,
alocando-se em situação semelhante à tutela dos pupilos nesse caso
- Ingênuas se libertam da tutela ao terem 3 filhos, ao passo que libertas que estejam sob tutela
do patrono ou filhos deste libertam-se tendo 4 filhos (pois as que libertas que estão sujeitas a
outro tipo de tutela que não a do patrono libertam-se tendo 3 filhos)
- Jovens que atingem a puberdade libertam-se da tutela
- A fim de que os bens dos pupilos que estão sob tutela ou dos adultos que estão sob curatela
não sejam diminuídos nem consumidos por curador/tutor, o pretor ordena que prestem caução
(espécie da garantia aos assistidos); exceções: não precisam prestar caução os tutores
testamentários e nem os curadores designados por magistrados

***​MANUMISSÃO​: ato de conceder liberdade a outrem; lei Élia Sência dispôs idade fixa
para o escravo ser manumitido; escravo com menos de 30 anos não torna-se cidadão romano,
a não ser que seja manumitido por ​vindicta; m ​ aiores de 30 anos costumam ser manumitidos
por pretor ou procônsul quando estes vão às termas ou ao teatro; menores de 30 anos podem
tornar-se cidadãos romanos se for deixado, por senhor insolvente, livre o herdeiro por
testamento e nenhum outro herdeiro o excluir; formas legítimas de manumissão:
​ anumissão com aprovação de justa causa frente ao Conselho*; há justa causa
# ​vindicta: m
quando manumitir, frente ao Conselho, filho/filha, irmão/irmã naturais, aluno, professor,
escravo para torná-lo procurador ou escrava para casar-se
*Conselho: em Roma é formado por 5 senadores e 5 cavaleiros romanos púberes; nas
províncias é formado por 20 recuperadores
# ​por testamento: ​libertação mediante estipulação testamentária, como desejo último do
senhor
# ​entre amigos: d​ eclaração de desejo de libertar o escravo feita em presença de amigos
# ​por censo: n​ ome do escravo é inscrito na lista de livres dos censores (aqueles que realizam
o ​censo romano​, que trata da averiguação de bens, posses e situação do povo romano)
OBS​: não é qualquer um que pode manumitir → é nula a manumissão em fraude de credores
ou patronos, sendo proibida pela lei Élia Sência; é proibido manumitir menor de 20 anos, a
não ser que o faça por ​vindicta;​ menor de 14 anos não pode ser manumissor, a não ser que
prove a causa frente ao Conselho e posteriormente faça a manumissão ​entre amigos;​ lei Fífia
Canínia dispôs modos de manumitir escravos por testamento:
# quem tiver mais de 2 e não mais de 10 escravos pode manumitir a metade desse total
# quem tiver mais de 10 e não mais de 30 escravos pode manumitir até ⅓ desse total
# quem tiver mais de 30 e não mais de 100 pode manumitir até ¼ desse total
# quem tiver mais de 100 e não mais de 500 pode manumitir até ⅕ desse total
# não é lícito ninguém manumitir mais do que 100 escravos por testamento

Às coisas
- ​Ou estão em nosso patrimônio ou fora de nosso patrimônio
- ​Coisas de direito divino:​ n​ ão podem estar sob os bens de alguém, podendo não pertencer a
ninguém, sem proprietário (exemplo de algo que não pertence a ninguém: coisas hereditárias
não são de ninguém antes de aparecer herdeiro); dividem-se em ​coisas sagradas, coisas
religiosas e​ ​coisas santas:
# ​coisas sagradas: dedicadas aos deuses superiores; considera-se sagrado somente o que é
sacramentado pela autoridade do povo romano, como por uma lei ou senatusconsulto; o que
nas províncias não é consagrado pela autoridade do povo romano não é propriamente
sagrado, embora seja considerado como tal
# coisas religiosas: torna-se religioso, por nossa vontade, um lugar em nossa propriedade em
que se enterre um morto, desde que se realize seu enterro; no que tange ao território
provincial, como não está sob nosso domínio (temos apenas posse ou usufruto de território
provincial) encontrando-se sob dominação do povo romano ou de César, a maior parte
entende que o território não se torna religioso. Porém, embora não religioso, o território
provincial é considerado como tal
# coisas santas: muros e portas da cidade
- ​Coisas de direito humano:​ públicas​ (não estão entre os bens de ninguém, sendo coisas da
própria comunidade) X ​privadas​ (coisas dos particulares)
- ​Coisas corpóreas (​ podem ser tocadas; casa, escravo, vestido, ouro, prata etc) X ​coisas
incorpóreas​ ​(não podem ser tocadas, constando em direitos; sucessão, herança, usufruto,
obrigações, direitos/servidões dos prédios urbanos e rústicos)
- ​Direitos/servidões dos prédios urbanos: l​ evantar a construção das casas, não elevar muito
as construções para não ofuscar luz dos vizinhos, poder receber corrente de água vizinha,
abrir esgotos e frestas para luz
- ​Direitos/servidões dos prédios rústicos: e​ ntrada, caminho, passagem, conduzir rebanhos
- ​Coisas mancipi​: ​propriedades e construções em solo itálico, escravos e animais domáveis
pelo pescoço ou dorso (bois, cavalos, mulos e asnos), solo itálico, servidões dos prédios
rústicos (transferida esse tipo de propriedade por mancipação ou ​in iure cessio)​ ;
transferem-se mediante mancipação ou ​in iure cessio (​ perante magistrados ou perante
presidentes nas províncias)
- ​Coisas nec mancipi​: q​ uase todas as coisas incorpóreas, solo provincial, animais ferozes
(ursos, leões), animais quase ferozes (elefantes, camelos), servidões dos prédios urbanos
(transferida esse tipo de propriedade mediante, somente, ​in iure cessio​), prédios
estipendiários (localizados nas províncias consideradas propriedades do povo romano) e
tributários (localizados nas províncias consideradas propriedades do César); sendo corpóreas,
e por isso suscetíveis de tradição, tornam-se propriedade de outros de pleno direito, pela
própria tradição (se eu fizer tradição de um vestido a coisa torna-se tua imediatamente,
contanto que tenha sido eu o dono)
- Coisas incorpóreas não admitem tradição
- Nexo é, segundo velhos autores, direito próprio do solo itálico, não existindo nexo do solo
provincial
- Prédios itálicos = suscetíveis a mancipação ou ​in iure cessio; p​ rédios provinciais =
suscetíveis a pactos e estipulações pois não admitem mancipação nem ​in iure cessio
- Usufruto​ (direito conferido a alguém, durante certo tempo, para gozar ou fruir de um bem
cuja propriedade pertence a outrem) somente admite a ​in iure cessio​, pois o dono da
propriedade pode ceder a outrem, ​in iure,​ o usufruto, ficando ele com o usufruto e o
proprietário com a nua-propriedade
- Instituindo usufruto sobre escravos e outros animais, mesmo nas províncias, admite-se ​in
iure cessio
- Exceção: permite-se transferência de usufruto por mancipação, se desmembrando da
propriedade mancipada → o próprio usufruto é mancipado, mas ao desmembrado da
propriedade mancipada pode estar o usufruto com uma pessoa e a propriedade com outra
- ​Herança s​ ó admite ​in iure cessio → ​se aquele a quem pertence a herança por ser legítimo,
sem testamento, cede-a ​in iure a​ outrem antes de apresentar-se herdeiro, torna aquele a quem
tiver sido cedida a herança como chamado herdeiro por lei → cedendo após ter se declarado
herdeiro continua herdeiro e é responsável perante os credores (os créditos desaparecem,
assim os devedores hereditários se beneficiam)
- Herdeiro testamentário nada faz cedendo a herança ​in iure​ antes da adição → cedendo
depois de aceitá-la ocorre o mesmo que herdeiro sem testamento que cede a herança ​in iure
após ter se declarado herdeiro
- Obrigações contraída de outro modo não se revestem de nenhuma dessas formas
- Entre os peregrinos existe somente um tipo de domínio, porque alguém é ou não é
proprietário
- Fazendo eu apenas a tradição da coisa e não a mancipação ou a ​in iure cessio​ de coisa
mancipi,​ esta se inclui entre os teus bens, continuando minha por direito dos Quirites até ser
usucapida por posse → uma vez ultimado o usucapião começa a ser tua a coisa
- Usucapião de coisas móveis completa-se em 1 ano, e o dos terrenos e edifícios em 2 anos,
segundo disposições da Lei das 12 Tábuas
- Coisas ​mancipi o​ u ​nec mancipi​ que não forem entregues pelo dono podem ser possuídas por
usucapião, contanto que as recebemos de boa-fé, crendo que é o proprietário quem fez a
tradição
- Usucapião de coisas furtadas (Lei das 12 Tábuas) e usucapião de coisas obtidas mediante
violência (Lei Júlia e Pláucia) são proibidos
- Não se usucapem prédios provinciais
- Não se usucapem as coisas ​nec mancipi​ da mulher sob tutela dos agnatos, a não ser que a
própria mulher fizesse tradição delas assistidas pelo tutor (Lei das 12 Tábuas)
- São insuscetíveis de usucapião os homens livres e as coisas sagradas e religiosas
- Os que roubaram ou conquistaram por violência não podem usucapir, não por disposição
legal, mas porque possuem de má-fé
- É raro caber o usucapião de coisa móvel ao possuidor de boa-fé, pois quem vende e faz
tradição de coisa alheia comete furto → também comete furto o usufrutuário da escrava se lhe
vender o produto do parto ou doá-lo
- Pode também alguém obter sem violência a posse de terreno alheio vago por negligência do
proprietário/proprietário que morreu sem sucessor/ausentou-se por longo tempo → se
transfere essa posse a outro de boa-fé poderá o possuidor usucapi-lo
- Pode acontecer que alguém sabendo alheia a coisa possuída possa usucapi-la, como quando
possui bem hereditário, cujo herdeiro ainda não entrou na posse desse bem, permitindo que
adquira por usucapião → “​pro herede” ou lucrativa → s​ enatusconsulto, por Adriano, passou
a revogar esse usucapião
- Certas coisas são alienadas por direito natural, como as que são transferidas mediante
tradição, ao passo que outras são alienadas pelo direito civil porque a mancipação, a​ in iure
cessio e​ o usucapião são pertinentes aos cidadãos romanos

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