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2021

A importância do Código
Visigótico na História do
Direito Peninsular
COMENTÁRIO DE TEXTOS
JOANA CUNHA, N.º 202004214
MARIANA NUNES, N.º 202009296
RUI RAMOS, N.º 202005109
TURMA 3, DIREITO
1. Apresentação

▪ Contextualização do Código Visigótico


▪ Composição
▪ Características

- Cronologia das fontes normativas visigóticas mais importantes:


Código de Eurico (475 ou 476), Breviário de Alarico (506), Lei de Teudis
(546), Código Revisto de Leovigildo (580) e Código Visigótico (654), nas
suas duas primeiras versões.
▪ Cronologia das versões do Código Visigótico:
1) Código Visigótico – 654
a) Forma Recesvindiana – 654
b) Forma Ervigiana – 681
c) Forma Vulgata (não oficial – última fase da dominação visigótica
até à Reconquista Cristã)
- Conteúdo dos Livros que integram o Código Visigótico:

Livro I – Forma de criação normativa e sobre Livro VII – Furtos e Burlas (Enganos)
o legislador
Livro II – Processos, delitos e causas Livro VIII – Violência e danos inferidos
(assuntos judiciais)
Livro III – Matrimónio, Divórcio, Adultério Livro XIX – Fugitivos e Desertores
Livro IV – Linhagem natural (Sucessões) Livro X – Divisões (das terras), períodos de
tempo e prazos
Livro V – Contratos e Transações Livro XI – Doentes, Mortes e Transações
Marítimas
Livro VI – Crimes e penas (Processo Penal) Livro XII – Proibição de abusos judiciais e
extinção de todos os hereges (Judeus)
Comentário de textos:
Texto 1: II. 1, 2 (Que tanto la potestad real como la totalidad de los pueblos
estén sujetos a la observancia de (reverentie) las leyes)

Tradução:
Flávio Recesvindo, Rei Glorioso
“Que tanto o poder real, como a totalidade dos povos estejam sujeitos à observância das leis.
O senhor omnipotente e criador único do mundo, velando pelos benefícios da salvação
humana, ordenou de uma maneira conveniente que, por meio dos sagrados preceitos da lei
sagrada, os habitantes da terra aprendam a justiça. E, dado que por ordem da divindade única
e da imensidão destas coisas que estão impressas no coração dos homens, convém que todos
os seres terrenos, até aos poderes mais elevados, submetam o seu pescoço e a sua mente
àqueles a quem obedecem servilmente, até à dignidade da milícia celestial. Por isso, se se quer
obedecer a Deus, há que amar a Justiça; se esta é amada, será preciso com toda a urgência
atuar de acordo com ela, que cada um estima com mais verdade e mais ardor quando, pela
sentença de uma equidade indivisível, se obriga a se mesmo para com o próximo. Acolhendo,
pois, de bom grado os mandamentos celestiais, damo-nos ao mesmo tempo a nós próprios
e aos nossos súbditos uma leis simples, a obediência às quais fica submetida à clemência de
nossa exaltação e dos novos reis futuros que nos sucederão, juntamente com toda a multidão
geral do nosso reino, de maneira a que nenhuma pessoa nem nenhuma dignidade constituída
de poder, não se considere alheia à custódia das leis que se dão aos súbditos por nenhuma
classe de fação, já que os súbditos estão obrigados a respeitar a lei por necessidade e, os
príncipes, por vontade própria.”
Texto 2 – II. 1, 3 (Que nadie pueda ignorar las leyes)

Tradução:
Flávio Recesvindo, Rei Glorioso

“Que ninguém possa ignorar as leis

Todo o conhecimento correto está ordenado a rejeitar a execrável ignorância. Dado que foi
escrito: “Não quis entender para poder fazer o bem”, é mais que certo que aquele que não
quis entender, não pretendia fazer o bem. Que ninguém, portanto, pense que lhe está
permitido fazer algo ilícito porque se diz ignorante dos decretos e das sanções das leis; porque
o pretexto de ignorância não fará inocente aquele a quem a culpa implique as penas dos
malfeitores.”
Texto 3 - II. 1, 8 (De aquellos que huyen del príncipe, del pueblo o de la patria, y de
aquellos que se rebelan en su contra)

Tradução:
Flávio Chindasvindo, Rei
“Daqueles que fogem do príncipe do povo ou da pátria, e daqueles que se rebelam contra ela

Com quantas derrotas foi golpeada até agora a pátria dos godos, como é torturada
continuamente pelas chicotadas dos desertores, assim como pela nefasta soberba (arrogância)
dos traidores é coisa bem conhecida por todos que reconhecem o empequenecimento da
pátria e que nos vemos obrigados a tomar as armas mais por aquele motivo do que para
atacar inimigos exteriores. Portanto, para que desapareça definitivamente esta funesta
temeridade e para que os crimes manifestos desta classe de transgressões não fique de agora
em diante sem castigo, decretamos, mediante esta lei que há-de valer para todos os séculos,
que qualquer um desde o tempo do príncipe Quintiliano de venerável memoria, até ao
segundo ano do nosso reinado por graça de Deus, ou desde o momento presente até sempre,
se se for com um povo inimigo ou a um lugar estranho, ou bem, que se vá embora ou
simplesmente queira ou quis ir-se embora, de uma maneira com atrevimento criminal atue
contra o povo ou a pátria dos godos, ou intente talvez atuar de alguma forma ou tenha sido
capturado ou descoberto, ou bem se alguém, desde o primeiro ano do nosso reinado e de
agora em diante intentasse promover no ambiente da pátria dos godos qualquer classe de
perturbação ou de escândalo ou oposição ao nosso reino e ao nosso povo, ou bem se desde
o tempo do nosso governo intentou alguma vez fazer ou preparar tais coisas, e também,
coisa que parece indigna de mencionar, se se descobrir ou tiver descoberto que intentava ou
havia intentado a nossa morte ou a nossa queda ou a dos reis subsequentes: qualquer que
seja achado culpado de todos estes crimes ou bem de apenas um deles, ainda que não seja
castigado com a pena de morte ou não sofra a privação dos seus olhos, segundo havia sido
ordenado até agora nesta lei, realmente, depois de esculpi-lo, que receba cem açoites, que
seja castigado com exílio perpétuo e o mais afastado possível e que nunca possa regressas
nunca mais à dignidade de um cargo palatino; antes ao contrário, convertido ao servo do
príncipe e reduzido a cadeia perpétua da servidão do poder do príncipe, permanecerá para
sempre castigado com a pena de exílio. Por outro lado (os seus bens) passarão ao poder do
rei e àquele a que lhos haja dado, possui-los-á para sempre com toda a segurança, de maneira
a que nunca nenhum dos sucessores intente, de alguma maneira, tirar-lhos, colocando-se em
risco de desonrar a sua causa e a do povo. Mas como frequentemente há muitos que,
enquanto se ocupam de tais malvados pensamentos, se descobre que com um engenhoso
pretexto têm passado ou melhor passaram os seus bens às igrejas, ou às suas mulheres, aos
seus filhos, aos amigos ou a qualquer outra pessoa e inclusive voltam a receber de novo
aquelas coisas que transferiram para o domínio de outro com calculada astúcia, reclamando-
as por direito como precárias para tê-las novamente sob a sua posse, do que resulta que não
perderam nenhum dos seus bens, a não ser que unicamente, com uma combinação cheia de
falsidade, tenham feito unas escrituras fictícias como se fossem verídicas, por isso, com o
decreto da presente lei decidimos cortar esta injusta argúcia, de maneira que, desprezadas,
anuladas e rescindidas as escrituras feitas com esse engano, não obstante tudo o que alguém
tenha no momento em que foi surpreendido com os crimes anteriormente referidos, tudo
deve passar imediatamente e na íntegra ao poder do fisco, e que fique ao arbítrio do poder
real conceder estes bens a quem o rei deseje, tal e como já ficou dito ou bem que faça deles
o que queira; porém todas as demais coisas que se encontrem desligadas desta fraude,
regulamentadas e conforme às leis, que fiquem consolidadas pela força das leis; da sentença
desta lei ficam isentos, evidentemente, aqueles de quem se sabe que a sua culpa foi perdoada
pelos reis precedentes. E se o rei por humanidade, quiser dar a qualquer um destes malvados,
que não lhes dê os bens que tinham, a não ser os que o príncipe queira, e só lhes concederá
o equivalente à vigésima parte dos bens que consta que pertenciam ao acusado.”
Texto 4 - VIII, 1, 3 (Si, para matar a alguien, la multitud se junta)

Tradução:
Antiga
“Se para matar alguém, a multidão se junta
Aquele que tenha juntado a multidão para matar alguém, ou aquele que tenha feito uma
revolta contra outro, da qual este sofra uma ofensa corporal, ou que tenha incitado a fazê-la,
ou que a tenha ordenado, assim que o juiz receba a noticia do crime cometido, que não se
atrase em detê-lo; de maneira que o cabecilha deste delito, marcado por infâmia, receba
deitado publicamente diante do juiz cinquenta açoites e que diga o nome de todos os que
foram com ele e que cometeram o crime, de maneira que, se não estiverem sob o seu
domínio, cada um dos homens livres receba cinquenta açoites. Mas que os servos associados
a este crime, se forem de outro amo, que recebam duzentos açoites cada um deitado
publicamente diante do juiz para escárnio dos outros.”
Texto 5 - VI, 4,10 (si un siervo golpea a un hombre libre)

Tradução
Antiga
“Se um servo golpear um homem livre

Se um servo, sem que lho tenha sido ordenado pelo seu amo, golpear um homem livre, e
consequentemente morra, que o agressor seja castigado por homicídio. E se aquele que foi
ferido não morrer instantanemanete, que o servo seja levado imediatamente para a prisão; e
se o ferido se salvar, aquele que havia golpeado, que receba duzentos açoites. Porém o
senhor, se quiser fazê-lo, pode pagar pelo servo no montante da compensação, tal como foi
estimado pelos juizes. Mas se não quiser fazê-lo, que não se atrase em entregar o servo
culposo.”
Texto 6 - VI, 5,13 (Que nos sea lícito a nadie mutilar a ningún siervo ni a ninguna sierva
en ninguna parte de su cuerpo)

Tradução:
Flávio Recesvindo, Rei Glorioso
“Que não seja lícito a ninguém mutilar nenhum servo nem nenhuma serva em nenhuma parte
do seu corpo

Pela lei anterior proibimos a imprudente crueldade dos amos de matar os servos. Para além
disso, para que não adulterem a plasmação da imagem de Deus exercendo a sua crueldade
nos súbditos, parece oportuno proibir a mutilação dos corpos. Por isso decretamos que,
qualquer amo ou ama que, sem a considerção do juiz e com um crime manifesto, corte ao
seu servo ou à sua serva uma mão, o nariz, a língua, a orelha ou o pé, ou lhe tire os olhos ou
lhes mutile qualquer outra parte do corpo ou mande que lhe seja mutilada ou extirpada, seja
desterrado a três anos de exílio submetido a penitência por parte do bispo do território onde
resida ou em que se tenha cometido o crime. E todos os seus bens, se tiverem filhos que,
para além disso, não tenham participado no seu crime, que estes os conservem e
administrem, e terá de prestar contas ao amo quando regressar. Porém, se não existirem
filhjos legítimos, que o juiz encomende a custódia dos seus bens a outros parentes, de forma
que, quando retorne, se le rendam contas dos seus bens. Mas se não houver nenhum parente
próximo, o próprio juiz se encarregará, de maneira a que o administre e conserve tudo e
depois lhe faça contas.”
(Nova) Flávio Égica, Rei Glorioso
“Que a ninguém seja lícito mutilar nenhum servo nem nenhuma serva em nenhuma parte do
corpo
Emulando todas as virtudes e não os defeitos dos nossos antecessores achamos que esta lei
foi publicada com toda a justiça e injustamente revogada; por isso, para que não se relaxem
os freios com o fim de evitar que a imagem de Deus seja desfigurada com os pecados dos
homens, eu Flávio Égica, rei em nome de Deus, volto a introduzi-la com as mesmas palavras
e com o mesmo conteúdo, na mesma ordem em que anteriormente a autoridade de um
príncipe anterior a colocou, e que começa assim: (…).”
Referências Bibliográficas:
1. ADRAGÃO, PAULO PULIDO, Lições de História do Direito
Romano, Peninsular e Português, Coimbra, Livraria Almedina, 2016
ou 2017;
2. CAETANO, MARCELLO, História do Direito Português, Verbo
Editora, 1993;
3. ESPINOSA GOMES DA SILVA, NUNO J., História do Direito
Português – Fontes de Direito, 3ª Edição, Fundação Calouste
Gulbenkian, 2000;
4. MARCOS, RUI MANUEL DE FIGUEIREDO, História da
Administração Pública, Livraria Almedina, 2017;
5. COSTA, MÁRIO JÚLIO DE ALMEIDA, História do Direito
Português, 5ª Edição Revista e Atualizada, Edições Almedina, 2012
6. Textos encontrados aqui: RAMIS BARCELÓ, R., RAMIS SERRA,
P, El Libro de los Juicios (Liber Iudiciorum), Madrid, Agencia Estatal
Boletín Oficial del Estado, 2015
(https://boe.es/biblioteca_juridica/abrir_pdf.php?id=PUB-LH-2015-2

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