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LETRÔNICA
Revista Digital do Programa de Pós-Graduação em Letras da PUCRS
http://dx.doi.org/10.15448/1984-4301.2020.4.37528
SEÇÃO: ARTIGOS
Luciana de Souza Resumo: O presente artigo tem como objetivo discutir conhecimentos advindos
de pesquisas nas Neurociências e na Psicolinguística sobre alguns dos processos
Brentano1
orcid.org/0000-0001-9808-0691 linguísticos e cognitivos envolvidos no desenvolvimento da leitura e da escrita em
lubrentano@gmail.com crianças bilíngues. Para isso, são apresentadas refexões sobre quatro questões
que ilustram dúvidas constantes de pais e educadores que atuam em contextos
de educação bilíngue.
Ingrid Finger1 Palavras-chave: Bilinguismo. Biliteracia. Alabetização em duas línguas. Leitura
e escrita em duas línguas.
Bolsista produtividade CNPq.
orcid.org/0000-0002-9779-8615 Abstract: This article aims to discuss knowledge rom research in Neuroscien-
ingrid.nger@urgs.br ces and Psycholinguistics about some o the linguistic and cognitive processes
involved in the development o reading and writing in bilingual children. For this,
refections are presented on our issues that illustrate constant doubts o parents
and educators who work in bilingual education contexts.
Keywords: Bilingualism. Biliteracy. Literacy in two languages. Reading and
Recebido em: 31/3/2020.
writing in two languages.
Aprovado em: 24/6/2020.
Publicado em: 21/12/2020.
Introdução
Embora não se encontrem estatísticas ociais no país, tem se perce-
bido, nos últimos anos, um aumento signicativo no número de escolas
que oerecem programas ou currículos bilíngues, principalmente na rede
privada de ensino e prioritariamente na Educação Inantil e nos anos iniciais
do Ensino Fundamental. A procura por esse modelo de oerta educacional
por parte das amílias parece ser, em larga medida, motivada por uma
expectativa de que tal investimento possa garantir melhores oportunidades
de sucesso pessoal e prossional para as crianças no uturo. Parece existir
um consenso geral no país, partilhado por pais e educadores, de que
alar duas ou mais línguas fuentemente pode se tornar um dierencial na
ormação dessas crianças, principalmente se a língua adicional aprendida
na escola or considerada de prestígio, como é o caso do inglês.
Observa-se, entretanto, que, se por um lado tem havido uma ampliação
considerável no número de escolas bilíngues de prestígio no país, por ou-
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil.
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2
Para mais detalhes sobre a distinção entre literacia e letramento, e entre biliteracia e biletramento, ver FINGER e BRENTANO (no prelo).
Ingrid Finger • Luciana de Souza Brentano
Biliteracia e educação bilíngue 3/12
seções deste artigo apresentamos uma refexão ocorre de orma natural e instintiva, bastando a
sobre quatro questões relacionadas ao desen- criança ser exposta a textos escritos em con-
volvimento das habilidades de leitura e escrita textos signicativos para que tenha sucesso na
no caso de crianças bilíngues, ou seja, ao desen- empreitada, tem cada vez mais dado lugar à
volvimento da biliteracia: compreensão de que intervenções planejadas
não somente contribuem como são necessárias
a) Aprender a ler é natural como apren- para garantir o sucesso da alabetização. E os
der a alar ou é necessário ensinar as
achados das Neurociências têm desempenhado
crianças a ler e a escrever?
um papel importante nessa mudança de visão,
b) Quando a criança deve iniciar o contato como veremos em mais detalhes a seguir.
com letras e tomar consciência dos sons
Em seu livro Alfabetização: A questão dos
da língua, uma habilidade undamental
métodos, Magda Soares (2016) relata que teó-
para a alabetização?
ricos como Frank Smith (1971; 1973) e Kenneth
c) Crianças bilíngues devem se alabetizar
Goodman (1967; 1968; 1986) exerceram enorme
primeiro na língua materna para depois
infuência na pedagogia de alabetização em
se alabetizarem na língua adicional ou
a instrução pode acontecer simultane- países de língua inglesa no começo da década
amente nas duas línguas da criança? de 1970. Esses autores deendiam que o desen-
volvimento das habilidades relacionadas à leitura
d) Desenvolver habilidades de escrita e
leitura em duas línguas simultaneamen- e escrita se daria de orma natural, como ocorre
te pode criar uma demanda cognitiva com a compreensão e produção da ala, desde
muito elevada para a criança? que a criança, motivada pela necessidade de
comunicação, estivesse inserida em um contexto
Identicamos, a partir de nossa prática, que as
signicativo, no qual pudesse ser livre para criar
questões acima permeiam dúvidas constantes
e testar hipóteses. Para tais autores, portanto, o
tanto para os pais como para os proessores
aprendizado da leitura e da escrita em um con-
envolvidos em contextos de educação bilíngue
texto com signicado seria um processo simples
e que buscam, cada vez mais, uma maior com-
e natural para a criança, assim como é a ala,
preensão dessa realidade que é a cada dia mais
supondo-se que a maior dierença entre esses
presente nas escolas em todo o país. Através
processos residiria no tipo de sinal linguístico
deste artigo, portanto, esperamos contribuir no
envolvido, pois os processos de escuta e ala
sentido de proporcionar um espaço de refexão
envolvem sinais sonoros, ao passo que a leitura
crítica e uma maior compreensão sobre alguns
e a escrita envolvem o processamento de sinais
dos processos cognitivos e linguísticos envolvidos
visuais. Essa visão deu origem à pedagogia de-
na construção da biliteracia.
nominada whole language, muito presente nas
escolas americanas nas décadas de 1970 e 1980
1 Aprender a ler é natural como
e conhecida no Brasil por “método global”, que
aprender a falar ou é necessário ensinar
invalida a importância do ensino sistemático e
as crianças a ler e a escrever?
explícito dos princípios alabéticos da escrita,
A resposta a essa questão exige uma breve
contrariamente ao método ônico, que era o
retomada histórica, uma vez que se trata de uma
único empregado antes disso.3
discussão caracterizada por enorme polêmica ao
No Brasil, por sua vez, a proposta pedagógica
longo das últimas cinco décadas, não somente
construtivista, que deu suporte ao método global
no Brasil como também nos Estados Unidos. A
de alabetização, embora elaborada sobre bases
ideia de que a alabetização é um processo que
distintas (FERREIRO, 1992), se valeu de uma con-
3
Para detalhes sobre a disputa entre os métodos de alabetização nos Estados Unidos, ver o documento elaborado pela Academia
Brasileira de Ciências (2011).
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cepção semelhante a respeito de como ocorre Dehaene (2012), por exemplo, o cérebro humano
o desenvolvimento da leitura e da escrita, apre- oi programado para processar a língua oral, mas
goando que ambos, ala e escrita, são processos não a língua escrita, que é visual. Por essa razão,
naturais que se desenvolvem automaticamente ao longo de nossa evolução, nosso aparato cog-
à medida que as crianças são inseridas em con- nitivo oi se adaptando e, com isso, os circuitos
textos que valorizem tanto a ala quanto a cul- cerebrais originalmente programados para perce-
tura escrita. Segundo o modelo construtivista, a ber objetos e rostos e eram usados para caçar e
principal distinção entre esses dois processos diz coletar na pré-história se reciclaram ao longo dos
respeito às atividades sociais inerentes ao uso da milênios para processar a modalidade escrita da
linguagem, e não aos objetos de conhecimento língua.4 A esse processo de adaptação, Dehaene
em si, que seriam a língua oral e a língua escrita (2012, p. 20) dá o nome de “reciclagem neuronal”.
(SOARES, 2016). Na mesma linha, em um relatório Em outras palavras, o aprendizado da leitura e
da UNESCO, Bentolila e Germain ilustram que da escrita é responsável por construir no cérebro
essa visão pressupõe que “as crianças podem um caminho no qual as áreas de processamento
aprender a ler de orma tão natural quanto elas de inormações sonoras são conectadas com as
aprendem a alar” (2005, p. 10) à medida que, com de processamento de dados visuais e é por essa
base em oportunidades de tentativa e erro, elas razão que ao lermos uma palavra escrita ativamos
descobrem o signicado global transmitido no as mesmas áreas no cérebro que entram em ação
texto escrito. É interessante notar, ainda, que a quando ouvimos uma palavra.
proposta construtivista também az uso das ideias Na mesma linha, alguns pesquisadores (ACA-
de Chomsky (1986), segundo o qual a aquisição da DEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS, 2011; WOLF,
linguagem é regulada a partir de um dispositivo 2007) deendem que essa adaptação dos circuitos
inato, generalizando o papel desse dispositivo cerebrais necessária para o desenvolvimento das
para a aquisição da leitura e escrita, que seriam habilidades de leitura e escrita exige não somente
aprendidas tão naturalmente quanto a ala (AN- exposição à modalidade escrita da língua, mas
DRADE et al., 2017; SOARES, 2016). Essa visão uma intervenção externa planejada e sistemática.
de alabetização oi a predominante no Brasil Aqui, portanto, ca reorçada a necessidade da in-
por décadas, dando base às políticas nacionais tervenção cuidadosa e organizada por parte de um
de alabetização desenhadas pelo Ministério da educador que, no caso do português e do inglês,
Educação (MEC) até muito recentemente (PA- por exemplo, será responsável por apresentar à
RÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1997). criança as características desses dois sistemas
Na atualidade, entretanto, há uma gama de alabéticos de natureza arbitrária, convencional e
estudos nas Neurociências e na Psicolinguística sistemática. Tais ideias são reorçadas por Soares
cujos resultados têm trazido conhecimentos (2016, p. 45, grio da autora), que deende que
importantes na interlocução com a Educação
a aprendizagem da escrita não é um processo
e que evidenciam que, dierentemente do que natural, como é a aquisição da ala: a ala é
ocorre com a ala, considerado um processo inata, é um instinto; sendo inata, instintiva, é
naturalmente adquirida, bastando para isso
natural, aprender a ler e a escrever não acontece que a criança esteja imersa em ambiente em
de orma automática, pois a leitura e a escrita que ouve e ala a língua materna. A escrita, ao
contrário, é uma invenção cultural, a constru-
são processos culturais, necessitando portanto ção de uma visualização dos sons da ala, não
serem ensinados (DEHAENE, 2012; SCLIAR-CA- um instinto. [...] A escrita precisa ser ensinada
por meio de métodos que orientem o processo
BRAL, 2013; SOARES, 2016; HUETTIG et al., 2018, de aprendizagem do ler e do escrever.
entre outros). Segundo o neurocientista Stanislas
4
Segundo pesquisadores (DEHAENE, 2012; SCLIAR-CABRAL, 2013), o cérebro humano possui uma área que se especializa no reco-
nhecimento das letras à medida que o indivíduo aprende a ler e escrever. Essa área é chamada de “Área da Forma Visual das Palavras”
(AFVP), onde ocorre a conexão entre as inormações percebidas através da visão e o processamento onológico.
Ingrid Finger • Luciana de Souza Brentano
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Assim, com base nos argumentos apresentados letras que compõem o alabeto azem parte das
acima, deendemos aqui que a leitura e a escrita atividades que envolvem um momento inicial,
não são processos naturais, automáticos ou ins- mas importante, do processo de compreensão
tintivos e que, portanto, a maioria das crianças não das relações entre as letras e a língua escrita.
consegue aprender sozinha a ler e escrever com Nesse contexto, a autora deende que para que
competência e desenvoltura somente a partir da haja, por parte da criança, a compreensão do prin-
exposição a textos escritos em contextos signica- cípio alabético é necessário o conhecimento das
tivos. Nessa perspectiva, Soares (2016) argumenta letras, que é um contato que inicia na Educação
que é necessária a mediação para que haja com- Inantil e no próprio contexto amiliar e social da
preensão dos princípios alabéticos, para que a criança, quando as mesmas estão imersas em
criança compreenda a relação entre onemas e ambientes com diversos materiais escritos, tais
letras ou graemas e, como consequência, se al- como cartazes, etiquetas, placas, livros e diversos
abetize. Em resumo, o processo de alabetização outros materiais com registro escrito utilizando
é um processo escolar e precisa de um mediador o alabeto. Esse processo é denominado de
com experiência para conduzir e estimular as “Literacia Familiar” (SÈNÉCHAL, 2006).
relações grao-onêmicas, permitindo que seus Em relação ao desenvolvimento da consciência
alunos possam avançar nas suas aprendizagens. onológica, concordamos com Soares (2016) que
A nosso ver, portanto, é papel do educador na é na Educação Inantil que se inicia o desenvolvi-
escola orientar a criança na construção desse mento dessa habilidade, considerada essencial
conhecimento, como acontece na aquisição de para o avanço da leitura e escrita. Estudos indi-
princípios matemáticos ou em outras áreas do cam que essa consciência representa um passo
conhecimento. Mas qual é o momento de se inicial para o desenvolvimento da capacidade
iniciar esse processo no qual a criança passa a da leitura e tem relação direta com a ativação e
ser exposta à língua escrita de orma mais or- desenvolvimento de circuitos neurais em regiões
ganizada e sistemática? O desenvolvimento das especícas do cérebro, que desde a idade pré-
habilidades de leitura e escrita começa somente -escolar já se mostram presentes, localizando-se
no 1º ano do Ensino Fundamental? Tais questões principalmente em áreas do hemisério cerebral
serão abordadas na próxima seção. esquerdo (ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS,
2011). A consciência onológica pode ser enten-
2 Quando a criança deve iniciar o contato dida como um conjunto de habilidades que vão
com as letras e tomar consciência desde a simples percepção global do tamanho
dos sons da língua, uma habilidade da palavra e de semelhanças onológicas entre
fundamental para a alfabetização? elas, até a segmentação e manipulação de sílabas
e onemas (FREITAS, 2004). Ainda, a consciência
O aprendizado da leitura e da escrita começa
onológica reere-se tanto à consciência de que
a ser construído muito antes do processo de
a ala pode ser segmentada quanto à habilidade
alabetização, que se dá nos níveis iniciais do
de manipular tais segmentos (ALVES, 2009). Além
Ensino Fundamental. Sabemos que as crianças,
disso, é uma habilidade que se desenvolve gra-
desde muito pequenas, se aproximam da lei-
dualmente à medida que a criança vai tomando
tura, principalmente, pelo interesse por livros e
consciência do sistema sonoro da língua, ou seja,
histórias; portanto, as experiências com a língua
de palavras, sílabas e onemas como unidades
escrita, anteriores ao período de alabetização,
identicáveis (CARDOSO-MARTINS, 2008).
são importantes e auxiliarão na aprendizagem
A partir dos argumentos apresentados acima,
posterior, quando a criança terá contato com o
portanto, é possível armar que o aprendizado
ensino ormal da leitura e escrita. Para Soares
da leitura e da escrita inicia muito antes do in-
(2016), o contato com as letras, a memorização
gresso da criança no Ensino Fundamental, sendo
da escrita do próprio nome e o conhecimento das
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que o estímulo aos hábitos de leitura e escrita pudesse vir a “sorer prejuízos” em beneício de
e à apreciação literária devem azer parte das outra deixou de ser aceita, principalmente porque
práticas cotidianas das amílias e nas classes de dados das pesquisas que oram conduzidas a partir
Educação Inantil, com vistas à ormação de um dessa época mostraram exatamente o contrário: os
leitor/escritor prociente e de uma sociedade conceitos aprendidos em uma língua poderiam ser
mais letrada. Mas e quando a criança está inserida rapidamente transeridos para a outra, independen-
em um contexto de educação bilíngue? A escola temente da língua (BRENTANO; FINGER, 2018). Essa
deve priorizar a alabetização apenas em uma lín- proposta oi intitulada de Modelo de Prociência
gua inicialmente para, a seguir, expor a criança a Subjacente Comum (Common Underlying Profciency
textos escritos na língua adicional ou a exposição Model - CUP) e oi apresentada pelo pesquisador
e instrução podem ser eitas simultaneamente, Jim Cummins, em 1979. O autor ilustrou seu modelo
nas duas línguas da criança? Essa é a discussão através da gura de dois icebergs que, separados
que será apresentada na próxima seção. acima da superície, representam as características
individuais de cada língua, mas que abaixo da su-
3 Crianças bilíngues devem se perície se undem, caracterizando o uncionamento
alfabetizar primeiro na língua materna cognitivo compartilhado entre as duas línguas da
para depois se alfabetizarem na língua criança. Dessa orma, Cummins deendeu que as
adicional ou a instrução pode acontecer crianças bilíngues não passam por processos dis-
simultaneamente nas duas línguas da tintos ao desenvolverem habilidades linguísticas
criança? em suas duas línguas. Ao contrário, segundo ele
há um único sistema de processamento central,
A alabetização de crianças bilíngues é um
uma espécie de “repositório” central, no qual as
assunto que gera grande polêmica tanto entre
habilidades subjacentes ao alar, ler, escutar e
prossionais da educação quanto entre pais. Há
escrever são originadas de orma compartilhada,
diversas comunidades no mundo nas quais as
sendo que a consciência onológica e a consciência
crianças desenvolvem a modalidade escrita da
morológica,5 essenciais para a alabetização, ariam
língua desde muito cedo e isso tem contribuído
parte desse repertório (CUMMINS, 2017). Ainda, para
para dar ainda mais visibilidade para essa temá-
o autor, os conhecimentos que subjazem essas
tica. Por outro lado, há muita dúvida e incerteza
habilidades são transeridos entre as línguas do
nesse processo, em especial no Brasil, já que a
bilíngue, independentemente da ordem ou situação
escolarização bilíngue tem crescido enorme-
em que tenham sido adquiridos pelas crianças.
mente, mas os estudos que abordam o desen-
Desde a postulação inicial do modelo de Cum-
volvimento da leitura e escrita em duas línguas
mins (1979), postula-se que há compartilhamento
a partir de uma perspectiva cognitiva ainda são
de habilidades subjacentes às duas línguas do
incipientes (FINGER et al., 2019).
bilíngue, um enômeno conhecido na literatura
Essa preocupação nos parece arraigada em
por “transerência interlinguística” (CUMMINS,
concepções antigas que viam o bilinguismo como
2017, dentre outros). Embora sejam necessários
uma possibilidade de desenvolver conusão men-
mais estudos que especiquem quais habilidades
tal (BAKER; WRIGHT, 2017). Do início do século 19
e conhecimentos são de ato compartilhados
até aproximadamente 1960, acreditava-se que o
entre as línguas no cérebro bilíngue, a grande
bilinguismo trazia eeitos cognitivos prejudiciais ao
maioria deles parece ornecer evidências de que
alante bilíngue e que o desenvolvimento linguístico
crianças bilíngues, em alguma medida, integram
em uma língua ocorria às custas do desenvolvi-
os conhecimentos das suas duas línguas, sem
mento linguístico da outra língua. Após os anos
conusão, já nas suas primeiras experiências
1960, essa ideia equivocada de que uma língua
5
Consciência morológica é a habilidade de reletir sobre os moremas das palavras, ou seja, daqueles ragmentos mínimos que repre-
sentam as menores unidades de signiicado de uma palavra (MOTA, 2010).
Ingrid Finger • Luciana de Souza Brentano
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com a modalidade escrita, indicando também al., 2018). Em seu estudo, Felton et al. (2017), por
uma transerência consciente de conhecimento exemplo, armam que índices de organização em
entre os sistemas linguísticos (ver, por exemplo, regiões especícas do cérebro são sensíveis a va-
KENNER et al., 2004; BIALYSTOK et al., 2005). Parte riações na experiência linguística dos participantes
desses estudos são apresentados em Dressler e testados. Evidência semelhante é apresentada em
Kamil (2006), como parte do Report on the Natio- Kovelman et al. (2008), que deendem uma possí-
nal Literacy Panel on Language-Minority Children vel “assinatura neural” do bilinguismo. Na mesma
and Youth (AUGUST; SHANAHAN, 2006), no qual linha, Kroll e colegas (2013) armam que as duas
os autores apresentam resultados de vários es- línguas de uma criança bilíngue interagem umas
tudos que comprovam que os bilíngues azem com as outras durante a aquisição. Essa inter-rela-
transerência interlinguística na habilidade de ção dará suporte ao aprendizado das duas línguas
compreensão leitora, podendo esta transerên- azendo com que as duas se complementem
cia ser entre línguas tipologicamente distintas, durante a aquisição. Além disso, as características
e podendo ocorrer da primeira para a segunda estruturais das duas línguas e ortograas podem
língua ou vice-versa. Também argumentam que aetar a orma como uma criança bilíngue aprende
a transerência pode ocorrer para aprendizes de a ler e a organização cerebral da criança para a
inglês como língua estrangeira e inglês como leitura (JASÍNSKA; PETITTO, 2013; JASÍNSKA et
segunda língua, assim como para crianças de al., 2016; JASÍNSKA et al., 2017). A nosso ver, essa
nível undamental ou médio. organização cerebral que se inter-relaciona e ao
Autores como Bialystok et al. (2005, p. 44) mesmo tempo abastece o repertório linguístico da
corroboram as evidências acima apresentadas criança deve ser vista como benéca, porque são
ao armar que: mais oportunidades de uso do executivo central
na elaboração de soluções para situações do coti-
Há duas razões pelas quais a alabetização
pode ser dierente para crianças bilíngues e diano, bem como o aprimoramento da capacidade
monolíngues. A primeira é que os bilíngues de ler e compreender o mundo, visto que ambas
desenvolvem várias habilidades para a alabe-
tização, de maneira dierente dos monolíngues. as línguas contribuem para azer novas conexões
A segunda é que os bilíngues podem ter a e criar redes sólidas relacionadas ao aprendizado
oportunidade de transerir as habilidades ad-
quiridas para ler em um idioma e ler no outro. da leitura e escrita.
Em ambos os casos, a relação entre os sistemas Portanto, a nosso ver, é possível conduzir o
de escrita nas duas línguas determina a seme-
lhança nas habilidades cognitivas necessárias processo de alabetização na escola em duas
para a leitura e também pode determinar até línguas simultaneamente, sem qualquer tipo de
que ponto o bilinguismo aeta a alabetização.
prejuízo ou problema para a criança, visto que ela
irá utilizar mecanismos internos para azer asso-
De ato, o bilinguismo aeta a alabetização, pois
ciações entre as línguas e transerir habilidades
a criança bilíngue constrói conhecimentos e de-
entre elas, o que irá contribuir para um maior
senvolve habilidades utilizando todo seu repertório
desenvolvimento da fuência e prociência em
linguístico, ou seja, ao iniciar o processo de escrita e
ambas as línguas. Entretanto, é imprescindível
leitura, a criança bilíngue não o az apenas em uma
que os proessores entendam os processos pe-
de suas línguas; ela vai automaticamente buscar
los quais as crianças passam, para que possam
relações entre as línguas, para ir construindo suas
escolher as melhores estratégias metodológicas
hipóteses e estabelecendo associações.
e azer as intervenções adequadas, sem exi-
Além do maior repertório linguístico, que vem a
gências desnecessárias. Mas em que medida
contribuir na elaboração de ideias e hipóteses por
o desenvolvimento das habilidades de leitura e
parte da criança, o cérebro bilíngue se constitui
escrita em duas línguas simultaneamente pode
dierentemente como resultado da experiência
sobrecarregar cognitivamente a criança? Essa é
de uso de duas línguas, o que traz mudanças nas
a questão que será respondida a seguir.
áreas de ativação neural (ARCHILA-SUERTE et
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6
Para uma revisão acessível desses estudos em português, ver Brentano e Finger (2018) e Brentano (2020).
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é de se esperar que o bilinguismo aça parte de em práticas comuns nas amílias e nas escolas
uma lista de demandas cognitivas importantes de Educação Inantil, uma vez que essas opor-
e avoráveis ao desenvolvimento das habilida- tunidades de contato com a língua escrita e,
des cognitivas superiores da criança, ao lado consequentemente, o desenvolvimento da cons-
de habilidades matemáticas ou musicais, por ciência onológica irão desenvolver pré-requisitos
exemplo. Portanto, o que os resultados de es- necessários para alabetização.
tudos das Neurociências evidenciam é que não Além disso, apresentamos evidências de que
somente o cérebro da criança está preparado alabetizar em duas línguas simultaneamente não
para tareas de alta demanda cognitiva (como acarreta qualquer tipo de prejuízo para as crian-
aprender uma língua adicional), como desaos ças, uma vez que elas estabelecem associações
desse tipo são essenciais para garantir que o entre suas línguas e transerem habilidades de
desenvolvimento cognitivo da criança ocorra, uma para a outra. Os estudos comprovam ainda
uma vez que atividades que demandam cogniti- que esse processo de desenvolvimento da ca-
vamente são justamente aquelas que propiciam pacidade de leitura e escrita em duas línguas pa-
o estabelecimento de redes neurais ortes e, por ralelamente na verdade contribui para um maior
consequência, estimulam o aprendizado sólido, desenvolvimento da fuência e prociência em
contribuindo para o desenvolvimento de com- ambas as línguas. É essencial, no entanto, que se
petências linguísticas e cognitivas na criança. compreenda melhor os processos envolvidos na
construção da biliteracia para que as intervenções
Considerações finais metodológicas adotadas sejam cada vez mais
bem inormadas e ecazes.
O presente artigo teve como objetivo discutir
Finalmente, demonstramos que a alabetiza-
conhecimentos advindos de pesquisas nas Neu-
ção em duas línguas não causa problemas ou
rociências e na Psicolinguística sobre alguns dos
diculdades para a criança, uma vez que as pes-
processos linguísticos e cognitivos envolvidos
quisas evidenciam que há uma transerência entre
no desenvolvimento da leitura e da escrita em
as línguas que é positiva e que essa exposição
crianças bilíngues. Para isso, apresentamos uma
a duas línguas contribui para um maior desen-
refexão sobre quatro questões que ilustram
volvimento cognitivo dessas crianças. Somado
dúvidas constantes de pais e educadores que
a isso, ao contrário do que algumas pessoas
atuam em contextos de educação bilíngue.
sem o conhecimento aproundado pregam, essa
Resumimos, aqui, alguns aspectos importantes
demanda não causa sobrecarga, mas sim um
da discussão proposta. Em primeiro lugar, vimos
desenvolvimento mais aproundado de redes
que a leitura e a escrita são processos culturais,
neuronais que vão contribuir ainda mais para o
que não ocorrem de orma instintiva e natural como
desenvolvimento de um sujeito bilíngue mais
acontece com a ala; portanto, para que possam se
preparado para as demandas desse novo mer-
desenvolver de forma bem sucedida necessitam
cado com um repertório linguístico mais diverso
de intervenção planejada e qualicada por parte
e plural, capaz de se comunicar de orma ecaz
de um prossional dedicado e com conhecimento
com um maior número de pessoas no mundo e
dos processos envolvidos, independentemente de
de compreender e respeitar a diversidade.
a alabetização ocorrer em uma ou mais de uma
língua, simultaneamente ou sequencialmente.
Na sequência, apresentamos evidências de Referências
que o aprendizado da leitura e da escrita inicia ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS. Aprendizagem
muito antes do ingresso da criança no Ensino infantil: Uma abordagem da Neurociência, Economia e
Psicologia Cognitiva. Rio de Janeiro: Academia Brasileira
Fundamental. Por essa razão, consideramos de Ciências, 2011. 264 p.
importante que o estímulo aos hábitos de leitura
e escrita e à apreciação literária constituam-se
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Luciana Brentano
Doutoranda em Psicolinguística pela Universidade Fe-
deral do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre,
RS, Brasil; Mestre em Letras pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, RS,
Brasil; coordenadora e proessora da Pós-Graduação
em Educação Bilíngue e Cognição da Faculdade IENH
em Novo Hamburgo, RS, Brasil. Integrante do Labo-
ratório de Bilinguismo e Cognição da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Coordenadora
do Currículo Bilíngue da Instituição Evangélica de Novo
Hamburgo (IENH), em Novo Hamburgo, RS, Brasil; e
assessora na implantação de currículos bilíngues em
escolas brasileiras.