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LETRÔNICA
Revista Digital do Programa de Pós-Graduação em Letras da PUCRS

Letrônica, Porto Alegre, v. 13, n. 4, p. 1-12, out.-dez. 2020


e-ISSN: 1984-4301

http://dx.doi.org/10.15448/1984-4301.2020.4.37528

SEÇÃO: ARTIGOS

Biliteracia e educação bilíngue: Contribuições das


Neurociências e da Psicolinguística para a compreensão do
desenvolvimento da leitura e escrita em crianças bilíngues
Biliteracy and bilingual education: Neurosciences and Psycholinguistics contributions
to the comprehension of reading and writing development in bilingual children

Luciana de Souza Resumo: O presente artigo tem como objetivo discutir conhecimentos advindos
de pesquisas nas Neurociências e na Psicolinguística sobre alguns dos processos
Brentano1
orcid.org/0000-0001-9808-0691 linguísticos e cognitivos envolvidos no desenvolvimento da leitura e da escrita em
lubrentano@gmail.com crianças bilíngues. Para isso, são apresentadas refexões sobre quatro questões
que ilustram dúvidas constantes de pais e educadores que atuam em contextos
de educação bilíngue.
Ingrid Finger1 Palavras-chave: Bilinguismo. Biliteracia. Alabetização em duas línguas. Leitura
e escrita em duas línguas.
Bolsista produtividade CNPq.
orcid.org/0000-0002-9779-8615 Abstract: This article aims to discuss knowledge rom research in Neuroscien-
ingrid.nger@urgs.br ces and Psycholinguistics about some o the linguistic and cognitive processes
involved in the development o reading and writing in bilingual children. For this,
refections are presented on our issues that illustrate constant doubts o parents
and educators who work in bilingual education contexts.
Keywords: Bilingualism. Biliteracy. Literacy in two languages. Reading and
Recebido em: 31/3/2020.
writing in two languages.
Aprovado em: 24/6/2020.
Publicado em: 21/12/2020.

Introdução
Embora não se encontrem estatísticas ociais no país, tem se perce-
bido, nos últimos anos, um aumento signicativo no número de escolas
que oerecem programas ou currículos bilíngues, principalmente na rede
privada de ensino e prioritariamente na Educação Inantil e nos anos iniciais
do Ensino Fundamental. A procura por esse modelo de oerta educacional
por parte das amílias parece ser, em larga medida, motivada por uma
expectativa de que tal investimento possa garantir melhores oportunidades
de sucesso pessoal e prossional para as crianças no uturo. Parece existir
um consenso geral no país, partilhado por pais e educadores, de que
alar duas ou mais línguas fuentemente pode se tornar um dierencial na
ormação dessas crianças, principalmente se a língua adicional aprendida
na escola or considerada de prestígio, como é o caso do inglês.
Observa-se, entretanto, que, se por um lado tem havido uma ampliação
considerável no número de escolas bilíngues de prestígio no país, por ou-

Artigo está licenciado sob forma de uma licença


tro constata-se ainda um grande nível de desinormação sobre o que de
Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional. ato caracteriza a educação bilíngue, bem como muita apreensão no que

1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil.
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se refere às vantagens e desvantagens advindas o desenvolvimento tanto do repertório linguístico


das dierentes acetas implicadas na implantação quanto dos conteúdos acadêmicos nas línguas
desse modelo educacional. Soma-se a isso uma nas quais as aprendizagens escolares ocorrem. É
signicativa lacuna de pesquisas sobre o tema que importante ressaltar que o contexto de educação
considerem as peculiaridades da realidade brasilei- bilíngue, portanto, diere-se claramente daque-
ra. O presente artigo se insere nesse contexto e visa les em que a língua adicional é percebida como
contribuir com a construção desse conhecimento. mais um dos muitos conteúdos curriculares a
Nesse sentido, inicialmente torna-se essencial serem trabalhados na escola. Em outras palavras,
introduzir os conceitos de bilinguismo e educação educação bilíngue não se reere aos contextos
bilíngue que são tomados por nós como pressu- pedagógicos em que o oco das atividades está
postos básicos da discussão apresentada aqui. centrado no desenvolvimento da fuência e da
Primeiramente, entendemos por “bilinguismo” o prociência na língua adicional, como ocorre em
uso alternado de duas ou mais línguas envolvendo alguns dos chamados programas bilíngues no
dierentes graus de competência, dierentes pro- Brasil, que seguem o mesmo perl pedagógico
pósitos e contextos variados, sendo uma aptidão adotado nos cursos privados de ensino de língua
que pode modicar-se ao longo da vida, depen- adicional, apenas com uma ampliação da carga
dendo das oportunidades de interação em cada horária de exposição e prática da língua.
uma delas (GROSJEAN; LI, 2013; GARCÍA, 2009; Tomando como base a concepção de educa-
ZIMMER et al., 2012). O termo “educação bilíngue”, ção bilíngue exposta acima, o presente artigo tem
por outro lado, é empregado normalmente para como objetivo discutir conhecimentos advindos
designar dois contextos distintos (GARCÍA, 2009). de pesquisas nas Neurociências e na Psicolin-
Por vezes, reere-se a contextos escolares que guística sobre alguns dos processos linguísticos
abrigam crianças que já são usuárias de duas e cognitivos envolvidos no desenvolvimento da
ou mais línguas antes do início do período de leitura e da escrita em crianças bilíngues. É im-
escolarização, como ocorre no caso de alantes portante ressaltar que, como estamos tratando de
de línguas indígenas ou de imigração no Bra- processos subjacentes à alabetização em duas
sil, por exemplo. Mas é também uma expressão línguas, empregamos aqui o termo “biliteracia”,
usada para descrever contextos de ensino nos tomando como base as ideias de Pereira (2011),
quais as crianças são expostas pela primeira vez que deende que esse termo designa muito
a uma língua adicional na escola, como ocorre mais que o resultado de uma coalabetização
nas escolas bilíngues de prestígio no Brasil. Inde- de línguas. Para a autora, assim como para nós,
pendentemente do tipo de contexto educacional, a expressão “biliteracia” designa não apenas o
entretanto, é importante ressaltar que os contextos mero domínio da leitura e da escrita construído
reais de educação bilíngue são aqueles em que em duas línguas dierentes, mas, antes disso, o
as duas (ou mais) línguas aladas pelas crianças desenvolvimento de capacidades cognitivas e
são empregadas como meio de instrução dos linguísticas de representação do mundo e de
conteúdos curriculares, ou seja, as línguas da representação do pensamento que envolvem
criança se desenvolvem a partir de práticas de o repertório linguístico completo do sujeito, ou
uso constantes e signicativas (GARCÍA, 2009). seja, que ocorre a partir de suas duas línguas, em
Nos contextos reais de educação bilíngue, variados contextos e intenções comunicativas.2
o desenvolvimento acadêmico e cognitivo da Assim, a partir da experiência das autoras em
criança se dá simultaneamente através das duas palestras e cursos ministrados em escolas de
línguas em um espaço de aprendizagem no qual o educação bilíngue pelo Brasil e considerando-se
currículo é organizado de orma integrada, visando os conceitos apresentados acima, nas próximas

2
Para mais detalhes sobre a distinção entre literacia e letramento, e entre biliteracia e biletramento, ver FINGER e BRENTANO (no prelo).
Ingrid Finger • Luciana de Souza Brentano
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seções deste artigo apresentamos uma refexão ocorre de orma natural e instintiva, bastando a
sobre quatro questões relacionadas ao desen- criança ser exposta a textos escritos em con-
volvimento das habilidades de leitura e escrita textos signicativos para que tenha sucesso na
no caso de crianças bilíngues, ou seja, ao desen- empreitada, tem cada vez mais dado lugar à
volvimento da biliteracia: compreensão de que intervenções planejadas
não somente contribuem como são necessárias
a) Aprender a ler é natural como apren- para garantir o sucesso da alabetização. E os
der a alar ou é necessário ensinar as
achados das Neurociências têm desempenhado
crianças a ler e a escrever?
um papel importante nessa mudança de visão,
b) Quando a criança deve iniciar o contato como veremos em mais detalhes a seguir.
com letras e tomar consciência dos sons
Em seu livro Alfabetização: A questão dos
da língua, uma habilidade undamental
métodos, Magda Soares (2016) relata que teó-
para a alabetização?
ricos como Frank Smith (1971; 1973) e Kenneth
c) Crianças bilíngues devem se alabetizar
Goodman (1967; 1968; 1986) exerceram enorme
primeiro na língua materna para depois
infuência na pedagogia de alabetização em
se alabetizarem na língua adicional ou
a instrução pode acontecer simultane- países de língua inglesa no começo da década
amente nas duas línguas da criança? de 1970. Esses autores deendiam que o desen-
volvimento das habilidades relacionadas à leitura
d) Desenvolver habilidades de escrita e
leitura em duas línguas simultaneamen- e escrita se daria de orma natural, como ocorre
te pode criar uma demanda cognitiva com a compreensão e produção da ala, desde
muito elevada para a criança? que a criança, motivada pela necessidade de
comunicação, estivesse inserida em um contexto
Identicamos, a partir de nossa prática, que as
signicativo, no qual pudesse ser livre para criar
questões acima permeiam dúvidas constantes
e testar hipóteses. Para tais autores, portanto, o
tanto para os pais como para os proessores
aprendizado da leitura e da escrita em um con-
envolvidos em contextos de educação bilíngue
texto com signicado seria um processo simples
e que buscam, cada vez mais, uma maior com-
e natural para a criança, assim como é a ala,
preensão dessa realidade que é a cada dia mais
supondo-se que a maior dierença entre esses
presente nas escolas em todo o país. Através
processos residiria no tipo de sinal linguístico
deste artigo, portanto, esperamos contribuir no
envolvido, pois os processos de escuta e ala
sentido de proporcionar um espaço de refexão
envolvem sinais sonoros, ao passo que a leitura
crítica e uma maior compreensão sobre alguns
e a escrita envolvem o processamento de sinais
dos processos cognitivos e linguísticos envolvidos
visuais. Essa visão deu origem à pedagogia de-
na construção da biliteracia.
nominada whole language, muito presente nas
escolas americanas nas décadas de 1970 e 1980
1 Aprender a ler é natural como
e conhecida no Brasil por “método global”, que
aprender a falar ou é necessário ensinar
invalida a importância do ensino sistemático e
as crianças a ler e a escrever?
explícito dos princípios alabéticos da escrita,
A resposta a essa questão exige uma breve
contrariamente ao método ônico, que era o
retomada histórica, uma vez que se trata de uma
único empregado antes disso.3
discussão caracterizada por enorme polêmica ao
No Brasil, por sua vez, a proposta pedagógica
longo das últimas cinco décadas, não somente
construtivista, que deu suporte ao método global
no Brasil como também nos Estados Unidos. A
de alabetização, embora elaborada sobre bases
ideia de que a alabetização é um processo que
distintas (FERREIRO, 1992), se valeu de uma con-

3
Para detalhes sobre a disputa entre os métodos de alabetização nos Estados Unidos, ver o documento elaborado pela Academia
Brasileira de Ciências (2011).
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cepção semelhante a respeito de como ocorre Dehaene (2012), por exemplo, o cérebro humano
o desenvolvimento da leitura e da escrita, apre- oi programado para processar a língua oral, mas
goando que ambos, ala e escrita, são processos não a língua escrita, que é visual. Por essa razão,
naturais que se desenvolvem automaticamente ao longo de nossa evolução, nosso aparato cog-
à medida que as crianças são inseridas em con- nitivo oi se adaptando e, com isso, os circuitos
textos que valorizem tanto a ala quanto a cul- cerebrais originalmente programados para perce-
tura escrita. Segundo o modelo construtivista, a ber objetos e rostos e eram usados para caçar e
principal distinção entre esses dois processos diz coletar na pré-história se reciclaram ao longo dos
respeito às atividades sociais inerentes ao uso da milênios para processar a modalidade escrita da
linguagem, e não aos objetos de conhecimento língua.4 A esse processo de adaptação, Dehaene
em si, que seriam a língua oral e a língua escrita (2012, p. 20) dá o nome de “reciclagem neuronal”.
(SOARES, 2016). Na mesma linha, em um relatório Em outras palavras, o aprendizado da leitura e
da UNESCO, Bentolila e Germain ilustram que da escrita é responsável por construir no cérebro
essa visão pressupõe que “as crianças podem um caminho no qual as áreas de processamento
aprender a ler de orma tão natural quanto elas de inormações sonoras são conectadas com as
aprendem a alar” (2005, p. 10) à medida que, com de processamento de dados visuais e é por essa
base em oportunidades de tentativa e erro, elas razão que ao lermos uma palavra escrita ativamos
descobrem o signicado global transmitido no as mesmas áreas no cérebro que entram em ação
texto escrito. É interessante notar, ainda, que a quando ouvimos uma palavra.
proposta construtivista também az uso das ideias Na mesma linha, alguns pesquisadores (ACA-
de Chomsky (1986), segundo o qual a aquisição da DEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS, 2011; WOLF,
linguagem é regulada a partir de um dispositivo 2007) deendem que essa adaptação dos circuitos
inato, generalizando o papel desse dispositivo cerebrais necessária para o desenvolvimento das
para a aquisição da leitura e escrita, que seriam habilidades de leitura e escrita exige não somente
aprendidas tão naturalmente quanto a ala (AN- exposição à modalidade escrita da língua, mas
DRADE et al., 2017; SOARES, 2016). Essa visão uma intervenção externa planejada e sistemática.
de alabetização oi a predominante no Brasil Aqui, portanto, ca reorçada a necessidade da in-
por décadas, dando base às políticas nacionais tervenção cuidadosa e organizada por parte de um
de alabetização desenhadas pelo Ministério da educador que, no caso do português e do inglês,
Educação (MEC) até muito recentemente (PA- por exemplo, será responsável por apresentar à
RÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1997). criança as características desses dois sistemas
Na atualidade, entretanto, há uma gama de alabéticos de natureza arbitrária, convencional e
estudos nas Neurociências e na Psicolinguística sistemática. Tais ideias são reorçadas por Soares
cujos resultados têm trazido conhecimentos (2016, p. 45, grio da autora), que deende que
importantes na interlocução com a Educação
a aprendizagem da escrita não é um processo
e que evidenciam que, dierentemente do que natural, como é a aquisição da ala: a ala é
ocorre com a ala, considerado um processo inata, é um instinto; sendo inata, instintiva, é
naturalmente adquirida, bastando para isso
natural, aprender a ler e a escrever não acontece que a criança esteja imersa em ambiente em
de orma automática, pois a leitura e a escrita que ouve e ala a língua materna. A escrita, ao
contrário, é uma invenção cultural, a constru-
são processos culturais, necessitando portanto ção de uma visualização dos sons da ala, não
serem ensinados (DEHAENE, 2012; SCLIAR-CA- um instinto. [...] A escrita precisa ser ensinada
por meio de métodos que orientem o processo
BRAL, 2013; SOARES, 2016; HUETTIG et al., 2018, de aprendizagem do ler e do escrever.
entre outros). Segundo o neurocientista Stanislas

4
Segundo pesquisadores (DEHAENE, 2012; SCLIAR-CABRAL, 2013), o cérebro humano possui uma área que se especializa no reco-
nhecimento das letras à medida que o indivíduo aprende a ler e escrever. Essa área é chamada de “Área da Forma Visual das Palavras”
(AFVP), onde ocorre a conexão entre as inormações percebidas através da visão e o processamento onológico.
Ingrid Finger • Luciana de Souza Brentano
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Assim, com base nos argumentos apresentados letras que compõem o alabeto azem parte das
acima, deendemos aqui que a leitura e a escrita atividades que envolvem um momento inicial,
não são processos naturais, automáticos ou ins- mas importante, do processo de compreensão
tintivos e que, portanto, a maioria das crianças não das relações entre as letras e a língua escrita.
consegue aprender sozinha a ler e escrever com Nesse contexto, a autora deende que para que
competência e desenvoltura somente a partir da haja, por parte da criança, a compreensão do prin-
exposição a textos escritos em contextos signica- cípio alabético é necessário o conhecimento das
tivos. Nessa perspectiva, Soares (2016) argumenta letras, que é um contato que inicia na Educação
que é necessária a mediação para que haja com- Inantil e no próprio contexto amiliar e social da
preensão dos princípios alabéticos, para que a criança, quando as mesmas estão imersas em
criança compreenda a relação entre onemas e ambientes com diversos materiais escritos, tais
letras ou graemas e, como consequência, se al- como cartazes, etiquetas, placas, livros e diversos
abetize. Em resumo, o processo de alabetização outros materiais com registro escrito utilizando
é um processo escolar e precisa de um mediador o alabeto. Esse processo é denominado de
com experiência para conduzir e estimular as “Literacia Familiar” (SÈNÉCHAL, 2006).
relações grao-onêmicas, permitindo que seus Em relação ao desenvolvimento da consciência
alunos possam avançar nas suas aprendizagens. onológica, concordamos com Soares (2016) que
A nosso ver, portanto, é papel do educador na é na Educação Inantil que se inicia o desenvolvi-
escola orientar a criança na construção desse mento dessa habilidade, considerada essencial
conhecimento, como acontece na aquisição de para o avanço da leitura e escrita. Estudos indi-
princípios matemáticos ou em outras áreas do cam que essa consciência representa um passo
conhecimento. Mas qual é o momento de se inicial para o desenvolvimento da capacidade
iniciar esse processo no qual a criança passa a da leitura e tem relação direta com a ativação e
ser exposta à língua escrita de orma mais or- desenvolvimento de circuitos neurais em regiões
ganizada e sistemática? O desenvolvimento das especícas do cérebro, que desde a idade pré-
habilidades de leitura e escrita começa somente -escolar já se mostram presentes, localizando-se
no 1º ano do Ensino Fundamental? Tais questões principalmente em áreas do hemisério cerebral
serão abordadas na próxima seção. esquerdo (ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS,
2011). A consciência onológica pode ser enten-
2 Quando a criança deve iniciar o contato dida como um conjunto de habilidades que vão
com as letras e tomar consciência desde a simples percepção global do tamanho
dos sons da língua, uma habilidade da palavra e de semelhanças onológicas entre
fundamental para a alfabetização? elas, até a segmentação e manipulação de sílabas
e onemas (FREITAS, 2004). Ainda, a consciência
O aprendizado da leitura e da escrita começa
onológica reere-se tanto à consciência de que
a ser construído muito antes do processo de
a ala pode ser segmentada quanto à habilidade
alabetização, que se dá nos níveis iniciais do
de manipular tais segmentos (ALVES, 2009). Além
Ensino Fundamental. Sabemos que as crianças,
disso, é uma habilidade que se desenvolve gra-
desde muito pequenas, se aproximam da lei-
dualmente à medida que a criança vai tomando
tura, principalmente, pelo interesse por livros e
consciência do sistema sonoro da língua, ou seja,
histórias; portanto, as experiências com a língua
de palavras, sílabas e onemas como unidades
escrita, anteriores ao período de alabetização,
identicáveis (CARDOSO-MARTINS, 2008).
são importantes e auxiliarão na aprendizagem
A partir dos argumentos apresentados acima,
posterior, quando a criança terá contato com o
portanto, é possível armar que o aprendizado
ensino ormal da leitura e escrita. Para Soares
da leitura e da escrita inicia muito antes do in-
(2016), o contato com as letras, a memorização
gresso da criança no Ensino Fundamental, sendo
da escrita do próprio nome e o conhecimento das
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que o estímulo aos hábitos de leitura e escrita pudesse vir a “sorer prejuízos” em beneício de
e à apreciação literária devem azer parte das outra deixou de ser aceita, principalmente porque
práticas cotidianas das amílias e nas classes de dados das pesquisas que oram conduzidas a partir
Educação Inantil, com vistas à ormação de um dessa época mostraram exatamente o contrário: os
leitor/escritor prociente e de uma sociedade conceitos aprendidos em uma língua poderiam ser
mais letrada. Mas e quando a criança está inserida rapidamente transeridos para a outra, independen-
em um contexto de educação bilíngue? A escola temente da língua (BRENTANO; FINGER, 2018). Essa
deve priorizar a alabetização apenas em uma lín- proposta oi intitulada de Modelo de Prociência
gua inicialmente para, a seguir, expor a criança a Subjacente Comum (Common Underlying Profciency
textos escritos na língua adicional ou a exposição Model - CUP) e oi apresentada pelo pesquisador
e instrução podem ser eitas simultaneamente, Jim Cummins, em 1979. O autor ilustrou seu modelo
nas duas línguas da criança? Essa é a discussão através da gura de dois icebergs que, separados
que será apresentada na próxima seção. acima da superície, representam as características
individuais de cada língua, mas que abaixo da su-
3 Crianças bilíngues devem se perície se undem, caracterizando o uncionamento
alfabetizar primeiro na língua materna cognitivo compartilhado entre as duas línguas da
para depois se alfabetizarem na língua criança. Dessa orma, Cummins deendeu que as
adicional ou a instrução pode acontecer crianças bilíngues não passam por processos dis-
simultaneamente nas duas línguas da tintos ao desenvolverem habilidades linguísticas
criança? em suas duas línguas. Ao contrário, segundo ele
há um único sistema de processamento central,
A alabetização de crianças bilíngues é um
uma espécie de “repositório” central, no qual as
assunto que gera grande polêmica tanto entre
habilidades subjacentes ao alar, ler, escutar e
prossionais da educação quanto entre pais. Há
escrever são originadas de orma compartilhada,
diversas comunidades no mundo nas quais as
sendo que a consciência onológica e a consciência
crianças desenvolvem a modalidade escrita da
morológica,5 essenciais para a alabetização, ariam
língua desde muito cedo e isso tem contribuído
parte desse repertório (CUMMINS, 2017). Ainda, para
para dar ainda mais visibilidade para essa temá-
o autor, os conhecimentos que subjazem essas
tica. Por outro lado, há muita dúvida e incerteza
habilidades são transeridos entre as línguas do
nesse processo, em especial no Brasil, já que a
bilíngue, independentemente da ordem ou situação
escolarização bilíngue tem crescido enorme-
em que tenham sido adquiridos pelas crianças.
mente, mas os estudos que abordam o desen-
Desde a postulação inicial do modelo de Cum-
volvimento da leitura e escrita em duas línguas
mins (1979), postula-se que há compartilhamento
a partir de uma perspectiva cognitiva ainda são
de habilidades subjacentes às duas línguas do
incipientes (FINGER et al., 2019).
bilíngue, um enômeno conhecido na literatura
Essa preocupação nos parece arraigada em
por “transerência interlinguística” (CUMMINS,
concepções antigas que viam o bilinguismo como
2017, dentre outros). Embora sejam necessários
uma possibilidade de desenvolver conusão men-
mais estudos que especiquem quais habilidades
tal (BAKER; WRIGHT, 2017). Do início do século 19
e conhecimentos são de ato compartilhados
até aproximadamente 1960, acreditava-se que o
entre as línguas no cérebro bilíngue, a grande
bilinguismo trazia eeitos cognitivos prejudiciais ao
maioria deles parece ornecer evidências de que
alante bilíngue e que o desenvolvimento linguístico
crianças bilíngues, em alguma medida, integram
em uma língua ocorria às custas do desenvolvi-
os conhecimentos das suas duas línguas, sem
mento linguístico da outra língua. Após os anos
conusão, já nas suas primeiras experiências
1960, essa ideia equivocada de que uma língua

5
Consciência morológica é a habilidade de reletir sobre os moremas das palavras, ou seja, daqueles ragmentos mínimos que repre-
sentam as menores unidades de signiicado de uma palavra (MOTA, 2010).
Ingrid Finger • Luciana de Souza Brentano
Biliteracia e educação bilíngue 7/12

com a modalidade escrita, indicando também al., 2018). Em seu estudo, Felton et al. (2017), por
uma transerência consciente de conhecimento exemplo, armam que índices de organização em
entre os sistemas linguísticos (ver, por exemplo, regiões especícas do cérebro são sensíveis a va-
KENNER et al., 2004; BIALYSTOK et al., 2005). Parte riações na experiência linguística dos participantes
desses estudos são apresentados em Dressler e testados. Evidência semelhante é apresentada em
Kamil (2006), como parte do Report on the Natio- Kovelman et al. (2008), que deendem uma possí-
nal Literacy Panel on Language-Minority Children vel “assinatura neural” do bilinguismo. Na mesma
and Youth (AUGUST; SHANAHAN, 2006), no qual linha, Kroll e colegas (2013) armam que as duas
os autores apresentam resultados de vários es- línguas de uma criança bilíngue interagem umas
tudos que comprovam que os bilíngues azem com as outras durante a aquisição. Essa inter-rela-
transerência interlinguística na habilidade de ção dará suporte ao aprendizado das duas línguas
compreensão leitora, podendo esta transerên- azendo com que as duas se complementem
cia ser entre línguas tipologicamente distintas, durante a aquisição. Além disso, as características
e podendo ocorrer da primeira para a segunda estruturais das duas línguas e ortograas podem
língua ou vice-versa. Também argumentam que aetar a orma como uma criança bilíngue aprende
a transerência pode ocorrer para aprendizes de a ler e a organização cerebral da criança para a
inglês como língua estrangeira e inglês como leitura (JASÍNSKA; PETITTO, 2013; JASÍNSKA et
segunda língua, assim como para crianças de al., 2016; JASÍNSKA et al., 2017). A nosso ver, essa
nível undamental ou médio. organização cerebral que se inter-relaciona e ao
Autores como Bialystok et al. (2005, p. 44) mesmo tempo abastece o repertório linguístico da
corroboram as evidências acima apresentadas criança deve ser vista como benéca, porque são
ao armar que: mais oportunidades de uso do executivo central
na elaboração de soluções para situações do coti-
Há duas razões pelas quais a alabetização
pode ser dierente para crianças bilíngues e diano, bem como o aprimoramento da capacidade
monolíngues. A primeira é que os bilíngues de ler e compreender o mundo, visto que ambas
desenvolvem várias habilidades para a alabe-
tização, de maneira dierente dos monolíngues. as línguas contribuem para azer novas conexões
A segunda é que os bilíngues podem ter a e criar redes sólidas relacionadas ao aprendizado
oportunidade de transerir as habilidades ad-
quiridas para ler em um idioma e ler no outro. da leitura e escrita.
Em ambos os casos, a relação entre os sistemas Portanto, a nosso ver, é possível conduzir o
de escrita nas duas línguas determina a seme-
lhança nas habilidades cognitivas necessárias processo de alabetização na escola em duas
para a leitura e também pode determinar até línguas simultaneamente, sem qualquer tipo de
que ponto o bilinguismo aeta a alabetização.
prejuízo ou problema para a criança, visto que ela
irá utilizar mecanismos internos para azer asso-
De ato, o bilinguismo aeta a alabetização, pois
ciações entre as línguas e transerir habilidades
a criança bilíngue constrói conhecimentos e de-
entre elas, o que irá contribuir para um maior
senvolve habilidades utilizando todo seu repertório
desenvolvimento da fuência e prociência em
linguístico, ou seja, ao iniciar o processo de escrita e
ambas as línguas. Entretanto, é imprescindível
leitura, a criança bilíngue não o az apenas em uma
que os proessores entendam os processos pe-
de suas línguas; ela vai automaticamente buscar
los quais as crianças passam, para que possam
relações entre as línguas, para ir construindo suas
escolher as melhores estratégias metodológicas
hipóteses e estabelecendo associações.
e azer as intervenções adequadas, sem exi-
Além do maior repertório linguístico, que vem a
gências desnecessárias. Mas em que medida
contribuir na elaboração de ideias e hipóteses por
o desenvolvimento das habilidades de leitura e
parte da criança, o cérebro bilíngue se constitui
escrita em duas línguas simultaneamente pode
dierentemente como resultado da experiência
sobrecarregar cognitivamente a criança? Essa é
de uso de duas línguas, o que traz mudanças nas
a questão que será respondida a seguir.
áreas de ativação neural (ARCHILA-SUERTE et
8/12 Letrônica, Porto Alegre, v. 13, n. 4, p. 1-12, out.-dez. 2020 | e-37528

4 Desenvolver habilidades de escrita e fexibilidade cognitiva e o controle inibitório, são


leitura em duas línguas simultaneamente extensivamente praticados pelos bilíngues no
pode criar uma demanda cognitiva muito momento em que eles selecionam a língua a ser
elevada para a criança? utilizada em cada contexto. É importante deixar
A partir dos estudos relacionados às Neuroci- claro que isso não signica que os pesquisadores
ências, podemos armar que o aprendizado da da área queiram dizer que crianças bilíngues sejam
leitura e o aprendizado da escrita são, por si só, mais inteligentes do que crianças monolíngues;
processos que acarretam demanda cognitiva o que os estudos evidenciam é que a experiên-
para a criança, pois para ler e escrever preci- cia de usar duas línguas cotidianamente pode
samos mobilizar mecanismos relacionados às acarretar o desenvolvimento de uma capacidade
unções executivas, tais como inibição, memória mais aprimorada de certas unções cognitivas em
de trabalho e fexibilidade cognitiva (HAASE, tareas especícas, a partir da suposição de que o
2016; HÜBNER, 2019). É importante ressaltar, aparato cognitivo dos bilíngues seria não apenas
entretanto, que todo e qualquer aprendizado mais ocado em pistas relevantes como também
exige envolvimento cognitivo e essas demandas mais fexível e imune a distrações.
cognitivas não são consideradas elevadas demais É importante salientar que a existência de
em relação à idade da criança. Nessa linha, Haase uma suposta vantagem cognitiva advinda da
(2016) argumenta que as tareas escolares, por experiência bilíngue está longe de ser consenso
si só, são cognitivamente desaadoras, já que na literatura da área. Vários pesquisadores ques-
toda a aprendizagem que envolva mobilização tionam os resultados que conrmam vantagens
de conhecimentos, aprendizagem de conceitos, bilíngues e alguns inclusive deendem que essa
ou aquisição de uma habilidade vai exigir esorço linha de investigação tem trazido resultados
do executivo central e da memória de trabalho. tendenciosos e viés de publicação (MORTON e
Sendo assim, demandas cognitivas são exigidas HARPER, 2007; HILCHEY; KLEIN, 2011; PAAP et al.,
em todas as etapas do processo de aprendiza- 2015; DE BRUIN et al., 2015; dentre outros). Outros,
gem escolar e isso não é algo ruim. por outro lado, deendem que essas evidências
Em relação ao processamento cognitivo no confitantes podem ser tomadas como pistas de
bilinguismo, mais especicamente, é vasta a gama novos caminhos metodológicos a serem seguidos
de estudos que considera o bilinguismo uma de- dentro dessa área de investigação, tais como
manda cognitiva extremamente avorável ao apri- maiores cuidados com os critérios adotados na
moramento de habilidades linguísticas e cognitivas seleção dos participantes e um maior controle nas
especícas (KROLL et al., 2013; BIALYSTOK, 2017; tareas empregadas (LEIVADA et al., 2020). Além
DE CAT et al., 2018; LEIVADA et al., 2020, dentre disso, alguns autores (HERNANDEZ et al., 2018,
muitos outros). Estudos conduzidos por Bialystok
6 por exemplo) também sugerem que ao invés
e seu grupo de pesquisa, por exemplo, mostraram de se vericar se a experiência bilíngue de ato
que crianças bilíngues apresentaram melhor de- acarreta ganhos cognitivos, as pesquisas uturas
sempenho do que monolíngues em tareas que devem se concentrar na investigação da forma
requerem o controle da atenção para inibir inor- como a experiência linguística em dierentes
mações distratoras, devido a uma necessidade momentos da vida - e em dierentes contextos,
de controlar a competição entre as línguas que como de imersão (STEIN et al., 2014), por exem-
estão ativas no cérebro (MARTIN-RHEE; BIALYS- plo - aetam o controle cognitivo.
TOK, 2008; BIALYSTOK et al., 2016; BIALYSTOK, Apesar das controvérsias, concordamos com
2017; KROLL et al., 2013). Segundo esses pesqui- Valian (2015) de que gerenciar dois ou mais idio-
sadores, as unções executivas, especialmente a mas é obviamente um desao e, por essa razão,

6
Para uma revisão acessível desses estudos em português, ver Brentano e Finger (2018) e Brentano (2020).
Ingrid Finger • Luciana de Souza Brentano
Biliteracia e educação bilíngue 9/12

é de se esperar que o bilinguismo aça parte de em práticas comuns nas amílias e nas escolas
uma lista de demandas cognitivas importantes de Educação Inantil, uma vez que essas opor-
e avoráveis ao desenvolvimento das habilida- tunidades de contato com a língua escrita e,
des cognitivas superiores da criança, ao lado consequentemente, o desenvolvimento da cons-
de habilidades matemáticas ou musicais, por ciência onológica irão desenvolver pré-requisitos
exemplo. Portanto, o que os resultados de es- necessários para alabetização.
tudos das Neurociências evidenciam é que não Além disso, apresentamos evidências de que
somente o cérebro da criança está preparado alabetizar em duas línguas simultaneamente não
para tareas de alta demanda cognitiva (como acarreta qualquer tipo de prejuízo para as crian-
aprender uma língua adicional), como desaos ças, uma vez que elas estabelecem associações
desse tipo são essenciais para garantir que o entre suas línguas e transerem habilidades de
desenvolvimento cognitivo da criança ocorra, uma para a outra. Os estudos comprovam ainda
uma vez que atividades que demandam cogniti- que esse processo de desenvolvimento da ca-
vamente são justamente aquelas que propiciam pacidade de leitura e escrita em duas línguas pa-
o estabelecimento de redes neurais ortes e, por ralelamente na verdade contribui para um maior
consequência, estimulam o aprendizado sólido, desenvolvimento da fuência e prociência em
contribuindo para o desenvolvimento de com- ambas as línguas. É essencial, no entanto, que se
petências linguísticas e cognitivas na criança. compreenda melhor os processos envolvidos na
construção da biliteracia para que as intervenções
Considerações finais metodológicas adotadas sejam cada vez mais
bem inormadas e ecazes.
O presente artigo teve como objetivo discutir
Finalmente, demonstramos que a alabetiza-
conhecimentos advindos de pesquisas nas Neu-
ção em duas línguas não causa problemas ou
rociências e na Psicolinguística sobre alguns dos
diculdades para a criança, uma vez que as pes-
processos linguísticos e cognitivos envolvidos
quisas evidenciam que há uma transerência entre
no desenvolvimento da leitura e da escrita em
as línguas que é positiva e que essa exposição
crianças bilíngues. Para isso, apresentamos uma
a duas línguas contribui para um maior desen-
refexão sobre quatro questões que ilustram
volvimento cognitivo dessas crianças. Somado
dúvidas constantes de pais e educadores que
a isso, ao contrário do que algumas pessoas
atuam em contextos de educação bilíngue.
sem o conhecimento aproundado pregam, essa
Resumimos, aqui, alguns aspectos importantes
demanda não causa sobrecarga, mas sim um
da discussão proposta. Em primeiro lugar, vimos
desenvolvimento mais aproundado de redes
que a leitura e a escrita são processos culturais,
neuronais que vão contribuir ainda mais para o
que não ocorrem de orma instintiva e natural como
desenvolvimento de um sujeito bilíngue mais
acontece com a ala; portanto, para que possam se
preparado para as demandas desse novo mer-
desenvolver de forma bem sucedida necessitam
cado com um repertório linguístico mais diverso
de intervenção planejada e qualicada por parte
e plural, capaz de se comunicar de orma ecaz
de um prossional dedicado e com conhecimento
com um maior número de pessoas no mundo e
dos processos envolvidos, independentemente de
de compreender e respeitar a diversidade.
a alabetização ocorrer em uma ou mais de uma
língua, simultaneamente ou sequencialmente.
Na sequência, apresentamos evidências de Referências
que o aprendizado da leitura e da escrita inicia ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS. Aprendizagem
muito antes do ingresso da criança no Ensino infantil: Uma abordagem da Neurociência, Economia e
Psicologia Cognitiva. Rio de Janeiro: Academia Brasileira
Fundamental. Por essa razão, consideramos de Ciências, 2011. 264 p.
importante que o estímulo aos hábitos de leitura
e escrita e à apreciação literária constituam-se
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em Educação Bilíngue e Cognição da Faculdade IENH
em Novo Hamburgo, RS, Brasil. Integrante do Labo-
ratório de Bilinguismo e Cognição da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Coordenadora
do Currículo Bilíngue da Instituição Evangélica de Novo
Hamburgo (IENH), em Novo Hamburgo, RS, Brasil; e
assessora na implantação de currículos bilíngues em
escolas brasileiras.

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