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CIDADE LIVRE NA GRÉCIA

Na Idade do Bron~, a Grécia se encontrva


perife~ndo ciyjJi. a região montanhosa e desi-
guãrilão se presta à formação de um grande Estado, e
é dividida num grande número de pequenos principa-
dos independentes. Em cada um deles, uma famUia
guerreira, a partir de uma fortaleza empoleirada num
ponto elevado, domina um pequeno território aberto

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cultura, que ainda hoje permanece base da nossa tradi· cidades democráticas o pritaneu e o bukutérion se
ção intelectual. encontram nas próximas da ágora.
É necessário recordar sucintamente a organiza· Cada cidade domina um território mais ou me-
ção da polis, a cidade-Estado, que tomou possiveis os nos grande, do qual retira seus meios de vida. Aqui
extradrdinários resultados da literatura, da ciência e podem existir centros habitados menores, que man-
da arte. têm uma certa autonomia e suas próprias assem·
A origem é uma colina, onde se refugiam os habi· bléias, mas um único pritaneu e um único bukutérion
tan~ert'ãêF-'se dos inimigO$; mais · na cidade capital. O território é limitado pelas monta·
tarde, o povoado se estende pela planicie vizinba,.. e nhas, e compreende quase sempre um porto (a certa
gerabn'ênte é foffificado~um cin~uros. , distância da cidade, porque esta ge.r almente se encon-
Distingue-se ent:ãõ a cidaãeãlta (a acrópok, onde fi. tra longe da costa, para não se expor ao ataque doa
~~pios dos deuses, eóndêos habitantês da piratas); as comunicações com o mundo exterior se
cidade ainaa põdem refu~ar-se pal'a~fe: realizam principalmente por via marítima.
_sa~de-õruXa (ã astu, onde se ~vo vem os Este território pode ser aumentado pelas conquis-
comércios e asrêlãções civi&); mas ambas são p~ tas, ou pelos acordos entre cidades limitrofes. Esparta
de um único organismo, póis a comunidade citadina chega a dominar quase a metade do PeloPOneso, isto é,
funciona como um todo único, qualquer que seja seu 8.400 km2; Atenas possui a Ática e a Ilha de Salamina,
regime politico. ao todo 2.650 km2• Entre as colónias sicilianas, Siracu-
Os órgãos necessários a este funcionamento são: sa chega a ter 4.700 km2 e Agrigento, 4.300. Mas as
1) O lar comum, consagrado ao deus protetor da outras cidades têm um território muito menor, e por
cidade, onde se ofe~m os sacrificios, se realizam os vezes bastante ~ueno: Tebas tem cerca de 1.000 km2
banquetes rituais e se recebem os hóspedes estrangei· e Corinto, 880 km . Entre as ilhas, algumas menores
ros. Na origem era o lar do palácio do rei, depo\s toma· têm uma única cidade (Egina, 85 km2; Nasso e Samoa,
se \1m lugar simbólico, anexo ao edificio onde residem cerca de 450 km~. Mas entre as maiores somente Ro-
os primeiros dignitários da cidade (os pritanes) e se des (1.460 km~ chega a unificar s uas três cidades no
chama pritaneu. Compreende um altar com um fosso fim do século V; Lesbos (1.740 km~ está dividida em
cheio de brasas, uma cozinha e uma ou mais salas de cinco cidades; Creta (8.600 km~ compreende mais de
refeição. O fogo deve ser mantido sempre aceso, e cinqüenta.
quando os emigrantes partem para fundar uma nova A po~ção (excluidos os escravos e os estran·
colônia, tomam do lar da pátria o fogo que deve arder geiros) ésempre-teduzida, não só pela pobreza dos
no pritaneu da nova cidade. recursos rríaã~pção política: quando cresce
2} O conselho (b1út2_dos nobres ou dos funcioná· além de certo limite, organiza-se uma expedição para
rios que representam a assembléia dos cidadãos, e !oriTiãf.:iiÍna colôrua..lo'í@iíqua:-1\temrãriÕ tempo de
mandam seus representantes ao pritaneu. Reúne-se Péricles tem cerca de 40.000 habitantes, e somente três
numa sala coberta que se chama buleutérion. outras cidades, Siracusa, Agrigento e Argos, superam
3) A assembléia d · dãos (< ra ue se re- os 20.000. Siracusa, no século IV, concentra forçada·
úne p · as ec1sões dos e es ou para delibe- mente as populações das cidades conquistadas, e che-
rar. O local de reunião é usualmente a praça do merca· ga então a cerca de 50.000 habitantes (Fig. 278). As
do (que também se chama ágora), ou então, nas cida· cidades com cerca de 10.000 habitantes (este número é
des maiores, um local ao ar livre expressamente apres- considerado normal para uma grande cidade, e os
tado para tal (em Atenas, a colina de Pnice). Nas teóricos aconselham não superA-lo) não passam de

Fig. 177. O mundo egeu.


Fig. 178. Uma moeda da cidade de Nass, com as figuras de Dio~t
de Sikno.
Fig. 179. Uma esculwra do úculo V a.C.. no Museu Nocional tk
Atenas.

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Elparta, na época das Guerras Persas, tem enormes multidões. Têm consciência de sua comum
8.000 habitantes; Egina, rica e famosa, tem civilização, porém não aspiram à unificação politica,
porque sua superioridade depende justamente do con·
não é considerada um obstáculo, ceito da polis, onde se realiza a liberdade coletiva do
a condição necessâria para um organiza- corpo social (pode existir a liberdade individual, mas
• mwMme:nto da vida civil. A população deve não é indispensável).
ldciel~telmente numerosa para formar um exérci- A pátria-como diz a palavra, que herdamos dos
mas não tanto que impeça·o funciona- gregos - é a habitação comum dos decendentes de um
UIIemlbl~~a,isto é, que permita aos cidadãos ún ico chefe de famUia, de um mesmo pai. O patriotis-
•na~-ee entre si e escolherem seus magistrados. mo é um sentimento tão intenso porque seu objeto é
reduzida, é de temer a carência de limitado e concreto:
demais, não é mais uma comunida- Um pequeno território, nll8 encostas de uma montanha, atra·
uma massa inerte, que não pode vessado por um riacho, escauado por alguma bala. De lodos os
lados, a poucos quiMmetros de dist4ncia, uma eleuaçõo do terreno
si mesma. Os gregos se distinguem serve de ümite. &a.to subir 4 ocrópole pora abaro<Wo por inuiro
do Oriente porque vivem como homens com um o/JuJr. ta urm sagrada do pdlri4: o recinto do {amtlia, as
proporcionadas, não como escravos em tumbll8 dos·antepassados, os campos cujo$ propriettlrios a todos 8"

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ronhecem, a montanha 011de se uai cortar /e~ha. se /euar os rebrr,. 2) O espaço da cidade se divide em três zonas:
nho8 a sxutar ou 1e apanha o mel, os templo$ onde se assiste cios
sacrlficW., c acr6pok oonde se uci em prociss(jq, Mesmc a menor áreas privadas ocupadas pelas casas de moradia,
cidack I aq~/4 pela qucl Heili>r corre IJO encontro da m orte, 011 áreas sagradas- os recintos com os templos dos
espartGllos con.sideram honroso "ca.ir nc primeircfi/a", os com />e. - e as áreas públicas, destinadas às reuniões
tente& ck Sal4minc se l4nçam d abordagem ccntcndo o pe4 e ao comércio, ao teatro, aos jogos desportivos etc.
S6crotes bebeacicutcparo n®cksobeckcer d lei. (G. Glotz, Introdu.
ç4o c A Cidade Grega {1928), trcd~ iltJliana, Turim, 19S5, par. Estado, que personifica os interesses gerais dacom•
lll). nidade, administra diretamente as áreas públicas, iDo
Analisemos agora o organismo da cidade. O no- tervém nas áreas sagradas e nas particulares. As dife.
vo caráter da convivência civil se revela por quatro renças de função entre estes três tip os de
fatos: predominam nitidamente sobre qualquer
1) A cidade é um todo único, onde não existem rença tradicional ou de fato. No panorama da
zonas fechadas e independentes. Pode ser circundada os templos se sobressaem sobre tudo o mais, porém
por muros, mas não subdividida em recintos secundá· mais pela qualidade do que por seu tamanho. Surgem
rios, como as cidades orientais já examinadas. As ca· em posição dominante, afastados dos outros edificioe,
sas de moradia são todas do mesmo tipo, e são diferen· e seguem alguns modelos simplese rigorosos- a
tes pelo tamanho, não pela estrutura arquitetônica; dórica, a ordem jõnica - aperfeiçoados em muitas
são distribuidas livremente na cidade, e não formam tições sucessivas; são realizados com um sistema
bairros reservados a classes ou a estirpes diversas. trutivo propositadamente simples - muros e cohmaa•
Em algumas áreas adrede aparelhadas - a 6gora, de pedra, que sustentam as arquitmves e as
o teatro - toda a população ou grande parte dela pode cobertura (Fig. 182) -de modo que as exigências
reunir-se e reconhecer-se como uma comunidade or- cas impeçam o menos possivel o controle da forma
gânica. (outros sistemas construtivos mais complicados, como

Fig. IBIJ. Um templo do1k ulo VtJ.C. (otemplockNetunoem Pe81o)

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181. A e.trutura em arco da passagem inferior para entrar no
01/mpia.

lfla. 182·183. A estrutura em arquitra•·es de um templo dórico


, . do slcuw V a.C. Cada parte. embora secund6ria, tem um
- e uma configuraçdo est6ue/:

A. PLANTA: I. ramp1; 2. ptrllttilt; 3. vttttbulo (pronao): 4. cela: 6. epiatódomo. B.


ILIVADO: 6. eeti16bf.ta; 7. colehetet: 8. f'u1te de oolurH&: 9. coh1.rinho: 10. capitel~ 11.
lllliiM:I1tquln.o: IS.,biCO; l.t. Ortotl3tot; 16. nrquitrnv~; l$. friló; 17. r~uft. e ~otol;
tllllel: 19. trllllto; 20. mttope; 21. iOttirt~~: 22. mCnul01 com tcotee: 23. telhe.do: 24.
•••141obtir&l; 25. ftontlo; 26. nit:ho do l'rontAo: 27. comijA horitOnLAI: 28. ttmpe.no: 29.
Cllllijaobbquo 00. t.nt.efixN; 31. '-O"OI~Tio ena-ulttr. 32. ecrottrio ttrminttl.

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os arros- Fíg. 181 -são reservados aos edi1icios menos gem natural (Fíg. 184191). A medida deste eq
importantes). entre natureza e arte dâ a cada cidade um
3) A cidade, no seu conjunto, forma um organis· individual e reconhecivel.
mo artificial inserido no ambiente natural, e ligado a
este ambiente por uma relação delicada; respeita as 4) O organismo da cidade se desenvolve no
linhas gerais da paisagem natural, que em muitos po, mas alcança, de certo momento em diante,
pontos significativos é deixada intacta, interpreta·a e disposição estável, que é preferivel não perturbar
integra·a com os manufaturados arquitetônicos. Are- modificações parciais. O crescimento da popula
gularidade dos templos (que têm uma planta perfeita· não produ:~: uma ampliação gradativa, mas a adi
mente simétrica, e têm um acabamento igual de todos de um outro organismo equivalente ou mesmo
os lados devido à sucessão das colunas) é quase sem· que o primitivo (chama·se paleópok, a cidade v
pre compensada pela irregularidade dos arranjos cir- neápak, a cidade nova; Fig. 250), ou então a partida
cunstantes, que se reduz depois na desordem da paisa· uma oolônia para uma região longinqua.

fi~:. l/J.I. /'/anta du recmtu •agrado de 01/mpia, no f•m da idade


r/ássica.

1. muroe ~ 4o AlUe: 2. mu.roe romano. do Altl« 3. povoado heltdico; 4. '-Pio•


H,..o:Z. .o;6. nlnloudeH..odooAcicol6....._doolll•....,.,;, o)0.1o;b)..._4
Justamente por estes quatro caracteres- a uni· Me<ooonto; d) S.Unonlo; •> &ltu de Gt: I) CU.no: r) 81buio: h) lli""do: I) l!.......,.t
Samoo(?): lo)Siracuu; l)SiciAo; 7. Motroon;8.Mildlo;9. anlica oiOG: IO.oiOG deEdloc
dade, a articulação, o equilibrio com a natureza, o 11. rodap6 com u buee du colW'al de eu•tent.clo du e.tétuae de Artlnoe e •
Ptolomt~u 11: 12. ttmplo de Zeu.e: 13. altar de Z.ue (?); 14. Pelopilo; 16. muro do~
limite de crescimento - a cidade grega vale doravante 18. PhiUpp4ion; 17. prilanou; 18.,-lnulo: 19. pal..tra: 20. Theokolann; 21. bolnho-
oomo modelo universal; dá à idéia da convivência hu· 22.. tmuq; 23. Hoeph..i~ 24. cua romana; 25.. ~· bbantin,.. 2l Eraa.t.tnc. •
F1diu; 'n. Leonidaion; 28. •U>o mtrid~ 29. bwkfl.tlrlora.; 30. entnda ntfOft.i&D«n
mana uma fisionomia precisa e duradoura no tempo. Htllanod:ikcion; 82. ceM cSe Nero: 33. cua 4o odbctno.

RO
Fig. 185. Recons!ruçdo do recmto
. sagrado de OlimpW..

81
Figs. 186·187. Pla11ta e vista do Teatro de Epidauro. o ma..,
co11servado dos teatros gregos.

82
I. murot d~ circund~: 2.. Via &era; 3.. Toro doe OOfci~; 4. b.M dot •rcadflt: S
...Utua de Phílopoimen; 8. hfdra cto. nGM~UCiwJ.I; 7. es-voc.o da batalhe. eH Ma.tal.4nt
ex-voto doe &rf\VOII; &. oe Seu dt T.bü; 9. cavalo; 10.01 tplronoe; 11. oereilldtArao.
12. b.,. doe tarentinoe; tlauawol~ 13. de Sldlo; 14. de Silno.; 16. de Tebu~ 16. Ck
Poddfie.; 17. de A«tnat: 18. de SlracUN.: 19. o chamado e6lic:o; 20. de Cnldoe; 21
bultuttri.on: 22. bue doe beócioe: 23. roeha da SibUa; 24. Un-urno. de Gt; 25. Alklepleion
ou tbnt~ du my...; 26. e.rtnlt doe N.....,.; 21. roe.ha de IAtof\fo: 28.. pórtico d01
awnitnMI-; 29. rhuau,.,.,. de Corinto; 30. tltdtuu(» de ~nt; 31. prita.n~ 32.. mu.ro
poUaonal e tree •m tt:rraçoe;; 33. ex-vo\0 doe m...tni~ 34. monume.1uo ele Emilio
Paulo; Mo trlpode de Pio~ 36. c.no doe r6dioe; :n. olto.r do Quloo; 38. T-plo do
Apolo: 39. monumento de EumCW'It; 40. don6rio dtCorci.ra; 41. tht~OUIW (t}; 42. eaça de
Aloendre; ta tl\W"'t de tutlflnttltlo; 44. monumento de Prüiu; 46. monument.o de
Aritteinet.a: 46. don•rio dOI fooenMe; 47. donirio dt fi.r acuaa; 48. t.h~1ouro.de A~ntot;
49 . •t.ttu• de Ál&lo; 60.C~ttltu.ade EUJDoene; 51. fiOo de Atalo; 62. ttnwnot de Neoptol•
mo; 63. monumt:nto de 0.()CI06; $4. tucira; 66. li~no. de ~n; 66. tlrMitl)f de
Oionito: 57. teetw, 6& pórtico do ~altO'; 59. Lt•h de Cnidof.

Dtl{o.. Pf4nl4 do recinto (J(I.gradotk Apolo (A e B na


.,aa).
Figs. /90-/91. Vista e planta do Estddio de Delfos.

-------------·-----------·-·-------------------------... ----
o
o A pista mede, da linha de partida à linha de chegada,
192 m, isto é, na medida grega do estádio.

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U..t&t:otk bronu conuruodo no MW!eutk 0/lmpia
- - tn«lidM e o mnmo pe.a do owal: 22 cm tk
/w); um orre~MU4dor de diaco repruentado
..a do inJcio do "culo V a.C.

8.)
d

-
Fig. 194. O local de Atenas; desenlw deLe Corbusier. Fig. 195. Uma moeda ateniense, o didrtu:ma de prata, oom a cabeço
de Atenas e a ooruja.

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manda construir uma nova cinta de muros mais am-
pla (cerca de 250 hectares), eleva os edificios da Agora
e organiza o Pireu como novo porto comercial e mili-
tar. No tempo de Péricles, a Acrópole é praticamente
refeita: constroem-se o Pártenon (447-438 a.C.); os Pro-
pileus (437-432 a.C.); o templo de Atena Niké (cerca de
430-420 a .C.) e, mais tarde, o Erecteu (421-405 a.C.). A
cidade se expande para fora dos muros de Temistocles,
e tende a transformar-se num organismo territorial
mais complexo; é traçada a alameda retilinea - dro-
mus -que o Dípilo leva à Academia, e são construidos
recortada por dois pequenos rios, o os "longos muros" que ligam a cidade ao porto do
entre os quais se encontram uma Pireu, ordenado por Hipódamo com um plano geomé-
Licabeto, a Acrópole, o Areópago, a trico racional. Cleon retifica o perimetro dos muros de
a Pnice, o Museu. A Acrópole, 156 Temístocles, para aumentar as defesas da cidade a
do mar, é a única que oferece segurança oeste. Dá-se Ull)a forma arquitetônica mais co_mpleta a
Oancoslngremes e espaço suficiente em teatro de Dioniso, onde se pode reunir toda a popula-
terminal; foi a sede dos primeiros habi· ção de Atenas a fim de ouvir as tragédias de ~squilo,
e permaneceu o centro visivo e orga· . Sófocles e Euripides e as comédias de Aristófanes
metrópole subseqUente, que Heródo- (Figs. 21~218).
em forma de roda".
Atenas se formou quando os habitan·
menores da Atica foram persuadidos Esta sistematização, que Atenas dá a si mesma
enquanto permanece livre e poderosa, não correspon-
por Teseu, segundo reza a lenda -a se
tomo da Acrópole. O centro da nova de a um projeto regular e definitivo: é composta por
a depressão quase plana ao norte dauma série de obras que corrigem, gradualmente, o qua-
dro geral, e se inserem com discrição na paisagem
aiM' nJ:1101Jilgo, onde se forma a Agora. Sobre
Areópago se instala o tribunal; alguns originária: mas tem, igualmente, uma extraordinária
unidade, que deriva da coerência e do senso de respon-
santuários, como os de Dionisio e de Zeus
sabilidade de todos aqueles que contribulram para
na vertente sul, onde talvez se ha-
08 primeiros bairros de expansão, narealizá-la: os governantes, os projetistas e os trabalha-
exposta. Nasce assim um organismo dores manuais. Estamos habituados a distinguir ar-
onde cada elemento da natureza e da quiteturas, esculturas, pinturas, objetos de decoração,
U1llaza11o para uma função especifica. A mas aqui não podemos manter separadas as várias
coisas.
lado, existe justamente para unificar
diferenciados; é o centro politico, co- Mesmo em plena cidade as ruas, os muros, os
edificios monumentais não escondem os saltos e as
e o local de refúgio de uma população
pelo território. dobras do terreno; as rochas e os patamares ásperos
afloram em muitos lugares ao estado natural, ou então
uma das funções da cidade se constrói
pouco a pouco, o aparelhamento desão cortados e nivelados com respeitosa medida (Figs.
197-198). Os ediftcios antigos e arruinados são muitas
No centro da Acr6pole, que agora se tor-
vezes conservados e incorporados aos novos. Deste
eagrada, executa-se entre o século VII e o
modo, a natureza e a história são mantidas presentes,
grande templo. Em 556 a.C. são institui-
e formam a base do novo cenário da cidade. Sobre esta
•IP&JtatAen~sas e se organiza a via sacra que,
base nascem os novos manufaturados: estátuas gran-
atravessa a Ágora em diagonal e
i&rópolepela entrada ocidental. Pisistrato edes como edificios (por exemplo, a Atena Prómakos de
bronze sobre a Acrópole, que os navegantes viam bri-
corultz'oeln o primeiro cinturão de mlll'08
lhar do mar) e edificios, pequenos ou grandes, construi-
área de 60 hectares), os primeiros
IIOilum.entais ao redor da Agora, o aquedutodos de mármore pentêlico, acabados como esculturas e
coloridos como pinturas.
llissos para a cidade e a sistematiza-
Nos monumentos da Acrópole (Figs. 199-215),
de Dioniso, no declive sul da Acrópo-
não se pode dizer onde termina a arquitetura e onde
\JUJStelles regulariza-se a colina de Pnice
começam os ornamentos; colunas, capitéis, bases, cor-
assembléia, constitui-se o bukuté-
nijas são esculturas complicadas, repetidas todas
sobre a Acrópole um segundo
iguais (Fig. 214); os frisos e as estátuas dos frontões
!IJDIIIDllental, paralelo ao precedente, que será
no PártAenon de Péricles. formam cenas figuradas todas diferentAes, mas são
feitas com os mesmos materiais e trabalhadas com a
cidade já rica e equipada é destruida em 479 mesma finura. Num caso -no pórtico das Cariátides
invasão persa. Logo depois, Temistocles do Erecteu - seis colun as são substituldas por S('Í~

87
fiJ.!. /96. O d(·~(·ru,oleinwnto da cidad~ <h· AtPnas. em seis épocas
o~oucessivas:

A) ldtt.dt diYIIUtf', com indu~BCM do aupo8to trttcedo do• murot do tkulo VI: 8) ~ft t i"' de Oionl11o: 16. odMn de Pfritl~: 16. templo de OemHer e Core: 17. Pi~ l&
ldttde dAMílica. çom indiC'nçAo do~;t murôll de Temistocltt.: C) Idade heltnlltica. com ltmplode Arte-mi•: 19. Heféetion. depola SAo Jorllt(notdtulot V e VI): 20. • h•rdt:Z.
md1cacào doe "'diateic:hitrnn" (muro de tnctrTtt.mtnto, ap66 e demoliç~ doi ..longoa e de Atenta f-'rtttril8; 21. Oipilon; 22. DiattiehiemadoprimfiroM:leni•mo: 23. ~. .
muro." e-ntre AtenAM , o Pireu). I)) tdade- Tomana. com indic:aeto da amplilllt~ d011 ma~ed6nioe: 24. •roa de- Eumentt, ~ monumtnco çorftcito de U.k'rau-e; 26. . _ .
mvroe: de Ad.ritlno l'dot m~,~roe intft"not do fim deld•<h-Ant•a:a: E) ldademtd:level.eom A'--lo: 27. et.oo do mrio; 28. Pompeion; 29. od«m de- Herocle. Ático: ». portatm.arco•
tndM"-tAo dO& r~NI.Oe do. murot t~~nh.ll'O.. e do. muroe do pt'riodo franco (ot t:harn.dol: Adnano: 31. tt.rmN: 32. ginUio; 33. eet6dio; 34. cata com jardim: 3$. WbtiM«< •
muro. de- Vall'n&no).que f«ham o btuno medie-ve) (~); f") ldade modtrn8, oom indica· Adriano; 36. Aeora romana: 37. AKo,.n6mion e tom dOt venc.oe: 38. SooU; 39.l'DCICI•
c:.to dOf. m1,1r08 wroo., pot~riortt tto lf<'ulo V (56) t d• -wna de dttenvolvimtnto da mento de Anlioeo "llopapo; 40. d11ttml'l hidré.uli~a de AdriMo: 41. muroe dt ~
C'ldf'de até o ekulo XI X. em pontilhttdo .obre o traçado de tpoe& recente. - Monumen. 42. murotJdo final dA Antiguidade: -13, baeUic.a dobitpo l,.e0nida.e:44. 9.\of'ilipe;4$.Sit
toJI pnrtic:ulnre• que tiPtlr~m tm divet~~;ot mftpnlil: 1. Pilntnon, depoi1 l'anagia Teo- Oionl1io (A.reopa{C'ila); 46. Santo. Ap6ti.Oiot; 41. Sotiral.ikodimu: 48. Santot Teodoro~;
tOkN Ateniotien (no. •kuloe V e VI): 2.. templo de Atena Poliu; 3. •••'Hu6.rio de 49. SAo Jor,e: 60. AJ'ift Tnada. anl.ft Erecuu; ~1. S.ntoe Anjoe, antu Ptop\Jeu;SI
lhonito; 4. •antu&tlo du Ninfa.:$. F.nneapilon; 6. Ar~ ao; 7. Stmnai: 8. Eleueinion; Kapnlkarea: 63. muroe fr~ 64 Panasi• Gora:oc-píkoo.. (Pequen• Mtt~ '-"
9 rn"'e-akruno., 10 AI(Ora; I t. aqueduto de Pi.tüttet.o: 12. Otimpie.on. 13. Picion~ ... Sto Eleuttrio), M. S.nc.oe Anjoe; 66. murw tu~.
Fig. 198. Atenas, vista dn Acrópole a partir da PnicP.

lli814 d4 Acr6pok do lado oeste.

~- 215). Todas estas peças foram cidade-estado - permanece uma construção na medi-
laboratório e em seguida montadas no da do homem, circundada e dominada pelos elementos
a precisão técnica e as diferenças de da natureza não mensurável. Mas o homem, com o seu
lmiltelv•e!B (a tolerância, se diz hoje) são trabalho, pode melhorar esta construção até imitar a
os casos: os troncos de coluna, os perfeição da natureza, e pode estabelecer, como na
·· as pedras dos muros e as lajes natureza, uma continuidade rigorosa entre as partes e
de mármore, vigas e coberturas de o todo. O conjunto dos monumentos no topo da Acrópo-
entre si milimetricamente (Fig. ·le pode ser visto de todos os lados da cidade, e os
Párte.n01~. então, a estátua mais vene- templos revelam de longe sua estrutura simples e ra-
Pârtenos de Fldias, é uma grande estru- cional; depois, ao aproximar-se, descobrem-se as arti-
revestida de ouro e de marfim, com a culações secundárias, os elementos arquitetônicos re-
ama obra de ourivesaria. petidos (colunas, bases, capitéis) e os detalhes escul-
a presença do homem na natureza toma- turais mais minuciosos, avivados pelas cores: um
qualidade, não pela quantidade; o mundo de formas coerentes e ligadas entre si, da gran-
- como o organismo politico da de à pequena escala.

l-i!J
. ..........)...
.a__ MW'oe pr6-persae ~- ....~
····--·-·- · ···· ··· ··· ·--- ..... ~-~~
~ MIUO de Ctmon

\furoe bb.antinot 1 modemoe


;.tradN antJcM

Fig. 2()(). Planta do Acrópul.• t/,· . \ to·IIO$.

l.portoS..16 IS.Oepeid.ra
2. monu.ll)f:nto de Acrip.a 19. aantulrio de Apolo
3. ._pio do A,.n• N;U
:10. '"''" de Pl
4. propileut 21. Aat.u:r ion
5. pin~ 22. untuirio de Afrodi~
6. Mt,tua de Alt:na Pr6m•koe 23. murot de eutunt.açlo 110bre o ockort d e P&ic:IM
7, Nntd.rio de At.tna Hlaflli• 24. monumento de Tt...Uo
& Brauronion 2$. mono.mtntoe COTflcico.
9. mu.ro are&ioo 26. tutro de Oioni.o
10. eelootec:e 27. templo novo de Oionieo
11. Pbttnon 28. monu mento de Nlclu
12. ternplo arc.tco de Ate.na 29. AKJes>ion
13. oUveire Mgrada 30. gruto.t oom rMtoe pr6-hi1tórioo1
u. Er«teu 31. fonte
15. altar de Z.U. Polieu 32. 1100 de E\lmene
16. templo de Roma e de A1.1iJu.tto 33. odtOn de Herode. AHco
17. ttplanada da C1epeidrll 34. aqueduto

90
~m !Mitll d8 rulnll8 do PdrUMn.

Fig. 203. A s rulnas do Erectl!u.

91
I. p6rtioo poot4rlor
2. PUWnon
3. ettfltu d• Ac.na P'"-tnol
4. pórtico •nt.tricw

92
Figs. 204-206. Plante. e fachada orienUJl do Pdrtenon; desenho de
um trecho do flanco setentrwnal, que evidencia, exageraclamente,
as de{ormaçiJes da colunata para melhorar o efeito óptico.

93
Figs. 207·20/J. A ordem dórica du Pllrtenon. Desenhosdocapiteledo
travamento; vista de uma coluna J)('rto do dngulo norte-oriental.

94
Fig. 210. A base de uma das colunas do Pártenon.

95
'l'ft

Figs. 211·212. Prospecto ocidentol do Erecteu e uista reconstrutiua


da Acrópole (o Erecteu está d esquerda, o Pártenon à direito).

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96
Figs. 213·214. Desenlws de um capitAJl do pórtico HUntrioMl do
ErectAJu.

Fig. 215. Urna dos cari4tides que sustentam o pórtico meridicnaldo


Erecteu.

97
Figs. 216·218. O Teatro de Dioniso em Atenas. Duas vistas do
estado atual, a planta e duas fichas de ingresso ao Ulatro, conserva·
das no museu numismático de Atenas.

98
30m
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1. o -..se.~ 2.1boloo; 3. .....10 doo h«<!lo ~ .. ............, 3.


b~ ;& Hotlolioe; 7. -plooloApolo Po"- 10. H-cloc..tmlco;IL-
doZOM-..no.(Boolloo)(7);1~o!wclood_...._l3.rodD""I&.poriolllio;l6'.
tribo,..); 18. cua do .-da; 11. ~on..-.-.; 20.- nl; 23. o eh'""""" Hollolo; :U.
footee......_ Fíg. 219. P14nta d4 Ágora tk A~nu,""

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l . o ch&modo Sba...eioo; 2. 1boloo; 3. n<ÜIIo doo ~ ~ .. p 6 - do


-....,,6.~ 6.Htf6olloo;1. -plodoApoloPa-ll.odilldoh....,_
9. ...,.pio do Afn><fite U...U.: 10. Hon10 do Cortmlco; 11. ,,.. do Zou gaoo.-; 12.
aJwdoodoz.d-; 16. •~oodoAWo; 11. s-.;111.-domooda: 18.Dlnr...: 21.• roo
ltoto: 22. .... n1; 23. • chamada Hollaicu r..... .-w. 211. .... do - .

101
Fig. 221. Vista da Ágora de Atenas na época roma/14

AA- I t
S ftôo (pórticoe)
Ood«~n
Tttmplo.
C bul~lltir.on

fíg. 222. Duas 6stracas, .isto é, fragmentos de barro usados nas Fip. 223. Axonometria do odeon de Aflrípa (cerca<Ú
~'Otaçõespara o exllio (ostracismo) de Temlstocles e de Aristides.

102
"
...
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.....ÇJL_
••

1. o etwnado Sua~bon;. 2. ~ 3.. rf!Cin\0 cSoe hlftlt tp6nhnoe; 4. p6rtico do


MdrOOn; 5. balt:MUrio.ot; 6.. Ht!Ntion; 7.umpl:ode Apo\o Pauoot; 8. tdlftcio htltt~ittko;
9.. templo de: A!todi~ Urtnia; 10. HoTOt do Cerlmic« 11. •toa de Zeu El"ttrior. 12.
•ltar doi doz.edeu.M« l-4. .too non1Mtr.16.ttoo 6e A...to: 17. &ma; I&.CQ4ldamotda.
18". ninfn; 19. fonteaudeete: 2l.ltoo le.te; 22. •toa • ui; 23. •e:hamada Htll•ia: 2A. fontt-
•udoeat« 2$-•toa: do meio; 26. n-pa~dvkaa;: 21. \tmp\otOMano: 2&. als.r (dehu•
Aaonia.?t 29. ~ de Apipa; 30. tftDplo de Ane.
da Ãi/ora de AlMaS na ~poca roma11a.

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Fig. 2'2.;. Planta apro.umoclcz dr Alf'lla., no,, t4•nqx.J~ d(• Pt»rtcle~.com


os batrro~ rt':-rclt•ncuu~ ft•m pcmttllwclfiJ dt....lrtbuídos ao r('(/or dos
edt{icios públi<·u~ ft·m prt•ltJ).

FrJt. 226. A J!randt• Akna~ do ~à·ulo \'a .C. rom os lcmJlOS muros
que ltxam a ctdadt• au JXJrltJ do l)trt·u

F'iJ,t. 22i. A ("~trutura dt• um muro tlc• ltltlfiJUtfP ., ohr,• n


Ah•tws.

PiJl. 228. Plantel de duas casas atc•m('ll:)f':) do :;~c·ulo V a.C.


(

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I
I

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\

Em torno da Acrópole e das outras áreas públi-


cas devemos imaginar a coroa dos bairros com as
casas de habitação (Fig. 225 e 228). As ruas reconheci-
das pelos arqueólogos são traçadas de maneira irregu-
lar, com exceção do Dromos retilineo que vai da Ágora
ao Dípilon. As casas, certamente modestas, desapare-
ceram sem deixar muitos vestigios. Podemos ter uma
idéia de sua disposição, considerando as casas da mes-
ma época escavadas em Delos, no bairro do teatro
(Figs. 229-231). A simplicidade das casas deriva das
limitações da vida privada; durante a maior parte do
dia vive-se ao ar livre, no espaço público ordenado e
O bairro do porUJ em D<!los; as casas escavadas são dos articulado segundo as decisões tomadas em comum
IIa.C., e correspondem a um tipo difundido em todas as pela assembléia. Os monumentos espalhados por to-
_,._.1<18 ciO século IV em diante. D<lm6stenes escreue que as
dos os bairros recordam·, em qualquer lugar, os usos e
-•e-IIU'Iteglnero,cômopátio emp6rtico,eram construi-
AttiiCIS por volta da metade do século IV, na periferia. as cerimônias da cidade como casa de todos.

10->
fiJ.Is. 2JU-2.11. A ms11/ae I. 11 IV e VI rm Dr/os, r d11as casas da
msula 11.

f 'li> 232 23S. Quatro objetos de cozinha em terracota: uma pa·


nela comfornilho, uma grelha, um forno, uma terrina.

J()(i
Os utensllios para a vida cotidiana conserva-
dos no museu da Á!{ora de Atenas dão uma idéia da
simplicidade• d.1 nda pri,·:ula na .. idade· de· l'í·ride•" f'
de Fídias (Figs. 232-240): A riqueza de atcnas alimen-
ta llli.llS o:-. nJil::-.llltlo::-. puhllt·o,:-. qlh' o :-- t·o~lllltll'h indl\'Ía
duais; dest.c modo, o~; adornos da;; ca~;a~; são escassos e
n ão muito caros.

FiRS. 236·238. Três objetos para escrever: o estilete, as tabuinhas


enceradas e os rolos de papiro conservados em uma custódia de
madeira (em uso dl'sde o século 1V a. CJ.

..

107
Mais tarde Atenas se expande para leste na pia· expandir desordenadamente, deixando livres somenle
nicie para além do Olimpieion, e a Acrópole se encon· as alturas - a Acrópole, as colinas do sudoeste, o
tra no centro exato da figura urbana, que não muda.r á licabeto - mas atingindo o Pireu e preenchendo toda
apesar das numerosas adições helenisticas e roma· a planicie desde o sopé das montanhas até o mar.
nas: os dois novos pórticos da Ágora, o pórtico de A Acrópole, a Agora e os grupos dos monumeo-
Eumene ao sul da Acrópole, a nova Ágora romana, os tos principais são hoje zonas arqueológicas fechadat,
odeon de Agripa e de Herodes Ático, a biblioteca e, por onde prosseguem as escavações. Recentemente, fci
fim, a "Cidade de Adriano", isto é, o arranjo definitivo também proposto liberar grande parte da área da cida-
da expansão oriental, com o novo Olimpieion, a pales- de antiga, demolindo os bairros mais antigos ao norte
tra e as termas (Fig. 241). da Acrópole. A imagem da Atenas antiga pode •
No fim da idade clássica, a grande Atenas cai em reconstruida visitando as ruinas e os museus; os tem-
rumas e a parte povoada se restringe a uma pequena plos da Acrópole, ainda bem visi veis a partir de tocb
zona central em tomo da Acrópole e da Ágora romana. os locais da cidade, recordam com sugestiva evidência
Esta pequena Atenas permanece, desde então, uma um dos lugares capitais da história humana, mas fht
cidadezinha secundária até 1827, quando termina o tuam como que perdidos numa triste e caótica cidade
domlnio turco (Figa. 242 e 243). Em 1834, Atenas é do Terceiro Mundo, que com a antiga tem em comum
escolhida capital da Grécia modema, e começa a se somente o nome (Figs. 245-248).

Figs. 239·240. Os aüossos (ossos dos pés das cabras) e os dad<>s.


usados para os jogos; o amis (um uaso de terracota que substitui a
latrina).

..
108
1. monumento de Filopapo; 2. Pn.ice; 3. colina du ninru: 4. po.u do Pireu: 6. poru
Sapada: e. Pompeion; 1. 0\pllon: 8. He(éltion: 9. Aaora: 10. biblioU!oe4t de Adriano: 11.
Á.a'on. romana; 12. o chamado AcoranOm~n e Torndot Vent.ot: 13. p&lNtra ao norte
do OlimpiSon; 14.. te.rma do Z.pion: 15.&e:nna do OliMpleion; 16. Oli.mpieion; 17. areodt
Adriano: 1&. oüon de P6ric.l•: 19. tant1.1t.rio de Oionilo Elt\lttrio: 20. a cha.nada floo
dt Eumenr. 21. Acr6pol~ 22. Eln.lm.ion; 23. An6pqo: 24. Dtmí.e.i Pilai; 2b. poJ'Lii nu
pro.daúd.ad.ee ele A.aiot Oill\ltrioe: 26. porta do Fal~ 2'7, ed.itkio mm O«.,..<'OI"'"Ilt'""~
28. .o~.... At.ido do M<W4111 LC.: 29. ,..... DiOMtlo: 30..,.... Jdrio: 31. Pld.... n
OlnoNJ'It: 33. 1klli6âon: 34. •Udio: ~ ta.mba de H~ Âtio); 36. NnUaNio de
Pancrata • Palaã.nc»; l?. poru Dioc.ni.a (?'): 38. c... com mONÍCJM:; 39. datema do
aqueduto de Ad:ri~o: .&O. ediftcio em 6btide: 41. porta da Acame: 42. via dot TrtpodM e
F11. 241. Plante. de Atenas no fim da idade ci/J.ssica. monumenlO de U.ic:ratt.: 43. pórtico romano.

109
F1gs. 2./2.243. Planta de Atenas no (lm da dominaçdo turca (na
m ..sma escala da {1gura arll.-rror), e uista por ocasu!o da fundaçdo
do nooo Estado (1835).

\I ()
PLAN

') ATHENE S

-.

f"ig. 244. Planta da nova Atenas em I842,d~{>Oisdop/anorrgulador


de Lro von Klenze. A ddadc amda se encontra - toda ~la - ao
110rl<• da Acrópole.

111. 245. O &tddro de Herodes Âtrro Pm AtMa>. ~mr>!rurdt> <>m


1895 para a• prrmeiras Olimpíadas modnnas.
III
Fig.' 246. A text~~ra arquilet6nica da Atenas modema; ao fundo.
distinguem-se as colinCIS da Acrópole e do UcClbeto.

Figs. 247-248. Os monumentos da Acrópole na moldura da cons-


truçllo atual: à esquerda, os Propileus. o Pártenon, o Odeon de
Herodes Ático e, ao fundo, o Licabeto: à direita, o Pórtenon, o
Erecteu e ao fundo a Colina de Pnice.

..
112
Fil(. 249. Planta da 110ua All!nas em 1950 (dt!sde ('11/do. a cidad•·
•/obrou sua população). Confrontar com a FiK. 226.

Hipódamo de Mileto é lembrado por Aristóteles Estas cidades - e outras fundadas na mesma
como o autor de uma teoria políticá ("Imaginou uma época, no Oriente e no Ocidente: Olinto, Agrigento,
cidade de- dez mil habitantes, dividida em três classos, Pesto, Nápoles, Pompéia- são traçadas segundo-um
uma composta de artesã(>s, outra de ~'icultores, a desenho geométrico. Este desenho geométrico é uma
tet!lcira de guerreiros; o território deve1'ia sertgualmen- regra racional, aplicada da escala do cdificio à escala
te dividido em três partes, uma consagrada aos dEill; da cidade, como nas grandes capitais asiáticas da
ses, uma pública e uma reservada às propriedades Idade do Bronze (já vimos a Babilônia às págs. 32, 35
~ais") e como mventõ'r da-"divisão rê"'gular da e 36. Todavia, é uma regra nova, que não comprome-
cidade' (Politica, II, 1267b). Projetou, como já foi dito, te, mas antes confirma e torna sistemáticos os caracte-
a nova disposição do Pireu, e talvez as plantas de res da c1dade grega, relacionados à pág. 78.
outras cidades: Mileto, Rodes.
As ruas são traçadas em ângulo reto, com
vias principais no sentido do comprimento,
dem a cidade em faixas paralelas, e um
de vias secundárias transversais; as seções
são sempre modestas, sem pretensões mcmurílelq
(<1e 5ã 10 metros as principais, de 3 a
secundárias). Dai resulta uma grade de ,.,;;;o;;r.,;..w
retangulares e uniformes, que pode
conc:Tetos para adaptar-se ao terreno e às
gências menor desses
teirões - isto é, a
.tU!§ - é a a para. uma ou
individuais (muitas vezes 30-35) metros; a
maior - isto é, a distância entre duas_',';,~~;;;~~
=êã apropriada para uma fileira ;,
casas (de 50 metros a ce(ca de 300 metros). AJ;; áreas
especializadas, civis e religiosas, não comandam o
resto da composição, mas se adaptam à grade comum
e muitas vezes são dispostas em um ou mais quartei-
rões normais; deste modo, as ruas principais não en-
tram em tais áreas, e correm tangentes. O perimello
d~não se~uma figura regula~
termTnam~ir~
naturais como os montes e-as-costas. Os muros não
correm rentes aos lotes, mas unem as alturas mais
defensáveis, mesmo a uma certa distância do povoado,
razão por que têm costumeiramente um traçado todo
irregular.
A constância da grade - fixada pelas exigências
das casas, não pelas exigências excepcionais dos tem-
plos e dos palácios - confirma a unidade do orga.Jlis.
mo urbano e a unüormidade de todas as áreas e das
propriedades particulares perante a regra comum, im-
posta pelo poder público. A elasticidade da relação
entre os lados dos lotes retangulares permite que cada
cidade seja diferente das outras, não vinculada a um
moó.e\o ún\co. I\. comp\\cação ào peiimetro e a distân-
cia que os muros estão dos quarteirões respeitam o
equilíbrio entre a natureza e a obra do homem, e dimi-
nuem, em grande escala, o contraste entre a cidadee a
paisagem (Fig. 251-276).
Deste modo, a "regularidade" não é levada até
comprometer a hierarquia entre o homem e o mundo;
permite conceber e padronizar a cidade, mesmo quan-
do esta é grande, e permite aumentar em certa medida
fig . 2.;11. Planta de Olinto depo1s da ampliaçào de Hipódamo (432 uma cidade já formada. Estas possibilidades serão
a.C.). A árpa pontilhada. em b01xo.tdo núc/ro maisantigofpo/(>()po exploradas mais tarde na idade helenistica.
/e).

111
Figs. 251·252. Pwnta geral das escaooções d e 0/into: 110 alto. as
pÚirHas de duas casas típicas da ampliaçdo de Hip6damo.

...
I[.)
lt._..,.,.W4114i•••l-

~~~~~~~~~··~·~·~r·~'"~~·~~mm~~

r'ig. 253. Tr~s conjuntos da ampliaçdo de Olinto, que mtdtm


300 pés (cerca de 35 x 90 metros).

Fig. 254. A "casa da boa sorte": uma residência maior, situo&.


periferia da cidade noua.

Figs. 255-256. Planta de Mileto, organizada no sl<ukl V


Hipódamo depois das Guerras Pcr$as; os qutJrteiroes
175 pés (cerca de 30 x 52 metros). A figura à diTeita indica
da cidade em zonas.

11()
Fig. 257. Planta do centro cluico de Mileto.

1. taltro 16. l.ffmat de C6pito (rovtm•dor romano do tkulo I d .C.)


2. Hwooa (~tumba monvmenc..l) 17. e\nl•o
S-4.--udaloaoo 18. umplo dt A.telfpioe
$. wnu.e roman.u 19. ta.nt.drio do C'Ulto impmal (?)
S. ptcl'HftO mona.meni.O do porto 20. but.ld~tl()n.
1.-....
8. frJ.ndt monumento do porto
21. n1nfe\l
22.. pO!U. Mtentrional
9. plwli<o do po110 23. iKTeja eriet-1\ do tkulo V d.C.
10. Daltlnlon (aantot.rio da Apolo) 24. d/loro meridional
ll.porladopo<W aumaafn•
U. PIIQMOO m.aado '26. Htroon romano
13.--trional 27. umplo de St:r6pit
14. plwli<o j6nieo 28. termal de Fe.u!Jtina
16. ru dt Pf0d,N6o

117
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Figs. 258-261. Prirnc (fundada por uolta de350 a.C.). Planta esque-
mática -os quarteirões residenciais em preto, os ediflcios públioos
em sombreado - e planta geia/ das escauaç_64's; os quarteir~s
medem 120x ISO MS (cerca de35 x 45 metros). A esquerda,p/anta e
reconstruçdo do ecclesiastirion: uma grande sala de reunido com
cerca de 600-700 lu11ares pora senUlr, onde se reunia talwz a assem-
bliia (Priene tinha cerca de 4.000 habitantes, e o teatro tinha 6.()()fl
lugares).

118
1'14ntu do• dll4s principais ár"'s públicas de PrieM
<h Aleno e o ligora - e de duas casas tlpicas, na
A rei4çll.o entre medidas de todos os edi{icios, públi·
reencontra base do desenho !letal da cidade.

119
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f'II/S. 266-269. Planta 11nal de Pc~;lo- os quarteorÕI's 111!-dPITI 120 x
1000 ~s (cerca de 35 x 300 metros)- e Templo de .\'etu!IO 11a área
sa11rada central.

121
A, PIJr\ta aer&l de düde an11aa com o cirC\I.i to dot murot e com indieaçlo. ~m fronteiro.: 9. pequeno templo: 10. toro; li, to ~usAt; 12. moNll~m; 13.1:1:edra; U.
tri<'~)AdO,
dO r~tiC\IIfldO dAI rUAI t dt VNllgia. de edift('iO., dtdu.&.idot d• fOt0ftT8fíb de Veneiano: IS. '1• rlrio": 16. neelo romano; 17. templo il..tlko: 18. .,_tro,."';
Jtru. - 8 . Planta de um 1ttor da ddade c:om o .,ntdrio IJTfiO (oorreepondent.e eu "aerarium"; 20.1)'mnui.on creao; 21. .-lee.tra romana com pieànaln!lrior,22.
fr•arnt-n~ fta piJnta rtrJ I). - Prinapaia monumftlt.OII con)\lr'lto.: 1, tonada n to'ópo- tro; 23. •ac~~P:Iocom t.lm~NH; 24.. p6rt:ic:o romano; 2$, Athtnaion("templocll
Wneol1tau., 2._ muTOt~ 3. porU. Me.nnh... 4. parti! A+rta. 6. poi"'.A Strtia; 6. por\a J-.• dc•. ahar fronteiro 1 colun.u volivu, 216. pequeno t.emplo a~aico: 'n. 'bainode
1 •·Bulhca·· com altar fronteirO: 8 ""\.emplodt POMt~.. oorn altai'M lftiO e romano 28 termN ; 29. olariao 30. muH\1 (modnno).

Fil(s. 270-27I. Planta ~ vista da área central de Peslo, e•cot'Odt


a~tora.

122
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....············.... ....
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.... c;:, T~lo[

... • • · \
..........., ....
AcropoU

...
·..

Fi~t•· 272·273. Planta geral de Al/fllletllu ,. planta da zona escauada


no cl'ntro da cidade (em pontilhado na PtJl. 272). Os quarteiroes
medem 120 x 1000 pés, cerca de .1.'i x .'100 llwtros. como em Pcsto.

123
124
Alri6tnto. V18ta airea do templo A; uista do templo 8
cidluk t do Acrópole, onde se encontra a cidade
••111001tnt P••mern> p•rono, uma dos cori6ttdes do templo.

Se/inunte. Planta das cscauaçclcs e uista aérea dos


oriental (o primeiro remontado pelo• arqueólo·
•-•"''""••têm a largura constante de 100 pés (cerca de .10

12.)
12G
fig. 279. O mundo hele nístico em fins do século III a.C.
llté.lia IX Panagónüt
tk Siracusa, a maior cidiuie do mundo grego clássi· tJGrkie. X Ponto
III MacedGnia XJ Capadócia
IV IW.no de Pérga.mo XII Reino doe Selêucidat
VCârit'L p XIII Armênie
VIUcia XIV Média Atropatene
VII Galéc:ia XV Pérti&
VJJ18itt.nill XVI Egito

cidade como organismo fisico é a imagem do ~ (Figs. 281 e 282) éobre uma superfície
devemos reconhecer que a independência de 900 hectares, mas é circundada por extensos arra·
dadle&4!SUitdo e a medida limitada de seu desen· baldes: trata-se, antes, de uma recião urbani~a -
condições indispensáveis dos outros uma "megalópole", como diríamos hoje - e pode ter
toda a Grécia é unificada por Filipe atingido meio milhão ou um milhão de habitantes.
..,....u.ua, acaba também o equilíbrio autónomo Antioquia (Fig.283) tem 200 ou 300.000 habitantes
IOCíedadE!B urbanas e de seu cenário construído. Os (mesmo na idade romana estas duas cidades são, de-
elaborados pelos gregos -a cultura científica I!.Qis dejWm~o, e Alexandria"
o sistema económico, os modelos de proje- contiriúa sendo a ca_pital económica do mundo mediter-
e cidades- estão prontos para serem râneo). Pérgamo (Fig. 284) é uma cidali!u_ec1Uldária,
todo o mundo civilizado, e para serem mas seuSiil'õriümentos distribuídos sobre um morro,
lllionta•doscom as tradições diversas do Oriente e do com mais de 250 metros de desnível, formam um con-
junto cenográfico sem comparação.
Alexandre e seus sucessores estão em condições A área habitada é tão grande que nenhum edifi·
fandar não só colónias de medida correspondente cio ressalta como elemento arquitetónico dominante;
eidades gregas originárias, mas grandes metrópo· ao contrário, as ruas se tomam mais grandiosas, mui-
illcom!Nilá1reis às antigas capitais do Oriente. A regu· tas vezes circundadas de pórticos (as principais ruas
geométrica sugerida por Hipódamo serve pa· de Alexandria e de Antioquia têm cerca de 30 metros
distribuir racionalmente tantos elementos hetero· de largura, e de 4 a 5 quilómetros de extensão); algu-
o quadro que dai deriva é ordenado e tumul- mas obras excepcionais (como o Farol de Alexandria,
aemelhante por muitos aspectos ao quadro da com talvez, 180 metros de altura) oferecem uma ima·
modema, como já notamos. gem que sintetiza a grandeza da cidade.

127
Fig. 280. Uma <'>cultura lwl<'nlstira: o cob~co dP Loocoonll' nos
Museus do Vaticano.

128
Vf'fS.OIIt.nrc»
md1c•r•r~no
• N1topo..,
lpgodromo

Figs. 281·282. Planta de Alexandria antiga e ela culoclr atual.

l29
~ 10 1000
I I

Fig. 283. Planta df At!li!x;~i~ (r1a mrsma rsrala da de Alexa11dria).

Figs. 284·285. Pérgama. pla11ta r srr("do da r1dadf

6.Nt.6dio
7.Gum~Pilia
S.oa<>pole
9.ai'*-f
10. terraço de- DtrMttT
ll.gin._o
12. 46orc i.nftrior
13. porta de Eumene
14. K.uJI Avlu
l. recinto de Hera Ba.eUtia Fig. 288. Planta da cidade superior de Pérgamo.
2. plitaneu. (?)
3. recinto de Dtmét.er 1. Heroon (ediftoo para o culto dot huói1)
4. f'ntrada mon"ment.al 2.1ojN
S. fonte 3. aOf!Qo principal t att6pole
6."""' 4. alic:t"roN do Prooptlon (p6I"UQQ) de entrada)
S. Na~daria que leva aoe PtlktM
6.. recinto de A~n•
7. templo de Atma
8. bibhot.eu
9.umatua
10. palk1o de EurMne 1t
11. palk•o de Ateio I
12.ett.••• helentllltaa
13. quartfit e tom de ('Ornando
14. a.nenal
15. t-emplo de Trajano
16. te-litro
17. templo de Dionl10
18. terrato do ltatro
19. pórtico de duat navet
20. altar de ~~
21. di/oro euperior
22. templo de. 6Roro

- ••I• de reunilo

1
" totmplo de A.Kifp•oe
9. gin6llio '"Pfrior
10. l[in61io do melo
1L templo do (tin6tio, dedJcado a Htrmet
12. tKadaria de a«MM
13. fonte
14. entrado mon1.1meru•l J)lllriL o flnlpo doe ginA.aioa
15. ginhio inferior
16. ru i\ prindptll
17.1ojaa
18. eau de Átalo
19. dgora infe-rior
20. eau. de periltito

lfonta do aii/JI d~ Zeus na cidade supertor (ue}a·se fi11

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Fig. 289. Planta e reconstrucilo da llgora helenlstica de Assos.

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