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Jornada ao Despertar da Força - Antes do Despertar é uma obra de ficção.

Nomes, lugares, e outros incidentes são produtos da imaginação do autor ou


são usadas na ficção. Qualquer semelhança a eventos atuais, locais, ou
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e a HOUSE colophon são marcas registradas da Penguin Random House
LLC. eBook ISBN 978-1-4847-3550-3
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Capa
Página Título
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Epígrafo

Finn
Rey
Poe Dameron

Sobre o Ebook
Sobre o Autor
ERAM quatro no grupo de ataque e, como gritar “FN-dois-um-oito-sete,
proteja sua retaguarda!” era um trava-língua, especialmente quando os
disparos de laser incendiavam o ar ao redor, eles tinham criado apelidos.
Diante dos oficiais, especialmente a capitã Phasma, sempre usavam a
designação apropriada, claro. Nos alojamentos e em combate, porém,
usavam os nomes que deram uns aos outros ou que escolheram para si
mesmos.
FN-2199 era Nines, porque gostava de como o apelido soava, simples
assim. FN-2000 dissera a todos para chamá-lo de Zeroes, porque se
orgulhava do fato de um número tão redondo ter caído para a designação
dele. Ele achava que isso o tornava especial — ou ninguém lhe dissera que
ser um “zero” não era exatamente algo de que se orgulhar, ou ele não se
importava com isso.
FN-2003 era o único cujo apelido não vinha de sua designação. Eles o
chamavam de Slip. Ele sempre parecia um pouco mais lento, um pouco
mais atrapalhado que o restante do grupo de ataque. Não se tratava apenas
de um simples fator físico. Algumas vezes — nas reuniões de instrução,
durante treinamentos e simulações —, a sensação era de que as ordens não
chegavam nele, que ele não compreendia completamente ou era incapaz de
entender o que se esperava que ele fizesse ou como deveria fazê-lo.
FN-2187 era simplesmente Oito-Sete. Mas não abreviavam a
designação dele com frequência. Para seus instrutores e colegas, ele era um
dos melhores stormtroopers já vistos. Era tudo o que esperavam dele: leal,
obediente, corajoso, esperto e forte. Não importava o teste, em qualquer
avaliação FN-2187 com certeza pontuava entre os melhores dos melhores.
Assim, ele era FN-2187, caminhando bem para se tornar o stormtrooper
ideal da Primeira Ordem. Pelo menos era isso o que todos pensavam.
Todos, menos o próprio FN-2187.

FN-2003 (Slip) tinha ficado para trás.


FN-2187, Zeroes e Nines tinham se protegido atrás do que sobrara de
um muro do perímetro exterior. O trecho onde se abrigaram ainda estava
praticamente intacto, mas rachava e se despedaçava com os inúmeros
disparos de laser. O muro delimitava a beirada do complexo da República,
ainda fortemente protegido. Era intimidadora a artilharia sufocante
disparando na direção deles. Raios azuis brilhantes chiavam por cima de
suas cabeças e se chocavam contra o chão no entorno. Os disparos
golpeavam o muro com tanta força que os stormtroopers podiam sentir o
impacto mesmo dentro de suas armaduras.
— Ele conseguiu de novo — Zeroes disse, dando uma cotovelada em
FN-2187 e apontando para cima, por onde tinham vindo.
FN-2187 se agachou e olhou na direção indicada. Todos eram
praticamente indistinguíveis na armadura de stormtrooper; contudo, no
interior do capacete, junto com a transmissão quase incessante de dados
projetados no visor — telemetria, soluções de artilharia, condições
atmosféricas e até a contagem de munição do fuzil laser —, apareciam as
identificações individuais sempre que se olhava diretamente para outro
trooper. O computador embutido no traje lia identificações dos aliados. De
acordo com a transmissão de dados, 2187 podia ver que Slip estava
exatamente 29,3 metros para trás, agachado atrás da fuselagem de um
speeder da República destruído para se proteger.
Via também o que Slip não conseguia enxergar: um esquadrão de cinco
soldados da República avançando disfarçadamente na direção dele pelo
lado esquerdo. FN-2187 levantou o fuzil e mirou, mas sabia, antes mesmo
de seu capacete confirmar, que estavam fora de alcance. Ele podia disparar,
mas não acertaria o tiro de jeito nenhum.
— Ele já era — Nines disse. — Temos que avançar.
— Ele é um de nós — 2187 falou, abaixando o fuzil.
— Temos um objetivo — Zeroes disse. Apontou para trás em direção à
base. — É naquela direção. Se voltarmos por Slip seremos destroçados.
FN-2187 franziu a testa dentro do capacete. Sim, tinham um objetivo, e
claro, havia inimigos por todos os lados, e sim, Zeroes estava certo. O
objetivo deles estava no complexo: um território inimigo defendido por um
canhão laser de repetição. E quem quer que fossem os soldados da
República que estavam manejando aquela coisa sabiam o que estavam
fazendo. Viram dois esquadrões inteiros dilacerados enquanto avançavam.
A única razão que 2187 conseguia imaginar para ainda não terem acabado
com Slip era que estavam esperando para ver se algum dos stormtroopers
faria exatamente o que FN-2187 estava pensando em fazer: voltar para
buscá-lo.
— Nosso tempo está acabando — Zeroes afirmou.
FN-2187 deu uma olhada no complexo. O terreno era irregular e havia
cobertura suficiente para garantir um avanço do tipo "atirar e correr".
Ficaria mais difícil conforme avançassem para o interior do complexo,
aproximando-se da artilharia pesada, mas era possível se fosse feito com
inteligência.
— Zeroes, pela esquerda. Nines, pela direita — FN-2187 ordenou. —
Ao meu comando. Mantenham-se na parede interna.
— Vamos estragar a missão — Nines disse.
— Mantenham-se na parede interna — 2187 repetiu. — Agora!
Nem Nines nem Zeroes gostaram daquilo, 2187 sabia, mas eram
stormtroopers, e isso significava que, uma vez que ordens fossem dadas,
eles as seguiriam rapidamente. Correram juntos e 2187 esperou uma pausa
de meia respiração, deixando cada um deles atrair o fogo inimigo antes de
se lançar para a frente. O terreno era ruim naquela direção, cruel,
desnivelado e coberto por rochas quebradas e destroços de batalha. Nuvens
escuras e densas de naves incendiadas rastejavam no solo como uma maré
desordenada. Ele acelerou durante os primeiros doze metros tentando se
manter abaixado, ziguezagueando por pontos de cobertura e ocasionalmente
saltando as barreiras no trajeto.
Tinha chegado à metade do caminho quando os soldados da República o
viram e deram um grito de alerta que ecoou por todo o campo de batalha.
Assim que começaram a disparar, FN-2187 mergulhou para a frente, caindo
em uma cratera recentemente aberta, e deitou por um segundo antes de
erguer os braços. Ele atirou duas vezes e se abaixou de novo, então rolou
para a direita e repetiu o procedimento, atirando três vezes. Ficou contente
de ver que tinha derrubado dois inimigos.
Contudo, sobraram três, e agora tinha chamado a atenção deles.
FN-2187 ativou o rádio.
— FN-2003, veja à direita! Veja à esquerda!
Ouviu a estática e então a voz de Slip:
— Não os vejo!
— A sua esquerda!
Outra explosão de estática, alta o suficiente para fazer FN-2187 se
desconcentrar. Ele rolou de volta para a posição inicial e se deslocou para a
beirada da pequena cratera bem a tempo de ver Slip disparando contra os
soldados da República restantes que cercavam a posição dele. Agora 2187
poderia seguir no seu ritmo. Mirou cuidadosamente e apertou o gatilho do
fuzil laser três vezes. O último dos soldados inimigos caiu.
— Para cá! — gritou, mas nem precisava, porque Slip já tinha saído da
cobertura e corria na direção dele. FN-2187 rolou para abrir espaço na
cratera assim que Slip escorregou para o lado dele e bateu na placa peitoral
de FN-2187 com tanta força que parecia que estava batendo em uma porta.
— Obrigado, 2187 — Slip disse. — Obrigado, cara! Pensei que vocês
iam me deixar para trás.
— Você é um de nós. — Ele apontou para a direção de onde viera. —
Fique perto de mim.
— Estou logo atrás de você.
FN-2187 levou mais um instante para recuperar o fôlego, então saltou
da cratera com Slip atrás dele, Os disparos da base da República pareciam
ter diminuído, mas FN-2187 sabia que estavam tão intensos quanto antes,
apenas menos concentrados. O que, é claro, era o plano dele: ao separar
Zeroes e Nines, forçara o inimigo a dividir sua atenção, o que lhe dera a
brecha de que precisava para alcançar Slip. O ponto negativo era que
Zeroes e Nines agora estavam isolados, sem rotas de fuga.
Mas 2187 percebeu que havia um benefício nisso também. Com a
artilharia inimiga dividida, abriu-se um caminho direto para o bunker, para
o canhão laser e o objetivo deles. Tudo o que precisava fazer era ser rápido
e não perder o foco.
Ele começou correndo mais depressa. Ouviu Slip sofrendo para
acompanhá-lo, mas não poderia mais se preocupar com isso. Se
conseguisse, se fosse rápido o bastante, não importaria se Slip ficasse
grudado em suas costas ou não. Se conseguisse, não só realizaria o objetivo
deles como também não perderia ninguém de seu grupo de ataque.
Outra nuvem de fumaça que serpenteava pelo campo de visão dele era
rasgada pelos raios azuis e vermelhos dos disparos de Zeroes, Nines e dos
inimigos. Ele podia ouvir a própria respiração amplificada no interior do
capacete, sentia as têmporas pulsando. O bunker estava à frente, os dados
em suas lentes anunciavam o objetivo a vinte metros de distância, depois
quinze, depois dez…
Foi nesse momento que o notaram, mas era tarde demais. Ele percebeu
uma movimentação dentro do bunker, viu os soldados da República
movimentarem a arma em reação à visão dele correndo naquela direção
enquanto tentavam girar o cano do canhão a tempo. Ele podia se imaginar
sendo visto por eles, a armadura branca imaculada, o símbolo de unidade,
força e poder que era um stormtrooper da Primeira Ordem.
Um instante antes de eles darem o tiro, o stormtrooper se abaixou,
deslizando com os pés na frente em direção à beirada do bunker. Uma mão
segurava o fuzil contra o peito, a outra ia pegar uma das granadas no cinto.
Ele rolou no instante final, apertando o acionador com força enquanto
colidia com a parede do bunker. Com um movimento ritmado, levantou a
mão e arremessou pela abertura a granada para dentro do bunker. O som e o
brilho da explosão surgiram quase instantaneamente. Ele a sentiu ecoar, as
vibrações atravessaram sua armadura.
Por um momento houve silêncio, interrompido apenas pelo som de FN-
2187 tentando recuperar o fôlego.
O mundo piscou, congelou e então se apagou. Onde existira um posto
sem nome da República, onde existira stormtroopers mortos e soldados da
República, havia agora apenas quatro paredes e um piso metálico
perfeitamente alinhado. Onde existira um campo de batalha, havia agora
apenas uma sala de simulação, vasta, vazia, fria e estéril. No alto de uma
das paredes, a janela de observação ficou visível — com um vidro
endurecido, o que tornava impossível ver quem estava do outro lado.
Então a voz da capitã Phasma ecoou pelos alto-falantes ocultos.
— Objetivo da simulação completo. FN-2187, FN-2199, FN-2000, FN-
2003: apresentem-se para avaliação e interrogatório.

— Eles completaram o objetivo disse o general Hux. — Isso é fato.


— Completaram o objetivo devido à habilidade de liderança de FN-
2187 — retrucou a capitã Phasma.
Os dois estavam lado a lado na janela de observação, assistindo
enquanto o grupo de ataque marchava em fila para fora da sala de
simulação. Três do grupo estavam claramente felizes, parabenizando um ao
outro com tapinhas nas costas e nos ombros, contentes com o desempenho
deles. Mas o quarto — FN-2187, Phasma podia adivinhar — estava atrás
deles, sem fazer parte do grupo de verdade. Enquanto ela e Hux
observavam, 2187 parou na saída, olhando na direção deles. Phasma se
perguntou o que ele estaria pensando.
— Ele se isola — Hux observou, voltando o olhar para a capitã. — Um
bom líder: integra sua unidade, mas se mantém à parte.
— Só se for essa a razão de ele se isolar, general.
— Você tem ressalvas? — Hux ergueu uma sobrancelha. — Apresente-
as.
— Esses stormtroopers serão os melhores que a Primeira Ordem já
produziu — Phasma disse. — Tenho supervisionado cada estágio do
treinamento deles, desde o alistamento até a entrada no campo de batalha.
Essa turma é exemplar.
— E ainda assim você tem ressalvas, capitã. Gostaria de ouvi-las.
— Não para essa classe.
Hux suspirou, à beira da irritação.
— FN-2187 tem potencial para ser um dos melhores stormtroopers que
já vi — Phasma disse.
— Pelo que acabei de observar, capitã, concordo.
— Mas a decisão de dividir o grupo de ataque e resgatar FN-2003 é
problemática. Indica um nível potencialmente perigoso de... empatia. Você
o ouviu...
— Você é um de nós?
— Sim, senhor. Por mais que eu apoie totalmente a coesão de uma
unidade, como o senhor sabe, a lealdade de um stormtrooper deve ir além.
Deve ser à Primeira Ordem, não a um de seus companheiros.
Hux olhou de volta para a janela, inspecionando a sala de simulação
vazia.
— Confio em você para remover quaisquer impurezas do grupo, capitã
— Hux falou. — Onde quer que possam ser encontradas.
A sala de reuniões era de uma insipidez quase estéril, como qualquer outro
setor da base onde a capitã Phasma supervisionava o treinamento. Contudo,
isso não significava que era sem cores. Entre a grande variedade de tons de
cinza, sempre havia o preto e, claro, o vermelho (embora essa cor fosse
reservada principalmente para a insígnia da Primeira Ordem). As cores de
fato emergiam somente quando os capacetes dos stormtroopers em
treinamento eram retirados: na feição pálida e nos olhos castanhos de Slip;
nos olhos quase assustadores de tão azuis e nos cabelos ruivos de Nines; na
cicatriz na bochecha de Zeroes um tom mais claro do que sua pele negra.
No próprio reflexo de FN-2187, visto em um daqueles raros momentos em
frente a um espelho, preparando-se para inspeção, ou na superfície polida
das mesas do refeitório.
Com suas armaduras eram sempre iguais, e ele sabia que era essa a
intenção. Mas FN-2187 apreciava os momentos nos quais podia ver a
variedade e diversidade entre eles — quando podia ter um vislumbre das
pessoas por dentro das armaduras e vê-las como mais do que soldados sem
rostos e sem nomes, identificados por letras e números e nada mais.
Ele não sabia muito sobre a vida fora do treinamento. Na verdade, tinha
poucas memórias do tempo anterior a isso. O que sabia era o que lhe fora
ensinado, e o que lhe ensinaram era simples: a Primeira Ordem lutava
contra as depravações da República. A Primeira Ordem trouxera a lei para
uma galáxia sem lei. O pouco que tinha visto da galáxia fora filtrado pelo
treinamento que teve, pela visão da Primeira Ordem, mas não existia
necessidade nem mesmo razão para duvidar da veracidade das informações.
Ainda assim, ele queria ver com os próprios olhos. Queria saber o que
estava lá fora. Como todos os outros na turma dele, esperava pelo dia em
que seriam postos em campo pela primeira vez, quando poriam suas
habilidades e seu treinamento finalmente a serviço da Primeira Ordem, sob
o comando do Líder Supremo. Esperava a chance de defender os povos da
galáxia de todas as ameaças.
Esses eram os pensamentos dele quando se sentou na sala de reuniões
com Slip, Nines e Zeroes, todos ainda em suas armaduras, mas agora sem
os capacetes, aguardando a chegada da capitã Phasma. Slip estava nervoso,
2187 percebeu. Já Nines e Zeroes, não. FN-2187 não tinha certeza de como
deveria se sentir. Sabia, empiricamente, que tinha se saído bem — na
verdade, tinha sido o responsável pela conclusão bem-sucedida da
simulação. Isso deveria ter sido suficiente para lhe deixar orgulhoso, se não
realizado. Ainda assim, ele não conseguia se livrar da sensação de que, de
alguma forma, tinha cometido algum erro; tinha, em algum ponto, dado
passo em falso.
As portas deslizaram com um assovio e 2187 ficou em pé
imediatamente, ao mesmo tempo que os outros, todos mantendo o olhar
fixo à frente e em posição de sentido. A capitã Phasma entrou na sala com a
mesma autoridade e propósito, com a mesma precisão impecável com que
parecia fazer todas as coisas. A armadura dela, ao contrário da deles,
refletia como um lago parado e, conforme ela andava até a frente da sala,
2187 via a imagem deles sendo lançada de volta, distorcida e curvada.
Não houve preâmbulo. Nunca havia. A capitã Phasma os encarou e
então disse:
— Adequado.
FN-2187 aprendera que “adequado” era o mais próximo que a capitã
Phasma chegaria de dizer “parabéns” ou “bom trabalho”.
— FN-2000, você está desperdiçando munição — Phasma continuou.
— A telemetria indica que você gastou 127 disparos, com uma taxa de
acerto de menos de cinco para um. Você está designado para o estande de
tiro amanhã durante seu segundo turno. Espero uma melhora imediata e
significativa.
Zeroes enrijeceu-se.
— Sim, capitã.
O capacete brilhante virou quase imperceptivelmente para a esquerda.
Era outra coisa que 2187 notara sobre a capitã: não dava para saber
exatamente para quem ou para o que ela estava olhando Ele pensou que era
para Slip, mas ela falou com Nines.
— FN-2199, os biossensores registraram seu batimento cardíaco oito
por cento acima da taxa aceitável, com vinte segundos adicionais de retardo
na reversão da pulsação de esforço extremo para repouso. Seu peso subiu
dois por cento sem o correspondente ganho de massa muscular. Suas
refeições serão modificadas e você iniciará um treino físico adicional
amanhã no segundo turno.
— Sim, capitã — respondeu Nines.
Phasma não se moveu, sequer fez uma alteração no ângulo do capacete,
mas mesmo assim FN-2187 estava absolutamente certo de que agora ela
estava olhando para Slip. Ela não falou nada. O silêncio continuou e se
transformou conforme prosseguia. FN-2187 viu Slip ficar mais e mais
nervoso, lutando contra a necessidade de dizer algo. Mesmo assim, o
silêncio crescia; logo 2187 também podia senti-lo e se viu torcendo para
que Slip esperasse e permanecesse quieto, sabendo de alguma forma que, se
Slip falasse, seria um erro, e outro erro era exatamente o que a capitã
Phasma queria que ele cometesse.
Finalmente ela disse:
— FN-2187, sua mira foi exemplar. De acordo com a simulação, você
disparou sua arma apenas 36 vezes, contabilizando 35 mortes. Você lançou
um explosivo que resultou na realização do objetivo e outras seis mortes de
inimigos.
Agora eles podiam ver a cabeça dela se mover enquanto os encarava um
de cada vez.
— Todos vocês deveriam seguir o exemplo de FN-2187 — ela disse. —
Estão dispensados. FN-2187, permaneça aqui.
Os outros recolheram seus capacetes e seguiram para a porta. Slip deu
uma última olhada para trás antes de a porta fechar. FN-2187 continuou em
posição de sentido.
— Por que você voltou para resgatar FN-2003? — Phasma perguntou.
— Ele é um de nós — FN-2187 respondeu.
— Essa não é a primeira vez que você o ajuda. Seus instrutores notaram
inúmeras ocasiões em que você foi visto auxiliando-o em outras tarefas. Por
que você faz isso?
— Somos tão fortes quanto nosso elo mais fraco, capitã.
— Concordo.
— Obrigado, capitã.
— Quero que pare com isso.
Ele piscou surpreso.
— Capitã?
— Somos tão fortes quanto nosso elo mais fraco, FN-2187. Enquanto
você acredita que está tentando fortalecer esse elo, não é isso o que de fato
está fazendo. Em vez de consertar o problema, está permitindo que ele
persista. Como resultado, você está, na verdade, enfraquecendo a todos.
Mais do que isso, está enfraquecendo a si mesmo.
FN-2187 franziu a testa.
— Capitã Phasma, eu não...
— Você tem um grande potencial, 2187. Tem condições de se tornar um
oficial da corporação. Seu dever é com a Primeira Ordem acima de tudo.
Nada vem antes disso. FN-2003 deve ficar de pé ou cair por conta própria.
Se ficar de pé, a Ordem está fortalecida. Se cair, a Ordem estará livre da
fraqueza dele. Entendido?
— Sim, capitã.
— Sinto uma hesitação.
— Não, capitã. Nenhuma.
— Então isso vai acabar.
Ele engoliu em seco e assentiu.
— Sim, capitã.
— Isso é tudo. Está dispensado.

Alguns dias depois do sucesso na simulação — e da advertência da capitã


Phasma — FN-2187 percebeu mudanças. A atividade na base e no
treinamento deles parecia ter aumentado um pouco — uma urgência nova e
silenciosa permeava tudo o que faziam, tudo o que era esperado que
fizessem. Os treinos de repente pareciam mais intensos. As aulas e palestras
que até então focavam principalmente as obrigações deles como
stormtroopers — táticas para unidades pequenas, manutenção de armas,
estrutura militar e integração — deram espaço para discussões sobre
formações iniciais específicas e especialidades dos stormtroopers, e
identificavam os cenários citando localizações conhecidas. Na maior parte
da semana, eles estudaram e foram testados repetidas vezes sobre batalhas
históricas diferentes, especialmente das Guerras Clônicas, algumas até
anteriores.
Eles eram stormtroopers, mas não totalmente. Eram cadetes e, como
cadetes, tinham tarefas adicionais além do treinamento. Essas tarefas
abrangiam tudo, desde manutenção do arsenal, realização de pequenos
reparos até mover equipamentos de um lugar para outro, muitas vezes com
as próprias mãos, mas frequentemente com o auxílio de droides de carga
quando o que precisava ser movido era grande demais. Esfregavam o chão.
Recolhiam o lixo. Trabalhavam na cantina preparando refeições.
Não havia tempo para relaxar ou para um mero descanso nos
alojamentos, para ler ou assistir filmes aprovados pela Primeira Ordem.
Sempre tinha algo mais para fazer, outro lugar para estar, outra sessão no
simulador ou pratos sujos para lavar. Sempre tinha alguém observando o
desempenho deles, não importava no que fosse, alguém para lhes dizer que
deveriam trabalhar mais rápido e com mais afinco, que tinham que ser
melhores.
Isso não deixava muito tempo para reflexão, e FN-2187 começou a
pensar se o objetivo não era mesmo esse.
Por mais esgotante que o cronograma deles estivesse, era Slip quem
ficava com o pior de tudo. Ele nunca fora bom sob pressão, e seus erros
passaram a ser mais frequentes. Sob avaliação, cada erro era amplificado.
Infrações menores que poderiam acontecer com qualquer um deles — um
prato quebrado quando lavavam a louça ou um pacote de baterias deixado
na prateleira errada no arsenal — eram tratadas com punições. E todos eram
punidos, não apenas Slip.
Nines e Zeroes não tentavam disfarçar o ressentimento crescente deles.
Mesmo FN-2187 sentia isso. Ele via o esforço de Slip e pensava em ajudá-
lo, em tentar aliviar o fardo dele; chegava até a se preparar para isso.
Então se lembrava da capitã Phasma e virava para outro lado.
Ele não gostava de como isso o fazia se sentir — quase como se
estivesse enjoado, como se houvesse alguma coisa parada no fundo de seu
estômago que não concordava com ele. Para piorar, FN-2187 não via
qualquer indicação nem em Nines, nem em Zeroes de que se sentiam da
mesma forma. Ele tinha certeza de que só ele se sentia assim.
Começou a se questionar se havia algo de errado com ele.

Sessões obrigatórias para manter o moral aconteciam duas vezes ao dia.


Todos eram obrigados a parar o que estavam fazendo e prestar atenção no
holoprojetor mais próximo para assistir discurso gravado pelo alto-
comando, muitas vezes pelo próprio general Hux. Os discursos eram
intercalados com o noticiário sobre as condições deploráveis por toda a
República: os miseráveis em Ibaar e Adarlon, a repressão brutal da
população de Balanlak, os avanços descontrolados de alienígenas por toda a
Orla Exterior. Sempre havia ao menos uma história sobre uma vitória da
Primeira Ordem na sequência, a libertação de um campo de trabalho
forçado em Iktotch ou uma batalha da frota no setor Bormea. Todos
comemoravam. FN-2187 percebeu que Slip era quem comemorava mais
animado, talvez porque estivesse passando por tantas dificuldades com todo
o resto.
FN-2187 não ligava muito para essas sessões de manutenção do moral,
vendo-as principalmente como uma perda de tempo. Eram todos a Primeira
Ordem, afinal; não era como se alguém pudesse esquecer quem eram ou
pelo que estavam lutando. Ele aplaudiria quando era esperado que
aplaudisse e daria gritos de guerra quando era esperado que o fizesse e
vibraria quando fosse correto vibrar. Mas não colocava seu coração naquilo
e ponderava se estava sozinho nisso também. Talvez Nines e Zeroes se
sentissem do mesmo modo. Ele queria perguntar, mas descobriu que tinha
medo de fazê-lo. E se não se sentissem assim? E se ele realmente fosse o
único que tivesse essa sensação?

— Não vejo a hora de entrar em combate — Zeroes disse.


Estavam todos no refeitório, apressando-se para esvaziar os pratos.
Tudo no dia deles era controlado, um determinado tempo para o banho, para
se vestir, para treinar, para comer. Se ultrapassasse o indicado, alguém
passaria e levaria o prato enquanto se tentava terminá-lo. Todos aprenderam
a comer rápido, caso contrário passariam fome. Como resultado, se tentasse
falar e comer ao mesmo tempo, falharia nas duas coisas. O que tornava
surpreendente o comentário de Zeroes.
Nines riu.
— Você está com creme numiano por todo o queixo, Zeroes. Não deixe
a capitã Phasma vê-lo assim.
Zeroes se limpou com as costas da mão e se inclinou por cima do prato.
— Está chegando a hora, dá pra sentir. Chega de exercícios. E hora de
um combate real.
FN-2187 olhou para ele, curioso.
— Você sabe de alguma coisa que não sabemos?
— Ouvi alguns instrutores conversando.
Isso atraiu a atenção de todos.
— Sobre o quê? — perguntou Slip.
— Estão acelerando o nosso treinamento. Dizem que temos que estar
prontos.
— Faz sentido. — FN-2187 usou um pedaço de pão para limpar o
restante do creme no prato. A refeição, como tantas outras, não tinha sido
elaborada para ter sabor proporcional à eficiência: lascas de carne cozidas
demais em molho numiano que tinham mais gosto de carvão do que
qualquer outra coisa. Mas os supria e lhes provia de energia, e esse era o
objetivo.
— Espero que não demore — Slip disse. — Espero muito que não
demore.
— Não deseje que seja assim tão logo. — Nines esvaziou o copo e o
bateu com força na mesa antes de encarar Slip. — Do jeito que você está
indo, seu primeiro combate vai ser o último.
— Ei — FN-2187 falou. — Ele é um de nós. Estamos juntos nisso.
Nines e Zeroes trocaram olhares.
— É? — Zeroes disse. — Bem, se ele não melhorar, eu preferiria que
fôssemos só nós três.
A expressão no rosto de Slip disse tudo. Disse mais, na verdade, pois
fez FN-2187 se perguntar se ele também não duvidava de si mesmo.
Talvez FN-2187 não estivesse sozinho com seu sentimento afinal.

Fosse qual fosse a razão para isso, quer pudessem acreditar em Zeroes ou
não, o treinamento deles de fato foi acelerado. Iam para simuladores de
duas a três vezes por dia, às vezes trabalhando com os outros membros de
esquadrões maiores. Duas vezes participaram de batalhas com múltiplas
equipes, de ataques a bases com o simulador deles sincronizado a cinquenta
outros, todos rodando ao mesmo tempo. Eram confrontos gigantescos com
apoio aéreo completo, artilharia avançada e até bombardeios orbitais das
naves maiores. Caças TIE zuniam acima deles, em combate direto contra as
X-Wings da República, com perseguições que rasgavam os céus do
simulador.
FN-2187 se viu gostando de verdade daquelas simulações, tanto que
quase se surpreendeu. As simulações eram simples. Os stormtroopers
tinham um objetivo claro, sabiam quem era o inimigo e, honestamente, por
mais sérias que as simulações pudessem parecer, no fim das contas eram
apenas jogos que ele sabia que jogava bem. Nesse tipo de ambiente, era
mais fácil se atentar ao conselho da capitã Phasma, deixar Slip prevalecer
ou cair por conta própria. Quando Slip era atingido — e ele sempre era
atingido —, não importava de verdade, porque nada daquilo era real, era?
Depois da segunda simulação com múltiplos grupos, a capitã Phasma
elogiou FN-2187 diante de todos os participantes. Ela o fez se levantar e
encarar a sala de reunião. Havia centenas deles lá no momento: todos os
pilotos, stormtroopers e instrutores… todo mundo. Ela falou sobre a
habilidade, a eficiência e a brutalidade de FN-2187, e como todos os alunos
podiam aprender algo observando-o. Isso o fez se sentir estranho, quase
envergonhado, e ele ficou grato por estar com o capacete, assim ninguém
poderia ver seu rosto.

Na manhã seguinte, começaram com treinamento intensivo de combate


corpo a corpo. Isso era feito fora dos simuladores, em uma das salas de
treinamento específica para esse propósito. Anteriormente, FN-2187 e os
outros tinham treinado combate desarmado, trabalharam em espaços
pequenos com os punhos e os pés. Dessa vez, encontraram a sala com
prateleiras de armas e escudos alinhados às paredes.
Os instrutores demonstraram o uso de cada arma, os vibromachados, os
bastões de choque, as lanças de energia e as clavas, detalhando amplamente
as forças e fraquezas de cada uma e quando e como usá-las para a máxima
eficiência. Explicaram as ligas metálicas usadas na fabricação de armas,
como alguns dos equipamentos eram fortes o suficiente para bloquear até
mesmo um sabre de luz. FN-2187 se questionou sobre isso: não se a
informação era verdadeira, mas se era esperado ou não que eles em algum
momento enfrentassem alguém com um sabre de luz. De acordo com a
Primeira Ordem, os Jedi estavam extintos.
Na sequência, os instrutores distribuíram as armas. FN-2187 recebeu
uma clava e um escudo. Zeroes e Slip ficaram com uma lança de energia
cada um. Nines ficou com um vibromachado e um escudo. Foi dito a eles
que todas as armas estavam carregadas apenas com a carga mínima,
tornando-as incapazes de penetrar uma armadura stormtrooper.
Começaram os exercícios, aprenderam os movimentos básicos de
postura, ataque e defesa, então repetiram inúmeras vezes até FN-2187 sentir
o suor correndo por suas costas por baixo da armadura. Quando
terminaram, seus braços doíam do esforço de sustentar a clava e o escudo,
mas também havia uma sensação de prazer por aprender bem e rapidamente
uma habilidade nova.
Na manhã seguinte, prosseguiram o treino de onde tinham parado, mas
com a introdução de um oponente. Os instrutores escolheriam dois dos
alunos para se enfrentar. Eles recebiam um sinal para iniciar e estava
valendo, então armas giravam pelo ar enquanto figuras com armaduras
brancas colidiam, bloqueando, golpeando e se defendendo até que um fosse
derrubado ou até que os instrutores anunciassem um vencedor. O
combatente derrotado voltava para junto dos outros que esperavam a vez
deles nos cantos da sala e o vencedor ficava para enfrentar o próximo
oponente.
FN-2187 percebeu que, mesmo com carga reduzida e armadura, as
armas deles podiam causar danos reais. Duas vezes alunos precisaram de
ajuda para levantar, um com dedos quebrados por um golpe selvagem de
clava, outro perfurado pela ponta de uma lança de energia que tinha
escorregado e transpassado a membrana que unia as placas da armadura.
Slip foi o primeiro da turma deles a ser chamado para a luta. Enquanto
assistia o amigo lutando, FN-2187 por um momento pensou que essa
poderia ser a coisa em que Slip se destacaria. A movimentação dele com os
pés era boa e consistente, e ele segurava a lança de energia com a
empunhadura apropriada. Ele não cometeu nenhum dos erros óbvios.
Não por muito tempo.
O oponente de Slip usava uma lança também. Estavam trocando golpes
pela sexta vez, batendo rapidamente as pontas como se lutassem com
bastões, quando de repente o adversário de Slip deu um passo para trás,
girando sua lança com as duas mãos por cima da cabeça e a desceu com um
golpe que atingiu a parte de cima do capacete de Slip com tanta força que
parecia que a proteção, e a cabeça dele, tinha se partido ao meio. Slip
cambaleou. Seu oponente girou a haste e elevou a outra ponta com tanta
força quanto da primeira vez, atingindo em cheio o queixo de Slip. Ele caiu
como uma pedra. Quando o instrutor removeu o capacete dele, FN-2187 viu
sangue escorrendo da boca e o olhar perdido do colega.
Slip voltou para a fila.

A pessoa que ficou em pé por mais lutas foi Zeroes. Ele passou por cinco
assaltos sem cair, então FN-2187 foi chamado para encerrar a sequência. A
lança de energia dava alcance a Zeroes e ele atacava com força, mas FN-
2187 tinha seu escudo e descobriu rapidamente que, quando o utilizava no
ângulo apropriado, poderia redirecionar um golpe em praticamente qualquer
direção que desejasse. Zeroes tentou atacar quatro vezes — baixo, baixo,
baixo e então alto, mirando a lança com as duas mãos na direção do coração
de FN-2187. Ele bloqueou todos os golpes, girando seu escudo para a
direita de forma que, quando o golpe resvalou, Zeroes perdeu o equilíbrio e
ficou exposto. FN-2187 girou na direção contrária, trouxe a clava para
baixo e atingiu Zeroes bem acima do joelho, mandando-o com tudo para o
chão.
— Vitória! — gritou um dos instrutores.
FN-2187 deixou a clava no chão e foi ajudar Zeroes a se levantar,
agarrando-o pelo cotovelo. Zeroes desvencilhou-se dele; sua raiva era
evidente mesmo por trás do capacete. FN-2187 supôs que era porque tinha
quebrado sua sequência de vitórias.
Aquele, contudo, foi o início da sequência do próprio FN-2187. O
próximo aluno a enfrentá-lo era de uma turma diferente, do grupo FO,
também armado com uma clava e escudo. A luta durou três segundos. FN-
2187 simulou um golpe por cima com a clava e, quando o oponente
levantou o escudo para se defender, o derrubou com um ataque do próprio
escudo. Os dois oponentes seguintes também tinham designação FO, outro
com lança de energia e um com espada e escudo. O segundo demorou mais
para ser derrotado — quase um minuto completo antes de FN-2187 dar um
jeito de lhe arrancar o escudo, então foi só esperar por urna abertura e atacar
na hora certa.
Depois chegou a vez de Nines, com um vibromachado e um escudo. Se
FN-2187 achava que Zeroes tinha ficado bravo com a derrota, Nines
parecia já ter entrado na luta assim. Nines começou com um giro direto na
cabeça de FN-2187. A próxima coisa que 2187 viu foi o adversário se
chocando com ele, corpo contra corpo; as armaduras se arranhavam
enquanto ele era empurrado pela sala de treinamento. FN-2187 precisou de
toda sua força para se manter em pé e evitar dar outra abertura para Nines
atacar o machado. Por fim, FN-2187 largou o escudou e usou a mão livre
para controlar o punho de Nines. Trocaram de posições e FN-2187 bateu
com o ombro no peito do colega, fazendo-o perder o equilíbrio por tempo
suficiente para criar uma distância entre os dois. Antes que 2187 pudesse
recuperar o escudo descartado, entretanto, Nines lançou-se contra ele
novamente. Agora FN-2187 usava sua clava com as duas mãos, rebatendo
os ataques de Nines com a mesma rapidez que eram desferidos. Sentia o
coração batendo dentro da armadura, como um eco de sua respiração
conforme o esforço aumentava. O pensamento que lhe ocorreu, inesperado
e chocante, era que Nines pensava que aquilo era real, não um treinamento.
O vibromachado desceu cortante contra o braço dele, e FN-2187 se
esquivou. Os dois stormtroopers começaram a girar. Nines ameaçou com o
machado e então atacou corn o escudo quase acertando-o pelo lado, mas
FN-2187 deu um jeito de levantar a clava e bloquear bem a tempo. Ele viu
o golpe que viria a seguir mesmo antes de Nines lançá-lo, sabia que o
machado viria cortando novamente; então, em vez de dar um passo para
trás, FN-2187 seguiu em frente e por baixo da guarda de Nines. A clava
estava na posição errada, com sua ponta pesada em direção ao solo, então
FN-2187 usou o cabo mesmo, esmagando-o no capacete de Nines. O outro
trooper caiu de costas suavemente. Ele ficou deitado imóvel, atordoado por
um instante.
FN-2187 recuperou seu escudo. Não fez menção de ajudar Nines a
levantar.
Essa foi a quinta luta, o que o deixou empatado com o número de
vitórias de Zeroes.
O sexto embate era com Slip, e de imediato FN-2187 viu que algo
estava errado. Talvez fosse o golpe na cabeça ou alguma outra coisa, mas
ele se movia lentamente. Sua movimentação de pés, antes impecável, estava
vagarosa e desleixada. A empunhadura dele na lança de energia não parava
de escorregar; não de um jeito óbvio, mas estava solta o suficiente para que
a ponta ficasse baixa demais. Assim seria fácil para FN-2187 repelir os
golpes ou mesmo desarmá-lo de vez. Sentindo o gosto do suor, com o olhar
escondido pelo capacete, FN-2187 espiou os instrutores procurando por
algum sinal de que estavam vendo o que ele via, que Slip não estava em
condições de lutar, que aquela não seria uma luta justa. Os instrutores
estavam impassíveis, em pé com seus uniformes, as mãos nas costas. Nada
na expressão deles entregava qualquer coisa além de um vago interesse.
Não havia sinal de simpatia.
Slip atacou e FN-2187 bloqueou com facilidade, mandando a ponta da
lança para longe do escudo pela esquerda. Slip a acompanhou, incapaz de
se segurar a tempo, obviamente desequilibrado. FN-2187 deu um passo
para trás, dando-lhe espaço para se recuperar. Olhou de novo para os
instrutores. Ele supôs que um deles franzia a testa.
FN-2187 balançou a clava em um arco fácil, sem colocar força de
verdade, exagerando o movimento. Slip quase não levantou sua guarda no
lugar a tempo e falhou por completo ao lançar um contra-ataque. Eles se
circundaram. Outro olhar para os instrutores e ambos estavam franzindo a
testa. Slip tentou alternar a empunhadura dele na lança e, como se usasse
um bastão, fez um ataque de que FN-2187 se esquivou sem pensar. Teve
outra abertura e quase a aproveitou, mas por algum motivo se viu incapaz
de fazê-lo.
Veio então o pensamento de que, se ele perdesse, Slip seria deixado para
enfrentar quem quer que viesse depois.
Veio então outro pensamento, de que quem lutasse com ele seguida não
se importaria que Slip já estava machucado, que outro ferimento poderia ser
demais para ele.
Você é um de nós, FN-2187 pensou.
Atacou com a clava, um gancho que Slip bloqueou, mas sem qualquer
força na defesa. O bloqueio abriu a guarda de Slip e mandou as mãos dele e
a lança para cima, quase sobre a cabeça, deixando o torso exposto. FN-2187
avançou com o escudo na frente, mais empurrando do que atacando,
enquanto trazia a perna esquerda para a frente, por trás da direita de Slip.
Não precisou de quase nenhuma força aparente; de repente, Slip estava de
costas no chão, e FN-2187 estava parado sobre ele. O instrutor gritava:
— Vitória!
Foi nesse momento que FN-2187 viu o reflexo cromado, o rebater das
luzes na armadura polida e percebeu que a capitã Phasma estava assistindo
a tudo.
Deu um passo para trás, aguardando enquanto Slip se erguia
desequilibrado.
O próximo combatente era de outra turma de treinamento, a FL, mas
FN-2187 não reparou de verdade e nem se importou muito. Tinha certeza
de que Phasma o observava, ideia que era impossível de confirmar. O aluno
FL estava usando duas armas uma espada e um machado, e era selvagem
com ambas. Àquela altura, a mente de FN-2187 estava a mil — pensava em
Slip, Nines e Zeroes e em Phasma o observando —, e não foi realmente
uma surpresa quando o mundo explodiu em um clarão branco, o cabo da
espada colou no seu queixo e ele pôde sentir o próprio sangue. Em um
instante estava em pé, no seguinte estava deitado no chão, encarando as
luzes no teto através das lentes do capacete.
Ele levantou e voltou para seu lugar na fila.

— Tenho uma dúvida, FN-2187.


— Sim, capitã.
— Você estava brincando com FN-2003? Foi isso o que vi?
FN-2187 hesitou e, ao fazer isso, sabia que deixava a capitã Phasma
descontente. Se ela estava brava, ele não era capaz de dizer. A voz dela
através do capacete era sempre cuidadosamente modulada.
— FN-2003 tinha sido ferido em um combate anterior — ele disse. —
Não queria vê-lo mais machucado.
— Entendo. — O capacete dela virou, os olhos ocultos procurando os
dele. De repente, FN-2187 se sentiu horrivelmente exposto, parado em pé
naquela sala de reuniões sozinho com a capitã, vestindo a armadura, mas
com seu capacete debaixo do braço. — Você não queria que ele lutasse com
outra pessoa, alguém que não fosse... simpático à situação dele.
— Não, capitã.
— Seu objetivo era simples, FN-2187.
— Eu venci a luta, capitã.
— Mas considerou perder para ele inicialmente, não?
FN-2187 não respondeu.
— Um verdadeiro stormtrooper não tem espaço para simpatia —
Phasma lhe disse. — Um verdadeiro stormtrooper é uma extensão da
Primeira Ordem, da vontade do Líder Supremo Snoke, nada além disso.
Você acha que o Líder Supremo teria hesitado, FN-2187?
— Não, capitã.
— Reúna seu grupo de ataque — Phasma disse. — Vocês entrarão em
combate.

Eles foram da base para um transporte e do transporte para a órbita,


viajando com outra meia dúzia de esquadrões em treinamento, todos em
seus uniformes e armados com seus fuzis. Os fuzis eram novos, não mais a
versão de treinamento, mas os verdadeiros fuzis laser F-11D, carregados
com munição de verdade e prontos para a batalha. A primeira vez que
viram um Destroier Estelar, ao mesmo tempo majestoso e ameaçador, foi
pela janela da nave assim que ele entrou no campo de visão: quase
inacreditável de tão pequeno a princípio, depois crescendo até se tornar
quase inacreditável de tão grande conforme o transporte acelerava em
direção a ele.
— Está mesmo acontecendo! — exclamou Nines. FN-2187 percebeu
um temor na voz dele, como se nunca tivesse esperado que chegassem a
esse ponto.
— A capitã disse para onde estamos indo? — Slip perguntou. — O que
vamos fazer?
— Não — FN-2187 respondeu.
— Claro que não — Zeroes disse. — Ela não vai contar para
stormtroopers os planos do Líder Supremo ou do general Hux ou mesmo os
dela. Ela não quer nossa opinião. Ela tem um trabalho que quer que seja
feito e está contando com a gente para fazê-lo.
Eles atracaram na área de pouso primária e desembarcaram em
formação rígida, marchando como foram ensinados. Fileiras de caças TIE
da Primeira Ordem pendurados em suas amarras acima deles reluziam com
a iluminação da área de pouso. FN-2187 tinha que se esforçar para não
encarar as naves verdadeiras ali em cima, tão perto. Sabia, intuitivamente,
que não havia diferenças notáveis entre os caças suspensos sobre ele e os
que vira voando por sobre a cabeça tantas vezes nas simulações. Mesmo
assim, aquilo era nitidamente diferente de uma forma estranha. O poder
deles era palpável, até assustador, enquanto aguardavam parados acima,
como um bando de mynocks selvagens adormecidos.
O oficial do convés, um homem mais velho vestindo um uniforme
imaculado sob medida, os esperava. Ele os separou por turmas e lhes deu as
direções para as acomodações. FN-2187 descobriu que ele e o resto do time
tinham sido designados para alojamentos quase idênticos aos que deixaram
para trás na superfície. A diferença era que aqueles a bordo da nave eram
ocupados por stormtroopers “de verdade”, homens que os ignoraram
completamente enquanto localizavam as camas e guardavam os
equipamentos. Mal tiveram tempo de remover os capacetes e se acomodar
quando ouviram uma ordem vindo pelo sistema de som da nave: “Atenção,
preparar para o hiperespaço”. Não se passou nem um minuto e FN-2187
sentiu a nave trepidar levemente, e eles partiram e viajaram mais rápido do
que a luz.
— Calouros — um dos stormtroopers chamou. — Quem é quem?
Slip sorriu e apontou para ele mesmo e depois para os outros.
— Série FN. Slip, Zeroes, Nines e FN-2187.
— Deixa eu adivinhar — o trooper disse. — FN-2187 está no comando,
certo?
— Isso mesmo.
O stormtrooper encarou FN-2187.
— Sem apelido. Você é um daqueles.
— Um daqueles o quê? — FN-2187 perguntou.
O stormtrooper riu. Parecia ter quase trinta anos, mas seu olhar era
sério, e a risada não era de divertimento.
— Um estranho, cadete. Você está do lado de fora e sempre se
questionará por que não pertence a este.
Os outros stormtroopers riram; Nines, Zeroes e até Slip.
O ataque era em uma colônia de mineração estabelecida em um campo de
asteroides artificiais conhecidos como Ruínas Pressy. Antigamente existira
ali uma lua rica em minério, mas esse minério estava enterrado fundo e, em
vez de montar um centro de operações na superfície e aprofundar as minas,
alguns engenheiros interessados por explosivos tinham decidido que a
melhor solução era deixar tudo em pedacinhos. Esses destroços agora
flutuavam no sistema Pressylla da Orla Exterior, junto com três planetas
inabitáveis e uma estrela anã vermelha que fazia os fragmentos da antiga
lua brilharem em um tom infernal.
O maior fragmento era a base da operação de mineração, um complexo
com uma refinaria que se alastrava a ponto de cobrir a maior parte da
superfície e que tinha se aprofundado bastante na própria rocha. FN-2187
não tinha muita certeza do que estava sendo minerado. As opiniões
variavam: alguns stormtroopers diziam que era combustível, algo vital para
as operações da frota da Primeira Ordem. Outros falavam que era algum
tipo de minério necessário para os geradores de escudos das naves estelares.
Um stormtrooper alegava que era gás tibanna, mas era óbvio que ele estava
equivocado.
O que FN-2187 sabia de verdade era que estavam ali para “restaurar a
ordem” de acordo com as instruções que lhes foram dadas pela própria
capitã Phasma. Os agentes da República tinham se infiltrado nas operações
de mineração e estavam sabotando os equipamentos e criando
desentendimentos entre os mineradores. A presença da Primeira Ordem foi
requisitada para pôr um ponto final nisso, para botar os mineradores de
volta no cronograma e prevenir quaisquer outros atrasos.
O esquadrão deles foi o segundo a chegar, e a viagem tinha sido
diferente da que fizeram para o Destroier Estelar. Dessa vez, FN-2187, Slip,
Zeroes e Nines se mantiveram em formação de ataque durante todo o
percurso, junto com outros três times de stormtroopers, alguns cadetes e
veteranos mais experientes. Todos preparados e carregados, levando
munição e granadas ativas. FN-2187 notou que um dos grupos de ataque
tinha bastões de choque e redes neurossupressoras — armas desenvolvidas
para controle de multidões, destinadas mais para subjugar do que para
matar.
Pousaram dentro da instalação principal e a rampa baixou quase antes
de pararem completamente. Havia uma preocupação de que poderiam
encontrar resistência — revoltas ou mesmo sabotadores — e, por esse
motivo os stormtroopers saíram em forma de combate, desembarcando em
uma sucessão rápida, com os fuzis preparados. Executaram a manobra sem
falhas, exatamente como FN-2187 e os outros tinham feito centenas de
vezes nos simuladores, emergindo em uma área de pouso vasta já ocupada
por outro transporte da Primeira Ordem. O teto estava quase cinquenta
metros acima deles, perfurado na rocha e sustentado por andaimes que
pingavam água enferrujada, criando repugnantes poças avermelhadas por
todo o piso. Luzes artificiais de dez metros de comprimento estavam
penduradas nos andaimes, piscando irregulares. Sob seus pés, FN-2187
podia sentir uma vibração contínua, que supôs vir das escavadeiras que
trabalhavam nas profundezas da rocha. Além de um punhado de droides de
manutenção, não havia sinal de ninguém na área de pouso.
Um dos veteranos, um sargento, ordenou que FN-2187 levasse seu time
para a entrada da doca e a protegesse. FN-2187 posicionou Zeroes na ponta
e seguiu na segunda posição, com Slip atrás e Nines na retaguarda. As
portas eram enormes, quase tão altas quanto o teto, e eles pararam quando
elas se abriram. Um barulho de dentro das paredes se espalhou pela doca —
o som de inúmeras máquinas trabalhando, que FN-2187 acreditou ser da
própria refinaria.
A doca se estendia em uma caverna enorme, com uns dez quilômetros
de comprimento e mais profunda do que a vista alcançava. Nuvens de vapor
e uma fumaça tingida de verde subiam das profundezas, serpenteando como
o hálito de uma criatura dormindo escondida. Mais condensação escorria
pelas paredes. Fluía em ondas estáveis, pingando como uma chuva
preguiçosa. Droides operários flutuavam pelo vasto espaço em plataformas
repulsoras, subindo e descendo rapidamente e desviando dos andaimes
gigantes construídos de forma precária. Pontes estreitas de vigas ligavam
os diferentes andares, algumas delas em ângulos que pareciam impossíveis
de atravessar sem uma queda fatal. Plataformas se projetavam das laterais
da caverna, com uma aparência tão instável quanto a das pontes e a dos
suportes, muitas cobertas por lonas.
Em uma delas, quase à direita de FN-2187, ele percebeu um movimento
e girou, levantando o fuzil a tempo de ver dois humanoides os observando.
Um era um talz, o outro um gran. O stormtrooper os observou por apenas
um segundo antes de eles se agacharem e se esconderem de novo, mas foi o
suficiente. O talz era alto e magricela, com marcas despeladas por toda a
extensão dos braços e ombros, revelando uma pele em carne viva,
acinzentada e descamada. O gran estava coberto de cicatrizes, que FN-2187
deduziu serem resultado de queimaduras, talvez químicas.
Depois de avistá-los, FN-2187 descobriu outros. Quase todos os
mineradores eram alienígenas, um grupo tão variado quanto a galáxia
poderia oferecer. Ainda assim, todos pareciam desnutridos e doentes,
muitos claramente feridos. A maioria mal encarou os stormtroopers, e os
poucos que o fizeram desviaram depressa o olhar. FN-2187 sabia por que e
entendia que não estavam somente assustados; estavam apavorados.
Sentiu um nó em seu estômago e ficou enjoado. Por um instante, achou
que vomitaria dentro do capacete.

Eles estavam em posição na entrada da doca havia quase três horas quando
o rádio de FN-2187 foi acionado em seu ouvido. A doca atrás deles tinha
sido esvaziada pelos stormtroopers havia muito tempo; o sargento liderou o
restante das tropas para dentro da instalação e Zeroes, Nines e Slip tinham
começado a reclamar do quanto aquela missão era chata e do quanto era
injusto terem que ficar parados ali protegendo as naves.
— FN-2187, responda. — Era a voz da capitã Phasma.
— Aqui é FN-2187. Prossiga, capitã.
— Estou mandando uma unidade para substituir vocês. Assim que
chegarem, prossiga com seu grupo para o nível alfa-sete-sete, sala zero-três.
Confirme.
— Confirmado.
Os outros o encaravam.
— Seremos substituídos — FN-2187 lhes disse. — A capitã Phasma
quer que prossigamos para outro lugar.
— Qualquer coisa deve ser melhor que isto — Nines comentou.
— Você podia ser um minerador aqui — FN-2187 falou.
— Não me faça rir. Não devemos rir quando estamos de uniforme,
lembra?
— Não estou brincando.
— Eles poderiam largar essa vida se quisessem — Slip disse.
FN-2187 pensou na área de pouso vazia atrás deles, com apenas os dois
transportes que tinham trazido eles e os outros stormtroopers até ali. Não
disse nada.
Os substitutos chegaram, outro grupo de ataque com cadetes, e FN-2187
abriu o mapa que tinha baixado no computador da armadura em seu visor.
Seguiram caminho pelo complexo, por uma passarela perimetral mais
estável, e depois por um elevador enorme que desceu mais de cinco
quilômetros antes de enfim estremecer e parar no andar alfa-sete-sete. A
porta abriu revelando uma vista similar à que tinham deixado acima, apenas
mais escura, com poças esparramadas por todo o solo, profundas o
suficiente para que suas botas espirrassem água a cada passo.
A capitã Phasma os esperava do lado de fora de uma porta com a
marcação O-3, com meia dúzia de stormtroopers.
— Nos apresentando conforme ordenado — FN-2187 anunciou.
Phasma indicou a porta fechada, e a capa deslizou pelo braço dela com
o movimento. Verde e vermelho refletiram na armadura dela.
— Os negociadores estão lá dentro — ela disse. — Você e seu grupo
acompanharão.
— Estamos negociando com a República? — A pergunta veio sem
pensar e, assim que a pronunciou, FN-2187 se arrependeu, esperando que
Phasma o repreendesse.
— Não, com os mineradores em greve. — Phasma se virou e bateu na
placa de ativação na parede, o que fez a porta abrir. Ela os guiou para
dentro.
Quatro humanoides estavam sentados na ponta de uma mesa retangular
de concreto, no lado oposto à porta. Apenas um deles era humano, com
olhos profundos e metade do queixo inchado e brilhando por causa de uma
cicatriz de queimadura. Os outros eram um rodiano sem dois dedos da mão
direita, um abednedo e um narquois. Todos se endireitaram nas cadeiras
quando Phasma entrou, e observaram conforme ela fechava a porta atrás
dos stormtroopers.
— Você considerou os nossos pedidos? — o humano perguntou.
— Dei ao seu pedido a atenção que ele merece. — Phasma olhou para
FN-2187 e o restante do grupo de ataque. — Matem-nos.
Nada aconteceu por um momento, nenhum movimento, nenhuma
palavra, como se todos — tanto os negociadores como os cadetes — não
estivessem certos do que ouviram.
Então Slip começou a atirar.
Em seguida Zeroes e Nines. FN-2187 levantou o fuzil até o ombro, pôs
o dedo no gatilho e mirou o abednedo. Viu os Olhos arregalados e todo o
medo dele e, naquele instante, uma vida cheia de sofrimento que estava
prestes a terminar; disse a si mesmo que talvez o que estava prestes a fazer
fosse misericordioso. Ainda assim, não foi capaz de puxar o gatilho.
No final, não precisou fazê-lo.
Slip atirou por ele.

Havia uma sala de simulação simples a bordo do Destroier Estelar, e FN-


2187 reservou um horário para ele assim que voltaram para a nave. O
cadete selecionou um programa básico de escalonamento, um cenário de
combate de nível de dificuldade baixo em um ambiente urbano que
gradualmente aumentaria a dificuldade. Ele verificou a arma e entrou na
simulação.
No começo foi tão fácil como sempre havia sido. O inimigo apareceu,
soldados da República, o fuzil deu um coice suave nas mãos dele, então não
havia mais inimigo. Outro surgiu em uma esquina e FN-2187 disparou de
novo. Havia um ritmo naquilo, e os tiros estavam seguindo para onde ele
queria. Um novo alvo apareceu e ele o rastreou e atirou enquanto se movia,
acertando. Os alvos começaram a vir mais rápido, e ele pensou que talvez
aquilo tiraria da cabeça dele o que acontecera; mas foi justamente o
contrário, e ele não conseguia parar de pensar nos mineradores.
Não conseguia parar de pensar em como Phasma tinha falado com o
grupo de ataque dele enquanto os corpos dos negociadores esfriavam no
chão. Como ela se movera e parara bem na frente de Slip.
Tinha preocupações em relação a você, FN-2003 — ela disse. — Estou
feliz que provou que eu estava errada.
— Obrigado, capitã.
— Vocês agora são stormtroopers — ela falou. O capacete dela virou, se
movendo de Slip para Zeroes, Nines e finalmente para FN-2187. Ela
pareceu fixar o olhar nele por mais tempo que nos outros. Então se dirigiu
para todos eles, batendo na placa peitoral para enfatizar as palavras. —
Vocês são um de nós agora.
Zeroes, Nines e especialmente Slip tinham sentido aquilo, eles
acreditaram nela. Durante todo o caminho de volta, na área de pouso, no
transporte, no voo de volta para o Destroier Estelar, mal conseguiam conter
a empolgação, o alívio e o orgulho. Até os veteranos tinham sentido aquilo
e os convidaram para compartilhar uma refeição e comemorar.
FN-2187 declinou o convite. Disse que precisava treinar e cumprir
algumas horas de simulação.
E como já o tinham rotulado como “o estranho”, ninguém discutiu nem
insistiu para ele ir junto. Nem mesmo Slip.
O problema devia ser pessoal, FN-2187 pensou. Essa era a única
explicação. Era o que todos diziam o tempo todo, afinal. Ele era diferente.
Talvez fosse tão diferente que estivesse com problemas. Nesse caso,
trabalharia para se consertar, para ser um stormtrooper de verdade, para ser
um deles. Isso era o que ele mais queria: não estar sozinho.
Então ele se exercitou durante a simulação, e aquilo cresceu e cresceu, e
os disparos ainda eram infalíveis. Foi somente depois de os civis
começarem a aparecer no cenário que ele passou a ter problemas. A
princípio, eles apareciam apenas como transeuntes aleatórios, obstáculos a
se evitar. Logo apareciam mais e mais deles e mais e mais. Homens,
mulheres e crianças. De repente FN-2187 só conseguia enxergá-los, não
conseguia ver os inimigos escondidos entre eles. Só via os inocentes e,
naquele momento, não conseguiu mais puxar o gatilho.
Naquele momento, ele entendeu que nunca seria como um jogo.
Compreendeu que nunca seria um deles.

A capitã Phasma observou FN-2187 pelo monitor do alojamento dela. Ele


tinha parado de atirar, parado até de se ver, e estava apenas em pé no
cenário inconstante de figuras em movimento.
Ela suspirou. Depositara tantas esperanças em FN-2187... Ele tinha
demonstrado ser uma promessa notável. Tinha demonstrado a capacidade
para ser especial.
Phasma pegou as ordens na mesa dela e as revisou mais uma vez. Já
tinham dado o salto para o hiperespaço e ela sabia que levaria menos de
uma hora para chegarem ao ponto de encontro e receberem o novo
passageiro deles. Kylo Ren já transmitira as coordenadas para onde
seguiriam em sequência.
Na imagem do monitor, FN-2187 dera as costas para a simulação que
continuava rodando. Disparos de laser inofensivos dos soldados da
República eram cravados nas costas dele, tiro após tiro. Pelos alto-falantes,
ela podia ouvir o computador da sala de simulação declarando que ele tinha
fracassado. FN-2187 não parecia perceber, não parecia se importar. Ela
assistiu enquanto as imagens holográficas se apagaram, quando a sala ficou
vazia, sem sequer um stormtrooper, quando FN-2187 saiu.
Ela desligou o monitor. Decidiu que FN-2187 seria parte do
destacamento quando chegassem ao ponto de aterrissagem em Jakku.
Talvez, quando alguém estivesse atirando na direção dele, FN-2187
entendesse o que significava ser um stormtrooper de verdade, o que
significava servir a Primeira Ordem de corpo e alma. Phasma daria mais
uma chance a ele.
Uma última chance para FN-2187 decidir o seu destino.
OS TEEDOS chamavam a tempestade de X’us’R’iia. Tinha esse nome
porque os teedos acreditavam que existia apenas uma tempestade de novo e
de novo. Era o hálito do deus R’iia, diziam.
R’iia não era um deus benevolente e, por isso, a tempestade era
considerada culpada de muitos problemas. Era a causa da fome que
atormentara aquela região de Jakku por tantos anos. Era a razão de a água
ter desaparecido. Era o motivo de os luggabeasts terem se tornado
indomáveis. Era responsável pelos comerciantes ilegais que infestavam a
terra deles. Acima de tudo, era o que fizera destroços gigantes de metal
repletos de muitas criaturas frágeis se chocarem contra as areias havia
tantos e tantos anos. Os teedos diziam que os cemitérios de naves eram um
monumento à raiva de R’iia. Eram um alerta que os ilegais em Niima
falhavam em ouvir, irritando muito os teedos. A maioria dos teedos era
inofensiva, coletores à sua maneira, assim como Rey. Havia, porém, os
teedos ortodoxos, fanáticos conhecidos por atacar tanto os irmãos quanto os
coletores, acusando-os de blasfêmia contra R’iia e alegando que R’iia
puniria todos por seus pecados. A X’us’R’iia puniria todos eles.
Rey não acreditava em uma palavra disso, mas ela não acreditava em
muita coisa além de si mesma.
Estava bem no alto da superestrutura de um dos antigos cruzadores de
batalha enterrados pela metade na areia, torcendo para encontrar alguma
coisa vendável que outros coletores tivessem deixado passar. Olhou para
longe e viu uma tempestade se formando no horizonte. Soube no mesmo
instante que aquela seria uma das grandes. Era hora de ir.
Ela sempre escalava os destroços sem usar equipamentos e, por mais
paradoxal que parecesse, descer demorava mais do que subir. Ao descer, era
preciso se preocupar com a gravidade de uma forma diferente, e se apressar
era um bom jeito de se machucar. Ela sabia disso por experiência própria.
Mesmo assim desceu rápido, quase rápido demais; no final, arriscou saltar
os três últimos metros até o chão. A areia podia ser macia quando se estava
perto o suficiente, mas Rey não estava. Daquela altura, era como pousar
sobre metal. O choque do impacto percorreu os tornozelos dela, causando
uma dor aguda que subiu pela panturrilha e chegou até os joelhos. Ela se
apoiou no bastão para levantar e correu na direção de seu speeder.
Então começou a corrida para chegar em casa: Rey na speeder em
disparada, indo o mais rápido que podia pelo deserto, com uma ventania
crescente a perseguindo. Puxou de baixo do cinto a ponta do cachecol longo
e cheio de furos e o enrolou em volta do nariz e da boca. Não era a primeira
vez que desejava ter óculos de proteção e se amaldiçoou por não ter
improvisado um modelo meses antes. O último que encontrara fora trocado
com Unkar em Niima por duas porções, quantidade de comida que mal era
suficiente para silenciar o estômago dela por um dia. Fora uma troca ruim,
ela sabia. Mas estava com tanta fome que disse a si mesma que acharia
outro modelo logo e fez a troca.
Isso tinha sido quase três meses antes.
A tempestade quase a alcançava quando chegou aos destroços do
Walker. Veio em ondas, com força o suficiente para golpear a speeder por
trás, e Rey teve que lutar para mantê-lo estável. A areia rodopiava quando
ela deslizou até frear e desceu. Encaixou a speeder entre duas das pernas
quebradas e retorcidas da máquina gigante e, de lá, entrou no abrigo. O
barulho da tempestade cresceu de forma ensurdecedora: o vento era como
um grito contínuo misturado com o ruído áspero e cruel da areia arranhando
a fuselagem do Walker. Raios explodiam acima de Rey, fazendo-a se
contorcer, e ela apertou os olhos e observou o céu a tempo de ver o último
raio de sol sendo devorado pelo turbilhão de nuvens de poeira. Raios
arqueavam e iluminavam o céu, como se a luz do dia tivesse retornado
completamente por apenas um segundo. Quando Rey fechava os olhos,
ainda podia ver o brilho do raio. Sua pele ardia com as picadas da areia. O
vento tentava pegá-la pelos pés e levantá-la enquanto ela lutava para seguir
pela lateral do casco usando as alças de apoio. Por pouco conseguiu forçar a
porta improvisada para abrir o suficiente, então cambaleou para dentro e,
com a mesma rapidez, fechou a porta com uma batida.
Rey ficou parada na escuridão do lar por um tempo, recuperando o
fôlego, ouvindo a fúria de R’iia do lado de fora. O barulho era bem mais
suave, mas ainda penetrava pela fuselagem blindada do Walker. Ela esticou
o braço, tateou até achar uma das lanternas e acionou o botão. A lâmpada
piscou fraca no começo, depois estabilizou em um brilho acalentador.
Rey suspirou, tirou as botas e esvaziou a areia delas. Sacudiu as roupas.
Chacoalhou o cabelo. Quando terminou, sentiu-se dez quilos mais leve e
tinha um monte considerável do deserto de Jakku aos seus pés.
Trovões explodiam acima da cabeça dela, vibrando pelo casco de metal
do Walker. Peças e pedaços de sucata saltaram. Um dos capacetes velhos
caiu do cabide improvisado no qual estava pendurado. Rey vivia no que um
dia tinha sido o compartimento principal das tropas do Walker. Havia muito
tempo o interior fora extirpado de qualquer item de valor e agora parecia
mais uma oficina destroçada. Rey tinha conseguido um gerador em uma
troca uns dois anos antes, por isso tinha energia quando precisava,
principalmente para a bancada de trabalho onde desmontava, montava e
reconstruía aqueles pedaços de tranqueira ainda utilizáveis que recuperava.
Unkar sempre pagava mais por coisas que funcionavam.
Uma rachadura finíssima na fuselagem deixou entrever um clarão
repentino: mais raios. Rey pegou um dos cobertores no chão e o usou para
cobrir a rachadura. Fixou usando três dos ímãs raros que tinha recuperado
de um estabilizador giroscópico destruído. Foi até o seu esconderijo sob um
dos painéis laterais, desparafusou a placa e pegou uma das três garrafas de
água que tinha deixado lá. Tomou um gole com uma careta para tirar o
deserto da boca. Cuidadosamente fechou a garrafa e devolveu-a ao
esconderijo antes de prender o painel.
Ela sentou sobre a pilha de cobertores e repousou a cabeça na
fuselagem, ouvindo a tempestade bater furiosa contra a casa dela. Fechou os
olhos. Pela primeira vez em muito tempo sentiu-se muito, muito sozinha.

A X’us’R’iia durou três dias e meio.


Rey tomou uma garrafa e meia de água, controlando a sede porque não
sabia quanto tempo levaria até que pudesse ir a Niima buscar mais. Ficou
sem comida no segundo dia. Quando a tempestade terminou, a dor de
cabeça era tão intensa que ela estava zonza e tinha que se mover bem
devagar
A garota improvisara um computador usando peças coletadas ao longo
dos anos de diversos caças destruídos, incluindo um monitor rachado, mas
ainda utilizável, de uma velha Y-Wing BTL-A4. Não havia nenhuma forma
de transmitir ou receber comunicações de rádio e, francamente, ninguém
com quem ela queria falar. Contudo, uma vez achara nos destroços de um
transporte série Zephra um monte de chips de dados e, depois de examinar
meticulosamente cada um deles, descobrira três com a programação intacta
— um deles, para o deleite de Rey, era de um simulador de voo.
Com isso, quando não estava dormindo, sentada ouvindo a tempestade
ou trabalhando na bancada da oficina, ela voava. Era um bom programa, ou
pelo menos ela imaginava que fosse. Podia selecionar um grande número de
naves, desde pequenas movidas por repulsores atmosféricos, passando por
uma variedade de caças, subindo na escala até naves cargueiras. Podia
selecionar o destino, mundos que nunca visitara e nunca imaginara que
visitaria e cenários de simulação que iam de corridas de obstáculos até
falhas de sistema.
A princípio, ela se saíra terrivelmente mal, batendo poucos segundos
depois de cada decolagem. Sem mais nada para fazer e com a determinação
de que não se permitiria ser derrotada por uma máquina que ela tinha
montado, acabou aprendendo. Aprendeu tão bem que àquela altura havia
pouco que o programa poderia colocar em seu caminho que a desafiasse de
verdade. Ela chegou a ponto de fazer, quase deliberadamente, tudo o que
era capaz de pensar para tornar as coisas mais difíceis, apenas para ver se
conseguiria se livrar. Reentrada atmosférica em máxima com o motor de
repulsão travado? Sem problemas. Múltiplas fraturas no casco com o motor
de espaço profundo desligado? Mamão com açúcar.
Caso não servisse para mais nada, pelo menos era uma forma de passar
o tempo.

Quando Rey finalmente se atreveu a sair, levou quase uma hora para
conseguir abrir a porta. A areia estava amontoada tão alta e compactada
contra a porta que no início ela só fora capaz de movê-la alguns
centímetros. A cada empurrão, mais e mais deserto invadia a casa dela.
Conseguiu abrir a porta por fim, mas precisou limpar tudo, o que lhe
consumiu mais uma hora, a causa disso, entretanto, era principalmente
porque ela estava trabalhando muito devagar: cada vez que se abaixava e
levantava, a tontura retornava, e ela tinha que parar e apoiar a mão na
parede.
O sol estava forte e cruel. Como por um milagre, a speeder tinha sido
poupado da pior parte da tempestade. Ela limpou a poeira dele, verificou a
bateria, ligou o motor e teve uma agradável surpresa quando ele funcionou
sem hesitar. Voltou para dentro apenas para pegar o bastão e algumas peças
da bancada para oferecer a Unkar. Trancou tudo, montou na speeder e fez a
viagem para Niima. Foi devagar, ciente de que não estava em suas melhores
condições.
A pequena cidade, se é que se podia chamar aquilo de cidade, e ela não
estava certa se podia, mas não tinha muito com que compará-la — ainda
estava quase deserta. As lonas por cima da estação de lavagem foram
destroçadas pela X’us’R’iia, e havia duas sentinelas do lado de fora
trabalhando nos reparos. Rey estacionou entre a estação e o escritório de
Unkar e, por puro hábito, olhou pelo pequeno campo de pouso, contando as
naves. As mesmas três naves de sempre estavam lá. Todas pareciam ter
sobrevivido à tempestade sem danos.
Ela marchou até o guichê de Unkar, sentindo o sol machucá-la. Ele já
estava lá, observando-a com os olhos esbugalhados no rosto inchado.
— Primeira a chegar — ele disse.
Rey remexeu na bolsa, tirou as três peças de sucata que tinha pegado e
as posicionou no balcão entre eles.
— O que você me dá?
Uma das mãos grossas de Unkar se estendeu, agarrando as peças uma
por vez, puxando-as pela abertura para que pudesse examiná-las mais de
perto. Rey esperou, observando ao redor. Mais pessoas chegavam,
aventurando-se depois da tempestade. Dois outros coletores deviam ter
saído para caçar antes, pois seguiam em direção à estação de limpeza para
lavar os achados. Rey se amaldiçoou em silêncio por não ter feito o mesmo.
A tempestade devia ter movido as areias de lugar no cemitério. Quem sabia
o que poderia ter revelado? Agora, quando chegasse lá, não haveria mais
nada.
— E isto aqui deveria ser o quê? — Unkar perguntou.
Rey olhou para a peça na mão dele.
— É o atuador de um compensador de aceleração Kuat-7.
— Não, pelo menos não neste estado. E isto? Isto era para ser parte de
um conjunto de processadores de dados?
— Sim.
Unkar grunhiu.
— Este aqui é bom. Regulador de baixa interferência para um Z-70.
Posso negociar isso. — Ele esparramou as três peças entre eles. — Dou três
porções, uma para cada uma delas.
— Só o Z-70 vale isso, Unkar.
— Estou oferecendo três, Rey. É pegar ou largar.
Ela tremeu. O sol fazia sua dor de cabeça piorar.
— Três porções e duas garrafas de água — Rey contra ofertou.

Ela estava comendo a nojeira que se passava por refeição, uma porção, na
sombra ao lado das cabines de vendas quando ouviu os motores. Todo
mundo olhou para cima, inclusive Rey. Todos observaram enquanto a nave
desceu preguiçosa sobre o campo de pouso e então aterrissou. Era um
cargueiro leve velho, da classe Hernon, todo quadrado e feio. Rey o tinha
visto ali talvez umas dez vezes, assim como todo mundo; com a mesma
rapidez a atenção deles dispersou de volta para as diversas tarefas que
tinham em mãos. Unkar fazia negócios recorrentes com alguns mercadores,
pessoas que queriam comprar as sucatas dele por um preço baixo e sem
registros.
Sobraram alguns pedaços da gosma azul no pacote que Rey levou aos
lábios para espremer na boca. Ela levantou e caminhou para a estação de
limpeza, agora com todas as baias ocupadas por outra meia dúzia de
companheiros coletores esperando sua vez. Ela jogou o pacote no lixo e
olhou de novo para o campo de pouso. A rampa tinha descido e a primeira
figura a emergir era exatamente quem ela esperava: o mesmo humano que
tinha visto todas as outras vezes. Ele parou na ponta da rampa e se virou
para falar com alguém a bordo. Rey viu outra figura descendo, uma garota,
seguida ainda por uma terceira pessoa, uma mulher mais velha. Aqueles
rostos eram novos para Rey, e ela percebeu que estava os encarando.
O homem apontou na direção de Unkar, falando com a mulher e a
garota. A garota tinha as mãos nos bolsos e os ombros caídos; a mulher pôs
a mão na cabeça da garota enquanto falava com o homem. O homem
segurou os ombros da garota. Ela olhou para ele e ele se reclinou em
direção a ela, talvez falando algo e apontando para dentro da nave. A garota
virou-se, seguiu a mulher rampa acima e saiu de vista. O homem se dirigiu
até Unkar.
Rey voltou para a speeder, tentando imaginar sobre o que tinha sido a
conversa, o que a garota tinha dito, o que o homem falara, o que a mulher
respondera. Ela deu a partida no motor e manobrou a speeder em direção ao
deserto ponderando sobre a cena.
Ela não tinha a menor ideia do que tinha sido tudo aquilo.

Rey não tinha muita esperança de encontrar algo bom. Já perdera a manhã e
só chegara com seu speeder à fronteira do cemitério no meio da tarde.
Qualquer coisa que a tempestade revelara mais nas proximidades já teria
sido reivindicada. Conforme rodava, podia ver pequenos grupos de
coletores trabalhando em novos destroços. Muitas pessoas trabalhavam
juntas, imaginando que poderiam cobrir uma área maior. Rey trabalhava
sozinha, como sempre. Era mais fácil quando estava sozinha; tinha menos
complicações, menos coisas com que se preocupar. A única pessoa em
quem tinha que confiar era nela mesma.
Dirigiu-se até a parte mais distante, além dos achados fáceis, para
dentro do terreno difícil. Ela estava se sentindo melhor agora que a refeição
tinha calado, pelo menos por enquanto, o grunhido da fome, e abriu
caminho com a speeder. Rey pilotou com mais rapidez e firmeza,
apreciando a emoção do poder e da aceleração da máquina. Tinha aquele
speeder havia muitos anos; ela mesma o construíra, da mesma forma que
fizera com tantas outras coisas e, até onde podia se permitir se orgulhar de
alguma coisa, tinha orgulho dele.
O cemitério não era apenas uma área; tinha, na verdade, uma vasta
extensão. Era possível atravessá-lo por quilômetros sem ver sinal de nada e,
de repente, ao escalar alguma duna, se perceber em frente a um campo de
destroços. Entretanto, a tempestade tinha feito mais do que revelar novos
achados; tinha mudado o terreno, reformulado o deserto, por isso foi só
depois de atingir a Crepitação e ver o Prego que Rey percebeu para quão
longe tinha pilotado. A Crepitação era uma das poucas constantes do
deserto, marcada pelo dorso de uma nave de comando gigante enterrada na
areia até a metade, quase perfeitamente na vertical: o Prego. Ninguém sabia
que tipo de nave tinha sido, se fora da República, do Império ou de uma
época anterior; era impossível ter certeza, porque tudo o que havia era o
eixo da quilha despontando do chão e algumas vigas de sustentação
retorcidas ainda agarradas ao que restara da estrutura. Todo o resto da nave
tinha sido destruído na explosão de plasma que irrompera com o impacto. O
calor fora tão intenso que queimara a areia na superfície do deserto, ardendo
com uma temperatura tão alta que transformara o solo em um vidro
escurecido. Com o passar dos anos, o vidro tinha se quebrado em pedaços
cada vez menores, em seu curso natural para voltar a ser areia, mas, ao
pilotar ou andar pelo terreno, podia-se ouvir um crepitar que parecia
sussurrar por quilômetros.
Por isso, o lugar se tornou a Crepitação.
Rey parou quando se aproximou do Prego, observando o sol com os
olhos semicerrados enquanto puxava sobre o rosto um pedaço do lenço.
Talvez restassem duas horas de luz do dia, e precisaria de mais do que isso
para voltar para casa. A temperatura despencava à noite — chegava a fazer
tanto frio quanto fazia calor durante o dia. O pouco de vida selvagem que
existia naquela parte de Jakku também surgia com a escuridão, e a maioria
era predatória, tão desesperada para sobreviver quanto todos os outros seres
vivos. Os enxames de tubarões-roedores saíam à noite, carnívoros que
corriam sobre seis patas e se alimentavam de sangue quente. Ficar preso na
escuridão não era uma boa.
Rey perdera o dia, mas talvez pudesse ganhar alguma vantagem para o
dia seguinte. Desligou a speeder, desceu e cuspiu mais areia. Bebeu metade
de uma das garrafas que conseguira com Unkar e a guardou de volta na
bolsa. Rey observou o Prego pensativa. Com certeza era possível escalá-lo.
Não muito seguro, mas possível.
Deslizando o bastão das costas, Rey o deixou apoiado na lateral da
speeder e seguiu até a base do Prego. O solo trincava sob as botas dela,
fazendo o vidro saltar e crepitar. O pilar rangeu quando ela alcançou a base
do Prego fincado na areia, como se alertasse Rey.
O metal, aquecido por ter passado o dia sob o sol, queimava as mãos
dela. Ela usou as beiradas do lenço como luvas improvisadas, mas o calor
se infiltrava por ele. Havia mais alças e degraus do que parecera a princípio,
e ela subiu depressa, focando mais em sua tarefa do que no que estava
acima ou na distância crescendo rápido abaixo. Só quando sentiu o vento
balançando as pontas do lenço que percebeu o quanto tinha subido. Parou e
se lançou em uma brecha no Prego onde podia quase sentar. Não era
confortável, mas era seguro. Pelo menos naquele momento.
A vista era incrível. Ela subira uns cem metros, talvez mais. Olhando na
direção de onde veio, podia apenas reconhecer o que supunha ser Niima,
tremeluzente e distorcida pelo calor do mormaço. Entre ela e a cidade
estendia-se a maior parte do cemitério, com a fronteira marcada pelo
Destroier Estelar caído. De lá de cima, até parecia pequeno. Rey transferiu
seu peso para o lado e puxou os macrobinóculos da bolsa — apenas uma
das lentes funcionava, então estava mais para um macrobinóculos, pensou.
Ela o levou até os olhos e analisou o deserto espalhado à sua frente.
Havia dois teedos no horizonte, a mais de cinquenta quilômetros de
acordo com o medidor de distância nos macros. Eles estavam puxando os
luggabeasts em vez de montá-los, o que significava que voltavam para casa
depois de uma longa busca fora. Ela olhou para a esquerda, para o deserto
inexpressivo. Era decepcionante. Não havia nada de novo para ver, e os
poucos destroços que sabia que estavam no caminho tinham desaparecido,
devorados mais uma vez pelo deserto.
Alguma coisa saltou na vista dela, um brilho, metal ou vidro, por um
instante, e Rey voltou-se para a frente devagar. Sentiu o batimento cardíaco
acelerar. Forçou-se a observar lentamente e tentou refazer a trajetória que
seus olhos tinham seguido, mas isso era muito difícil. O sol estava se pondo
e Rey sabia que, onde quer que a luz tivesse rebatido, tinha sido um caso de
“lugar certo na hora certa”. Em minutos, talvez até em segundos, o sol
desceria ainda mais, e o que tinha sido revelado poderia desaparecer para
sempre.
Ela viu de novo o brilho da luz do sol rebatendo no metal exposto, e
focou os macrobinóculos. Conseguiu. O que Rey encontrou quase a fez cair
do Prego.
Era uma nave.
Rey baixou os macros. Verificou a posição do sol de novo. Quando ela
descesse, teria apenas tempo suficiente para voltar para casa antes de
escurecer. Se avançasse para os destroços, chegaria ainda com luz do dia,
mas não teria a menor chance de voltar para o Walker antes de o deserto se
tornar gelado e perigoso. Podia deixar para o dia seguinte, partir ao nascer
do sol e torcer para que fosse capaz de encontrar os destroços antes que
outra pessoa pudesse reivindicá-lo para si.
Foram aquelas incertezas que definiram sua decisão. Enfiou os
macrobinóculos na bolsa e começou a longa descida.

Era uma velha nave 690 das Indústrias Ghtroc, um cargueiro leve pequeno.
Rey a reconheceu de imediato por já tê-la visto no simulador de voo; ela
voara uma versão mais recente, a 720, mais vezes do que podia contar. O
sol beijava o horizonte, banhando tudo com uma luz dourada suave que fez
cada parte da nave parecer tão preciosa quanto Rey achava que era, porque
o maior milagre de todos, maior do que o fato de ainda não ter sido
descoberta e reivindicada por ninguém, e maior do que o fato de estar quase
toda para fora da areia, era que a nave estava intacta.
Com certeza estava danificada. Podia perceber isso antes mesmo de
saltar da speeder em frente à nave para examiná-la. O disco de telemetria
fora cortado do topo da fuselagem, o escudo da cabine de comando perdera
vários painéis, certamente estilhaçados no impacto, e rachaduras se
espalhavam pelos dois que restaram. Pelo casco a estibordo, um corte que
seguia por quase dois metros expunha a fiação corroída e derretida, com
pedaços de cabos faltando. Quem quer que tivesse descido com a nave
tentara fazê-lo usando o ciclo de pouso; com isso, o suporte frontal de
pouso, pelo menos até onde Rey podia ver no local onde a areia tinha se
movido, desapareceu por completo.
Mas era uma nave, estava inteira e Rey a tinha encontrado, o que
tornava a nave dela. Sentiu algo estranho no rosto; uma dor esquisita nas
bochechas. Aproximou-se e viu o próprio reflexo no que sobrou do escudo
da cabine. Ela estava suja, mas isso era normal. O que a surpreendeu foi que
estava sorrindo; tentou parar, mas ainda sentia a dor nas bochechas, e ela
continuava sorrindo.
Unkar pagaria... Rey tentou calcular quanto Unkar pagaria pela nave,
mesmo naquele estado. Uma centena de porções? Quinhentas? Comida
suficiente para ela poder se alimentar por um ano. Além de água e talvez
outras coisas: ferramentas melhores ou quem sabe até um laser para que ela
pudesse se proteger melhor, sem precisar contar apenas com o bastão. Tudo
isso apenas por um destroço, sem nem levar em conta qualquer coisa que
Rey pudesse achar ali dentro.
As sombras começavam a se espalhar pelo cargueiro através da areia. A
luz do dia estava acabando. Rapidamente puxou a speeder para escondê-lo
embaixo da cabine que despontava em um ângulo agudo. Ela desligou o
motor e deu uma volta pela duna, tentando visualizar melhor a nave. Tinha
tombado para bombordo por causa da tempestade ou simplesmente pelo
Jeito corno descera, e uma duna grande começava a ser varrida para cima
da fuselagem naquele lado. Mais um dia, um vento mais forte, e toda a nave
poderia acabar enterrada de novo.
A areia escorregava sob os pés dela conforme avançava para a duna.
Correndo para pegar impulso, Rey saltou de lá pousando na parte de cima
do casco. O exterior da nave estava queimando de tão quente, ainda
conservando o calor do dia, e ela assobiou com a dor enquanto se reerguia.
Podia sentir o calor subindo pelas botas. A nave permaneceu estável. Não
rolou nem balançou conforme ela avançou em direção à cabine. Um dos
painéis que faltavam era largo o suficiente para ela atravessar. Olhando para
baixo, podia ver onde o deserto tinha sido cuspido para dentro do cargueiro,
praticamente formando uma rampa de areia para ajudá-la na descida.
Engatinhou para dentro, apertando os dentes enquanto o calor do metal a
queimava. Assim que atravessou, deitou-se e deslizou o restante do
caminho.
Rey terminou entre dois assentos, do piloto e do copiloto. Era bem mais
fresco dentro da nave, e estranhamente quieto. Os ruídos do deserto, que
pareciam baixos a maior parte do tempo, sumiram por completo. Não havia
nada, apenas o silêncio. Na frente dela, a porta da cabine estava suspensa,
meio aberta, os painéis divididos e arqueados, e além dali havia apenas a
escuridão.
Rey escorregou na areia conforme ficava em pé e apoiou a mão na parte
de trás da cadeira do piloto para se estabilizar. Alguma coisa caiu do apoio
para cabeça e fez um barulho ao bater contra o metal. Os olhos dela ainda
estavam se ajustando à escuridão, por isso levou um momento antes de
reconhecer o que tinha soltado. Pegou-se rindo involuntariamente de novo.
Segurou os óculos de proteção que caíram e assoprou a areia das lentes.
Ela os levantou, examinando. Não havia sequer um arranhão. Rey pendurou
os óculos no pescoço e tirou a lanterna da bolsa.
Ela começou a explorar.

O maior medo de Rey era achar um corpo, ou pior: corpos, ou quaisquer


restos mortais da tripulação azarada. Pressupôs que alguém tinha que ter
descido a nave, um piloto que iniciara o ciclo de pouso tantos anos antes.
Era bem provável que tenha sido a última coisa que o piloto fez. Então
estava cautelosa, não porque tivesse frescura, mas porque não queria ser
surpreendida por um corpo.
Não havia nenhum corpo para descobrir e havia uma explicação lógica
para aquilo: o cargueiro estava sem os módulos de fuga. Rey supôs que
ciclo de pouso fora iniciado pelo piloto automático em uma tentativa de
salvar a nave.
A Ghtroc era uma nave pequena, especialmente para um A 720, o
modelo com o qual Rey estava mais familiarizada, fora projetada para uma
tripulação de no máximo duas pessoas, com espaço para outros oito
passageiros e cento e trinta e cinco toneladas de capacidade de carga. A 690
tinha essas medidas em escala menor, projetada para uma tripulação de um,
com espaço para três passageiros, e apenas sessenta toneladas de
capacidade
Ela abriu caminho com cuidado, iniciando a exploração na parte de trás
da cabine. A posição em que a nave tinha ficado tornava traiçoeiro andar
por ela, mas não impossível. Rey tinha que ir devagar porque precisava de
uma mão para se manter em pé e carregar a lanterna com a outra. Achou o
quarto da tripulação, junto com evidências de duas pessoas, roupas velhas e
objetos pessoais, nas quais ela não tocou. Achou a cozinha e viu que metade
das rações tinha estragado ou virado pó, mas havia dezessete pacotes de
refeição rápida intactos e selados, além de um jarro purificador que
transformaria água suja em algo que ela poderia beber. Quase riu de alegria.
Quando Rey viu a luz verde, contudo, riu de verdade.
O núcleo do reator era na popa e não deveria funcionar. Não deveria
existir energia para ligar qualquer sistema a bordo. Isso quase passou
despercebido. Ela pensou que era um reflexo da lanterna, uma sombra, mas,
quando se virou, aquilo saltou na visão periférica dela. Deslizou até o painel
principal de controle. Estava tão empolgada que mal conseguia respirar. A
luz estava fraca, mas estava lá, era real e iluminava duas palavras no botão.
Com o coração na boca, Rey o apertou.
Acima e por toda a volta dela, luzes piscaram vivas conforme a energia
auxiliar era restaurada no cargueiro.
Se Unkar pagaria quinhentas porções por urna sucata... quanto pagaria
por uma sucata que não era uma sucata? Quanto pagaria por uma nave?
E, a ideia mais louca de todas, uma que estivera tentando ignorar desde
que entrara na cabine, uma que não tinha se permitido elaborar porque era
perigosamente próxima à esperança: quanto Unkar pagaria por uma nave
que funcionava?

Rey passou a noite no cargueiro. Desligou a energia auxiliar para evitar que
as baterias perdessem mais força e para impedir que a luz vazasse para o
exterior da nave. Ela tinha muito medo de ser descoberta e do que
aconteceria se mais alguém encontrasse a nave. Sem sombra de dúvidas
tentariam tomá-la; tentariam roubar o que agora era dela. Não deixaria isso
acontecer.
Experimentou uma das camas na cabine da tripulação, mas encontrou
duas coisas erradas. A primeira era que o ângulo em que a nave estava a
faria deslizar contra a divisória com todo o peso de um lado só, o que era
desconfortável, mas suportável. A segunda, entretanto, tinha a ver com a
cama em si: era macia demais. No fim preferiu o chão.
Logo cedo, Rey rompeu o lacre de uma das refeições rápidas e comeu o
que considerou um dos melhores alimentos que já provara. Não tinha ideia
do que era aquilo, mas tinha um preparado de carne de verdade e um molho
que era doce e picante ao mesmo tempo, com algo que pensou que
poderiam ser castanhas, que estouraram entre os dentes dela com um estalo
satisfatório. Havia também um disco pequeno envolto por um tipo de
massa; quando mordia aquilo, ele se misturava com um açúcar meio picante
que era tão intenso que ela quase engasgou com a doçura.
A próxima questão a resolver era proteger a nave de olhos curiosos. Isso
aparentemente era algo que os donos anteriores também desejaram, porque,
quando Rey vasculhou o compartimento de carga buscando alguma coisa
para cobrir o cargueiro, encontrou uma placa do piso deslocada e, depois de
fazer força e arrancá-la com uma alavanca, encontrou ali dois panos. Ao
desdobrar um, descobriu que era muito maior do que parecia. Havia uma
alavanca de um atuador em um dos cantos, e Rey a pressionou sem saber o
que esperar. Ainda segurando a borda do tecido enorme, viu-o desaparecer
diante dos olhos ou, mais precisamente, se alterar para combinar com o
ambiente ao redor. Quando pressionou o atuador de novo, o tecido se
reverteu para o tom cinza sem graça. Ela lembrou de um coletor
klatooiniano discutindo com Unkar sobre um objeto parecido com aquele,
só que bem menor. Um tecido camaleão, ele dissera.
Rey concluiu que quem quer que tivesse possuído o cargueiro antes dela
talvez não estivesse preocupado em operar de forma legal.
Levou algum tempo e um pouco de luta em torno do casco para deixar
os dois panos posicionados sobre o cargueiro e presos com pesos para que
não voassem com um sopro de vento repentino. Uma vez ativados, a nave
praticamente desapareceu no terreno que a cercava. Rey não tinha ideia de
quanto tempo os cobertores durariam, se precisavam de recarga, se
funcionavam com bateria ou com energia solar, energia solar teria sido
bom, ela pensou.., mas cumpriram a tarefa dentro do esperado. Seria preciso
estar quase em cima do cargueiro antes de perceber que tinha algo lá além
do deserto.
Rey voltou para dentro. Estava ficando mais familiarizada com a nave e
tinha mais facilidade para se mover dentro dela. Achara um caderno velho
no alojamento da tripulação e duas canetas e os levou com ela quando
religou a energia auxiliar e reacendeu as luzes. Se ajeitou para se dedicar a
fazer um inventário bem detalhado dos sistemas da nave, dos motores à
cabine. Verificou a fiação, as ligações de energia, os cabos, os condutores,
as amarrações, os componentes blindados, os circuitos... Foi metódica e
paciente, preenchendo páginas e páginas do caderno com as descobertas: o
que funcionava, o que precisava de reparos o que podia ser improvisado, o
que precisaria ser retirado de outras naves, o que teria que ser obtido por
escambo (ou, pior, comprado).
Levou quatro dias para Rey completar a lista e, quando terminou, se
presenteou com outra refeição rápida, o estoque dela tinha baixado para
onze pacotes, e aqueles discos doces eram definitivamente as melhores
coisas que já comera. Revisou tudo o que tinha escrito e refletiu se valeria a
pena continuar. Seria um trabalho enorme. A maioria das coisas da lista ela
poderia reparar ou improvisar, mas alguns dos itens precisariam ser
trocados ou reconstruídos. Os escudos que faltavam na cabine poderiam ser
caçados em outros destroços, mas levaria tempo. A fiação corroída, assim
como engates e conduítes faltantes, poderia ser retirada de outras peças
coletadas. Mas a câmara de pré-mistura para o hiperpropulsor precisava de
uma nova unidade de contenção, e Rey não tinha o conhecimento técnico
nem os equipamentos para construir uma. O emissor do repulsor de
elevação dorsal de estibordo estava em perfeito estado e, apesar de não ser
estritamente necessário para voar, havia outros três emissores e todos
intactos.., não tê-lo tornaria a decolagem e o pouso desafiadores. Sem levar
em conta o mais crucial: a nave não tinha combustível, apenas o que restara
nas baterias auxiliares.
Sem combustível, não há como voar com o pequeno cargueiro até
Niima.
Isso era algo que Rey realmente desejava, ela percebeu. Queria estar
naquela nave que todos ficariam encarando. Queria ver as expressões no
rosto de todo mundo enquanto descesse da rampa e vissem que era ela
quem tinha pilotado aquele prêmio para casa. Queria ver os olhos de Unkar
arregalados e a expressão dele de surpresa; ouvi-lo gaguejar enquanto fazia
oferta após oferta para a nave, a nave dela, até que ela concordasse.
Quinhentas porções? Tente cinco mil porções, Unkar. Tente cinco mil
porções e uma nova speeder, um novo conjunto de ferramentas, um gerador
sobressalente e prioridade nos itens coletados que aparecessem por,
digamos, os próximos dois anos. Não, quatro! Não, cinco anos!
Ela queria muito aquilo.
O que significava que era hora de começar o trabalho.

A tarefa era ainda mais difícil e demorada do que Rey imaginara. Os


problemas se acumulavam e cresciam exponencialmente, e não era apenas
com os reparos na nave. Já seria difícil o suficiente tentar fazer tudo a bordo
voltar a funcionar. Só isso já teria sido um trabalho em tempo integral.
Ela ainda precisava comer. Ainda precisava sobreviver. Ainda precisava
trabalhar, e isso significava que tinha que trabalhar duas vezes mais, porque
coletava sucatas dois para trabalhos. Cada peça das sucatas que conseguia
coletar agora era sujeita s uma avaliação crítica: iria para a nave ou para
Unkar? As melhores peças, é claro, valeriam mais para Unkar e poderiam
render mais porções. Invariavelmente, aquelas mesmas peças eram as de
que Rey precisava para reparar a nave. Quanto mais difícil de substituir,
maior o valor que Unkar pagaria; quanto mais difícil de substituir, menor a
probabilidade de encontrar outra.
Por essa razão, a nave tinha que ser a prioridade. Se não fosse, todo
aquele trabalho teria sido em vão. Dois, três, cinco meses se foram e ela
estava quase sempre com fome, algumas vezes dois dias sem uma refeição
até enfim, com muita relutância, trocar com Unkar não mais do que uma
porção por vez. Dias gastos rastejando pelo cemitério, procurando
desesperada por pedaços, torturando o cérebro tentando lembrar onde tinha
visto um giroscópio de oscilação que ainda poderia funcionar, uma placa
duralloy que fosse grande o suficiente para ajudar a cobrir o rasgo na lateral
do cargueiro, uma bomba de coerção recíproca para os purificadores de
oxigênio… Era exaustivo. Era interminável.
Aquilo cobrou seu preço, e Rey não foi tão cuidadosa quanto deveria.

A maioria das coisas que ela coletava, fosse para usar no cargueiro ou para
trocar com Unkar, precisava ser limpa. Rey usava a estação de limpeza em
Niima, escolhendo os horários com o menor número de pessoas por perto.
Ela escovava a imundice e a areia das peças, as deixava de lado para secar
e, então, tão sorrateira quanto era capaz, enfiava os componentes de que
precisava para os reparos de volta na bolsa. Algumas coisas, que guardava
não tinham nenhum valor óbvio para troca, mas, ainda assim, precisavam
ser lavadas. Cabos, por exemplo, eram relativamente fáceis de achar, mas
valiam menos que nada para Unkar.
— O que você está construindo?
Rey estava abaixada, escovando uma sujeira particularmente teimosa de
carvão em um limitador de frequência. Levantou a cabeça de modo brusco e
encarou os olhos acusadores de quem a questionou. A interlocutora era uma
mulher humana, menor que Rey, mas parecia ter a mesma idade dela. Seu
cabelo era curto, raspado dos lados. Rey tentou lembrar seu nome.
— Devi.
— Isso — a mulher disse. — Você é Rey, certo? O que você está
construindo?
— Não estou construindo nada.
— Unkar não vai pagar nada por isso. O pessoal do Porto trouxe uma
centena de limitadores de frequência na semana passada. Você com certeza
sabe disso.
Rey chacoalhou o componente para secar e o enfiou na bolsa, torcendo
para a conversa ter terminado.
Não tinha. Devi encarou o seu parceiro, outro humano, quase uma
cabeça mais alto que Rey, com o cabelo raspado de forma idêntica ao de
Devi, e deslizou no banco ao lado de Rey. Devi sentou do lado oposto.
— Você conhece Strunk, certo? Devi perguntou.
Rey começou a juntar as peças que tinha deixado secando. O bastão
estava à esquerda, do lado contrário ao que Strunk tinha se sentado, fácil de
alcançar. Rey ponderou se teria que usá-lo.
— Você não passa as peças para a frente. — Devi coçou o queixo, o que
a sujou de graxa. — Nós vimos. Tipo, você tinha uma caixa de junção para
um inversor de energia da série YT uns dias atrás. Aquilo teria te garantido
um monte de coisas. Mas você não trocou.
— Está fazendo o mesmo com um monte de circuitos e cabos também.
—— Strunk disse. — Como se estivesse montando alguma fiação, saca?
Rey o encarou. Strunk deu de ombros e sorriu como se estivesse se
desculpando.
— Não queremos nos meter, Rey — Devi disse. — Estamos curiosos,
só isso. Você não tem aparecido tanto quanto antes e é meio... você sabe,
estranho. Tipo, por que você não trocaria aquelas coisas, saca?
— Não estou com tanta fome — Rey disse.
Devi pareceu surpresa. Então riu.
— Claro, entendi. Cada um que cuide da sua vida. Saquei.
— Sim — Rey falou. É o que fazemos.
Strunk assentiu. Rey enfiou os componentes restantes na bolsa, agarrou
o bastão e levantou.
— O papo está bom, mas preciso ir — Rey disse.
— Ei.
Rey se virou para Devi.
— A questão é que nós percebemos — Devi falou. — Então talvez mais
alguém tenha reparado também. Entende o que estou dizendo?
Devi inclinou a cabeça de forma sutil na direção do guichê de Unkar.
Rey não podia vê-lo, mas isso não significava que ele não estava
observando. Ela olhou de volta para Devi.
— Vou tomar mais cuidado — Rey disse.

Passaram-se mais dez dias até que a encontraram. Rey sabia que esse
momento chegaria. Os dois panos que mantiveram o cargueiro escondido
tinham parado de funcionar, um após o outro, no mesmo dia em que ela
falara com Devi e Strunk em Niima; por isso ela teve que jogar areia sobre
o casco da nave. Era um disfarce fraco, e toda vez que o vento aumentava o
casco ficava exposto para qualquer um perto o suficiente.
Tentou ser mais cuidadosa, mas existiam muitos lugares para se
esconder no meio do cemitério, muitos pontos de observação. Se Devi e
Strunk de fato estavam atrás dela, tudo de que precisavam era paciência, e
eventualmente veriam Rey na speeder. Eles a seguiriam, e não faria
diferença quantas vezes Rey mudasse o caminho ou desse voltas, se
pilotasse pela manhã ou pela tarde: ela seria vista. Assim, nunca fora de fato
uma questão de se a encontrariam, mas quando, e Rey aceitava aquilo.
Ela estava deitada no espaço apertado da cabine, tentando religar os
relés do computador de navegação, quando os ouviu do lado de fora.
— Rey? — Era Devi. — Ei, Rey! Você está aí?
Rey suspirou, então levantou. Deixou a microlâmina ao lado das demais
ferramentas, agarrou o bastão e seguiu para dentro da cabine. Tanto Devi
quanto Strunk estavam parados do lado de fora. Devi sorria e a boca de
Strunk estava aberta, como se não pudesse acreditar no que via.
— O quê? — Rey perguntou. — O que vocês querem?
— Isso é incrível! — Strunk gritou, como se tivesse voltado de um
transe. — Pelas barbas de R’iia, Rey! Isso é incrível!
— É só uma nave — Rey disse.
Devi riu.
— Só uma nave? Você está louca! Olhe pra essa coisa! Como você a
encontrou?
Rey subiu no assento do piloto, saiu da cabine meio consertada e saltou
na areia. Ela segurava o bastão com as duas mãos, apoiando-se nele, mas
seria bem fácil arremessá-lo em um golpe, se necessário. Olhou primeiro
para Strunk, depois para Devi.
— Eu sabia que tinha que ser alguma coisa — Devi disse. — Sabia que
você estava trabalhando em alguma coisa grande, mas, tipo, nunca
imaginaria algo assim. Pensei que pudesse ser um veículo de solo ou um
tanque repulsor ou alguma coisa do tipo. Mas isto? Nunca! Rey, você
conseguiu uma nave, garota! Achou uma nave!
— Ainda falta muito trabalho. — A voz de Rey soava estranha aos
próprios ouvidos, como se estivesse falando por falar. Porém, havia um
toque de orgulho também.
— Não duvido nada. — Devi deu um passo para a frente, erguendo a
cabeça para olhar a parte de baixo do casco que estava exposta. — Parece
que você tem um dos repulsores inteiro. E o trem de pouso.
— Tem uma Ghtroc 720 — Strunk lembrou, falando lentamente. —
Você sabe qual é? Depois do Pontal do Feressee? Aquela que rachou
quando pousou? Está de ponta cabeça e em pedaços, mas ainda tem as
peças. Essa é uma Ghtroc, certo?
— Modelo 690 — Rey disse.
— Nós dois podemos movê-la — Devi disse animada. — Levaria um
dia de trabalho, talvez dois.
Os dois encaravam Rey.
— Esta nave é minha — Rey disse depois de uma longa pausa.
— Podemos ajudar — Devi disse. — Por favor! Strunk é grande, forte e
estúpido, ele não tem medo de nada. E, tipo, sou pequena e esperta e
consigo entrar em lugares apertados. Podemos te ajudar a consertar essa
coisa, Rey.
— E o que vocês ganham com isso?
— Você nos leva junto — Devi disse.
Rey piscou. A frase não fazia sentido para ela.
— Pra onde?
— Pra onde você está indo.
— Vou para Niima. Vou vendê-la para Unkar.
Strunk abriu a boca para falar, mas Devi mexeu a mão de um jeito que
Rey entendeu que significava que ele deveria se calar. Strunk fechou a boca
e deu de ombros.
— Unkar pagará muito pela nave, especialmente se ela for capaz de
voar no espaço. — Devi disse, assentindo. — Talvez o quê? Seis, sete mil
porções? Ele pagaria até mais se a nave viajar pelo hiperespaço.
— A câmara do conversor está quebrada — Rey disse. — Se eu achar
uma sobressalente que sirva, ela pode ir para o hiperespaço. Mas precisa de
combustível.
Devi concordou, entusiasmada.
— Com certeza! Sim, perfeito! Ajudamos você a consertá-la e
dividimos o lucro; rachamos o que Unkar estiver disposto a pagar. É nisso
que estou pensando. É justo, certo? Cada um de nós recebe, tipo, um terço?
— A nave é minha.
— Certo, isso é justo também. Sua nave, você que achou. Então você
fica com metade e Strunk e eu dividimos o resto. Isso dará no mínimo cinco
mil porções para você. Unkar dará piruetas por isso, você sabe.
Rey não disse nada. Estava pensando. De alguma forma, a divisão não
lhe parecia justa, mas ela não tinha muita certeza do que significava ser
justo.
Devi olhou para o casco de novo, como se admirasse a nave.
— Na verdade, ele daria piruetas por ela no estado atual.
Strunk estava com as mãos no bolso, olhando para baixo, mas fitou
Devi por um instante antes de voltar o olhar para as botas. Devi estava
dando uma volta pelo lugar, ainda seguindo as linhas do casco.
Não era uma ameaça evidente, Rey sabia. Pelo modo como Devi falara,
talvez não tivesse a intenção de ameaçar, estava mais para uma observação,
uma afirmação sobre a ganância de Unkar e sobre o valor do pequeno
cargueiro leve. O problema era que não havia como ter certeza. Não havia
como ter certeza de que, se Rey recusasse a ajuda, eles esqueceriam a nave
e a deixariam em paz. Não havia como ter certeza de que não iriam até
Unkar e lhe contariam sobre a nave em troca de uma taxa pela descoberta.
Quanto mais Rey pensava sobre o assunto, mais entendia que não podia
confiar que não fariam algo assim. Se não podia confiar que eles
guardariam segredo, como poderia confiar que a ajudariam a consertar a
nave?
Mas não parecia haver outra opção.
— O que me diz? — Devi perguntou, encarando Rey mais uma vez. —
Sócias?
Rey olhou para suas mãos segurando o bastão. Os dedos sujos, as unhas
rachadas e manchadas de graxa. Não gostou de nenhuma das opções. Soltou
um suspiro e disse:
— Venham, vou mostrar tudo para vocês.

Os benefícios de trabalhar com Devi e Strunk foram imediatos e melhores


do que o esperado, para a irritação de Rey. Ela estava tão acostumada a ficar
sozinha que tê-los circulando pela nave, pela nave dela, a deixou bem
nervosa. E Devi falava sem parar, o que piorava a situação.
Não havia como negar, porém, que eram bons coletores. Conheciam o
cemitério tão bem quanto Rey, mas, como todos os outros que trabalhavam
nos desertos de Jakku, tinham descoberto seus locais preferidos, seus
próprios achados especiais que mantinham em segredo. Muitas das peças
que Rey perdera a esperança de algum dia conseguir consertar, ou sequer
substituir, Devi e Strunk foram capazes de encontrar em questão de dias.
Trouxeram a estrutura prometida em menos de um dia. Três dias depois,
apareceram arrastando um conjunto completo de um repulsor de elevação
que arrancaram de um transporte batido classe Lambda. Era produzido pelo
Império, nunca fora planejado para ser incorporado aos sistemas de um
Ghtroc, mas Rey precisou de apenas um dia e meio para criar uma interface
de conversão. Antes de a semana acabar, tinham substituído o gerador de
bombordo que faltava.
Rey subiu até a cabine para se certificar de que os sistemas tinham se
integrado adequadamente. Substituíra as baterias do sistema de voo
principal meses antes e a nave descansava em um modo de prontidão de
baixa potência. Devi e Strunk a seguiram, ansiosos e empolgados,
observando com atenção conforme ela passava rápido pela sequência de
ativação e depois pela inicialização dos motores do repulsor de elevação.
Cada um dos três emissores tinha seu próprio indicador, barras verticais
azuis que mediam a potência de elevação em porcentagens; os de proa e
estibordo responderam imediatamente, indicando que estavam operando.
— Funcionou? — Devi perguntou.— Está funcionando?
Rey mexeu o controle de bombordo, tentando deixar o motor
improvisado em sincronia com os outros. A barra de energia dele teimava
em ficar vazia. Então, de repente, saltou para o máximo. Todos sentiram a
nave tremer sob os pés. Grãos de areia quicavam sobre a cobertura retirada
da cabine e deslizavam pela janela.
Strunk vibrou, comemorando desajeitado. Devi riu e deu um tapinha no
ombro de Rey. A garota se incomodou com o toque, mas se pegou rindo
também.
— Você é espetacular! — Devi exclamou. — Você é inacreditável, Rey!
Rey se contorceu no assento do piloto.
Vocês ajudaram.
— Claro, se você chama arrastar pedaços de naves estelares pelo
deserto de ajuda! Você é a pessoa que juntou tudo isso. Você é a pessoa que
está fazendo essa coisa funcionar! — Devi se lançou para o assento de
copiloto e o girou. A cadeira rangeu. — Vamos fazer isso voar!
— O quê?! Agora?!
Strunk parecia compartilhar a mesma dúvida de Rey.
— Devi?
— Claro, agora! — Devi exclamou. Ela apontou em direção à vista para
fora da cobertura. — O sol está baixo o suficiente. Se nos mantivermos
acima da linha, ninguém vai nos ver, certo? Estarão olhando para o sol.
Vamos lá! Quero ver se isso aqui realmente voa!
Rey observou os indicadores do console, os níveis de potência, os
medidores de temperatura, pressão e fluxo. Os repulsores estavam em
marcha lenta, totalmente carregados. O cargueiro estava vivo, trepidando de
forma quase imperceptível ao redor deles.
— Você sabe que quer fazer isso — Devi disse. — Tenho certeza
absoluta de que quer, Rey.
Rey apoiou as mãos sobre o manche e mordeu o lábio.
— Só para ter certeza de que tudo está conectado certinho.
— Claro.
Rey apoiou os pés nos pedais do controle e pressionou um com o pé
direito para desengatar as travas estáticas. Uma luz de alerta apareceu para
avisá-la que a nave não estava pressurizada da forma adequada; ela a
apagou e depois reconfigurou os controles para voo atmosférico. Devi
assistia a tudo sorrindo como sempre. Strunk tinha se movido para ficar
parado atrás do assento de Devi e estava se segurando nas costas da cadeira
com tanta força que Rey viu os dedos da mão dele ficarem pálidos.
— Primeiro voo? — ela lhe perguntou.
Ele assentiu
— Para mim também — Rey disse.
Ela soltou os freios e subiu a potência dos repulsores já tinha feito
centenas de vezes no simulador. A nave se mexeu, elevando-se quase em
uma linha reta perfeita, e Rey sentiu Jakku tentando puxá-la de volta — ela,
Devi, Strunk e a nave também —, como se tivesse medo de deixá-los ir.
Sentiu a nave balançar de leve conforme segurava o manche, sentiu o nariz
mergulhar enquanto tirava os pés dos pedais e direcionava o campo de
repulsão para propeli-los para a frente. O pequeno cargueiro hesitou, como
se estivesse incerto de sua relação com a gravidade. O estômago de Rey
pesou e Strunk fez um barulho parecido com uma mistura de choro e
gemido. Rey aumentou a potência, direcionou mais energia para os
repulsores e, de repente, estavam deslizando em direção ao céu do fim de
tarde.
Eles estavam voando.
— É espetacular — Devi sussurrou.
Rey tinha que concordar. De acordo com os instrumentos, estavam
apenas a cinquenta metros de altitude, deslizando devagar com um décimo
da aceleração, mas a nave estava viva nas mãos dela, e o mundo em volta
tinha mudado por causa disso. O cemitério, a Crepitação e o Prego... tudo
era reconhecível e ainda assim completamente diferente daquela posição.
Ela podia reconhecer Niima no horizonte, as cabanas e os poucos prédios
pareciam pequenas manchas. Podia ver um teedo solitário e um luggabeast
atravessando o deserto para longe do sol que se punha. Podia ver o céu
mudando de cor, crescendo mais rico e mais profundo do que jamais tinha
parecido do solo.
— Funciona — Devi disse. — Funciona bem pra caramba, Rey!
— Funciona — Rey falou com suavidade. Todos os consertos pareciam
ter dado conta. Algumas luzes de alerta estavam piscando, mas eram todas
de sistemas não essenciais, pelo menos não no momento. Os motores ainda
estavam em sincronia e com potência máxima.
— Estou feliz por isso funcionar — Strunk disse. — Podemos pousar,
por favor?
Devi se virou na cadeira e olhou para ele.
— Você é um bebezão.
— Ele está certo — Rey disse. — Não queremos ser vistos. Não ainda.
— Tudo bem.
Rey manobrou a nave de forma graciosa e sem esforço voltou para onde
tinham decolado. A sensação de movimento e a resposta do cargueiro aos
comandos dela a fizeram sorrir novamente. O simulador de voo, por mais
que fosse maravilhoso e divertido, nunca tinha reproduzido aquilo — e
como poderia? De que forma poderia ter sintetizado a realidade daquela
liberdade e potência?
Ela pousou a nave com a gentileza com que tinha decolado. Em
seguida, desligou os motores e depois deixou as baterias principais de volta
em modo de prontidão. O céu tinha escurecido.
Devi levantou do assento do copiloto e deu tapinhas no ombro de Rey
de novo.
— Mecânica e piloto. Você faz tudo! Vamos pra casa, Strunk. Nos
vemos amanhã, Rey. Vamos achar aquela câmara de conversão do
hiperpropulsor para você. Se conseguirmos isso, enfim estaremos prontos
para negociar!
Sem dizer uma palavra, Rey os observou desembarcar pela rampa.
Ela não conseguia dormir.
Dentro do Walker, Rey deitou na pilha de cobertores e olhou para o teto,
ouvindo o ruído leve do vento que passava pelas rachaduras na fuselagem.
Ela havia desligado a energia naquela noite e estava muito escuro. Rey
estava cansada, mas não conseguia impedir sua mente de girar a mil por
hora. Perguntas e pensamentos, memórias havia muito enterradas e outras
mais recentes. Quando prendia a respiração, ainda podia sentir o cargueiro
voltando à vida nas mãos dela, o júbilo do voo. Tinha sido extraordinário,
melhor do que jamais imaginara.
Não era só isso. A sensação de realização era grande. Tinha achado uma
nave espacial que ficara perdida na areia por anos — décadas, talvez — e a
consertara. Ela tinha, com as próprias mãos e inteligência, feito-a voar mais
uma vez. Isso era algo para se orgulhar, apesar de o orgulho em si ser um
sentimento novo para ela, com o qual não sabia lidar. Não precisaria de
muito mais para terminar o trabalho, para levar a Ghtroc de volta às glórias
do passado, ou quase isso. Podia ver a luz no fim do túnel.
Talvez esse seja o problema, pensou. Talvez essa fosse a causa da
sensação incômoda de enjoo que começou a se formar no seu estômago. A
sensação que parecia girar, dançar e subir até sua mente, mesmo que ainda
se mantivesse fora de alcance. Era como se Rey estivesse perseguindo
imagens em um sonho, imagens que não podia identificar ou nomear.
Rey rolou nos cobertores, lutando para ficar confortável, tentando
afastar os pensamentos. Não confiava em Devi nem em Strunk, tanto neles
individualmente ou, pior ainda, juntos. Ainda assim, cada vez que tinha
aquele pensamento, se lembrava de tudo o que tinham feito, todas as vezes
que mantiveram a palavra. Tinham cumprido cada promessa. Tinham
seguido cada uma de suas instruções. Tinham, sem dúvida, ajudado a trazer
o cargueiro de volta à vida. Ela devia confiar neles. Queria confiar neles.
Mas não conseguia. Eles a trairiam. Tentariam enganá-la. Tentariam
roubar o prêmio, deixá-la de fora da venda. Por mais que quisesse acreditar
que seria diferente, tinha certeza de que Devi e Strunk se virariam contra
ela, e não demoraria.
A nave estava sozinha, desprotegida, no meio do deserto.
Era o meio da noite e estava um frio terrível.
Rey sentou e procurou as botas no escuro. Ela as enfiou e então achou
os óculos e o bastão. Pegou um dos cobertores e ligou uma luz por tempo
suficiente para achar uma faca. Cortou uma fenda no centro do cobertor e o
vestiu por sobre a cabeça, como um poncho. Apagou a luz, empurrou a
porta e saiu para a noite no deserto. Em algum lugar, além das dunas, Rey
ouviu um uivo distante de um tubarão-roedor convocando seu bando.
O mundo era brilhante. As estrelas eram magníficas e transformavam o
deserto em um cinza luminescente. Rey dirigiu a speeder com os óculos
sobre os olhos e a cabeça baixa, e uma frágil proteção contra o frio do
poncho improvisado. Suas mãos doíam. Ela foi mais rápido do que deveria,
mas não tão rápido quanto era possível, e uma sensação de terror nauseante
se impunha sobre ela, como se pudesse escalar da barriga até a garganta.
Não tinha medo da violência. Não gostava, mas não tinha medo. Era
uma parte necessária para a sobrevivência em Jakku. Aprendera a se
defender muito cedo. Estivera em mais lutas do que era capaz de lembrar.
Mais vitórias do que derrotas, felizmente. Era boa o suficiente para que
espalhassem por Niima o que ela podia fazer com o bastão e que por isso as
pessoas deveriam ficar longe do seu caminho. Era capaz de lutar. E lutaria
se necessário.
Rey determinou que Devi seria a pessoa perigosa. Strunk era forte, mas
lento, e seguia as ordens de Devi. Devi era rápida, e Rey tinha visto a
vibroadaga que ela carregava no cinto, além de um bastão de choque
pequeno preso na perna esquerda. Se houvesse uma luta, Rey pegaria Devi
primeiro. Depois lidaria com Strunk.
Ela não ansiava por isso.

A nave estava exatamente como Rey deixara, intacta e silenciosa. Deslizou


a speeder para protegê-lo no final da popa da nave; quando parou, ouviu o
silêncio do deserto. Não havia vento. Não havia nenhum som além da
própria respiração dela. Ela tremeu, esfregou as mãos doloridas e geladas e
ouviu a areia sussurrar sob seus pés conforme andava para a rampa de carga
e digitava a senha. A rampa baixou com seu sistema hidráulico, o barulho
foi repentino e mais alto que tudo na calmaria da noite.
Rey subiu a bordo e travou a rampa atrás dela. Estava escuro no
compartimento principal, iluminado apenas pelo brilho tênue das estrelas se
esgueirando pelo corredor da cabine. Seguiu a luz até a cabine e se
acomodou no assento do piloto. Baixou os óculos de modo a ficarem
pendurados no pescoço e apoiou o bastão sobre as coxas.
Sentiu-se tola. Tivera tanta certeza de que descobriria que a nave já
tinha desaparecido ou, se tivesse sorte, que pegaria Devi e Strunk no
processo de tentar roubá-la. Tinha dirigido pelo cemitério e através da
Crepitação, arriscando bater a speeder, ser pega por tubarões-roedores ou
congelar naquele frio, tudo porque não era capaz de confiar neles. Imaginou
se a situação fosse inversa, se Devi e Strunk tivessem descoberto a nave e
Rey tivesse tropeçado nela depois: eles teriam se sentido da mesma forma?
Rey teria feito com eles o que estava certa de que tinham planejado fazer
com ela?
Estava muito cansada.
Fechou os olhos. Sentiu o sono se aproximando, puxando-a para baixo.
Quase sonhou que estava aquecida, que era pequena — memórias perdidas
tentando nadar para a superfície. Abriu os olhos e ainda era noite. As
estrelas brilhavam, infinitas no espaço. Fechou os olhos de novo e depois os
reabriu. Na beirada da duna na frente dela, viu sombras se movendo.
Rey começou a despertar, uma mão firme no bastão. Não tinha certeza
de que aquilo não era um sonho. Escorregou para a frente na cadeira do
piloto, quase com os joelhos no chão da cabine, usando o painel de voo para
se esconder.
As sombras se moveram de novo. Duas figuras desciam pela duna em
direção à nave. Não podia distingui-las direito, mas logo viu mais duas
formas surgindo na crista da duna, puxando luggabeasts.
Quatro teedos vinham na direção dela.
Conforme se aproximavam, Rey podia ver mais detalhes. Todos os
teedos estavam armados, a maioria com bastões, porém um tinha um fuzil.
Não dava para ver as insígnias deles na escuridão, nem precisava. Tinham
vindo para tomar a nave ou para destruí-la. Não importava. De um jeito ou
de outro, Rey não permitiria.
A Ghtroc vinha armada com um canhão laser duplo na proa, mas a arma
estava inoperante. Rey tinha restaurado a fiação e os controles de disparo o
melhor possível, mas o gás tibanna necessário para carregar as armas tinha
vazado para a atmosfera havia muito tempo, e era impossível abastecer.
Sem falar que usar o canhão era uma solução extrema e, por mais que
estivesse disposta a defender o tesouro dela, Rey não queria matar ninguém
se pudesse evitar.
Ela rolou da cadeira para o chão e rastejou rapidamente de volta para o
corredor da cabine antes de ficar de pé. Cambaleou pela escuridão até a
rampa de carga, apertou para liberá-la e foi descendo conforme ela baixava.
Então pulou para fora antes que a rampa tocasse o chão. Rey correu para a
frente do cargueiro, com ambas as mãos no bastão. Derrapou até estar
diante dos teedos.
Eles pararam; o mais próximo — o do fuzil — estava a seis, talvez sete
metros de distância. Por um longo instante ninguém se moveu nem falou.
Um dos luggabeasts bufou, batendo a pak na areia, fazendo a sela ranger.
— Isso é meu — Rey afirmou. — É a minha nave, entenderam? Não
podem pegá-la.
Os teedos não responderam. Estava mais escuro. Rey não sabia com
quem estava lidando, se com coletores ou algo pior. O estômago dela estava
apertado, ela sentia uma dor no fundo da garganta e seu coração batia
rápido no peito. Como se não bastasse, estava ainda mais frio do que antes.
Quando falou, a respiração formou nuvens de condensação no ar.
— Saiam — Rey disse. — Vão embora.
O teedo, com o fuzil ainda abaixado, virou a cabeça para encarar os
outros. Seus corpos estavam completamente ocultos — até mesmo os olhos
—, por isso, mesmo se a iluminação fosse melhor, Rey não seria capaz de
ler nada nas expressões deles. Contudo, a linguagem corporal era clara o
suficiente. O teedo na liderança olhou de volta para ela. Não tinham
intenção alguma de partir.
— Não quero lutar — Rey disse. — Não quero, mas vou. Pode apostar.
O teedo armado apoiou o fuzil no ombro. Seis metros era uma distância
curta, mas grande demais para Rey conseguir percorrer antes que ele a
acertasse. Calculou que tinha que tentar de qualquer forma. Se tivesse sorte,
se fosse com o bastão na frente, talvez acertasse a ponta da arma antes de
ele atirar, talvez pudesse desarmá-lo, forçá-lo a errar o disparo. Rey
duvidou de que teria tanta sorte, mas não via outra opção.
Ela nunca teve a chance de descobrir.
Um disparo de laser rasgou o ar em direção à areia entre ela e o teedo
armado. O tiro era um brilho vermelho na escuridão que fez a areia saltar e
chiar. Um segundo disparo aconteceu, mais perto do teedo. Ambos vieram
pela direita de Rey, de cima de uma das dunas.
— Você ouviu — Devi disse. — A nave é dela.
Ela estava de pé um pouco acima na elevação, segurando uma arma
pequena com as duas mãos. Strunk estava ao lado dela e, conforme Devi
falava, ele desceu correndo meio desajeitado pelo monte, espalhando areia
para todos os lados. Suas mãos estavam vazias, mas ele parecia ainda maior
do que antes, duas vezes maior do que o teedo mais alto.
— Não tenho muitos tiros nesta coisa — Devi disse. — Mas tenho o
suficiente. Dois de vocês vão ficar bem machucados. Ou até pior.
Strunk tinha chegado à parte baixa e correu para o lado de Rey. Tocou o
cotovelo dela conforme passou, mas continuou em frente, caminhando a
passos largos em direção ao teedo com o fuzil. Esticou o braço, agarrou a
arma pelo cano e a puxou de lado. O teedo não soltou, mas não conseguia
mais controlar para onde apontava. Strunk puxou mais uma vez e o fuzil se
desprendeu dos três dedos do teedo. Strunk virou a arma, achou o cartucho
e o arrancou. Lançou o cartucho no alto das dunas e devolveu o fuzil para o
teedo.
— É hora de vocês irem embora — Devi disse.
Os teedos viraram e voltaram por onde tinham vindo.
— Saiam — Rey disse. — Vão embora.
O teedo, com o fuzil ainda abaixado, virou a cabeça para encarar os
outros. Seus corpos estavam completamente ocultos — até mesmo os olhos
—, por isso, mesmo se a iluminação fosse melhor, Rey não seria capaz de
ler nada nas expressões deles. Contudo, a linguagem corporal era clara o
suficiente. O teedo na liderança olhou de volta para ela. Não tinham
intenção alguma de partir.
— Não quero lutar — Rey disse. — Não quero, mas vou. Pode apostar.
O teedo armado apoiou o fuzil no ombro. Seis metros era uma distância
curta, mas grande demais para Rey conseguir percorrer antes que ele a
acertasse. Calculou que tinha que tentar de qualquer forma. Se tivesse sorte,
se fosse com o bastão na frente, talvez acertasse a ponta da arma antes de
ele atirar, talvez pudesse desarmá-lo, forçá-lo a errar o disparo. Rey
duvidou de que teria tanta sorte, mas não via outra opção.
Ela nunca teve a chance de descobrir.
Um disparo de laser rasgou o ar em direção à areia entre ela e o teedo
armado. O tiro era um brilho vermelho na escuridão que fez a areia saltar e
chiar. Um segundo disparo aconteceu, mais perto do teedo. Ambos vieram
pela direita de Rey, de cima de uma das dunas.
— Você ouviu — Devi disse. — A nave é dela.
Ela estava de pé um pouco acima na elevação, segurando uma arma
pequena com as duas mãos. Strunk estava ao lado dela e, conforme Devi
falava, ele desceu correndo meio desajeitado pelo monte, espalhando areia
para todos os lados. Suas mãos estavam vazias, mas ele parecia ainda maior
do que antes, duas vezes maior do que o teedo mais alto.
— Não tenho muitos tiros nesta coisa — Devi disse. — Mas tenho o
suficiente. Dois de vocês vão ficar bem machucados. Ou até pior.
Strunk tinha chegado à parte baixa e correu para o lado de Rey. Tocou o
cotovelo dela conforme passou, mas continuou em frente, caminhando a
passos largos em direção ao teedo com o fuzil. Esticou o braço, agarrou a
arma pelo cano e a puxou de lado. O teedo não soltou, mas não conseguia
mais controlar para onde apontava. Strunk puxou mais uma vez e o fuzil se
desprendeu dos três dedos do teedo. Strunk virou a arma, achou o cartucho
e o arrancou. Lançou o cartucho no alto das dunas e devolveu o fuzil para o
teedo.
— É hora de vocês irem embora — Devi disse.
Os teedos viraram e voltaram por onde tinham vindo.
— Não há de quê — Devi disse, seguindo Rey rampa acima de volta para a
nave. A pisada de Strunk era pesada sobre o metal atrás dele.
— O que vocês estavam fazendo aqui? — Rey perguntou. Acendeu as
luzes do compartimento principal e apertou o botão para fechar a rampa
mais uma vez.
Devi enfiou a pequena arma em um dos muitos bolsos e passou os
dedos encardidos pelo cabelo, olhando para Rey. Ela pareceu confusa.
— Estávamos vigiando.
— Vigiando?
— É. Strunk e eu temos acampado por aqui nas duas últimas semanas.
Para cuidar da nave depois que você volta para casa. — Devi parecia
genuinamente confusa. — Alguém tem que ficar vigiando, certo?
— Duas semanas?
— É, algo assim. Pensei que você ficaria mais agradecida.
Rey olhou para o bastão e o ajeitou apoiando em uma divisória. Não
sabia como deveria se sentir. Eles estiveram dormindo lá fora no frio por
duas semanas, arriscando-se com os tubarões-roedores e tudo mais só para
proteger a nave.
— Não sabia que estavam fazendo isso — Rey disse.
— Temos um daqueles antigos abrigos de emergência que tiramos dos
destroços de uma X-Wing uns dois anos atrás. É bem quente por dentro,
fica até aconchegante. — Devi lançou um sorriso para Strunk, que estava de
pé, calado, ouvindo tudo com atenção. — Normalmente esperamos até ver
que você chegou e seguimos para coletar peças, pegar nossas porções,
coisas assim. Você nunca se perguntou por que sempre era a primeira a
chegar?
— Só achei que chegava mais cedo.
— Não, Rey, temos mantido tudo em segurança.
Rey considerou e percebeu que estava em conflito com o que deveria
dizer. Veio devagar.
— Obrigada.
Devi riu.
— Viu? É isso! Não há de quê! Não é nada de mais, Rey. Estamos
apenas protegendo nosso investimento, certo? Só isso. Nada mais.
Rey assentiu devagar.
— Então, escuta — Devi recomeçou —, eu estava falando com Forna,
quando ela, Oth e Grand estavam em Niima outro dia, e eles disseram que a
X’us’R’iia, aquela de meses atrás, tinha revelado uma Uulshos XP, um dos
iates, sabe? Disseram que está destruída, que tiraram tudo, mas o
compartimento do motor principal sobreviveu intacto à queda. Nem eu nem
Strunk conseguimos nos lembrar de Unkar ter vendido uma câmara de
conversão. A coisa é simplesmente muito complicada de separar da junção
do misturador, certo? Mas essa na XP ainda pode estar intacta. Então vamos
sair e dar uma olhada. O que acha?
— Acho que é uma boa ideia.
— Mas vai ser uma verdadeira chateação separá-la. Strunk é forte o
suficiente para ajudar a levantá-la, mas desconectar sem inutilizar a peça ou
sem rachar o desviador é o que me preocupa.
— Posso ajudar.
Devi pareceu surpresa.
— Tem certeza? Mas aí a nave vai ficar sozinha.
— Não, posso ajudar — Rey disse. — Strunk e eu podemos ir. Você fica
na nave.
Devi a observou, então desviou rápido o olhar. Quando olhou de volta,
Rey achou que os olhos dela tinham ficado úmidos.
— Não vou deixar ninguém tocar nela — Devi prometeu.

Era uma viagem de meio dia da Ghtroc até onde Devi dissera que achariam
a Uulshos XP. Rey dirigiu com Strunk na garupa da speeder. Os destroços
eram quase exatamente como Devi descrevera: quebrados em seis partes
que tinham sido espalhadas por um quilômetro e meio, sendo que os
motores estavam na parte mais distante. Tudo o que era aproveitável da
cabine, do setor da tripulação e dos passageiros tinha sido arrancado havia
muito tempo e, à primeira vista, Rey teria dito que a mesma coisa
acontecera na sala de máquinas. Quem quer que tenha trabalhado naqueles
destroços tinha levado até os parafusos.
— O que você acha? — Strunk perguntou.
A princípio Rey não respondeu, passando por baixo de uma viga e
entrando nos destroços. As placas do piso foram removidas, o que tornava
andar um desafio. Tirar a lanterna da bolsa e iluminou o teto e depois o
chão, tentando calcular por onde as linhas de energia tinham passado
originalmente em direção ao hiperpropulsor. Enfim as rastreou de volta para
onde o mecanismo injetor estivera em algum momento. Ela ficou parada
por vários segundos, absorvendo tudo, então desligou a lanterna e encarou
Strunk.
— Acho que vai funcionar — Rey disse. — Acho que podemos fazer
funcionar.
Eles tiraram as ferramentas e começaram o laborioso processo de
desconectar o conversor da junção. Isso exigiu paciência e cuidado, porque
Rey estava basicamente tentando remover um componente do sistema do
hiperpropulsor que nunca fora projetado para ser intercambiável. Em
qualquer outra circunstância, seria considerado mais seguro e muito mais
eficiente simplesmente puxar o conjunto inteiro do hiperpropulsor direto
dos motores e reinstalar um novo. Por razões óbvias, isso não era uma
opção para a eles. Rey sabia que poderia ter feito sozinha a separação física
da câmara do resto do motor, mas, assim que terminou de fazê-lo, percebeu
com a mesma rapidez que jamais teria sido capaz de tirá-la sozinha da nave.
Ela simplesmente não tinha força suficiente. O próprio Strunk mal
conseguia carregá-la. Trabalhando juntos, contudo, foram capazes de extraí-
la manualmente dos destroços e amarrá-la na parte de trás da speeder.
A noite já tinha caído quando retornaram para a Ghtroc. Encontraram as
luzes apagadas e Devi sentada na rampa de carga abaixada. Ela levantou
assim que os viu e balançou o punho no ar triunfante enquanto se
aproximavam. Strunk riu e Rey também. Juntos, tiraram a peça da speeder e
a levaram a bordo do cargueiro. Jantaram juntos, uma porção cada um,
sentados no chão, e Devi falou durante toda a refeição, atitude que Rey
aprovava agora. Quando terminaram, Strunk levantou para ir para a rampa e
Devi se mexeu para segui-lo.
— Vemos você de manhã, Rey — Devi disse. Então virou-se para
Strunk: — Fico com o primeiro turno.
— Vocês podem ficar na nave — Rey disse. — É mais quente.
— Eles pararam.
— Isso é verdade — Devi disse. — E também não fede tanto com o
cheiro de Strunk. Que, odeio dizer, mas empesteou totalmente o abrigo.
— Não sou fedido. — Strunk soou magoado.
— Todos nós fedemos, Strunk. Não consigo me lembrar da última vez
que tomei um banho.
Rey apontou para uma das pequenas portas fechadas do compartimento
principal.
— Funciona perfeitamente.
— Tá falando sério?
— Não tem água, mas o sônico funciona.
Devi já estava quase na porta.
— Você pode ficar com o primeiro turno, Strunk.
Ela desapareceu no chuveiro tão rápido que Rey não conseguiu conter o
riso.

Dois dias depois, Rey voou com o cargueiro leve Ghtroc 690 direto para
Niima, com Devi sentada no lugar do copiloto e Strunk pairando entre as
duas, com as mãos grandes nas costas de cada cadeira. O hiperpropulsor
estava funcional e se comunicava alegremente com o computador de
navegação. Os motores de repulsão zuniam juntos com eficiência máxima.
Os lacres de pressão em todos os acessos externos estavam firmes e a
atmosfera estava estável, equilibrada e confortável. Havia apenas duas luzes
de alerta piscando no console e nenhuma era essencial — uma dizia a Rey
que os tanques de água estavam vazios e a outra que a nave estava atrasada
para sua manutenção programada de vinte mil anos-luz. Devi tinha
gargalhado quando Rey explicara o que aquela segunda luz significava.
Eles vinham do sul, e Rey reduziu a velocidade para que todos em
Niima pudessem dar uma boa olhada na nave enquanto sobrevoava o campo
de pouso. Quase todas as naves vinham do leste, e Rey sabia que os
observadores mais atentos perceberiam a diferença e estariam se
perguntando quem eles eram e de onde tinham vindo. Ela fez uma manobra
aérea lenta em volta da pequena cidade, olhando para a atividade lá
embaixo. Devi se inclinou para a frente, fazendo o mesmo. Podiam ver as
pequenas silhuetas dos coletores e vendedores saindo dos abrigos sob os
toldos, levantando as mãos para proteger os olhos do clarão do sol.
— Acha que viram o suficiente? — Rey perguntou.
— Acho que nunca viram nada igual — Devi respondeu.
Rey girou a nave na rota e, por capricho, deu uma aceleração repentina
nos motores. O cargueiro disparou, com o horizonte desaparecendo do
campo de visão conforme levantava o nariz da nave. Ela virou a nave em
cento e oitenta graus e em seguida fez um giro e uma curva fechada para
voltar. Devi vibrou. Strunk agarrou mais forte nos assentos. Rey diminuiu a
velocidade conforme voltaram para o campo de pouso e fez o cargueiro
flutuar, deixando que ele se ajustasse em posição. Havia um espaço entre o
velho cargueiro modelo YT e uma das naves mais novas e mais limpas que
Unkar tinha adquirido. Com precisão, Rey desceu tão gentilmente que o
trem de pouso não fez barulho conforme Jakku recebia mais uma vez o peso
da Ghtroc.
Ela ajustou rápido o console, empolgada, deixando a nave em stand-by.
Unkar iria querer saber se funcionava, se tudo funcionava, e quando Rey o
trouxesse a bordo queria ser capaz de mostrar o trabalho dela sem demora.
Soltou o manche e ficou de pé, com Devi e Strunk logo atrás dela. Tinham
carregado a speeder no compartimento principal e Strunk apertou o botão
para abaixar a rampa. Conforme descia, Rey podia ver as pessoas se
aglomerando na beirada do campo de pouso, tentando dar uma olhada nos
recém-chegados.
— Não deixe mais ninguém subir a bordo — Rey disse para Devi. —
Apenas eu e Unkar, ninguém mais. Não importa o quanto ofereçam, não
importa o quanto implorem.
— Dez mil porções no mínimo — Devi disse.
— Para todos nós — Rey respondeu, sorrindo, e disparou com a
speeder, seguindo para fora do campo de pouso, dando um giro seco e
rápido em direção ao posto de Unkar. Alguém gritou quando ela passou e
uns dois coletores na estação de limpeza comemoraram quando a viram,
compreendendo de ver quão imensa era a realização de Rey. Ela ria de
novo, e as bochechas doíam, mas dessa vez isso não a incomodou.
Unkar estava esperando do lado de fora quando ela parou, Ele piscou
devagar, esperando que ela desligasse a speeder e descesse.
— É uma Ghtroc 690 — Rey disse. — Totalmente restaurada,
hiperpropulsor funcionando, tudo menos o canhão laser e os tanques de
água. Todo o restante completamente operacional, Unkar.
Ele piscou para ela de novo, então virou a cabeça pesada para o lado,
olhando em direção ao campo de pouso. Foi nessa hora que o som do motor
a alcançou e Rey se virou também, bem a tempo de ver a Ghtroc decolando
e ascendendo rápido, quase rápido demais. A nave se inclinou firme, com o
nariz apontando para cima. Os motores principais ligaram e um brilho azul
de gás ionizado disparou do final da popa.
Então a Ghtroc se tornou um ponto no céu azul.
E partiu.
Unkar grunhiu e seguiu de volta para dentro. Rey ouviu o entreposto
voltando à vida normal em volta dela. Rey ficou parada ali um bom tempo.
Quando por fim se moveu, foi para subir na speeder e dirigir para casa, de
volta para o Walker. Sabia que deveria estar brava, mas não estava.
Demorou até a noite, até estar sentada nos cobertores, forçando para fora as
lentes de um capacete quebrado de um stormtrooper, para que entendesse o
porquê. Tinha sempre sido uma questão de confiança, mas nunca em Devi e
Strunk. Fora sobre confiar nela mesma.
Devi e Strunk tinham desejado a única coisa que Rey absolutamente não
desejara; eles tinham até dito a ela logo de cara. Mas ela não ouvira. Não os
ouvira, porque era a única coisa que Rey nunca se permitiu considerar.
Eles queriam partir.
Mas Rey tinha que ficar. Pelo menos até que voltassem para buscá-la.
Se partisse, os pais dela não teriam como encontrá-la.
Ela suspirou, o som ecoou pela fuselagem estreita que era a casa dela.
Foi para a bancada de trabalho, ligou o computador e carregou o simulador
de voo. Selecionou a Ghtroc 720, um voo suborbital com condições
atmosféricas calmas e sem complicações.
Rey voou.
Mas não era a mesma coisa.
A PRIMEIRA NAVE de Poe Dameron foi a A-Wing RZ-1 da mãe dele.
Era um caça bom, pequeno e apertado, que passou por muitos reparos e
trazia cicatrizes de anos de trabalho. Por ser uma interceptadora, a A-Wing
fora projetada mais para velocidade do que para força. Os canhões laser
acoplados em cada lado do casco tinham poder de fogo suficiente para
encerrar qualquer perseguição — desde que o piloto de caça pudesse
dominar a posição de vantagem —, e dois lançadores de mísseis de
concussão acoplados na proa da fuselagem podiam arruinar o dia de
qualquer coisa menor que uma nave capital. Era incrivelmente ágil abaixo
da velocidade da luz. Parecia mais uma cabine armada com motores do que
um caça tradicional, hiper-responsivo, controlável e criado para voos solos,
sem copiloto nem apoio astromecânico.
A A-Wing fora parte da bonificação que a mãe de Poe recebera quando
fora dispensada da Rebelião uns seis meses depois da Batalha de Endor, e a
nave seguira com a família para a nova casa na colônia recém-criada em
Yavin 4. A mãe continuara voando com ela por alguns anos, quase sempre
para a defesa civil, e frequentemente levava Poe junto. Ele sentava no colo
dela, com as mãos no manche por debaixo das dela, e podia sentir a nave
respondendo aos comandos. Podia senti-los se movendo pelo ar, a
atmosfera se forçando contra eles, o empuxo da gravidade tentando repeli-
los.
Então quebravam a fina camada que protegia a lua que chamavam de lar
e o gigante gasoso Yavin brilhava de repente, muito mais luminoso contra a
escuridão do espaço. Toda a repulsão e todo o empuxo da atmosfera e da
gravidade desapareciam, e aquilo era o mais perto da perfeição que o jovem
Poe podia imaginar. Ele olhava para cima pela cabine e se perdia na
infinidade das estrelas, sentia-se livre e capaz de ir para qualquer lugar, de
fazer qualquer coisa. Foi quando percebeu que não poderia ser nada além de
piloto.
A mãe voara na Batalha de Endor, participara da frota gigantesca que
atacara a segunda Estrela da Morte, enquanto pai de Poe lutava no solo,
junto com os companheiros combatentes da infantaria, na floresta da lua
próxima. Ela não gostava de falar sobre o serviço, e quando Poe pedia mais
detalhes, ela gentilmente se recusava a responder ou mudava de assunto.
Dizia que saber que ela tinha cumprido o seu dever era o suficiente para
Poe, que tinha comparecido quando a convocaram. Ter feito o que fez era
mais importante do que o que tinha feito.
— As pessoas estavam sendo oprimidas — a mãe lhe explicara —
Estavam sofrendo. Seu pai e eu não podíamos ficar sem fazer nada.
Somente anos depois, muito tempo após ela ter falecido e Poe ter se
alistado nas tropas da Nova República como piloto, que começara a
entender o verdadeiro escopo do heroísmo dela: a tenente Shara Bey fora
condecorada com a medalha Bronze Nova de bravura notável durante a
Libertação de Gorma; tinha recebido seu terceiro título de Ás do Espaço
menos de uma semana depois, durante a Operação Mordida de Mynock,
quando invadira um depósito de combustível do Império em Beroq 4; tinha
voado em dúzias de outras batalhas, conflitos e ataques; e a ficha dela
continha inúmeros testemunhos de colegas pilotos elogiando suas
habilidades, alegando que deviam suas vidas a ela.
O pai de Poe era mais aberto em relação às histórias de guerra, apesar
de nunca falar sobre suas próprias batalhas. Preferia focar a bravura e o
heroísmo dos outros. Contara a Poe que general Solo era o melhor atirador
que tinha visto; que um dos colegas de esquadrão dele salvara todos de uma
emboscada com um comunicador reconfigurado e duas cargas de um
respirador padrão; e que uma vez o esquadrão dele estava invadindo uma
base do DSI na Orla Exterior e ninguém soubera como entrar até que, por
acidente, derrubaram um AT-ST que caiu sobre a base criando um acesso
fácil para eles.
— Você ficou com medo em algum momento? — Poe perguntara para o
pai uma vez, quando tinha nove anos. Tinha passado um ano desde a morte
de sua mãe. Até então, Poe tinha imaginado perseguições aéreas como
demonstrações perfeitas e brilhantes de luz, velocidade, graça e perspicácia.
Imaginara stormtroopers como armaduras vazias, não com homens e
mulheres dentro. A perda da mãe trouxera a morte para a vida dele de uma
forma que nunca pudera conceber antes. Foi quando entendera que a guerra
não era romântica; pessoas morriam, e os mortos não retornavam para
aqueles que os amavam, não importava o quanto desejassem.
Esse era um pensamento que o assustava tanto quanto partia seu
coração.
Tinham ido até o limite da propriedade, o pequeno rancho que os pais
construíram após se mudar para Yavin 4. Era o final da tarde, e os sons da
floresta sempre ficavam mais altos e ameaçadores com a chegada da noite.
O pai reparava um dos geradores da cerca perimetral e Poe o ajudava com o
trabalho. Tinham trabalhado em silêncio, da mesma forma que tinham
passado muitos dias desde que a mãe de Poe morrera, juntos em seu luto
compartilhado.
Por tudo isso, Poe se surpreendeu, quando o pai respondeu, sabendo
exatamente a que ele se referia.
— Se já fiquei com medo? — O pai analisou o martelo que tinha nas
mãos; a ferramenta ainda vibrava, fazendo seu estranho gemido cantante
enquanto ressoava. Ele o desligou e jogou na caixa de ferramentas aos pés
de Poe. Limpou as mãos na calça e semicerrou os olhos em direção à
floresta. No alto, o sol deslizava para trás do gigante gasoso Yavin,
deixando o mundo deles com uma tonalidade rubi. — Quando eu estava no
solo lá em Endor, os cabeças-de-balde nos pegaram. Estávamos cercados
por stormtroopers, presos. Achei que era nosso fim, que tínhamos perdido
tudo: a guerra, tudo mais. Olhei para cima, por árvores maiores que estas,
para aquele céu azul perfeito. Quase não dava para ver a Estrela da Morte
durante o dia. Eu sabia o que estava acontecendo lá, a batalha que estavam
lutando. — O pai sorriu para ele, um sorriso triste. — E pensei que sua mãe
estava olhando para mim lá de cima naquele exato instante. No meio do que
quer que ela estivesse fazendo, de qualquer que fosse a luta que estivesse
travando, era como se pudesse sentir o olhar dela sobre mim. Podia sentir o
quanto ela me amava e o quanto ela amava você.
Limpou as mãos de novo e puxou outra ferramenta da caixa, voltando a
atenção para a cerca.
— O ponto é, eu estava preocupado, mas não estava com medo.
— Então você nunca teve medo?
O pai riu com suavidade.
— Não disse isso. Estou dizendo que o que me preocupava na época
agora não me dá mais medo.
— O que te dá medo agora?
Poe observou o pai tirar os olhos da cerca e fixá-los no alto, no céu que
escurecia. O sol tinha quase se posto e, nos últimos momentos de luz do dia,
tudo era mais brilhante de uma forma estranha, com as linhas mais focadas.
— Que tudo tenha sido em vão — o pai disse.

BB-8, firme no encaixe para astromecânicos da X-Wing de Poe, apitou.


Ligado ao caça, a linguagem binária do droide era automaticamente
decodificada e exibida no painel, mas Poe não precisava ler a tradução para
entender o que o droide estava perguntando. Ele sorriu e estendeu o braço
por cima do ombro esquerdo para mexer em um dos botões que controlava
a energia dos motores de bombordo, ajustando a taxa de fluxo para eixo dos
dois propulsores de fusão.
— Só estou falando sozinho, BB-8 — Poe disse. — Viajando em
lembranças.
Verificou o radar e deu outra olhada para o vazio absoluto do espaço
que os cercava. Havia outras três X-Wings modelo T-85 Incom-FreiTek
com eles, voando em uma formação de quatro dedos. Esse era o Esquadrão
Florete, o esquadrão dele, sob o comando dele.
— Todos os caças, apresentem-se — Poe disse.
— Florete Dois. — A tenente Karé Kun parecia categoricamente
entediada. — Tudo tranquilo, comandante.
— Florete Três. Tenho que concordar com Florete Dois, comandante. —
Esse era Iolo Arana, voando afastado de Poe a estibordo. — Mais uma
perda de tempo e combustível.
— Florete Quatro em prontidão.
— Ouviram? — Poe comentou. — Todos deveriam seguir o exemplo de
Muran. Ouviram como o Florete Quatro respondeu gentilmente, sem dizer a
opinião dele nem nada do tipo?
O som do bocejo de Karé para satirizá-lo veio pelo comunicador de Poe.
Ele sorriu, apesar de a piada ter sido sobre ele.
— Vamos agrupar em 14.4 — Poe disse. — Uma última volta e
retornamos para a base.
A formação virou ao mesmo tempo, cada caça executando seu
movimento em uma sequência rápida, seguindo a liderança do Florete Um.
BB-8 apitou de novo, mais falando consigo mesmo do que comunicando, e
Poe se perguntou o que a pequena máquina estaria processando. Cada
droide tinha sua própria personalidade, e a maioria dos que ele encontrara
era previsível dentro de certos estereótipos — mandões, rabugentos, mal-
humorados. BB-8 era um caso à parte, às vezes infantil, outras vezes
precoce, mas, de vez em quando, Poe se perguntava se o droide não estava
sonhando acordado — o que seria absurdo, é claro, porque isso implicaria
BB-8 ter uma imaginação ativa.
Iolo interrompeu os pensamentos dele, resmungando pelo comunicador:
— O que não entendo, comandante, é por que continuamos vindo aqui.
— Somos membros da frota da Nova República — Poe disse. — Ou
esqueceu quem você jurou proteger quando se alistou?
— Sei que é nosso trabalho. O que estou dizendo é que... Veja, entendo
que a República esteja preocupada com a pirataria nas vias comerciais.
Entendo absoluta e totalmente que há impacto para o comércio galáctico,
que os cidadãos precisam se sentir seguros, que a lei tem que ser respeitada
e tudo mais. Mas temos feito essa patrulha por três semanas…
— Quatro — Karé corrigiu.
— Quatro, obrigado Karé, e nenhum contrabandista, nenhum pirata,
nenhum meliante, nem mesmo um drone desconhecido disparou nos nossos
radares. Eu aceitaria até um monte de destroços espaciais. Qualquer coisa.
— O que você quer que eu diga, Iolo? — Poe perguntou. — Tenho
escrito todos os dias para os guavianos pedindo que aumentem as atividades
criminais, mas até agora eles não me responderam
— Aí está o seu erro — Karé falou. — Os guavianos não sabem ler,
Poe. Você deveria escrever para os Hutts.
Risos tomaram conta da cabine, e até Muran se juntou a eles. Poe se viu
sorrindo e balançando a cabeça; logo BB-8 estava apitando e assobiando,
empolgado. Poe verificou o radar, depois aumentou a frequência,
endireitando-se no assento do piloto.
— Peguei alguma coisa — disse.
Os risos pararam abruptamente.
— BB-8, transmita para o esquadrão.
Houve um assobio como resposta, uma explosão de estática e então uma
voz tensa, modulada de forma estranha, como se falasse por um respirador,
encheu a cabine.
— ...comerciante independente Yissira Zyde... ob ataque, por favor,
qualquer nave na escuta... nós nos...
— BB-8, melhore o sinal. Transmita para todo o esquadrão.
O visor do painel voltou à vida. O mapa do setor que patrulhavam
mudou para o do setor Mirrin.
— não temos... nergia o suficiente para sub... ores de voo não podem
man... ito não podem manobrar... múltiplos... aças atacando...
O batimento cardíaco de Poe acelerou conforme observou o mapa,
enquanto BB-8 continuava isolando o pedido de socorro. Não fazia sentido
pedir ao droide para trabalhar mais rápido; o astromecânico trabalhava o
mais rápido que podia, processando com toda sua energia. Mesmo assim
Poe não podia controlar sua ansiedade crescente, a necessidade de se mexer
no mesmo instante, mesmo se ainda não tivesse um lugar para ir. Linhas se
cruzavam no mapa, aproximando-se mais e mais.
BB-8 emitiu um apito triunfante.
— Recebido — Poe disse. — Suraz 4. Todo o esquadrão confirmar
coordenadas de hiperespaço.
Quase de imediato, Florete Dois confirmou, seguido por Quatro e por
Três.
— Vamos com tudo — Poe orientou. — Acionar.

Saíram da velocidade da luz um após o outro, e deram de cara com o que o


mapa de Poe indicou ser a falecida Suraz 5.
— Travar as armas em posição de ataque — Poe disse. — Todos os
Floretes, se apresentar.
— Florete Dois em posição.
— Florete Três em posição.
— Florete Quatro em posição.
— Avancem e fiquem juntos. — Poe realinhou a energia e pressionou o
manche para a frente, mergulhando o nariz da X-Wing conforme sentiu os
estabilizadores do caça subirem e se ajustarem na posição de combate. O
caça acelerou com o comando dele, despontando como se fosse lançado de
repente do final do grupo, o movimento em si trazendo à tona a lembrança
de sua mãe, de voar com ela na A-Wing. Os novos T-85 eram tão rápidos e
ágeis quanto qualquer coisa que ela voara nos seus tempos de serviço, e não
era a primeira vez que Poe desejava que ela tivesse vivido para vê-los, para
ver o filho liderando seu próprio esquadrão.
— Yissira Zyde — Poe chamou. — Aqui é o comandante Poe Dameron
da Armada da República, recebemos seu pedido de socorro e estamos a
caminho para prestar assistência.
Não houve resposta.
Ainda em formação, as naves se separaram em volta de Suraz 5, agora
seguindo em velocidade de ataque para Suraz 4. Poe imaginou que eram
piratas e presumiu que o combate seria rápido. A maioria das organizações
criminosas operando nas rotas comerciais do setor Mirrin era mal
financiada, usava naves que funcionavam mais pela força de vontade do
que pela engenharia. Quatro X-Wings seriam suficientes para assustar
qualquer um deles. Isso foi o que Poe imaginou. Isso foi o que esperou.
Não foi o que encontraram.
— Pelo amor de Caraya. — A voz de Florete Dois estava sem fôlego e
quase não soava quando veio pelo comunicador da cabine.
O cargueiro, presumivelmente Yissira Zyde, inclinado no espaço, perdia
atmosfera por um rompimento do casco a estibordo, e uma nuvem de
destroços se misturava com o ar que evaporava. Mesmo enquanto ainda se
aproximavam, Poe podia ver as pequenas silhuetas do grupo invasor saindo
dos transportes de ataque que tinham se atracado ao lado, o brilho das
mochilas repulsoras levando figuras brancas e brilhantes pelo vazio do
vácuo para entrar na nave atingida. Tanto o grupo invasor quanto os
transportes estavam bem equipados e bem armados, e aquilo revelou para
Poe tudo o que ele precisa saber, antes mesmo de ver as oito TIE Fighters
que se aproximavam para interceptar o Esquadrão Florete.
— Primeira Ordem — Poe disse. — Quebrar formação, dois grupos.
Florete Dois, colado em mim.
— Estou junto, líder.
— Florete Três e Quatro, vejam se conseguem tirar aqueles transportes
de lá.
— Entendido — Iolo disse.
— Dois contra oito, chefe — Karé falou.
— É — Poe respondeu. — Sinto um pouco de pena deles.
Ouviu-a rir e foram para o ataque.
Houve um momento em que Poe teve certeza de que conseguiriam, de que
colocariam a Primeira Ordem para correr e resgatariam o cargueiro. Ele
preparou seu primeiro tiro de abordagem e girou em parafuso a X-Wing
conforme os primeiros disparos dos TIE rasgavam o espaço, não atingindo
nem ele nem o Florete Dois. Apertou o gatilho e os quatro canhões laser
dispararam dois raios seguidos de outros dois. O caça TIE líder foi atingido,
houve um clarão e ele simplesmente não estava mais lá. Poe virou para a
direita, puxando o manche para trás. BB-8 cantou uma explosão binária e
logo Poe estava atrás do segundo caça TIE, O caça inimigo tombou para a
esquerda, e Poe previu aquilo. Quando o caça TIE se alinhou, tentando
dessa vez cortar para estibordo, passou bem no centro da mira e houve mais
uma baixa para o inimigo, simples assim.
Então Karé atacou outro caça e, em vez de oito TIE, restaram cinco.
Florete Três e Quatro apareceram na tela. De sua cabine, Poe via os dois
colegas abrindo fogo contra o primeiro dos dois transportes; via os disparos
se fragmentarem e se dissiparem contra os escudos da Primeira Ordem. Os
dois transportes imediatamente saíram do posto: um seguiu para cima e
outro, para baixo. Parecia que estavam fugindo.
Dois TIE o tinham cercado, zigue-zagueando enquanto Poe tentava se
livrar deles. Os disparos que fizeram não causaram danos, mas eles não
pararam nem cederam. BB-8 choramingou preocupado.
— Não é nada — Poe assegurou.
BB-8 fez um barulho que soou incrédulo aos ouvidos de Poe.
Ele rebalanceou a energia, reforçando os defletores frontais,
mergulhando e subindo para se desviar dos caças que o perseguiam. Passou
o braço por cima do ombro de novo para alcançar os reguladores de fluxo,
deixando os motores de estibordo o em força funcionamento mínimo por
um instante, então puxou com o manche para bombordo. A X-Wing girou e
os cintos que seguravam Poe no assento se afundaram nos ombros dele.
Agora o nariz da nave estava apontado para os caças. Quando dois dos tiros
deles faiscaram contra o escudo, Poe atirou de novo.
Então restaram três TIE, e logo ficaram apenas dois, assim que Florete
Dois atingiu um alvo. Poe restaurou os motores de estibordo e verificou a
posição dos transportes a tempo de ver Florete Três e Quatro destruírem um
deles. Observou enquanto o outro pareceu paralisar no espaço por um
instante e então acelerou antes de desaparecer no hiperespaço. Os dois TIE
remanescentes dividiram a formação para fugir, e Poe seguiu um enquanto
Florete Dois cruzava por cima perseguindo o outro. Então foram mais duas
bolas de fogo. Poe deu uma volta, verificando se havia alguma outra nave e,
pelo canto do olho, viu um brilho começando a crescer na popa da Yissira
Zyde.
— Muran! Iolo! Para a proa! — gritou.
Florete Três mudou de direção bruscamente, para o alto e para a
esquerda, e Muran foi para a esquerda e para baixo, mas não o suficiente
nem a tempo. O cargueiro acelerou e desapareceu do espaço real, e o tranco
do salto para a velocidade da luz atingiu a X-Wing de Florete Quatro,
arrancando do casco da nave as asas a estibordo.
— Muran! — Karé gritou. — Muran, ejete!
Florete Quatro explodiu.

— É uma pena — o major Lonno Deso disse. — Nunca é fácil perder um


membro do esquadrão, comandante. Mas revisei os dados do voo, revisei o
combate inteiro, inclusive as telemetrias do astromecânico, e não havia
nada que você pudesse ter feito. A morte do tenente Muran é trágica, mas,
em minha ponderada opinião, foi inevitável.
— Eu discordo — disse Poe.
— Você não pode se culpar.
A compaixão na voz e no rosto de Deso era inconfundível, tanto que
Poe sentiu uma pontada de raiva no peito. Cerrou os punhos, relaxou e
olhou para além de Deso, para a parede da sala de reuniões atrás dele. Um
monitor mostrava a galáxia, com áreas coloridas demarcando os setores de
influência política. A posição deles na base da República em Mirrin Prime
era um Ponto dourado que pulsava com suavidade na imensa área azul-
marinho que representava a esfera de influência da Nova República.
Estendia-se por toda a parte, desde o Núcleo Interior até grandes faixas na
Orla Exterior. Um anel cinza designava as regiões neutras e, para além dele,
havia um bolsão de criminalidade: o território da Primeira Ordem.
Pela primeira vez, Poe achou que o mapa estava mentindo.
— Não me culpo. — Poe fitou o major Deso com um semblante severo.
— Culpo a Primeira Ordem.
— Comandante. — Deso suspirou. — Não teremos essa discussão de
novo.
— Este não foi outro incidente isolado, Lonno. Estou lendo os mesmos
relatórios de inteligência que você.
— O Comitê de Inteligência do Senado revisou os relatórios e os
considerou inconclusivos. Na melhor das hipóteses são grosseiramente
exagerados, Poe. Isso não é um problema. É uma galáxia grande. A
Primeira Ordem é algo remanescente de uma guerra de trinta anos atrás.
Sim, eles persistem, mas, para todos os fins, estão por um fio. São, quando
muito, um grupo de seguidores mal organizados, mal equipados e sem
sustentação, que usam a doutrinação e o medo para inflar a força e a
importância deles.
— Estavam voando com TIE sofisticados, usando grupos de invasão e
transportes de ataque de última geração em uma clara violação ao Tratado
Galáctico. — Poe se inclinou, pressionando o dedo indicador na mesa. Deso
levantou uma sobrancelha, olhando para o dedo acusador e depois para Poe,
que continuou: — Estão treinando tropas e pilotos. Interrompemos uma
operação militar, Lonno, não um ataque qualquer. Eles queriam a Yissira
Zyde e a pegaram. Queriam tanto que pagaram oito TIE por ela, além
daqueles pilotos e de sabe-se lá quantas pessoas que estavam a bordo do
transporte que Muran e Iolo abateram. Não falta organização ali. Não falta
motivação ali. É uma ameaça real.
— Uma ameaça emergente, que seja, comandante Dameron.
Poe se endireitou, voltando a mão para o lado do corpo.
— Deixe-os para a Resistência.
Deso franziu a testa, como se Poe tivesse acabado de lhe oferecer um
alimento amargo.
— Não seja ridículo. A Resistência é tanto um exagero quanto a
Primeira Ordem.
— Pelo menos estão fazendo alguma coisa sobre isso!
— Supostamente estão fazendo alguma coisa — Deso replicou.
— Temos que agir.
O major Deso limpou a garganta.
— Passarei suas preocupações adiante para o Comando.
— Isso não é o suficiente. Precisamos saber o que a Yissira Zyde estava
transportando. Precisamos saber por que foi levada e, mais importante, para
onde. Solicito permissão para levar os Floretes de volta, tentar rastrear a
trajetória, ver se podemos encontrar o cargueiro.
— Negada.
— Há questões...
— Eu disse negada, comandante. O esquadrão está designado para
patrulhar o setor de Mirrin, isso é tudo. Suas ordens vão continuar como
antes. Nada mais e nada menos. — Deso esticou o pescoço como se
tentasse ver as palavras entrando pelas orelhas de Poe. — Entendido?
Poe tentou de novo.
— Vai acontecer de novo, você entende, não?
— Se acontecer, será resolvido oportunamente.
— Então não vamos fazer nada? Essa é a solução? Uma ameaça
emergente e não fazemos nada?
— Correto.
— Insano, isso sim — Poe falou.
Deso abriu a boca, então pensou melhor sobre o que estava prestes a
dizer. Suspirou e deu a volta na mesa para ficar ao lado de Poe. Quando
retomou a conversa, o tom dele era muito mais modulado.
— Também não gosto disso, mas é a ordem do Comando da República,
entende? Não enfrentamos a Primeira Ordem, não provocamos a Primeira
Ordem. Não gosto disso tanto quanto você, mas são as ordens, comandante.
Se descumpri-las, será penalizado. Perderá sua patente.
— Vai acontecer de novo — Poe insistiu.
— Então reagiremos quando chegar a hora.
Poe balançou a cabeça. Isso não era o que ele queria dizer. Estava
pensando no pai.
Pensando no que deixara o pai com medo no dia que consertaram a
cerca em Yavin 4.

A X-Wing dele estava estacionada ao lado do Florete Dois e Três no hangar.


A área reservada para o Florete Quatro era um vazio doloroso; havia apenas
uma mancha de óleo no chão onde um vazamento de líquido de
arrefecimento manchara o permacreto.
Poe encarou o espaço vazio por um tempo antes de voltar sua atenção
para o próprio caça, andando devagar em volta dele, aproveitando o
momento. BB-8 rolou ao lado dele e assobiou para si mesmo. Sob a
iluminação do hangar, a pintura parecia manchada, precisava de um
retoque. A base preta sobre a maior parte do casco estava danificada pelo
tempo, riscada com o impacto de micrometeoritos e queimaduras
atmosféricas. A cor estava lavada a ponto de se tornar quase cinza. As
marcações do caça, em laranja, estavam igualmente danificadas. Ele apoiou
a mão no nariz da X-Wing, sentiu o metal da fuselagem frio e sólido sob a
palma. A nave tinha sobrevivido aos combates sem marcas de dano e estava
sólida, pronta e certeira como sempre fora.
Lembrou que vira a mãe fazendo a mesma coisa. Muito tempo depois de
ter desistido de pilotar, ela ainda andava em volta da A-Wing, que ficava
estacionada entre os galpões do rancho, tocando a nave ocasionalmente,
como se estivesse tranquilizando-a ou tranquilizando a si mesma. Talvez
lembrando do que tinha feito para acabar com o Império. Lembrando do
que estivera disposta a sacrificar.
— Vamos terminar aquilo? — A voz de Karé atravessou o hangar.
Poe virou e a viu com Iolo, quase dentro da sala de preparação de
pilotos. Ambos vestiam o uniforme de voo e seguravam os capacetes. Seus
respectivos astromecânicos esperavam pacientes ao lado deles, uma unidade
R4 velha a quem Karé confiara a vida desde que Poe a conhecera e um
modelo R5 que Iolo tinha adquirido seis semanas antes.
Poe balançou a cabeça.
— Eles levaram aquele cargueiro para algum lugar, comandante. — Iolo
olhou para a unidade R5 e a empurrou com a ponta da bota. O droide rolou
uns dois centímetros, então rolou para trás, emitindo um som que Poe
entendeu como uma confirmação. Eles estavam juntos nessa. Iolo fitou o
droide com seus olhos de cores estranhas. Ele era um keshiano, quase
idêntico a um humano, mas, por alguma razão da natureza, o povo dele era
de enxergar um espectro mais amplo, desde o ultravioleta até o
infravermelho. Isso o tornava mortal em perseguições, capaz de captar
naves e objetos que Poe não podia ver.
Karé era humana, e seu cabelo estava preso em uma série de tranças
elaboradas. Outra colona, como Poe, ela era o que chamavam de “filhos da
vitória”, uma das centenas de milhões — senão bilhões — de seres que
foram concebidos após a queda do Império. Poe algumas vezes se
questionava sobre quantos tinham optado por não ter filhos enquanto
Palpatine estava vivo, pensando que criar uma criança na galáxia do
Imperador seria uma maldição, não uma bênção.
— A gente tem que descobrir para onde levaram a nave — Karé disse.
— Devemos isso a Muran, certo?
— Sem chance — Poe disse. — Ordens do major Deso.
— O quê?! — Iolo exclamou.
Karé se virou.
— Isso não vai ficar assim.
— Karé, não — Poe disse. — Não cabe a ele decidir. As ordens vêm de
cima para baixo.
Ela o encarou de novo, desconfiada.
— De quem em cima?
— Ele não disse nada além de que veio do Comando. Pode ter vindo do
Senado. Se sairmos para fazer outra coisa que não a patrulha de rotina,
estaremos sujeitos a penalizações.
Os lábios de Iolo estavam apertados, e os cantos desciam em uma
careta. Ele olhou para Karé, depois de volta para Poe.
— Então o que vamos fazer, Poe? Ficar aqui parados?
— Não — Poe respondeu. — Vamos sair para patrulhar.

Ele esperou até que estivessem fora de Mirrin Prime e além da fronteira do
sistema para ativar o comunicador.
— Florete Dois, Florete Três — ele chamou. — Conectem seus
astromecânicos com Florete Um e transfiram para BB-8 toda a telemetria
do combate em Suraz, por favor.
Ele ouviu Karé rindo de leve.
— Caramba, você é escorregadio, Poe.
Iolo precisou de mais um segundo antes de dizer:
— Vamos fazer isso?
— Eu vou fazer isso — Poe respondeu. — Não vou deixar vocês dois
jogarem suas carreiras fora com uma acusação de desobediência. Se alguém
vai levar a culpa por isso, que seja eu. De qualquer forma, não planejo
demorar muito. É apenas um reconhecimento. Se tudo correr bem, estarei
de volta antes que Deso saiba que nos separamos.
BB-8 apitou e iniciou uma longa melodia de assobios.
— Seu droide parece feliz — Karé disse.
— Ele descobriu a trajetória do salto da Yissira Zyde para o hiperespaço.
— Poe verificou o mapa e franziu a testa. Não havia nada na trajetória que
fizesse sentido para ele, nenhum lugar nem remotamente habitável.
Percebeu que era mais do que possível que as tropas da Primeira Ordem que
roubaram o cargueiro tivessem planejado múltiplos saltos, alterando a
direção e a trajetória de voo. Era concebível até que tivessem refeito algum
trecho. — Isso pode ser uma caça ao mynock selvagem.
— Mas pode não ser — Iolo disse.
— Não use um tom tão sombrio, Florete Três.
— Nós já perdemos um bom piloto — Iolo disse. — E não acho que
Karé esteja ansiosa para ser promovida a Florete Um.
— Com certeza — Karé concordou. — Seja esperto, Poe, e volte
correndo, certo?
Poe guiou a X-Wing para fora da formação enquanto BB-8 continuava a
planejar as coordenadas do salto para o hiperespaço.
— Você sabe que vou voltar.
— Ei, Florete Um?
— Prossiga, Florete Dois.
— Que a Força esteja com você.
Poe sorriu, então o espaço desapareceu e ele entrou no túnel.

A Yissira Zyde era um cargueiro classe NK-Witell, BB-8 informou.


Construída pela Sanhar-Witell, a nave requeria uma tripulação mínima de
duas pessoas, mas acomodava até doze passageiros. Com a distribuição
correta, a nave poderia transportar setenta e cinco toneladas de carga,
embora fosse mais comum atingir o limite máximo com cinquenta
toneladas. Viagens acima da velocidade da luz eram possíveis através do
uso do hiper propulsor modelo 67 da Sanhar. Classificada como classe três,
com a propulsão abaixo da velocidade da luz produzida pelo venerável
modelo alfa da Hoersch-Kessel. Essa classe passara a ser usada com
frequência havia aproximadamente dezessete anos e, agora, estimava-se que
existiam 137417 naves ainda em uso nas rotas comerciais que vão desde...
— Obrigado, BB-8. Acho que entendi — Poe disse.
O droide apitou, sem se ofender. Poe não precisou pedir para um novo
fluxo de dados muito mais pertinente começar a subir pelo painel. A última
parada da Yissira Zyde antes do sequestro fora no centro comercial em
Mennar-Daye, onde passara por vistoria das autoridades da República antes
de pegar uma nova carga. A mercadoria consistia em quarenta e seis
matrizes de energia de alta capacidade, do tipo usado para o aumento de
descargas energéticas e facilmente adaptado para o uso militar em
turbolasers e outras armas. A parada seguinte da nave teria sido no setor
corporativo, e a transação parecia legítima; contudo, Poe se questionava se
a situação não tinha sido uma armação da Primeira Ordem desde o
princípio. Comparando a capacidade de voo do modelo NK-Witell e o
rastrea mento adicional retirado do itinerário registrado na Yissira Zyde,
BB-8 foi capaz de estimar o combustível remanescente no momento do
sequestro da Primeira Ordem. Isso apresentava uma amplitude máxima na
rota dela no hiperespaço, desde que, é claro, o cargueiro não tivesse
retornado para o espaço real para mudar de direção. Nesse caso...
— Nesse caso já era. Sim, entendi.
Considerando tudo, BB-8 informou a Poe que havia sete sistemas
possíveis onde o cargueiro poderia ter saído do hiperespaço antes de ficar
sem combustível, novamente presumindo uma trajetória direta. A X-Wing
em si tinha alcance suficiente para ir a cinco desses destinos antes de chegar
a um ponto sem volta.
— Vamos verificá-los em ordem — Poe informou BB-8.

Era a terceira parada e Poe quase a pulou, porque não havia nada de
interessante nos mapas galácticos daquela posição. Mas se a mãe dele o
ensinara a voar e a amar o espaço, o pai ensinara que, ao se comprometer a
fazer alguma coisa, devia se comprometer a ir até o fim; então Poe os
lançou de volta para o espaço real em um sistema tão desolado que os
exploradores que o descobriram não tinham se importado nem em batizá-lo
com nada além de uma designação alfanumérica: OR-Kappa-2722.
A primeira coisa que aconteceu quando as estrelas retornaram e a X-
Wing se ajustou no espaço-tempo apropriado foi BB-8 gritando. Era um
barulho surpreendente e fez Poe saltar na cadeira. Não era um grito de dor
— Poe ouvira esses antes, descobrira que o grito de morte de um
astromecânico era especialmente aflitivo —, nem era o balbuciar alegre e
frenético de um droide que falava triunfante em linguagem binária. Era um
som de choque, como se BB-8 tivesse atravessado uma porta esperando
encontrar uma sala vazia e, em vez disso, desse de cara com uma câmara de
tortura.
O que não era uma analogia ruim para onde descobriram estar.
— Bem, pelo menos não é toda a frota — ele falou para si mesmo.
Tinha soado mais engraçado na cabeça dele.
Havia — baseado no que ele podia ver, embora depois ele tenha ficado
feliz em saber que o computador de voo concordara quase totalmente com a
sua avaliação inicial — três Destroiers Estelares, um deles Imperial, quatro
fragatas, duas delas da venerável classe Lancer, dois cruzadores pesados
Maxima-A e um cruzador leve classe Dissidente. Isso sem contar a
variedade de pequenas naves que pareciam um enxame em volta da frota,
tudo desde Drones e droides de reparo sem classificação até o que Poe
estimou serem mais de setenta caças TIE.
BB-8 guinchou uma pergunta.
— Ainda não — Poe disse. — Você consegue achar a Yissira Zyde?
Você a viu?
BB-8 apitou e choramingou.
— Bem, viemos até aqui. Acho que temos a obrigação de voltar com
alguma coisa.
Outro gemido choroso seguido de outra pergunta, apenas um assobio
curto e suave.
À frente deles, em algum lugar entre o Destroier Estelar mais próximo e
o primeiro dos cruzadores pesados, cerca de uma dúzia de caças TIE atirou
ao mesmo tempo. Havia algo estranhamente bonito naquela manobra, um
grande número de caças mudando para seu novo destino juntos. Poe se
lembrou de ver bandos de pássaros-sussurro arremeterem e avançarem em
silêncio coletivo sobre a floresta de Yavin 4.
— Sim, BB-8 — Poe disse. — Acho que nos viram.

A única coisa que tinham a seu favor, pelo menos a princípio, era o
elemento surpresa. Não a surpresa da aparição de uma X-Wing no meio de
uma reunião da Primeira Ordem apesar de Poe sentir certo prazer em pensar
no caos que a chegada dele devia ter causado nas mais variadas pontes de
comando daquelas naves.., mas, sim, do suspense sobre o que ele e BB-8
poderiam fazer a seguir.
Eles avançaram.
BB-8 assobiou.
— Sim, também acho que aumentar a potência dos defletores é uma boa
ideia — Poe disse. — Reduza a energia das armas e direcione para os
motores.
BB-8 apitou, concordando que essa era uma ideia muito boa dada a
situação muito ruim.
— Só até a encontrarmos — Poe disse. — Só até termos uma prova.
Então o comandante Poe Dameron não tinha muito mais a dizer, porque
estava ocupado demais tentando mantê-los vivos. Fez uma pirueta
repentina, abrindo as asas antes de virar com toda velocidade para estibordo
e, quase imediatamente depois, costurou em um laço Corelliano que o
deixou com o nariz apontado em direção aos caças TIE que avançavam.
Eles se espalharam, virando em suas rotas a fim de contorná-lo e chegarem
atrás dele, então vários abriram fogo.

Cometeram um erro. Foram muito afoitos ao vir atrás dele, farejando o


sangue, sedentos para se fartar na X-Wing solitária. Contudo, havia TIE
demais na perseguição, e a primeira saraivada de tiros provou essa tese
quando dois dos caças foram atingidos por fogo amigo, o que os deixou
girando sem controle enquanto outros três ou quatro — era difícil para Poe
contar e se manter vivo ao mesmo tempo — fracassaram na tentativa de
evitar colisões. As explosões se iluminaram atrás dele enquanto manobrava
de novo, subindo em um arco rápido de deslocamento que o deixou na mira
da fragata mais próxima. A nave abriu fogo e os TIE na cola de Poe se
espalharam de novo, desesperados para evitar serem atingidos pela própria
nave aliada. A X-Wing trepidou, então mergulhou abrupta quando um
disparo ricocheteou em um dos defletores frontais. Os escudos oscilaram
por apenas um segundo. Poe ainda tinha o controle.
— Me diga que você a viu, BB-8 — Poe murmurou. O droide não
respondeu. Agora a X-Wing estava tão próxima da fragata que Poe podia
jurar que enxergava os stormtroopers e os oficiais da Primeira Ordem
encarando-o pelos postos de observação conforme passava em alta
velocidade. Os disparos da fragata pararam. Alguém no comando em algum
convés tinha sido esperto e ordenou que as naves maiores segurassem fogo,
temendo que estraçalhassem umas às outras.
Poe atravessou com a X-Wing pelo meio das asas, cruzando o eixo
central da fragata e, sem precisar pedir, viu que BB-8 redistribuía a energia
do caça: os escudos se rebalancearam e uma potência extra chegou aos
motores. O caça girou e começou a escalada com seu nariz apontado para a
barriga de um dos Destroieres Estelares.
BB-8 assobiou um alerta.
— Sim, sei que eles têm raios tratores — Poe disse. — Você já achou?
Houve uma pausa longa o suficiente para que Poe percebesse que os
TIE estavam de novo cercando-o e se aproximando depressa, dessa vez um
pouco mais organizados. Disparos de canhões laser queimaram pelo espaço
em volta dele, espancando a X-Wing.
BB-8 emitiu uma melodia triunfante e Poe olhou para o monitor por
uma fração de segundo, mas foi o suficiente para ver a palavra
“comunicador” sendo traduzida da linguagem binária do droide.
— Fantástico! — Poe exclamou. — Tire a gente daqui com um salto!
Dois dos caças TIE tinham se aproximado, cercando a X-Wing,
preparando-se para esmagá-la. Poe viu outros três caças colados na cauda
dos outros, cobrindo ângulos de fuga. Estava ficando sem opções e sem
tempo.
— Seria ótimo se você pudesse se apressar, BB-8.
O droide gaguejou e o aconselhou a mudar o curso para 10.2.
— Segure-se — Poe disse, verificando a lateral. Os TIE que o seguiam
estavam atirando, quase o conduzindo. Tinha uma única manobra que era
capaz de pensar, uma que a mãe tinha lhe dito que vira outro piloto fazendo,
apenas uma vez, e na atmosfera. Um Levante L’ullo, ela dissera. Entretanto,
realizá-lo no vácuo, em gravidade zero... Poe não tinha nem ideia se
funcionaria.
Ele cortou o impulso dos motores e menos de um segundo depois puxou
o manche para trás com força. O nariz da X-Wing lançou-se para cima de
forma abrupta, ainda acelerando na direção que apontava. Na atmosfera, a
resistência do vento e a gravidade reduziram a velocidade do caça,
teoricamente obrigando os inimigos que o perseguiam a ultrapassá-lo. Fora
da atmosfera, a desaceleração seria insignificante sem o auxílio do
contraempuxo.
Com o nariz para cima, Poe religou os motores, girando o caça em 180
graus e arremessando o nariz da X-Wing para baixo mais uma vez. Ele
voava para trás tão rápido quanto voara para a frente, acima da linha de
ataque dos TIE. Outra saraivada de tiros rasgou por baixo da nave enquanto
o inimigo tentava seguir seu movimento.
— Potência — ele pediu para BB-8.
Os canhões laser voltaram à vida enquanto o impulso principal
retornava, e Poe abriu fogo imediatamente. O primeiro dos TIE percebera a
manobra, saindo de forma brusca para estibordo e descendo, mas isso
expusera os dois remanescentes. Os disparos da X-Wing atravessaram a
escuridão, raios brilhantes que atingiram primeiro um caça, depois o
próximo. Os TIE tombaram, o líder perdeu o rumo, leme batia contra leme,
as esferas da cabine batiam umas contra as outras. Destroços voaram, então
Poe torceu o manche, lançando-se em uma espiral para evitar colisões
remanescentes. BB-8 praticamente gritou que estavam na direção
apropriada e Poe Dameron alinhou o nariz da nave e acionou o
hiperpropulsor. A última coisa que viu conforme entrava no hiperespaço
foram os disparos dos caças TIE que o perseguiam, deixados anos-luz para
trás.

Iolo e Karé não estavam a postos quando ele retornou da velocidade da luz
na fronteira do sistema Mirrin e ajustou sua trajetória para Mirrin Prime.
BB-8 gaguejou, feliz consigo mesmo. O sinal do comunicador da Yissira
Zyde fora forte e claro e enquanto viajavam pelo hiperespaço, o droide tinha
sido capaz de revisar os dados de voo coletados durante o combate. BB-8
tinha localizado o cargueiro a bordo do segundo dos três Destroieres
Estelares. A missão, até o ponto que interessava a Poe, fora um sucesso.
Mas toda a sensação de triunfo foi reprimida quando o Controle de
Mirrin entrou em contato durante a aproximação dele.
— Florete Um, aqui é o Controle de Voo de Mirrin. Responda.
A voz era de um homem mais velho que Poe não reconheceu.
— Florete Um.
— Aproxime-se para pousar na doca vinte e dois. Seu pouso está
autorizado.
— Controle de Voo de Mirrin, a área do Esquadrão Florete é na doca
sete. Confirme, por favor.
— Comandante Poe Dameron?
— Correto — Poe disse.
— Você foi direcionado para a doca vinte e dois. Não desvie sua
aproximação. Controle de Voo de Mirrin desligando.
O comunicador ficou em silêncio. Atrás de Poe, BB-8 assobiou
pesaroso.
— Sim — Poe concordou. — Estamos enrascados.

A doca vinte e dois estava vazia quando Poe pousou sua X-Wing e desligou
os repulsores conforme a nave se assentava no solo. Desativou os sistemas
da nave e por um momento considerou manter os motores em um estado de
baixo consumo energético, mas decidiu que não fazia sentido. Se estava
prestes a ser preso, se a corte marcial o aguardava, não tentaria fugir.
Encararia as consequências de seus atos e se defenderia por ter agido
corretamente. Abriu a cabine e tentou aproveitar a primeira lufada de ar não
reciclado que respirava em horas. A cabine sempre ficava malcheirosa
depois de um voo longo, pior ainda depois de um combate, com uma
combinação de eletricidade, metais aquecidos e suor. Houvera vezes em que
saíra da cabine e encontrara seu traje de voo ensopado de transpiração,
sentindo-se tão espremido quanto exausto, como se tivesse corrido uma
maratona. O desgaste físico e mental do combate em caças sempre cobrava
seu preço.
Pressionou o botão para destravar BB-8, libertando o droide de seu
encaixe, então tirou o capacete e as luvas. A doca continuava vazia, algo tão
peculiar quanto as portas do local continuarem fechadas. Isso era muito
estranho. Mesmo em uma doca desativada, sempre era possível encontrar
engates de força deixados ao lado de uma parede, cabos enrolados em um
canto, pedaços de peças de reposição ou artilharia sobressalente. Sempre
havia alguma coisa.
Não tinha nada no local, como se a doca tivesse sido esterilizada, limpa
de cima a baixo.
Poe apertou o botão de liberação rápida do cinto, saltou pela borda da
cabine e pulou direto para o chão, sem se importar em usar os apoios de
mão. O som das botas atingindo o piso ecoou pelo espaço vazio. Sentiu BB-
8 encostar na panturrilha e o ouviu apitar com suavidade.
As portas da doca abriram e três silhuetas entraram, marchando na sua
direção a passos largos. A pessoa do meio estava na liderança e parecia ter
quase sessenta anos, talvez mais — era um humano de uniforme militar da
República. Os outros dois eram indubitavelmente policiais da frota, um
Devaroniano de chifre curto e uma humana. Suas armas estavam presas nos
coldres, mas eles tinham aquele olhar de quem não toleraria nenhum tipo de
problema.
O homem na liderança parou cerca de dois metros na frente de Poe e
BB-8, fitando-o de cima a baixo com rapidez. Uma insígnia presa ao seu
colarinho designava a patente de major. Poe nunca o vira antes.
— Comandante Dameron?
— E você é?
— Major Ematt. Venha conosco, por favor.
— Tenho um relatório que preciso apresentar ao major Deso.
Localizamos a Yissira Zyde.
— O major Deso está ocupado. — Ematt se voltou para a porta e
começou a andar no mesmo instante, supondo que Poe certamente o
seguiria. Os dois policiais aguardaram.
Poe seguiu com BB-8 rolando ao lado dele.

Havia um speeder esperando por eles do lado de fora, um modelo militar


padrão rebaixado. A oficial humana dirigiu e o major Ematt sentou ao lado
dela. O Devaroniano sentou atrás com Poe e BB-8 ficou no chão entre eles.
O droide mantinha um silêncio anormal, mas as escuras lentes centrais na
sua cabeça semiesférica rodavam várias vezes entre Poe e o Devaroniano,
como se tentasse entender o que estava acontecendo. Poe compartilhava
essa sensação. Inclinou-se para a frente.
— Estou preso? — ele perguntou para Ematt.
— Você quer ser preso?
— Onde está o restante do meu esquadrão? A tenente Kun e o tenente
Arana?
— Outras pessoas estão lidando com eles.
Poe não gostou de como aquilo soou.
a speeder desacelerou em uma esquina e então acelerou para fora da
curva, saindo do setor do campo aéreo da base de Mirrin, raspando o asfalto
que separava o grupo dos caças dos prédios principais. O céu acima deles
estava cinza, um prenúncio de tempestade, e Poe podia ver as montanhas e
o brilho trêmulo da chuva ao longe, além da fronteira da base. O tempo
podia mudar a qualquer instante e ele se perguntou se estariam em um lugar
coberto antes que a chuva os alcançasse. O vento já estava aumentando.
Não estavam seguindo para a base principal, mas para o conjunto de
prédios pré-fabricados que tinham sido levantados recentemente no setor
norte. A tempestade despencou sobre eles assim que estacionaram; ondas de
chuva fria cobriam o solo, formando poças de água que ondulavam e se
espalhavam para longe dos repulsores enquanto a speeder flutuava no lugar.
Ematt saiu, encharcado, e esperou até que BB-8 e Poe o seguissem. Poe
hesitou, tentando avaliar a situação. Algo nos gestos e no comportamento
de Ematt fazia Poe se lembrar do pai. O piloto de repente entendeu: Ematt e
Deso podiam ter a patente, mas Ematt, como o pai de Poe, era um veterano.
Ele vira a guerra, vira muita guerra.
Poe desceu da speeder. BB-8 rolou atrás dele e atingiu o pavimento com
uma batida macia e uma espirrada gentil de água. a speeder se foi. Ematt os
liderou para a instalação mais distante e pressionou a palma da mão contra a
placa de segurança na porta. Houve um apito assim que a identidade dele
foi confirmada. Ouviram o som de travas deslizando e a porta abriu.
— Entre — Ematt disse. — Seu droide e eu esperaremos aqui.
Poe assentiu, ainda incerto. Deu um passo e a porta fechou
imediatamente atrás dele.
Entrou na sala de reuniões adaptada, minimalista, com talvez duas
dúzias de cadeiras e mesas. No canto mais distante do ambiente, alguém
posicionara uma cama e uma mala, por isso o local tinha a aparência tanto
de um escritório quanto de um alojamento. O holoprojetor, usado para
análises e planejamento, brilhava em um canto, projetando um dos
noticiários da República sem som, como se a repórter estivesse se
comunicando através de mímica. Na parede do lado oposto ao que ele
entrara, havia dois monitores exibindo a galáxia, similares ao mapa
demarcado no escritório de Deso. Poe precisou de um instante para
perceber a diferença: não eram mapas políticos, e sim operacionais,
apresentando os movimentos das tropas e frotas.
Havia uma mulher na mesa, de cabeça baixa, trabalhando com um
datapad. Poe esperou, ciente de que água pingava de suas roupas. Percebeu
que ainda segurava seu capacete de voo e se sentiu um pouco tolo, então o
deixou no assento de uma das cadeiras vazias. Quando se endireitou, a
mulher tinha levantado e o encarava atenta, não como se pudesse ver
através dele, mas como se o visse por dentro. Ela era mais velha que Ematt
e seu cabelo estava preso em tranças firmes na cabeça. Era baixa, mas
apenas em altura, não em tamanho. Alguma coisa nela fazia parecer que
não apenas preenchia o espaço mas o comandava. Estava de uniforme, mas
não era exatamente o da República. Parecia que tinha começado a ser feito
assim e, em algum ponto, houvera uma mudança em favor da
operacionalidade, em vez dos aspectos cerimoniais. A beleza dela era
inquestionável, quase majestosa.
— Comandante Dameron — a mulher disse. — Sabe quem eu sou?
Poe assentiu. Agora estava ciente de que seu traje de voo estava
ensopado com chuva e suor, que devia estar fedendo como a bunda de um
bantha e que desobedecera ordens diretas que vieram não apenas de Deso,
mas de uma instância muito superior. Tão superior quanto o Comando. Tão
superior quanto o Senado, talvez.
Ficou em posição de sentido, bateu continência e manteve a postura.
— General Organa — ele disse.
A general Leia Organa manteve o olhar fixo nele por mais um segundo;
seus olhos castanhos pareciam tristes, alertas e fortes, tudo ao mesmo
tempo. Então acenou com a mão, dispensando a saudação como se a
necessidade de tais coisas a incomodasse.
— À vontade. Sente, Poe. Vou chamá-lo de Poe, se você concordar.
— Como quiser, general.
— Gosto de Poe. — Ela saiu de trás da mesa e puxou uma das cadeiras
próximas com a ponta da bota, arrumando-a antes de sentar. Apontou para
as cadeiras vazias e Poe pegou uma e a virou para ficar de frente para ela.
— Devia ver a sua cara — a general Organa disse. Ela sorriu e os olhos
dela refletiram seu afeto, fazendo Poe se sentir como se tivesse nove anos
de novo. — Não sou tão ameaçadora assim.
— Não, senhora. Não... não, senhora.
— O problema com uma reputação é que ela pode se tornar uma lenda.
— A general Organa ajeitou uma das mangas do uniforme. Ela deu de
ombros. — Não se deixe enganar, Poe. Não sou uma lenda.
Poe sorriu e balançou a cabeça.
— Você não está vendo o que estou vendo, general.
— Sou uma militar, Poe. Assim como você. Uma militar com patente e
experiência. Talvez experiência de sobra. Mas apenas uma militar.
— Se a senhora diz...
— Sim. E pare de me chamar de senhora.
— Sim, general.
Ela riu.
— Ah, vai ser assim, não vai? Certo, comandante Dameron. Quer saber
por que está aqui?
Poe balançou a cabeça. Três minutos antes estivera quase certo da
resposta: estava ali para, na melhor das hipóteses, ser exonerado para a vida
civil e nunca mais voar.
— Me conte sobre a Yissira Zyde — Leia disse. — Me conte tudo.

Ela ouviu atenta, com o cotovelo apoiado no joelho, o queixo na mão. Poe
não conseguia se lembrar de outra vez que tinha se sentido tão ouvido por
alguém na vida. Quando falou sobre o achado em OR-Kappa-2722, ela
levantou, foi até os mapas que demarcavam os movimentos das frotas e
tropas e os examinou enquanto pedia para que ele continuasse falando. Ela
fez anotações em cada um dos mapas antes de retornar para a cadeira e,
quando Poe terminou, ela ficou em silêncio por quase um minuto, olhando
para o nada ou, talvez, para algo que só ela podia ver. Lembrança ou
premonição, Poe não sabia o quê. Finalmente ela o encarou de novo.
— Isso foi uma tolice excepcional da sua parte — Leia disse. — Você
quase não saiu de lá vivo.
— Em minha defesa, general, não tinha como eu saber que descobriria o
ponto de encontro da Primeira Ordem.
— Mas você esperava encontrá-lo. Ou algo parecido.
— Sim — ele falou.
— É a necessidade de fazer o que é certo, e quem sabe trombar com
alguma aventura no caminho.
Poe se mexeu na cadeira.
— Você me lembra o meu irmão — Leia comentou com gentileza. —
Ao que parece, voa como ele também.
Poe olhou para ela, surpreso e lisonjeado ao mesmo tempo. A questão o
pressionou, implorou para ser formulada, mas, antes que pudesse reunir
coragem para enunciá-la, a general prosseguiu.
— Você ouviu falar da Resistência, Poe?
— Rumores, no geral.
— De que tipo?
— Há uma facção de militares da República que... que sentem que a
República não está levando certas ameaças tão a sério quanto deveria. Em
especial a ameaça representada pela Primeira Ordem.
— Essa é uma forma bem diplomática de apresentar a questão, mas não
é totalmente errada... — A general Leia Organa expirou e se recostou na
cadeira, olhando por cima dele mais uma vez. O sorriso voltou, mais
discreto, ou talvez mais triste. — Você enfureceu algumas pessoas, sabe,
Poe? Não deixar um assunto quieto quando foi ordenado e desobedecer
ordens diretas. Tecnicamente, alguém poderia argumentar que você roubou
uma X-Wing da República para uso pessoal.
— Sou um oficial da República, general. Jurei proteger a República,
jurei...
Ela levantou a mão.
— Não, você entendeu errado. Eu gostei. Foi precipitado da sua parte e,
como eu disse, uma tolice. Mas podemos usar um pouco de precipitação em
épocas como esta, e paixão é algo de que precisamos desesperadamente.
Poe piscou.
— Posso fazer sua pequena viagem para OR-Kappa-2722 desaparecer.
Posso varrê-la para debaixo do tapete. Você pode voltar para liderar o
Esquadrão Florete e ficar com as mãos atadas pelo Comando, pelo major
Deso, pelos políticos que não reconhecem o que está acontecendo bem na
frente dos olhos. Posso fazer tudo voltar a ser como era, Poe.
Ela se inclinou para a frente.
— Ou você pode se juntar à Resistência e nos ajudar a parar a Primeira
Ordem antes que seja tarde demais.
— Onde me alisto? — Poe perguntou.

No fim das contas, Karé e Iolo foram com ele, então todos os
remanescentes do Esquadrão Florete foram levados sob as asas da
Resistência. Pelos meses que se seguiram, Poe se viu passando mais horas
na cabine da nave do que o fizera desde seu treinamento, agora atrás do
manche de uma X-Wing T-70 antiga. Além dos esforços iniciais para
encontrar e recrutar mais pilotos, dedicava a maior parte do tempo às
missões de patrulhamento, longas viagens de reconhecimento e busca por
sinais de movimentos e localizações da Primeira Ordem, uma tentativa de,
como dissera a general Organa, “achar a cabeça do dragão”.
O Esquadrão Florete foi transferido de Mirrin Prime e realocado para
um cruzador adaptado de Mon Calamari chamado Eco de Esperança. Poe
descobrira que, mesmo mantendo a patente de comandante, foi posto no
comando de sua própria unidade de caças, com Iolo e Karé promovidos a
capitães sob suas ordens, cada um dos dois responsável por seu próprio
esquadrão, Adaga e Punhal, respectivamente. Entre as patrulhas havia
reuniões, relatórios e incontáveis encontros, geralmente com a própria
general Organa, com Ematt e duas vezes com o almirante Ackbar, que fora
convencido pela própria Leia a sair da aposentadoria.
A Resistência era pequena, mas entre seus membros estavam algumas
das pessoas mais dedicadas e motivadas que Poe já encontrara, oriundas de
toda a galáxia. A maior parte da equipe do núcleo de comando em torno da
general Organa era composta de veteranos, muitos com experiência em
batalhas da Guerra Civil Galáctica, e mais de uma vez ele se viu
conversando com alguém que voara ao lado de sua mãe, que estivera nas
trincheiras com seu pai. Era, de um jeito estranho, como voltar para casa
como se este fosse o lugar a que Poe sempre pertencera.
Mas havia muitos que nunca tinham visto Endor ou Hoth ou qualquer
uma das incontáveis batalhas entre elas. Dois integrantes de seu novo
esquadrão, Teffer e Jess, ambos humanos, eram mais jovens do que Poe e
cada um tinha histórias para contar sobre a Primeira Ordem que deixaram o
comandante ainda mais seguro de ter feito a escolha certa. Todos na
Resistência viam a Primeira Ordem como realmente era, acreditavam que a
ameaça que ela representava era real e urgente.
Apesar do comprometimento, a Resistência se via frustrada. espaço da
República e o da Primeira Ordem era separado por uma zona de sistemas
neutros, e a paz que tinham negociado, а paz que muitos, inclusive Poe,
acreditavam existir apenas no papel, implicava que ações militares tomadas
por um lado sobre o outro eram consideradas atos de guerra. Não pareciam
importar as evidências de que as incursões da Primeira Ordem dentro do
espaço da República continuavam aumentando; a República se recusava a
tomar qualquer atitude além dos mais formais protestos diplomáticos.
Atacar diretamente a Primeira Ordem estava fora de cogitação. Como Leia
explicara a Poe, as ações da Resistência tinham que permanecer secretas,
pelo menos até que provas irrefutáveis da violação de paz pela Primeira
Ordem pudessem ser apresentadas para o Comando da República.
Foi isso que levou a general Organa a recrutar Poe para a Operação
Golpe de Sabre.

— Este é o senador Erudo Ro-Kiintor — Leia disse a Poe. Estavam


sozinhos no escritório dela a bordo da Lar Um, do lado de fora do gabinete
de crise. — É o senador veterano de Hevurion para a República.
O holograma girou devagar, mostrando um humano alto e magro,
completamente careca, com um visor com uma fenda estreita sobre os
olhos. Era uma imagem de divulgação oficial, registrada em algum evento
público. Aos olhos de Poe, o senador Ro-Kiintor parecia cheio de si e
vestido com uma formalidade excessiva, mas isso talvez dissesse mais
sobre os próprios preconceitos dele do que qualquer outra coisa. Ele não
sentia muito carinho pelos membros do Senado da República.
— Se você diz, general.
Leia mexeu em um controle no monitor e a imagem foi substituída por
um modelo também giratório, mas de uma nave. Era lustrosa, estreita no
centro, mas se alargava em direção à quilha, o que Poe achou ser uma
ampliação ostensiva e desnecessária nas asas.
— Esta é a Hevurion Grace, o iate pessoal do senador Ro-Kiintor —
Leia disse.
Poe assentiu discretamente.
— É uma nave luxuosa de classe Pináculo feita pela Corporação
Vekker. Já vi Pináculos uma ou duas vezes antes. Elas trocam a eficiência
pelo luxo. Praticamente penduram no casco um convite para piratas dizendo
“aqui tem dinheiro”.
A general sorriu, o que fez seus olhos castanhos parecerem ainda mais
vivos que antes, com aquele afeto quase brilhando.
— Você consegue pilotar um?
Poe passou a mão pelo cabelo.
— Com certeza. Foi projetada para um piloto único, apesar de ser mais
bem tripulada em dois. Sem contar, é claro, quaisquer empregados que os
proprietários possam querer a bordo.
— Ótimo — Leia disse. — Quero que você a roube.
Poe alternava o olhar entre ela e a imagem da Hevurion Grace.
Respondeu o sorriso da general com um próprio.
— Claro. Quer que eu faça mais alguma coisa enquanto estiver nela?
Talvez pegar uma daquelas novas Nebulon-K?
— Não estou totalmente convencida de que as Nebulon-K tiveram seu
problema de combustão dos escudos resolvido. — Ela desligou o monitor e
o sorriso desapareceu. A piada chegara ao fim.
— Do que se trata isso, general?
— Temos suspeitas de que o senador Ro-Kiintor está aliado à Primeira
Ordem há anos, comandante. Ele tem postergado ou derrubado moções
sobre tudo, até feito sanções contra o aumento do apoio à frota da
República. Ele tem tirado diversas férias não programadas nos territórios
neutros. Houve relatos da Hevurion Grace no espaço da Primeira Ordem.
Grandes somas transferidas para as contas dele por empresas fantasma e
corporações de terceiros via ASC. Ele não está apenas envolvido com a
Primeira Ordem, Poe, ele está profundamente envolvido. Ele pode ter
acesso ao alto escalão, ao general Hux. Talvez a Snoke. — Leia massageou
a têmpora e prosseguiu: — Mas não fomos capazes de provar nada disso.
Nenhuma prova concreta, apenas evidências circunstanciais. E, acredite em
mim, nós tentamos. No último ano, Ematt enviou agentes para a Hevurion
Grace duas vezes depois de uma das viagens do senador, tentando acessar
os registros do computador de bordo para provar onde ele estivera. Ambas
as vezes os arquivos foram apagados antes do pouso.
— Você quer que eu sequestre um senador da República?
Ela o encarou assustada com a sugestão.
— Não, isso é exatamente o que eu não quero que você faça. Quero a
nave, quero os registros e os dados do computador de bordo antes de
alguém ter a chance de cobrir os rastros, entende? Mas sem perdas, nem
mesmo um arranhãozinho no senador ou em qualquer tripulante a bordo, se
puder evitar. E é preciso que possamos negar a missão por completo. Ro-
Kiintor é um traidor. Tenho certeza disso, mas, até que possamos provar, ele
continua um membro do Senado, e a Resistência honrará isso. Nós devemos
honrar isso, ou não seremos melhores que a Primeira Ordem.
Poe franziu a testa.
— Se estão apagando os dados, é quase certo que estão fazendo isso
minutos depois de saírem do hiperespaço.
— É o que Ematt também acha.
— O que deixa pouca margem de tempo para tomar a nave. E precisa
ser capturada no espaço, não poderemos esperar o senador pousar.
— Estou ciente disso. Estou completamente ciente do quanto esta
missão será difícil. Por isso eu darei a você a opção de recusar, comandante.
Tenho que reforçar isso, Poe. — Leia pegou a mão dele e a apertou. Ela
fitava os olhos dele com o ar mais solene que ele vira na general. Isso não é
uma ordem. Isso poderá dar muito, muito errado e, se assim for, a
Resistência terá que negar qualquer envolvimento. O que significa que você
e qualquer um que levar junto estarão por conta própria.
Ela soltou a mão dele e recostou na cadeira. Aquele ar de tristeza tomou
conta de sua expressão mais uma vez. O pai dele carregara uma melancolia
similar depois que a mãe falecera; Poe via aquilo tomando conta dele como
uma sombra, ajustando-se sobre os ombros como um cobertor feito de
afeto, memórias, saudade e perda. Leia vestiu alguma coisa feita do mesmo
material e não era a primeira vez que Poe se perguntara como ela tinha
superado aquilo e, mais importante, quem a tinha deixado assim.
— Vou precisar de algumas coisas — Poe disse.

— Antes de tudo, esta é uma missão voluntária — Poe informou Iolo e


Karé. — Se quiserem ficar de fora, a decisão não irá depor contra vocês, de
jeito nenhum. É provável inclusive que minha estima por vocês aumente se
disserem não. Porque isso beira a loucura. É totalmente não oficial.
Karé esticou suas longas pernas e entrelaçou os dedos por trás do
pescoço como um apoio improvisado para a cabeça. Pelo horário da nave,
era tarde da noite, e eles estavam no quarto de Poe a bordo da Eco de
Esperança, apenas eles três e os droides. Toda a formalidade demonstrada
em frente aos respectivos esquadrões fora abandonada por completo.
— Adoro quando ele fala desse jeito — Karé disse para Iolo. — Sempre
dá para saber que vai ser alguma coisa boa quando ele fala assim
— Não tenho certeza de que vai ser bom — Iolo disse.
— Não ouvimos ainda.
— E não vão ouvir, a menos que me deixem falar — Poe disse.
Karé ajeitou as pernas embaixo da cadeira e se endireitou no assento.
— Sim, senhor comandante, senhor!
Poe riu, virou para BB-8 e o droide entendeu que aquela era a deixa
para começar a projetar a apresentação. As imagens flutuaram em frente aos
três pilotos, oscilando ocasionalmente: as plantas da Hevurion Grace e o
arquivo com informações sobre tripulação e passageiros, incluindo o
senador Ro-Kiintor. Karé riu quando percebeu para o que era tudo aquilo, e
os olhos naturalmente grandes de Iolo se arregalaram ainda mais. Mas
nenhum deles fez objeções, ambos ouviram com atenção conforme Poe
detalhava a operação, o objetivo e seus planos.
— O tempo é apertado — Poe disse. — Temos que atacar a nave no
momento em que ela sair do hiperespaço. Assim que ela chegar, temos que
paralisá-la, tenho que me infiltrar a bordo, deixar o senador e os demais
tripulantes nos módulos de fuga e despachá-los da embarcação, religar os
motores, e então sair de lá de novo. E temos que fazer tudo isso em menos
de oito minutos.
— Por que oito minutos? — Iolo perguntou.
— É o tempo de resposta da República no sistema Uvoss — Karé
respondeu e Poe assentiu. — Uvoss não está em nenhuma das rotas de
patrulhamento e é provável que seja esse o motivo de o senador usá-lo
como ponto de entrada e saída do hiperespaço quando faz essas pequenas
excursões.
— A primeira coisa que eles farão quando perceberem que estão sob
ataque é enviar um pedido de socorro — Poe disse. — O esquadrão da
República mais próximo precisará de pelo menos oito minutos para
responder.
— Então temos que ter sumido quando eles chegarem — Iolo falou.
— Exato — Poe concordou.
— Pelo menos oito minutos?
— No mínimo. Podem demorar mais.
— Então vamos torcer para que demorem — Iolo disse.

Uma vez que a missão não era oficial, nenhum deles poderia usar naves
afiliadas à Resistência. Assim, tiveram que deixar as X-Wings para trás. Por
meio de algumas manobras, negociações e de favores devidos a ele, Poe foi
capaz de adquirir três veneráveis Incom Z-95 Caçadores de Cabeça para a
operação. A produção desses caças tinha começado durante as Guerras
Clônicas e eles eram considerados os precursores da classe X-Wing em
vários sentidos. Aposentadas do uso militar, as Z-95 tinham desde então se
dispersado pela galáxia, encontrando novos lares nas mãos de
contrabandistas, bandidos, piratas e qualquer outro que quisesse um caça
para seus negócios, legítimos ou não. Se as coisas dessem terrivelmente
erradas, pelo menos Poe, Karé e lolo não poderiam ser acusados de usar
recursos da República ou da Resistência em uma operação clandestina.
Para complicar ainda mais as coisas, nenhuma das Z-95 foi projetada
para o uso de apoio astromecânico, o que significava que todos os saltos
hiperespaciais para dentro e para fora do sistema Uvoss, onde pretendiam
interceptar a Hevurion Grace, precisariam ser pré-programados. Havia uma
vantagem nisso, pois significava que Karé e Iolo poderiam ganhar alguns
segundos na fuga. Poe teria que confiar no chip de dados que carregava
para inserir à força as coordenadas do salto no computador de bordo da
Hevurion Grace assim que tivesse tomado o controle da cabine.
BB-8 não gostava da ideia de ser deixado para trás e demonstrou seu
descontentamento para Poe.
— Vou ficar sentado na cabine de uma Z-95 vestindo um traje EVA e
você quer ficar no meu colo? — Poe indagou ao droide. — Se preocupe
menos com ser deixado para trás e mais em ter certeza de que os mísseis de
concussão estão adaptados nas ogivas apropriadas, certo, amigão?
O droide cumpriu suas ordens, mas Poe tinha a sensação de que BB-8
estava amuado. Não havia outra definição para aquilo.
— Vou voltar — Poe lhe disse. — Eu sempre volto.

Estavam em posição por pouco menos de sete horas, flutuando no silêncio


frio do sistema Uvoss. A razão de a República não ter patrulhas na área era
evidente: dos três planetas no sistema, dois eram gigantes gasosos tão
enormes que por pouco não se tornaram as estrelas de seus próprios
sistemas, massivos o suficiente para que a força gravitacional deles criasse
um perigo, mesmo que pequeno, para as viagens hiperespaciais. O terceiro
planeta era, sendo generoso na descrição, um pedaço disforme de ferro que
zunia em uma órbita cada vez mais apertada em volta do sol de Uvoss que,
por sua vez, era uma estrela amarela comum e sem graça. Dentro de mais
uns dois mil anos, a rocha planetária se transformaria em um lanchinho para
a estrela.
Não havia mais nada. Apenas o silêncio, o frio e a necessidade de
paciência. Mesmo para Poe, que tinha se acostumado com o tédio das
viagens espaciais e com a paciência exigida para combatê-lo, a espera
estava especialmente esgotante. A cabine da Z-95 era pequena por si só —
Karé tinha reclamado sem parar sobre a falta de espaço para as pernas —,
mas, com o complemento do traje EVA que Poe vestia, quase não havia
espaço para se mexer. Para economizar tempo, ele selara o traje na
decolagem, o que significava que estava fechado por inteiro, com o
capacete e tudo mais. Enquanto ainda estava a bordo do caça, podia se
conectar com os controles ambientais da nave por uma mangueira na lateral
do traje espacial, mas o ar que estava respirando havia muito tinha
começado a ter um cheiro parecido com suor velho e plástico.
Ocorreu-lhe que ele, Karé e Iolo fariam com a Hevurion Grace
exatamente a mesma coisa que a Primeira Ordem fizera com a Yissira Zyde.
Ficar entediado e ter paciência era uma coisa. Outra coisa era ficar
entediado, ter paciência e ter que permanecer alerta — na verdade, essa era
a parte mais difícil. Os pilotos flutuavam, cada um sozinho com seus
pensamentos, lutando contra a sonolência inevitável, esforçando-se para
manter um olho no local onde esperavam que o senador Ro-Kiintor surgisse
em uma explosão de volta para o espaço real, enquanto o outro olho
checava os controles. Poe ficou tão entediado que começou a contar
quantos bocejos tinha segurado.
Então os motores de Iolo pulsaram, aquecendo-se, e Poe sabia que o
keshiano vira com sua visão aprimorada algo invisível para Poe e Karé:
uma ondulação no tecido do espaço real, talvez, ou uma dilatação no
espectro UV ou infravermelho. Poe forçou seu dedão coberto pela luva
pesada no botão de partida e agarrou o manche com a outra mão. Sentiu sua
Z-95 voltar à vida no momento exato em que a Hevurion Grace parecia se
esticar do nada para a realidade. A nave não estava lá e, de repente, estava.
De uma só vez, Iolo e Karé se lançaram com força total pela escuridão; Poe
estava bem atrás deles, seguindo o ataque.
No começo, funcionou com perfeição.
Como era esperado, a Hevurion Grace transmitiu seu sinal de socorro
no instante em que o ataque começou, e Poe ativou um controle no braço de
seu traje. Um relógio luminoso apareceu por dentro do visor do capacete em
uma localização fácil de ler com o canto dos olhos, marcando a contagem
regressiva de oito minutos.
O relógio agora estava correndo.
Iolo disparou primeiro, dois mísseis de concussão modificados que
seguiram para o iate com os de Karé logo atrás. A Hevurion Grace tentou
girar em uma manobra evasiva, deu um jeito até de lançar suas defesas, uma
explosão de faíscas projetadas para forçar o míssil que se aproximava a
explodir prematuramente, mas, apesar de se esforçarem ao máximo, dois
mísseis atravessaram. O primeiro atingiu o alto da popa do iate, o segundo
detonou nas proximidades, a cerca de um quilômetro da proa. Raios
explodiram e seus tentáculos azuis percorreram o casco da nave, dançando
e reluzindo, fluindo por todas as juntas da embarcação.
A Hevurion Grace ficou parada no espaço, a energia oscilando
conforme a ionização tomava conta de seus controles.
Poe acelerou, deslizando por entre os caças de Karé e Iolo conforme
eles se dividiam, um para estibordo e outro para bombordo. Ele acionou o
piloto automático, o nariz do caça agora para cima, uma dúzia de metros
abaixo da barriga do iate, alinhado com o volumoso gigante gasoso além
dele. Ele se atrapalhou com o botão para soltar rapidamente os cintos, seus
dedos desajeitados pelas luvas enormes, o relógio mostrando um pouco
mais de sete minutos e meio sobrando. A Hevurion Grace se aproximava
depressa. Os cintos dele se soltaram e Poe socou com o punho esquerdo a
placa de ejeção, fazendo-a destravar bruscamente e tomando o controle da
alavanca. Ele a girou e, mesmo com o capacete, pôde ouvir os gritos dos
alarmes da nave questionando a imprudência de sair do caça naquele
momento, naquele lugar, naquela velocidade. Ele girou de novo e as cargas
explosivas da cabine detonaram, mandando a proteção para o alto e sobre a
cauda da Z-95. Quase no mesmo instante, Poe se sentiu deslizando solto do
assento do piloto, sem peso e sem direção, enquanto o campo de
microrrepulsão o lançava para fora do caça.
Logo ele estava no espaço, ainda carregado adiante pela inércia da Z-95,
ainda avançando com tudo em direção à Hevurion Grace, muito mais
rápido do que deveria. Naquela velocidade, a colisão com o casco do iate
seria fatal, transformando Poe em um monte de geleia dentro do traje EVA.
Abaixo dos pés, podia ver a Z-95 mantendo seu rumo, uma ilusão de ótica
que fazia parecer que tanto ele quanto o caça estavam parados, que era o
iate que se aproximava deles, e não o contrário. O medidor de distância do
visor de alerta do capacete mostrava o número reduzido rápido, mais rápido
que a corrida inexorável do relógio.
Poe esperou o máximo possível, até mais do que deveria, antes de ativar
os jatos de manobra de seu traje espacial, uma explosão completa de
desaceleração partindo primeiro do jato no peito e das botas e do capacete
na sequência. O iate ainda aproximava rapidamente, e ele quase teve um
momento de pânico quando pensou que as manobras não adiantariam.
Olhou para baixo: a Z-95 tinha desaparecido. Quando levantou os olhos, viu
o brilho dos motores dela, já além da Hevurion Grace e desaparecendo em
direção ao gigante gasoso. O caça nunca chegaria até a superfície, seria
esmagado pela própria fuselagem pela tremenda pressão da atmosfera do
planeta.
Poe bateu contra o iate com tanta força que o impacto foi sentido por
todo seu corpo, o ar dos pulmões explodiu para fora dele, criando uma
camada de condensação por dentro do visor. Sentiu o gosto de sangue,
vasculhou por uma alça e, ao encontrar, começou a se puxar pelo casco do
iate, uma mão atrás da outra. Sua cabeça zunia e ele se sentia fora do corpo.
Só quando a visão clareou percebeu que tinha dado um jeito de alcançar a
porta de acesso e já estava usando o maçarico de fusão do cinto para romper
o lacre.
O relógio caiu para seis minutos e quarenta e sete segundos.
Uma das Z-95 cruzou seu campo de visão; era Iolo visível por um
instante enquanto balançava o caça, acenando com as asas, Karé cruzou na
outra direção, cada um voando em uma rota limitadora em torno da nave.
O último lacre estourou, fazendo a escotilha abrir o suficiente para Poe
meter as mãos enluvadas na abertura. Estava lutando contra sua própria
falta de peso tanto quanto com o iate; mesmo com as luvas e botas
magnetizadas no casco, havia um limite de força que podia exercer.
Empurrou e puxou, e o relógio chegou a seis minutos e três segundos antes
de ele conseguir forçar a abertura o suficiente para se enfiar por ela. Perdeu
outros dezessete segundos lacrando a porta novamente. Com a energia do
iate desligada, os geradores de gravidade também estavam fora do ar, e ele
teve que se puxar com as mãos escada abaixo para dentro da nave, o
caminho iluminado apenas pelo refletor do capacete.
Tinha acabado de chegar à parte inferior quando as luzes e a gravidade
retornaram, e Poe reservou um momento para agradecer a quem ou ao que
zelava pelos pilotos descuidados e idiotas. Alguns segundos antes, teria
caído com a cara no chão e provavelmente teria quebrado o pescoço.
O comandante se endireitou e soltou a carabina laser amarrada nas
costas. Acionou o botão para abrir a porta, levou a arma para o ombro e
ligou os alto-falantes do traje conforme avançava.
— Esta nave agora é propriedade dos irmãos Irving! — Os alto-falantes
distorciam a voz de Poe, fazendo-o soar mais um droide do que um
humano.
Teve o resultado esperado.
Três seres estavam no corredor quando Poe surgiu: um deles deveria ser
o piloto, a julgar pela forma como estava vestido, os outros eram um
funcionário e o próprio senador Ro-Kiintor. Todos viraram e encararam
Poe, oculto em seu traje espacial, pegos completamente de surpresa pela
abordagem. Ficaram boquiabertos, paralisados, e Poe podia apenas
imaginar o que estavam vendo, aquela figura agigantada pelo traje EVA
corpulento, com o rosto oculto atrás do visor escuro do capacete e a
carabina laser nas mãos quase cômica de tão pequena.
O senador balbuciou:
— Você sabe quem eu sou? Como ousa...?
Poe deu um disparo no chão, lançando faíscas no ar.
— São meus! — Poe rosnou. — Vocês são boa mercadoria! Serão
ótimos escravos!
O senador empalideceu, encolhendo-se atrás do funcionário.
— Calma... Calma, não vamos fazer nada precipitado...
— Vocês têm dez segundos para abandonar a minha nave! — Poe disse.
— Ou serão meus também!
Ele deu um segundo tiro no chão para enfatizar.
O senador, o piloto e o empregado praticamente se atropelaram
correndo até os pods de fuga.
Com três minutos e vinte e nove segundos no relógio, tudo deu errado.
Poe estava na cabine, o capacete e as luvas largados, sem cerimônia no
chão, o chip de dados com as coordenadas do hiperespaço ligado no
computador de bordo. Ele trabalhava para reiniciar os motores principais da
Hevurion Grace quando a voz de Iolo veio pelo comunicador.
— Ора.
Apenas isso. Foi o suficiente para Poe levantar a cabeça e vasculhar o
espaço vazio além da proteção da cabine. Era possível — bem pouco
possível — que tivessem calculado errado e a República tivesse sido capaz
de acelerar o tempo de resposta. Mas, mesmo enquanto pensava isso, Poe
sabia que estava errado. Os olhos keshianos de Iolo tinham visto o perigo
chegando, mas não com antecedência suficiente para fazer algo a respeito, e
o que tinha sido um espaço vazio se preencheu de repente com uma nave,
depois outra, e depois outra, conforme as embarcações saltavam de volta
para o espaço real.
— Primeira Ordem! — Poe gritou pelo comunicador. — Saltem! Iolo,
Karé, saiam daqui!
Os TIE já estavam sendo lançados do interior de dois Destróieres
Estelares que tinham aparecido, um deles um novo modelo da classe
Ressurgente. Outra esquadrilha se soltou das amarras ao lado da Nebulon-K
que viera com eles. Naves de ataque menores apareceram no campo de
visão. Os alarmes de proximidade na Hevurion Grace começaram a gritar e
Poe se virou, estapeando todas as alavancas de volta para o silencioso.
— Comandante, quanto tempo para o seu salto? — Karé perguntou.
— Dei uma ordem, capitã Kun.
— Desculpe, não consigo ouvir por causa de todos esses caças TIE
vindo na minha direção.
Poe olhou para o monitor de carga do hiperpropulsor. O disparo iônico
ao iate forçara quase todos os sistemas a bordo a reiniciarem e, embora o
computador de bordo estivesse com as coordenadas para o salto, era o
motor em si que precisava ser reiniciado. Apesar de Poe não estar
familiarizado com os controles de voo de um iate classe Pináculo, era
evidente que demoraria mais de noventa segundos antes de os motores
gêmeos SoroSuub Hawke da nave chegarem à carga total. Qualquer
tentativa de saltar antes disso seria em vão; o motivador do hiperpropulsor
da Hevurion Grace simplesmente se recusaria a dar a partida.
— Vai levar em torno de quarenta a quarenta e cinco segundos — Poe
disse. — Consigo escapar desses molengas até lá.
— Então falta um minuto e meio — Iolo disse, resignado. — Você não
sabe mentir, comandante.
— Sei, sim! — Poe estava indignado.
— Vamos mantê-los longe de você, comandante. — Era Karé de novo.
— Dê um jeito de dificultar a aproximação deles.
— Vocês dois estão desobedecendo minhas ordens. — Mesmo enquanto
falava, Poe estava aumentando a potência nos motores iônicos do iate. Pelo
menos esses estavam com a carga completa. — Não pensem que vou
esquecer disso.
— Pode nos mandar para a corte marcial depois, senhor. — Karé disse.

Não demorou muito para Poe perceber quão determinada em parar a


Hevurion Grace a Primeira Ordem estava. A primeira esquadrilha de
dezoito caças TIE ignorou por completo Iolo e Karé nas Z-95, acelerando
direto para Poe e o iate. Os dois caças TIE na liderança tinham aberto fogo
antes mesmo de estarem na área de alcance de tiro. Poe concluiu três coisas:
primeiro, quem quer que estivesse voando com aqueles TIE tinha mais
entusiasmo do que bom senso; segundo, a informação que a Resistência
poderia descobrir nos computadores do iate devia valer muito; e terceiro,
como resultado, a Primeira Ordem estava muito determinada a impedi-lo de
escapar.
Mas essa mentalidade limitada custava-lhes caro.
Considerando toda a reputação de ser uma nave puramente voltada para
o luxo, Poe descobriu que o iate era de uma agilidade surpreendente nas
mãos dele, com a nave pulando para a frente com a explosão de velocidade
conforme abria os propulsores e virando com força, apontando para o
gigante gasoso mais próximo de Uvoss. A meta dele era aumentar ao
máximo a distância entre ele e as naves; e elas, Poe notara de imediato,
estavam se aproximando, embora bem mais lentas que os caças TIE. Sentiu
que poderia lidar com os TIE; os escudos defletores do iate estavam com
carga máxima e Poe confiava em suas habilidades de pilotagem o
suficiente, e ainda mais nas de Iolo e Karé. Acreditava que poderia
sobreviver o suficiente para fazer o salto. Mas aquelas naves eram
diferentes, o poder de fogo delas era realmente assustador: um tiro direto de
qualquer uma das baterias de turbolaser delas transformaria em vapor a
Hevurion Grace.
Então o gigante gasoso era de fato sua única escolha. Se conseguisse
chegar perto o suficiente, poderia até haver uma vantagem tática para usar o
intenso campo gravitacional do planeta. Esse era o plano, mas voar em
linha reta permitiria que os TIE O estraçalhassem, por isso ele estava
balançando, desviando e virando o iate de uma forma que tinha certeza de
que o proprietário choraria se testemunhasse.
Os TIE estavam na cola dele assim que completou a virada, iniciando
sua corrida para o gigante gasoso, e esse foi o erro deles. Iolo e Karé
aproximaram as Z-95, em turnos de combate Corelliano, alinhando-se com
as caudas dos caças da Primeira Ordem. Em vinte segundos, os camaradas
de Poe tinham reduzido a força de ataque inicial de dezoito para nove antes
de os Caças TIE remanescentes se separarem para persegui-los, mais
preocupados em se manterem vivos. Karé derrubou mais dois na manobra e
Iolo pegou outro.
— Deixe alguns para os colegas — Poe disse.
— Bobeou, dançou — Karé respondeu. — Quanto tempo até o salto?
Desta vez a verdade, por favor, comandante.
Poe verificou o marcador de carga e fez rápido uma conta de cabeça.
— Mais quarenta segundos.
Um disparo de turbolaser rasgou o espaço na frente dele. O tiro foi tão
próximo e brilhante que Poe se encolheu de verdade. Um instante depois, o
iate levou um tranco, sacudindo com os disparos de dois caças TIE
metralhando por cima do casco. Luzes acenderam pelo painel, alertando-o
sobre tudo: desde a diminuição da carga do escudo defletor até o cinto de
segurança dele que não estava afivelado.
— Uma ajudinha aqui — Poe pediu.
— Estou indo — Iolo disse, e um instante depois Poe viu a beirada da
asa de um Z-95 refletida na cabine e a luz brilhante da destruição de um
caça TIE.
— Aquela nave de classe Ressurgente está se aproximando rápido. —
Karé informou.
— Vocês têm que ir, agora. — Poe falou.
— Logo depois de você.
Poe segurou um xingamento. O Destróier Estelar em questão era um
monstro, capaz de desferir um ataque fulminante com seus canhões de alto
calibre e baterias antiaéreas. Voando em velocidade máxima em linha reta,
podia ser até mais rápido que os caças TIE que ele parecia cuspir em ondas
intermináveis: era movido por múltiplos motores iônicos gigantescos
desenvolvidos para propelir sua massa pelo espaço. Era uma quantidade
impressionante de empuxo. Em compensação, é claro, voar em linha reta e
em velocidade máxima demandava uma quantidade igualmente
impressionante de empuxo reverso para executar a menor das manobras
para uma mudança mínima de direção. Os Destroiers Estelares eram
grandes e poderosos, mas apenas o mais inconsequente dos comandantes
empregaria a velocidade em sacrifício da capacidade de manobra.
Poe percebeu que tinha que fazer uma escolha. Podia continuar
correndo em direção ao gigante gasoso na esperança que a gravidade do
planeta assustasse a nave ou…
— Sigam em direção àquele Ressurgente — Poe disse.
— Como é que é?! — Karé exclamou.
— Um disparo daqueles turbolasers e estamos acabados — Iolo falou.
— E um disparo daqueles turbolasers e aqueles caças TIE estão
acabados também.
— Se ficar muito próximo, você vai ficar vulnerável aos raios tratores
deles...
Os emissores de raios dos Ressurgentes são na proa. — Poe já estava
balanceando os propulsores do iate, virando a nave em outro giro em
parafuso e revertendo a direção. — Não cheguem nela pela frente.
— Ah, claro, isso encerra a questão — Karé disse. — Com certeza,
vamos atacar o Destroier Estelar. Por que não? Vem junto, Iolo?
— Tenho escolha?
— Não — Poe disse.
As duas Z-95 acompanharam as asas de estibordo da Hevurion Grace e
depois cambalearam para trás. A segunda onda de caças TIE ainda estava a
uma boa distância, mas isso não duraria muito. Poe olhou para fora da
cabine e viu a névoa branca soprando do meio de uma das asas da Z-95,
junto com as fagulhas ocasionais de eletricidade.
— Iolo, verifique sua asa a bombordo.
— Sim, eu sei — Iolo disse. — Mas não há muito que eu possa fazer
sobre isso agora.
— Você pode partir — Poe retrucou.
— O quê? E perder isto? Karé nunca me deixaria em paz.
— É verdade — Karé falou.
—Separem-se — Poe ordenou.
Todos sabiam a manobra e executaram com tanta rapidez que as três
naves estavam se distanciando antes mesmo de Poe ter terminado de dar a
ordem. Na liderança, Poe levou o iate para o alto, subindo e girando,
enquanto Karé arrancou a sua Z-95 para bombordo abaixo dele, e Iolo
posicionou seu próprio caça em um mergulho em giro. Os caças TIE se
separaram um momento depois, os tiros passando sem danos, então abriram
a formação. Poe supôs que pelo menos metade deles viria para a Hevurion
Grace.
A nave classe Ressurgente estava se aproximando. Um disparo de
turbolaser aconteceu talvez a apenas um quilômetro à frente de Poe, e ele
sentiu o iate tremer conforme acelerou pela energia que se dissipava um
segundo depois. Ele estava se aproximando da proa, contrariando o próprio
conselho, com os caças TIE o cercando pela direita e por trás. A nave deu
um tranco e trepidou quando um dos caças que a perseguia mandou
disparos de laser que mas aguentaram foram refletidos pelo iate. Os escudos
piscaram, mas aguentaram.
A Hevurion Grace não fora projetada para combate, mas isso não
significava que era indefesa. Ela possuía uma única torre com um canhão
duplo acoplado na sua dorsal, próximo da cauda.
Poe reparou que ele era automático.
Fez uma pirueta estreita com o iate e queimou um pouco da velocidade
enquanto se realinhava para fora do alcance da Ressurgente, cada vez maior
diante dele. O movimento aproximou dois dos caças TIE, e Poe podia
imaginar aqueles pilotos em seus trajes de voos, os dedos coçando nos
gatilhos, mirando seus disparos. Então ele ativou o atuador na torre e sentiu
sua arma abrindo fogo. A saraivada estraçalhou os dois caças TIE mais
próximos e derrubou mais dois que estavam logo atrás. Os perseguidores
viraram para longe, tentando readquirir um novo ângulo para atacar a
Hevurion Grace.
Poe conseguia ouvir a conversa de Iolo e Karé pelos comunicadores,
disparos rápidos feitos e recebidos, os dois trabalhando em sintonia. Outros
dois caças TIE derrubados, mas para cada um que Iolo ou Karé davam um
jeito de derrubar, parecia haver um substituto.
— Iolo! Cuidado!
— Estou sem espaço!
— Vire para bombordo! Vire para bombordo! Eu pego ele!
Uma explosão de estática veio pelos comunicadores, então um barulho
seguido por um silêncio de uma fração de segundo que pareceu durar muito,
muito mais.
Em seguida a voz de Iolo.
— … atingido, fui atingido, perdendo energia...
— Iolo, salte — Poe disse. A nave classe Ressurgente era um borrão
através da cabine enquanto ele se espiralava para cima, de volta para a torre
de comando. — Vá!
— Não vou deixá-lo!
A Ressurgente disparava praticamente sem parar. O iate balançou de
novo quando a Hevurion Grace se chocou com a onda residual de outra
detonação na popa. Um dos propulsores de íon falhou e descarregou sua
energia, e na mesma hora o motivador do hiperpropulsor anunciou que
estava preparado para iniciar o salto para a velocidade da luz. Outra
explosão aconteceu tão perto da cabine que Poe temeu que a proteção se
estilhaçaria.
— Vamos partir juntos — Poe disse. — Separem-se e saltem!
Ele puxou o manche para trás com tanta força que os emuladores de
gravidade do iate arremessaram a cabeça dele contra o assento. De alguma
forma, a Ressurgente saiu da posição abaixo e à frente dele para cima e
atrás. Ele estava subindo rápido, girando na sua escalada. Podia ver as Z-95,
mesmo que por um instante, da mesma forma tentando virar para seus
vetores de salto. Agora que os alvos deles estavam fugindo do Destroier
Estelar, os caças TIE estavam mais uma vez em perseguição, os disparos
distorcidos pela retomada da artilharia pesada dos turbolasers.
— Saltem! Vão!
O caça de Karé foi primeiro, esticando-se e depois desaparecendo,
seguido pelo de Iolo. Poe alcançou o iniciador do salto, puxou-o com
suavidade para trás, e a Hevurion Grace ressoou por todos os lados. Então
os caças TIE, a fragata, o Destróier Estelar e tudo mais em Uvoss
desapareceram, substituídos pelo giro hipnotizador do túnel hiperespacial.

Iolo e Karé estavam no hangar esperando por Poe quando ele pousou.
Assistiram enquanto ele baixava a rampa principal e descia e, por um
momento, os três pilotos apenas se olharam. Então Karé desatou a rir e
jogou os braços em volta do comandante, e Iolo deu tapinhas nas costas
dele. Todos falavam ao mesmo tempo sobre como aquilo fora voar de
verdade e que Iolo tivera sorte e Karé o tinha salvado e ele a tinha salvado e
que tinham perdido a conta de quantas vezes tinham salvado a pele uns dos
outros. Riam da ideia da Primeira Ordem tentando explicar para o general
Hux, ou fosse lá quem fosse, exatamente como foram envergonhados por
três pilotos voando em um iate de luxo e duas Z-95 arcaicas e...
— Muran adoraria ter visto aquilo — Iolo disse.
O comentário os trouxe de volta para o silêncio por um instante,
enquanto os três se lembravam do amigo ausente.
— Ele teria se orgulhado — Karé falou.
— Sim — Poe disse. — Teria.
Por entre Iolo e Karé, Poe viu a general Organa na entrada do hangar
como droide de protocolo que frequentemente a acompanhava. Ela chamou
a atenção dele, Poe acenou e apoiou as mãos nos ombros de lolo e Karé.
— Vão tomar um banho — Poe disse. — Faremos um brinde ao Muran.
Leia aguardou até que tivessem ido antes de se aproximar de Poe.
— 3PO, vá a bordo, por favor, e veja o que consegue extrair dos
computadores de voo.
— É claro, princesa Leia — o droide falou. Ele acenou para
aproximação rígida de um cumprimento humano e seguiu seu caminho pela
rampa.
Leia olhava para Poe, sorrindo discreta, como sempre.
— Garotos voadores. Vocês são todos iguais.
— Alguns de nós são garotas voadoras — Poe disse.
— A capitã Kun é uma pilota excepcional, não há dúvida. Tanto quanto
o capitão Arana, aliás. Mas são raros os pilotos que enfrentam uma fragata e
dois Destroiers Estelares e vivem para contar história.
— Histórias voam rápido.
— Sim, voam Leia disse.
— Princesa Leia? — o droide de protocolo a chamou da rampa. —
Talvez seja melhor você ver isto.
— Nunca é coisa boa quando ele diz isso — Leia falou para Poe.

Foi na manhã seguinte, antes de Poe conseguir tomar seu café da manhã,
que descobriu quão certa ela estava.
Tivera dificuldade para dormir, a euforia do sucesso da missão
desaparecia enquanto as horas se prolongavam pela noite, sua mente se
voltando para pensamentos sombrios e deprimentes. Quando enfim pegou
no sono, foi sem repouso e insatisfatório. Ao acordar, a sensação era de que
não tinha descansado nada.
Assim que Poe acendeu as luzes no seu dormitório, BB-8 rolou para a
frente, assobiando suavemente e direcionando a atenção de Poe para uma
luz piscante de aviso de mensagem no painel. Era da general, pedindo para
ele ir vê-la de imediato. Ele acatou a ordem literalmente, vestindo-se sem se
importar em tomar um banho e abrindo caminho pelos corredores até o
escritório dela.
A general Organa o recebeu na porta e a fechou assim que ele entrou.
Os movimentos dela foram deliberadamente lentos, como se estivesse
perdida em seus pensamentos. Seu gestual demonstrava tristeza se
comparado com o do dia anterior, como se estivesse lutando com algum
dilema nas profundezas do seu ser. Ela apontou uma das cadeiras para Poe,
mas ela mesma não sentou, e em vez disso ficou andando pela sala por
vários segundos, com o queixo pressionado no peito e a sobrancelha
tensionada.
— Como você está se sentindo? — ela perguntou de forma abrupta.
Estava encarando Poe.
— Estou... estou bem, general.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Vou reformular a pergunta. O que você está sentindo?
Ele se perguntou se os pensamentos que o mantiveram acordado metade
da noite estavam estampados em seu rosto. Se questionou, por um
momento, se a noite dela fora inquieta assim como a dele.
— Estou furioso — Poe admitiu. — E preocupado, general. Um
membro do Senado da República estava tão ligado à Primeira Ordem que,
quando transmitiu um pedido de socorro, eles vieram tentar resgatá-lo e,
quando o fizeram, não economizaram esforços. Dois Destroiers Estelares e
não pude nem contar quantos caças TIE. Talvez eles soubessem que ele não
estava mais a bordo, talvez não, mas queriam a Hevurion Grace destruída.
Estavam dispostos a matar seu próprio homem para nos impedir de tomar a
nave.
Ele parou, preocupado que talvez tivesse falado demais, mas Leia o
ouvia exatamente como fizera em Mirrin Prime. Depois de alguns
segundos, Poe continuou:
— Não paro de pensar que esse homem, Ro-Kiintor, é um senador. Ele
está no coração da República, da nossa República. E é um traidor. Me
pergunto quantos mais são exatamente como ele, quantos mais estão
trabalhando para a Primeira Ordem, quantos mais nos venderam.
— E ainda assim você acredita na República, Poe.
— Completamente — Poe falou sem hesitar. — Lembro meus pais
falando como era a vida sob comando do Império, general. Diziam que o
medo era como uma nuvem em todo lugar, que era tão denso que dava...
dava para senti-lo. Eles costumavam dizer que antes da Rebelião... Diziam
que dava para ver a desesperança nos olhos de todos.
— Essa é a palavra —Leia disse, mais para si mesma do que para Poe.
— A desesperança.
— Para onde a esperança foi? — ele perguntou, e a questão pareceu
muito mais importante do que deveria ser. Mas quando perguntou estava
pensando no pai e na mãe, em tudo o que tinham sacrificado e por tudo o
que tinham lutado. Pensou em Leia Organa, uma das últimas sobreviventes
de Alderaan, em pé diante dele... tudo o que ela perdera, segundo os
rumores que Poe ouvira.
— Não sei — ela respondeu. — Mas sei que temos que achá-la de novo.
Ela se endireitou, os ombros alinhados, o queixo no lugar, a
determinação pela qual ela era conhecida mais uma vez aparente. Fosse
qual fosse seu debate interno, ela chegou a uma conclusão. Poe a observou
voltar para a mesa e digitar uma sequência em um pequeno cofre construído
ali dentro. Uma gaveta saltou, a mão dela entrou e retornou com um chip de
dados, fino e tingido de azul.
— Obtivemos muitas informações nos computadores a bordo da
Hevurion Grace — Leia disse, olhando para o chip. — Uma fortuna em
informações. Contudo, tem algo a mais, algo que... outros talvez não
percebessem. Uma peça de um quebra-cabeça que tenho... tenho tentado
resolver há muito tempo.
Ela colocou o chip de dados na palma da mão de Poe.
— Acho que a Primeira Ordem também está tentando resolvê-lo, Poe.
Temos que achar a solução antes. Temos que achá-lo antes.
— Quem?
— O nome dele é Lor San Tekka.
— Lor San Tekka — Poe repetiu. — Por que a Primeira Ordem está tão
desesperada para encontrá-lo?
— Eles acham que ele sabe alguma coisa. Eu também espero que ele
saiba — Leia segurou a mão de Poe e fechou os dedos dele sobre o chip de
dados. Ela o encara nos olhos. — Espero que Lor San Tekka saiba onde está
meu irmão, Poe. E Luke Skywalker pode ser a nossa única esperança.
STAR WARS / JORNADA PARA O DESPERTAR DA FORÇA -
ANTES DO DESPERTAR
TÍTULO ORIGINAL: Star Wars / Moving Target

COPIDESQUE: Bruno Kenobi

REVISÃO: Renata Lopes Del Negro / Marise Simões Leal / TRADUTORES DOS WHILLS

DIAGRAMAÇÃO: Jason Wojtowics / TRADUTORES DOS WHILLS

ILUSTRAÇÃO: Phil Noto

GERENTE EDITORIAL: TRADUTORES DOS WHILLS

DIREÇÃO EDITORIAL: TRADUTORES DOS WHILLS

VERSÃO ELETRÔNICA: TRADUTORES DOS WHILLS

ASSISTENTES EDITORIAIS: TRADUTORES DOS WHILLS

COPYRIGHT © & TM 2015 LUCASFILM LTD.


COPYRIGHT ©TRADUTORES DOS WHILLS, 2021
(EDIÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA PARA O BRASIL)

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.


PROIBIDA A REPRODUÇÃO, NO TODO OU EM PARTE, ATRAVÉS DE QUAISQUER MEIOS.

JORNADA PARA O DESPERTAR DA FORÇA - ANTES DO DESPERTAR É UM LIVRO DE FICÇÃO. TODOS OS


PERSONAGENS, LUGARES E ACONTECIMENTOS SÃO FICCIONAIS.

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

G93r Greg, Rucka


JORNADA PARA O DESPERTAR DA FORÇA - ANTES DO DESPERTAR [recurso eletrônico]
/ Greg Rucka ; traduzido por Zé Oliboni.
448 p. : 3.0 MB.

Tradução de: JOURNEY TO THE FORCE AWAKENS - BEFORE THE AWAKENING


ISBN: 978-85-65765-82-4 (Ebook)

1. Literatura norte-americana. 2. Ficção científica. I. Erico, Assis. II. Título.

2015-08719 CDD 813.0876


CDU 821.111(73)-3

ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO:

Literatura : Ficção Norte-Americana 813.0876


Literatura norte-americana : Ficção 821.111(73)-3

EDITORA SCHWARCS S.A.


Rua Bandeira Paulista, 702, cj.32
CEP 004532-002 – São Paulo/SP
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GREG RUCKA
Greg Rucka é um premiado escritor mais vendido do New York Times com
várias centenas de histórias em quadrinhos e mais de duas dezenas de
romances. Ele mora em Portland, Oregon, com sua esposa, a autora Jennifer
Van Meter, e seus dois filhos, Elliot e Dashiell. Ele visitou pela primeira vez
uma galáxia muito, muito distante quando tinha sete anos de idade. Ele
ainda não voltou.

PHIL NOTO
Phil Noto começou sua carreira na Walt Disney Feature Animation, onde
trabalhou em filmes como O Rei Leão, Pocahontas, O Corcunda de Notre
Dame, Mulan e Lilo & Stitch. Em 2001, Phil começou sua carreira de
quadrinhos como o artista da capa de Birds of Prey da DC Comics. Desde
então, ele trabalhou em vários projetos, como Danger Girl, Jonah Hex,
Avengers, Uncanny X-Force, X-23, The Infinite Horizon e, mais
recentemente, a Viúva Negra da Marvel.
STAR WARS – GUARDIÕES DOS WHILLS
Greg Rucka
240 páginas

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No mundo do deserto de Jedha, na Cidade Santa, os amigos Baze e


Chirrut costumavam ser Guardiões das colinas, que cuidavam do
Templo de Kyber e dos devotos peregrinos que adoravam lá. Então
o Império veio e assumiu o planeta. O templo foi destruído e as
pessoas espalhadas. Agora, Baze e Chirrut fazem o que podem
para resistir ao Império e proteger as pessoas de Jedha, mas nunca
parece ser suficiente. Então um homem chamado Saw Gerrera
chega, com uma milícia de seus próprios e grandes planos para
derrubar o Império. Parece ser a maneira perfeita para Baze e
Chirrut fazer uma diferença real e ajudar as pessoas de Jedha a
viver melhores vidas. Mas isso vai custar caro?

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24 páginas

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Um Wookiee é o melhor amigo de uma menina! Quando Chewbacca


conhece a jovem Zarro na Orla Exterior, ele não tem escolha a não
ser deixar de lado sua própria missão para ajudá-la a resgatar seu
pai de uma mina perigosa. Essa incrível Aventura foi baseada na
HQ do Chewbacca… (FAIXA ETÁRIA: 6 a 8 anos)

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Star Wars Ahsoka
E.K. Johnston
371 páginas

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Esse é o Terceiro Ebook dos Tradutores dos Whills com uma


aventura emocionante sobre uma heroína corajosa das Séries de
TV Clone Wars e Rebels: Ahsoka Tano! Os fãs há muito tempo se
perguntam o que aconteceu com Ahsoka depois que ela deixou a
Ordem Jedi perto do fim das Guerras Clônicas, e antes dela
reaparecer como a misteriosa operadora rebelde Fulcro em Rebels.
Finalmente, sua história começará a ser contada. Seguindo suas
experiências com os Jedi e a devastação da Ordem 66, Ahsoka não
tem certeza de que possa fazer parte de um todo maior de novo.
Mas seu desejo de combater os males do Império e proteger
aqueles que precisam disso e levará a Bail Organa e a Aliança
Rebelde….

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Star Wars Kenobi Exílio
Tradutores dos Whills
79 páginas

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A República foi destruída, e agora a galáxia é governada pelos


terríveis Sith. Obi-Wan Kenobi, o grande cavaleiro Jedi, perdeu
tudo… menos a esperança. Após os terríveis acontecimentos que
deram fim à República, coube ao grande mestre Jedi Obi-Wan
Kenobi manter a sanidade na missão de proteger aquele que pode
ser a última esperança da resistência ao Império. Vivendo entre
fazendeiros no remoto e desértico planeta Tatooine, nos confins da
galáxia, o que Obi-Wan mais deseja é manter-se no completo
anonimato e, para isso, evita o contato com os moradores locais. No
entanto, todos esses esforços podem ser em vão quando o “Velho
Ben”, como o cavaleiro passa a ser conhecido, se vê envolvido na
luta pela sobrevivência dos habitantes por uma Grande Seca e por
causa de um chefe do crime e do povo da areia. Se com o Novo
Cânone pudéssemos encontrar todos os materiais disponíveis aos
anos de Exílio de Obi-Wan Kenobi em um só Lugar? Após o Livro
Kenobi se tornar Legend, os fãs ficaram sem saber o que aconteceu
com o Velho Ben nesse tempo de reclusão. Então os Tradutores dos
Whills também se fizeram essa pergunta e resolveram fazer esse
trabalho de compilação dos Contos, Ebooks, Séries Animadas e
HQs, em um só Ebook Especial e Canônico para todos os Fãs!!

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Star Wars -Dookan: O Jedi Perdido
Cavan Scott
469 páginas
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Esse é o Quarto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma


aventura emocionante sobre um Vilão dos Filmes e da Série de TV
Clone Wars: Conde Dookan! Mergulhe na história do sinistro
Conde Dookan no roteiro original da emocionante produção
de áudio de Star Wars! Darth Tyranus. Conde de Serenno.
Líder dos Separatistas. Um sabre vermelho, desembainhado
no escuro. Mas quem era ele antes de se tornar a mão
direita dos Sith? Quando Dookan corteja uma nova aprendiz,
a verdade oculta do passado do Lorde Sith começa a
aparecer. A vida de Dookan começou como um privilégio,
nascido dentro das muralhas pedregosas da propriedade de
sua família. Mas logo, suas habilidades Jedi são
reconhecidas, e ele é levado de sua casa para ser treinado
nos caminhos da Força pelo lendário Mestre Yoda. Enquanto
ele afia seu poder, Dookan sobe na hierarquia, fazendo
amizade com Jedi Sifo-Dyas e levando um Padawan, o
promissor Qui-Gon Jinn, e tenta esquecer a vida que ele
levou uma vez. Mas ele se vê atraído por um estranho
fascínio pela mestra Jedi Lene Kostana, e pela missão que
ela empreende para a Ordem: encontrar e estudar relíquias
antigas dos Sith, em preparação para o eventual retorno dos
inimigos mais mortais que os Jedi já enfrentaram. Preso
entre o mundo dos Jedi, as responsabilidades antigas de
sua casa perdida e o poder sedutor das relíquias, Dookan
luta para permanecer na luz, mesmo quando começa a cair
na escuridão.

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Star Wars – Discípulo Sombrio
Tradutores dos Whills
319 páginas

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Esse é o Quinto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma


aventura emocionante sobre um Vilões e Heróis dos Filmes e da
Série de TV Clone Wars! Baseado em episódios não produzidos de
Star Wars: The Clone Wars, este novo romance apresenta Asajj
Ventress, a ex-aprendiz Sith que se tornou um caçadora de
recompensas e uma das maiores anti-heróis da galáxia de Star
Wars. Na guerra pelo controle da galáxia entre os exércitos do lado
negro e da República, o ex-Mestre Jedi se tornou cruel. O Lorde Sith
Conde Dookan se tornou cada vez mais brutal em suas táticas.
Apesar dos poderes dos Jedi e das proezas militares de seu
exército de clones, o grande número de mortes está cobrando um
preço terrível. E quando Dookan ordena o massacre de uma flotilha
de refugiados indefesos, o Conselho Jedi sente que não tem
escolha a não ser tomar medidas drásticas: atacar o homem
responsável por tantas atrocidades de guerra, o próprio Conde
Dookan. Mas o Dookan sempre evasivo é uma presa perigosa para
o caçador mais hábil. Portanto, o Conselho toma a decisão ousada
de trazer tanto os lados do poder da Força de suportar – juntar o
ousado Cavaleiro Quinlan Vos com a infame acólita Sith Asajj
Ventress. Embora a desconfiança dos Jedi pela astuta assassina
que uma vez serviu ao lado de Dookan ainda seja profunda, o ódio
de Ventress por seu antigo mestre é mais profundo. Ela está mais
do que disposta a emprestar seus copiosos talentos como caçadora
de recompensas, e assassina, na busca de Vos.Juntos, Ventress e
Vos são as melhores esperanças para eliminar a Dookan – desde
que os sentimentos emergentes entre eles não comprometam a sua
missão. Mas Ventress está determinada a ter sua vingança e,
finalmente, deixar de lado seu passado sombrio de Sith.
Equilibrando as emoções complicadas que sente por Vos com a
fúria de seu espírito guerreiro, ela resolve reivindicar a vitória em
todas as frentes, uma promessa que será impiedosamente testada
por seu inimigo mortal… e sua própria dúvida.

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Os Segredos dos Jedi
Tradutores dos Whills
50 páginas

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Descubra o mundo dos Jedi de Star Wars através desta experiência


de leitura divertida e totalmente interativa. Star Wars: Jediografia é o
melhor guia do universo Jedi para o universo dos Jedi,
transportando jovens leitores para uma galáxia muito distante,
através de recursos interativos, fatos fascinantes e ideias cativantes.
Com ilustrações originais emocionantes e incríveis recursos
especiais, como elevar as abas, texturas e muito mais, Star Wars:
Jediografia garante a emoção das legiões de jovens fãs da saga.

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Star Wars – Thrawn – Alianças
Timothy Zahn

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Palavras sinistras em qualquer circunstância, mas ainda mais


quando proferidas pelo Imperador Palpatine. Em Batuu, nos limites
das Regiões Desconhecidas, uma ameaça ao Império está se
enraizando. Com a sua existência pouco mais que um vislumbre, as
suas consequências ainda desconhecidas. Mas é preocupante o
suficiente para o líder imperial justificar a investigação de seus
agentes mais poderosos: o impiedoso agente Lorde Darth Vader e o
brilhante estrategista grão-almirante Thrawn. Rivais ferozes a favor
do Imperador e adversários francos nos assuntos imperiais,
incluindo o projeto Estrela da Morte, o par formidável parece
parceiros improváveis para uma missão tão crucial. Mas o
Imperador sabe que não é a primeira vez que Vader e Thrawn
juntam forças. E há mais por trás de seu comando real do que
qualquer um dos suspeitos. No que parece uma vida atrás, o
general Anakin Skywalker da República Galáctica e o comandante
Mitth’raw’nuruodo, oficial da Ascensão do Chiss, cruzaram o
caminho pela primeira vez. Um em uma busca pessoal
desesperada, o outro com motivos desconhecidos... e não
divulgados. Mas, diante de uma série de perigos em um mundo
longínquo, eles forjaram uma aliança desconfortável – nem
remotamente cientes do que seus futuros reservavam. Agora,
reunidos mais uma vez, eles se veem novamente ligados ao planeta
onde lutaram lado a lado. Lá eles serão duplamente desafiados –
por uma prova de sua lealdade ao Império... e um inimigo que
ameaça até seu poder combinado.

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Star Wars – Legado da Força – Traição
Tradutores dos Whills
496 páginas

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Esta é a era do legado de Luke Skywalker: o Mestre Jedi unificou a


Ordem em um grupo coeso de poderosos Cavaleiros Jedi. Mas
enquanto a nova era começa, os interesses planetários ameaçam
atrapalhar esse momento de relativa paz, e Luke é atormentado
com visões de uma escuridão que se aproxima. O mal está
ressurgindo “das melhores intenções” e parece que o legado dos
Skywalkers pode dar um ciclo completo.A honra e o dever colidirão
com a amizade e os laços de sangue, à medida que os Skywalker e
o clã Solo se encontrarem em lados opostos de um conflito
explosivo com repercussões potencialmente devastadoras para
ambas as famílias, para a ordem Jedi e para toda a galáxia.Quando
uma missão para descobrir uma fábrica ilegal de mísseis no planeta
Aduman termina em uma emboscada violenta, da qual a Cavaleira
Jedi Jacen Solo e o seu protegido e primo, Ben Skywalker, escapam
por pouco com as suas vidas; é a evidência mais alarmante ainda
que desencadeia uma discussão política. A agitação está
ameaçando inflamar-se em total Rebelião. Os governos de vários
mundos estão se irritando com os rígidos regulamentos da Aliança
Galáctica, e os esforços diplomáticos para garantir o cumprimento
estão falhando. Temendo o pior, a Aliança prepara uma
demonstração preventiva de poder militar, numa tentativa de trazer
os mundos renegados para a frente antes que uma revolta entre em
erupção. O alvo modeloado para esse exercício: o planeta Corellia,
conhecido pela independência impetuosa e pelo espírito renegado
que fizeram de seu filho favorito, Han Solo, uma lenda.Algo como
um trapaceiro, Jacen é, no entanto, obrigado como Jedi a ficar com
seu tio, o Mestre Jedi Luke Skywalkers, ao lado da Aliança
Galáctica. Mas quando os corellianos de guerra lançam um contra-
ataque, a demonstração de força da Aliança, e uma missão secreta
para desativar a crucial Estação Central de Corellia; dão lugar a
uma escaramuça armada. Quando a fumaça baixa, as linhas de
batalha são traçadas. Agora, o espectro da guerra em grande escala
aparece entre um grupo crescente de planetas desafiadores e a
Aliança Galáctica, que alguns temem estar se tornando um novo
Império.E, enquanto os dois lados lutam para encontrar uma
solução diplomática, atos misteriosos de traição e sabotagem
ameaçam condenar os esforços de paz a todo
momento. Determinado a erradicar os que estão por trás do caos,
Jacen segue uma trilha de pistas enigmáticas para um encontro
sombrio com as mais chocantes revelações… enquanto Luke se
depara com algo ainda mais preocupante: visões de sonho de uma
figura sombria cujo poder da Força e crueldade lembram a ele de
Darth Vader, um inimigo letal que ataca como um espírito sombrio
em uma missão de destruição. Um agente do mal que, se as visões
de Luke acontecerem, trará uma dor incalculável ao Mestre Jedi e a
toda a galáxia.
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Star Wars – Battlefront II: Esquadrão Inferno
Christie Golden

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Após o humilhante roubo dos planos da Estrela da Morte e a


destruição da estação de batalha, o Império está na defensiva. Mas
não por muito. Em retaliação, os soldados imperiais de elite do
Esquadrão Inferno foram chamados para a missão crucial de se
infiltrar e eliminar os guerrilheiros – a facção rebelde que já foi
liderada pelo famoso lutador pela liberdade da República, Saw
Gerrera.

Após a morte de seu líder, os guerrilheiros continuaram seu legado


extremista, determinados a frustrar o Império – não importa o custo.
Agora o Esquadrão Inferno deve provar seu status como o melhor
dos melhores e derrubar os Partisans de dentro. Mas a crescente
ameaça de serem descobertos no meio de seu inimigo transforma
uma operação já perigosa em um teste ácido de fazer ou morrer que
eles não ousam falhar. Para proteger e preservar o Império, até
onde irá o Esquadrão Inferno. . . e quão longe deles?

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Star Wars – Star Wars – Catalisador – Um Romance
de Rogue One

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A guerra está destruindo a galáxia. Durante anos, a República e os


Separatistas lutaram entre as estrelas, cada um construindo uma
tecnologia cada vez mais mortal na tentativa de vencer a guerra.
Como membro do projeto secreto da Estrela da Morte do Chanceler
Palpatine, Orson Krennic está determinado a desenvolver uma
super arma antes que os inimigos da República possam. E um velho
amigo de Krennic, o brilhante cientista Galen Erso, poderia ser a
chave. tativa de vencer a guerra. Como membro do projeto secreto
da Estrela da Morte do Chanceler Palpatine, Orson Krennic está
determinado a desenvolver uma super arma antes que os inimigos
da República possam. E um velho amigo de Krennic, o brilhante
cientista Galen Erso, poderia ser a chave. A pesquisa focada na
energia de Galen chamou a atenção de Krennic e de seus inimigos,
tornando o cientista um peão crucial no conflito galáctico. Mas
depois que Krennic resgata Galen, sua esposa, Lyra, e sua filha Jyn,
de sequestradores separatistas, a família Erso está profundamente
em dívida com Krennic. Krennic então oferece a Galen uma
oportunidade extraordinária: continuar seus estudos científicos com
todos os recursos totalmente à sua disposição. Enquanto Galen e
Lyra acreditam que sua pesquisa energética será usada puramente
de maneiras altruístas, Krennic tem outros planos que finalmente
tornarão a Estrela da Morte uma realidade. Presos no aperto cada
vez maior de seus benfeitores, os Ersos precisam desembaraçar a
teia de decepção de Krennic para salvar a si mesmos e à própria
galáxia.

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Star Wars – Ascenção Rebelde

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Quando Jyn Erso tinha cinco anos, sua mãe foi assassinada e seu
pai foi tirado dela para servir ao Império. Mas, apesar da perda de
seus pais, ela não está completamente sozinha – Saw Gerrera, um
homem disposto a ir a todos os extremos necessários para resistir à
tirania imperial, acolhe-a como sua e dá a ela não apenas um lar,
mas todas as habilidades e os recursos de que ela precisa para se
tornar uma rebelde.Jyn se dedica à causa e ao homem. Mas lutar ao
lado de Saw e seu povo traz consigo o perigo e a questão de quão
longe Jyn está disposta a ir como um dos soldados de Saw. Quando
ela enfrenta uma traição impensável que destrói seu mundo, Jyn
terá que se recompor e descobrir no que ela realmente acredita… e
em quem ela pode realmente confiar.

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Star Wars – A Alta República – A Luz dos Jedi

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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo


da Ameaça Fantasma . . . Os Jedi iluminaram o caminho para a
galáxia na Alta República. É uma era de ouro. Os intrépidos
batedores do hiperespaço expandem o alcance da República para
as estrelas mais distantes, mundos prosperam sob a liderança
benevolente do Senado e a paz reina, reforçada pela sabedoria e
força da renomada ordem de usuários da Força conhecidos como
Jedi. Com os Jedi no auge de seu poder, os cidadãos livres da
galáxia estão confiantes em sua habilidade de resistir a qualquer
tempestade. Mas mesmo a luz mais brilhante pode lançar uma
sombra, e algumas tempestades desafiam qualquer preparação.
Quando uma catástrofe chocante no hiperespaço despedaça uma
nave, a enxurrada de estilhaços que emergem do desastre ameaça
todo o sistema. Assim que o pedido de ajuda sai, os Jedi correm
para o local. O escopo do surgimento, no entanto, é o suficiente
para levar até os Jedi ao seu limite. Enquanto o céu se abre e a
destruição cai sobre a aliança pacífica que ajudaram a construir, os
Jedi devem confiar na Força para vê-los em um dia em que um
único erro pode custar bilhões de vidas. Mesmo enquanto os Jedi
lutam bravamente contra a calamidade, algo verdadeiramente
mortal cresce além dos limites da República. O desastre do
hiperespaço é muito mais sinistro do que os Jedi poderiam
suspeitar. Uma ameaça se esconde na escuridão, longe da era da
luz, e guarda um segredo.

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Star Wars – A Alta República – O Grande Resgate
Jedi

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Conheça os nobres e sábios Jedi da Alta República! Quando um


desastre acontece no hiperespaço, colocando o povo de Hetzal
Prime em grave perigo, apenas os Jedi da Alta República podem
salvar o dia! Esse ebook é a forma mais incrível de introduzir as
crianças nessa nova Era da Alta República, pois reconta a história
do Ebook Luz dos Jedi de forma simples e didática para as crianças.
(FAIXA ETÁRIA: 5 a 8 anos)

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Star Wars – A Alta República – Na Escuridão

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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo


da Ameaça Fantasma . . . Os Jedi iluminaram o caminho para a
galáxia na Alta República. Padawan Reath Silas está sendo enviado
da cosmopolita capital galáctica de Coruscant para a fronteira
subdesenvolvida, e ele não poderia estar menos feliz com isso. Ele
prefere ficar no Templo Jedi, estudando os arquivos. Mas quando a
nave em que ele está viajando é arrancada do hiperespaço em um
desastre que abrange toda a galáxia, Reath se encontra no centro
da ação. Os Jedi e seus companheiros de viagem encontram refúgio
no que parece ser uma estação espacial abandonada. Mas então
coisas estranhas começaram a acontecer, levando os Jedi a
investigar a verdade por trás da estação misteriosa, uma verdade
que pode terminar em tragédia …

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Star Wars – A Alta República – Um Teste de
Coragem

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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo


da Ameaça Fantasma . . . Vernestra Rwoh é mais nova Cavaleira
Jedi com dezesseis anos, mas a sua primeira missão de verdade
parece muito com ser babá. Ela foi encarregada de supervisionar a
aspirante a inventora Avon Starros, de 12 anos, em um cruzador
rumo à inauguração de uma nova estação espacial maravilhosa
chamada Farol Estelar. Mas logo em sua jornada, bombas explodem
a bordo do cruzador. Enquanto o Jedi adulto tenta salvar a nave,
Vernestra, Avon, o droide J-6 de Avon, um Padawan Jedi e o filho
de um embaixador conseguem chegar a uma nave de fuga, mas as
comunicações acabam e os suprimentos são poucos. Eles decidem
pousar em uma lua próxima, que oferece abrigo, mas não muito
mais. E sem o conhecimento deles, o perigo se esconde na selva…

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Star Wars – A Alta República – Corrida para Torre
Crashpoint

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Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo


da Ameaça Fantasma . . . Padawan Ram Jomaram quer cuidar das
suas atividades em paz, mas o droide V-18 vem trazer notícias
sobre a queda das comunicações. Contudo os outros Jedi estão
resolvendo outros problemas e ele é o único disponível para
resolver a situação.

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Star Wars: Velha República – Enganados

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“Nossa hora chegou. Durante trezentos anos nos preparamos;


ficamos mais fortes enquanto você descansava em seu berço de
poder... Agora sua República cairá.” Um guerreiro Sith para rivalizar
com o mais sinistro dos Lordes Sombrios da Ordem, Darth Malgus
derrubou o Templo Jedi em Coruscant em um ataque brutal que
chocou a galáxia. Mas se a guerra o coroasse como o mais sombrio
dos heróis Sith, a paz o transformará em algo muito mais hediondo,
algo que Malgus nunca gostaria de ser, mas não pode parar de se
tornar, assim como ele não pode impedir a Jedi desobediente de se
aproximar rapidamente. O nome dela é Aryn Leneer - e o único
Cavaleiro Jedi que Malgus matou na batalha feroz pelo Templo Jedi
era seu Mestre. Agora ela vai descobrir o que aconteceu com ele,
mesmo que isso signifique quebrar todas as regras da Ordem.

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Star Wars: Thrawn – Traição

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Essa foi a promessa que o Grão Almirante Thrawn fez ao Imperador


Palpatine em seu primeiro encontro. Desde então, Thrawn tem sido
um dos instrumentos mais eficazes do Império, perseguindo os seus
inimigos até os limites da galáxia conhecida. Mas por mais que
Thrawn tenha se tornado uma arma afiada, o Imperador sonha com
algo muito mais destrutivo. Agora, enquanto o programa TIE
Defender de Thrawn é interrompido em favor do projeto
ultrassecreto conhecido apenas como Estrelinha, do Diretor Krennic,
ele percebe que o equilíbrio de poder no Império é medido por mais
do que apenas perspicácia militar ou eficiência tática. Mesmo o
maior intelecto dificilmente pode competir com o poder de aniquilar
planetas inteiros. Enquanto Thrawn trabalha para garantir o seu
lugar na hierarquia Imperial, seu ex-protegido Eli Vanto retorna com
um terrível aviso sobre o mundo natal de Thrawn. O domínio da
estratégia de Thrawn deve guiá-lo através de uma escolha
impossível: dever para com a Ascendência Chiss ou a fidelidade
para com o Império que ele jurou servir. Mesmo que a escolha certa
signifique cometer traição.

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