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Documentação Teórica
Margarida M. S. Bastos
Este documento apresenta apenas umas breves notas introdutórias aos primeiros capítulos da Unidade
Curricular (UC) de Química Orgânica I lecionada aos estudantes de Licenciatura em Engenharia Química
da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Este documento baseou-se na consulta a diferentes obras de referências usadas ao longo dos vários anos
de lecionação da Química Orgânica. No entanto não pretende ser um texto base para esta UC e não
dispensa a consulta da bibliografia aconselhada na ficha da UC.
2.1 Hidrocarbonetos.............................................................................. 10
i
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3 Estereoquímica ..................................................................................... 45
6 Bibliografia .......................................................................................... 90
ii
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O mito da força vital foi assim destruído e a síntese orgânica fez seguidamente rápidos progressos. Não
somente se sintetizaram muitos compostos idênticos aos naturais como se fabricaram muitos outros
compostos que nunca existiram na natureza. Alguns números darão uma ideia do desenvolvimento
extraordinário da química orgânica: em 1880, deveriam ser conhecidos cerca de 12 000 compostos
orgânicos; em 1910, cerca de 150 000; em 1940, 500 000 e, actualmente, mais de 8 milhões.
Então porque é que se continuam a chamar "orgânicos" compostos puramente sintéticos e porque é que
uma substância de síntese é antes orgânica que mineral?
A definição actual de química orgânica perdeu todo e qualquer fundamento filosófico. É a química dos
compostos de carbono (à exceção, contudo, de CO, CO2, dos carbonatos, cianetos, carbonetos e alguns
Título do Anexo 3
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ou o clorometano, CH3Cl.
H H
H C H H C Cl
H H
Mas a principal característica do átomo de carbono que o distingue de todos os outros elementos (exceto
o silício) e explica o seu papel primordial na origem e evolução da vida, é a capacidade de partilhar pares
de eletrões com outros átomos de carbono para formar ligações covalentes carbono - carbono. Este
fenómeno permite a formação de cadeias com milhares de átomos ou anéis de qualquer tamanho; tanto
as cadeias como os anéis se podem ramificar ou ligar uns aos outros. Aos átomos de carbono destas
cadeias e anéis podem ligar-se outros átomos como o hidrogénio, oxigénio, azoto, enxofre, fluor, cloro,
bromo, iodo, fósforo...
Cada arranjo diferente dos átomos corresponde a um composto diferente e cada composto apresenta um
conjunto característico de propriedades físicas e químicas. Não admira, pois, que o estudo destes
compostos constitua, por si só, domínio especial química.
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A química orgânica está presente em toda a nossa vida quotidiana. Deve-se, contudo, reconhecer que, se
muito lhe devemos no progresso e melhoria das condições de vida, existem também consequências
menos felizes do estado de desenvolvimento a que ela chegou: os múltiplos problemas de poluição por
compostos orgânicos (inseticidas, pesticidas, detergentes...), o uso abusivo de corantes nos produtos
alimentares, etc. Mas, de quem é a culpa, da química orgânica ou dos homens...?
Estamos, hoje, bem longe da definição original da química orgânica. Pode-se, contudo, observar que as
matérias-primas para o fabrico da vasta série de produtos orgânicos de síntese têm, mais ou menos
diretamente, três origens: o petróleo, o carvão e o gás natural (substâncias fósseis); podemos, pois, dizer
que todos estes compostos conservam uma (longínqua) origem "orgânica" no sentido etimológico e
original do termo.
H H H
H C C C H CH 3CHCH 3 CH 3CH(OH)CH 3
H O H OH
H
CH 3CHOHCH3 ou (CH 3)2 CHOH
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CH3
H2
H 3C C
N CH2 N
(CH 3)2 NCH2CH 3
CH3
H2
H 3C CH CH3 C
C C
H2
CH 3 H2C CH2
Para a mesma fórmula molecular podem ser representadas várias estruturas. As duas estruturas seguintes
representam um exemplo de isómeros constitucionais. São compostos diferentes, com a mesma fórmula
molecular; diferem no modo como os átomos estão ligados entre si.
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1.6 Ressonância
Uma mesma molécula pode ser representada por várias estruturas diferentes. O ião carbonato é um dos
exemplos. Pode ser representado pelas três estruturas (1, 2 e 3) diferentes mas equivalentes: podemos
interconvertê-las mudando apenas a posição dos eletrões. São estruturas contribuintes (ou de
ressonância). Essas estruturas não têm existência real; a verdadeira molécula (ou ião) é um híbrido das
hipotéticas estruturas de ressonância
O O O
C C C
O O O O O O
1 2 3
As forças intramoleculares são aquelas que mantém os átomos unidos na molécula. As forças
intermoleculares são aquelas que mantém as moléculas unidas, sendo as responsáveis pelas propriedades
volúmicas da matéria. No esquema seguinte são apresentados os vários tipos de forças intermoleculares.
As forças de dispersão são de raio de ação curto, atuando entre regiões, nomeadamente a superfície das
moléculas. As Pontes ou Ligações de hidrogénio são um tipo especial de forças dipolo-dipolo (dipolos
permanentes em oposição aos dipolos induzidos).
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Forças intermoleculares
O tetracloreto de carbono ou tetraclorometano é uma molécula apolar, o seu momento dipolar é nulo
(=0 D). O clorometano, a água e o amoníaco são exemplos de moléculas polares ((≠0 D).
Moléculas diatómicas - Uma ligação covalente entre dois átomos de diferente eletronegatividade
dá origem a uma molécula polar caracterizada pelo momento dipolar (≠0 D), enquanto que uma
ligação covalente entre átomos de igual eletronegatividade tem momento dipolar nulo:
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tal, possui um valor numérico e uma direção, sendo a soma vetorial dos momentos dipolares
associados a cada ligação
Compostos apolares –o tipo de forças intermoleculares são dipolo induzido
Compostos polares – normalmente poderá existir uma parte polar e uma parte apolar,
coexistindo vários tipos de forças intermoleculares na mesma molécula:
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2.1 Hidrocarbonetos
Os hidrocarbonetos são compostos constituídos exclusivamente por C e H. São a base estrutural dos
compostos orgânicos e podem agrupar-se em 2 grandes grupos: alifáticos e aromáticos. O esquema
seguinte apresenta uma divisão dos hidrocarbonetos alifáticos:
Todos os hidrocarbonetos podem conter cadeias laterais tornando-se ramificados. Podem apresentar
estruturas compostas por vários ciclos e com alguma semelhança a certos sólidos: os hidrocarbonetos
policíclicos em ponte.
Os alcanos possuem apenas ligações simples entre os átomos de carbono: uma ligação sigma (), os
carbonos têm hibridação sp3 apresentando estrutura tetraédrica com ângulos da ligação de 109,5°.
Os alcenos possuem ligações duplas entre os átomos de carbono: uma ligação sigma () e uma ligação pi
(), os carbonos têm hibridação sp2. Os seis átomos da dupla ligação são coplanares, formando ângulos
de cerca de 120°.
Os alcinos possuem ligações triplas entre os átomos de carbono: uma ligação sigma () e duas ligações pi
(). Os carbonos da tripla ligação têm hibridação sp, apresentando os quatro átomos uma disposição
linear, com ângulos de ligação de 180°.
A maioria dos Compostos aromáticos ou Arenos são compostos carbocíclicos de seis membros (derivados
do benzeno); os carbonos com hibridação sp2.
Exemplos:
2-metilbutano hidrocarboneto alifático,
CH3 - CH2 - CH - CH3
saturado de cadeia ramificada.
CH3 É um alcano (ou parafina)
propeno CH2 = CH CH3 hidrocarboneto alifático, insaturado, linear-
É um alceno (ou olefina)
but-1-ino CH3CH2C≡CH hidrocarboneto alifático insaturado, linear.
É um alcino.
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CH 2 CH 2
hidrocarboneto alifático, saturado, cíclico.
ou É um cicloalcano
CH 2 CH 2
ciclobutano
CH2-CH 3
benzeno 2-etilnaftaleno
(hidrocarboneto aromático) (hidrocarboneto aromático)
cubano basquetano
Corno se pode observar, as propriedades físicas dos hidrocarbonetos dependem da massa molecular do
composto (formula molecular) mas também da existência de ramificações na sua estrutura (vários
exemplos na Tabela 2.1). As propriedades físicas dependem ainda da geometria da molécula: compostos
com ligações duplas podem apresentar estereoisomeria cis-trans. O cis-but-2-eno e o trans-but-2-eno são
um exemplo de estereoisómeros, apresentando estes dois compostos propriedades físicas diferentes
(Tabela 2.2).
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Os arenos são uma classe de polienos que diferem distintamente dos alcenos (não sofrem reações de
adição à dupla ligação), as suas propriedades químicas estão associadas ao fenómeno de aromaticidade,
reagindo vulgarmente por substituição electrófila
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Naftaleno 80 218
Antraceno 217 354
Fenantreno 101 340
Pireno 150
2-Metilnaftaleno 38 240
C40 aproximadamente. Os alcenos são raros no estado natural. Obtêm-se industrialmente a partir do
petróleo por "craking" dos alcanos (craking catalítico). Os alcinos não existem praticamente no estado
natural e são normalmente obtidos sinteticamente a partir de outros compostos orgânicos (derivados di-
halogenados) ou do acetileno. O acetileno (etino) obtém-se a partir de matérias-primas minerais.
Uma das etapas de refinação do Petróleo é a uma destilação fracionada (Figura 2.1) que separa o petróleo
bruto em vários componentes. À medida que o vapor quente do petróleo bruto sobe, condensa-se, e os
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vários componentes de petróleo bruto separam-se de acordo com os seus pontos de ebulição, sendo
recolhidos em diferentes frações recolhidas entre gamas de temperatura definidas.
Dado que a composição de petróleo bruto não é igual, dependendo da região do globo onde é extraído,
os intervalos de recolha das diferentes frações do petróleo podem também variar e diferem nas várias
empresas de fazem a refinação do petróleo (Refinarias). Na Tabela 2.4 encontram as várias frações
recolhidas na destilação fracionada do petróleo bruto bem como a sua composição e a gama de
temperatura a que são recolhidas.
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No diagrama seguinte são apresentados produtos intermediários e produtos finais obtidos a partir do
hidrocarboneto insaturados mais simples, o eteno ou etileno.
O
i da
Poliésteres
Ox
ETILENO
ção
rata Etanol (C2 H5 OH)
Hid Solvente; síntese
Ha
log
en
açã
o Estofos, pavimentos, malas
Cloreto de vinilo PVC isoladores eléctricos, garrafas
CH2 = CHCl
Ac
eti
laç
ão
Alqu
Acetato de vinilo
polivinilo Transparências (acetatos)
CH 2=CH-O-COCH 3
o
Estes derivados resultam da substituição de um ou mais átomos de hidrogénio dum hidrocarboneto por
um halogéneo: cloro, bromo, iodo ou, mais raramente, flúor. Os carbonos apresentam hibridação sp3,
sendo a ligação carbono— halogéneo uma ligação sigma sp3-p. São classificados em primários,
secundários e terciários de acordo com o número de átomos de carbono diretamente ligados ao átomo
que suporta a ligação ao halogéneo.
A maioria são compostos apolares e insolúveis em água, mas são bons solventes de numerosos compostos
orgânicos, entre outros das gorduras.
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Na tabela 2.6 apresentam-se as propriedades físicas de alguns haloalcanos. Pode-se observar que se
verifica um aumento do ponto de ebulição com o aumento do número atómico de halogéneo e com o
aumento do número de átomos de carbonos (efeito do aumento da massa molecular). O ponto de
ebulição também varia com a posição do halogéneo na cadeia carbonada. A densidade dos haloalcanos
varia com o átomo e número de átomos de halogéneo presentes no composto.
Constituem a classe de compostos orgânicos cujas aplicações são as mais diversas e mais numerosas, nos
domínios agrícola, industrial, médico e doméstico. Além de serem utilizados como intermediários de
síntese (permitem preparar uma grande diversidade de outros compostos), empregam-se também como:
i)solventes (tricloroetileno ClCH=CCl2, clorofórmio CHCl3, etc.), ii) anestésicos (clorofórmio), iii) fluidos
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extintores (brometo de metilo BrCH3, tetraclorometano CCl4), frigoríficos e propulsores das bombas para
Mas as aplicações mais importantes, pelo menos do ponto de vista das quantidades utilizadas, referem-
se aos inseticidas (D.D.T. ou diclorodifeniltricloroetano, HCH ou hexaclorociclo-hexano, etc.) e às matérias
plásticas (PVC. ou poli(cloreto de vinilo).
Apesar do interesse ligado ao uso dos inseticidas, do PVC e dos fréons não se deve deixar de evocar aqui
os graves problemas ecológicos ligados a estas utilizações.
H
O 1,03A H Água
109,5 0,94A
C O
H 1,34A H O
~106 H
H H
Os álcoois podem ser classificados em primários, secundários e terciários de acordo com o número de
átomos de carbono diretamente ligados ao átomo que suporta a ligação ao oxigénio. Os polióis são
compostos que apresentam vários grupos -OH por molécula (por exemplo os hidratos de carbono ou
açucares).
Os enóis e alcenóis são também exemplos de compostos que também possuem o grupo hidroxilo e,
apesar de ambos os compostos assim designados possuírem dupla ligação C—C e grupo hidroxilo, eles
não são sinónimos. Os enóis possuem um grupo hidroxilo diretamente ligado a um dos carbonos da dupla
ligação (HO-CH=CH-CH3) enquanto que nos alcenóis o grupo hidroxilo não está ligado a um carbono de
dupla ligação (CH2=CH-CH2-OH). No esquema abaixo podem encontram diferentes tipos de álcoois bem
como exemplos de vários fenóis não apenas derivados do benzeno, mas também de outros
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hidrocarbonetos aromáticos, como por exemplo do naftaleno (1-naftol). Existem vários compostos com o
grupo fenólico, mas também existe um composto cujo nome é o Fenol (C6H5OH)
CH 2 = CH - CH2 - OH OH
Fenol
CH 2 CH 2
OH
CH 2 CH-OH
1-Naftol
(-naftol)
CH 2OH OH
ALCOOIS
FENOIS
CH 3CHCH 2CH 3
OH 9,10-Antradiol
OH
CH 3
CH 3CH 2 OH
CH 3CCH2CH 3
OH
OH
CH 2OHCH2 OH OH
CH 2OHCHOHCH2 OH Catecol
Da observação da Tabela 2.7 pode-se verificar o aumento do ponto de ebulição com o aumento do
número de átomos de carbono e que a diminuição do ponto de ebulição de acordo com seguinte
sequência:
Os fenóis são líquidos com altos pontos de ebulição ou sólidos. Tanto os álcoois como os fenóis são
solúveis nos solventes orgânicos vulgares. Os álcoois com menos de 5C (C5) e os fenóis de baixa massa
molar são solúveis em água, diminuindo a solubilidade com o aumento do número de átomos de carbono.
O facto de a solubilidade em água ser muito superior à dos hidrocarbonetos (apolares) e dos derivados
halogenados (mais polares que os álcoois) deve-se à possibilidade de formação de ligações de hidrogénio
por parte do grupo -OH. A solubilidade em água aumenta com o número de grupos hidroxilo.
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O número de grupos hidroxilos presentes também afeta a densidade em água: os álcoois mono-
hidroxilados (mono-OH) são menos densos enquanto que os polióis são mais densos.
Os éteres caracterizam-se pela existência de um átomo de oxigénio ligando entre si dois grupos (alquilo
ou arilo); os átomos de carbono apresentam hibridação sp3. O ângulo de ligação C—O—C é superior ao
da ligação C—O—H (106°) sendo ainda superior a 109,5°. Os éteres podem ser lineares ou cíclicos
(compostos heterocíclicos).
O O
H 3C CH3 C2 H5 C2 H5
111 110
Os Epóxidos são um exemplo de compostos contendo um anel de 3 átomos sendo um oxigénio e dois
carbonos. Existem outros éteres cíclicos com variado número de átomos no anel.
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H 2C CH 2
O
Óxido de etileno (oxirano)
O
O O O O O
Oxano Dioxano Tetraidrofurano Furano Pirano
A maioria dos éteres são menos densos que a água e são relativamente inertes, sendo portanto muito
utilizados como solventes. No entanto são suscetíveis de possuírem peróxidos (explosivos) devido a
reagirem lentamente com o O2.
Um dos éteres mais importantes é o éter etílico (éter dietílico ou etoxietano) utilizado vulgarmente como
anestésico, como solvente em extrações e na preparação de reagentes de Grignard. É um líquido
altamente volátil e o vapor é facilmente inflamável; daí o risco de fogo e explosão se não se observarem
as devidas cautelas na sua utilização
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2.5 Aminas
As aminas possuem um átomo de nitrogénio diretamente ligado a um, dois ou três grupos alquilo (R) ou
arilo (Ar). São moderadamente polares. Apresentam arranjo piramidal dos seus átomos, possuindo os
átomos de carbono e azoto uma hibridação sp3 (ligação sigma sp3-sp3). Nas aminas, o ângulo de ligação
C—N—C está compreendido entre 107º (ângulo H—N—H no amoníaco) e 109,5 º e podem ser
consideradas derivados do amoníaco.
Podem ser classificadas em aminas primárias, aminas secundárias e aminas terciárias de acordo com o
número de átomos de carbono diretamente ligados ao átomo de nitrogénio. Abaixo estão representadas
alguns exemplos de aminas.
As aminas de baixa massa molar são gases ou líquidos voláteis, com odor a peixe ou amoniacal: as
metilaminas e as etilaminas têm praticamente o mesmo cheiro que o amoníaco; as aminas de cadeia
maior cheiram nitidamente a peixe. Numa série homóloga, por exemplo CH3(CH2)nNH2, verifica-se o
aumento do ponto de ebulição, variando este de acordo com o número de grupos (-R) diretamente
ligados ao átomo de nitrogénio: o ponto de ebulição das aminas primárias é superior ao das aminas
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secundárias e superior ao das aminas terciárias. O ponto de ebulição das aminas é inferior ao dos
correspondentes álcoois (Tabela 2.9),
As aminas de baixa massa molecular (até C6) são solúveis em água (ligações de hidrogénio). São solúveis
em solventes como éter, álcool, benzeno. As aminas aromáticas são tóxicas, facilmente absorvidas pela
pele. São facilmente oxidadas pelo ar podendo aparecer coradas (são incolores quando puras) devido aos
produtos de oxidação.
As aminas são substâncias com características básicas, Lewis) originando compostos iónicos, solúveis em
água: reagindo com os ácidos (Bronsted e Lewis) originando compostos iónicos, solúveis em água.
As aminas constituem uma das classes mais importantes de compostos orgânicos. O par de eletrões não
ligantes (dupleto não compartilhado) do azoto permite-lhes participar num grande número de reações.
As aminas têm um papel proeminente nos sistemas biológicos; estão amplamente distribuídas na
natureza na forma de aminoácidos, alcaloides, vitaminas. Muitos derivados das aminas tem uma
pronunciada atividade fisiológica, por exemplo, a penicilina, o LSD, a novocaína, etc. A estruturas de
algumas dessas substâncias podem ser encontradas abaixo.
As aminas são também matéria-prima de numerosas fibras sintéticas usadas no vestuário, mas não
exclusivamente. Por exemplo a fibra sintética “nylon” pode ser produzida a partir de duas matérias-primas
sendo uma delas uma diamina, a hexametilenodiamina.
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Ambos os tipos de famílias de compostos contêm o grupo carbonilo: C=O. As cetonas possuem dois grupos
substituintes (R) diretamente ligados ao carbono enquanto que os aldeídos possuem um hidrogénio e um
grupo substituinte (R). Este grupo funcional apresenta um arranjo trigonal planar dos 4 átomos envolvidos
(ângulos de 120°); o átomo de carbono possui uma hibridação sp2, sendo as ligações: uma ligação sigma
() sp2-sp2 e uma ligação pi (). O grupo carbonilo é polar, possuindo um momento dipolar bastante
elevado ( = 2,3-2,8 D). Abaixo estão apresentadas as estruturas de alguns aldeídos e cetonas.
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Os primeiros membros da série homóloga (CH3(CH2)nCHO), são líquidos; verifica-se o aumento o ponto
de ebulição com o aumento do número de átomos de carbono (Tabela 2.10). Apresentam ponto de
ebulição superior ao dos hidrocarbonetos mas inferior ao dos álcoois. Tal deve-se ao facto de serem mais
polares dos que os hidrocarbonetos, no entanto a impossibilidade de estabelecer pontes de hidrogénio
justifica o menor ponto de ebulição relativamente aos álcoois. A maioria destes compostos são menos
densos que a água.
Os aldeídos e cetonas de menor massa molecular (cerca de cinco átomos de carbono) são solúveis em
agua (formação de ligações de hidrogénio).
Contem o grupo carboxilo, R-COOH. Este grupo apresenta um arranjo trigonal planar: os 5 átomos
envolvidos encontram-se todos no mesmo plano. O átomo de carbono possui hibridação sp 2, formando
ângulos de ligação de cerca de 120°. São compostos polares (alguns exemplos abaixo).
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Muitos dos ácidos carboxílicos comuns foram isolados pela primeira vez a partir de fontes naturais,
especialmente de gorduras, sendo por isso referidos muitas vezes como “ácidos gordos”. Os nomes
comuns, usados antes de serem conhecidas as suas estruturas químicas, referem-se às suas origens
naturais e não à sua estrutura.
A irritação resultante da picada duma formiga e devida em parte ao acido fórmico; o principal ingrediente
do vinagre e o acido acético (Latim: acetum, vinagre). O acido butírico (latim butyrum, manteiga) da a
manteiga rançosa o seu cheiro característico. O ácido valerico (C5) foi isolado da raiz da valeriana. Os
ácidos capróico (C6), caprílico (C8) e cáprico (C10) (Latim caper, cabra) são responsáveis pelo cheiro
desagradável das cabras. Na tabela 2.11 são apresentados os ácidos gordos mais frequentemente
encontrados na gordura animal e vegetal, fazendo parte dos Triglicerídeos (são que são triésteres de
ácidos gordos e de um triálcool, o glicerol ou propano-1,2,3-triol), e frequentemente são óleos. A
hidrogenação da ligação dupla C-C resulta em ácidos saturados (gorduras saturadas), sendo
frequentemente sólidas.
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Numa serie homologa (CH3(CH2)nCOOH) observa-se o aumento do ponto de ebulição com o aumento do
número de átomos de carbono (Tabela 2.12). Os primeiros membros da serie homologa (até C 8) são
líquidos ou sólidos de ponto de ebulição consideravelmente superior a outros compostos com
aproximadamente a mesma massa molar (Tabela 2.13). Tal situação deve-se à possibilidade de se formar
uma associação entre duas moléculas, formando “dímeros”. Os compostos de baixa massa molar (cerca
de 5 átomos de carbono) são solúveis em água e a sua solubilidade em água diminui com o aumento do
número de átomos de carbono. Os membros líquidos apresentam odores intensos e desagradáveis
enquanto que os sólidos são inodoros.
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Tabela 2.13- Comparação de propriedades físicas dos ácidos carboxílicos, haloalcanos e álcoois
São usados como intermediários de síntese. O mais importante de todos e, de longe, o ácido acético ou
etanóico, o qual e usado como reagente e/ou como solvente quer no laboratório quer na industria. Muitos
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ácidos e derivados são encontrados na natureza; desempenham papéis importantes no metabolismo dos
animais e das plantas. O acido acético, produto final de fermentação, e o composto de base fundamental
usado pelos organismos para a biossíntese duma vasta gama de produtos naturais, desde os ácidos gordos
a borracha natural.
A ligação em falta no átomo de carbono não poderá ser efetuada com outro átomo de carbono ou de
hidrogénio, mas sim por átomos de oxigénio, nitrogénio e halogénios. Abaixo são apresentadas as
unidades estruturais de vários derivados de ácido carboxílicos
São compostos do tipo RCOOM em que o M é um metal, tendo carga positiva localizando-se a carga
negativa nos átomos de oxigénio, como apresentado no sal de prata e sal de sódio abaixo representados.
Os sais de ácidos carboxílicos são sólidos cristalinos, formados por iões. São compostos de pontos de fusão
elevados (no geral, decompõem-se antes de fundir). Os sais de metais alcalinos e amónio são solúveis em
água e insolúveis em solventes não polares enquanto que os sais de metais pesados (ferro, prata, cobre, etc.)
são insolúveis em água.
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As unidades estruturais destes dois derivados de ácidos carboxílicos encontram-se representadas abaixo,
onde X representa qualquer halogénio, sendo os cloretos de ácido os halogenetos mais frequentes.
Alguns exemplos destes dois tipos de derivados estão representados nas estruturas seguintes.
Muitos dos halogenetos de ácido (ou acilo) são líquidos, muito reativos. A maioria dos anidridos são
líquidos ou sólidos. Numa serie homologa o ponto de ebulição aumenta com o número de átomos de
carbono (Tabela 2.14). Nos halogenetos de acido o aumento do número atómico do halogéneo provoca
também aumento do ponto de ebulição. O ponto de ebulição dos halogenetos é inferior ao dos ácidos
carboxílicos correspondentes (ausência de ligações de hidrogénio), Tabela 2.15. Na Tabela 2.16 é
apresentada a comparação do ponto de ebulição de alguns destes derivados com outras substâncias que
possuem a mesma massa molar mas de diferentes famílias. Substâncias com estes grupos funcionais são
frequentemente utilizadas como intermediários sintéticos.
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Tabela 2.16 - Comparação de pontos de ebulição de compostos com massa molecular aproximada
Os ésteres são derivados lineares dos ácidos carboxílicos. As lactonas são ésteres cíclicos. São designadas
por letras gregas (,) de acordo com a posição do grupo hidroxilo, relativamente ao grupo ácido
carboxílico, que sofre esterificação intramolecular. Alguns ésteres bem como lactonas são representadas
abaixo.
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Os ésteres são geralmente insolúveis em água e têm pontos de ebulição ligeiramente mais elevados que
os hidrocarbonetos de massa molar relativamente semelhantes e ligeiramente mais baixos que os ácidos
carboxílicos de massa molar semelhante (Tabela 2.17).
Tabela 2.17- Comparação de pontos de ebulição de compostos com massa molecular aproximada
O ponto de ebulição é inferior ao dos correspondentes álcoois, semelhante ao dos aldeídos e superior ao
dos hidrocarbonetos de igual massa molecular.
Os esteres mais comuns são líquidos voláteis e tem cheiros característicos a frutos. Conjuntamente com
as cetonas, são responsáveis pelo aroma e sabor de muitos frutos, flores e temperos artificiais. Por
exemplo o aroma e sabor do acetato de isopentilo assemelham-se aos das bananas, o do valerato de
isopentilo aos das maçãs, etc.
Os acetatos de etilo e butilo são usados como solventes industriais, especialmente na formulação de lacas.
Os ésteres de ponto de ebulição mais elevados são usados como plastificantes para resinas e plásticos
(alguns destes são poliésteres).
As gorduras naturais, os óleos e as ceras são ésteres (conhecidos genericamente por lípidos). As ceras são
misturas complexas de álcoois, ácidos e alguns alcanos de cadeia longa, mas os principais componentes
são ésteres formados a partir de ácidos gordos e álcoois de cadeia longa. Por exemplo, na cera de abelha,
o principal ingrediente é o palmitato de mericilo:
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Documentação Teórica Química Orgânica I 2021-2022
As gorduras (sólidas) e os óleos (líquidos) são ésteres formados a partir do glicerol e de ácidos gordos de
cadeia longa (C12-C22), podendo os ácidos serem saturados ou insaturados. Estes esteres chamam-se
frequentemente Triglicerídeos ou Glicéridos, estando abaixo a sua representação geral.
Os ácidos gordos encontrados nas gorduras e óleos podem ser saturados ou insaturados e os mais
importantes são os seguintes:
Os óleos contêm uma maior percentagem de glicéridos de ácidos gordos insaturados (com ligações
duplas C=C) do que as gorduras. Por exemplo C18:1 significa que o ácido gordo possui 18 carbonos e uma
ligação dupla (no caso do ácido oleico localizada nos carbonos 9 e 10). A posição das ligações duplas C=C
pode ser indicada pela letra grega colocando em índice a numeração do primeiro dos dois átomos de
carbono que estabelecem a ligação dupla.
As amidas constituem as unidades estruturais que unem os aminoácidos nas proteínas. As amidas podem
ser representadas pelas 2 estruturas de ressonância I e II. A perda de um protão da estrutura II permite
compreender as características ligeiramente ácidas apresentadas pelas amidas-
As amidas, assim como as aminas, podem também ser classificadas como primárias, secundárias ou
terciárias consoante o número de átomos de carbono diretamente ligados ao átomo de nitrogénio. As
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lactamas são amidas cíclicas e são designadas por letras gregas (,) de acordo com a posição do
grupo amino, relativamente ao grupo ácido carboxílico, que sofre condensação intramolecular. Abaixo
são apresentadas alguns exemplos de amidas e de lactamas.
A maioria deste tipo de compostos são sólidos ou líquidos de altos pontos de ebulição. As amidas sem
substituintes ou com um substituinte no átomo de azoto apresentam maior ponto de ebulição que as
amidas N,N-dissubstituidas (impossibilidade de formação ligações de hidrogénio). Na Tabela 2.18 é
apresentada a comparação do ponto de ebulição de amidas e dos correspondentes ácidos carboxílicos.
A explicação pelos pontos de ebulição superior nas amidas relativamente aos pontos de ebulição dos
correspondentes ácidos carboxílicos está relacionada com o facto de as amidas poderem formar ponte de
hidrogénio extensas, enquanto que os ácidos carboxílicos formam “dímeros”.
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R N
O H O H
R
R R O
O
H
O H O O N
H
R N H
H
2.8.2 Imidas
As imidas contêm dois grupos acilo ligados ao mesmo átomo de azoto, exemplificado pelas estruturas da
ftalimida e da succinimida.
Os nitrilos e os isocianetos são dois exemplos de famílias de compostos com ligações múltiplas entre
átomos de carbono e azoto. Os isocianetos são conhecidos pelas suas propriedades pouco usuais e odores
extremamente desagradáveis. Juntamente com o monóxido de carbono são dos poucos compostos de
carbono divalente que são estáveis. A estabilidade destes compostos é devida, em parte, às contribuições
das formas de ressonância polares.
Os nitrilos possuem uma ligação tripla entre um átomo de azoto e o átomo de carbono, apresentando uma
geometria linear. A ligação tripla C—N é mais forte (E =212 kcal) que a ligação tripa C—C (E = 200 kcal)
e mais polar (=4,0D).
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Documentação Teórica Química Orgânica I 2021-2022
De seguida são apresentadas algumas estruturas pertencentes a estas 2 famílias de grupos funcionais.
Os nitrilos apresentam pontos de ebulição ligeiramente mais altos que os dos álcoois de massa molecular
relativa comparável. São razoavelmente solúveis em água. O acetonitrilo é usado com como solvente. São
moderadamente tóxicos.
O grupo nitro (—NO2) é semelhante eletronicamente ao anião carboxilato (—CO2-) e pode ser escrito em
duas formas de ressonância equivalente, I e II..
I II
O grupo nitro é altamente polar (~3,5-4,2 D). Os compostos nitro são substâncias polares, com elevados
pontos de ebulição, mas com solubilidades em água surpreendentemente baixas. Alguns compostos simples
que contem o grupo nitro são úteis como reagentes e solventes. Alguns dos compostos que contem o grupo
nitro estão entre as classes mais importantes de explosivos (TNT). Os compostos que contêm o grupo
nitroso (—N=O) são raros. Os compostos C—nitroso primários e secundários são instáveis, dimerizam ou
rearranjam-se às oximas tautoméricas.
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Compostos heterocíclicos são aqueles que possuem outros átomos no anel além de carbono (nitrogénio,
enxofre e oxigénio, são os mais comuns). A seguir apresentam-se numerosos exemplos, sendo
frequentemente conhecidos pelos seus nomes comuns
Numerosos compostos naturais apresentam um ou mais heterociclos na sua estrutura. Apresentam-se alguns
exemplos bem conhecidos.
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As principais propriedades que vão ser analisadas são: o ponto de fusão, ponto de ebulição e a
solubilidade. Essas propriedades físicas dependem da estrutura molecular e das forças intermoleculares
que possam ser estabelecidas (já verificado durante a apresentação dos vários grupos funcionais). Na fig.
2.4 e no seguinte esquema apresentam-se exemplos das forças intermoleculares existentes entre
moléculas contendo os diferentes grupos característicos.
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De um modo sucinto serão analisados os vários tipos de compostos, iónicos e não iónicos, e dentro destes
últimos a situação de moléculas apolares e polares.
Composto iónico
Forças electrostáticas fortes, estrutura cristalina ordenada => ponto de fusão elevado
ponto de ebulição muito elevado;
normalmente o composto
decompõe-se antes de entrar em
ebulição.
Como exemplo o acetato de sódio, CH3COO-Na+ possui um ponto de fusão elevado (P.F. = 324 °C) e não é
possível detetar se observar o ponto de bulição à pressão atmosférico, dado o facto de ocorrer a
decomposição da substânica.
Molécula apolar
Forças de van der Waals (dipolo induzido) fracas => pontos de fusão e de ebulição muito
mais baixos que os dos compostos iónicos.
Como exemplos:
metano, CH4 p.f. = - 183 °C; p.e.= -162 °C
etano CH3CH3 p.e. = - 88,2°C => efeitos: da massa molecular e
decano CH3(CH2)8CH3 p.e. = + 174°C do tamanho da molécula
Na figura abaixo é apresentada a relação entre o número de átomos de carbono em alcanos lineares e 3
propriedades físicas: ponto de fusão, ponto de ebulição e densidade.
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-ponto de fusão: o crescimento não é gradual com o aumento da massa molecular: as cadeias dos
alcanos com número par de átomos de carbono estão mais próximas, no estado cristalino, que as de
número impar; daí, as forças atrativas serem maiores entre cadeias, e o ponto de fusão mais alto.
Efeito de Ramificação: a presença de ramificações num alcano faz diminuir o ponto de ebulição
relativamente a um isómero linear, exemplificado nos pontos de ebulição do pentano e do neopentano.
Moléculas polares
Existem interações do tipo atrações dipolo – dipolo e pontes de hidrogénio que justificam os pontos de
fusão mais elevados que os dos compostos apolares e que justificam também os diferentes pontos de
ebulição entre distintos compsotos polares, como o etanol e o metoximentano. Na tabela 2.19 é
apresentada a comparação do ponto de ebulição de alguns hidrocarbonetos (compostos apolares) e dos
correspondentes álcoois (compostos polares). Na Tabela 2.20 é alargada essa comparação aos
haloalcanos e éteres.
Como exemplos:
etanol CH3CH2OH p.e.= +78,3 °C
metoximetano CH3-O-CH3 p.e. = - 25 °
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2.9.2 Solubilidade
Os solventes polares podem ser classificados em apróticos (não possuem um átomo de hidrogénio para
formar pontes de hidrogénio) ou próticos (possuem um átomo de hidrogénio que pode estabelecer
pontes de hidrogénio). Como regra: “semelhante dissolve o semelhante”.
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Compostos iónicos
A solubilidade em água dos compostos iónicos é efetuada pela solvatação dos iões (hidratação) pelas
moléculas do solvente (água). Na Figura abaixo é apresentada a solvatação pelas moléculas de água quer
dos aniões quer dos catiões do composto iónico estando evidenciada a orientação do polo negativo da
água (localizado no átomo de oxigénio) para o catião enquanto que a solvatação do anião é efetuada pela
orientação do polo positivo da molécula de água localizado nos átomos de hidrogénio.
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Moléculas polares
Assim como os compostos iónicos, também os compostos polares têm tendência a dissolverem-se em
solventes polares. Os líquidos polares são, geralmente, miscíveis entre si, em todas as proporções (ex:
água e etanol). Tal deve-se ao estabelecimento de pontes de hidrogénio entre o etanol e a água, abaixo
esquematizadas.
Moléculas apolares
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Os sólidos apolares são solúveis em solventes apolares e insolúveis em solventes polares e líquidos
apolares são mutuamente miscíveis, mas líquidos polares e apolares não se misturam.
Na tabela 2.21 é apresentada a comparação da solubilidade em água de va´rios compostos com maasa
molar semelhante. A solubilidade do etoxietano é semelhante à do butan-1-ol em virtude de ambos os
compostos possuírem simultaneamente a mesma massa molar e de poderem estabelecer pontes de
hidrogénio com a água. O pentano, apesar de possuir a mesma massa molecular que os outros dois
compostos, não tem a possibilidade de formar pontes de hidrogénio com a água. Tal facto resulta na sua
baixa solubilidade em água, bem como na dos outros alcanos em água.
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3 Estereoquímica
3.1 Modelos estereoquímicos e Representações estereoquímicas
Existem vários modelos para reconstruir as moléculas orgânicas: “Bola e barra”, “Dreiding” e “Em calotes”.
Apresentam-se duas moléculas simples representadas por esses três processos: etano e ciclo-hexano.
Etano
Ciclo-hexano
Existem diferentes tipos de representações das moléculas orgânicas: i) em “cunha e asa voadora”; ii)
projeção de Newman; iii) projeção de Fisher e iv) em “cavalete serrador”. A seguir, o etano encontra-se
representado nessas quatro modalidades.
Etano:
H H H H
H
ou
H H H "asa voadora" ou
H H H H " cunha voadora"
H
H H
H H
"Newman"
H
H H H H
H H
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"Projecção de Fisher"
"cavalete serrador"
3.2 Isomerismo
São duas as grandes classes de isómeros (compostos diferentes mas com a mesma fórmula molecular):
-Isómeros Estruturais ou Constitucionais - contem a mesma formula molecular, mas diferente sequencia
atómica;
- Estereoisómeros - contem a mesma formula molecular e sequencia atómica, mas diferente arranjo
espacial entre os átomos.
O esquema seguinte apresenta a divisão dos vários tipos de estereoisomerismo. A distinção entre o
conformacional e o configuracional baseia-se na possibilidade de diferentes arranjos espaciais se
interconverterem por rotação de uma ligação simples à temperatura ambiente (conformacional). No
estereoisomerismno configuracional a conversão entre dois arranjos espaciais diferentes exige a quebra
de ligações. Os enantiómeros são estereoisómeros relacionados um com o outros como um objeto para a
sua imagem especular (imagem num espelho plano) e não são sobreponíveis. Os diastereoisomeros não
são enantiomeros; num par de diatereoisomeros um membro não é a imagem especular do outro.
Nos estereoisómeros geométricos a conversão de um composto noutro não tem possibilidade de ser
efectuada por simples rotação, exigindo a quebra de ligações C—C. Estes estereoisómeros são
frequentemente designados por isómeros cis-trans. Na tabela 3.1 são apresentadas as propriedades
físicas de vátios pares de isómeros cis-trans. Como se pode observar, este tipo de isómeros apresentam
propriedades físicas distintas.
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A reatividade dos dois compostos de um par de isómeros cis-trans também é afetada pela geometria da
molécula. Os dois isómeros do ácido but-2-enodioico necessitam de temperaturas bem diferentes para
sofrerem desidratação ao respetivo anidrido e apresentam constantes de acidez (Ka1 e Ka2) bem distintas
(Tabela 3.2).
O
H COOH H C
100 C
ác. maleico O
H COOH H C
O
anidrido maleico
H COOH
HOOC H
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A estabilidade dos isómeros geométricos dos alcenos pode ser avaliada pelos seus calores de
hidrogenação e de combustão (quando a hidrogenação dos alcenos isoméricos não produz os mesmos
alcanos). Verifica-se que o isómero trans do but-2-eno é mais estável que o respetivo isómero cis. Na
conversão ao alcano respetivo, butano, o trans -but-2-eno liberta menos 1 kcal/mol que o cis-but-2-eno.
Calores de Hidrogenação
Calores de Combustão
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A designação cis e trans torna-se ambígua quando são distintos os substituintes dos dois átomos de
carbono da dupla ligação dos alcenos. Qual dos isómeros é o cis? Qual é o trans?
M P M Q
1 ≠2
N Q N P
1 2
A IUPAC recomenda a designação Z-E, mais geral, e baseia-se nas regras de sequência de Cahn, Ingold e
Prelog:
M P
isómero E (Entgegen = opostos)
N Q
1
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M Q
1º- o substituinte que estiver diretamente ligado ao carbono insaturado deverá possuir maior número
atómico;
2º-o substituinte que estiver indiretamente ligado ao carbono insaturado deverá possuir maior número
atómico;
3º-num substituinte insaturado (C=O, C=C, C=N, etc) a ligação múltipla corresponderá a n ligações simples,
por exemplo C=O é equivalente a 2 C—O.
A estabilidade de uma dada conformação depende das repulsões eletrónicas entre as orbitais e das
atrações de van der Waals entre as nuvens eletrónicas. As conformações eclipsadas são menos estáveis
do que as alternadas, tal deve-se às repulsões eletrónicas entre as orbitais das ligações sigma e as nuvens
electrónicas. A presença de grupos volumosos aumenta a repulsão.
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H H H H
H
H H H
H H H H
2) No caso do butano, (fig. 4.8, pág. 54) CH3CH2CH2CH3, ao considerar-se a rotação em torno da ligação
C2-C3, pode-se ver que:
- há diferentes conformações alternadas; CH 3
- além da tensão torsional, há repulsões de van H H
der Waals (aglutinação dos grupos metilo).
H H
CH 3
-Conformações alternadas: nenhuma tem tensão torsional; a mais estável é a anti (ou transóide)
-Conformações eclipsadas: todas têm tensão torsional a menos estável é aquela em que os 2 grupos
-CH3 se eclipsam (forte repulsão de van der Waals).
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Cicloalcanos
A tensão total de um ciclo pode ser calculada pela diferença entre o calor de combustão experimental e o
calculado, considerando que o cicloalcano apresenta a seguinte fórmula molecular geral: (CH2)n.
Considerando que o hexano difere em (CH2) relativamente ao pentano, então a diferença (157,4 kcal/mol)
nos seus calores de combustão será atribuida à existência de um (CH2) adicional no hexano.
Cicloalcano[(CH2)n] n
Calor de combustão Tensão total
(-∆Hc) (kcal/mol) (kcal/mol)
__________________________________________________________________
Ciclopropano 3 499,83 27,6
Ciclobutano 4 655,86 26,3
Ciclopentano 5 793,52 6,5
Ciclo-hexano 6 944,48 0,0
Ciclo-heptano 7 1108,2 6,4
Ciclooctano 8 1929,5 12,9
Ciclodecano 10 1586,0 12,0
Ciclopentadecano 15 2362,5 1,5
Por análise da tabela 3.3 verifica-se que o ciclo-hexano é o cicloalcano que não apresenta tensão,
enquanto que o ciclopropano apresenta uma elevada tensão.
ciclopropano [(CH2)3]:
Tensão: 499,83-(3x157,4) = 27,6 kcal/mol
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Os cicloalcanos podem apresentar tensão torsional e tensão angular. A tensão torsional está associada
com a existência de ligações eclipsadas; a tensão angular está relacionada com a presença de ângulos de
ligação C—C—C menores que 109,5°.
O ciclopropano é plano e apresenta tensão angular (ângulos menores que 109,5 º) e tensão torsional
(ligações eclipsadas).
H H
H
114
H H
H
Os ciclobutano e ciclopentano não são planos, a tensão torsional (ligações eclipsadas se o anel fosse plano)
é parcialmente aliviada à custa duma pequena tensão angular. À temperatura ambiente, há uma rápida
interconversão destas formas.
H H H
H
H eclipsado =>
H maior tensão
H H
H
H
H H H2C H
H CH 2
anel
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H H
H H
H H
H H
H H H
H
H H
H H H H conformação
H alternada
Cadeira H H
(Confórmero H H H
+ estável e + rígido)
hidrogénios hidrogénios
equatorias axiais
H H
H H H
H
H H
H H
H H
Barco conformação
(menos estável que a cadeira) eclipsada
1 1 2
2
2
A forma barco é mais flexivel (a proa move-se ao londo do anel C1 para C2)
No ciclo-heptano e o ciclooctano:
• a sua pequena instabilidade parece ser devida principalmente a tensão torsional e a repulsões de van
der Waals entre os hidrogénios transanelares.
Ciclo-heptano
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Ciclooctano
H
H
H CH 3
CH 3 H
H H
H CH 3
H H
CH 3 H
A cadeia equatorial é a mais estável (cerca de 1,6 kcal/mol mais estável que a cadeia axial). Na cadeira axial
verificam-se repulsões de Van der Waals entre CH3 e os H axiais do mesmo lado da molécula
b) terc – Butilciclo-hexano:
CH 3
H H 3C C CH 3
H CH 3
H
C CH 3
H
CH 3
~100%
(mais estável em
cerca de 5 Kcal/mol)
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cis trans
No isómero trans é possível representar duas conformações distintas no entanto a mais estável é a que
posssui os 2 grupos metilo em posição equatorial.
CH 3
H3C
CH3
No isómero cis é possível representar duas conformações (cada uma com um substituinte em posição
equatorial e outro em posição axial) no entanto essas 2 representações são equivalentes visto os dois
substituintes são iguais.
CH3 CH 3
As duas conformações
são equivalentes
H3C CH 3
equatorial-axial Axial-equatorial
b) cis 1-terc-butil-4-metilciclo-hexano
Neste isómero cis é possível representar duas conformações, cada uma com um substituinte em posição
equatorial e outro em posição axial. Como os 2 substituintes são distintos as duas conformações terão
estabilidades diferentes. A conformação mais estável será aquela em que se verifiquem menor
intensidade de repulsões de Van der Waals entre os grupos substituintes (-CH3 ou -C(CH3)3) e os H axiais
do mesmo lado da molécula, o que acontecerá quando o grupo mais volumoso se encontra em posição
equatorial e não em posição axial.
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CH3
CH 3
H3C C CH 3
CH3
H 3C C
CH 3
CH3
mais estável
Uma molécula que possua um átomo de carbono com os 4 substituintes todos diferentes diz-se que é uma
molécula quiral e possui um carbono quiral, C*, sendo o C* um estereocentro. Um C* pode apresentar
duas configurações: duas possibilidades distintas de orientação dos seus substituintes no espaço.
Nenhuma molécula (ou conformação molecular) que possua um plano de simetria pode ser quiral.
Nenhuma molécula quiral possuiu plano de simetria.
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Qualquer molécula quiral pode existir em duas formas não sobreponíveis que são a imagem da outra num
espelho plano - Enantiómeros. O butan-2-ol é um composto quiral, podendo ser representado pelo
seguinte par de enantiómeros.
A transformação de um enantiómero noutro implica a quebra de ligações, pelo que este tipo de isomeria
é configuracional. No entanto em oposição aos isómeros geométricos, dois enantiómeros possuem
propriedades físicas e químicas idênticas, diferindo apenas no ângulo de desvio de uma luz polarizada que
incida numa solução contendo um dos dois isómeros.
Um polarímetro (fig. 5.12, pág. 64) é um aparelho que permite determinar o ângulo de desvio de uma luz
polarizada quando esta incide numa solução. O ângulo entre os planos de oscilação dos raios de luz
incidente e emergente é característico dessa substância e denomina-se rotação ótica. A rotação ótica
depende de vários fatores inerentes ao aparelho (fonte da luz, comprimento do tubo que contém a
solução, da temperatura) e à solução da amostra (concentração).
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O poder rotatório específico é uma grandeza característica das substâncias e pode ser calculado a partir
da seguinte expressão:
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O poder rotatório específico pode apresentar sinal negativo ou positivo consoante desvia o plano da luz
polarizada para a esquerda ou para a direita. Assim se:
[]25D < 0 - as substâncias designam-se por levógiras;
[]25D > 0 - substâncias designam-se dextrógiras.
Nos compostos que possuem mais do que um carbono quiral, o número máximo de estereoisómeros é
igual a 2n onde n representa o número de carbonos quirais.
Um composto que contenha 2 carbonos quirais poderá ter no máximo 22=4 isómeros configuracionais,
sendo dois pares de enantiómeros. Os estereoisómeros configuracionais que não são enantiómeros
designam-se por Diastereoisómeros. Num par de diastereoisómeros, os dois compostos não estão
relacionados um com o outro como um objecto para a sua imagem num espelho plano (imagem
especular); estes dois compostos apresentam propriedades físicas diferentes e propriedades químicas
semelhantes, mas não idênticas.
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Os compostos meso são aqueles que apesar de possuírem carbonos quirais não apresentam atividade
ótica. Sempre que uma das configurações representadas possua um plano ou um eixo de simetria, ela é
sobreponível à sua imagem especular, sendo, portanto, opticamente inativa. De seguida são apresentados
exemplos dos vários estereoisómeros.
a) Diclorometano
H H
H H A
Cl Cl Cl Cl
A B
A = B => Não é quiral => Ópticamente inactivo
b) 2-Hidroxipropanal (CH3CHOHCHO)
H H
HO OH
H 3C CHO OHC CH 3
A B
A≠B são moléculas diferentes. São 2 isómeros ópticos (isómeros estereoquímicos). São
ambos quirais, são ópticamente activos. Mas Haverá mais isómeros?
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Documentação Teórica Química Orgânica I 2021-2022
Não é possível determinar o arranjo espacial dos substituintes de um carbono quiral através da medição
do poder rotatório específico. Através desta grandeza poder-se-á distinguir dois enantiómeros mas não
se pode determinar a configuração absoluta de cada um deles, ou seja a sua estrutura tridimensional.
A configuração absoluta de uma molécula pode ser determinada por analises de Raios X ou relacionando
a configuração de uma molécula com outra molécula de configuração absoluta conhecida, transformando-
se a primeira na segunda através de reações de estereoquímica conhecida.
Por exemplo a configuração absoluta do Gliceraldeído foi estabelecida por difração de raios X em 1951:
ao isómero D corresponde a enantiómero dextrógiro (+) e ao enantiómero L corresponde o levógiro (-).
CHO CHO
H OH HO H
Referência
CH 2OH CH 2OH
D L
D-Gliceraldeído L-Gliceraldeído
COOH COOH
H OH HO H
CH 3 CH 3
COOH COOH
2 isómeros
opticamente activos
H H
HO CH3 H 3C OH enantiómeros
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Documentação Teórica Química Orgânica I 2021-2022
A determinação da configuração absoluta do ácido láctico foi estabelecida após transformação do D-(+)-
gliceraldeído a ácido D-(-) láctico na sequência de reações abaixo apresentada. Assim para o ácidoláctico
o isómero D corresponde ao isómero levógiro, (-), enquanto que o isómero L corresponde ao isómero
dextrógiro (+).
A configuração de cada átomo de carbono quiral pode ser designada por R, S de acordo com a orientação
espacial dos substituintes nesse átomo de carbono. Por exemplo, qual a configuração do seguinte
composto que possui 4 substituintes diferentes num átomo de carbono? Será
Cl
I Br D ou L ?....
F
A configuração absoluta dum enantiómero pode ser especificada pela anteposição duma letra ao nome
do composto: R - “rectus”, direita ou sentido horário; e S - “sinister”, esquerda ou sentido anti-horário.
Neste sistema de nomenclatura é atribuída ordem de prioridade aos quatro substituintes do carbono
quiral de acordo com as regras de Regras de Cahn, Ingold, Prelog:
3ª) E verifica-se como rodam os outros 3 substituintes tomados por ordem decrescente de prioridade:
R - “rectus”, direita ou sentido horário;
S - “sinister”, esquerda ou sentido anti-horário.
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Exemplos
a) 2-clorobutano CH3CHClCH2CH3
b) 2,3,4 –Tri-hidroxibutanal
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Documentação Teórica Química Orgânica I 2021-2022
(2S,3R)-2,3,4-Tri-hidroxibutanal
c) Butano-2,3-diol
OH HO H A ° B
HO H H OH
A B
CH3 CH 3 CH 3 CH 3
C D
1 só isómero
HO OH HO OH
H H H H opticamente
inactivo MESO
C D
A e C
Diastereoisómeros
B e D
Em C há carbonos quirais mas a molécula é aquiral (tem 1 plano de simetria). E qual a configuração do
isómero meso?
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2R, 3S – Butano-2,3-diol
H 3C H CH 3 CH 3
1 par de
O enantiómeros
H H + H H
+ RCOOH
H CH3 O O
CH3 CH3
trans-but-2-eno trans-2,3-dimetiloxirano
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(+)-B—(+)-A (+)-B
(+)-B + (-)-B + 2 (+)-A
(-)-B—(+)-A (-)-B
mistura racémica
mistura de dois enanteómeros
diasteroisómeros; separados
podem ser separados
CH 2CH 3 CH2CH 3 OH
C , C + C
H H H
H3C NH2 H 2N H 3C COOH
CH 3
CH 2CH3 OH
(S) -2-Butanamina
NaOH H C C
H
+ H 3C NH3 COO-
H 3C
(+)-Lactato de sódio
(R)-Lactato de (S)-secbutilamónio
CH 2CH3 OH
(R) -2-Butanamina
NaOH C C
+ H H
H 3N COO-
CH 3 H 3C
(+)-Lactato de sódio
(R)-Lactato de (R)-secbutilamónio
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A primeira questão que teve de ser respondida no desenvolvimento de Química Orgânica estava
relacionada com a constituição de materiais naturais aparentemente complexos. Os químicos no sec. XIX
observaram o comportamento dos compostos orgânicos e relacionaram os resultados com a estrutura
molecular.
No inicio do sec. XX os conceitos de ligação química estavam desenvolvidos. Surgiram então as questões
como e porque? reagem os compostos orgânicos.
Uma reação química e caracterizada pela interação de uma molécula com outra de tal modo que algumas
ligações são quebradas e outras são formadas. Novas moléculas são geradas.
As reações associadas com a acididade e basicidade são conhecidas. Embora estas reações desempenham
um papel importante na química dos compostos orgânicos, as reações que ocorrem ao nível do carbono
e associadas a grupos funcionais são a base do amplo estudo de Química Orgânica.
A acididade e basicidade são propriedades relativas das moléculas. Um composto pode ser um ácido
relativamente a um material e uma base relativamente a outro. Muitos compostos orgânicos nem são
ácidos nem são básicos relativamente a água (a água pode-se comportar quer como um ácido quer como
uma base). Os compostos de baixo peso molecular que são solúveis na água normalmente dissolvem-se
sem alteração no pH em relação a um solvente neutro, a menos que possuam grupos funcionais
carboxílicos ou amínicos
As reações são divididas em 3 classes: -adição, eliminação e substituição. Rearranjos são frequentemente
apresentados como outra classe, mas na realidade eles envolvem alterações no esqueleto as quais
procedem por meio de uma ou mais de três tipos fundamentais de reações.
Estas três classes compreendem uma representação operacional das reações orgânicas. Cada reação
descreve um processo geral que ocorre durante uma sequência de reação (por exemplo, a conversão de
um grupo funcional noutro).
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Um critério essencial para a compreensão das reações dos compostos orgânicos e o reconhecimento das
alterações estruturais que ocorrem. A identificação do produto de reação e uma ajuda importante na sua
descoberta. Os produtos são frequentemente identificados por análises dos métodos espectroscópicos
modernos, frequentemente em conjugação com testes químicos específicos.
Uma reação de adição ocorre em compostos insaturados. As moléculas insaturadas são capazes de aceitar
átomos ou grupos de átomos adicionais provenientes de reagentes, sem exceder o número máximo de
coordenação dos seus próprios átomos. Compostos com ligações duplas e triplas C-C e ligações duplas C-
O são os tipos estruturais que mais frequentemente sofrem este tipo de reações.
O Bromo, por exemplo, e rapidamente adicionado à dupla e tripla ligações C-C numa reação conhecida
por Brominação, ou em geral, por Halogenação. O átomo de carbono insaturado é convertido num átomo
de C saturado, a ligação (pi) original é substituída por uma ligação sigma aos átomos de Bromo. A adição
de bromo é frequentemente utilizada como um teste qualitativo para a deteção da presença da dupla ou
tripla ligação C-C. A cor castanha avermelhada da solução vai lentamente desaparecendo à medida que
ocorre a adição do bromo à ligação múltipla C-C. O produto da adição é normalmente incolor.
A Hidrogenação consiste na adição de hidrogénio às ligações múltiplas C-C e é uma parte muito
importante da refinação do petróleo e outras operações da indústria química. A maioria das
hidrogenações requer um catalisador. A medição quantitativa do consumo de Hidrogénio é um método
utilizado para a determinação do número de ligações múltiplas numa molécula.
A adição de Hidrogénio e de Halogéneos consiste em adicionar reagentes simétricos. Por vezes são
também adicionados reagentes assimétricos às ligações múltiplas C-C e C-heteroátomo. De particular
interesse temos a Hidratação (adição de água) e a Hidro-halogenação (adição de halogenetos de
hidrogénio) a alcenos para produzir álcoois e haloalcanos importantes.
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Alcenos
C C adição C C
+ X—Y
X Y
H H H
H
C C + H—Cl H C C H
H H
H Cl
Cloroetano
H H H
H
C C + Br—Br H C C H
H H
Br Br
1,2-dibromoetano
CH3CH2CH—CH 2
CH3CH2CH = CH2 + HI H I 1-iodobutano
(não é obtido)
CH3CH2CH—CH2
I H 2-iodobutano
Só se forma o composto em que o halogéneo (iodo) se liga ao átomo de carbono menos hidrogenado
Alcinos
:
Br Br
HC CH + 2 Br2 H C C H
Br Br
1,1,2,2-tetrabromoetano
Pode controlar-se a reacção:
Br Br
Br2 Br2
H C C H H C C H H C C H
Br Br Br Br
1,2-dibromoetano
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CH 3—CH = CHCl
(não se forma)
CH3—C CH + HCl CH3—CCl— CH2
HCl H Cl
CH3—CCl = CH2
propino (não se forma)
2-cloroprop-1-eno
CH 3—CCl— CH2
Cl H
2,2-dicloropropano
Uma reação de eliminação é o oposto de uma reação de adição. Os átomos são removidos de uma
molécula para formas produtos com ligações múltiplas ou em alguns casos, anéis. Os átomos que
originalmente são saturados tornam-se insaturados. Estaremos mais interessados nas reações nas quais
os átomos ou grupos são removidos de átomos adjacentes no esqueleto carbonado, isto é, reação de
eliminação 1,2.
Muitas reações de desidratação e desidro-halogenação procedem de tal modo que dão origem a uma
mistura de produtos que são isoméricos relativamente a nova ligação múltipla formada.
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Uma reação de substituição ocorre quando um átomo ou um grupo fornecido pelo reagente substitui um
átomo ou um grupo na molécula do substrato. As substituições podem ocorrer em átomos de C saturados
ou insaturados-
As duas primeiras reações representam um tipo muito geral de reações de substituição em átomos de C
saturado: um grupo -OH substitui em ambos os casos um átomo de halogéneo, formando álcoois; no
entanto, a fonte do grupo -OH é diferente: o ião hidróxido ou a molécula de água.
A terceira reação é mais complexa: é produzida uma mistura de isómeras. São substituídos dois átomos
de H diferentes do substrato. A substituição de um átomo de cloro por um átomo de H de um grupo metilo
terminal produz um dos isómeros, enquanto que a substituição de um átomo de hidrogénio metilénico
produz o outro isómero.
Estes dois tipos de reatividade diferente apresentados pelos compostos insaturados: substituição e
adição, ilustram uma variedade de reação em que compostos orgânicos similares podem participar.
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As reações de Oxidação e de Redução não representam uma classe separada de reações, visto que elas
podem ser acompanhadas por alterações que representam adições, eliminações ou substituições. Os
termos são familiares na Química Inorgânica onde “Oxidação” e “Redução” referem-se, respetivamente,
a perda e ganho de eletrões por um átomo ou um ião. Ao átomo no estado elementar é assinalado um
estado de oxidação Zero, e então:
Tal alteração de oxidação - redução inorgânica envolve a completa transferência de eletrões de uma
espécie para outra. Os compostos orgânicos também sofrem esse tipo de reações, mas a transferência de
eletrões frequentemente não é completa. Ocorre uma alteração na ligação covalente entre átomos de
diferente eletronegatividade.
A determinação do estado de oxidação de moléculas orgânicas começa com o assumir que o elemento
químico carbono está no estado de oxidação Zero e
-a formação de uma ligação com um átomo mais eletronegativo que o C => resulta em Oxidação do
átomo de carbono;
- a formação de uma ligação com um átomo menos eletronegativo que C => resulta em Redução do átomo
de carbono.
Por exemplo:
1 - CH4 - o hidrocarboneto saturado mais simples: os 4 átomos de H são menos eletronegativos que o
átomo de C => o C possui um maior “grau” de eletrões ligantes que cada átomo de H e é-lhe assinalado
o estado de oxidação - 4
Conclusão: a adição de Hidrogénio a uma molécula orgânica é quase sempre considerada como um
processo de Redução.
2 - CO2 encontra-se no outro extremo no qual o átomo de C tem o estado de oxidação +4. As 4 ligações
do C são efetuadas com elementos mais eletronegativos que ele, o oxigénio.
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O CH4 e o CO2 são compostos cujo átomo de carbono representa o estado de oxidação mais baixo e mais
elevado, respetivamente. A maioria dos heteroátomos encontrados em moléculas orgânicas são mais
eletronegativos que o carbono e, portanto, contribuem para um aumento do estado de oxidação do
átomo de carbono ao qual se ligam. A ligação C-C não envolve diferença na eletronegatividade e, portanto,
não conduz a alguma alteração no estado de oxidação.
O estado de oxidação de cada átomo de C pode ser determinado utilizando o seguinte critério de
eletronegatividade:
1º - O estado de oxigenação (E. O.) de cada átomo de C é alterado de -l por cada ligação a um átomo
menos eletronegatividade (por exemplo H);
3º - Dupla e tripla ligações a um heteroátomo são contabilizadas como a duas ou três ligações simples,
respetivamente.
2)A Combustão de hidrocarbonetos é um dos processos de oxidação mais importante dos compostos
orgânicos, porque é a principal fonte de energia. A combustão do metano (gás natural) conduz a uma
alteração do E.O. em +8.
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Oxid. Oxid.
CH3CH 2CH 2 OH CH 3CH 2C =O CH 3CH 2C =O
Red. H Red. OH
-3 -2 -1 -3 -2 +1 -3 -2 +3
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5 Mecanismo da Reação
No capítulo anterior aprendemos que a maioria das reacões orgânicas pode ocorrer por uma das três
classes: adição, eliminação e substituição. Cada um destes termos descreve uma operação que ocorre
durante uma reação. Contudo nenhuma das reações nos indica como ocorrem as reações.
Frequentemente, a interação inicial que conduz a uma reação é originada pela atração entre um local de
carga positivo numa molécula e um local de carga negativo noutra molécula. A alteração resulta do
movimento de pares de eletrões de um átomo para outro à medida que são formadas umas ligações e
outras são quebradas. Ao nível molecular, o cerne de tal reação química é uma atracão de carga e
movimento de eletrões.
A descrição detalhada do modo como os reagentes são convertidos em produtos é conhecida como
Mecanismo da Reação. A descrição inclui o movimento de eletrões que conduz à quebra e à formação de
ligações e as relações espaciais dos átomos durante as transformações. Idealmente um mecanismo
deveria explicar as alterações estruturais e de energia que ocorrem em cada estado da reação.
Nunca se deve esperar provar um mecanismo porque não se pode experimentalmente determinar cada
detalhe preciso de uma reação. Frequentemente pode ser concebido mais do que um caminho para o
mecanismo. Escolhe-se o mecanismo “mais razoável” que é consistente com os dados experimentais
disponíveis.
Nucleófilos e Eletrófilos
O maior grupo de reações que encontramos são tratadas como iónicas, porque os seus reagentes são
ricos em eletrões (nucleófilos - afinidade para centros de carga positiva) ou pobres em eletrões (eletrófilos
- afinidade para eletrões). Os nucleófilos são frequentemente carregados negativamente ou
eletricamente neutros (bases de Lewis). Os eletrófilos são eletricamente neutros ou carregados
positivamente (ácidos de Lewis).
Numa reação iónica um nucleófilo (Nu:) partilha um par de eletrões com um eletrófilo (E) no processo de
formação da ligação.
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Seria possível descrever a maioria das reações orgânicas em termos de acididade e basicidade de Lewis.
Contudo, a prática comum é referir a reação ao nível dos átomos de carbono em termos de
nucleofilicidade e eletrofilicidade e reservar os termos acididade e basicidade para descrever as reações
com protões.
Classificação Mecanística
Temos agora dois critérios para classificar reações. O primeiro envolve a designação classe operacional da
reação: adição, eliminação ou substituição. O segundo critério relaciona o carácter eletrónico do reagente
à sua nucleofilicidade ou electrofilicidade. Cada classificação operacional pode ser combinada com uma
classificação eletrónica para descrever o mecanismo global da reação, por exemplo: adição nucleófilica
ou electrófilica. Este tipo de classificação é particularmente valioso por reunir num pequeno grupo de
categorias, operacionalmente similares, uma grande variedade de reações.
Assim uma dupla ligação C-C e C-O podem sofrer reação de adição mesmo fazendo parte de diferentes
grupos funcionais.
Substratos e Reagentes
O composto orgânico que sofre alteração estrutural ou funcional é denominado de substrato. O segundo
componente, frequentemente uma espécie inorgânica, é o reagente o qual reage com o substrato.
A reação do etanol com o propanal providencia um outro exemplo. O etanol é uma base de Lewis e é um
nucleófilo porque possui dois pares de eletrões não ligantes no átomo de oxigénio. O grupo carbonilo do
propanal é um grupo polar e possui um centro de carga parcial positiva no átomo de carbono. A
identificação da estrutura do produto da reação indica que o átomo de oxigénio do etanol foi adicionado
ao carbono carbonílico (C=O) do propanal. A adição nucleófila de etanol (reagente) ao propanal
(substrato):
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Quando duas moléculas ou iões sofrem reação, um deve ser nucleófilo e a outra eletrófilo. A designação
de substrato e reagente torna-se muito arbitrária para reações nas quais moléculas orgânicas reagem
umas com as outras. Muitas transformações procedem através de duas ou mais etapas; isto significa que
deve ser tomada uma decisão quanto a etapa que será a base para a classificação. A classificação de uma
reação que ocorre entre grupos funcionais de duas moléculas é usualmente baseada em características
das duas moléculas e, frequentemente, num conhecimento das condições básicas da reação.
Movimento Eletrónico
Uma reação química é uma sequência de quebra de ligações e formação de ligações envolvendo eletrões
ligantes e não ligantes. Uma situação que a descrição mecanista da reação deve considerar é o movimento
dos eletrões. É pratica comum representar o movimento de eletrões com uma pequena curva. Uma
convenção diz que os eletrões movem-se de locais ricos em eletrões para locais pobres em eletrões (na
direção da seta). Vamos considerar a dissociação do ião cloreto de um átomo de C terciário. Temos uma
quebra heterolítica de ligação na qual o par de eletrões compartilhado da ligação sigma move-se do átomo
de C para o átomo de Cl. O átomo de C toma-se um catião e o cloro um anião.
A formação de uma ligação ocorre de uma maneira similar. Assim, numa reação comum do grupo
carbonilo o ião hidróxido com o átomo de oxigénio nucleofílico estabelece uma ligação com o átomo de
carbono elurofílico do grupo carbonilo. Neste exemplo dá-se o movimento síncrono do par de eletrões
ligantes do átomo de carbono para o átomo de oxigénio para evitar exceder o octeto eletrónico, o que é
evidenciado pela segunda seta curva
As setas curvas são também usadas para mostrar o movimento de eletrões dentro de uma molécula.
Os exemplos apresentados acima mostram o movimento de pares de eletrões. Este tipo de movimento
eletrónico frequentemente cria e destrói cargas nos átomos.
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Documentação Teórica Química Orgânica I 2021-2022
O movimento de um único electrão é representado por meias setas curvas. A quebra homolítica e as
reações relacionadas com a formação de ligações através de radicais livres são exemplos de tal
movimento de um único eletrão:
Numa síntese laboratorial, um produto pode ser preparado, isolado e purificado e depois ser usado como
material de partida (matéria-prima) para uma subsequente etapa numa sequência total. Tal produto é
frequentemente referido como intermediário sintético. Ele é um produto estável formado durante uma
síntese em múltiplas etapas. Outros tipos de intermediários, de importância no desenvolvimento de um
mecanismo de reação são intermediários instáveis, de curta vida, os quais são formados no caminho de
materiais de partida a produtos estáveis. Estas espécies não são isoladas. Alguns intermediários instáveis
já foram detetados estereoscopicamente em condições especiais. A sua existência é frequentemente
inferida a partir de evidências indiretas.
Os intermediários reativos podem ser formados por quebra homolítica ou heterolítica de uma ligação
covalente, genericamente apresentado abaixo.
No caso de uma ligação covalente entre 2 átomos de carbono ou um átomo de carbono e um heteroátomo
(átomo diferente de carbono ou hidrogénio) podem ser formados intermediários de vida curta sendo três
os mais frequentemente considerados nos mecanismos de reações orgânicas (esquema abaixo) e a seguir
discriminados:
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-carbocatião é uma espécie química em que um átomo de carbono se encontra carregado positivamente;
a maioria dos carbocatiões são tricoordenados (3 ligações covalentes) e possuem geometria planar; a
descrição da orbital dos carbocatiões apresenta as três orbitais híbridas sp2 num plano com uma orbital p
vazia, perpendicular ao plano das três ligações sigma;
-carbanião é uma espécie química em que um átomo de carbono se encontra carregado negativamente;
deriva de átomos de carbono saturados; apresenta uma configuração tetraédrica com o par de eletrões a
preencher dos lobos de uma orbital hibrida sp3.
--radical livre é a terceira classe de intermediários; é uma espécie química na qual um átomo de
carbono possui um eletrão desemparelhado; a química dos radicais de carbono sugere que estes tem uma
geometria planar ou tetraédrica rapidamente invertida;
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O-carbeno é o quarto intermediário mecanístico, mas é muito menos comum que os anteriores; é um
intermediário um altamente reativo possuindo um átomo de carbono dicoordenado, com apenas 6
eletrões, mas não tem carga formal; os carbenos existem com duas configurações diferentes dos seus
eletrões não ligantes: carbeno singuleto (tem os 2 eletrões emparelhados) e o carbeno tripleto (tem 2
eletrões com spins não emparelhados).
5.3 Reativividade
As reações químicas podem ocorrer em mais do que uma etapa e, frequentemente, no decorrer dessas
etapas formam-se os intermediários reativos acima descritos. De seguida são apresentados um conjunto
de diagramas de energia apresentando a variação da energia, a energia de ativação e o estado de
transição. As reções podem ser endotérmicas (H>0) ou exotérmicas ((H<0) sendo a velocidade da
reação controlada pela energia de ativação (Ea), que é a energia minima necessária para atingir o estado
de transição (ET). Numa reação numa só etapa existe apenas um ET, no enatnto numa reação em 2 etapas,
existem 2 estados de transição, sendo o primeiro eT aquel que conduz à formação dos intermediários
reativos: carbocatião, cabanião e radical livre.
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Mas a velocidade dessa quebra é dependente do tipo de substrato. Assim, por exemplo, considere a
reação de substituição abaixo genericamente representada em que o grupo R pode ser um grupo metilo,
isopropilo ou terc-butilo, e com seguinte diagrama de energia
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Considerando que Ea3 > Ea2 > Ea1 então a velocidade relativa das reações será:
Em numerosas reações é frequente o uso de uma substância adicional (um catalisador) para fazer
aumentar a velocidade da reação, catalise das reações químicas. Esse catalisador não é consumido na
reação, no entanto intervém, reduzindo a energia de ativação; a reação processa-se em mais do que uma
etapa, sendo a energia de ativação inferior aquela que seria necessária na sus ausência. Assim a
velocidade da reação é determinada pela energia de ativação. A função do catalisador é a de fornecer um
percurso para a reação com menor energia de ativação.
Com frequência existem reações competitivas para as mesmas matérias-primas que podem conduzir à
formação de produtos não desejados (produtos secundários). Considere a seguinte reação de substituição
em que R poderá ser o
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Documentação Teórica Química Orgânica I 2021-2022
6 Bibliografia
[1]- T. W. Graham Solomons, Craig B. Fryhle, "Organic Chemistry", 12 th ed., John Wiley & Sons, Inc.,
2016G. Solomons and C. Fryhle “Organic Chemistry”, 7th ed., John Wiley & Sons, Inc., New
York, 2000.
[2]- F. A. Care and R. Giuliano "Organic Chemistry" 10th ed., MacGraw-Hill International Edition, 2017
[3]- K. P. C. Vollhardt, N. E. Schore "Organic Chemistry", 7th ed., New York W.H. Freeman and Co., 2015
[4] - S. H. Pine “Organic Chemistry”, 5th ed., McGraw-Hill, New York, 1988.
[5 ]- R. Morrison e R. Boyd, “Química Orgânica”, 16ª Ed., Fund. Gulbenkian, Lisboa, 2011.
[6]- N. L. Allinger, M.P. Cava, D. C. de Jongh, C. R .Johnson, N. A. Lebel, C. L. Stevens, “Organic Chemistry”,
2nd ed., Worth Publishers, Inc., New York, 1976
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