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Bioquímica
Universidade de Lisboa (ULisboa)
122 pag.
1º Semestre – 2010/2011
Índice
I. Evolução Prebiótica – Evolução Molecular .......................................................................................... 4
II. Água e pH........................................................................................................................................... 10
III. Aminoácidos e Proteínas ............................................................................................................... 13
a. Catálise Enzimática ........................................................................................................................ 28
IV. Glúcidos ......................................................................................................................................... 34
V. Lípidos ................................................................................................................................................ 37
VI. Ácidos Nucleicos ............................................................................................................................ 44
VII. Metabolismo ................................................................................................................................. 48
a. Glicólise e Neoglucogénese ........................................................................................................... 50
b. Ciclo de Krebs ................................................................................................................................ 53
c. Cadeia Respiratória ....................................................................................................................... 55
d. Outras vias metabólicas ................................................................................................................ 59
i. Oxidação de ácidos gordos ....................................................................................................... 59
ii. Catabolismo proteico ................................................................................................................ 62
VIII. Fotossíntese .................................................................................................................................. 62
a. Fase fotoquímica ........................................................................................................................... 65
b. Fase química .................................................................................................................................. 67
c. Variantes do processo ................................................................................................................... 68
IX. Replicação do DNA ........................................................................................................................ 70
X. Reparação do DNA ............................................................................................................................. 75
XI. Recombinação do DNA .................................................................................................................. 79
XII. Transcrição de DNA ....................................................................................................................... 87
a. Regulação da Transcrição .............................................................................................................. 92
i. Operão da lactose ..................................................................................................................... 93
ii. Operão do triptofano ................................................................................................................ 96
iii. Regulação em eucariotas .......................................................................................................... 99
XIII. Processamento de RNA ............................................................................................................... 101
a. Processamento de tRNA .............................................................................................................. 101
b. Processamento de rRNA .............................................................................................................. 103
c. Processamento de mRNA ............................................................................................................ 104
XIV. Tradução de RNA ......................................................................................................................... 106
XV. Ciclo Celular ................................................................................................................................. 111
XVI. Laboratório – Restrição de Plasmídeos ....................................................................................... 121
Estrutura
Nome do
Amino Tiol Fosfato Pirofosfato
Grupo Funcional
Estrutura
De todos os elementos químicos, apenas uma pequena parte entra na composição das
biomoléculas. Os mais abundantes são H, O, C e N e existem vestígios de outros elementos
como Na, Ca, K, P ou S. Em concentrações ainda mais reduzidas, mas desempenhando funções
muito importantes, podemos encontrar Fe, Ni, Zn, I, Cu, etc.
Quanto aos elementos que mais contribuem para a massa de um organismo, destacam-se O, C
(mais abundante nos organismos que no resto do universo), H, N, P e S, que se ligam entre si
por ligações muito estáveis, as ligações covalentes.
A formação destas macromoléculas ocorre quando dois monómeros se juntam através de uma
reacção de condensação (com libertação de uma molécula de água, por exemplo).
Ilustração 2 - Fórmula de
Onde: Estrutura da Glicina.
CH2O – formaldeído NH2CH2COOH – glicina
NH3 – amoníaco NH2CH2CN – ammonitrile
HCN – cianeto de hidrogénio
Apesar das experiências a seu favor, a teoria da sopa pré-biótica tem alguns pontos fracos
como o facto de ser uma mistura diluída, já que nessas condições as moléculas têm tendência
a separar-se e não a serem sintetizadas. Contudo, a evaporação da água devido ao calor
interno da Terra pode ter levado ao aumento da concentração das substâncias presentes
nessa sopa, facilitado as reacções que levaram à formação de moléculas mais complexas.
Pensa-se que a primeira “molécula da vida” a surgir terá sido o RNA pois este ácido nucleico
não necessita de enzimas ou primers para se replicar; pode, ele próprio, actuar como uma
enzima; e, ainda nos dias de hoje, se encontram organismos cujo material genético se
restringe a moléculas de RNA (ex. retro-vírus).
Num primordial Mundo do RNA terão sido produzidas moléculas de RNA com sequências
aleatórias. Alguns fragmentos ter-se-ão auto-replicado, num processo catalisado por ribozimas
– segmentos do próprio RNA. Os segmentos seleccionados terão catalisado a síntese de
péptidos específicos que, por sua vez, participaram na replicação do RNA. Deu-se então um
período de co-evolução do RNA e proteínas seguido da evolução dos sistemas primitivos de
tradução e do aparecimento no genoma de RNA. O papel catalítico e genético deste genoma
foi sendo separado ao longo do tempo, acabando o DNA por ser a fonte de material genético e
as proteínas os principais agentes catalíticos.
Estes e muitos outros factores contribuíram para a crescente complexidade do mundo pré-
biótico e para a evolução da vida.
Desde o aparecimento das primeiras células até à diversidade de organismos que se verifica
nos dias de hoje deu-se uma grande evolução. As primeiras células a surgir eram
quimioheterotróficas e utilizavam como fonte de carbono e energia moléculas sintetizadas
por processos não biológicos. A escassez de nutrientes favoreceu a evolução de seres
autotróficos capazes de sintetizar as suas próprias moléculas orgânicas, primeiro a partir de
compostos químicos e, mais tarde, a partir da radiação solar. A evolução de seres
fotossintéticos levou à libertação de O2 para a atmosfera terrestre e, apesar de este gás ser
tóxico para a maioria dos seres anaeróbios (os únicos existentes até esta altura), o aumento da
sua concentração favoreceu a evolução de seres aeróbios. Estes seres apresentavam uma
enorme vantagem em relação aos seres anaeróbios quando competiam num ambiente rico em
oxigénio e, devido à sua maior eficiência energética, tinham ainda maior potencialidade de se
desenvolverem para formas de vida mais complexas.
Relativamente à organização celular, as primeiras células tinham uma estrutura muito simples,
sem núcleo individualizado, organitos celulares ou sistema endomembranar. Estas células
procarióticas foram sofrendo uma série de alterações até darem origem às células
eucarióticas, mais complexas e com um núcleo perfeitamente organizado e delimitado,
diversos organitos celulares e sistema endomembranar.
Esta evolução das células procarióticas para células eucarióticas pode ser explicada pela teoria
da endossimbiose.
O modelo endossimbiótico,
desenvolvido por Lynn Margulis,
defende que os seres eucariontes
terão resultado da evolução
conjunta de vários organismos
procariontes, os quais foram
estabelecendo associações
simbióticas entre si. Este modelo
admite que os sistemas
endomembranares e o núcleo
resultaram de invaginações da
membrana plasmática e que as
mitocôndrias e os cloroplastos, até
há cerca de 2100 M.a., eram
organismos autónomos. Nessa
altura, algumas células de maiores
dimensões (células hospedeiras)
terão capturado células mais
pequenas, como os ancestrais das
mitocôndrias e dos cloroplastos.
Alguns destes ancestrais
conseguiram sobreviver à digestão
no interior da célula procariótica de
maiores dimensões, estabelecendo
relações de simbiose. A íntima
uma relação simbiótica estável e permanente que trouxe inúmeras vantagens, desde uma
maior capacidade de metabolismo aeróbio (levado a cabo pelas mitocôndrias) até a uma maior
facilidade de obter nutrientes (produzidos pelo endossimbionte autotrófico).
Hoje em dia, considera-se que todos os organismos vivos pertencem a um dos domínios/ramos
da árvore da vida e que evoluíram a partir de um ancestral comum. Os domínios baseiam-se
no RNA Ribossomal.
II. Água e pH
A água é a substância química predominante nos organismos vivos, perfazendo cerca de 70%
da sua massa. É um óptimo solvente para a maioria das moléculas polares e apresenta diversas
características que fazem dela uma molécula única. Entre as principais características da água
destacam-se:
Molécula polar – ligação entre átomos com electronegatividades diferentes (a partilha
dos electrões entre os átomos é assimétrica);
Forma pontes de hidrogénio;
Constante dieléctrica elevada.
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As pontes de hidrogénio ocorrem quando dois átomos muito electronegativos (oxigénio, flúor
ou azoto, os elementos mais electronegativos, ou seja, com
maior tendência para captar um electrão) competem pelo
mesmo átomo de hidrogénio, o doador dos electrões que
acabam por ser atraídos principalmente pelos átomos
electronegativos.
Assim, as pontes de hidrogénio são fortes o suficiente para serem úteis mas fracas o suficiente
para serem quebradas e restabelecidas de forma reversível.
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Moléculas anfifílicas (como ácidos gordos), que contém simultaneamente grupos polares e
grupos não-polares, tendem a dispor-se em aglomerados de modo a que as suas regiões
hidrofóbicas não estejam em contacto com a água, verificando-se assim a formação de
micelas. Nas micelas, as moléculas mantêm-se juntas não porque existam interacções entre si
mas porque essa configuração contribui para a estabilidade do sistema e para o aumento da
sua entalpia. A formação deste tipo de estruturas constitui o princípio base da formação de
membranas celulares.
Uma outra propriedade característica das moléculas de água é a sua tendência para sofrerem
ionização segundo a reacção:
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Equação de Henderson-Hasselbach
O valor de pKa expressa a força relativa de um ácido: quanto mais baixo for o valor de pKa mais
forte é o ácido. Este valor corresponde ao valor de pH do ponto médio de uma curva de
titulação, ou seja, ao ponto para o qual [HA]=[A-] (ponto isoeléctrico).
O pH do sangue ronda os 7.4 e pequenas variações, como 0.2, são suficientes para provocar a
morte de um indivíduo. No entanto, o pH noutros locais do organismo pode ter valores muito
diferentes (ex. pH do estômago pode variar entre 2.5 e 3.0) de acordo com as reacções que
ocorrem nos diferentes órgãos/tecidos. Apesar dos diferentes valores que se podem registar
nos mais variados tecidos, é
necessário que, em cada caso, o
pH se mantenha constante,
qualquer que seja o seu valor
ideal, para que as reacções
metabólicas se dêem
correctamente. É para isso muito
importante a existência de
soluções tampão.
Alguns ácidos ou bases e os seus
conjugados podem ser utilizados
como soluções tampão na
medida em que mantém o pH do
meio relativamente constante
face a pequenas variações das
concentrações de outros
ácidos/bases da solução. Ácidos e
bases fracas são os que melhor
desempenham esta função. O
intervalo de pH em que as
soluções se comportam como
tampão é .
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Apesar da sua grande diversidade, as proteínas são formadas apenas por 20 tipos de
aminoácidos cuja natureza e sequência condiciona a estrutura final da cadeia polipeptídica e,
consequentemente, a função da proteína. Algumas das
propriedades dos aminoácidos que mais contribuem
para a estrutura e função das proteínas são:
Estereoquímica (disposição espacial das
moléculas);
Hidrofobilidade e polaridade relativas;
Propriedades das ligações hidrogénio;
Propriedades de ionização.
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Peptidoglicanos, constituintes das paredes celulares de células bacterianas, são formados por
D-aminoácidos. No entanto, essa é uma excepção pois, apesar de em laboratório a síntese de
aminoácidos dar origem a moléculas L e D, na maioria dos organismos vivos apenas se
encontram L-aminoácidos.
Alanina Glicina
Isoleucina
Apolares
Leucina
Prolina Valina
Metionina
Polares sem carga
Serina
Cisteína Treonina
Asparagina
Glutamina
Básicos
Histidina
Lisina
Arginina
Ácidos
Ácido Aspártico
Ácido Glutâmico
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Aromáticos
Fenilalanina
Tirosina Triptofano
Os aminoácidos têm grupos ionizáveis (grupo amina, grupo carboxílico e, por vezes, também o
grupo R), pelo que podem encontrar-se sob a forma de catião ou anião. Excepto para valores
de pH extremos, coexistem várias formas ionizáveis de um aminoácido, predominando uma
delas, de acordo com a natureza ácida ou básica do meio.
Em condições fisiológicas, nomeadamente em meio aquoso, os aminoácidos designam-se
zwiteriões porque se apresentam na forma de dipolos iónicos, com ambos os grupos amina e
carboxílico ionizados. Estes grupos comportam-se como ácidos ou bases fracas,
respectivamente, pelo que é possível representar uma curva de titulação de um aminoácido.
Em aminoácidos com grupos R não ionizáveis (aminoácidos dibásicos) destacam-se dois
pontos na curva de titulação que correspondem, cada um, ao pKa de um dos grupos amina ou
carboxílico.
pKa do grupo amina (NH3+) – corresponde ao pH para o qual há 50% do aminoácido na
forma aniónica e na forma de zwiterião, tendo um valor básico.
pKa do grupo carboxilo (COO-) – corresponde ao pH para o qual há 50% do
aminoácido na forma de zwiterião e na forma catiónica, tendo um valor ácido.
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Onde: e
.
17
Exemplo de um problema:
Qual é o pH de uma solução de glicina em que o grupo –αNH3 está 1/3 dissociado?
Se o grupo αNH3 está 1/3 dissociado, existe uma parte de glicina com carga negativa para
duas partes de glicina neutra. O pKa a utilizar neste caso é o do grupo amina (9.6). Tem-se
então:
Ilustração 17 - Péptido.
Os ângulos de diedro, φ e ψ, não podem assumir valores arbitrários pois certas configurações
da molécula são impossíveis devido à sobreposições de nuvens atómicas. Deste modo, estes
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ângulos estão restritos a determinados valores que podem ser representados recorrendo a um
gráfico de Ramachandran:
No entanto, a distinção entre péptidos e proteínas não se baseia unicamente na sua dimensão,
mas sim nas respectivas funções biológicas de cada molécula.
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Estruturas Secundárias
Forma cilíndrica com o esqueleto da cadeia linear em hélice e os grupos laterais em
direcção ao exterior.
Forma-se quando o oxigénio do grupo carboxílico forma uma ligação de hidrogénio com
o hidrogénio do grupo amina de um aminoácido quatro resíduos a seguir, em direcção ao
terminal-C. Ao longo da hélice, todos os átomos de oxigénio do grupo carboxílico
estabelecem este tipo de ligação na mesma direcção, o que confere direccionalidade a
este arranjo periódico.
Ângulos característicos:
Hélice-α
A solubilidade desta estrutura fica determinada pela natureza das cadeias laterais porque
os seus grupos polares já estão envolvidos em ligações hidrogénio.
Cada espira da hélice representa, aproximadamente, 3.6 resíduos de aminoácidos e
envolve 13 átomos – 3.613 helix. Cada resíduo estende-se por 1.5 Å, logo o passo da
hélice (“altura” de cada volta) tem 5.4 Å.
A hélice possui um momento dipolar bem definido: o terminal amina possui uma carga
parcialmente positiva e o terminal carboxilo possui uma carga parcialmente negativa.
Cadeias, de 5-8 resíduos, agrupadas lado a lado, cujas folhas adjacentes se ligam por
pontes de hidrogénio. A natureza das ligações estabelecidas leva as folhas a formarem
planos e a terem uma conformação final pregueada.
Folhas-β
Têm uma direcção definida pelo que folhas adjacentes podem progredir na mesma
direcção – paralelas, ou em direcções opostas – anti-paralelas (menos estáveis). Em
ambas as situações, cadeias laterais R dispõem-se para um e outro lado da folha.
Nas zonas de ligação, que fazem a continuação de uma folha para a outra, podem existir
turns e loops.
Pequenas estruturas em forma de U, formadas por 3 ou 4 aminoácidos, que
redireccionam o esqueleto da cadeia para o seu interior, revertendo a sua direcção, e
permitem que as proteínas se tornem estruturas compactas.
Em cada turn estabelece-se apenas uma ligação hidrogénio – entre o oxigénio do grupo
Turns
β-turns são das estruturas mais comuns e fazem a ligação entre cadeias anti-paralelas de
folhas-β. Muitas vezes contêm resíduos de glicina ou prolina e formam-se
preferencialmente à superfície da proteína, de modo a que os grupos que não estão
envolvidos na ligação hidrogénio possam interagir com a água.
Fazem a ligação entre vários elementos da estrutura secundária das proteínas (ex. ligam
folhas-β paralelas).
Devido à sua estrutura não organizada, uma mutação que ocorra numa zona associada a
um loop tem tendência a ser menos grave do que se ocorresse numa folha ou numa
hélice pois não implica a destruição da estrutura proteica e, consequentemente, a perda
de função.
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As cadeias polipeptídicas podem ainda apresentar sequências com estrutura não tipificada,
chamas sequências random. Apesar do nome, estas sequências são bem definidas para cada
proteína e mantém-se mesmo após renaturação, não encaixando, contudo, em nenhuma das
tipologias anteriores.
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Em 1953 Frederick Sanger sequenciou as duas cadeias proteicas da insulina (proteína com 51
resíduos composta por dois polipéptidos ligados por pontes de dissulfureto) através de um
processo de identificação do terminal amina de uma cadeia. Os resultados de Sanger
estabeleceram que todas as moléculas de uma determinada proteína têm a mesma sequência
de aminoácidos.
As proteínas podem ser sequenciadas de duas maneiras:
Sequenciação real da cadeia polipeptídica;
Sequenciação do DNA do gene correspondente.
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Ilustração 30 - Cromatografia por afinidade: as proteínas com afinidade com o gel do tubo ficam ligadas ao
mesmo, enquanto que as proteínas sem afinidade saem do tubo.
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Ilustração 32 - Separação de proteínas pela combinação de dois métodos: ponto isoeléctrico e electroforese.
a. Catálise Enzimática
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cofactor;
Baixam a energia do estado transiente, diminuindo a energia de activação necessária a
uma reacção – aceleram a sua velocidade (velocidade até 1016x superior!);
Não modificam a constante de equilíbrio K;
Encontram-se intactas no final da reacção;
Têm elevada especificidade;
A sua actividade pode ser sujeita a controlo.
De acordo com o tipo de reacção que catalisam, as enzimas classificam-se da seguinte forma:
Subclasses
Nº Classe Tipo de Reacção catalisada
importantes
Dehidrogenases;
Oxidases;
Transferência de electrões (iões hidratados Peroxidases;
1 Oxidorredutases
ou átomos H) Reductases;
Monooxigenases;
Dioxigenases.
C1 – Transferases;
Glicosiltransferases;
2 Transferases Transferência de grupos
Aminotransferases;
Fosfotransferases.
Esterases;
Hidrólises (transferência de grupos Glicosidases;
3 Hidrolases
funcionais para a água) Peptidases;
Amidases.
C-C liases;
Adição de grupos para formar ligações
C-O liases;
4 Liases duplas ou formação de ligações duplas para
C-N liases;
remoção de grupos
C-S liases.
Epimerases;
Transferência de grupos entre uma mesma Cis trans isomerases;
5 Isomerases
molécula para formar isómeros Transferases
intramoleculares.
C-C ligases;
Formação de ligações C-C, C-S, C-O ou C-N
C-O ligases;
6 Ligases por reacções de condensação acopladas a
C-N ligases;
clivagem de ATP
C-S ligases.
As enzimas podem ter especificidade para um determinado tipo de substrato e/ou de ligação,
apresentando diversos níveis de especificidade. A especificidade é controlada pela estrutura –
um encaixe único do substrato com a enzima assegura a selectividade. Às enzimas pouco
específicas costuma dar-se o nome de enzimas promíscuas.
Em qualquer enzima, o substrato liga-se ao centro activo onde a reacção é catalisada. O centro
activo, constituído pelo conjunto de aminoácidos que entram em contacto com o substrato,
compreende o local de fixação, que se combina com o substrato por ligações fracas, e o centro
catalítico, que actua sobre o substrato levando-o a sofrer a reacção química.
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A reacção entre uma enzima (E) e um substrato (S) de modo a dar um produto (P) pode ser
representada por:
(Numa fase inicial, assume-se que a reacção inversa à formação do produto P é negligenciável
porque se verifica [P]~0 ).
Assim,
Constante de Michaelis
Assim,
Velocidade da reacção
Então tem-se
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Equação Michaelis-Menten
Turnover number
Quando:
Vmax é uma constante e representa um valor teórico pois nunca é alcançada na realidade –
implicaria que todas as enzimas estivessem ligadas ao substrato.
O turnover number, que se representa por Kcat, é uma medida da actividade catalítica máxima
de uma enzima. O Kcat é definido como o número de moléculas de substrato que são
convertidas em produto por molécula de enzima e unidade de tempo quando a enzima está
saturada de substrato.
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Ilustração 36 - Curva de Michaelis para diferentes concentrações de substrato e para diferentes enzimas.
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Inibidores anti-competitivos – ligam-se a locais da enzima que não o seu centro activo
apenas após a formação do complexo ES.
Há a formação de dois complexos, ES e
ESI, sendo o complexo ES o único com
actividade catalítica. Como o inibidor
apenas se liga ao complexo ES, à medida
que a concentração de substrato
aumenta a inibição é mais acentuada.
Verifica-se a diminuição do Km e de vmax
na mesma proporção.
IV. Glúcidos
Glúcidos, glícidos ou hidratos de carbono, as moléculas mais abundantes na Terra, são
compostos de carbono, oxigénio e hidrogénio [(CH2O)n], e podem conter outros elementos
como azoto e enxofre. Desempenham diversas funções, desde energéticas (glucose e
sacarose) a funções de armazenamento ou estrutural. Classificam-se em:
Monossacarídeos – são os monómeros dos glícidos, como a frutose, glucose e
galactose;
Dissacarídeos – são compostos por dois monómeros, sendo, portanto, dímeros, tais
como a sacarose, a maltose e a lactose;
Oligossacarídeos – são compostos por 3 a 10 monómeros;
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Alguns glícidos apresentam grupos aldeído (H-C=O) ou cetona (C=O). Se o grupo carbonilo
(C=O) se localizar no final da cadeia carbonada (inclusive num grupo aldeído), então o glícido é
uma aldose. Caso contrário, é uma cetose.
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36
Tal como as proteínas apresentam uma estrutura tridimensional, também os glícidos podem
adquirir essa mesma estrutura, consoante os átomos entre os quais a ligação glicosídica é
estabelecida.
(1 4) – Zig-zag – ribbon like
(1 3) & (1 4) – U-turn – hollow helix
(1 2) – Twisted – crumpled
(1 6) – Sem uma conformação ordenada
Os polissacarídeos podem ser classificados de acordo com o tipo de monómeros e com o tipo
de cadeia que formam:
Homopolissacarídeos Heteropolissacarídeos
Constituídos por apenas um tipo de Constituídos por diversos tipos de
monómeros monómeros
Não- Não-
Ramificados Ramificados
ramificados ramificados
Cadeia ramificada; alguns Cadeia ramificada; alguns
Cadeia Cadeia
monómeros estabelecem monómeros estabelecem
simples simples
mais do que uma ligação mais do que uma ligação
Para além de ligações glicosídicas os glícidos podem estabelecer outros tipos de ligações. Por
exemplo, podem estabelecer-se pontes de hidrogénio entre monómeros adjacentes como
acontece na celulose (glícido que o organismo humano não consegue digerir sem o auxílio de
outros organismos) e os peptidoglicanos (encontrados na parede celular de procariontes)
formam cadeias ligadas entre si por aminoácidos (L e D).
V. Lípidos
Lípidos são compostos de carbono e hidrogénio (cadeias alifáticas, formadas por –CH2–),
geralmente com mais de 8 carbonos, caracterizados por uma baixa solubilidade em água e
elevada solubilidade em solventes não-polares (como o benzeno e o clorofórmio).
Desempenham funções variadas destacando-se os papéis de reserva energética (armazenam
cerca de 38 KJ/mol contra os 17 KJ/mol das proteínas e glícidos), precursores hormonais,
constituintes das membranas biológicas, cofactores, etc. A sua composição química é variada e
dividem-se em várias classes, entre as quais se destacam os ácidos gordos e os fosfolípidos.
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Todos os ácidos gordos sintetizados pelo organismo humano são do tipo cis, ou seja, nas suas
ligações duplas C=C os átomos de hidrogénio ligados aos átomos de carbono encontram-se
orientados para o mesmo lado. Esta insaturação em cis altera a conformação das caudas
carbonadas – deixam de ser lineares e passam a estar “dobradas”, formando-se um ângulo de
~30º na zona da ligação dupla. Este facto é muito importante quando os ácidos gordos se
encontram em membranas ou agregados pois confere flexibilidade às estruturas.
Ácidos gordos insaturados em trans são produzidos por algumas bactérias presentes no
sistema digestivo dos ruminantes e são obtidos pelos humanos através do consumo de
produtos lácteos, carne animal ou pelo consumo de produtos que sofreram hidrogenação. A
natureza da ligação trans não altera a conformação das caudas carbonadas do mesmo modo
que a ligação cis (não altera muito significativamente a linearidade da cadeia de carbonos) e
está associada ao aumento dos níveis de LDL (“mau colesterol”) e diminuição de HDL (“bom
colesterol”), pelo que é recomendável a sua ingestão moderada.
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A partir de ácidos gordos podem formar-se diferentes tipos de lípidos, sendo os triglicéridos
dos mais simples. Os triglicéridos constituem uma grande fonte de reserva energética
(encontram-se armazenados nas células adiposas) e são formados a partir de uma molécula de
glicerol associada a três ácidos gordos. Se esses ácidos gordos forem iguais o triglicérido diz-se
simples.
A hidrólise de um triglicérido/diglicérido é uma forma de obter energia metabólica. A reacção
de degradação leva à formação de um diglicérido/monoglicérido e à libertação de um ácido
gordo, energia e uma molécula de água. Posteriormente o ácido gordo pode ser degradado
fornecendo grandes quantidades de energia.
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dependendo do tipo de lípidos, podem originar micelas – estruturas esféricas constituídas por
ácidos gordos (com forma mais cónica), ou lipossomas – bicamadas de forma cilíndrica
formadas por fosfolípidos (com forma mais cilíndrica). Este princípio está na base da formação
das membranas biológicas.
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A fluidez das membranas é afectada pelo nível de saturação das cadeias carbonadas (quanto
mais insaturadas forem maior será a fluidez) e pela presença de colesterol. Se as membranas
fossem constituídas por cadeias saturadas verificar-se-ia uma cristalização das mesmas a
temperaturas mais baixas, ou seja, haveria uma grande tendência das cadeias para se
empacotarem de forma extremamente ordenada e as interacções intermoleculares seriam
fortes, o que diminuiria a fluidez da membrana. Com as ligações duplas cis ao longo da cadeia
de carbonos, esta deixa de ser linear e não se “arruma” tão perfeitamente como na situação
anterior, o que permite diminuir a temperatura de transição de fase e aumentar a fluidez da
membrana.
Ilustração 56 - 4 Dos fosfolípidos mais abundantes nas membranas celulares dos mamíferos.
À superfície das membranas destacam-se zonas mais densas, as jangadas lipídicas, que são
mais ricas em colesterol e ácidos gordos saturados. Estas jangadas são menos fluidas que as
zonas adjacentes e são ricas em proteínas com determinadas funções. São bem definidas mas
podem deslocar-se ao longo da membrana.
O colesterol é um tipo de lípido formado por um conjunto rígido de anéis associado a uma
pequena cadeia carbonada. É maioritariamente hidrofóbico mas apresenta um grupo
hidróxido OH polar, pelo que é uma molécula anfipática. É produzido apenas por animais (no
fígado), intercala-se nas membranas plasmáticas (pode formar pontes de hidrogénio com os
fosfolípidos adjacentes) regulando a sua fluidez (diminuindo-a, neste caso), e é um precursor
de hormonas como a testosterona e o estrogénio.
41
Ilustração 57 - Colesterol.
42
43
As unidades fundamentais dos ácidos nucleicos, os nucleótidos, são formadas por uma base
azotada e um grupo fosfato ligados a uma pentose. A estrutura básica de um nucleótido
compreende então:
Base azotada
Purinas: formadas por um anel duplo (penta-anel e hexa-anel)
Adenina (A)
Guanina (G)
Pirimidinas: formadas por um anel simples (hexa-anel)
Citosina (C)
Timina (T) – exclusiva do DNA
Uracilo (U) – exclusiva do RNA
Pentose – açúcar de 5 carbonos
Ribose – RNA
Desoxirribose – DNA (tem menos um grupo OH do que a ribose)
44
Grupo fosfato – responsável pelo carácter ácido das moléculas. Tem um pKa≈1, pelo
que em condições fisiológicas (pH≈7) está sempre ionizado e com carga negativa.
Assim, os ácidos nucleicos necessitam de Mg2+, poliaminas, histonas e outras proteínas
para equilibrar esta carga.
45
Em 1928, Fredrick Giffith descobriu um factor genético nas bactérias que modificava bactérias
inofensivas em bactérias mortais e, em 1952, Rosalind Franklin obteve a primeira imagem de
raio-X do DNA. Finalmente em 1953, com base nos resultados de experiências anteriores,
James Watson e Francis Crick apresentaram, na Universidade de Cambridge, o modelo de
dupla hélice para o DNA.
Segundo este modelo, a molécula de DNA é composta por duas cadeias polinucleotídicas, que
se dispõem em sentidos inversos, designando-se, por isso, antiparalelas. No esqueleto da
cadeia distinguem-se duas cadeias laterais e degraus centrais: as bandas laterais são formadas
por moléculas do grupo fosfato alternadas com pentoses e unidas por ligações fosfodiesters;
os degraus centrais são pares de bases ligados por pontes de hidrogénio. A especificidade das
ligações hidrogénio entre as purinas e pirimidinas é a chamada complementaridade de bases:
a adenina liga-se à timina por uma ligação dupla (A=T) e a guanina liga-se à citosina através de
uma ligação mais forte, uma ligação tripla (G C) – a quantidade de adenina e timina, e de
guanina e citosina numa célula é sensivelmente a mesma (Regra de Chargaff).
O DNA de dupla-hélice (dsDNA – double-stranded DNA) adquire, geralmente, a forma β – uma
dupla hélice de mão
direita com
aproximadamente
10 pares de bases
(3.4 Å cada par) por
volta, ou seja, tem
um passo de 34 Å;
20 Å de diâmetro e
uma rotação de 36°
entre os resíduos.
De um ponto de
vista vertical, a
distância entre as
cadeias de DNA
pode ser pequena –
minor groove, ou
grande – major
groove.
Ilustração 64 - Estrutura do ADN.
46
Nos seres procariontes, o DNA encontra-se no hialoplasma e é uma molécula circular. Já nas
células eucarióticas, 99% do material genético está no núcleo e apresenta-se sob a forma de
cromatina – filamentos de DNA associados a proteínas, as histonas.
Tipo de Bases
Pentose Localização Quantidade
Cadeia Azotadas
Constante para
Dupla Principalmente no
ADN Desoxirribose A, G, C, T todas as células da
Hélice núcleo
mesma espécie
Simples, Forma-se no núcleo Variável de célula
RNA por vezes Ribose A, G, C, U e migra para o para célula e com a
dobrada citoplasma actividade celular
Uma vez que o DNA se encontra sob a forma de uma dupla hélice, a sua estrutura pode ser
modificada por factores externos, como a temperatura ou acidez do meio.
47
VII. Metabolismo
Entende-se por metabolismo o conjunto de todas as reacções químicas que se dão dentro das
células. Inclui:
Catabolismo – processos oxidativos e exergónicos nos quais há libertação de energia
pela degradação de produtos complexos em produtos mais simples.
Ex: glicogenólise produz glicose a partir de glicogénio;
Anabolismo – processos redutivos endergónicos que requerem o uso de energia para
formar produtos complexos a partir de moléculas mais simples.
Ex: glicogénese armazena excesso de glicose sob a forma de glicogénio. Lipogénese
armazena glicose e aminoácidos sob a forma de lípidos.
Enquanto as vias catabólicas convergem para poucos produtos finais as vias anabólicas
divergem para a síntese de muitas biomoléculas diferentes. Por exemplo, o catabolismo de
lípidos, glícidos e proteínas origina um intermediário comum – acetil-CoA, que é utilizado na
respiração celular. Este intermediário, por processos anabólicos, pode depois dar origem às
mais variadas moléculas, desde fosfolípidos a triglicéridos, hormonas esteróides e vitaminas.
A maioria dos processos metabólicos inclui uma série de reacções e está organizada em vias
metabólicas reguladas por enzimas. As enzimas intervenientes podem encontrar-se isoladas,
em complexos multienzimáticos ou formar sistemas associados a membranas. A localização
de todo o complexo numa zona específica da célula, como uma região da membrana, permite
que o processo seja mais eficiente.
Uma via metabólica tem início num substrato específico e termina num determinado produto.
Durante todo o processo dão-se vários passos, cada um catalisado por uma enzima específica,
e os produtos de uma reacção tornam-se substratos das seguintes, pelo que se designam
intermediários. O facto de as vias estarem divididas em várias reacções permite não só que se
obtenham produtos que, de forma espontânea, não seria possível obter (acoplamento de
reacções termodinamicamente favoráveis a processos desfavoráveis), como também que se
regule o calor/energia libertado e se mantenha a temperatura da célula dentro de valores
fisiológicos.
48
49
a. Glicólise e Neoglucogénese
50
Ilustração 70 - Glicólise.
A equação global da glicólise é:
51
O produto final da glicólise é o ácido pirúvico, que vai depois ser utilizado na respiração
celular.
Fermentação láctica – verifica-se, por exemplo, nos bacilos lácticos, e o ácido pirúvico
é reduzido a ácido láctico. Após a glicólise, o piruvado combina-se com o H+
transportado pela NADH e origina o ácido láctico.
O ciclo de Cori traduz uma cooperação metabólica entre os músculos e o fígado quando
ocorre fermentação láctica. Após ser produzido nos músculos, o ácido láctico é transportado
pelo sangue até ao fígado, onde é novamente convertido em glucose pelo processo da
gluconeogénese.
Os seres humanos consomem cerca de 160 gramas de glucose por dia, sendo que 75% dessa
quantidade é consumida no cérebro. Os fluidos corporais contêm apenas 20 gramas de glucose
e as reservas de glicogénio rendem cerca de 180 a 200 gramas de glucose. É, portanto,
necessário que os seres humanos e outros organismos sejam capazes de sintetizar a sua
própria glicose.
52
b. Ciclo de Krebs
O ciclo de Krebs, ou ciclo do ácido cítrico, dá-se na matriz mitocondrial e consiste na oxidação
de acetil-CoA a CO2 com libertação de energia sob a forma de electrões, que é armazenada em
NADH e FADH2, moléculas transportadoras de electrões.
A acetil-coenzima A é o
produto de diversas vias
metabólicas mas não é um
produto final da glicólise. Para
que o ácido pirúvico possa
integrar o ciclo de Krebs é
necessário um passo
preparatório em que o
piruvato é convertido em
acetil-CoA. Ilustração 72 - Formação da acetilcoenzima A.
Na respiração aeróbia, após a
etapa da glicólise o ácido pirúvico entra nas mitocôndrias e, ao nível da matriz mitocondrial,
sofre 3 reacções que culminam na formação de acetil-CoA:
Descarboxilação – é removido um carbono ao ácido pirúvico. Forma-se acetaldeído e
dióxido de carbono;
Oxidação – são removidos dois H ao acetaldeído. Forma-se ácido acético e reduz-se
NAD+ a NADH+H+;
Formação de acetil-CoA – o ácido acético combina-se com uma coenzima A e forma-se
acetil coenzima A.
53
54
c. Cadeia Respiratória
Nas cristas mitocondriais encontra-se um conjunto de 3 complexos enzimáticos (I, III, IV),
ligados por dois transportadores electrónicos (CoQ e Citocromo C). O conjunto destas 8
enzimas, associadas a átomos metálicos (cofactores) capazes de aceitar e doar electrões,
forma a cadeia respiratória. Seis das proteínas que fazem parte desta cadeia encontram-se
fixas, enquanto as restantes duas são móveis.
Quando os cofactores NADH+H+ e FADH2 libertam hidrogénio para a cadeia respiratória dá-se
início ao processo de fosforilação oxidativa. Neste processo as reacções de oxidação e
fosforilação estão acopladas, o que permite a síntese de ATP:
Cada H fornecido à cadeia é separado em H+ + e-;
Os protões são bombeados para o espaço intermembranar criando um
gradiente de pH e um potencial electroquímico transmembranar de H+. Por
cada NADH+H+ são bombeados 10 H+ e por cada FADH2 apenas 6 H+, pois o
FADH2 liberta os seus protões apenas no segundo transportador;
Os electrões vão passar de transportador electrónico em transportador
electrónico até serem entregues ao oxigénio;
Os electrões são fornecidos ao O2, dando origem a iões;
Os iões oxigénio atraem H+ e forma-se água;
O potencial de H+ provoca a difusão destes iões de novo para o interior da matriz
mitocondrial e permite a síntese de ATP via ATPsintase;
O complexo V, ATPsintase, é formado por três partes. A corrente criada pela
passagem de H+ provoca a rotação de duas dessas partes, o rotor e o haste, e
activa os sítios activos da terceira parte, o bastão, onde é formado ATP a partir
de ADP+Pi;
Cada NADH origina 3 ATP e cada FADH2, como só leva ao bombeamento de 6
H+, permite apenas a síntese de 2 ATP.
55
56
57
O balanço final é:
ATP NADH+H+ FADH2 CO2
Glicólise 2 2 - -
Obtenção de acetil-CoA - 2 - 2
Ciclo de Krebs 2 6 2 4
Cadeia Respiratória 34 -10 -2 -
Por molécula de glicose 38 0 0 6
58
Os triglicéridos podem ser degradados e dar origem a 3 ácidos gordos, que entram no ciclo de
oxidação dos ácidos gordos, e a uma molécula de glicerol, que se torna um substrato da
glicólise. As enzimas responsáveis pela quebra das ligações dos ácidos gordos são as lipases.
Para poderem entrar no ciclo de oxidação os ácidos gordos livres têm que ser activados, isto é,
têm que ser convertidos em acil-CoA gordo e transportados para as mitocôndrias, onde se vai
dar todo o processo de extracção de energia. A activação dos ácidos gordos dá-se no
citoplasma, pela enzima acil-CoA gordo sintetase e com gasto de 2 ATP, e o seu transporte
está dependente da bomba de carnitina, onde o grupo acil-CoA é substituído por acil-carnitina
para poder entrar na mitocôndria. Uma vez dentro do organelo a acil-carnitina volta a ser
convertida em acil-CoA. A enzima acilcarnitina transferase I, enzima responsável pela
substituição do grupo acil-CoA do ácido gordo, pode ser inactivada por malonil-CoA. Este
processo impede o transporte de ácidos gordos para a mitocôndria quando estes se
encontram a ser sintetizados.
59
60
61
VIII. Fotossíntese
Fotossíntese é o processo através do qual alguns seres vivos produzem matéria orgânica a
partir de matéria mineral utilizando energia luminosa (armazenada, posteriormente, nas
ligações químicas da matéria produzida). Os seres que realizam este processo chamam-se
fotoautotróficos e neles estão incluídas as plantas, as algas e algumas bactérias. A equação
que traduz o processo é:
62
Ilustração 84 – A maioria dos cloroplastos encontra-se nas folhas das plantas, existindo, contudo, um pouco por
todas as zonas verdes da mesma.
63
Ilustração 85 - Clorofila a.
Note-se que os fotões azuis, mais energéticos, excitam os electrões para estados de energia
mais elevados que no caso dos fotões vermelhos.
Através de uma experiência realizada em 1951, Gaffron provou que a luz era necessária para
iniciar o processo fotossintético, o qual poderia depois continuar durante alguns segundos
mesmo na sua ausência. A fotossíntese compreende assim duas fases sucessivas:
Fase fotoquímica, ou fase luminosa/clara – dependente da luz. Dá-se a excitação dos
pigmentos fotossintéticos e a fotólise da água. É uma fase exergónica, produzindo-se
ATP, NADPH e O2;
Fase química, ou fase escura – também conhecida como Ciclo de Calvin. Esta fase
depende não da luz mas sim da presença de CO2 e é endergónica. A partir de dióxido
de carbono e ATP e electrões do NADPH, provenientes da fase fotoquímica, produz-se
glicose (C6H12O6).
64
a. Fase fotoquímica
A fase fotoquímica ocorre nos tilacóides e transforma a energia luminosa captada pelos
pigmentos fotossintéticos em energia química. Nesta fase intervêm dois fotossistemas –
conjuntos de pigmentos associados a proteínas que se encontram na membrana dos tilacóides
e providenciam a energia
necessária para excitar os electrões
da clorofila:
Fotossistema II (PSII)
absorve comprimentos de
onda correspondentes a
680 nm e participa na
síntese de ATP. Encontram-
se na face da membrana
dos tilacóides que está
virada para o interior do
grana;
Fotossistema I (PSI)
absorve comprimentos de
onda correspondentes a
700 nm e participa na
síntese de NADPH.
Ilustração 87 - Tilacóides.
Nos fotossistemas os fotões são absorvidos pelos pigmentos antena e a sua energia é
canalizada para o centro de reacção, composto por uma clorofila a e por um aceitador
65
Ilustração 88 - Fotofosforilação.
66
A fosforilação do ATP dá-se por quimiosmose, ou seja, a difusão de iões, neste caso H+,
permite a síntese de ATP aquando da passagem de 2H+ pela enzima ATP Sintetase. A difusão
destes protões é garantida pelo gradiente de concentração existente entre o estroma e o
interior do tilacóide, um meio de pH muito mais baixo. Uma vez que na fotólise da água se
libertam não só e- como também H+, este processo ajuda a assegurar a diferença de pH
necessária ao sucesso da fotossíntese.
Ao passarem para o estroma um dos H+ é utilizado na formação de NADPH enquanto o outro é
de novo enviado por transporte activo para o interior do tilacóide. A energia necessária a este
transporte provém da energia libertada durante o transporte electrónico de electrões no PSII e
durante a fotofosforilação cíclica.
b. Fase química
A fase química é também conhecida como Ciclo de Calvin, ocorre no estroma dos cloroplastos
e é onde se dá a produção de açúcares. Este ciclo engloba 3 fases:
Fase 1, fixação de CO2 – 3 moléculas de CO2 reagem com 3 moléculas de RuBP
(ribulose bifosfato), um composto com 5 carbonos e 2 fosfatos, dando origem a um
composto com 6C muito instável. A enzima que participa nesta reacção é a RuBP
carboxilase, ou rubisco. O composto instável divide-se rapidamente formando 6
moléculas de 3-fosfoglicerado, que têm apenas 3C cada;
Fase 2, produção de açúcares – seguidamente, dá-se a fosforilação do 3-fosfoglicerado
em 1,3-bifosfoglicerado utilizando-se 6 ATP e a sua redução em gliceraldeído 3-
fosfato (PAGL) recorrendo-se a 6 NADPH. Formam-se então 6 PGAL, dos quais um
abandona o ciclo e é mobilizado para a síntese de moléculas orgânicas. Os restantes 5
PGAL permanecem no ciclo de Calvin;
67
Quando se fala no ciclo de Calvin consideram-se 3 ciclos como a unidade, pois apenas assim se
permite a formação e regeneração correcta de todos os elementos. O ATP e NADPH utilizados
neste processo provêm da fase fotoquímica e o ADP e NADP+ resultantes são reintegrados
nessa fase, onde se regeneram. Durante este processo gasta-se mais ATP do que NADH o que
explica a necessidade da fotofosforilação cíclica.
c. Variantes do processo
Tanto a mitocôndria como os cloroplastos geram ATP via difusão de iões H+, resultante de
uma concentração de H+ diferente no interior e exterior dos tilacóides. Ambos utilizam uma
cadeia transportadora de electrões e um complexo ATP sintetase similar. A diferença surge ao
nível do “combustível” a utilizar no processo.
O processo de fotossíntese descrito é do tipo C3, que é o tipo mais comum e ocorre em
plantas que tendem a ocupar áreas onde a intensidade da luz do Sol e a temperatura são
68
69
Ilustração 93 - Experiência que apoia a teoria de que o DNA se replica de forma semi-conservativa.
Para que ocorra replicação é necessário que o DNA se encontre na forma de cadeia simples.
Existem 3 enzimas responsáveis por esta tarefa (helicases, SSB e girases) que, embora não
participem directamente no processo de replicação, são auxiliares de replicação.
70
A replicação dá-se em simultâneo nas duas cadeias do DNA. No entanto, enquanto na cadeia
3’-5’ (leading strand) ocorre replicação contínua no sentido da abertura da cadeia, isto é, a pol
III actua sem interrupções no sentido 5’-3’, na cadeia 5’-3’ (lagging strand) dá-se replicação
descontínua. Como a polimerase só actua no sentido 5’-3’ e está acoplada a um complexo que
se movimenta na direcção da abertura da cadeia dupla, o único modo de fazer com que a
enzima vá nessa direcção é sintetizar a lagging strand por partes. Os fragmentos descontínuos
são chamados fragmentos de Okasaki e estão associados, cada um, a um novo primer.
Quando a polimerase chega ao final de um destes fragmentos e encontra o fragmento
anterior, dissocia-se da cadeia e a replicação desse pedaço termina.
71
Como a pol I não consegue estabelecer a ligação entre os nucleótidos que substitui e os que se
encontram nas extremidades dos fragmentos de Okazaki, formam-se lacunas entre o grupo
fosfato de um nucleótido e o carbono 3' do outro. Essas falhas são posteriormente corrigidas
pelas DNA ligases através do estabelecimento de uma ligação covalente.
72
73
A maioria das células somáticas não tem níveis de telomerases suficientemente altos para
manter o comprimento dos seus telómeros por um número indefinido de divisões celulares.
Deste modo, à medida que a célula envelhece verifica-se o desaparecimento progressivo dos
telómeros e o encurtamento dos cromossomas, o que pode levar à morte ou senescência
(envelhecimento) celular.
Algumas patologias humanas, como o envelhecimento precoce, têm vindo a ser associadas a
mutações nas telomerases. Por outro lado, verifica-se que células cancerígenas apresentam
níveis anormalmente altos destas enzimas, o que lhes permite dividirem-se indefinidamente.
O problema da existência e replicação dos telómeros não se põe nos organismos procariotas
pois estes têm um cromossoma circular. Neste caso, não existe nenhuma “ponta solta” e,
portanto, todo o DNA é replicado sem problemas.
É importante referir que a replicação do DNA mitocondrial é feita por enzimas específicas e
que as enzimas mencionadas anteriormente, nomeadamente as polimerases, são responsáveis
pelo processo de replicação em E.coli. Nos mamíferos intervêm outros complexos, como
exemplificado na imagem seguinte:
Na seguinte tabela encontram-se algumas das enzimas que participam na replicação do DNA
em mamíferos:
Capacidade de
DNA Polimerase Localização Função
Proofreading (revisão)
74
X. Reparação do DNA
Alterações no DNA são de grande importância visto esta molécula guardar uma cópia
permanente do genoma da célula. Se uma alteração não for corrigida antes da replicação
então vai ser perpetuada para todas as gerações seguintes.
Apesar da replicação ser muito fiável podem verificar-se algumas modificações do DNA no final
deste processo devido à inserção de bases incorrectas. E não só nesta fase da vida da célula,
mas em todas as fases do ciclo celular, podem ocorrer alterações na sequência e estrutura do
DNA, espontâneas ou induzidas por diversos factores externos como químicos e radiação.
Alterações ao nível da molécula de DNA podem impedir os processos de replicação e
transcrição, bem como aumentar a frequência de mutações. Para manter a integridade dos
seus genomas as células desenvolveram mecanismos de reparação que actuam no sentido de
reverter reacções químicas responsáveis pela alteração do DNA e/ou substituir bases
incorrectas ou danificadas.
75
Muitos agentes químicos são agentes alquilantes, isto é, são agentes reactivos que transferem
grupos metilo ou etilo para bases do DNA, modificando-as quimicamente. A alquilação da
guanina em particular dá origem a O6-metilguanina, uma base complementar da timina em vez
da citosina, pelo que a cadeia complementar desta molécula virá alterada. Este tipo de
alteração do DNA pode ser reparada directamente por acção de enzimas (O6 metilguanina
metiltransferase) que transferem o grupo metilo, adicionado à posição O6 da guanina, para um
resíduo de cisteína presente no sítio activo da enzima.
76
Muitos agentes carcinogénicos danificam o DNA pela introdução de grandes grupos aos
nucleótidos, os aductos de DNA, que alteram a configuração normal das cadeias e, por vezes,
até da própria molécula de DNA.
Nem todas as alterações do DNA podem ser reparadas directamente, como acontece com os
dímeros de timina e a alquilação, pelo que as células têm mecanismos que permitem reparar
vários tipos de danos. Os mecanismos mais importantes, tanto em procariotas como em
eucariotas, são os métodos de reparação por excisão – excisão de base, excisão de nucleótido
e mismatch repair. Estes mecanismos reconhecem a zona danificada e eliminam a base ou
nucleótido alterados permitindo depois a síntese de uma nova cadeia de DNA a partir da
cadeia complementar intacta.
A reparação por excisão de base permite corrigir problemas em bases individuais, quer estas
tenham sido danificadas por oxidação ou ionização quer sejam o resultado de deaminação ou
depurinação. Neste processo de reparação a base danificada é reconhecida e, por acção de
77
enzimas específicas, é clivada a ligação entre a pentose e a base, formando-se um local AP.
Este local é posteriormente reconhecido por uma AP endonuclease que quebra a ligação
fosfodiester entre o fosfato do local AP e a pentose do nucleótido adjacente, deixando um nick
(interrupção) na cadeia. O que resta do nucleótido a ser reparado é então removido e, por
acção da DNA polimerase e DNA ligase, é adicionada uma nova base.
78
O sistema mismatch repair reconhece e corrige bases não complementares adicionadas à nova
cadeia de DNA durante o decorrer da replicação. Em E. coli esse sistema, designado sistema
MUT, é formado por um conjunto de 3 proteínas (MutS, MutL e MutH) que reconhecem a
cadeia-filha por esta ainda não estar metilada (a metilação ocorre nos resíduos de adenina de
sequências GATC).
MutS reconhece a base alterada e forma um complexo com as restantes proteínas. De seguida,
a MutH, uma endonuclease, cliva a nova cadeia (ainda não metilada) no local da sequência
GATC e a MutS e MutL, juntamente com uma helicase e uma endonuclease, removem a cadeia
de DNA entre o local de clivagem e a base mal colocada. Posteriormente, polimerases e ligases
procedem à síntese do DNA em falta.
79
80
A recombinação homóloga requer extensa homologia genética, ou seja, é necessário que haja
uma extensa complementaridade entre os nucleótidos de 2 cadeias de cromossomas
diferentes, ou mesmo de zonas do mesmo cromossoma que estejam repetidas ou invertidas.
Usualmente a recombinação envolve a quebra de duas moléculas de DNA na mesma região,
onde as sequências são muito semelhantes, e a junção de um DNA ao outro, o que resulta num
processo de "cross-over".
Neste tipo de recombinação o local de troca pode estar localizado em qualquer zona da região
homóloga e não implica a alteração do arranjo dos genes nos cromossomas. O processo é
mediado por enzimas e pode dar-se segundo dois modelos:
Recombinação por copy choice dá-se durante a replicação, quando duas cadeias de
DNA próximas e homólogas estão a ser replicadas simultaneamente e, a dada altura,
trocam de cadeia molde;
Recombinação por breakage and rejoining (que ocorre com a acção de enzimas) não
se dá durante o decorrer da replicação e requer que as duas cadeias de DNA
homólogas sofram um nick no mesmo local. A partir desses nicks, uma das cadeias de
cada molécula é parcialmente separada e emparelha com a cadeia da outra molécula
que lhe é complementar.
Após a formação da junção de Holliday, que pode migrar ao longo da cadeia, as duas
moléculas rodam em torno do seu ponto de ligação. Dependo do sentido dessa rotação, as
cadeias cruzam em direcções diferentes e o produto final deste processo pode resultar em
heteroduplexes recombinantes ou não recombinantes.
Para separar as duas moléculas é então necessário cortar as cadeias cruzadas ao nível da
junção. Se o corte for horizontal então, após a ligação das cadeias obtém-se moléculas iguais
às originais – heteroduplexes não-recombinantes. Por outro lado, se o corte for vertical
verifica-se a recombinação propriamente dita, pois só neste caso há alteração na composição
da cadeia – as moléculas resultantes são heteroduplexes recombinantes e, caso a região
recombinada seja codificante, o gene pode deixar de ser transcrito ou a sua tradução pode
resultar numa proteína completamente diferente da proteína original.
81
No processo de recombinação
homóloga intervêm enzimas e
proteínas específicas, como as DNA
polimerase e ligase e proteínas SSB.
Em E.coli, existem dois sistemas
principais que têm um papel
fundamental na regulação dos
mecanismos de recombinação –
sistema Rec e sistema Ruv.
O Sistema Rec é constituído por 4
proteínas – RecA e complexo
RecBCD, e está envolvido nos
passos centrais da recombinação
homóloga. O complexo RecBCD
liga-se ao DNA de cadeia dupla
(dsDNA) e processa-o,
transformando-o em cadeias
simples (ssDNA) prontas a serem
utilizadas pela RecA. A proteína
Ilustração 114 - Acção do complexo RecBCD: RecBCD makes ss
nicks where RecA binds; Heterotrimeric product of recB, recC and
RecA tem três locais específicos de
recD SOS genes; Complex binds to free end of dsDNA and unwind ligação ao DNA, pelo que começa
it in ATP dependent reaction; Cleavage of both DNA strands; por se ligar a ssDNA, formando um
After Chi sequence (GCTGGTGG), stops cleaving 3’ end. filamento de DNA-proteínas, e, de
seguida, associa-se também a dsDNA. Segue-se o alinhamento das cadeias homólogas e a
RecA, à custa de ATP, catalisa o emparelhamento da cadeia simples com a sua cadeia
complementar proveniente do dsDNA, dando origem a um heteroduplex.
82
O Sistema Ruv é responsável pela resolução das junções de Holliday. A proteína RuvA
reconhece a junção e recruta a proteína RuvB. O complexo RuvAB, que tem actividade de
helicase, catalisa a migração da junção, promovendo a variação da extensão do heteroduplex,
e RuvC, que tem actividade de endonuclease, cliva as cadeias cruzadas. DNA ligases actuam no
sentido de ligar as cadeias das moléculas recombinantes, e termina o processo recombinação.
83
A produção de flagelina, um agente virulento, por parte das salmonelas é um bom exemplo de
recombinação intramolecular com repetições invertidas. As bactérias podem produzir,
alternadamente, flagelina H1 ou H2 conforme a orientação de uma das suas sequências, o
chamado segmento H. Este segmento é flanqueado por duas sequências invertidas, podendo
sofrer inversão por recombinação, e contém o promotor do gene da flagelina H2 e de um
repressor do gene da flagelina H1. Quando o segmento H se encontra numa orientação que
permite a sua transcrição, é produzida H2 e silenciado o gene da H1. Quando ocorre
recombinação, o gene de H2 deixa de ser transcrito e passa a ser produzida H1.
A alteração do tipo de flagelina produzida pela salmonela permite-lhe resistir mais tempo num
organismo pois assim que o sistema imunitário do hospedeiro já está preparado para
combater um tipo de virulência ela altera o tipo de flagelina produzida, desencadeando uma
nova resposta imunitária.
84
A recombinação não homóloga não requer qualquer semelhança entre sequências de DNA,
estando antes associada ao movimento de sequências – transposões, ao longo do genoma. Os
transposões são encontrados tanto em procariotas como em eucariotas e, em algumas
leveduras e protozoários, fazem parte de mecanismos de regulação de genes.
As unidades fundamentais dos transposões são as sequências de inserção (IS), sequências de
800 a 2000 nucleótidos que contêm um gene que codifica a proteína transposase flanqueado
por curtas sequências invertidas – repetições invertidas (IR).
85
86
87
Nos procariotas existem duas zonas consenso de 6 nucleótidos cada uma, uma na
região -10 e outra na região -35, respectivamente 10 e 35 nucleótidos antes do início
da transcrição propriamente dita, em +1. A região -10, também designada caixa TATA,
é rica em adenina e timina e, devido à natureza mais fraca das suas ligações, é mais
sensível à acção das helicases pelo que a cadeia dupla se abre preferencialmente nesta
zona.
Os promotores dos eucariotas são maiores e mais complexos. A sua caixa TATA
encontra-se na posição -25 e outras zonas consenso localizam-se em -50, -75 e -100.
Parte estrutural – zona transcrita. Encontra-se apenas numa das cadeias e a sua região
complementar, não codificante, denomina-se zona nonsense.
Zona de terminação – onde a transcrição é terminada.
Na transcrição intervém uma enzima específica, a RNA polimerase. Esta enzima transcreve a
informação contida no DNA para RNA e, à semelhança das DNA polimerases, catalisa o
crescimento de cadeias de RNA no sentido 5’-3’. No entanto, não necessita de um primer para
iniciar o processo. A RNA polimerase, assim como o processo de transcrição de procariotas e
eucariotas apresenta algumas diferenças:
A RNA polimerase de E. coli é um complexo enzimático formado por 5 subunidades
(duas α, β, β’, ω e σ). O factor σ é essencial para o reconhecimento da região
promotora do gene e para a correcta ligação da RNA polimerase ao DNA mas não tem
actividade catalítica, libertando-se da
enzima quando já se encontram
sintetizados alguns nucleótidos de RNA;
Nos eucariotas existe uma polimerase
diferente para cada tipo de RNA
(mensageiro, de transferência e
ribossomal) mas todas são complexos
formados por 12 a 17 subunidades e
partilham algumas características, tanto
entre si como com a polimerase dos Ilustração 126 - RNA polimerase procariótica.
procariotas.
RNA
Tipo de RNA sintetizado
polimerase
mRNA II
miRNA II
Genes nucleares tRNA III
rRNA
5.8S, 18S, I
88
28S
5S III
snRNA e
II e III
scRNA
Genes
Mitocondrial
mitocondriais Semelhantes à RNA
Genes dos polimerase bacteriana
Cloroplastos
cloroplastos
89
90
O processo de transcrição acima descrito diz respeito aos organismos procariotas. Nos
eucariotas a estrutura dos promotores e das RNA polimerases é diferente, pelo que vão existir
algumas diferenças nos mecanismos de transcrição.
O reconhecimento do promotor e a ligação da RNA polimerase não estão associados a um
factor σ mas dependem de diversos factores de transcrição – factores gerais, comuns à
transcrição de todos os genes, ou específicos para determinados genes. Os factores de
transcrição são, geralmente, proteínas que têm uma região que se liga ao DNA e outra região
que interage com outras proteínas e estimula a transcrição.
Na iniciação da transcrição, a RNA polimerase II associa-se ao promotor, ao mediador e a
outros factores de transcrição, dando origem ao complexo RNA polimerase II/Mediador – o
complexo de iniciação. A este complexo podem ligar-se ainda estimuladores (enhancers), que
são sequências de DNA
que se associam a
factores de transcrição
que regulam a actividade
da RNA polimerase. Os
estimuladores situam-se
em regiões intergénicas
que podem estar
localizadas em qualquer
ponto dos cromossomas,
sendo a sua ligação
possível devido à
existência de loops na
molécula de DNA. Ilustração 129 - Factores de transcrição dos eucariotas.
91
a. Regulação da Transcrição
O genoma de um organismo contém milhares de genes que não são todos transcritos em
simultâneo. Existem mecanismos de regulação, tanto em procariotas como em eucariotas,
que actuam ao nível da iniciação ou da elongação no sentido de silenciar ou promover a
transcrição de determinados genes, de acordo com as necessidades da célula.
Em organismos procariotas a regulação dá-se principalmente na etapa da iniciação e pode
envolver diversos mecanismos, dos quais iremos estudar dois exemplos: a regulação do
operão da lactose e do operão do triptofano em E.coli.
92
i. Operão da lactose
Os genes responsáveis por esse metabolismo distribuem-se por uma estrutura monocistrónica
e por uma estrutura tricistrónica. O operão da lactose, a estrutura tricistrónica, é constituído
por um promotor, um operador e por 3 genes que são transcritos em conjunto:
Promotor (P) – sequência promotora, local de ligação da polimerase;
Operador (O) – sequência à qual se pode ligar uma proteína reguladora (LacI), que
impede a transcrição dos genes do operão;
Gene LacZ – codifica a β-galactosidase, enzima responsável pela quebra da ligação
glicosídica entre a glucose e a galactose. É o gene mais importante, apresentando
maior afinidade na região RBS, e o facto de estar na extremidade 5’ protege o seu
transcrito de mRNA de uma degradação demasiado precoce;
Gene LacY – codifica a permease, uma proteína de membrana específica para o
transporte de lactose para o interior das células;
Gene LacA – codifica a transacetilase, uma proteína que modifica a galactose mas que
não é essencial ao seu metabolismo. É o gene menos importante e, por esse motivo,
está mais sujeito à degradação que os restantes genes.
Quando há lactose disponível na célula, esta liga-se à proteína reguladora LacI, alterando a sua
configuração tridimensional. Consequentemente, deixa de existir afinidade entre esta proteína
e o operador pelo que os genes do operão podem ser transcritos. São sintetizadas as proteínas
LacZ, LacY e LacA e a lactose é degradada. Este tipo de regulação diz-se por indução negativa
visto a presença de LacI impedir a transcrição.
93
Ilustração 133 - Na presença de lactose, a proteína LacI é bloqueada e os genes são transcritos.
Apesar de a lactose ser uma fonte de energia, como a glicose é um açúcar mais simples o seu
metabolismo é mais rápido. Como tal, quando existe glucose disponível na célula esta vai ser
utilizada primeiro e, só quando a glucose se tiver esgotado, é que a lactose começa a ser usada
como fonte de energia.
Na presença apenas de um açúcar, um gráfico do crescimento populacional de uma colónia de
bactérias é do tipo (1). Mas na presença de dois açúcares, digamos glucose e lactose, o
crescimento é do tipo (2) e diz-se um crescimento diauxico. Em (2) verifica-se que as bactérias
se dividem exponencialmente para depois o seu crescimento estabilizar (a) à medida que o
açúcar mais simples, neste caso a glucose, é consumido. Segue-se uma nova etapa de
crescimento e estabilização (b) quando é consumido o açúcar restante, a lactose. Se
representássemos os níveis de β-galactosidade na célula ao longo do tempo obteríamos uma
curva do tipo (c).
94
Ilustração 134 - (1) Crescimento normal. (2) Crescimento diauxico. (a) Glucose e lactose disponíveis; consumo de
glucose. (b) Apenas lactose disponível; consumo de lactose. (c) Níveis de β-galactosidade.
Ilustração 135 - Na ausência de glicose há maior produção de cAMP e o operão da lactose é activado.
95
Lactose Lactose+Glucose
LacI inactivado LacI inactivado
cAMP-CAP funcional cAMP-CAP não funcional
Elevada transcrição do operão Baixa transcrição do operão
96
Para além da regulação por um complexo repressor existe um outro mecanismo que controla a
transcrição de triptofano. Este mecanismo, associado às regiões L e A, é de regulação por
atenuação e permite que a transcrição seja inibida mesmo quando a quantidade de triptofano
na célula não é suficiente para activar o apo-repressor ou quando este mecanismo não é
eficaz.
Se não houve repressão ao nível do operador inicia-se a transcrição das regiões L e A. O RNA
resultante pode ser dividido em 4 zonas – 1 (L) e 2, 3 e 4 (A), ricas em conteúdo CG e que
tendem a formar ganchos. Dependo dos ganchos que se formam pode ou não ocorrer
transcrição:
Gancho 2-3, gancho de anti-terminação: este gancho forma-se relativamente longe da
RNA polimerase, não a destabilizando, pelo que a transcrição dos genes continua;
Gancho 3-4, gancho de terminação: a sua formação destabiliza a RNA polimerase e
provoca a sua dissociação do DNA, interrompendo a transcrição.
A quantidade de triptofano disponível na célula é que vai determinar o tipo de gancho que se
forma.
Logo após a transcrição inicia-se a tradução da região L no chamado péptido Líder. Este
péptido é formado por 14 aminoácidos e na posição 11 e 12 requer a introdução do triptofano.
De acordo com a quantidade de Trp disponível duas situações são possíveis:
97
Se a concentração de Trp é
elevada a tradução é rápida, o
que apenas permite a
formação de um gancho 3-4. A
transcrição pára e não é
sintetizado Trp, que existe em
abundância;
Se existe carência de Trp a
tradução é mais demorada e
as zonas 2, 3 e 4 ficam livres
para se associarem entre si.
Como o gancho 2-3 é mais
forte forma-se
preferencialmente, implicando
a continuação da transcrição e
a posterior síntese de
triptofano.
98
Como nos organismos eucariotas não existem estruturas policistrónicas nem ocorre
transcrição e tradução em simultâneo, os mecanismos reguladores já descritos só se aplicam a
seres procariotas. Nos eucariotas existem inúmeros factores de transcrição e estimuladores,
como já foi visto anteriormente, e vários mecanismos, como a metilação, que regulam o
processo de transcrição.
Nos eucariotas é necessária a interacção com várias proteínas e entre diferentes regiões do
cromossoma para que ocorra a transcrição. No entanto, o DNA encontra-se muito compactado
e associado a proteínas, as histonas, o que pode comprometer a sua disponibilidade para a
transcrição. O DNA precisa então de ser uma estrutura compacta, para que se possa
concentrar no núcleo da célula, mas simultaneamente dinâmica, de modo a permitir a
transcrição.
99
100
a. Processamento de tRNA
101
Após o processamento é ainda necessário activar o tRNA, passando este a ser designado
aminoacil tRNA. A activação dá-se pela ligação de um aminoácido ao terminal 3’, reacção com
gasto de ATP e mediada pela enzima aminoacil tRNA sintetase. Existe uma enzima para cada
aminoácido, verificando-se que a activação de diferentes tRNA’s que transportam o mesmo
aminoácido é feita pela mesma enzima.
Uma vez activado, o tRNA pode seguir para os ribossomas e intervir na síntese proteica. A
sequência de 3 nucleótidos, anti-codão, que permite o reconhecimento do codão de mRNA e a
adição do aminoácido correcto, é oposta ao local de ligação do aminoácido, localizando-se no
terminal de um dos ganchos da molécula de tRNA.
102
b. Processamento de rRNA
Os ribossomas, locais onde ocorre a síntese proteica, são formados por rRNA e proteínas
ribossomais. Cada ribossoma tem duas subunidades, uma subunidade pequena e outra
grande, formadas por diferentes rRNA’s que são caracterizados pelo seu coeficiente de
sedimentação (S). Também os próprios ribossomas se caracterizam por este coeficiente.
103
c. Processamento de mRNA
Nos procariotas, o mRNA está pronto a ser traduzido logo após a transcrição. Já nos
organismos eucariotas, o transcrito de pré-mRNA sintetizado no núcleo ainda vai sofrer
extensas modificações até poder ser utilizado no processo de tradução.
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105
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Iniciação – as subunidades pequenas dos ribossomas ligam-se aos locais de iniciação do mRNA
e quando é encontrado o codão de iniciação (metionina – AUG) liga-se a subunidade grande e
forma-se um complexo funcional. A iniciação depende de diversos factores de iniciação, tanto
nos eucariotas como nos procariotas, embora os locais de iniciação sejam diferentes para cada
um dos casos.
Nos eucariotas, os ribossomas ligam-se ao terminal 5’ do mRNA, que é reconhecido por ter a
base modificada 7-metilguanina, e migram até encontrarem o codão de iniciação. A eficiência
da iniciação é afectada pela sequência que rodeia o codão de iniciação que, em certos casos,
pode não ser reconhecido.
Nos procariotas, como não existe cap em 5’, os locais de iniciação são sequências específicas
que precedem o codão de iniciação, as chamadas sequências Shine-Dalgarno (SD) ou
ribossome binding-site (RBS). Estas sequências estão presentes antes da informação para a
tradução de qualquer proteína, mesmo nos mRNA’s poliscistrónicos, e são complementares de
uma região do rRNA 16S que constitui a subunidade pequena dos ribossomas procariotas. A
maior ou menor afinidade do rRNA com as sequências SD traduz-se numa maior ou menor
tradução, respectivamente, da proteína em questão. Deste modo é possível que num mRNA
poliscistrónico o balanço final das várias proteínas produzidas possa não ser o mesmo. De um
modo semelhante, as proteínas mais longe do terminal 3’ (por onde começa a degradação por
parte das RNases) têm maior probabilidade de serem traduzidas;
107
108
Ilustração 158 - Sequência sinal no terminal amina que é libertada quando a proteína chega ao destino.
Assim que um ribossoma se afasta do local de iniciação um outro ribossoma pode ligar-se e dar
início à tradução de mais uma proteína. É assim possível que um mesmo mRNA seja traduzido
em simultâneo por vários ribossomas, que estão usualmente espaçados de cerca de 100 a 200
nucleótidos, e a cujo grupo se dá o nome de polissomas.
Durante a tradução, a cadeia polipeptídica que vai sendo sintetizada fica sujeita a interacções
entre os seus aminoácidos constituintes. Como a configuração final de uma proteína funcional
é influenciada pela sua sequência total de aminoácidos e pelo meio em que se encontra, para
prevenir a formação de estruturas tridimensionais antes de ser terminada a tradução e antes
de a proteína ter sido transportada para o seu local de acção, um conjunto de proteínas
estabilizam a sequência linear de aminoácidos. Quando a cadeia polipeptídica já foi toda
sintetizada e já se encontra no local em que é necessária, essas proteínas, os chaperões,
dissociam-se da cadeia e permitem então que a proteína adquira a configuração tridimensional
que a torna funcional.
109
local A e estimulam a hidrólise da ligação peptídica entre o péptido até aí sintetizado e o tRNA
no local P. A proteína é então libertada, assim como as subunidades do ribossoma e o tRNA.
A informação para a ordenação dos aminoácidos está contida nos genes, existindo um código
de correspondência – código genético – entre as 4 letras do RNA e os 20 aminoácidos
conhecidos. Ao conjunto de 3 nucleótidos, tripleto, necessários para a síntese de um
aminoácido, chama-se codogene (DNA), codão (mRNA) e anti-codão (tRNA).
O código genético apresenta diversas características:
Universal – é comum a quase todas as células;
Não ambíguo – a um tripleto de nucleótidos corresponde apenas um aminoácido;
Redundante/degenerado – vários codões podem sintetizar um mesmo aminoácido. A
degenerescência do código genético vai de 1 a 6 (aminoácido arginina está associado a
6 codões diferentes);
O terceiro nucleótido não é tão específico. A degenerescência dá-se muitas vezes na
terceira base;
O tripleto AUG tem uma dupla função – codifica o aminoácido metionina e é ao
mesmo tempo um codão de iniciação. Podem existir outros codões de iniciação mas a
metionina é o mais comum;
Os tripletos UAA, UGA e UAG são codões de finalização ou codões stop – não
codificam qualquer aminoácido e sinalizam o fim da síntese proteica.
AGT, AGC,
Ácido
GAA, GAG Glutamina CAA, CAG Serina TCT, TCC,
Glutâmico
TCA, TCG
GCT, GCC,
Alanina Histidina CAT, CAC Tirosina TAT, TAC
GCG, GCA
AGG, AGA,
ATT, ATC, ACT, ACC,
Arginina CGT, CGC, Isoleucina Treonina
ATA ACA, ACG
CGA, CGG
TTA, TTG,
Asparagina AAT, AAC Leucina CTT, CTC, Triptofano TGG
CTA, CTG
110
GTT, GTC,
Cisteína TGT, TGC Lisina AAG, AAA Valina
GTA, GTG
TAA, TAG,
Fenilalanina TTT, TTC Metionina ATG Stop
TGA
Interfase – período compreendido entre o final da divisão celular e o início da divisão seguinte.
Corresponde a 90% da vida da célula e é um período de intensa actividade biossintética,
verificando-se o crescimento e duplicação do conteúdo celular, incluindo o seu DNA. Nesta
fase os cromossomas não são visíveis ao microscópio óptico. A interfase engloba ainda 3
períodos diferentes:
111
Fase mitótica – fase em que se dá a divisão celular, engloba duas etapas – mitose e citocinese:
Mitose – também chamada de cariocinese; período correspondente à divisão do
núcleo. Está dividido em 4 subfases:
Profase – Nesta etapa, a mais longa da fase mitótica, a cromatina condensa-se
gradualmente em cromossomas (DNA associado a proteínas, diferentes entre
eucariotas e procariotas) bem definidos. Cada cromossoma é agora composto
por dois cromatídeos unidos pelo centrómero, uma sequência específica de
DNA à qual se liga um disco proteico, o cinetocoro. Os dois centríolos (nas
células animais) ou o citoesqueleto (nas células vegetais) presentes na célula
começam a afastar-se em sentidos opostos e dão origem ao fuso acromático
ou mitótico, constituído por um sistema de microtúbulos proteicos que se
agregam para formar fibrilhas. Os centríolos dirigem-se para os pólos e o
invólucro nuclear e os nucleólos desagregam-se;
Metafase – fase mais curta em que os cromossomas atingem a condensação
máxima e os pares de centríolos estão nos pólos da célula. Algumas fibrilhas
do fuso acromático ligam-se aos cromossomas e estes dispõem-se com os
centrómeros no plano equatorial e os braços para fora, formando a chamada
placa equatorial;
Anafase – os dois cromatídeos separam-se e passam a constituir dois
cromossomas independentes que migram para cada um dos pólos da célula,
processo chamado ascensão polar. No final desta fase, os dois pólos da célula
contêm moléculas de DNA equivalentes e a célula começa a alongar-se;
Telofase – a separação dos dois conjuntos de cromossomas é finalizada pela
formação da membrana nuclear. O fuso acromático desaparece e os
cromossomas relaxam novamente, tornando-se indistintos. O nucléolo é
reconstituído e cada núcleo entra na interfase.
Citocinese – período correspondente à divisão do citoplama e à individualização das
duas células-filhas. Nas células animais a separação das células ocorre por
estrangulamento da membrana. No entanto, nas células vegetais, devido à existência
de parede celular, isso não é possível. O complexo de Golgi liberta lamelas/vesículas
que se alinham na região equatorial e se fundem formando a membrana plasmática.
Posteriormente, vão depositar-se, nessa mesma membrana, fibras de celulose que vão
dar origem à parede celular.
Durante o ciclo celular pode não ocorrer citocinese e as células passam a ser
polinucleadas, dizendo-se que têm uma estrutura cenocítica ou que formam sacos de
núcleos. Alguns tipos de glóbulos brancos e células do músculo cardíaco podem
apresentar estas estruturas e durante o desenvolvimento embrionário é comum a
citocinese não conseguir acompanhar a divisão nuclear.
112
Ilustração 164 - Quantidade de DNA ao longo das Um cromossoma caracteriza-se pelo seu
várias fases do ciclo celular. comprimento, padrão de bandas e posição do
centrómero.
Meiose é o processo de divisão nuclear através do qual se formam 4 núcleos haplóides (n) a
partir de uma célula diplóide (2n). O número de cromossomas da célula é reduzido para
metade pelo que a meiose também pode ser chamada de redução cromossómica.
A meiose, tal como a mitose, é precedida pela replicação do DNA dos cromossomas. A esta
replicação seguem-se duas divisões consecutivas. A primeira divisão chama-se divisão
reducional, ou divisão I, e a segunda divisão tem por nome divisão equacional, ou divisão II.
Estas divisões dão origem a 4 células diferentes entre si, cada uma das quais com metade do
número de cromossomas da célula inicial.
113
cromatídeos e trocas
recíprocas de segmentos
de DNA, fenómeno que
se designa crossing-over.
Os centríolos migram
para os pólos da célula e
o invólucro nuclear
desintegra-se;
Metafase I – os
bivalentes ligam-se a
microtúbulos do fuso
acromático pelos Ilustração 165 - Ponto de quiasma.
centrómeros e os pontos
de quiasma localizam-se no plano equatorial do fuso acromático. A orientação
de cada par dá-se ao acaso;
Anafase I – os dois cromossomas homólogos de cada bivalente separam-se e
migram aleatoriamente para pólos opostos da célula;
Telofase I – Em cada pólo da célula constitui-se um núcleo haplóide (n) cujos
cromossomas apresentam dois cromatídeos. Os cromossomas descondensam,
tornando-se mais finos e mais longos. O fuso acromático desaparece e o
invólucro nuclear reorganiza-se. Em alguns casos, segue-se a citocinese e
formam-se duas células haplóides.
Pode ou não existir uma Interfase entre a divisão reducional e a divisão equacional
mas, em qualquer dos casos, não se verifica a replicação do material genético.
Divisão II – nesta divisão ocorre a separação de cromatídeos, obtendo-se assim, quatro
núcleos haplóides (n), cujos cromossomas são constituídos por um único cromatídeo.
Pelo facto de se manter o número de cromossomas, esta divisão também é designada
de divisão equacional. Esta divisão da meiose é em tudo muito semelhante à divisão
celular por mitose:
Profase II – Os cromossomas constituídos por dois cromatídeos tornam-se
mais grossos e curtos. Organiza-se o fuso acromático e o invólucro nuclear
desaparece;
Metafase II – Os cromossomas no seu máximo encurtamento dispõem-se com
os centrómeros na zona equatorial do fuso acromático;
Anafase II – Os dois cromatídeos de cada cromossoma separam-se pelo
centrómero, passando a constituir cromossomas independentes, e migram
para pólos opostos da célula;
Telofase II – Os cromossomas descondensam, tornando-se mais finos e longos.
Organiza-se o invólucro nuclear e formam-se núcleos haplóides. Dá-se a
individualização das células e a partir de uma célula diplóide formam-se quatro
células haplóides.
114
115
Mitose Meiose
Nº de divisões 1 2
Nº de núcleos formados 2 4
Emparelhamento de
Não ocorre Ocorre
cromossomas homólogos
Nº de cromossomas das
células filhas em relação às Igual Metade
células mãe
Crossing-over Não ocorre Ocorre
Informação genética das
células filhas em relação às Igual Diferente
células mãe
Divisão do centrómero Anafase Anafase II
Crescimento e reparação de
Produção de gâmetas
estruturas do organismo; reprodução
Função ou esporos para a
assexuada com criação de clones em
reprodução sexuada
seres unicelulares
A progressão do ciclo celular é regulada por factores externos e internos, como o tamanho da
célula, a quantidade de nutrientes disponível, a presença de factores de crescimento, etc. Por
exemplo, para que uma célula se divida é necessário haver um suporte (a célula possui touch
sensors) e é necessária uma densidade celular baixa pois, perante uma sobrelotação celular,
não ocorrerão divisões.
116
As ciclinas podem associar-se a enzimas com actividade fosforilativa, as cinases – Cdk (cyclin-
dependent kinases), de modo a formarem o complexo MPF – maturation promoting factor,
que promove a entrada da célula na fase mitótica. Quando se associam às Cdks, as ciclinas
ajudam a direccioná-las para as proteínas alvo.
A associação de uma ciclina B, sintetizada durante a fase G2, a uma cinase Cdk1 (inactiva) leva
à formação de um complexo Cdk1/ciclina B (MPF) e à fosforilação de determinados resíduos
de treonina (14 e 161) e de tirosina (15). A fosforilação de tri-14 e tir-15 provoca uma inibição
da enzima e impede que esta entre prematuramente em mitose. Segue-se a desfosforilação
desses resíduos, ficando apenas fosforilado o resíduo de tri-161. Esta é uma fosforilação
activadora, verificando-se que activa o complexo MPF e despoleta a desagregação da
membrana nuclear, a reorganização do citoesqueleto e a condensação dos cromossomas,
permitindo assim a entrada da célula na fase mitótica. Terminada essa fase, a ciclina dissocia-
se da Cdk1 e é destruída por proteólise. A cinase é desfosforilada e a célula inicia a citosinese e
a interfase.
Diferentes ciclinas podem associar-se à mesma Cdk, consoante a fase do ciclo celular em que a
célula se encontra.
117
Ilustração 171 - Complexo Cdk1/ciclina B que induz a entrada da célula na fase mitótica.
Durante o ciclo celular existem pontos de controlo durante os quais a célula verifica o seu
estado e coordena os eventos que ocorrem em cada fase, prevenindo que a célula passe para
uma fase se os eventos da fase anterior ainda não terminaram ou não ocorreram de forma
correcta. Alguns mecanismos de regulação actuam nos períodos G1, S e G2 e na fase mitótica:
No final do período G1 diversos mecanismos verificam se existe DNA danificado e, em
caso afirmativo, procedem à sua reparação para que a célula possa entrar no período S
e iniciar a replicação do seu DNA. Mesmo que o DNA não se encontre danificado
algumas células podem não iniciar o período S, permanecendo num estado de latência
designado estado G0. O tempo de permanência nesse estado é muito variável e, em
alguns casos, como nos neurónios e fibras musculares de um indivíduo adulto, podem
mesmo não reiniciar o ciclo celular;
Durante o período S há monitorização contínua do DNA replicado de modo a que
qualquer mutação, base incorrecta ou replicação incompleta seja reparada antes da
divisão celular;
No final do período G2 há outro momento de controlo em que se verifica a integridade
do DNA replicado. Se a replicação do DNA foi completa e bem sucedida prossegue-se
para a mitose;
Na fase mitótica verifica-se se o fuso acromático está correctamente formado e se os
cromossomas estão alinhados na placa equatorial, podendo ser divididos igualmente
entre as duas células filhas.
118
Ilustração 173 - Acção do factor de transcrição p53 na inibição do ciclo celular e da replicação do DNA.
119
Existem genes supressores de tumores que inibem a divisão celular. Quando são
“desligados” podem levar ao aparecimento de cancro pois as células danificadas não
deixam de sofrer divisão, acumulando mais erros e originando células cancerígenas.
Um exemplo de um gene supressor de tumores é o p53 (responsável pela estimulação
de enzimas reparadoras do DNA, pela entrada das células na fase G0, pela
permanência das células na fase G1 e pela apoptose de células danificadas). Todos os
cancros apresentam o gene p53 “desligado”
O cancro aparece apenas ao fim de cerca de 6 mutações chave acumuladas por uma célula:
Crescimento ilimitado – “ligando” os genes que promovem o crescimento;
Pontos de controlo ignorados – “desligando” os genes supressores de tumores;
Ausência de apoptose – “desligando” os genes responsáveis pela apoptose;
Imortalidade – número ilimitado de divisões conseguido pelos genes responsáveis pela
manutenção dos cromossomas (por exemplo, manutenção dos telómeros);
Crescimento de vasos sanguíneos – “ligando” os genes responsáveis pelo crescimento
de vasos sanguíneos;
Ausência de dependência de densidade e de suporte – “desligando” os genes de
“touch sensor”.
Uma célula danificada deve ser destruída, quer por acção de macrófagos quer por apoptose –
morte celular programada que passa pelos seguintes passos:
A célula diminui de tamanho;
Os cromossomas condensam-se e fragmentam-se;
A membrana nuclear rompe-se;
Formam-se corpos apoptóticos.
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