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INTRODUÇÃO À LÓGICA

Professora Adelaide Machuvane

Tudo na natureza, tanto no mundo animado quanto no mundo


inanimado, acontece segundo regras, muito embora nem sempre
conheçamos essas regras. A água cai segundo as leis da gravidade e,
entre os animais, a locomoção também ocorre segundo regras. O peixe
na água, o pássaro no ar movem-se segundo regras. A natureza inteira
em geral nada mais é, na verdade, do que uma conexão de fenómenos
segundo regras; e em nenhuma parte há irregularidade alguma. Se
pensamos encontrar tal coisa, só poderemos dizer neste caso o seguinte:
que as regras nos são desconhecidas.
Kant, Lógica

Caro aluno/a, seja bem-vindo/a a última unidade da 11ª classe a qual se dedica a
Lógica. No nosso quotidiano deparamo-nos com situações que exigem processos sintéticos
que sejam compreensíveis ao outro. Não estamos nos referindo do acto comunicativo em si,
mas dos elementos que o compõem. Um enunciado ou uma frase pode ser gramaticalmente
correcto, mas ser logicamente inconcebível, apesar dos esforços desmedidos em logicizar i a
linguagem padronizando-a em um sistema coerente como a Gramática Normativa. Usamos a
lógica quando queremos convencer alguém, usamo-la na escola, na Igreja, hospital, etc., ela
representa o subsídio necessário a comunicação coerente, perceptiva entre os indivíduos.
Pedimos que preste atenção as aulas desta unidade pois haverá continuidade na 12ª classe e a
Lógica I é necessária para perceber a II.
.
Quando alguém nos diz “amor é amar”, “ser humano é homem ” e “o Homem é o
animal que comunica ”. Poderemos entender a seguir que essas asserções violam as regras de
definição pois não excluem a circularidade, a falta de essencialidade ou a diferença específica
característica de um objecto. Poderíamos aqui acrescentar palavras as ditas, mas o que eu te
peço é que dedique-se a ler e a estudar as lições porque bem sei que irás precisar da lógica
pelo resto da tua vida em várias esferas da vida. Boas aulas e abraços da professora,
Adelaide Machuvane.
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Conceito e objecto da Lógica

A Lógica é, usualmente, tida como a disciplina filosófica, ou ciência, que tem por
objecto o pensar. De um modo mais sistemático, a Lógica é tida como a ciência que se ocupa
do estudo das leis gerais do pensamento.
Etimologicamente,  Lógica é a ciência do logos, que significa ao mesmo tempo
«palavra, proposição, oração e pensamento». Gilbert Hottois, um pensador contemporâneo,
considera a lógica como estudo da razão na linguagem ou estudo do discurso racional.

Fig. 1: Aristóteles (384-322 a.C.). Fonte:


https://www.escolamz.com/2020/07/introducao-logica.html#gsc.tab=0

A linguagem como fundamento da condição humana

Desde que nascemos, entramos logo em comunicação com os outros e com o mundo
que nos rodeia. O primeiro choro à saída do ventre da mãe é, talvez, a expressão primária
dessa necessidade de comunicação, traduzida na única linguagem possível naquele momento.
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A linguagem humana, na sua forma comum que é a palavra, ocupa um lugar de relevo
entre os instrumentos culturais humanos. Utilizando uma terminologia hoje muito em voga,
diríamos: «os homens e as mulheres estão programados para falar e aprender línguas, uma vez
que a linguagem responde a uma necessidade fundamental da espécie humana: a necessidade
de comunicação».

Enquanto certas necessidades, que são mais do âmbito biológico, como comer, dormir
e respirar, se manifestam naturalmente, como sabemos, a linguagem, que se insere no âmbito
cultural, tem de ser aprendida sob a forma da língua própria da comunidade onde nascemos
ou crescemos, manifestando-se nos actos de fala próprios dessa comunidade.

Podemos dizer que a aptidão para a linguagem e, consequentemente, para a


manifestação da fala está inscrita no código genético. Mas é preciso salientar que a
aprendizagem da língua é social e cultural: por exemplo, uma criança de pais macuas que é
retirada nos primeiros meses para um ambiente macua, adquirindo aqui a sua educação,
obviamente terá maior propensão para adquirir a cultura macua.

Como afirmamos anteriormente, a linguagem é o fundamento da nossa humanidade,


ela tem um estatuto antropológico, uma vez que é ela que assegura a constituição do ser
humano no seu processo antropológico e cultural.

Linguagem e comunicação

No nosso tempo, a comunicação aparece como um fenómeno complexo, uma vez que
o termo designa objectos e situações diversas.

Assim, falamos de comunicação pensando nos meios técnicos (rádio, TV, telefone,
fax, Internet...); falamos de comunicação pensando nos dispositivos que a propicia
(informação, formação, publicidade, etc.); e falamos obviamente de comunicação para nos
referirmos a qualquer situação de interacção entre os seres humanos, evocando imediatamente
a simples conversação, o diálogo, a discussão, o debate, e os enunciados discursivos nas
diversas situações diárias.

Têm sido propostos os vários modelos explicativos do fenómeno da comunicação


humana. Na sua forma mais simples, podemos dizer que a comunicação é o resultado de três
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elementos fundamentais: uma fonte (o ser humano, um animal ou uma máquina) que emite
uma mensagem (uma frase, um gesto, um filme, etc.) em direcção a um alvo (um interlocutor,
um espectador, ou outro).

Alguns modelos de comunicação conheceram uma enorme divulgação. Como por


exemplo, o caso dos modelos de C. Shannon (engenheiro de telecomunicação) e de W.
Weaver (filósofo da comunicação), datados de 1949, e o de H. Lasswell (especialista em
ciências políticas), datado de 1948.

A Formação da Comunidade
A Internet representa tanto uma colecção de comunidades como uma colecção de
tecnologias, e o seu sucesso é largamente atribuído à satisfação das necessidades básicas da
comunidade e à utilização efectiva da comunidade na expansão da sua infra-estrutura. O
espírito da comunidade tem uma longa história, começando com a ARPANET. Os
pesquisadores da antiga ARPANET trabalharam numa comunidade fechada para conseguirem
fazer as demonstrações iniciais da tecnologia de transferência de «pacotes» descrita
anteriormente. Daí mesma forma, vários outros programas de pesquisa da ciência da
computação promovidos pela DARPA (Packet Satellite, Packet Radio e outros) foram fruto de
actividades de cooperação que usavam sobretudo qualquer mecanismo disponível para
coordenar os seus esforços, começando com o correio electrónico e acrescentando a partilha
de arquivos, acesso remoto e WWW (World Wide Web).

O Futuro da Internet
O correio electrónico ou e-mail foi a primeira aplicação da Internet e continua com um
valor inestimável. O e-mail permite a comunicação entre duas ou mais pessoas de uma forma
extremamente fácil. Pelo e-mail, podemos contactar com especialistas ou amigos em qualquer
parte do mundo apenas com um clique do «rato».

A Web (ambiente multimédia da Internet) é outra grande aplicação. Ela mudou a


forma de fazer o marketing, a forma de atender aos clientes, a forma de fazer negócios, a
forma de educar, a forma de aprender. A evolução da Internet Possibilita a telefonia, a
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televisão e o cinema pela Internet. Surgiu uma nova geração de tecnologias básicas de rede
para atender às necessidades de acesso de alta velocidade: atendimento online com
visualização online, vídeo de alta qualidade, tradução de conteúdos para outros idiomas,
prontuário electrónico de pacientes com acesso descentralizado pela Internet, ênfase na
educação à distância a nível de ensino de cargos ou tutoriais de classes, pesquisas e eleições
interactivas, são exemplos de serviços que encontramos na Internet.
M. Leiner, Vinton G. Cerf, David D. Clark, Robert E. Kahn, Leonard Kleinrock,
Daniel C. Lynch, Jon Postel, Larry G. Roberts e Stephen Wolf

Linguagem, pensamento e discurso

Quando a Filosofia usa o termo «discurso», considera-o uma operação intelectual que
se processa por uma série de operações elementares e sucessivas, encadeando-se numa
sequência ordenada de enunciados em que cada um retira o seu valor dos antecedentes,
procurando chegar a determinadas conclusões.

Existe uma estreita relação com a Lógica, normalmente considerada a ciência reflexiva
do discurso.

Por isso, os gregos usam o termo logos, que foi indiscretamente traduzido por
«discurso, razão» e ainda «linguagem».

A maioria dos linguistas parece concordar que o discurso é, em primeiro lugar, um


acontecimento de linguagem, uma actualização da língua na palavra, materializada no acto da
fala e num acto de comunicação linguística. Dubois (1973) defende que o termo «discurso»
designa todo o enunciado superior à frase, considerado do ponto de vista das regras de
encadeamento das sequências de frases.

A perspectiva que aqui nos interessa considerar é a da Filosofia. Segundo ela, só há


discurso quando há um conjunto de enunciados articulados entre si de uma forma coerente e
lógica. Esta dimensão lógico-linguística do discurso é, por isso, fundamental. Existem outras
dimensões que gostaríamos de referir, uma vez que o discurso humano é pluridimensional.
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As dimensões do discurso humano

Defender que o discurso humano é pluridimensional é aceitar que existem diversas


dimensões que o constituem. Como se pode concluir, umas podem ser consideradas mais
importantes que as outras, como é o caso das dimensões sintática, semântica e pragmática, a
que daremos maior desenvolvimento.

Existem, no entanto, outras dimensões que não devemos ignorar e que abordaremos
primeiramente.

A importância desses discursos parece-nos facilmente compreensível, assim como será


fácil estabelecer entre elas as respectivas relações e implicações. Dentre elas podemos
destacar as seguintes dimensões: linguística, textual, lógico-racional, expressiva ou subjectiva,
intersubjetiva ou comunicacional, argumentativa, apofântica ou representativa, comunitária,
institucional e ética.

Dimensões sintáctica, semântica e pragmática

Dada a importância destas três dimensões e por razões metodológicas, daremos grande
desenvolvimento a cada uma. Iremos concluir que não estamos perante dimensões auto-
suficientes e independentes, mas sim perante dimensões indissociáveis.

A importância destas dimensões foi particularmente destacada pelo filósofo


contemporâneo Charles Morris (nascido em 1901, nos EUA). Este autor procurou estabelecer
uma teoria geral dos sinais, ou semiótica e, segundo ele, são três os níveis de análise dos
processos de comunicação: sintáctico, semântico e pragmático.

Dimensão sintáctica

Etimologicamente, a palavra «sintaxe» deriva do grego syn + taxis, «co-ordem,


coordenação». Tradicionalmente, define-se a sintaxe como a parte da gramática que trata das
regras combinatórias entre os diversos elementos da frase.

Recorrendo a uma definição mais abreviada, podemos dizer que a sintaxe trata da
relação interlinguística dos signos entre si (Karl-Otto Apel Sprachpragmatik und Philosophie,
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Frankfurt, 1975) ou estuda as relações internas que os signos mantém entre si (Michel
Meyer Lógica, Linguagem e Argumentação; Teorema; Lisboa; 1992).

Usando uma definição mais elaborada, podemos dizer que «é o conjunto dos meios
que nos permitem organizar os enunciados, afectar a cada palavra uma função e marcar as
relações que se estabelecem entre as palavras. A ordem das palavras é um dos traços
característicos de qualquer sintaxe.» (Marina Yaguello; Alice no País da
Linguagem; Estampa; Lisboa; 1990).
Assim, por razões de carácter sintáctico:

 Uma série de letras ao acaso não é uma palavra.


 Uma série de palavras postas ao acaso não é uma frase.
 Uma série de frases dispostas ao acaso não é um texto nem um discurso.

Dimensão semântica

O termo semântico encontra a sua raiz no grego semantiké (tékhne), que literalmente


significa «a arte da significação», ou «arte (ciência) do significado».

Michel Bréal define a semântica como ciência que se dedica ao estudo das
significações. Para Michel Meyer, a semântica trata da relação dos signos com o seu
significado e, logo, com o mundo.

Portanto, a semântica trata das relações dos signos (as palavras ou frases) com os seus
significados (significação) e destes com as realidades a que dizem respeito (referência).

No que se refere ao domino da semântica linguística podemos considerar:

 a)    Uma semântica lexical – que estuda as regras de organização da


significação das palavras entre si (as relações de sinonímia, de antinomia, os campos lexicais,
a evolução das palavras).
 b)    Uma semântica da frase – que estuda essencialmente o modo como as
palavras se combinam para que a frase tenha sentido (uma palavra pode ter vários sentidos ou
vários significados, que sé descodificaremos se considerarmos o contexto).
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 c)    Uma semântica do discurso  (frase ou enunciados)  – que constitui e dá


coerência a um texto. (Perante um texto que não tenha um sentido unitário, que não respeite
as regras de articulação, dificilmente alguém conseguirá captar o seu sentido global.)

Dimensão pragmática

A palavra «pragmática» encontra no grego pragmatiké (de pragma, «acção») a sua


raiz. Entre os precursores da pragmática encontramos, entre outros, o filósofo e critico
literário alemão Von Humboldt (1767-1835) que afirmou que a essência da linguagem era a
acção. Michel Meyer define-a como a disciplina que se prende com os signos na sua relação
com os utilizadores.

Pode-se considerar fundador da disciplina Charles Morris, que definiu a pragmática


como complemento da sintaxe e da semântica. Na comunicação, segundo ele, há um signo,
um significado e um intérprete, desenrolando-se entre eles uma tríplice relação. A
pragmática é o estudo do uso das proposições. Mas também pode definir-se como estudo da
linguagem, procurando ter em conta a adaptação das expressões simbólicas aos contextos
referencial, situacional, de acção e interpessoal. A atitude pragmática diz respeito procura de
sentido nos sistemas de signos, tratando-os na sua relação com os utilizadores, considerando
sempre o contexto, os costumes e as regras sociais.

Uma análise pragmática de um texto, escrito ou falado, procura ver de que modo o
texto está estruturado e quais as suas funções especificas.

Qualquer texto, oral ou escrito, representa fundamentalmente a realização de um acto


que não é apenas locutório, mas representa, igualmente, um acto ilocutório e um acto
perlocutório. Se considerarmos o que dissemos anteriormente, facilmente concluiremos que,
do ponto de vista pragmático, interessa sobretudo considerar os
aspectos ilocutório e perlocutório.

Quando um sujeito falante diz algo, podemos distinguir facilmente:

 O que diz (acto locutório).


 E o que faz, dizendo (acto ilocutório).
 Os efeitos resultantes da acção de dizer (acto perlocutório).
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Estas três dimensões do discurso (sintáctica, semântica e pragmática) não podem ser
isoladas; são indissociáveis. Vamos procurar algumas razões justificativas desta
indissociabilidade.
 A sintaxe preocupa-se, essencialmente, com o que se poderia designar
por a forma gramatical da linguagem.
 A semântica coloca, essencialmente, o problema do significado das
palavras e frases que constituem os nossos enunciados discursivos e, obviamente,
remete para a relação que a linguagem estabelece com o mundo, com os objectos,
colocando, assim, o problema de referência.
 A pragmática preocupa-se com o uso que fazemos da linguagem num
dado contexto.
 (Sintáctica, semântica e pragmática).
 Acessórias (linguística, textual lógico racional, expressiva/subjectiva,
intersubjetiva/comunicacional, argumentativa, profântica, comunitária e institucional,
ética).

Os novos domínios da aplicação da lógica


Cibernética
Esta palavra tem origem no grego « kibernéties» que segundo Platão, designa a arte de
pilotar navios. Como ciência dos anos trinta do séc. XX, debatia se a questão das novas
máquinas, sobretudo as máquinas electrónicas.
No geral, cibernética é a ciência da comunicação do controlo do homem e máquinas.
Os computadores são fruto da aplicação desta ciência, bem como toda robotização actual
existente. Um dos ramos muito importantes desta ciência tem sido o ramo que estuda a
inteligência artificial.
Informática
O rápido desenvolvimento dos computadores conduziu a uma nova ciência aplicada a
informática. Esta ciência dedica se ao estudo do tratamento automática da informação que é
fornecida a uma máquina a partir do exterior. A informática é uma ciência que trata do
processamento racional da informação por meio da máquina automática.
Inteligência artificial
O desenvolvimento dos computadores impulsionou o aparecimento de uma nova
ciência nos anos 50 do séc.XX, que é a Inteligência Artificial. Esta ciência está centrada ao
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estudo da construção de máquinas capazes de simular actividades mentais de forma a produzir


numa máquina condutas inteligentes.

A lógica do conceito/termo
Conceito é simples apreensão, que é a primeira operação do espírito, é o ato pelo qual
se capta, noeticamenteii, alguma coisa. E o que mente capta (de capio, ceptum, daí cum -
ceptum) é o conteúdo do conceito, que é construído na mente e expresso pela mente.
A definição de conceito como apreensão ou representação intelectual e abstrata da
quidade (essência) de um objecto. Pelo seu carácter representativo e abstracto, o conceito
opõe-se à percepção ou intuição imediata; enquanto intelectual, distingue-se de toda a
representação, meramente sensível. Por outro lado, limitando-se à simples apreensão de uma
essência, sem nada afirmar ou negar, constitui a forma mais simples e elementar do
pensamento e o termo é a expressão verbal ou sua representação simbólica.
Extensão e compreensão
Extensão e compreensão. Ao examinarmos um conceito, em termos lógicos, devemos
considerar a sua extensão e a sua compreensão.
Vejamos, por exemplo, o conceito homem.
A extensão desse conceito refere-se a todo o conjunto de indivíduos aos quais se possa
aplicar a designação homem.
A compreensão do conceito homem refere-se ao conjunto de qualidades que um
indivíduo deve possuir para ser designado pelo termo homem: animal, vertebrado, mamífero,
bípede, racional.
Esta última qualidade é aquela que efectivamente distingue o homem dentre os demais
seres vivos.
Extensão – conjunto de seres, objectos aos quais o conceito se aplica.
Compreensão – conjunto de qualidades, propriedades, características ou atributos que
definem o conceito.
Designa-se extensão de um conceito, o conjunto de indivíduos (entidades/objetos) a
que o conceito se refere. A maior ou menor extensão de um conceito corresponde ao seu
maior ou menor grau de generalidade ou à sua maior ou menor proximidade à singularidade.
Assim, atendendo à sua extensão, os conceitos podem ser singulares, particulares, ou
universais.
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Designa-se compreensão de um conceito, o conjunto de características (dos objetos


por ele denotadas) que nele estão representadas. Assim a compreensão do conceito de
‘Homem’, corresponde às características específicas ou essenciais da classe dos homens, ou
seja, simplificando, às características comuns a todos os homens.
Quanto maior é a extensão de um conceito, menor será a sua compreensão: existem
mais características comuns aos europeus do que a todos os homens. Inversamente, quanto
maior a compreensão de um conceito, menor será a sua 12 extensão, porque à medida que nos
aproximamos da singularidade, mais características dos objectos estão reunidas nos conceitos:
um conceito singular tem uma extensão mínima (=1), enquanto tem uma compreensão
máxima, indefinível, uma vez que é impossível enumerar todas as características de um ser
individual – para enumerarmos as características de uma mesa em concreto, por exemplo,
teríamos que conhecer todas as suas características, desde as mais perceptíveis, até às mais
ínfimas: teríamos que ser capazes de descrever os átomos que a compõem e cada uma das
partículas subatômicas, o que é uma tarefa impossível de realizar. Isto está bem patente na
seguinte figura:

Resumindo:
 Compreensão e extensão variam na razão inversa.
 À medida que aumenta a extensão, diminui a compreensão e,
 À medida que diminui a extensão, aumenta a compreensão, ou seja,
quanto maior é o número de elementos a que o conceito se aplica (extensão), menor a
quantidade de características comuns (compreensão).
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Essa distinção permite classificar as categorias em três tipos: 1.Gênero - Extensão


maior, compreensão menor: (animais). 2.Espécie - Extensão média e compreensão média:
(seres humanos). 3.Indivíduo - Extensão menor, compreensão maior: (Maria).
Exemplo: Do género animais faz parte a espécie dos seres humanos composto de
Indivíduos como Maria.

 Princípio de Identidade: em termos de coisas. uma coisa é o que é; o que é é,


o que não é não é. A é A (A- designando qualquer objecto de pensamento.
 Princípio da não-contradição (também conhecido como princípio da
contradição), cujo enunciado é: “A é A e é impossível que seja, ao mesmo tempo e na mesma
relação, não-A”. Assim, é impossível que a árvore que está diante de mim seja e não seja uma
mangueira; que o cachorrinho de dona Filomena seja e não seja branco; que o triângulo tenha
e não tenha três lados e três ângulos; que o homem seja e não seja mortal; que o vermelho seja
e não seja vermelho, etc. Sem o princípio da não-contradição, o princípio da identidade não
poderia funcionar. O princípio da não-contradição afirma que uma coisa ou uma ideia que se
negam a si mesmas se autodestroem, desaparecem, deixam de existir. Afirma, também, que as
coisas e as ideias contraditórias são impensáveis e impossíveis.
 Princípio do terceiro-excluído, cujo enunciado é: “Ou A é x ou é y e não há
terceira possibilidade”. Por exemplo: “Ou este homem é Sócrates ou não é Sócrates”; “Ou
faremos a guerra ou faremos a paz”. Este princípio define a decisão de um dilema - “ou isto
ou aquilo” - e exige que apenas uma das alternativas seja verdadeira. Mesmo quando temos,
por exemplo, um teste de múltipla escolha, escolhemos na verdade apenas entre duas opções -
“ou está certo ou está errado” - e não há terceira possibilidade ou terceira alternativa, pois,
entre várias escolhas possíveis, só há realmente duas, a certa ou a errada.
 Princípio da razão suficiente, que afirma que tudo o que existe e tudo o que
acontece tem uma razão (causa ou motivo) para existir ou para acontecer, e que tal razão
(causa ou motivo) pode ser conhecida pela nossa razão. O princípio da razão suficiente
costuma ser chamado de princípio da causalidade para indicar que a razão afirma a
existência de relações ou conexões internas entre as coisas, entre fatos, ou entre ações e
acontecimentos.Pode ser enunciado da seguinte maneira: “Dado A, necessariamente se dará
B”. E também: “Dado B, necessariamente houve A”. Isso não significa que a razão não admita
o acaso ou ações e fatos acidentais, mas sim que ela procura, mesmo para o acaso e para o
acidente, uma causa. A diferença entre a causa, ou razão suficiente, e a causa casual ou
acidental está em que a primeira se realiza sempre, é universal e necessária, enquanto a causa
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acidental ou casual só vale para aquele caso particular, para aquela situação específica, não
podendo ser generalizada e ser considerada válida para todos os casos ou situações iguais ou
semelhantes, pois, justamente, o caso ou a situação são únicos.
A morte, por exemplo, é um efeito necessário e universal (válido para todos os tempos
e lugares) da guerra e a guerra é a causa necessária e universal da morte de pessoas. Mas é
imprevisível ou acidental que esta ou aquela guerra aconteçam. Podem ou não podem
acontecer. Nenhuma causa universal exige que aconteçam. Mas, se uma guerra acontecer, terá
necessariamente como efeito mortes. Mas as causas dessa guerra são somente as dessa guerra
e de nenhuma outra. Diferentemente desse caso, o princípio da razão suficiente está vigorando
plenamente quando, por exemplo, Galileu demonstrou as leis universais do movimento dos
corpos em queda livre, isto é, no vácuo.
Em termos de Proposições:  uma proposição é verdadeira ou então falsa não há outra
possibilidade; se encaramos uma proposição e a sua negação, uma é verdadeira a outra é falsa,
não há terceiro termo. De duas Proposições contraditórias, se uma é verdadeira, a outra é
falsa, e se uma é falsa a outra é verdadeira não há terceira possibilidade
Princípio da causalidade: todo o efeito pressupõe uma causa.
Princípio de substancialidade: tudo o que é acidental pressupõe a substancia, o que
muda supõe algo permanente.
Princípio da finalidade: todo o agente, age por um determinado fim, o fim é a 1ª
causa na intenção e última na realização.
Princípio do determinismo:  há uma ordem natural das coisas, tal que , as mesmas
causas, postas nas mesmas circunstancias, produzem os mesmos efeitos.
Princípio de inteligibilidade:  o ser é inteligível, a ordem do ser é a ordem do
pensamento.
Princípio da realidade: o mundo exterior existe.
Classificação dos conceitos e termos

Quanto à compreensão
 -Simples:  que não têm partes. Ex: Ser (a ideia de ser)
 Compostos:  são divisíveis. Ex homem, animal, planta.
 Concretos:  aplica se a realidades apalpáveis, objectos. Ex: gato, cadeira, livro.
 Abstractos:  aplica se a qualidades, acções, pensamentos ou estados. Ex: amor,
paixão, alegria;
Quanto à Extensão
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 Universais: aplica se a todos os elementos de um conjunto ou classe.


                     Ex: homem, caderno, e lápis.
 Particulares: aplica se a apenas à parte de um todo ou classe. Ex: Certos
alunos, alguns pais
 Singulares: aplicáveis apenas a um indivíduo. Ex: este caderno, António, esta
carteira.
Quanto a Relação Mútua
 Contraditórios: opõe se e excluem se mutuamente. Ex: alto/não alto;
branco/não branco
 Contrárias: opõe se mas não se excluem. Ex: branco/preto; alto/baixo
 Relativos: implicação mútua. Um não é, sem o outro. Ex: pai/filho;
direita/esquerda
Quanto ao modo de significação
 Unívocos:  usa se de modo idêntico em diversos objectos.
                    Ex: planta que se aplica a cada uma das plantas. «pau preto»
 Equívocos:  aplica se a sujeitos diversos mas em sentido completamente
diferente.
                     Ex: Canto, que refere ao ângulo das duas paredes de uma casa, ou canto
dito do som
 Análogos:  aplicado a realidades comparáveis, que sejam idênticos e também
diferentes.
                   Ex: António e o aluno brilhante, e também que o anel de ouro é brilhante.
Quanto a Perfeição com que Representam o Objecto
 Adequados:  representam de forma perfeita o objecto. Ex: carnívoro, dito do
cão.
 Inadequados:  representam uma forma imperfeita o objecto. Ex: aquático,
referindo se a rã.
 Claros: que levam ao conhecimento do objecto.
 Obscuros: insuficientes para reconhecer o objecto.
 Distintos: as que distingue nitidamente dos outros objectos.
 Confusos: não ajudam na distinção do objecto no meio dos outros.

Definição
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Etimologicamente «definir» deriva do Latim «Definire» que significa delimitar ou


colocar limites. Entretanto, Definir, um conceito é indicar os seus limites de modo anão se
confundir com os demais conceitos. Portanto, Definição é uma operação Lógica que com
rigor e compreensão exacta de um conceito, se explica, explicita, e se especifica um
significado.
Ex: definir um Gato, deve se determinar, com rigor, as características que identificam,
(ser animal que mia) distinguindo deste modo dos outros.
Como definir um conceito?
Primeiro: Indicar o  «Género» mais próximo, isto é, (o que há de comum). Segundo, a
sua  «Diferença específica» (isto é, o que lhe é próprio) aquilo que lhe distingue uma dada
espécie das outras do mesmo género.
      O Homem               é um                         animal                                racional
(definido ou espécie)                                        (género próximo)                   (diferença
especifica)  
Tipos ou Espécies de Definições
Tipos e Subtipos de Definições

T Subtipos Caracterização
ipos
Essencial Que se efectua indicando notas essências. Ex: Maputo é
a capital de Moçambique.
Descritiva Faz se enumerando as características relevantes e
R significativa. Ex: água é um líquido transparente, incolor,
eal insípida e inodoro que entra em ebulição a cem graus
centígrados.
Final Que define o objecto mediante a sua finalidade. Ex: a
faca é um instrumento cortante
Operacion Consiste em definir um conceito procedendo à sua
al avaliação e classificação. Ex: a idade mental é a medida da
inteligência calculada por partes.
Etimológic Esclarece o sentido da palavra a definir pelo recurso a
a origem, isto é, aos étimos da palavra. Ex: a filosofia é o amor do
N (pelo) saber.
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ominal Sinónima Que se faz recorrendo a outra palavra com o mesmo


significado. Ex: o cárcere é uma prisão. 
Estipulativ Define o significado que se atribui convencionalmente à
a palavra. Ex: Agua-H20

Regras de Definição
1-a definição deve aplicar se a todo o definido e só ao definido.
Uma definição é valida quando aquilo que se atribui ao sujeito pertence só e só a ele.
Ex: O Gato é um animal que mia, a definição não deve ser ampla nem restrita demais,
portanto deve permitir a reciprocidade.
2-a definição não deve ser circular ou o termo a definir não deve constar na
definição.
Na definição não deve conter o termo a definir nem termos da mesma família, para
permitir que ela seja mais clara do que o definido. Ex: o homem é um ser homem.
3-a definição não deve ser negativa quando pode ser afirmativa.
Esta regra exceptua as definições de conceitos ou termos que são na essência
negativos, conceitos ou termos que designa privação. Ex: Órfão é o ser humano que não tem
pai nem mãe.
4-a definição não deve ser expressa em termos figurativos ou metafóricos
Se definir uma coisa é explicar o seu sentido, então com linguagem figurada ou
metafórico não dá precisão e clareza o significado do termo a definir. Assim sendo, evitemos:
Ex. O amor é fogo que arde sem se ver.

Os Indefiníveis
Será que todos os conceitos são definíveis?
Vimos que definir um conceito é explicá-lo, transformá-lo, pondo claro e distinto o
conceito ou termo. Vimos também, que a definição se faz pelo seu «género próximo» e a
sua «diferença específica», porém, nem todos os conceitos são definíveis. E esses estão
agrupados em três espécies:
Géneros Supremos: nem sempre é possível incluir o termo a definir (espécie) no seu
género mais próximo por excesso de extensão. Ex: o conceito «SER».
Indivíduos: se os géneros supremos são indefiníveis por excesso de extensão, também
os indivíduos são indefiníveis por excesso de compreensão. Isto porque, não é suficiente na
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distinção com os outros conhecidos. Portanto, os indivíduos só podem ser nomeados, (João,
António, Américo etc)
Dados imediatos da experiencia: são tão claros. Não havendo a definição do «prazer»
ou «dor» nos tornaria mais claro o que a experiencia sobre eles nos diz. Só entende bem essas
experiencias do que aquele que ainda não as teve.

Bibliografia
CHAMBISSE, Ernesto Daniel; COSSA, José Francisco.  Fil11 - Filosofia 11ª Classe.
2ª Edição. Texto Editores, Maputo, 2017.

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000.

GEQUE, Eduardo et BIRIATE, Manuel. Filosofia 11ª classe: pré-universitário.


Logman Moçambique, Maputo: 2010.

Sites recomendados:

1. https://www.escolamz.com/2020/07/introducao-logica.html#gsc.tab=0
2. http://filosofiaupbeira.blogspot.com/2015/09/logica-i-resumo-da-11a-
classe.html
i
Procurar entender ou explicar algo de maneira lógica.
ii
Referente à noese, ao ato de conhecer ou de pensar alguma coisa, proposta na fenomenologia pelo filósofo
alemão Husserl (1859-1938).

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