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IS Working Papers

3.ª Série, N.º 21

Considerações sobre a
importância da família na
socialização: o que dizem
as crianças?
Florbela Samagaio

Porto, abril de 2016


IS Working Paper, 3.ª Série, N.º 21

Considerações sobre a importância da família na


socialização: o que dizem as crianças?
Florbela Samagaio

Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti; Portugal


E-mail: florbela@esepf.pt

Resumo

Este artigo incide sobre a crescente importância social que as crianças têm vindo a
adquirir na sociedade atual. Atores de várias vivências, afetos e opiniões, as crianças e os
jovens (considerados até aos 18 anos de idade) têm vindo a desempenhar um
protagonismo cada vez mais visível a ter em consideração nas estruturas e nas dinâmicas
sociais. À semelhança do que acontece noutros países, a Sociologia da Infância em
Portugal desempenha um papel fundamental na questão social da visibilidade da infância
e da criança enquanto ser socialmente competente ao desenvolver estudos que suportem
um estatuto para a criança. Destacam-se as potencialidades da escuta ativa de crianças e
jovens (10-18 anos) sobre assuntos que lhes digam respeito (Artº. 12º. Da Convenção dos
Direitos da Criança). Salienta-se a Educação Não Formal, prevista no âmbito do trabalho
socioeducativo do Programa Escolhas, como porta de entrada num contexto institucional
da vida da criança. Este artigo foca, para além de questões teóricas afins, a opinião das
crianças sobre a importância que a família desempenha no seu processo de socialização.

Palavras-Chave: criança, participação social, educação não formal, programa escolhas, cidadania, família.

Abstract

This article focuses on the growing social importance that the children have come to
acquire in today's society. Actors from various experiences, feelings and opinions,
children and young people (considered up to 18 years old) have been playing an
increasingly visible role to take into consideration the structures and social dynamics.
Similar to what happens in other countries, the sociology of childhood in Portugal plays
an important role in the social issue of childhood visibility and child while being socially
responsible to develop studies that support a statute for the child. It highlights the
potential of active listening to children and young people (10-18 years) on matters which
concern them (Art. 12. The Convention on the Rights of the Child). It highlights the Non-
Formal Education, provided for under the social and educational work of the Programa
Escolhas (Choices Program), as a stakeholder in an institutional context of the child's life.
This article focuses, in addition to theoretical issues related to children's citizenship, the
views of children on the importance that the family plays in their socialization process.

Keywords: children, social participation, non formal education, choices program (programa escolhas),
citizenship, family.

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Introdução

Este artigo tem por base uma tese de doutoramento intitulada “Participar para Escolhe®,
um Itinerário sociológico em torno de uma política social de cariz educador”, iniciada em
2009 e finalizada em 2014. A investigação procura refletir sobre a necessidade de as
crianças e os jovens serem ouvidos na avaliação participativa das políticas sociais que os
visem como destinatários diretos. Procurando dar conta da necessidade de
reconfiguração do Estado-Providência, em termos de preocupações institucionais e em
função das necessidades sociais emergentes, focamo-nos sobre o fenómeno da pobreza e
da exclusão social infantojuvenil. O trabalho parte de uma análise documental de medidas
legislativas e da produção de medidas de política social para o período 1990-2010 e
procura dar conta das respetivas potencialidades educativas, no tocante à Educação Não
Formal, através de uma apresentação do Programa Escolhas.

Dada a relativa incipiência da investigação científica sobre a participação das crianças e o


seu papel ativo na construção das suas opiniões acerca de assuntos que lhes digam
diretamente respeito assim como o escasso trabalho sobre medidas de política social
particularmente destinadas à população infantil e juvenil, pensamos ser oportuna a
apresentação da temática. O artigo tem como objetivos fundamentais chamar a atenção
da comunidade científica para a importância da participação social das crianças na
sociedade, desde logo, recolhendo informação junto delas através da aplicação de técnicas
de investigação social nomeadamente o inquérito por questionário e a entrevista
semidiretiva; apresentar as potencialidades da Educação Não Formal, no âmbito do
Programa Escolhas, enquanto espaço facilitador de aproximação empírica às crianças;
enquadrar a participação social das crianças como um fator pertinente na construção da
cidadania infantojuvenil; tecer considerações teóricas sobre a noção de família e
apresentar as opiniões das crianças sobre a importância social da família no processo de
socialização. De um modo geral, pretende explicitar a função socializadora da família pela
voz das crianças.

Inicia-se com um conjunto de notas sobre a questão da visibilidade social da criança na


sociedade atual, empreendendo um itinerário teórico centrado na sociologia da infância
reforçando o novo paradigma da infância na análise das questões e problemáticas sociais
junto das crianças e dos jovens. Embora considerando a escola como contexto
institucional privilegiado da vida pública da criança, sugere-se a educação paralela,
realizada pelo Programa Escolhas no concelho do Porto, ao nível da conceção da Educação
Não Formal, como espaço fundamental de construção de cidadania ao possibilitar o
acesso investigativo ao mundo das crianças abrangidas pelo referido Programa, tecendo
algumas notas explicativas da noção anteriormente referida.

A participação social das crianças como fator de socialização na construção da cidadania


infantojuvenil surge como temática fundamental a considerar na educação global da
criança na sociedade dos nossos dias. Considera-se como subjacente a ideia de que talvez
a escola não seja o garante completo das exigências educativas que se fazem sentir.

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A família é, sem dúvida, o primeiro agente de socialização da criança e contribui para o


mundo sólido das vivências, dos valores e dos afetos. Iniciando com algumas
considerações teóricas sobre a noção e as funções da família, pretende-se, acima de tudo,
demonstrar o tipo de importância que a família poderá ter na vida das crianças, através
da auscultação das suas ideias e perceções. Assim, procura apresentar-se as funções da
família na ótica dos mais novos. A família é considerada detentora de significativa
importância social na transmissão dos valores e conhecimentos, nas manifestações dos
afetos e na aposta social que se traduz num investimento nos filhos para um futuro mais
certo e garantido.

1. A crescente visibilidade social da criança na sociedade atual:


notas breves para uma (re) colocação social da criança

A criança tem vindo a assumir na sociedade moderna um protagonismo diferenciado face


a outros tempos históricos. Desde os últimos anos do século XX que a criança tem vindo a
ser objeto/sujeito não só de investimento científico como também de valorações sociais
e culturais específicas. Os últimos anos do século XX e a primeira década século XXI
assistem, em Portugal, a duas tendências de evolução, no que respeita à questão da
criança, a demográfica e a sociológica. Por um lado a baixa acentuada da natalidade
(Barreto, 1996; Rosa e Chitas, 2010) contribui para um reposicionamento do lugar da
criança quer na família quer na sociedade em geral. Embora em menor número, a criança
vai assumindo uma função social estruturante, marcando rotinas e ritmos quotidianos
assim como práticas de investimento económico e sócio afetivo. Assiste-se a uma
crescente valorização da participação social da criança.

Nesta linha de pensamento, são vários os autores, no âmbito da sociologia, que têm
trabalhado as competências sociais da criança contribuindo para uma visão sociológica
da mesma enquanto ser socialmente competente (Corsaro 1992; Sarmento, 2000; Prout,
2005; Almeida, 2009). A sociedade atual, como refere Qvortrup, vivencia um paradoxo
relativamente às suas crianças. Estas nunca foram tão desejadas e amadas, no seio
familiar, isto é, em privado, dando razão à ideia central da obra de Ariès, sobre a
emergência do amor e da afetividade na esfera da privatização da família. No entanto, e
por outro lado, em termos sociais surgem grandes dificuldades no sentido de as proteger
e apoiar de modo realmente eficiente. Podemos afirmar que o número de nascimentos
diminui, mas a importância social da infância está a aumentar (Qvortrup, 2000).

As questões relacionadas com a criança e a infância, ou os jovens e a juventude, na


sociedade moderna são, fundamentalmente, percecionadas de acordo com três
tendências de análise: o critério biológico, o critério e a análise geracionais e, finalmente,
a consideração da infância/juventude como uma construção social.

O critério pragmático da diferenciação da criança face ao ser adulto é o da idade biológica.


Deste modo, e do ponto de vista estatístico, a criança é o indivíduo com idade
compreendida entre os 0 e os 14 anos. Atendendo à relativa abrangência do intervalo

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temporal em causa, podemos pensar, juntamente com Prout, que estamos perante uma
realidade difusa e híbrida (Prout, 2005). Neste sentido, existem várias infâncias (1ª
infância; 2ª infância e 3ª infância), atendendo às fases do desenvolvimento cognitivo da
criança, o que nos leva, numa perspetiva mais alargada, ou seja, no âmbito das ciências
sociais, a perceber que criança é aquele indivíduo que, como refere Ana Nunes de Almeida
“ainda não acedeu à plena cidadania” (Almeida, 2009: 79).

Por outro lado, a visão jurídica, de certa forma suportada pela análise social, define como
criança o ser com idade compreendida entre os 0 e os 18 anos, sendo que aqui, o menor é
definido pela maioridade legal, ou pela falta dela. No caso da Convenção dos Direitos da
Criança, a definição que se propõe é abrangente, isto é, procura ser aplicável ao maior
número possível de casos, considerando como limite etário superior os 18 anos de idade,
a idade consensual, entre os Estados aderentes, em que a criança/o jovem atinge a
maioridade legal. É o que podemos verificar no art.º 1.º da referida Convenção, assim
como na Carta Europeia dos Direitos da Criança. Nesta perspectiva, o intervalo temporal
é igualmente abrangente, o que acentua a complexidade do entendimento do sujeito em
questão.

A perspetiva da infância considerada como fase de vida ou, simplesmente, geração,


procura reunir uma série de informação estatística que possibilita a caraterização das
condições de vida e dos modos de vida das crianças, de forma a autonomizar esta fase de
vida, do ponto de vista académico e científico, para melhor proceder à comparabilidade
europeia. Procura-se traçar um retrato macro que sinalize o lugar, a importância e as
modalidades de participação das crianças nas várias frentes de produção da vida social,
designadamente: família, escola, trabalho, consumo, lazer e cultura. Nesta linha de análise,
são as crianças que constituem a unidade fundamental de observação e de análise, o que
reforça a ideia de que as crianças, antes de serem seres em transição, para um estádio
mais avançado, são considerados como sujeitos ativos no presente (Almeida, 2009).

Neste artigo não pretende abordar as considerações psicossociológicas que poderão


eventualmente contribuir para uma definição de criança, com base na psicologia do
desenvolvimento e nas teorias da socialização. Constitui apenas um apontamento,
suportado por uma relativa base de investigação empírica, no âmbito da sociologia da
infância, que procura contribuir para o reforço da visibilidade social da criança, quer
como sujeito de investigação quer como informante privilegiado e construtor de opiniões.

A análise sociológica da infância leva-nos necessariamente à consideração deste mundo


novo e diferente, do ponto de vista académico, como conjunto diferenciado de infâncias e
susceptível de outras abordagens. São vastos e diferentes os próprios mundos da criança
assim como da infância. Se é certo que a análise deverá, por um lado, reforçar os traços da
homogeneidade que possibilitam fazer da infância uma categoria geracional, e até
universal, por outro lado, a análise sociológica deverá ser capaz de destrinçar e dar
visibilidade à sua diversidade interna, aos mundos diferenciados e culturais da infância.
Há crianças e há infâncias enquanto mundos culturais diversos onde devem ser tidos em
conta fatores como o género, a etnia, a categoria etária, a origem social, o contexto de
residência, o contexto e o trajeto de vida ou, simplesmente, a escola que frequenta e os

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respetivos pares. Torna-se necessário reforçar a imagem da criança plural, entendida na


multiplicidade dos mundos infantis, como refere M. Sarmento, na variedade das suas
condições de vida, na diversidade das suas famílias, dos seus modos de vida, dos seus
consumos e dos seus lazeres, entre outros (Sarmento, 2013). A criança percecionada
como ser socialmente competente e plural constitui o paradigma pós moderno da
infância.

Nem sempre a criança foi considerada um ser diferente do adulto. Na Idade Média, por
exemplo, “as crianças são representadas como adultos em miniatura (homunculus):
trabalham, comem, divertem-se e dormem no meio dos adultos” (Pinto, 2000: 60). A
partir de finais do século XVII e concretamente já no século XVIII, assistimos à emergência
da ideia moderna de infância como fase de vida relativamente autónoma face ao mundo
da adultez. Contudo, este século ainda é povoado por duas ideias dominantes sobre a
infância. Assim, para Ariès, “o primeiro sentimento da infância - “a criança-brinquedo” –
surgia no meio familiar na companhia das crianças pequenas. O segundo, pelo contrário,
provinha de uma fonte exterior à família: dos homens de igreja ou de toga, raros até ao
século XVI, de moralistas mais numerosos no século XVII, preocupados com o
policiamento e a racionalização dos costumes” (Ariès, 1988: 191).

A representação da criança como um outro do adulto é aferida pela importância do critério


idade, na sua dimensão cronológica, o que faz da criança um sujeito confinado a
determinados espaços da sociedade, designadamente a escola. Neste sentido, urge a
consideração da criança como um outro culturalmente diferente do adulto, com toda a
prudência académica e científica do ponto de vista sociológico. Para Prout, é,
efetivamente, em finais do século XX que se começa a desenhar um “novo paradigma
sociológico” sobre a infância (Prout, 2005). O autor aponta algumas ideias chave, entre
elas: a infância é uma construção social, resultante de um determinado espaço e tempo
históricos. O sentimento da infância, a representação da criança como ser específico e
diferente face ao adulto, resultante de um processo de privatização e sentimentalização
da vida familiar, como refere Ariès levado a efeito por uma burguesia em ascensão social,
possibilitam atribuir à criança um estatuto próprio e lugares específicos no âmbito do
processo de socialização. A perceção da família sobre a criança no mundo vai ganhando
contornos diferenciados relativamente à sua função e papel, atendendo à pluralidade
social. Contudo, é comummente aceite que as crianças constituem atualmente, para uma
parte significativa de famílias, fundamentalmente um investimento afetivo ao mesmo
tempo que são projetadas para uma vida futura de sucesso. As famílias “privatizam” o
espaço doméstico e simultaneamente catapultam a criança para o mundo exterior. Desde
cedo, a criança entra em contacto com várias instituições, desde logo, a Escola. Esta como
lugar privilegiado de transmissão de saberes e maneiras de ser e estar assume-se como
agente basilar de socialização. A educação é concebida como “uma coisa essencialmente
privada e doméstica.” (Durkheim, 2007: 60) se entendermos que compete aos pais
dirigirem o desenvolvimento intelectual e moral da criança. No entanto, se consideramos
a escola, enquanto espaço de aprendizagem, transmissão de normas e sociabilidade, não
poderemos deixar de perspetivar o caráter de exterioridade da mesma (Berger e
Luckmann, 1997), condicionando, perpetuando e transformando comportamentos. Neste
sentido, a escola atribui um ofício à criança, o ofício de aluno, o qual marca socialmente o

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seu trajeto de vida. A expressão “ofício de aluno” apareceu na sociologia da educação


francesa em meados dos anos 1970 (Chamboredon e Prévot, 1973; Sirota, 2001), no
contexto de discussões relacionadas com a função da escola. Para Phillippe Perrenoud
(1995) o “ofício de aluno” seria um modelo de ator social que vive numa instituição
organizada (a escola) segundo algumas regras e rituais aos quais todos, alunos e outros
indivíduos, se devem adaptar e, claro, aprender o que é considerado necessário numa
determinada época histórica. A institucionalização da infância projeta diretamente a
criança para os palcos da sociedade. As crianças interiorizam rotinas de trabalho, adotam
modelos comportamentais socialmente aceitáveis e prestam regulamente provas, à
semelhança do que acontece no mundo adulto.

A escola constitui, por excelência o primeiro espaço público da criança. A este se virão
juntar tantos outros trazidos pelo fenómeno da globalização e pela participação das
crianças no mercado de consumo globalizado, ora participando diretamente através do
consumo ora de forma indireta ao interiorizar normas e modelos de conduta ditados pelo
mundo exterior, em busca de uma construção permanente das identidades pessoais.

Considerar a criança per si constitui um desafio teórico e metodológico. Normalmente, o


que sabemos sobre a criança é construído pelo mundo adulto, dos adultos e pelos adultos.
Por outro lado, acentua-se ainda mais o desafio quando procuramos auscultar junto da
criança o que ela pensa sobre os fenómenos, os sujeitos e os acontecimentos da sociedade
da qual são parte integrante. Na verdade, investigar com as crianças significa um trabalho
de equipa, entre adulto e elas próprias. Como referem Grawe e Walsh “O investigador
parte para o trabalho de campo como aprendiz. Se ele já soubesse o que as crianças de
“lá” sabiam, não estaria lá” (Grawe e Walsh, 2003: 124).

Dando razão à visibilidade social das crianças nos tempos atuais interessa pois escutar a
sua voz atribuindo-lhes um papel ativo na investigação sociológica, neste caso concreto,
ao procurar conhecer algumas perceções das crianças sobre a importância social da
família e o seu lugar no processo de socialização.

2. A Educação Não Formal como porta de entrada num mundo


infantil particular

Embora considerado o espaço público privilegiado da socialização infantil, a Escola,


enquanto instituição histórica e administrativa, apresenta-se como organização social
significativamente burocratizada e manifestamente rígida nas suas rotinas. Deste modo,
o nosso propósito de escutar as crianças na escola, atribuindo-lhes um papel de
informante na investigação sociológica, viu-se comprometido. Procurou-se uma outra
porta de entrada no mundo das crianças e descobriu-se as virtualidades da política social
enquanto espaço igualmente público e de abertura à participação infantil. Surge, no
processo de investigação, o Programa Escolhas.

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O Programa Escolhas existe em Portugal desde 2000, entrando presentemente na 6ª


geração (2016 - 2018), e constitui uma medida de política social fundamentalmente
destinada a trabalhar com as crianças e os jovens oriundos de meios sociais
desfavorecidos em várias dimensões, desde a motivação e o acompanhamento escolar,
até uma diversidade de atividades lúdicas e de capacitação para a cidadania, no âmbito
da Educação Não Formal.

Na sua génese, a noção de Educação Não Formal é vaga e difusa. Define-se como toda a
educação que se processa fora do sistema formal. A designação é formalmente
estabelecida, pela primeira vez, na Conferência sobre a Crise Mundial da Educação
(1967), organizada pela Unesco. Refere-se à atividade educacional organizada que se
processa fora do sistema formal e é dirigida a uma clientela específica e com objetivos
específicos. Ou seja, constitui uma atividade educativa, organizada e sistemática,
desenvolvida fora do enquadramento do sistema formal de ensino e com vista a fornecer
tipos de aprendizagem selecionados para subgrupos particulares da população, adultos
ou crianças (Rogers, 2004). Por seu lado, Trilla-Bernet define-a como o conjunto de
processos, meios e instituições específicas e diferenciadoras concebidas em função de
objetivos de formação explícitos, que não se encontram diretamente relacionados com
obtenção de diplomas próprios do sistema de educação formal (Trilla-Bernet, 2003).

Se, numa fase inicial, a Educação Não Formal estava muito centrada na questão da
alfabetização e educação de adultos, atualmente, este domínio da educação intervém num
campo muito mais vasto, que engloba desde ações de animação sociocultural, intervenção
comunitária, atividades de tempos livres, ações de formação profissional, ações de higiene
e segurança no trabalho, formação sindical, educação artística, física e desportiva,
ludotecas, clubes juvenis, educação parental, gestão e economia doméstica, formação de
voluntariado, entre outros, sempre numa lógica de conceber projetos socioeducativos
dirigidos a necessidades específicas. Neste sentido, a primeira política pública, destinada
à criança, que trabalha contextos de Educação Não Formal é efetivamente o Programa
Escolhas.

Realizando-se uma aproximação ao terreno empírico da investigação abordaram-se os


responsáveis do Programa/projetos Escolhas e estes abriram as portas à investigação.
Neste sentido, tornou-se possível a atribuição do papel de entrevistado às crianças.

O Programa Escolhas é um programa de âmbito nacional, tutelado pela Presidência do


Conselho de Ministros e fundido no Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo
Intercultural. Foi criado como um programa experiência e interministerial através da
Resolução do Conselho de Ministros n.º 4/2001, em Janeiro de 2001 e visa promover a
inclusão social de crianças e jovens provenientes de contextos socioeconómicos mais
vulneráveis, particularmente dos descendentes de imigrantes e minorias étnicas, tendo
em vista a igualdade de oportunidades e o reforço da coesão social, objetivos que se
mantêm até à atualidade. O Programa procura abarcar exatamente crianças e jovens em
contexto de exclusão escolar, divididos em dois grupos etários: dos 6 aos 10 anos, a
intervenção assenta num trabalho de prevenção escolar, enquanto no grupo dos jovens
dos 14 aos 18 anos o trabalho incide na reintegração escolar e pessoal dos jovens na

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comunidade. Podemos afirmar que o Programa Escolhas procura trabalhar


fundamentalmente a questão escolar, o que nos interessa particularmente pois constitui
um mecanismo privilegiado de integração social.

Esta política social apresenta como destinatária direta a criança e atribui-lhe o necessário
protagonismo na construção da sua trajetória de vida. Pode-se afirmar que constitui parte
integrante de uma “nova geração“ de políticas sociais que apelam a um compromisso
ativo ente Estado e Cidadão.

A definição do “ofício do aluno” corresponde também à do “papel social da criança como


aprendente” (Sarmento, 2011: 585) e a um conjunto de comportamentos prescritos e
previstos no contexto escolar e não escolar, formal e não formal, e que potencia, por
extensão, a definição dos comportamentos esperados das crianças no seu conjunto
enquanto indivíduo, sujeito autónomo e membro da sociedade. Neles, inclui-se uma
dimensão fundamental, a de capacitação da criança para uma cidadania social, visível,
desde logo, na expressão da suas opiniões (artº 12º da Convenção dos Direitos da
Criança).

3. A participação social das crianças: um fator de socialização


na construção da cidadania

Determinadas análises sobre a cidadania infantil propõem que a sua argumentação se


centre na ideia da infância como categoria excluída de um estatuto pleno de cidadania
(Sarmento, 2008; Cockburn, 2005; Cohen 2005; Lister, 2007) assim como outros o foram
em diferentes momentos históricos. A reclamação desse estatuto, no entanto, está
altamente dependente de diferentes fatores, como a imagem global de Infância como
idade frágil, pouco competente, e apolítica; da supremacia de lógicas de proteção que
frequentemente inibem a coexistência da criança como ser participativo e competente,
relações de poder assimétricas entre crianças e adultos; a aplicação de visões legalistas e
formalistas de cidadania, que escondem dimensões importantes da cidadania das
crianças; a inclusão da ideia de infância enquanto coletivo diferenciado; a ideia normativa
de infância, escondendo as “crianças nas margens” (Marchi e Sarmento 2008), entre
outras. Por outro lado, o equacionar da infância a partir da adultez – princípio teleológico
da Infância, criticado já por alguns autores, propondo a sua revisão para uma ideia da
Infância em direção à própria Infância – representá-la-ás enquanto projeto de futuro,
enquanto “ser a ser” (Prout, 2005), tornando-a num “cidadão em espera” (Lister, 2007).

A criança constitui um ser em desenvolvimento, como qualquer indivíduo adulto,


empreende ações e desenvolve intervenções juntamente com os pares e os adultos. A
socialização assume-se simultaneamente como processo de incorporação do habitus e de
construção social da realidade.

A noção de cidadania social aplicada à infância e à juventude é indissociável da noção de


participação social. Há que reforçar a ideia da criança como ser socialmente competente

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(Corsaro, 1992, 1993; Prout, 2005) dando continuidade à inauguração do novo


paradigma para a consideração social das crianças. Em Portugal, essencialmente a partir
dos anos 90, os sociólogos começaram a ensaiar este novo paradigma. Teresa Vasconcelos
(2006), por exemplo, salienta a importância do jardim-de-infância como contexto social e
educativo privilegiado para a aprendizagem das normas democráticas por parte das
crianças e chama a atenção para a necessidade da implementação do mesmo paradigma
no nosso país apontando para um trabalho recentemente apresentado por Manuel Jacinto
Sarmento (2006) sobre uma concepção alternativa de uma cidadania da infância, onde é
introduzido o plural cidadanias, descrevendo-se vários tipos de cidadania. Sarmento
começa por abordar a ideia de cidadania social, baseado na nova «sociologia da infância»
e na construção de uma «ideia» de infância contraposta à existência de vários tipos de
infância. Afirma a importância de aceitar a voz das crianças como expressão legítima de
participação na vida, neste caso, da cidade. Sendo assim, na esteira do mesmo autor,
podemos reiterar a ideia de que escutar a voz da criança constitui uma prática de
participação social.

Este trabalho parte simultaneamente do olhar teórico empreendido e de um território


empírico específico através de uma aproximação metodológica baseada quer na aplicação
de um inquérito por questionário quer de uma entrevista semi estruturada junto das
crianças destinatárias do programa Escolhas. O “mundo infantil” que aqui se procura
auscultar no que concerne à perceção da família, e seu “lugar” no processo de socialização,
é composto por crianças que frequentam cinco projetos Escolhas: Projeto Raiz que
abrange os bairros de Ramalde e Campinas, ambos situados na freguesia de Ramalde;
Projeto Metas abrangendo os bairros de Condominhas, Pasteleira e Lordelo do Ouro, os
três situados na freguesia de Lordelo do Ouro; Projeto Pular a Cerca abarcando a realidade
do Bairro do Cerco, na freguesia de Campanhã; Projeto Ramal(de) Intervenção, incidindo
sobre as realidades dos bairros de Ramalde do Meio e do Viso, na freguesia de Ramalde e
o Projeto Escolhas em Movimento cuja ação incide fundamentalmente na freguesia de
Santo Ildefonso, e localizado na Praça do Marquês, no centro da cidade do Porto.

As crianças entrevistadas têm idades compreendidas entre os 10 e os 18 anos


inclusivamente. Não constitui objetivo deste documento a referência e a explicitação dos
procedimentos metodológicos assim como dos princípios relativos a uma atuação ética
na investigação com crianças, interessa somente sinalizar as potencialidades do processo
de emissão de opinião, no espaço da investigação sociológica, considerado enquanto
contexto promotor de educação para a cidadania social junto da criança e do jovem, no
âmbito de uma política social – o Programa Escolhas, ao considerar o programa como
porta de entrada no mundo das crianças e ao escutá-las sobre questões que lhes dizem
respeito, neste caso concreto, a família através do seu posicionamento numa escala de
atribuição de importância social à mesma. Trata-se, no fundo, de trabalhar um relativo
empoderamento infantojuvenil no que toca à perceção e compreensão do mundo (Amado
e Samagaio, 2014).

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4. A família: das teorias às opiniões das crianças


4.1. Alguns apontamentos de natureza teórica

A família constituiu-se como unidade elementar de organização social. Apesar das


transformações sociais e económicas que influenciaram a reconfiguração das formas
familiares, na sociedade atual, na perspetiva de vários autores, é a família o primeiro
agente de socialização.

Dada a diversidade e a amplitude da expressão família, há que configurar o foco de análise.


A melhor forma de evitar a dispersão de sentido é entender a família numa perspetiva
dinâmica e histórica. Assim, a designação mais apropriada deverá ser “famílias”, já que,
segundo Lenoir, nenhum fenómeno será mais artificial do que a família. Social e
culturalmente construída, veiculada pelas classes dominantes e legitimada por aqueles
que detêm poder, a família expressa os ideais morais específicos de uma época, a
organização, a cultura e o funcionamento de uma sociedade (Lenoir, 2003). O caráter
relacional da família converte-se num tempo historicamente construído, reproduzindo as
estruturas dominantes da sociedade, e constitui um espaço vital de socialização quer das
gerações mais novas quer das mais velhas. A socialização constitui um processo
permanente de descoberta e de aprendizagem das questões da vida.

Para a construção do imaginário sobre a família muitas foram as contribuições científicas


dignas de nomeação, designadamente no âmbito da sociologia da família, da sociologia do
casamento e da sociologia da questão feminina. Não é nosso propósito proceder à
inventariação das análises sociológicas sobre a problemática da família, pretendemos
apenas tecer algumas notas sociológicas que nos parecem fundamentais capitalizar na
nossa análise.

Terão sido Simmel e Durkheim os pioneiros da análise sociológica da família. Para


Durkheim, a passagem da família patriarcal para a família conjugal encontra-se
relacionada com a saída da mulher da esfera doméstica. A mulher teria um papel
fundamental na preservação da solidariedade mecânica, enquanto elemento fundamental
de regulação social. Também, na sua obra O Suicídio (1896), o autor reflete sobre a
questão do isolamento social, afirmando que a individualização destrói a integração e leva
a uma perda de moral, comprometendo o bem-estar social do indivíduo, para o qual,
mesmo em termos de integração, a família constitui o elemento fundamental. Para Simmel
(1895) por seu lado, as formas familiares prendem-se com a variedade dos modos de
relacionamento entre homens e mulheres, sendo que não terá existido uma condição
prévia típica a partir da qual a família originária tenha evoluído. As famílias encontram-
se associadas a circunstâncias históricas específicas.

O ramo do saber sociológico sobre a família esteve, de certa forma, silencioso até à
primeira metade do século XX, ainda que os anos seguintes tenham possibilitado um
desenvolvimento teórico vasto e diverso. Assim, são vários os autores que terão
contribuído para tal evolução. Burgess (1886-1966) propõe a transformação da família
institucional em família companheirista (Burguess e Locke, 1960). Parsons, por sua vez,
na perspetiva funcionalista, pensa a família moderna como uma espécie de

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contratualização entre os géneros, com funções bem definidas e com base na teoria dos
papéis sociais femininos e masculinos. Goode, por seu lado, realizou pesquisas
comparativas “cujos resultados foram publicados em World Revolution and Family
Patterns” (Torres, 2001: 53). É um autor que se inscreve na corrente estruturo-
funcionalista e procura estudar as relações da família com outras esferas das relações
sociais.

Independentemente dos olhares teóricos sobre a família, esta surge como uma unidade
social fundamental, baseada na relação e na divisão de tarefas. São várias as funções que
a famílias vêm desempenhando ao longo do tempo. Contudo, desde sempre a família
representou, na sua essência, uma forma de organização social. A. Teixeira Fernandes
aponta a família como uma instituição de controlo já que “toda a actividade humana é
regulada por instituições. Assim acontece com a escola, a família, a religião, a economia e
outras modalidades de associação. Algumas destas instituições desempenham um papel
importante no processo de controlo e de regulação social” (Fernandes, 2006: 34). A
família relaciona-se com a estrutura social e favorece a sua reprodução cultural. Por
outras palavras, como refere Lenoir, a família não se reproduz a si própria enquanto
unidade e princípio, ela encontra-se sujeita à operacionalização de diferentes estratégias
de vida em função da diversidade social.

Paralelamente, e ao longo do século XX, temos vindo a verificar uma transformação na


própria definição da conceção de família. Das funções mais instrumentais, a família passa
a realizar-se significativamente com e através das relações e dos afetos. Deste modo, e no
final do século XX, a Organização Mundial de Saúde propõe como noção de família uma
conceção assente na relação. Na verdade, o conceito de família não pode ser limitado a
laços de sangue, casamento, parceria sexual, ou adoção. Família constitui um grupo cujas
ligações são baseadas na confiança, suporte mútuo e num destino comum. Esta noção abre
caminho para um conjunto de questões que têm a ver com as próprias funções da família
e com as trocas intergeracionais. Para além do património genético, há todo um conjunto
de princípios e valores culturais e simbólicos que envolvem a noção de famílias.

Nesta linha de pensamento, podemos afirmar que as transformações sociais ocorridas


contribuem fortemente para a alteração da própria noção de família. Lenoir sintetiza
algumas das transformações sociais e económicas estruturantes da (re) configuração da
família na sociedade moderna. Assim, a desfamilização das relações familiares consiste
num processo de desmoronamento das bases sociais em que assenta o familismo
tradicional e resulta, em parte, do declínio das categorias em que a família era fundada,
isto é, em torno de “um património que é simultaneamente um meio de produção e um
meio de existência material e simbólica do grupo” (Lenoir, 1985) como são, em grande
parte, as empresas ligadas à agricultura, tem contribuído para algumas transformações
nas bases familiares. Abriu-se caminho para que o Estado interviesse na arbitragem das
trocas entre as gerações assim como nas questões tradicionalmente familiares como, por
exemplo, os cuidados materno-infantis e a educação escolar das crianças.

Ao longo dos últimos anos fomos assistindo a reconfigurações familiares e à emergência


de outras formas de conjugalidade que deram origem à diversidade de formas familiares.

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IS Working Paper, 3.ª Série, N.º 21

A este nível de análise, Burgess, entre outros, propõe, desde 1945, uma distinção ideal-
típica entre “instituição” e “companheirismo” para dar conta da família moderna. A tese
de Burgess tem como objetivo central privilegiar a emergência e a consolidação dos afetos
no seio da família moderna, dando continuidade ao pensamento de Ariés sobre a questão
da privatização crescente dos espaços familiar e doméstico. Embora os conceitos de
companheirismo e de privatização possam, também, ser ambíguos, o que nos interessa,
na nossa investigação, é relevar o papel fundamental da família no processo de
socialização, enquanto lugar central de aprendizagens informais e de afetos, onde, por
vezes, também assistimos a um certo instrumentalismo nas funções desempenhadas no
interior da família. Na verdade, “a família restrita e afetiva tal como hoje a conhecemos,
que se organiza em torno da criança e das suas necessidades universais de amor,
segurança, disciplina, vigilância e investimento, é obra da alvorada da modernidade”
(Cunha, 2007: 27). Esta tendência crescente no sentido de acentuar a afetividade contou
com um processo histórico transformador ao qual não foram alheias as revoluções
contracetivas, que levaram a uma diminuição gradual da natalidade acompanhada por
uma descoberta dos filhos como lugar privilegiado dos vários tipos de investimento, entre
eles o amor e a realização pessoal. A criança transformou-se num bem de consumo afetivo
para o casal.

A função socializante implica os projetos coletivos da família e compromissos tácitos.


Implica a construção de expetativas assim como o estabelecimento de relações com os
demais agentes da comunidade. Os pais podem projetar nos filhos uma pluralidade de
expetativas: o futuro que não tiveram, o que gostariam de ter sido, e por vezes, os próprios
valores e sentimentos de autoexclusão.

Numa perspetiva mais restrita, focamos agora a atenção na questão das funções que os
filhos, as crianças e os jovens, podem, enquanto filhos (as) desempenhar no espaço
familiar.

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IS Working Paper, 3.ª Série, N.º 21

QUADRO Nº 1
Funções que os filhos podem desempenhar no contexto familiar e doméstico

Funções Descrição das funções


Função económica Quantos mais filhos mais braços para participar na produção
familiar. A criança e o jovem desempenham o papel de
consumidores diretos e indiretos de bens e serviços

Função assistencial Antigamente esperava-se dos filhos que prestassem cuidados e


garantissem a sobrevivência dos pais idosos. Atualmente, os filhos
continuam a ajudar os pais, procurando manter-se perto deles na
velhice
Função de linhagem Comprometia os filhos na continuação da descendência familiar e na
conservação de várias heranças (culturais, patrimoniais,
simbólicas). As crianças e os jovens constituem uma herança mista,
enquanto guardiões do património económico e enquanto
mediadores do património cultural
Função religiosa dos filhos Antigamente a vinda de uma criança era entendida como uma
dádiva de Deus, actualmente, com a crescente laicização da vida
social e familiar, aquela função foi perdendo densidade. Atualmente,
o processo de desinstitucionalização que vivemos tem conduzindo a
uma visibilidade social da criança e do jovem
Função estatutária Antigamente, se a vida do casal só tinha sentido através da
descendência, hoje a vida a dois é uma opção legítima. Por outro
lado, se a maternidade constituía a fonte primeira de estatuto para
a mulher, actualmente tem que concorrer com outras alternativas
de realização. No entanto, atualmente, o ato de ter filhos engendra
uma identidade social positiva.
Função afetiva Parece ter-se acentuado nas sociedades modernas: a criança
representa, para os pais, basicamente, uma fonte de gratificação
pessoal, no âmbito da família companheirista
Função de instrumentalidade indirecta Note-se que, segundo alguns autores (Blake, 1968), para
compreender as motivações subjacentes à procriação, á necessário
considerar os contextos sociais em que estas têm lugar: os filhos
podem constituir fonte compensatória de aquisição de poder e de
sentido para os pais; as funções instrumentais dos filhos podem
assumir diversas formas que podem ir da ajuda material até à
assistência institucional
Função simbólica Os filhos asseguram a coesão conjugal e significam sempre uma
forma de união
Função de papel social e estatuto social Que dá conta de uma série de atividades quotidianas, a fazer e
sentidas, frequentemente, como gratificantes, que se desenvolvem
em torno da criança

Fonte: Elaboração própria com base no trabalho de Vanessa Cunha (2007).

Este quadro sistematiza as funções que a criança e o jovem podem exercer no espaço
privado da família. Apontam para uma nova visão sobre o lugar da criança na família, um
lugar marcado, geralmente, pela afetividade e pelo investimento na colocação social
ascendente da criança. Por outro lado, a escola, ao oferecer um “ofício” à criança colocou-
a no centro das atenções da vida social pública e constitui um dos mais poderosos agentes
de socialização dos tempos modernos, como a seguir veremos, completando o processo,
mas, por vezes, revelando-se ainda insuficiente.

A família constitui, pois, o primeiro agente de socialização da criança e pensamos nela


como o lugar onde nascemos, crescemos e morremos, embora no decorrer deste percurso,

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IS Working Paper, 3.ª Série, N.º 21

possamos ter mais do que um núcleo geracional familiar e ou mesmo mais do que uma
família e percorrer, ao longo da vida, vários espaços familiares e domésticos. É no espaço
familiar que se desenvolvem as aprendizagens mais significativas quer no campo das
interações como no das vivências plurais, normativas, educativas e afetivas. As famílias
constituem contextos socioculturais relativamente definidos. Contudo não podem ser
vistas como entidades genuinamente autónomas. De facto, elas sofrem influências de uma
sociedade e de uma determinada época histórica e (re) configuram-se continuamente de
acordo com as ideologias dominantes. Cada família, enquanto sistema, é um todo, mas é
também uma parte integrante de contextos mais vastos como a comunidade e a
sociedade.

Não podemos esquecer a lição de Durkheim (1892) quando “enuncia o paradoxo da


família conjugal: cada vez «mais privada» e ao, mesmo tempo, cada vez mais «pública». É
que, de facto, assistimos à integração da unidade familiar em unidades sociais cada vez
mais vastas, redes familiares, redes de vizinhança, comunidades, sociedade” (Singly,
2011: 16).

4.2. A família é muito importante: entre os valores e os afetos, a


aposta no futuro

O público infantil informante, no âmbito do nosso trabalho, apresenta uma distribuição


relativamente equilibrada no que concerne ao sexo: 53,3% de crianças do sexo masculino
e 46,7% do sexo feminino. Em termos de nacionalidade, a grande maioria dos indivíduos
são de nacionalidade portuguesa (95,3%) sendo que encontramos ainda dois indivíduos
de nacionalidade guineense, um de nacionalidade britânica, quatro de nacionalidade
brasileira e ainda outro proveniente de São Tomé e Príncipe.

Além disso, verificamos que nos encontramos perante uma população infantil bastante
heterogénea. O elemento comum, agregador, nesta perspetiva, é o fator do insucesso
escolar. O fraco desempenho escolar constitui uma das razões que leva ao ingresso nos
Projetos Escolhas. Também, é de salientar que as crianças inquiridas/entrevistadas
encontram-se inseridas em contextos residenciais de bairro social, isto é, territórios
considerados desfavorecidos. Sendo assim, quando solicitados a posicionarem-se sobre
eventuais dificuldades que se façam sentir em casa e na família, temos que 43,8% dos
inquiridos afirmam que se verifica em casa dificuldades para fazer face às despesas da
casa e do quotidiano familiar.

Os inquiridos vivem predominantemente com os pais e irmãos, sendo que a maioria


apenas possui um irmão, situação que obedece à organização e ao padrão familiar
predominantes (Censos 2011).

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QUADRO Nº 2
Representações sobre a Família por parte dos inquiridos

Representações sobre a Família

Sim Não NS/NR


(%) (%) (%)
A Família é muito importante 98,2 1,8 0
A Família possibilita ser alguém na vida 92,3 7,7 0
A Família valoriza-me como eu sou 95,6 4,1 0
A Família aposta em mim para o futuro 94,1 5,9 0
A Família, hoje em dia, não serve para muito 4,7 94,7 0,6
A Família incentiva-me a estudar para ajudar a ter um bom 94,7 3,0 0
emprego
A Família ajuda a ser boa pessoa 97,0 3,0 0
A Família ajuda a ser útil à sociedade 88,8 10,7 0,6
A Família não é muito importante 1,8 98,2 0

Fonte: Participar para Escolher, 2014.

A tabela expõe as representações sociais que a população infantil em causa possui acerca
da família, e apesar de estarmos perante contextos de pobreza e exclusão social, onde
acontecem situações de desorganização e de desagregação familiar, é pertinente
notarmos a valorização social significativa manifestada pelas crianças aquando da
resposta ao inquérito por questionário. A família constitui, por excelência, o espaço dos
afetos e das aprendizagens generalizadas. Inclusivamente, segundo as crianças, a família
incentiva ao estudo e motiva para a escola, abrindo, assim, espaços para o entendimento
de uma cooperação família-escola.

Pela voz das crianças, assistimos à confirmação unânime de que a família “é muito
importante”, constitui um agente fundamental de socialização na vida da criança. Na
verdade, para 97% da população inquirida a família inclusivamente “ajuda a ser boa
pessoa”. Independentemente da amplitude do significado da expressão utilizada,
reconhece-se a existência de pressupostos culturais e morais subjacentes à expressão. O
ser boa pessoa passa por uma concordância com valores dominantes do bem e do que está
certo. As afirmações das crianças permitem reforçar um entendimento da socialização
numa linha de pensamento construtivista, de partilha e construção quotidiana
(Corsaro,1992; Berger e Luckman, 1997).

A análise dos dados sugere dimensões de cooperação entre pais e filhos, numa lógica de
construção conjunta. Esta constatação torne-se ainda mais pertinente em contextos
sociais considerados de exclusão social, onde, por vezes, a desorganização e a
desestruturação familiares são visíveis. Nestes contextos, que subjazem esta investigação,
denotamos que as crianças atribuem uma importância fundamental à família, o que
contribui para a sua consolidação enquanto espaço central da vida da criança.

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Dizem que eu tenho que me empenhar nos estudos para depois


ser alguém...

E1, 16 anos, R, Campinas.

Muito. Às vezes quando estou a ouvir música é precisamente isso


que muitas vezes me vem à ideia. É ponderar aquilo que posso
estar a... que função posso passar a vir a desempenhar daqui a
uns anos, em que é que posso estar a trabalhar, se será boa a
minha relação com os colegas e com os patrões...

E12, 18 anos, A, Viso.

Digo o que gostava de ser e eles... Com os meus pais e as minhas


amigas dizem que eu tenho de seguir até ao 12º e seguir a
faculdade.

E10, 11 anos, R, Campinas.

Em segundo lugar, foi perguntado às crianças e jovens quem os apoiaria/apoiará no seu


projeto de futuro. Das possibilidades oferecidas, os posicionamentos corroboram o que
acima fomos afirmando. Com 91,7% a família é sem dúvida a instituição que os apoiará,
seguida pela escola (79,9%), pelos amigos (74,6%), pelo Escolhas (72,2%), por Deus
(62,7%) e, finalmente, pela sorte (52,1%). Assim, temos que os nossos inquiridos
assumem claramente uma visão pragmática do seu futuro, uma visão em que este se
ancora nas suas escolhas e nos seus trajetos. Tal como na leitura que fazem do mundo, as
dimensões exógenas parecem ter menos importância que as ações do dia-a-dia. Mais que
Deus ou A Sorte, mais que a mística ou o acaso, é o pragmatismo da vida quotidiana, o seu
esforço, o seu trabalho e, sobretudo, as pessoas de quem gostam que contribuirão
decisivamente para o desenrolar do seu futuro.

A reprodução social dos valores dominantes da sociedade faz-se sentir: estudar, ter um
emprego e constituir uma família. Deixamos estas expectativas pela voz dos inquiridos:

Uma pessoa com mais paciência, mais madura, mais definida,


mais sabedoria... (...) Acho que há tempo para tudo. Ter família...
vou construir a minha, ao meu tempo vou construir a minha...
Morar pelo Porto... (...) Ai, ter alguma bebé no meu colo a chamar-
me mamã. Adorava! Acho que vai ser o momento mais feliz da
minha vida. E encontrar a pessoa certa, acima de tudo. [E o que e
a pessoa certa para ti?] Ninguém é perfeito. Alguém de que me
saiba apoiar, que me saiba ajudar, que tenha paciência para as
minhas birras, para os meus momentos de chatice... Que não
desista! E que me apoie e que quando eu virar as costas talvez me
vire na altura mas que depois saiba dizer ‘já estás melhor?’ E que

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IS Working Paper, 3.ª Série, N.º 21

me saiba sempre conquistar.” // [Para ti é importante vencer…


(...) porquê?] Porque já perdi demais! Agora só vou ganhar!

E3, 17 anos, RL, Ramalde.

Isso é o sonho de qualquer um... é ter uma família, ter uma casa...”
(...) “Para mim qualquer emprego dava. Para mim qualquer coisa
é profissão... Se puder arranjar alguma coisa melhor para o meu
futuro é bom, por exemplo, se der para uma empresa de
informática é bom... Mas, se tiver de seguir a profissão do meu pai,
pedreiro... Não interessa, é profissão à mesma...

E2, 17 anos, R, Campinas.

Os depoimentos recolhidos apontam para um cenário de futuro assente na possibilidade


de constituir uma família, assim como no valor do trabalho. Devemos ressalvar que a
família assume uma representação crucial para os nossos inquiridos, embora no que diga
respeito às suas famílias de origem termos assistidos a situações de relativa desagregação
e desorganização. Em termos de socialização, denotamos, pois, uma importância social
muito significativa atribuída à família.

Breve nota final

Os dados apresentados e os depoimentos recolhidos reforçam as teorias sociológicas


sobre a família, enquanto agente central de socialização, e apontam, na voz das crianças e
jovens, para as funções sociais normalmente atribuídas à família. Salienta-se o papel da
família na transmissão dos valores dominantes, nomeadamente os valores respeitantes à
própria família e ao fator trabalho, favorecendo a manutenção e a reprodução da ordem
social existente, apostando num investimento social dos filhos em ordem a um futuro
mais promissor.

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NOTA DA EDITORA/EDITOR’S NOTE

Este paper resulta de um convite ao autor, fruto da sua trajetória académica e investigativa de relevo.
Todo o conteúdo nele expresso é da exclusiva responsabilidade do autor.

This paper results from an invitation to the author, due to his reputed academic and investigative
record. All contents are the author’s sole responsibility.

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IS Working Paper, 3.ª Série, N.º 21

IS Working Papers
3.ª Série/3rd Series

Editora/Editor: Paula Guerra

Comissão Científica/ Scientific Committee: João Queirós, Maria Manuela Mendes,


Sofia Cruz

Uma publicação seriada online do


Instituto de Sociologia da Universidade do Porto
Unidade de I&D 727 da Fundação para a Ciência e a Tecnologia

IS Working Papers are an online sequential publication of the

Institute of Sociology of the University of Porto


R&D Unit 727 of the Foundation for Science and Technology

Disponível em/Available on: http://isociologia.pt/publicacoes_workingpapers.aspx


ISSN: 1647-9424

IS Working Paper N.º 21


Título/Title
“Considerações sobre a importância da família na socialização: o que dizem as
crianças?”

Autora/Author
Florbela Samagaio

A autora, titular dos direitos desta obra, publica-a nos termos da licença Creative Commons
“Atribuição – Uso Não Comercial – Partilha” nos Mesmos Termos 2.5 Portugal
(cf. http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.5/pt/).

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