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Editoração: Carolina Leal Pires e Paula Mendes Costa
Capa: Carolina Leal Pires
Ilustração: “Burst Variations 3” de Billy Alexssander (www.sxc.hu)
Revisão: os autores
Editora associada à
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DAS EDITORAS UNIVERSITÁRIAS
Catalogação na fonte:
Bibliotecária Joselly de Barros Gonçalves, CRB4-1748
INTRODUÇÃO
Para tanto, mais uma vez optamos por uma introdução que destaque
alguns aspectos da linguagem dentro da perspectiva sociointeracionista
de ensino da língua, posicionamento epistemológico que caracteriza o
perfil da maioria dos docentes que integram o Departamento de Letras
da UFPE. Pois acreditamos que:
1
Página 312 deste volume.
»7
mesmos agentes humanos. As condutas verbais são concebidas,
portanto, como formas de ação (daí o termo ação de
linguagem), ao mesmo tempo específicas (dado que são
semióticas) e em interdependência com as ações não verbais
[non langagières]”. (grifos da autora)
BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos: por
um interacionismo sócio-discursivo. São Paulo: Educ, 1999. p.13
2
Referimo-nos, aqui, nessa introdução, ao nosso ponto de vista acerca da
mudança de paradigma comunicacional que decorre do desenvolvimento da
telemática, a qual afeta todas as áreas profissionais e de modo especial a
formação do professor. A esse respeito, escrevemos o artigo “O ciberprofessor:
novas perspectivas para o profissional das Letras”, publicado em: O ensino de
línguas: concepções & práticas universitárias. / organização Vera Moura, Maria
Cristina Damianovic, Virgínia Leal. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2010.
8«
transdisciplinar, como forma de contribuição da academia para a
construção de uma sociedade com maior equidade social,
especialmente quando observamos o fosso gerado entre os dois grupos
sociais claramente definidos nos nossos dias: os que têm acesso às
redes comunicacionais e efetivamente são parte delas; e os que estão
à margem desse universo.
3
O autor refere-se à invenção do alfabeto, na Grécia, por volta do ano 700 a.C.,
considerando-o uma tecnologia de base constitutiva do desenvolvimento da
filosofia ocidental e da ciência como a conhecemos, além de representar o
“preenchimento da lacuma entre o discurso oral e o escrito, com isso separando
»9
integração de vários modos de comunicação em uma rede
interativa. Ou, em outras palavras, a formação de um hipertexto
e uma metalinguagem que, pela primeira vez na história,
integra no mesmo sistema as modalidades escrita, oral e
audiovisual da comunicação humana. O espírito humano reúne
suas dimensões em uma nova interação entre os dois lados do
cérebro, máquinas e contextos sociais. Apesar de toda ideologia
da ficção científica e a publicidade comercial em torno do
surgimento da chamada Infovia, não podemos subestimar sua
importância4. A integração potencial de texto, imagens e sons
no mesmo sistema – interagindo a partir de pontos múltiplos,
no tempo escolhido (real ou atrasado) em uma rede global, em
condições de acesso aberto e de preço acessível – muda de
forma fundamental o caráter da comunicação. E a comunicação,
decididamente, molda a cultura porque, como afirma Postman
“nós não vemos... a realidade...como „ela‟ é, mas como são
nossas linguagens. E nossas linguagens são nossos meios de
comunicação. Nossos meios de comunicação são nossas
metáforas. Nossas metáforas criam o conteúdo de nossa
cultura”5. Como a cultura é mediada e determinada pela
comunicação, as próprias culturas, isto é, nossos sistemas de
crenças e códigos historicamente produzidos são transformados
de maneira fundamental pelo novo sistema tecnológico e o
serão ainda mais com o passar do tempo. [...] O surgimento de
um novo sistema eletrônico de comunicação caracterizado pelo
seu alcance global, integração de todos os meios de
comunicação e interatividade potencial está mudando e mudará
10«
para sempre nossa cultura. Contudo, surge a questão das
condições, características e efeitos reais dessa mudança.”
Castells, Manuel. (2010). A sociedade em rede. Tradução Roneide
Venancio Majer; atualização para 6ª. edição: Jussara Simões. – ( A era
da informação: economia, sociedade e cultura; v.1) São Paulo: Paz e
Terra, 1999.
6
“A atualização é criação, invencao de uma forma a partir de uma configuração
dinâmica de forças e de finalidades” (LEVY, 1996, p.16). A atualização é o
processo de resolução do complexo problemático que compõe o virtual.
»11
Nesse segundo período do curso de Licenciatura em Letras a distância
(E-Letras), compõem esses diversos vetores que deverão fazer parte
do espaço mental de cada discente à proporção que o graduando se
envolver verdadeira e profundamente com as “leituras” propostas com
o conhecimento oferecido nas disciplinas intituladas “Leitura e
Produção de Textos Acadêmicos”, “Língua Portuguesa: Vocábulo”,
“Teoria da Literatura II”, Linguística: Funcionalismo”, Metodologia 1 e
“Fundamentos da Educação”, essas duas últimas uma continuação dos
estudos sobre o ensino propriamente dito.
12«
o aluno/leitor desse primeiro capítulo, atingindo o objetivo da
disciplina.
»13
destacando a oposição formalismo/funcionalismo, ao percorrer
brevemente o percurso da Linguística no século XX, numa perspectiva
histórica em certa medida, para entendimento do estruturalismo como
aspecto promotor da referida dicotomia nas abordagens linguísticas.
14«
qualquer modelo de educação, para despertar no leitor o desejo de luta
por uma educação libertadora e de qualidade.
Agir para transformar! Esse é o princípio básico que deve fundar toda e
qualquer ação formadora, o que, em nosso caso como professores
responsáveis pela profissionalização de futuros professores de
Português, pretende não perder de vista
7
Citação retirada do Prefácio do volume 1, dessa coleção, página 01.
»15
16«
Virgínia Leal
Ler para discutir um assunto acadêmico não é a mesma coisa que ler
para fruição ou divertimento. Ler com objetivo preciso, muitas vezes,
se confunde com a expressão “estudar”. Os objetivos acadêmicos são
satisfeitos quando sabemos qual o tema que está sendo tratado por
um determinado autor, quando o material foi escrito e com quais
propósitos, as filiações teóricas de quem escreve em relação ao
tratamento do tema enfocado etc. Frequentemente, precisamos anotar,
sublinhar, destacar frases/períodos/expressões que parecem ser
importantes ou que parecem resumir a principal posição do autor.
»19
concepção de leitura que a veja como decodificação, ou seja, como
uma simples forma de fazer a relação entre grafemas e fonemas. Mais
importante do que saber ler em voz alta, com entonação e
expressividade, é saber ler construindo sentidos: observando
implícitos, desfazendo ambiguidades, inferindo informações,
produzindo conclusões.
20«
palavra ou expressão é dependente da frequência com a qual lemos
sobre os mais variados assuntos.
»21
de palavras um texto. No início, houve uma ênfase na descrição,
análise e interpretação de fenômenos relativos a alguns fatores de
textualidade, mais especificamente, nos fenômenos de coesão e
coerência textuais, além dos estudos que se debruçavam sobre
tipologias de texto.
1
Bem, os estudos sobre gêneros textuais não são recentes. Se recuarmos as
nossas leituras para o que foi produzido no berço da chamada civilização
ocidental, a Grécia antiga, vamos verificar que o termo foi associado aos
estudos literários produzidos notadamente por Aristóteles. De fato, na Retórica,
ele traz uma série de análises e considerações sobre os gêneros literários,
apresentando a distinção entre epopéia, tragédia e comédia. De lá para cá, os
estudos sobre gênero foram sendo ampliados de tal modo que não se
restringem mais aos estudos literários.
22«
muito mais como sequências linguísticas (sequências retóricas)
do que como textos materializados; a rigor, são modos textuais.
Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de
categorias conhecidas como: narração, argumentação,
exposição, descrição, injunção”.
»23
Leituras complementares:
24«
gêneros de texto que são os mais solicitados durante a realização de
um curso de graduação, por exemplo.
»25
tradição de se pedir monografias para as disciplinas, menos ainda uma
monografia como conclusão de curso2.
2
Para refletir: você, todo dia, tem contato com os mais diversos gêneros
textuais: notícias jornalísticas, folhetos publicitários, receitas culinárias, lista de
compras, orações, cartas, bulas de remédios e tantos outros mais. Mas, apesar
da diversidade de gêneros, é fácil reconhecê-los quando estamos em contato
diário com eles, e isso orienta nossas trocas comunicativas nas diversas
situações sociais nas quais nos inserimos. Na esfera universitária também
ocorre o mesmo: conhecer os gêneros acadêmicos também vai ajudá-lo(a) a
produzir seus textos e a compreender mais eficientemente os textos que deverá
ler. Então, agora, vamos solicitar que vocês prestem bastante atenção aos tipos
e gêneros que usam no cotidiano, especialmente no contexto acadêmico,
começando a estabelecer diferenças nos escritos que lemos ou nos escritos que
produzimos.
26«
Em suma: como já dissemos, iremos conhecer melhor, nesta disciplina,
os principais gêneros acadêmicos que farão parte de suas atividades
universitárias: fichamento, resumo, resenha, projeto de pesquisa,
relatório de pesquisa, artigo, pôster e monografia, apresentando
modelos para cada um desses gêneros na seção 6. Também iremos
abordar alguns aspectos mais formais dos gêneros acadêmicos, tais
como formatação, sistemas de citação e referências, uso de tabelas,
gráficos, quadros e figuras, tudo de acordo com a Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT). Além disso, iremos dar algumas dicas de
cuidados que você deve ter com a escrita acadêmica e com a escolha
do tema de sua pesquisa3.
3
Veja, na internet, exemplo de:
Resenha de filme (Tropa de Elite)
Disponível em: <http://pt.shvoong.com/social-sciences/sociology/1710392-
resenha-cr%C3%ADtica-filme-tropa-elite/>.
Resenha de livro (A Pragmática)
Disponível em: <http://rle.ucpel.tche.br/php/edicoes/v10n1/10Resenhas.pdf>
Resumo de livro (Dona Flor e seus dois maridos)
Disponível em: <http://www.resumosdelivros.com.br/j/jorge-amado/dona-flor-
e-seus-dois-maridos/>.
Resumos de artigos científicos (2º Simpósio de Hipertexto e Tecnologias na
Educação)
Disponível em: <http://www.ufpe.br/nehte/simposio2008/livro-resumos-
simposio2008.pdf>.
»27
acrescentar ou retirar ou modificar ou ainda substituir partes do que
escrevemos, especialmente quando entra em cena a alternância de
papéis que assumimos neste processo: escritor e leitor.
Esperamos, então, que você possa, ao final do período letivo, ter mais
familiaridade com os gêneros acadêmicos, facilitando sua leitura e
produção textual durante o curso de graduação em Letras.
2. Os principais gêneros
acadêmicos
Agora que você já sabe quais são os gêneros textuais mais recorrentes
em um curso de graduação em Letras (e de Ciências Humanas em
geral) - fichamento, resumo, resenha, projeto de pesquisa, relatório de
28«
pesquisa, artigo, pôster e monografia, conheça a definição desses e de
outros gêneros acadêmicos/científicos na tabela abaixo (algumas são
dadas pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR
14724:2005):
GÊNERO DEFINIÇÃO
»29
científica a ser realizado.
30«
tese) prefere até contratar um revisor para evitar que o texto seja
publicado com “erros”. Outras vezes, o texto não apresenta “erros”,
mas tem um estilo que dificulta a clareza das ideias. Eis a razão pela
qual, desde a disciplina Introdução à Linguística, falamos da
importância do uso da norma culta. Você deve ter notado que todo
esse material instrucional, inclusive por força de lei, já está adaptado
às novas normas ortográficas. As palavras linguística, frequente e
outras mais, estão aparecendo sem trema, assim como a palavra ideia
não está mais sendo grafada com acento...
»31
3. Anule aliterações altamente abusivas.
11. Evite repetir a mesma palavra, pois essa palavra vai ficar uma
palavra repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a
palavra repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra
repetida.
12. Não abuse das citações. Como costuma dizer um amigo meu:
“Quem cita os outros não tem ideias próprias”.
32«
sabe utilizar o ponto de interrogação
23. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.
24. Não abuse das exclamações! Nunca!!! O seu texto fica horrível!!!!!
28. Não fique escrevendo (nem falando) no gerúndio. Você vai estar
deixando seu texto pobre e estar causando ambiguidade, com
certeza você vai estar deixando o conteúdo esquisito, vai estar
ficando com a sensação de que as coisas ainda estão
acontecendo. E como você vai estar lendo este texto, tenho
certeza que você vai estar prestando atenção e vai estar
repassando aos seus amigos, que vão estar entendendo e vão
estar pensando em não estar falando desta maneira irritante.
30. Não permita que seu texto acabe por rimar, porque senão
ninguém irá aguentar já que é insuportável o mesmo final
»33
escutar, o tempo todo sem parar.
• Evitar parágrafos muito extensos, pois a clareza das ideias pode ficar
comprometida.
34«
esperando do texto, estabelecimento de uma espécie de “arquitetura”
textual (se haverá divisões, quais poderiam ser e em que sequência ),
por exemplo.
»35
Antes de mais nada, um fator a considerar é o tempo disponível
para a realização do trabalho, já que há sempre o estabelecimento
de um prazo para a entrega do trabalho acadêmico.
36«
determinado tema. Isso só se exige em um doutorado. Não por isso
a monografia deve ser a mera reprodução de ideias alheias. Cabe ao
autor da monografia enfrentar o tema escolhido dialogando com os
autores pesquisados, e não apenas reproduzindo as ideias lidas como
se fossem argumentos de autoridade.
»37
2) Também auxilia o processo de delimitação do tema, a elaboração
de questionamentos, ou seja, de problematizações sobre o tema
escolhido. Todo tema contém vários questionamentos a serem
enfrentados. É a famosa pergunta que fazemos sobre a realidade e
para a qual a realização da pesquisa busca uma resposta. Se essa
resposta é dada antecipadamente, estamos diante da formulação de
uma hipótese.
38«
a) o seu estudo deve ser viável no tempo disponível para estudá-lo e
em relação aos recursos necessários para desenvolvê-lo;
»39
optamos por levá-los a observar as pesquisas já realizadas e que são
do domínio público. Nesta direção, remetemos a todos ao site do
programa de Pós-graduação em Letras da UFPE. Lá vocês encontrarão,
em pdf, a versão integral de teses e dissertações defendidas no
programa nos últimos 4 anos. O endereço é: www.ufpe.br/pgletras.
40«
A seguir, vamos tratar das normas da ABNT para formatação de
trabalhos acadêmicos e, nas próximas seções, também das normas de
citação e referência.
5.1 Formatação
»41
centralizado;
Corpo do texto – alinhamento justificado.
• Citações indiretas
42«
Exemplos:
Obs: O sobrenome do autor do texto citado é escrito em caixa alta, pois está
dentro dos parênteses (que apresenta também a data da referida obra). A
referência vem apenas após a citação. Como a numeração da página é
facultativa, esta não foi colocada.
• Citações diretas
Exemplos:
»43
Obs: A citação tem até 3 linhas, então vem entre aspas e no corpo do texto.
Como o nome do autor está no corpo do texto (em caixa baixa), apenas a data
e a página do trecho referido vêm entre parênteses.
Obs.: A citação tem mais que 3 linhas, então está recuada, sem aspas, com
fonte em tamanho 10 e espacejamento simples. Como o nome do autor não
está no corpo do texto, deve aparecer entre parênteses, em caixa alta, junto à
data e à indicação da página referida, após a citação.
IMPORTANTE
44«
3) Nas citações indiretas, se um mesmo tema foi abordado por vários
autores, o sobrenome e a data de cada uma das obras ficam
separados com ponto-e-vírgula.
Ex.: A pragmática vem sendo retomada e revista no início do século XXI sob
uma perspectiva mais otimista (LEVINSON, 2007; ARMENGAUD, 2006;
MARCONDES, 2005; OLIVEIRA, 2001).
Ex.: Esse é o trajeto aqui oferecido, para que os leitores possa (sic) fazer ideia
exata do motivo [...].
»45
5.3 Normalização de referências
bibliográficas
46«
ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002, p. 19-36.
»47
papel fotografias, color. 17,5 cm x 13 cm.
IMPORTANTE
48«
pesquisa e monografia. Apresentaremos suas principais características,
finalidades, componentes curriculares etc., conforme a ABNT (NBR
10520:2002, NBR 6023:2002, NBR 6022:2003, NBR 6028:2003 e NBR
14724:2005). Também disponibilizaremos exemplos desses gêneros
acadêmicos (alguns são arquivos cedidos gentilmente por Morgana
Soares, Simone Reis, Siane Góis, Joseane Brito, Jaciara Gomes,
Carolina Pires e Alice Melo - e sua orientadora Cristina Teixeira; já
outros são links para exemplos encontrados na internet).
6.1.1 Fichamento
Para que você localize seus estudos realizados, sem precisar voltar ao
texto original, o gênero mais adequado é o fichamento, também
conhecido como ficha de leitura.
»49
O fichamento deve conter indicação bibliográfica, citações diretas,
indiretas, comentários pessoais e referências a outros estudos. O texto
pode ser estruturado em tópicos, mas não se esqueça de sempre
localizar a página do texto original na qual se encontra a informação
retirada.
Componentes de um fichamento
Exemplo de fichamento
50«
6.1.2 Resumo
»51
Exemplo de resumo de TCC
6.1.3 Resenha
52«
em revistas científicas, porém, atualmente, também serve como
exercício didático, a exemplo do resumo acadêmico.
Exemplo de resenha
6.2.1 Artigo
»53
além de discussão teórica sobre um tema, uma análise, por exemplo,
sobre determinado corpus (conjunto de textos), sobre um case (caso
específico sobre o fenômeno estudado) ou sobre dados empíricos
(informações obtidas através de técnicas pesquisa, como observação,
entrevistas etc.). Quando o texto aborda apenas questões teóricas,
trata-se de um ensaio.
54«
solução do problema de pesquisa levantado. Você também deve
apontar futuras pesquisas que podem ser realizadas sobre o tema
para aprofundar a questão ou para superar alguma deficiência
metodológica encontrada.
4
Como vocês puderam ver, esses artigos foram divulgados na Revista ao Pé da
Letra, uma publicação do Departamento de Letras da Universidade Federal de
Pernambuco dedicada à difusão de trabalhos científicos de alunos de graduação
sobre temas relativos à linguagem e à literatura. Se você tiver um trabalho
realizado para uma disciplina que recebeu já um parecer positivo de seu
professor, submeta-o aos pareceristas da revista. Nesse mesmo site, você pode
ter acesso às regras para publicação!
»55
as principais partes da pesquisa (introdução, desenvolvimento,
conclusões), além do título, nome do autor e sua afiliação. Os detalhes
do trabalho, contudo, são informados durante a apresentação oral do
pôster.
56«
Assim, o projeto de pesquisa é uma espécie de carta de intenções,
onde o pesquisador vai expor previamente os planos, as fases e os
procedimentos da pesquisa que está se propondo a realizar.
b) Sumário (opcional).
»57
f) Objetivos – define a meta a ser atingida com a pesquisa,
dividindo-se em objetivo geral e objetivos específicos. Responde à
pergunta: PARA QUÊ?
58«
determinada fase desta. O projeto de pesquisa é retomado no relatório
como forma de relato e não mais de proposta, sendo que a este são
acrescentados os resultados da investigação. Se na redação do projeto
de pesquisa são utilizados verbos no futuro (“os dados serão
coletados...”), no relatório os verbos são utilizados no pretérito (“os
dados foram coletados...”).
»59
de análise dos dados.
60«
6.5 Monografia
»61
orientador, nome do co-orientador (se houver), cidade da instituição
onde deve ser apresentada, ano de depósito; no verso, contém:
ficha catalográfica, conforme o Código de Catalogação Anglo-
Americano vigente.
62«
seu nome específico, acompanhado do respectivo número da
página.
»63
v) Apêndices (opcional) – texto ou documento elaborado pelo
autor, a fim de complementar sua argumentação, sem prejuízo da
unidade nuclear do trabalho; são identificados por letras maiúsculas
consecutivas, travessão e pelos respectivos títulos.
Exemplo de monografia
Agora, que você já tem algumas ferramentas para ler e produzir textos
acadêmicos dos quais precisa ao longo do curso, é hora de colocá-las
em prática. Afinal, é lendo que se aprende a ler, ou seja, a construir
sentido; e é escrevendo que se aprende a escrever, ou seja, a se
apropriar das características formais e funcionais de um certo gênero,
a reconhecer mnemonicamente a grafia de uma palavra ou expressão;
enfim, a dar “a César o que é de César”, fazendo o legal e ético
registro dos autores lidos, e se constituindo como autor.... Mãos à
obra!
64«
Referências
Bibliografia básica:
»65
KOCH, I. V. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo:
Contexto, 2006.
66«
Bibliografia complementar:
»67
MATÊNCIO, M.L.M. Atividades de (re)textualização em práticas
acadêmicas: um estudo do resumo. Scripta, vol 6, nº 11, Belo
Horizonte: PUC Minas, pp. 109-122.
68«
Leitura e produção de textos acadêmicos – Virgínia Leal
ATIVIDADES
Atividade 1
Atividade 2
Atividade 3
»69
Atividade 4
Faça uma “enquete” com 5 colegas ou amigos para saber o que eles
leem e sobre o que escrevem no cotidiano. Procure saber ainda qual
dessas atividades é a preferida; qual a que apresenta maior grau de
dificuldade; e qual é o gênero textual mais requerido no cotidiano.
Atividade 5
Atividade 6
70«
Atividade 7
Atividade 8
Discuta com seus colegas as “30 dicas para escrever bem” (do texto
atribuído ao prof. João Pedro). Você pode iniciar a discussão a partir,
por exemplo, desses questionamentos: quais as dicas de que você
mais gostou? Quais as mais interessantes? E mais óbvias?
Poste sua mensagem no Fórum “30 dicas para escrever bem”. Não
se esqueça de justificar suas respostas e de interagir com seus
colegas, comentando as opiniões apresentadas.
Atividade 9
Ainda com relação ao texto “30 dicas para escrever bem”, faça uma
autoavaliação da sua própria escrita, apontando os “erros” que você
mais comete em seus textos e as dicas que você acha que já segue.
»71
Atividade 10
Atividade 11
Atividade 12
72«
Atividade 13
Atividade 14
Caso o texto que você escolheu não esteja inserido nessas categorias
apresentadas por nós, pesquise como fazer sua indicação bibliográfica
na internet.
»73
Insira sua resposta no Fórum “Citações e referências
bibliográficas”.
Atividade 15
Atividade 16
74«
Atividade 17
Atividade 18
Atividade 19
»75
Atividade 20
Atividade 21
76«
Stella Telles
O que é estudar
a estrutura das
palavras?
»79
>> O SIGNIFICADO DA PALAVRA ESTRUTURA.
>> O MÉTODO QUE DEVEMOS UTILIZAR PARA ALCANÇAR
O OBJETIVO “ESTUDAR UMA DADA ESTRUTURA”.
Observar as
maneiras como as
palavras são
formadas; Entender os mecanismos
como as partes das
palavras se relacionam
entre si, bem como as
próprias palavras se
relacionam umas com as
outras.
Identificar as partes
constitutivas das
palavras;
80«
Mas essas respostas ainda não encerram nossa discussão. Sabemos
que a língua apresenta outros componentes de base: Fonologia,
Sintaxe e Semântica. Esses componentes, assim como a Morfologia,
têm cada um seus objetos de estudo. Entendemos, ainda, que todos
esses níveis não são isolados, ao contrário disso, são interdependentes.
E, para proceder a um estudo mais detalhado, que busque um
resultado válido e explicativo para o funcionamento efetivo da língua,
precisamos considerar a interdependência entre os seus componentes,
acima elencados. Por essa razão, diremos que, além do estudo da
estrutura das palavras, TAMBÉM É OBJETO da Morfologia analisar
COMO a estrutura das palavras interage com outros níveis
1
(componentes) da gramática .
1
A língua articulada tem como propósito a comunicação humana. Em sua
configuração encontramos uma gramática, constituída pelos componentes antes
apresentados. Entretanto, identificar as partes integrantes da gramática não
implica absolutamente entendê-la como um conjunto de compartimentos
autônomos entre si. Muito pelo contrário, para que a língua se atualize,
funcione naturalmente, quer dizer, para que seja ativada socialmente, a inter-
relação de seus componentes (fonologia-morfologia-sintaxe-semântica) é
condição necessária.
»81
E para o estudo da Morfologia, que outros níveis que devemos
considerar?
82«
2. Conceito de palavra e lexema
2
Sobre a definição de palavra, também leiam a seção 3.2.
»83
mesmos componentes da língua: fonológicos, morfológicos, sintáticos e
semânticos.
84«
essa será: no item (2), há apenas uma palavra, “casa”, que se
apresenta com duas formas morfológicas, “casa” e “casas”.
Assim também é o caso do item (3), que tem uma palavra, mas, nesse
caso, com duas formas fonéticas. Por isso, se você procurar no
dicionário o item “falcudade”, não o encontrará, mas apenas
“faculdade”, que corresponde à forma lexical do português. E se
procurar pelo item “casa”, você encontrará apenas uma forma, “casa”.
O plural “casas” é formado por uma regra geral do português,
responsável pela pluralização de grande parte dos nomes de nossa
língua, de maneira que não há nenhuma necessidade de listar em um
dicionário a forma no plural separadamente. Podemos descrever “casa”
como a forma singular da palavra “casa” e “casas” como a forma plural
da palavra “casa”.
»85
O conceito de lexema é também valioso para a análise de verbos.
Considere os dados (a,b,c,d) no exemplo:
86«
gramaticais de terceira pessoa quanto de número singular.
3
Para a definição de morfema, consulte a seção 3.
4
Para a definição dos conceitos acima, consulte MATTOSO CÂMARA, 1976.
»87
mão céu raiz
88«
2.1 Palavra x Vocábulo
PALAVRAS VOCÁBULOS
5
Conceito: corresponde à parte lexical de um vocábulo, ou seja, a parte que
traz sua significação externa à língua, não gramatical. Ex.: No vocábulo
"colares", podemos separar a forma "colar" da forma "-es". A primeira
representa um conceito que é estabelecido a partir da relação dos falantes com
seu mundo real ou imaginário, já a segunda forma tem um valor mais
gramatical e não carrega a base significativa do vocábulo.
»89
na terminologia norte- Assim em – o livro de Pedro,
americana.” temos duas formas livres – livro
(...), Pedro, e duas formas
dependentes – o, de (...)”.
3. Conceito de morfema
90«
3.1 Formação de palavras
»91
Alarm+e
Calibr+e
Cátedr+a
Jog+o
Fad+a
Óculo+s
Avô /Avó
Formoso/f[ó]rmos+a
92«
MORFEMAS LEXICAIS MORFEMAS MORFERMAS
(palavras) GRAMATICAIS DERIVACIONAIS
»93
Os morfemas lexicais correspondem ao que chamamos de lexemas,
enquanto que os morfemas gramaticais e derivacionais são morfemas
afixais, periféricos aos lexicais e não trazem em si o núcleo significativo
da palavra.
94«
e. tamanho da classe grande pequena
classificatórios,
flexionais,
derivacionais, e
relacionais.
4. Tipos de morfemas
»95
em si mesma, mas o processo que se dá regularmente em uma palavra
ou classe de palavras. Assim, podemos ver a diferença conceitual entre
os morfemas “aditivo” e “subtrativo”. O morfema “aditivo” corresponde
à forma fonológica dotada de significado que constitui um dado
morfema, como o morfema “-s” de plural na palavra “camas”. Por
outro lado, o morfema “subtrativo” não corresponde a uma forma em
si mesma, mas ao processo de perda de alguma parte (segmento ou
sequência de segmentos) da palavra, como a supressão do “-r” no
verbo “cantar” que resulta no substantivo “canto”.
A. CLASSIFICATÓRIO
B. FLEXIONAL
1. Aditivo
2. Subtrativo
3. Alternativo
4. Morferma zero
5. Morferma latente ou alomorfe zero
C. RELACIONAL
D. DERIVACIONAL
96«
A. MORFEMA CLASSIFICATÓRIO:
Corresponde às vogais temáticas (a-, e-, o-) e (a-, e-, i-) presentes em
nomes (substantivos e adjetivos) e em verbos, respectivamente.
a- cas+a a- cant+a+r
e- gent+e e- com+e+r
o- jog+o i- part+i+r
B. FLEXIONAL:
»97
a qual se define morfologicamente pelos tipos de morfemas flexionais
que recebe.
1. ADITIVO:
Luta+s = lutas
2. SUBTRATIVO:
anão anã
ancião anciã
3. ALTERNATIVO:
98«
um morfema na palavra. Por exemplo, palavras com morfema
adjetival “-oso”, quando passam para o feminino, sofrem a
alternância entre as vogais “o” e “ó” (fechada e aberta,
respectivamente). Esse processo pode ser visto em “zeloso” +
“-a” = zel[ó]sas; “amoroso” + “-a” = “amor[ó]sas.
4. MORFEMA ZERO:
»99
zero”. A representação desse morfema é “”, como em casa-,
C. RELACIONAL:
100«
D. DERIVACIONAL:
5. Classes de palavras
a) Vocabulário ativo: aquele que dado falante possui, que faz uso.
»101
Por léxico mental, assumimos que se trata das palavras e dos recursos
lexicais que se encontram armazenados no cérebro de um indivíduo.
102«
valor nocional, e as palavras gramaticais, que não apresentam um
valor nocional, e são, dessa sorte, palavras funcionais.
»103
relações que se processam entre as palavras lexicais, ou seja, os
lexemas, em nosso encadeamento linguístico.
6. Processos morfológicos -
composição, derivação e flexão
104«
banana (por exemplo, Victor, Camila e Igor) nanica deliciosa.
»105
Essa criação de novos lexemas é chamada de
derivação ou de morfologia derivacional.
106«
gramatical da palavra. Assim, nós podemos criar os nomes “ferreiro”,
“jardineiro” dos nomes “ferro”, “jardim”, os lexemas adjetivais
“imortal”, “impróprio” dos adjetivos “mortal”, “próprio” e os verbos
“refazer”, “retomar”, “reencontrar”, dos verbos “fazer”, “tomar”,
“encontrar”.
Nós, agora, entendemos dois meios pelos quais novas palavras são
produzidas: nós podemos produzir novos lexemas, tais como
“contador” de “contar”, e podemos produzir formas de palavras de um
único lexema, tal como a forma plural de “bolo” ou a forma do tempo
passado de “olhar”.
»107
Quando línguas distinguem singular do plural ou passado de futuro,
através da mudança da forma de seus lexemas nominais e verbais,
dizemos que elas têm categorias flexionais ou gramaticais de
número e tempo, respectivamente.
108«
A seguir, retomaremos esses cinco critérios dispostos acima,
apresentando-os individualmente:
a) Obrigatoriedade (previsibilidade)
Flexão + previsível
Derivação - previsível
»109
Por outro lado, em 2., não conseguiremos completar as partes que
faltam, porque essas correspondem aos morfemas lexicais, que
carregam em seus radicais os significados do mundo exterior à língua.
Mas afinal qual a frase em 2.? A frase é “Você comprou seu carro na
oficina mais cara da cidade”. Como podem ver, esse conteúdo não é
previsível, posto que, quando vamos falar algo, nós escolhemos as
palavras lexicais de acordo com o que queremos comunicar. Dessa
forma, poderíamos ter, entre tantas outras possíveis, as seguintes
frases para 2.: “Você encontrou seu primo na festa mais famosa da
cidade” ou “Você formou seu grupo na prova mais concorrida da
faculdade”.
110«
b) Generalidade (+ ou – produtividade)
Flexão + geral
Derivação - geral
Ama + mos
Encontra + mos
Saí + mos
Faz (e) + mos
... + mos
... + mos
»111
Acidental + (i)dade = acidentalidade
Atrativo + (i)dade = atratividade
Razoável + (i)dade = razoabilidade
Cremoso + (i)dade = cremosidade
c) Estabilidade semântica
Flexão + estabilidade
Derivação - estabilidade
112«
anda -va
parti -a
comi -a
Adj.
»113
d) Relevância semântica
casa / casas
dor / dores
114«
vender (ação) / vendedor (pessoa que vende)
cortar (ação) / cortador (instrumento de corte)
moral / amoral (negação do adjetivo)
encontrar / reencontrar (repetição da ação)
Flexão + estabilidade
Derivação - estabilidade
»115
morfológica da palavra – sem maiores implicações para a semântica da
palavra –, que é a flexão, e um outro processo que tem a propriedade
lexicogênica, ou seja, que promove a criação de uma nova palavra na
língua: a derivação.
T = tema
R = radical
VT = vogal temática
116«
Flexão de Número
• sibilantes :
»117
• chiantes :
• Alomorfe {}
a) /S , R/
paz + e + S mar + e + S
118«
b) /l/
estéril + e + s estére + e + s
sutil +s suti + s
»119
7.2. Estrutura do Verbo
T = tema
R = radical
VT = vogal temática
SF = sufixo flexional
120«
8. Morfologia não-concatenativa
pai / papai
mãe / mamãe
tia / titia
cocoricar
gargalhar
»121
professora / prof(e)
refrigerador / refri
apartamento / ap
Referências
Bibliografia básica:
122«
MATTOSO CÂMARA JR, Joaquim. 1976. Estrutura da Língua
Portuguesa. Petrópolis: Vozes.
Bibliografia complementar:
»123
MATTOSO CÂMARA JR, Joaquim. 1989. Princípios de Linguística
Geral. Rio de Janeiro: Acadêmica.
124«
Língua Portuguesa: Vocábulo – Stella Telles
ATIVIDADES
Atividade 1
Atividade 2
Atividade 3
Atividade 4
Atividade 5
»125
Atividade 6
Atividade 7
Atividade 8
Atividade 9
Atividade 10
126«
Atividade 11
Atividade 12
Atividade 13
Atividade 14
»127
128«
Aldo de Lima
TEORIA DA LITERATURA II
130«
Introdução
»131
Poesia! Para sobressalto de Platão e de seus discípulos1. Só os poetas,
afirmou o Professor Cristóvão Buarque, são capazes de enxergar o que
está além dos dramas humanos e propor um mundo sem diferenças,
ou, usando a sua palavra, dessemelhanças.
Essa afirmação, embora sem novidade, não deixou de ter uma grande
repercussão porque, primeiro: foi dita numa reunião científica, pública,
onde a educação, a ciência e a tecnologia debateram a inclusão social;
segundo: junta-se a uma tradição que ratifica a vocação e os
conteúdos utópicos da poesia. Utopia, assinale-se, no contexto da
lição de Karl Mannheim, para quem um estado de espírito é utópico
quando está em incongruência com o estado de realidade dentro do
qual ocorre, in: Ideologia e utopia. Nesta perspectiva, as utopias
contêm um elemento transformador porque são ideias, representações
que visam a uma nova realidade. Com efeito, o poeta é utópico não só
porque realiza um produto espiritual, mas porque, observando seu
tempo incongruentemente, abala determinado estado da realidade. É
neste sentido que a Poesia é fonte de conhecimento, de transformação,
de inclusão, de cidadania. Por isso, ela existe. Existe para um certo
deleite espiritual, em cujo percurso se transforma em um diálogo
humanizador, porque voltado para o nosso entendimento recíproco. Daí
ser necessária no conjunto de nossas produções de conhecimento.
Basilar no processo civilizador e transformador que realizamos na
1
Conforme já lemos no primeiro ponto de Teoria da Literatura I, Platão proibiu
a presença dos poetas na sua República porque são imitadores, ou seja, autores
de uma produção afastada três graus da natureza: desse modo, o autor de
tragédias, se é um imitador, estará por natureza afastado três graus do rei e da
verdade, assim como todos os outros imitadores (PLATÃO. p. 324. Op. cit. Cf.
ref. bib.).
132«
construção de nossa história sociocultural, na construção de nossa
Humanização.
2
Aurélio Buarque conserva o acento em fôrma para designar o recipiente.
Assim, tem-se:
“fôrma. [De forma, com mudança de timbre] S.f. 1. Modelo oco onde se põe
metal derretido, material em estado plástico, vidro ou qualquer que,
solidificando-se, tomará a forma desejada; molde. [...] 9. Fig. Aquilo que impõe
normas a uma personalidade, a uma obra, eliminado-lhes as características
individuais: Aquele colégio é uma verdadeira fôrma; suas alunas pensam todas
de maneira igual. [Pl.: fôrmas. Cf. forma e formas do verbo formar , e forma,
s.f., e pl. formas. Parece-nos inaceitável (não só nesta palavra, mas, talvez,
sobretudo nela) a abolição do acento diferencial, decorrente da Lei no. 5 765,
de 18/12/1971, que estabelece alterações no sistema ortográfico de 1943.
Considerem-se estes versos de Manuel Bandeira: “Vai por cinquenta anos / Que
lhes dei a norma: / Reduzi sem danos / A fôrmas a forma.” (Estrela da Vida
Inteira, p.51.) Seria inteiramente impossível perceber o sentido da estrofe se
não fora o acento diferencial. O mesmo se dirá disto de Martins Fontes: “Pela
penugem, primeiro, / E, depois, segundo a norma, / Pelo gosto, pelo cheiro, /
Pela fôrma, ou pela forma, / Certas frutas européias, / Como o pêssego – oh!
prazer! – / Por vezes nos dão idéias / Que me acanho de dizer.” (Sol das Almas,
p. 40.) Veja-se, ainda, Emanuel de Morais, Manuel Bandeira, pp.29, 43 (três
»133
fronteiras urbanas e chegar aos universos mais
longínquos de uma sociedade provinciana ou rural,
contagiada por típicos problemas dos costumes e
hábitos burgueses, ou pequenos burgueses. Os
exemplos, neste contexto, formam uma expressiva
lista, mas assinalemos em Portugal: O crime do
Padre Amaro; na Inglaterra: Judas, o obscuro; na
França: Madame Bovary; na modernidade
brasileira: São Bernardo.
134«
Cidades, 1970, p. 9,10, 35). É no conceito aristotélico de catarse que
se encontra uma das grandes lições a respeito da representação social
inerente à Arte.
1. Poesia e prosa
»135
palavra na poesia? Como funciona a palavra na prosa? Sabemos que,
tanto naquela como nesta, a palavra não deixa de expressar seu ritmo
e uma certa melodia, nem de ser, na lição de Aristóteles, enérgeia:
força em ação, vigor.
136«
Neste contexto, passemos então para o próximo ponto que nos informa
acerca da metáfora a qual, para Aristóteles, permite dar ao estilo maior
dignidade (Arte retórica. Op. cit. p.176).
Leitura complementar
»137
quisermos, são porém as que nos fornecem a chave última para
uma leitura do Murilo mais secreto e vulnerável, e talvez por
isso mesmo mais humano e universal, mais moderno. Não vale,
para a prosa poética, invocar pressupostos ascendentes
culturais simbolistas, o poema em prosa francês e português,
mas apenas o desejo de capturar o real na forma mais
econômica, mais sintética possível” (In: Transistor; antologia
de prosa 1931-1974. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980, p.
13.)
O porquinho-da-índia
138«
Porquinho-da-índia
Ganhei um porquinho-da-índia.
[fogão!
[ternurinhas...
[primeira namorada.
»139
2. A metáfora
3
A medicina antiga – e também a Filosofia, começando por Platão – atribuíam a
faculdade poética a um transtorno psíquico. Era uma mania, quer dizer, um
furor sagrado, um entusiasmo, um transporte [grifo nosso]. (PAZ, Octavio. A
outra voz. São Paulo: Siciliano, 1993. p. 140). Indagamos: será que também
Aristóteles chegou a adotar essa ideia, na medida em a palavra grega
methaforá significa transporte? Será que tudo o que ele teorizou acerca da
metáfora faz parte dessa tradição assinalada por Octavio Paz?
4
A tese acerca da semelhança era comum entre os gregos. Também Platão
assim compreende o trabalho do artista. No diálogo entre Sócrates e Adimanto,
Livro II, d‟ A república, lemos o seguinte: Adimanto – quais são essas fábulas e
140«
viu, neste engenho, uma forma e uma fonte de conhecimento cujos
processos e produtos resultam de um associacionismo através do qual,
como ele entendia, o ser humano constrói o conhecimento.
Consequência desse associacionismo é sua preferência pela metáfora
formada a partir da analogia: das quatro espécies de metáforas,
apreciamos sobretudo as que se baseiam na analogia3, e seu conceito
de poesia como imitação, a mímese - capítulo I da Poética.
o que há nelas de condenável? Sócrates – o que antes e acima de tudo deve ser
condenado, mormente quando a mentira não possui beleza. Adimanto – e
quando não possui? Sócrates – quando os deuses e os heróis são mal
representados, como um pintor que pinta objetos sem nenhuma semelhança
com os que pretendia representar. (A república. São Paulo: Nova Cultural,
1997. p. 65).
»141
27
142«
autonomia porque, como ele mesmo argumenta, a poesia trabalha com
o verossímil: a epopeia, a tragédia, assim como a poesia ditirâmbica e
a maior parte da aulética e da citarística, todas são, em geral,
imitações7. O poeta é um imitador na medida em que o imitar é
congênito no homem (e nisso difere dos outros viventes, pois, de
todos, é ele o mais imitador e, por imitação, apreende as primeiras
noções), e os homens se comprazem no imitado8. Esta congenialidade,
segundo o Ledor, é uma das causas que contribuiu para a criação da
poesia: pelas precedentes considerações se manifesta que não é ofício
do poeta narrar o que aconteceu; é, sim, o de representar o que
poderia acontecer, quer dizer: o que é possível segundo a
verossimilhança e a necessidade. [...] Porque ele é poeta pela imitação
e porque imita ações9.
»143
Este senso de natureza5, apontado por Jaeger, leva-nos a outra lição
de Octavio Paz que aprofunda a compreensão do que o Estagirita
argumentou acerca da poesia como imitação da natureza: desse
modo, a “ocorrência” poética não brota do nada, nem o poeta a extrai
de si mesmo: ela é o fruto do encontro entre a natureza animada, dona
de existência própria, e a alma do poeta12.
5
Garcia Bacca interpreta e explica a Poética a partir das relações do povo grego
com a natureza: toda la filosofía griega, como ya es del dominio común, está
impregnada de un hylozoísmo o animismo más o menos sutil y disimulado,
operante siempre; es el resto de mentalidad primitiva que en el heleno
quedaba. [...] Podemos, pues, añadir, sin bajar a detalles, que se irán
descubriendo poco a poco en sus respectivos lugares que: el plan de la Poética
jnnes un plan hylozoísta. (Poética. Versión directa, introducción y notas de
Juan David Garcia Bacca. 2. ed. Caracas: Universidad Central de Venezuela,
1970. p. 9-10) [grifo do autor]. Ao comentar o conceito de Aristóteles sobre a
arte: a arte, por um lado, completa o que a natureza é impotente a efetuar, por
outro lado a imita – In: Física, II 8 199 a 15-70, Pe. Marie-Dominique Philippe
defende que não se trata de copiar, reproduzir a natureza. O Sábio quer dizer
que a arte age como a natureza: é princípio de movimento, de realização que
tem sua determinação própria, seu fim próprio, seus meios próprios. Em outras
palavras, a arte implica toda uma “técnica” orientada conscientemente para
uma obra precisa a realizar. O Filósofo, além disso, precisa bem que a arte
“completa e imita a natureza”: a arte realiza o que a natureza não pode fazer,
pois a natureza do universo físico não tem esse concurso imanente e imediato
da inteligência. A produção artística é obra da inteligência. Por isso a arte pode
expressar e dizer certa perfeição que a natureza, na maioria dos casos, não
pode exprimir. Aristóteles o mostra, sobretudo, com respeito ao poeta, pois
talvez seja na poesia, na tragédia, que isso se manifesta melhor. (Introdução à
filosofia de Aristóteles. São Paulo: Paulus, 2002. p. 99).
144«
“não deve ser esquecido que a natureza, para Aristóteles, é
sempre orientada por um fim, por isso imitá-la, ou aperfeiçoá-
la, significa perseguir por meio da arte os mesmos fins próprios
dela. [...] A consequência desta concepção é que não apenas o
termo „arte‟ frequentemente é, para Aristóteles, sinônimo de
„ciência‟, mas também que a arte coincide exatamente com
certo tipo de ciência, as assim chamadas „ciências poiéticas‟, ou
produtivas”.14
»145
diferença entre metonímia6 e metáfora, embora seja possível
caracterizá-las: a metáfora, pela similaridade e analogia; a metonímia,
6
Metonímia é uma palavra que não aparece na Poética, nem na Arte retórica.
Gilberto Mendonça Teles ensina que o termo metonímia deve ter sido criado no
período do helenismo greco-latino. E foi possivelmente o retor Dionísio de
Halicarnasso quem o levou para Roma, no tempo de Augusto. Quintiliano
divulgou-o na sua Institutio oratoria (VIII, 6, 23), aparecendo assim descrito na
Retórica a Herênio (IV, 43): “ornamento que, de objetos vizinhos e análogos,
tira uma expressão que sugere a ideia de um objeto que não é chamado por seu
nome, como se alguém, falando de Tarpeius, o chamasse Capitolino”. O
mesmo fenômeno expressivo era também conhecido em Roma por denominatio,
epitimeses e hipálage, tal como aparece no Orator ad M. Brutum (27, 93), de
Cícero. (Retórica do silêncio I: teoria e prática do texto literário. 2. ed. Rio de
Janeiro: J. Olympio, 1989. p. 374). Há pesquisadores que não veem diferença
entre metonímia e sinédoque. Wolfgang Kaiser (Análise e interpretação da obra
literária. 6. ed. Coimbra: Armênio Amado, 1976. p. 120) entende que entre
sinédoque e metonímia não é costume estabelecer hoje grande diferença. Em
ambos os casos se trata de um desvio, tomando a parte pelo todo (lar, em vez
de casa de família), a matéria pelo produto (uva por vinho), um indício somático
pelo indivíduo ou grupo de indivíduos (cabelo branco por velhice), o autor pela
obra (ler Homero), a causa ou meio pelo efeito (língua em vez de idioma, letra
em vez de caligrafia), etc., etc. Pode dar-se também o caso contrário e termos,
então, de partir da generalidade para o caso especial (mortais em vez de
homens). Roman Jakobson também vê a sinédoque no âmbito da contiguidade:
seguindo a linha das relações de contiguidade, o autor realista realiza
digressões metonímicas, indo da intriga à atmosfera e das personagens ao
quadro espácio-temporal. Mostra-se ávido de pormenores sinedóquicos. Na
cena do suicídio de Anna Karenina, a atenção artística de Tolstoi se concentra
na bolsa da heroína; e em Guerra e paz, as sinédoques “buço no lábio superior”
e ”ombros nus” são utilizadas pelo mesmo escritor para designar as
personagens femininas às quais esses traços pertencem. (Linguística e
comunicação. São Paulo: Cultrix, 1994. p. 57). Umberto Eco, no entanto,
argumenta que nos quatro tipos de metáfora ensinados por Aristóteles, dois são
sinédoques: gênero a espécie; espécie a gênero. Este argumento ele defende e
explica no terceiro capítulo do seu Conceito de texto. São Paulo: Edusp, 1984.
Tanto neste capítulo como no quarto, Eco explana suas interpretações acerca da
metáfora ora como produto de semelhanças, ora como produto de oposição:
percebe-se que o fato de a metáfora recorrer a semelhanças não é uma
definição muito convincente. Recorre a semelhanças desde que existam muitas
oposições (p. 87).
146«
pela contiguidade do gênero para a espécie, da espécie para o gênero,
da espécie de uma para a espécie de outra.
»147
obscuridade é devida ao caráter metafórico, torna-se impossível refutá-
los19.
“[a metáfora] não deve ser tomada de longe, pois em tal caso
seria difícil de apreender; nem ser de interpretação que salte à
vista, pois deixaria de causar impressão”.22
148«
Gardner23, demonstram a vocação humana de produzi-la desde a sua
mais tenra idade de sujeito falante7.
7
Também Vico registrou essa vocação na sua Ciência nova: o mais sublime
ofício da poesia é o de conferir sentido e paixão às coisas insensatas. E é
propriedade dos infantes o tomar coisas inanimadas entre as mãos e,
entretendo-se, falar-lhes como se elas fossem pessoas vivas. [...] É fato natural
nas crianças que as mesmas com as ideias e nomes dos homens, das mulheres
e das coisas que pela primeira vez conheceram, com essas ideias e com esses
nomes aprendam e nomeiem todos os homens, mulheres e coisas que se
assemelham ou tenham alguma relação com as primeiras coisas apreendidas.
(Princípios de (uma) ciência nova: acerca da natureza comum das nações. 2.
ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 41, 44-45). A respeito desta propriedade
dos infantes, transcrevemos a seguinte lição de David Elkind: intimamente
relacionado com a causalidade fenomenalista está outro modo de pensamento
na criança pequena a que se deu o nome de realismo nominal [grifo do autor].
As crianças pequenas têm uma reverência especial por nomes e símbolos de
toda sorte. A capacidade recém-descoberta de criarem símbolos não traz
consigo, pelo menos imediatamente, a capacidade de distinguirem claramente
entre símbolo e o referente. A tendência dessas crianças é para pensarem que o
símbolo faz parte do referente. Acreditam que o nome da lua está na lua, que
sempre se chamou lua e que é impossível chamá-la de qualquer outra coisa.
Para a criança pequena, os nomes não são designações arbitrárias, mas
propriedades dos objetos que eles representam. (Desenvolvimento e educação
da criança; aplicação de Piaget na sala de aula. Rio de Janeiro: Zahar, 1978).
De acordo com este realismo nominal, como entender uma criança de 6 anos e
1 mês que cria uma história na qual folhinhas se machucam e são socorridas
por uma ambulância de folhas? (Cf. REGO, 1990, p. 42, Bib.) Sobre esta
capacidade que tem a criança de conotar, Elkind defende o seguinte: a
conceptualização consciente dos nossos próprios processos mentais a que se
deu o nome de inteligência reflexiva [grifo do autor], usualmente só aparece na
adolescência e com a realização de operações formais. Somente nesse período,
o jovem é capaz de pensar sobre o pensamento. Entretanto, eu acredito haver
uma espécie de inteligência reflexiva que se manifesta assim que a criança
adquire linguagem e que reflete as tensões entre a inteligência prática
inconsciente e a inteligência simbólica consciente. Quer dizer, as crianças
ouvem e adquirem muitas palavras para as quais não têm conceitos, e possuem
muitos conceitos, graças à atividade inconsciente da inteligência prática, para as
quais não dispõem de palavras. Por conseguinte, as crianças tentam relacionar
os seus conceitos com os seus símbolos verbais, um processo a que proponho
dar-se o nome de aprendizagem conotativa [grifo do autor]. A aprendizagem
conotativa envolve expressamente a construção de significados, o
estabelecimento de conexões entre conceitos e símbolos figurativos. Envolve
»149
Quanto à mimese, todos sabemos que o sujeito cognoscente não só
imita como modifica e constrói esquemas através das suas ações
interativas com o mundo concreto no qual é um sujeito ativo. A
construção do conhecimento em todos os seus níveis está ligada à ação
resultante da interação sujeito/objeto. Chamamos a atenção, no
entanto, para o fato de tanto na mimese como na metáfora estar
contida uma ideia associacionista cuja tradição remonta a Aristóteles8.
Sob uma visão empirista, Aristóteles tinha mesmo que ver nesses
instrumentos de linguagem e comunicação uma relação analógica,
representacional, imitativa, contextual com a vida (a natureza) e as
ações, porque no associacionismo, segundo David Hume, (com ele, o
associacionismo será visto, pioneiramente, como princípio central na
análise da mente humana), o conhecimento é alcançado mediante a
conexão de ideias seguindo os princípios de semelhança, contiguidade
nem mais nem menos que os esforços da criança para dar sentido ao seu
mundo. [...] Num sentido muito real, a aprendizagem conotativa envolve a
reapresentação [grifo do autor] da experiência ao nível operatório concreto.
Portanto, poderíamos dizer que existe uma inteligência reapresentativa ao nível
operatório concreto, a qual precede a inteligência reflexiva do nível operatório
formal. (Ib. p.115).
8
Platão já apresentara antes de Aristóteles uma teoria associacionista,
esquecida, no entanto, mediante sua doutrina das ideias inatas. Por isso é
Aristóteles considerado o autor mais antigo que argumentou sobre a associação
como uma teoria da memória. A lição do Estagirita (Parva naturalia – memória e
reminiscência), apud Herrnstein e Boring, ensina que na memória uma ideia
acompanha outra porque são semelhantes, contrastantes ou, frequentemente,
contíguas: os atos de recordação, tal como ocorrem na experiência, se devem
ao fato de um movimento ter, por natureza, outro movimento que a ele sucede
em ordem regular. Segundo Richard J. Herrnstein e Edwin G. Boring, nos dois
mil anos que sucederam os três princípios associacionistas defendidos por
Aristóteles o da associação por contiguidade foi o mais estável. (Textos básicos
de história da psicologia. São Paulo: Herder/USP, 1971. p. 400-405).
150«
espacial e temporal, e casualidade 24, acompanhado, evidentemente,
pelas experiências sobre o mundo físico. Há uma passagem na
Metafísica onde o Estagirita diz que tanto a arte como a ciência são
formas de conhecimento que o ser humano criou através da
experiência:
»151
criou. Por ser um lógico é que ele identificou a metáfora e observou
que as palavras com seu sentido ordinário comunicam tão-somente
aquilo que já sabemos. Por isso, seu gênio defendeu que desviar uma
palavra de seu sentido ordinário permite dar ao estilo maior
26
dignidade .
152«
2.2 A astúcia do Ledor9
9
A paródia com o título do livro de José Guilherme Merquior (A astúcia da
mímese. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1972) é explicada com as palavras do
próprio crítico: o fenômeno, porém, por nós chamado „astúcia da mímese‟, não
concerne especificamente ao lírico. A obtenção de um conhecimento especial
sobre aspectos „universais‟ da vida humana (considerados de interesse
constante para o espírito) mediante a figuração de seres singulares é comum a
todos os gêneros literários; é o modus operandi da literatura em geral. Ora, a
astúcia da mímese indica a causa final do literário, que guarda o segredo da
universalidade das suas obras: essa capacidade de interessar aos homens em
qualquer tempo e lugar [grifo nosso], p. 12.
»153
Termo, aliás, que parece ter recebido a preferência de uma crítica com
relação ao transporte aristotélico.
154«
filosóficos e linguísticos10. Sobre a tradição da metáfora no Ocidente,
Oswaldino Marques30 ensina que os antigos consideraram quatro tipos
principais de translação: de seres animados a inanimados, dos
inanimados aos animados, dos animados aos animados e dos
inanimados aos inanimados. Para esse crítico, é evidente um esforço
no sentido de reduzir a amplitude do conceito aristotélico de metáfora,
que admitia toda sorte de transposições. Para os retóricos gregos e
romanos subsequentes, a metáfora só designa transposições fundadas
na relação de semelhança.
10
Naturalmente que ao longo de todos os anos que antecederam o século XX, a
metáfora foi especulada: durante a Idade Média, o assunto esteve geralmente à
margem das cogitações, em parte refletindo o estado geral das coisas literárias.
Afora incidentais referências de Geoffroy de Vinsauf e sua Poetria nova (século
XII), o tópico foi relegado a segundo plano, e assim praticamente permaneceu
até os séculos XVI e XVII. Em 1725, Giambatista Vico na sua Scienza nuova
discute o assunto; em 1762, com a publicação de Elements of criticism, Lorde
Kames retoma a questão da metáfora. [...] Decerto, a doutrina clássica
continuava largamente acatada, mas aos poucos as análises em torno da
metáfora abandonavam o estágio retórico, gramatical, formal, e penetravam
num estágio semântico ou filosófico. Deixava, portanto, de ser divisada como
figura de linguagem para se converter em figura de pensamento. O impulso
inicial veio-lhe do Essai de sémantique (1897), de M. Breal (MOISÉS, Massaud.
A criação literária. 11. ed. São Paulo: Cultrix, 1989. p.198; Id. Dicionário de
termos literários. São Paulo: Cultrix, 1974. p. 327-328). Outros estudos
clássicos que se destacam sobre o assunto são o Traité des tropes, de
DuMarsais – 1730; Les figures du discours, de Pierre Fontanier – 1821. Greimas
e Courtés assinalam que a produção teórico-acadêmica sobre a metáfora é tão
extensa que pode constituir sozinha uma biblioteca (GREIMAS, Algirdas J.;
COURTÉS, Joseph. Dicionário de semiótica. São Paulo: Cultrix, [19__ ]. p.
274).
»155
psicólogo e teórico de poesia I. A. Richards. Suas reflexões sobre esse
assunto estão em O significado de significado, Princípios de crítica
literária e Filosofia da retórica (The philosophy of rethoric).
156«
conjunto, além de terem uma grande variedade de funções na fala.
Embora não explique como esse conjunto se processa, porque a
metáfora é também uma comparação, nem explane sobre o que é essa
variedade de funções na fala, Richards defende que uma metáfora
pode ser ilustrativa ou diagramática. Esse é o uso científico ou prosaico
mais comum da metáfora. Por conseguinte, a ilustração é tão-somente
uma atitude, uma pretensão do orador para com seu tema ou seu
auditório e a metáfora usada num sentido comum, trivial. Ao
considerar outros usos da metáfora, o crítico inglês esclarece que uma
das principais distinções entre a poesia e a prosa está no fato de que,
enquanto para aquela devemos ter atenção, conscientemente, às
características essenciais das palavras, para esta a nossa atenção é
desnecessária. É por isso que, nesse capítulo, ao conduzir a questão
para o poético, a metáfora para Richards tem outros usos; ela é, por
exemplo, o agente supremo pelo qual coisas díspares e até então
desconexas são ligadas em poesia por causa dos efeitos sobre atitudes
e impulsos, que decorrem de sua colocação e das combinações que a
mente estabelece entre elas33. Através dessa interpretação, o crítico
inglês projeta seu ponto de vista de que pensamento e metáfora (a
poética, pelo visto) são articulados entre si e supera sua compreensão
de metáfora, cf. cit. 31, como analogia.
»157
ciências cognitivas. Ainda hoje, lendo autores como Lakoff e Johnson,
vemos que, se há truísmo, ele se repete e é muito contemporâneo:
11
Oswaldino Marques argumenta o seguinte: a rigor, os termos sugeridos por
Richards são tenor e vehicle. Dada a impossibilidade de encontrarmos em
português um equivalente satisfatório para „tenor‟, tomamos emprestado a
Charles Morris (ver „Foundations of the theory of signs‟, Chicago, The Univ. of
Chicago Press, 1945) a palavra designatum, que aí também, desempenha um
papel semelhante (Teoria da metáfora & renascença da poesia americana. Rio
de Janeiro: São José, 1956. p. 21). No entanto, J. A. Osório Mateus tradutor
para a língua portuguesa do livro, em inglês, de Stephen Ullmann (Semântica:
uma introdução à ciência do significado. 4. ed. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1977. p. 442), traduz esse termo por teor. Pesquisadores
brasileiros atuais também traduzem o termo por teor, a exemplo de Luiz
Antônio Marcuschi (A propósito da metáfora. Revista de Estudos da Linguagem,
Belo Horizonte, v. 9, nº. 1, p. 82, 2000) e Mara Sophia Zanotto (Metáfora,
cognição e ensino de leitura. Revista de Documentação de Estudos em
Linguística Teórica e Aplicada, São Paulo, v. 11, nº. 11. p. 25, 1995).
158«
terminológica no trato com o assunto. Na lição do crítico inglês, elas
substituem locuções como “a ideia original” e “a ideia tomada de
empréstimo”; “aquilo que está sendo dito ou pensado” e “aquilo com
que está sendo comparado”; “a ideia subjacente” e “a qualidade
imaginada”; “o tema principal” e “aquilo que se lhe assemelha”; ou,
ainda mais confusamente, “o significado e a metáfora” ou “a ideia e a
sua imagem”38.
»159
literais das duas palavras (dos assuntos) sejam conhecidos pelo leitor
ou pelo ouvinte, conhecimento que, necessariamente, não precisa ser o
normal, dicionarizado, mas que esteja no que Black designa de sistema
de tópicos da palavra. Ao ouvir ou ler uma metáfora, o falante
seleciona algumas das propriedades culturais do assunto secundário (o
lobo), integrando-as ao principal. O sentido metafórico, o algo novo
que ela nos traz, viria dessa interação porque a metáfora do lobo
suprime certos detalhes e acentua outros: dito brevemente, organiza
nossa visão do homem [grifo nosso]41. Dessa forma, as metáforas,
porque expressam novas organizações, favorecem o ser humano a
perceber aspectos de sua realidade ao mesmo tempo em que
estabelecem certas interações entre ele e essa realidade físico-
espiritual.
Para esta última pergunta, uma resposta, talvez, esteja no fato de seu
autor ver na metáfora uma função cognitiva. Como ele próprio
argumenta, a metáfora organiza nossa visão de homem.
160«
Black entende que não é possível limitar as possibilidades de
interpretação do sentido metafórico; esse sentido não pode ser
observável a partir de um sistema padrão porque o falante está
sempre produzindo situações metafóricas de efeito nada convencionais
(decorrente, sem dúvida, do contexto). Daí sua advertência para a
necessidade de se considerar a ambiguidade como um dos aspectos da
metáfora. A questão, no entanto, não está em se considerar
ambiguidade, mas o contexto. A interpretação de Marcuschi sobre a
lição de Lipps de que não existe uma “significação originária” mas
“origem de um significado” e para o qual o significado se pleni-fica
(voll-zieht) apenas no contexto de uso, reforça o nosso ponto de vista:
»161
2) o melhor modo de considerar tais assuntos é, com
frequência, como “sistemas de coisas”, e não como “coisas”;
162«
tipo45. É neste sentido que não concordamos com algumas opiniões,
como a de Marcuschi, a qual argumenta que, embora a teoria da
interação supere a transposição de significado como pilar da metáfora,
Black abre espaço para uma possível comparação, o que transforma
sua posição em insatisfatória. Marcuschi se refere ao exemplo
fornecido pelo próprio Black - O homem é um lobo -. Nós entendemos
que essa metáfora, predicativa, como a designa Hugo Friedrich12, antes
de ser produto de uma comparação, ela forma, condiciona uma
comparação: “O homem é como um lobo”. Isso, aliás, é o que
argumenta o próprio Marcuschi: a comparação é, no máximo, um
resultado da metáfora e não o contrário46. Opinião também de Black:
dizer que a metáfora cria a semelhança seria muito mais esclarecedor
do que dizer que a mesma formula uma semelhança que já existia
anteriormente47. Concluímos que o exemplo de Black, para dispensar
qualquer visão comparativista, teria sido mais eficaz se fosse algo
como o homem lobo ou homem lobo.
12
No aspecto formal, a metáfora predicativa com caráter de definição não
parece atrativo, pois este tipo pertence a todas as épocas da literatura. „A noite
é um pombo negro‟ (Lasker-Schuler); „A guitarra é um poço cheio de vento em
vez de água‟ (Diego). [...] Também por outro caminho a metáfora moderna se
aproxima da identificação, ou seja, quando se serve de uma técnica de
justaposição – técnica que apareceu na primeira metade do século XIX, a
princípio de forma tímida: „Moeda de ouro, meio-dia‟ (Goldmunze Mittag),
„Prestidigitador, dia‟ (Taschenspieler Tag), „Barco, fantasia‟ (Barke „Phantasie‟).
Nestes casos, o primeiro substantivo é sempre a metáfora do segundo,
tratando-se, no fundo, de uma metáfora predicativa, na qual falta o „é‟,
predicado verbal. Precisamente esta abreviação torna este tipo de metáfora
típico da poesia moderna. É famoso o conciso verso final de Zone, de
Apollinaire: Soleil cou coupé; também aqui há uma aglutinação que, de
imediato, coloca junto ao sujeito (sol), sua fase momentânea (ocaso), todavia
este é tratado apenas de forma metafórica, de maneira que se poderia falar de
uma metáfora absoluta, cujo significado básico (o pôr-do-sol) não é nem
mesmo enunciado. (FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna. 2. ed. São
Paulo: Duas Cidades, 1991. p. 208-209).
»163
George Lakoff e Mark Johnson em alguns pontos, e em todo o capítulo
22 de Metáforas da vida cotidiana, também descartam a semelhança -a
analogia por base- do modus operandi da metáfora. Ora, se é possível
a substituição de um termo em um suposto enunciado metafórico é
porque nele não existe metáfora. Nesse caso, o que se tem é uma
metonímia; esta é que nos permite usar uma palavra por outra, ainda
que exerça algumas funções de metáfora, como assinalam esses
autores através do exemplo que fornecem: quando dizemos “O Times
ainda não chegou à coletiva de imprensa”, usamos O Times não
apenas para nos referir a um repórter ou outro, mas também para
sugerir a importância da instituição que ele representa. Assim, “O
Times não chegou à coletiva de imprensa” significa algo diferente de
“Steve Roberts ainda não chegou à coletiva de imprensa”, embora
Steve Roberts seja o repórter do Times em questão48.
164«
H. Lipps, que preenche as condições das relações subjetivas
fora do campo de significado original. „Para caracterizar a
ignorância de alguém o denominamos um burro ou um camelo.
Isso, porém, com o qual o comparamos, não é tomado
simplesmente como portador da mesma característica. Os
camelos não são de forma alguma ignorantes; um burro não é
um burro no mesmo sentido que um homem‟ (Lipps, 1958:73).
Fica com isso comprovado, segundo Lipps, que não tem
fundamento pleno a noção de metáfora como transposição de
sentido [grifos do autor da citação]”. 49
13
A retórica antiga opunha às figuras de pensamento (litotes, ironia,
interrogação oratória, etc.) e às figuras de construção (elipse, silepse, etc.) os
tropos ou figuras de palavras. Tropo [grifo dos autores], todavia, acabou por
aplicar-se a todas as espécies de figuras que podemos considerar como um
desvio (em grego tropos) do sentido da palavra (DUBOIS, Jean. et al. Dicionário
de linguística. São Paulo: Cultrix, 1978. p. 603).
»165
A exemplo de Richards, Black, Lipps, Marcuschi, Lakoff e Johnson, este
estudo trata a metáfora também à margem dos tropos.
166«
Muito embora nesse ensaio Ricoeur fale mais uma vez sobre a busca
da semelhança, ele já vê a metáfora, também, como criadora de um
novo significado, além de, a exemplo de Black, entender que ela
explica a similaridade: a metáfora não é o enigma, mas a solução do
enigma52. É importante assinalar que, ao reconhecer na metáfora a
solução do enigma, Ricoeur se contrapõe ao Ledor quando esse
postulou que as metáforas são enigmas velados53.
14
O linguista Roman Jakobson também faz parte desse grupo. Em seu estudo
Dois aspectos da linguagem e dois tipos de afasia ele argumenta que o
desenvolvimento de um discurso pode ocorrer segundo duas linhas semânticas
diferentes: um tema (topic) pode levar a outro quer por similaridade, quer por
contiguidade. O mais acertado seria talvez falar de processo metafórico no
primeiro caso, e de processo metonímico no segundo, de vez que eles
encontram sua expressão mais condensada na metáfora e na metonímia
respectivamente. Coerentemente, o linguista compreende a metáfora como um
tropo: na poesia, diferentes razões podem determinar a escolha entre esses
dois tropos [referindo-se à metáfora e à metonímia]. Finalizando o estudo, ele
postula que a similaridade das significações relaciona os símbolos de uma
metalinguagem com os símbolos da linguagem a que ela se refere. A similitude
»167
relaciona um termo metafórico com o termo a que substitui (Linguística e
comunicação. São Paulo: Cultrix, [19__]. p. 55, 57, 61). Entendemos que a
contribuição desse estudo de Jakobson está particularmente endereçada, como
o próprio título antecipa, para os estudos sobre a afasia. Sem dúvida, trata-se
de um estudo linguístico que, à época, deve ter trazido um grande avanço
teórico para os especialistas da matéria: foneticistas, neurologistas,
otorrinolaringologistas, educadores, psicólogos, como deve ainda contribuir para
os mais „novos‟: os fonoaudiólogos. Por que um estudo sobre a afasia põe como
tema principal a metáfora e a metonímia? Porque para Jakobson das duas
figuras polares de estilo, a metáfora e metonímia, esta última, baseada na
contiguidade, é muito empregada pelos afásicos cujas capacidades de seleção
foram afetadas. Garfo é substituído por faca, mesa por lâmpada, fumaça por
cachimbo, comer por torradeira (p. 49). [...] A interpretação de um signo
linguístico por meio de outros signos da mesma língua, sob certo aspecto
homogêneos, é uma operação metalinguística que desempenha papel essencial
na aprendizagem da linguagem pela criança. O recurso à metalinguagem é
necessário tanto para a aquisição da linguagem como para seu funcionamento
normal. A carência afásica da „capacidade de denominar‟ constitui propriamente
uma perda de metalinguagem, (p.47). Nesse estudo, Jakobson demonstra que
tanto a metáfora como a metonímia são os únicos recursos linguísticos do
afásico – o qual só usa um ou outro: na afasia, um ou outro desses dois
processos é reduzido ou totalmente bloqueado – fato que, em si, torna o estudo
da afasia particularmente esclarecedor para o linguista. No comportamento
verbal normal, ambos os processos estão constantemente em ação, mas uma
observação atenta mostra que, sob a influência dos modelos culturais, da
personalidade e do estilo verbal, ora um, ora outro processo goza de
preferência, (p. 55). Embora Jakobson no item V desse estudo - Os polos
metafórico e metonímico - teorize sobre metáfora e metonímia tanto no campo
da literatura como da pintura e do cinema, ele se fundamenta, como
assinalamos, na tradição aristotélica quanto aos seus processos de formação ou
de mudanças estruturais decorrentes de fatores sociohistórico-culturais. A
metáfora, para ele, é um tropo e produto de uma similaridade. Nesse contexto,
seu estudo formou discípulos. Ele é a base teórica para Michel Le Guern realizar
seu Sémantique de la métaphore et de la métonymie: não seria exagerado
afirmar que o presente livro não é mais que uma prolongação deste trabalho.
Apesar de que Jakobson nem sempre dá às suas teorias uma formulação tão
explícita como seria esperado, é aqui onde se encontram os fundamentos
necessários a todo estudo sobre a metáfora e a metonímia (La metáfora y la
metonimia. Madrid: Ediciones Cátedra, 1976. p. 138-139). Paul Ricoeur também
lhe dedica reflexões especiais em O trabalho da semelhança, Estudo VI, d‟ A
metáfora viva. Porto: Rés, 1983. p. 260. Além de Roman Jakobson, os retóricos
do Centre d‟Études Poétiques - Université de Liége, também integram o grupo
aristotélico quando teorizam que a metáfora não é propriamente uma
168«
A filiação do pensador francês ao aristotelismo, pelo menos nessa
matéria, manifesta-se, por exemplo, quando ele enquadra suas
reflexões sobre o processo metafórico como cognição, imaginação e
sentimento na visão empirista de David Hume, para quem o
conhecimento é alcançado mediante a associação de ideias. Ricoeur
chega a lembrar que a função da inovação semântica (aquela, segundo
ele, que faz a metáfora não ser o enigma, mas a solução do enigma),
não deve ser mal compreendida enquanto tivermos em mente a teoria
da imagem de Hume como uma tênue impressão, isto é, como um
resíduo perceptual55.
»169
“embora o fato de as diferentes ideias se ligarem umas às
outras seja demasiado evidente para ter escapado à
observação, não vejo que algum filósofo tenha procurado
enumerar ou classificar todos os princípios de associação. Ora,
este é um assunto que bem parece merecer um pouco de
atenção. Quanto a mim, creio existirem apenas três princípios
de conexão entre as ideias, a saber: a semelhança, a
contiguidade de tempo e lugar e a causa ou efeito”.
170«
Estaríamos negando esse poema ou esse romance; estaríamos
negando, principalmente, a própria metáfora no seu estatuto de
nomear o mundo e sua história sociocultural.
»171
metáfora, segundo ele, nos faz ver uma coisa como outra, fazendo
algum tipo de afirmação literal que inspira o insight ou leva a ele59.
Alguns de seus equívocos, inclusive esse que acabamos de transcrever,
decorrem do fato de que ele, como um positivista, se ocupa com algo o
qual, segundo a sua própria opinião, nada acrescenta ao conhecimento
humano: mas, se estou certo, a metáfora não diz nada além do
significado literal (nem seu criador diz coisa alguma, ao usar a
metáfora, além do literal)60. Sobre essa questão, ele argumenta, por
exemplo, o seguinte:
172«
Por fim, indo de encontro a essas ideias, o próprio Davidson afirma que
a metáfora, no entanto, é um artifício legítimo, não apenas na
literatura, mas também na ciência, na filosofia e no direito 64.
»173
a uma utopia. A metáfora dos iluministas, por exemplo, jamais
corresponderia à metáfora trágica dos gregos ou interacionista de
opostos do Barroco. O Arcadismo configura muito bem a fé iluminista
sobre as possibilidades antropocêntricas quando transforma a
natureza, graciosa e redentora, em uma das metáforas mais
significativas e tradutoras da ideologia das luzes.
174«
da angústia, da morte e do tempo67. Através dela, o drama humano
contradiz a fé antropocêntrica e um consequente individualismo típicos
do alvorecer da modernidade. O alongamento, em primeiro plano, da
mão de Francesco Mazzola, que a faz anatomicamente insólita, em
oposição ao aparente equilíbrio de seu semblante, espelha as tensões
histórico-político-socioculturais que a Idade Moderna já manifestava.
»175
Hugo Friedrich, como veremos, designará esse processo interativo de
técnica da fusão, ressaltando a capacidade da metáfora moderna de
unir algo próximo a algo distante, de desenvolver combinações as mais
desconcertantes ao transformar um elemento que já é longínquo num
absolutamente remoto. Na poesia, os exemplos desse processo
interativo são inúmeros. Entre eles, conforme já assinalamos, a
metáfora barroca do claro/escuro, da tensão de opostos:
Deus/humano; bem/mal; morte/vida. São João da Cruz, em seu Noite
escura, ao tentar conciliar a dialética alma/razão organiza uma
interação, ou fusão, que resulta nas belas metáforas do Amado e da
noite escura da alma.
176«
Sucedendo o predomínio do Barroco, no contexto da Era Industrial e do
Estado Moderno, uma outra metáfora vai depor sobre a desilusão de
um projeto político-social que não cumpriu com os ideais
revolucionários de liberdade, igualdade e fraternidade. É a metáfora do
grotesco e do sublime.
»177
“Trêmulo permaneço dia e noite; meus amigos ficam
espantados. / Mas perdoam o meu divagar, pois não posso
afastar-me da grande tarefa! / A tarefa de abrir os Mundos
Eternos, de abrir a Visão imortal / Do Homem para os Mundos
interiores de seu Pensamento: para a Eternidade / Em contínua
expansão no Seio de Deus: para a Imaginação Humana”.72
178«
da alma, egotismo, niilismo, exílio espontâneo, reclusão, fuga são
componentes românticos que favorecerão à lírica moderna criar uma
metáfora, de raízes maneirista-barrocas, baseada numa técnica que
Hugo Friedrich chama de técnica da fusão: foi em Rimbaud que, pela
primeira vez, nos encontramos frente a um procedimento que
chamamos de técnica da fusão. Também a lírica do século XX faz uso
dela75. Friedrich defende que essa metáfora, caso se queira falar ainda
de metáfora e não já de técnica da fusão 76, se transforma no meio
estilístico mais adequado à fantasia ilimitada da poesia moderna
porque ela superou, no que poderia ainda recordar, uma de suas
funções antigas que é a comparação, não aplicável desde o Barroco e,
tampouco, à poesia moderna.
»179
Paul Valéry, T. S. Eliot, Saint-John Perse, Jorge Gullén, explica esta
metáfora moderna e o caráter dissonante da poesia que eles criaram:
180«
Esta distinção pode ser demonstrada, por exemplo, através daquelas
cinco oposições estabelecidas por Wölfflin79 para caracterizar a
15
passagem do Renascimento ao Barroco ; essa passagem, como
defende Wölfflin, é um exemplo bastante elucidativo de como o espírito
de uma nova época exige uma nova forma:
RENASCIMENTO BARROCO
(a metáfora da analogia e da (a metáfora da interação de
comparação) contrários, ou da técnica da
fusão de contrários)
pluralidade unidade
15
Joel Neves assinala que Wölfflin descura do Maneirismo, pois impõe a
formação do Barroco como sucessão necessária à Renascença em razão da
lógica imanente da evolução das formas (Ideias filosóficas no barroco mineiro.
Belo Horizonte: Itatiaia, 1986. p. 115-117).
»181
Notas bibliográficas
6. Id. Ética a Nicômaco. Livro VI, 1140a – 10-17. São Paulo: Martin Claret,
2001. p. 131.
9. Ibid., p. 115.
10. PAZ, Octavio. O arco e a lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983, p. 195.
11. JAEGER, Werner. Paidéia; a formação do homem grego. 2. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1989. p. 8.
12. PAZ, Octavio. Ibid. p. 195.
13. ARISTÓTELES. Physique; Livre II, La nature et les causes: 8,199a 21.
Texte établi et traduit par Henri Carteron. 2. ed. Paris: Societé D‟Édition „Les
Belles Lettres‟, 1952. p. 77.
14. BERTI, Enrico. As razões de Aristóteles. São Paulo: Edições Loyola, 1998. p.
163-164.
15. ARISTÓTELES. Poética. Op. cit., p. 111.
182«
21. Ibid., p. 181.
22. Ibid., p. 195.
24. HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano. Seção II. São
Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 137.
32. Id. Princípios de crítica literária. Porto Alegre: Globo, 1967. p. 204.
33. Ibid., p. 204.
34. Id. The philosophy of rethoric. New York: Oxford University Press, 1950. p.
94.
35. LAKOFF, George, JOHNSON Mark. Op. cit., p. 42.
36. RICHARDS, I. A. Ibid., p. 92.
37. Ibid., p. 96.
38. Ibid., p. 96.
39. Ibid., p. 93.
40. BLACK, Max. Modelos y metáforas. Madrid: Editorial Tecnos, 1966. p. 51.
41. Ibid., p. 49.
»183
46. MARCUSCHI, Luiz A. Op. cit., p. 85.
47. BLACK, Max. Op. cit., p. 47..
184«
72. BLAKE, William. Poesia e prosa selecionadas. Introdução, seleção e tradução
de Paulo Vizioli. São Paulo: J. C. Ismael, 1984. p. 51.
Talvez seja esse juízo uma das causas que faça determinada tradição
ver a criação poética sobretudo como inspiração; ou algo que se revela
como epifanias.
»185
Acontece que a criação poética não está acima das relações histórico-
sociais. Naturalmente que o poeta enxerga aquilo que a maioria das
pessoas apenas veem. Mas isso também ocorre com o cientista e o
filósofo. Todo ser humano, por exemplo, sempre percebeu, como ainda
o percebe, que os corpos caem, mas foi um indivíduo que, além de
perceber, deve ter se perguntado - por que os corpos caem? E ao
pensar, ao racionalizar sua pergunta, a respondeu.
186«
pudesse – pormenorizar, passo a passo, os processos pelos
quais qualquer uma de suas composições atingia seu ponto de
acabamento. Por que uma publicação assim nunca foi dada ao
mundo é coisa que eu não sei explicar, mas talvez a vaidade dos
autores tenha mais responsabilidade por essa omissão do que
qualquer outra causa. Muitos escritores – especialmente os
poetas – preferem ter por entendido que compõem por meio de
uma espécie de sutil frenesi, de intuição estática; e
positivamente estremeceriam ante a ideia de deixar o público
dar uma olhadela, por trás dos bastidores, para os verdadeiros
propósitos só alcançados no último instante, para os inúmeros
relances de ideias que não à maturidade da visão completa,
para as imaginações plenamente amadurecidas e repelidas em
desespero como inaproveitáveis, para as cautelosas seleções e
rejeições, as dolorosas emendas e interpolações; numa palavra
para as rodas e rodinhas, os apetrechos de mudança no cenário,
as escadinhas e os alçapões do palco, as penas de galo, a tinta
vermelha e os disfarces postiços que, em noventa e nove por
cento dos casos, constituem a característica do histrião
literário. Bem sei, de outra parte, que de modo algum é comum
o caso em que um autor esteja absolutamente em condições de
reconstituir os passos pelos quais suas conclusões foram
atingidas. As sugestões, em geral, tendo-se erguido em
tumulto, são seguidas e esquecidas de maneira semelhante.
Quanto a mim, nem simpatizo com a repugnância acima aludida
nem, em qualquer tempo, tive a menor dificuldade em
relembrar os passos progressivos de qualquer de minhas
composições; e, desde que o interesse de uma análise, ou
reconstrução, tal como a que tenho considerado um desiderato,
é inteiramente independente de qualquer interesse real ou
imaginário na coisa analisada, não se deve encarar, como falta
»187
de decoro de minha parte, o mostrar o modus operandi, pelo
qual uma de minhas próprias obras se completou. Escolhi O
corvo, como a mais geralmente conhecida. É meu desígnio
tornar manifesto que nenhum ponto de sua composição se
refere ao acaso, ou à intuição, que o trabalho caminhou, passo
a passo, até completar-se, com a precisão e a sequência rígida
de um problema matemático”.
188«
é, ambas visam à criação de uma obra com elementos de
experiência de um homem”.
(In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda européia e modernismo
brasileiro. 4. ed. Petrópolis: Vozes).
»189
Arte poética
190«
Leitura complementar
»191
Mas a pesquisa (embora aqui referida aos saltos) adquiriu
novos aspectos: o “mot juste” da estética parnasiana, a palavra
fluida do simbolismo, a “palavra em liberdade” do modernismo.
192«
A experimentação, porém, não cessa.
»193
Agora, a importância da palavra-coisa, isolada do texto,
assume feição nova na luta contra o “discursivo”, contra o
verso-frase, contra a velha “unidade rítmica”. É a vez, também,
da palavra independente da coisa a que se refere (jarro sem o
jarro). Recorre-se à fenomenologia para considerar as coisas
em estado de “naïvété” a-histórica, pré-conceitural, pré-
linguística. A linguagem nada terá que ver com o ser das coisas,
muito menos com a “coisidade” de cada coisa.
194«
poema, em Edgar Braga, será outro exemplo bastante
expressivo de “duplicação” ou “estruturação” vocabular.
»195
Vou, por exemplo, reler o capítulo que você acha enxertado (os
primeiros desertores) e ver quais as ligações. É muito provável
que haja ligações. [...] Suponho que a ligação de Perseu com o
resto, é que ele não precisava, como Lucrécia, de procurar a
realidade – porque ele era a realidade, ele fazia parte da
verdade. A mulher de preto sentiu que ele era assim, e que era
inalcançável por isso, como uma criança, Perseu era o que
Lucrécia não conseguiu ser. Basta como justificativa desse
capítulo? Ou ainda parece enxertado? – Também o fato de eu
chamar S. Geraldo de subúrbio, vou estudar. Você tem razão,
mas creio que vai ser talvez difícil de mudar, porque teria que
mudar outras coisas também. Mas vou ver ainda. [...] Quanto
ao fato de eu dizer: “Depois de guardar os pratos enxutos é que
se iniciou a verdadeira história dessa tarde” – estou de acordo
que na verdade não houve mudança de plano mental. Mas me
refiro ao fim do capítulo, quando ela vê realmente a sala de
visitas, atingindo por assim dizer um “êxtase” de visão. Sei que
você tem razão, mas não encontrei outro modo de aprofundar o
plano em que as coisas se passavam (aprofundamento
necessário) senão falando em “verdadeira história dessa
tarde”. Ainda vou estudar todos os pontos dos quais você fala,
querida, e lhe escreverei o mais depressa possível.” (in:
Correspondências: Clarice Lispector. Org. Teresa Montero. Rio
de Janeiro: Rocco, 2002).
196«
fazendo várias anotações e vamos ver se concordo. Tinha uma
vontade louca de me ocupar muito, mas não em livro, estou
muito cansada. Esse livro teve umas oito cópias, cada uma um
pouco diferente da outra. Mas queria me ocupar, cabeça sem
emprego só dá chateação” (op. cit. 2002. p.207-208).
4. O poema16
16
As palavras em negrito, deste capítulo, constam no dicionário indicado na
Bibliografia básica. O estudante de Letras não pode dispensar da sua biblioteca
dicionários especializados desta Área. Isto não quer dizer que vá limitar-se aos
significados ali apresentados. Naturalmente que para uma monografia, uma
dissertação, uma tese, ou qualquer ensaio mais especulativo, o pesquisador não
pode ater-se ao que um dicionário introduz em suas explicações. Para os
pesquisadores de Literatura e Teoria Literária, o dicionário de Massaud Moisés –
Dicionário de termos literários, cf. ref. bib. – ainda é o mais completo em Língua
Portuguesa do Brasil. Apresenta verbetes, entre alguns, substantivamente
explicados, com referências bibliográficas através das quais o pesquisador
ampliará o conteúdo de suas pesquisas indo diretamente às fontes citadas.
»197
que eu escreva a canção que não me encanta
198«
Segundo a lição de Massaud Moisés, Dante Alighieri (1265-1321) foi o
primeiro grande poeta a cultivar o soneto, mas coube a Petrarca
(1304-1374) o mérito de lhe dar uma fôrma e um conteúdo que se
tornariam modelares para os pósteros, não só na Itália como em
outros países da Europa (In: Dicionário de termos literários. São Paulo:
Cultrix, 1974, p.482). Muito cultivado entre os séculos XVI e XVIII, o
soneto tem seu declínio no Romantismo. Resgatado gloriosamente pelo
Parnasianismo, será, no entanto, proscrito pelas vanguardas do século
XX e no Brasil pelos modernistas. O que não significa que ele tenha
sumido definitivamente. Em 1946, o poeta Ledo Ivo (1924/--) publicou
Acontecimento do soneto.
»199
Trem de ferro
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
200«
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
»201
Pouca gente
Pouca gente...
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
202«
Vou- me em bo ra pra Pa sár ga da.
1 2 3 4 5 6 7
»203
“o metro é o exterior, o ritmo o interior; o metro é a regra
abstrata, o ritmo a vibração que confere vida; o metro é o
Sempre, o ritmo o Aqui e o Hoje, o metro é a medida
transferível, o ritmo a animação intransferível e
incomensurável”.
204«
plural do pretérito perfeito do indicativo: falaro (falaram); dissero
(disseram), etc. Vou mimbora é uma corruptela de vou-me embora.
Vou mimbora, vomimbora, vambora, bora são formas de largo uso.
»205
em idênticas circunstâncias de desalento e tédio, me ocorreu o
mesmo desabafo de evasão de „vida besta‟. Desta vez o poema
saiu sem esforço como se já estivesse pronto dentro de mim.
Gosto desse poema porque vejo nele, em escorço, toda a minha
vida; e também porque parece que nele soube transmitir a
tantas outras pessoas a visão e promessa da minha
adolescência - essa Pasárgada onde podemos viver pelo sonho
o que a vida madrasta não nos quis dar. Não sou arquiteto,
como meu pai desejava, não fiz nenhuma casa, mas reconstruí
e „não como forma imperfeita neste mundo de aparências‟, uma
cidade ilustre, que hoje não é mais a Pasárgada de Ciro, e sim a
„minha‟ Pasárgada”.
(In: Manuel Bandeira: poesia completa e prosa. 4. ed. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1977. p. 80).
17
Você pode também ouvir Manuel Bandeira recitando Vou-me embora pra
Pasárgado no YouTube: <http://www.youtube.com/watch?v=adKtPW
A8rC0>.
206«
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
»207
E quando eu estiver mais triste
Mais triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
4.1 O experimentalismo
208«
“as experiências literárias de Poe, Whitman, Baudelaire,
Lautréamont, Rimbaud e Mallarmé assinalam na poesia
ocidental os pontos de ruptura estética e temática que,
somados ou desenvolvidos, motivaram o aparecimento de
vários grupos de vanguarda na poesia europeia do início deste
século [do século XX]”.
(In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda européia e modernismo
brasileiro. 3. ed. Petrópolis: Vozes, p. 21, 1976).
»209
Isaura, de Mário de Andrade; o Manifesto Pau-Brasil e o Manifesto
antropófago, de Oswald de Andrade as grandes poéticas do
Modernismo Brasileiro, o qual, entre outros méritos, impôs, na lição de
Mário de Andrade,
Sem dúvida, são esses três princípios que favorecerão nossa poesia
chegar, por exemplo, ao experimentalismo de Cassiano Ricardo (muito
embora o próprio Cassiano assinale que em 22, o meu “defeito” era
ser excessivamente visual. Não só visual “imagístico”. A parte “visual
gráfica” nunca deixou de me interessar vivamente (In: op. cit. 1964, p.
15), a Joaquim Cardozo (1897-1978) e João Cabral de Melo Neto. Ao
Concretismo. Assim como nossa prosa chegar a Graciliano Ramos,
Clarice Lispector, Osman Lins. A Guimarães Rosa.
210«
Este poema faz parte do longo poema Jeremias sem-chorar (“terei
elaborado Jeremias como se fosse, todo ele, um só poema”, informa
Cassiano Ricardo - In: Jeremias sem-chorar. 3. ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, p. X, 1976). O Poeta, ao comentar a crítica de Wilson Martins
sobre Gagárin, explica:
»211
constituem, também, „signos‟ (em linguística). O „pato
selvagem‟, embora no centro geométrico (terra) não deixará,
em relação a touro, leão, caranguejo, escorpião, peixe, de ser
por sua vez, um „signo‟ – o de uma época que se inicia sob o
signo do „pato selvagem‟, diga-se, de Gagárin. Já as palavras do
semicírculo superior, „ave‟, „bela ave‟, mas também „belonave‟,
„ave bélica‟, „astronave‟, indicam a dúvida entre a maravilha e a
ameaça (um bem?, um mal?) sendo que „belo-belo‟ ( o mesmo
que bilo-bilo) que se diz às crianças quando se lhes chama a
atenção para algum objeto, que está no ar ou no céu,
representa a inocência do homem diante do espetáculo
cósmico. E por que zodíaco conota horóscopo, abre-se uma
esperança para o futuro, como se vê pelo linossigno que forma
o semicírculo inferior: „os que vão nascer te saúdam‟, ao invés
de „ave, Cesar, morituri te salutant‟. Sustenta o autor de
'Desgaste das Vanguardas‟ (título da crítica de Wilson Martins,
obs. nossa) que o „pato selvagem‟, como toda inocente criatura
do Senhor, prefere as rotas cardiais e não qualquer forma
fantasiosa de voo circular ou elíptico‟. O seu equívoco, aqui,
chega, a ser mirabolante – permita-me a expressão. Por que?
Simplesmente porque „pato selvagem‟ não é pato, o inocente
palmípede que ele pensou ser. É o que Gagárin significa em
russo, segundo o que os jornais e revistas divulgaram,
amplamente, por ocasião do primeiro voo orbital. Trata-se,
portanto, de um „pato selvagem‟ (Gagárin) que voou em órbita
(voo circular ou elíptico, pouco importa) e não do pato „pato-
mesmo‟ que prefere „as rotas cardiais‟. Naturalmente, o meu
instigante crítico pensou (direito seu) que o vocabulário „ave‟,
sotoposto a „pato selvagem‟, queria dizer „pato-mesmo‟ (o
palmípede, não Gagárin) e daí (outro equívoco), já não é ave
(pato) e sim „salve‟, do latim „ave‟. É uma interjeição, não um
212«
substantivo. Uma saudação: „Ave, Gagárin‟, não uma ave da
família dos anatídeos”.
In: Cassiano Ricardo. Coletânea organizada por Sônia Brayner. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, p. 70-71, 1979
»213
estrutura espácio-temporal, em vez de desenvolvimento
meramente temporístico-linear. daí a importância da ideia de
ideograma desde o seu sentido geral de sintaxe espacial ou
visual, até o seu sentido específico (fenollosa/pound) de
método de compor baseado na justaposição direta – analógica,
não lógico-discursiva – de elementos [...].
214«
a poesia concreta visa ao mínimo múltiplo comum da
linguagem, daí a sua tendência à substantivação e à
verbificação [...].
»215
campo de estudos que se presta com muita adequação à análise
dos processos de fusão das diversas linguagens (palavra, som,
imagem). Esse papel de formação e fixação, de modo ao mesmo
tempo sólido, diversificado e criativo, de todo um pensamento
contemporâneo sobre a poesia, apoiado na divulgação da mais
refinada produção poética de todo o mundo, foi (e continua
sendo) uma contribuição irrefutável e definitiva dos poetas do
grupo Noigandres para a literatura e mesmo a cultura brasileira
contemporânea”.
In: Roteiro de leitura: poesia concreta e visual. São Paulo: Ática, p. 41,
1998.
216«
inclusive o verso. Atitude tão radical que uma de suas vozes parece ter
mesmo colocado no lixo o luxo do verso, considerando que, para se
escrever uma história geral da literatura no Ocidente, se poderia iniciá-
la assim: no princípio era o verso... O que, no entanto, atenção, não
quer dizer que tudo fosse poesia. Lembremo-nos da lição de
Aristóteles:
»217
todo ou em fragmentos, constam no livro do Prof. Gilberto Mendonça
Teles (op. cit. cf. ref. bib.).
Leitura complementar
O cubismo
218«
do cubismo ou da literatura francesa da primeira guerra
mundial. Em 1913, já famoso, publicou Alcools livro em que se
encontram todas as inquietações poéticas da tradição e da
vanguarda francesa, e que constitui o mais importante
documento literário da atividade poética desse período de
definições das vanguardas na Europa (In: Teles, op.cit. p.109-
110).
Seja o que for que se pense dele, ele anima, hoje, a maior parte
da atividade humana.
»219
para um esforço comum. E vemos então surgirem as grandes
épocas.
220«
elaborado por aquele que a criou, como não há trabalho
científico ou filosófico que não tenha sido presidido por
concepções sistemáticas mais ou menos confessadas, hipóteses
nais ou menos liberadas. Os sistemas estéticos, científicos,
filosóficos são edifícios, construções que põem na obra
determinados materiais.
»221
apreciação de conjunto do universo e da alma humana e o
sentido do dever que analisa os sentimentos e limita, ou antes,
contém suas manifestações. Pretende ainda herdar dos
românticos uma curiosidade que o leve a explorar todos os
campos próprios para fornecer uma matéria literária que
possibilite exaltar a vida sob qualquer forma em que ela se
apresente. Buscar a verdade, encontrá-la, tanto no domínio
étnico como, por exemplo, no da imaginação, eis os principais
caracteres deste espírito novo (Guillaume Apollinaire. In: Teles.
Op. cit. p. 149).
222«
uma pesquisa bibliográfica. É importante que você anote a sua
compreensão sobre o foi lido. Suas anotações ajudarão no debate
previsto para a Orientação deste ponto.
6. O teatro
»223
demônios, cujas batalhas eram imitadas. Tão logo viram que o
drama representava sua derrota, os demônios se revoltaram e
se aliaram a outros pequenos deuses malignos, os „obstáculos‟,
lançando tal confusão entre os atores que estes se tornaram
incapazes de falar e se movimentar. Então, o deus Indra
levantou seu estandarte, lançou-se em cena, destruiu os
„obstáculos‟ e a maioria dos demônios. Depois foi construído um
edifício que se tornou o teatro. Para continuar a proteger os
atores contra os demônios sobreviventes, várias divindades
repartiam entre si as incumbências de proteger as diversas
partes do teatro. O Estandarte tornou-se o símbolo da proteção
dos atores.
224«
As divergências entre os teóricos nascem no momento em que
cada um tenta explicar o efeito da purgação (catharsis em
grego).
»225
Você ampliará sua compreensão sobre
teatro e drama ao ler e estudar as lições
introdutórias acerca destes conceitos
apresentadas pelo Prof. Massaud Moisés
no seu Dicionário de termos literários, cf.
ref. bib.
Referências
226«
CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história
literária. 7. ed. São Paulo: Nacional, 1985.
»227
MENEZES, Philadelpho. Roteiro de leitura: poesia concreta e visual. São
Paulo: Ática, 1998.
228«
MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix,
1974.
MELO NETO, João Cabral de. Antologia poética. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira.
Leituras complementares
»229
“durante a operacionalização dos conteúdos e das leituras
literárias, tente construir um comentário acerca do que você
está estudando e lendo. Tome a iniciativa de convidar um ou
dois colegas para trocarem ideias sobre o que vocês estão
pensando do assunto e dos textos literários. Lembre-se de que
o grupo de estudo é importante, quando formado
rigorosamente, e tão-só, para estudar, porque, entre outros
aspectos positivos, concretiza aquela lição de Vygotsky e Paulo
Freire de que a construção do conhecimento é um ato solidário,
e não solitário, cujo conteúdo ratifica o diálogo como
instrumento basilar para a aprendizagem. À medida que os
textos forem lidos, vocês devem fazer perguntas para e entre
si, tais como: o que este texto me diz?; o que eu digo a este
texto? Não deixe também de acrescentar uma informação
sobre o texto que um colega, ao comentá-lo, não o fez. A
construção do conhecimento é necessariamente dialética, por
isso só é válida quando mais de um sujeito está envolvido em
seu processo. Não deixe de expor seus argumentos e contra-
argumentos. Possibilite que o grupo crie um ambiente onde
todos comentem as respectivas observações acerca do estudo e
das leituras realizadas. Procure também, individual ou em
grupo, desenvolver um estudo crítico-reflexivo de forma que se
chegue a uma compreensão geral de tudo o que está sendo lido,
estudado, pensado, debatido a respeito dos conteúdos e das
leituras solicitadas”.
Poesia
230«
Prosa
Teatro
»231
Teoria da Literatura II – Aldo de Lima
ATIVIDADES
Atividade 1
Atividade 2
http://www.youtube.com/watch?v=AfZ-DK03C6I – Parte 1 e
http://br.youtube.com/watch?v=zySy12S4bnA - Parte 2.
232«
Atividade 3
Atividade 4
Atividade 5
O foco narrativo, Lígia Chiappini Leite, cf. ref. bib. Essa leitura
subsidiará o debate sobre o narrador.
»233
Você pode, e deve, ampliar suas leituras acerca dessas fôrmas lendo e
estudando ensaios que aprofundem seus elementos característicos do
ponto de vista estético, sociohistórico-cultural. Na referência
bibliográfica, há alguns títulos que colaboram com essa leitura
complementar, a exemplo de:
234«
Maria José de Matos Luna
LINGUÍSTICA: FUNCIONALISMO
236«
1. O que é funcionalismo?
Caro aluno,
»237
No funcionalismo, acredita-se que a estrutura fonológica, gramatical e
semântica das línguas é determinada pelas funções que têm que
exercer nas sociedades em que operam.
238«
Segundo a hipótese funcionalista, a estrutura gramatical depende do
uso que se faz da língua, ou seja, a estrutura é ativada pela
situação comunicativa. Nesse sentido, a estrutura é uma variável
dependente, pois os usos da língua, ao longo do tempo, é que dão
forma ao sistema. A necessidade de investigar a sintaxe, nos termos
da semântica e da pragmática, é comum a todas as abordagens
funcionalistas atuais.
»239
noção de contexto de situação ratificada mais à frente por Malinowski e
tão importante nos estudos de texto ainda hoje.
240«
as concepções que temos de língua. Língua é representação do
pensamento? Língua é código? Ou Língua é interação?
»241
relacionado a dois conceitos: gramática como conjunto de regras de
bom uso, ou seja, a gramática normativa; e a gramática como
descrição das entidades da língua e suas funções, ou seja, a gramática
descritiva.
242«
unidades da língua, sobre as relações mútuas entre diferentes
enunciados, sobre o propósito dos textos, sobre a relação entre os
textos e seus produtos e/ou receptores, etc. A coerência é considerada,
mesmo pelos leigos, o fator fundamental da textualidade porque
responsável pelo sentido do texto, por sua inteligibilidade. Usar o texto
como exemplo concreto para explorar qualquer conteúdo selecionado,
significa apenas que estamos usando o texto como pretexto. Mais uma
vez, não abolimos a preocupação normativa. Entendemos a gramática
como um processo de depreensão de entidades nocionais de onde
advêm as funções para as unidades depreendidas.
1
Retomando a noção de texto: Para Orlandi (1987:159), “texto é uma
unidade complexa de significação [...]. O que define o texto não é a sua
extensão, mas o fato de ele ser uma unidade de significação em relação à
situação [...]. Texto é o lugar, o centro comum que se faz no processo de
interação entre falante e ouvinte, autor e leitor”.
Para a existência de um texto são necessárias três qualidades: unidade,
coerência e coesão.
»243
“os textos são entendidos, fundamentalmente, como
representantes empíricos das atividades do discurso produzidos
dentro de uma prática social (os gêneros, como carta, ensaio,
etc.) e fixadas sobre um suporte qualquer (jornal impresso,
livro, etc.)”.
244«
do texto (sua representação estrutural profunda) é de natureza lógico-
semântica: os constituintes frásticos, sequenciais e textuais figuram
sob a forma de uma cadeia de representações semânticas ordenadas
de tal maneira que sejam manifestadas suas relações conectivas. As
regras de coerência agem sobre a constituição dessa cadeia, sendo que
as restrições que elas estipulam incidem, portanto, sobre traços
(lógicos) semânticos, isto é, afinal de contas, linguísticos. (1997, p.
49).
Leituras complementares:
»245
2.2 Contexto
ESTRUTURA DE ESTRUTURA DE
SUPERFÍCIE PROFUNDIDADE
246«
O Contexto pode ser:
IMEDIATO SITUACIONAL
2.3 Intertexto
»247
relações com outros textos. Essa referência e retomada constante de
textos anteriores recebe o nome de paráfrase, paródia, estilização.
• PARÁFRASE
Pode ser:
IDEOLÓGICA ESTRUTURAL
2. resumo;
3. comentários;
248«
4. exposição de apreciação, de juízo de valor.
• ESTILIZAÇÃO
• PARÓDIA
»249
Na paródia, o desvio é total; às vezes; às vezes invertem-se as idéias,
vira-se o texto do avesso. Há uma ruptura, uma deformação
propositada, tendo em vista mostrar a inocência do texto original, ou
simplesmente apresentar outras idéias que o texto original omitiu ou
se interessou em expor. A paródia tanto pode ser séria como jocosa, e,
em geral, ataca instituições e pessoas, como governo, políticos, clero,
escola.
Leitura complementar:
250«
não o era da forma como será exposta, o que implica,
naturalmente, matizes novos e, consequentemente, uma nova
maneira de ver os fatos.
4. A conclusão.
Além do assunto, o texto tem um tema (sob que perspectiva o texto foi
construído?).
4. Resumo
• o assunto do trabalho;
»251
• o objetivo do texto;
Deve ainda:
252«
mesmas (Halliday, 1985).
»253
relação ao individual).2
Referências
2
Caros alunos, certamente essas são apenas algumas noções sobre o
funcionalismo. Você deverá fazer as leituras indicadas para uma melhor
compreensão dessa teoria e observar que estão no centro das investigações
funcionalistas questões como:
- relação entre discurso e gramática; liberdade organizacional do falante, dentro
das restrições construcionais, distribuição de informação e relevo informativo,
fluxo de informação e fluxo de atenção, gramaticalização e suas bases
cognitivas, motivação icônica e competição de motivações, fluidez de categorias
e prototipia.
Vocês poderão investigar também os modelos funcionalistas em Michael Halliday
na noção de função. Talmy Givón particularmente no postulado da não-
autonomia do sistema linguístico, na concepção da estruturação interna da
gramática como um organismo que unifica a sintaxe, a semântica e a
pragmática. Ou ainda Simon Dik na visão da interação verbal por via dos
usuários, preocupando-se, entretanto em valorizar o papel da expressão
linguística na comunicação. A partir daí vocês terão uma visão dos principais
temas funcionalistas já mencionados: a gramaticalização, a relação entre
gramática e cognição, a prototipia, a iconicidade, a pragmática na gramática,
discurso e gramática, funcionalismo e linguística de texto.
254«
______. (1998) Problemas de descrição linguística e sua aplicação no
ensino de gramática. In: VALENTE, A. Língua, linguística e
literatura. Rio de Janeiro: Lucerna.
»255
MARTELOTTA, M. S.; VOTRE, S.; CEZÁRIO, M. M. (1996)
Gramaticalização no português do Brasil: uma abordagem
funcional. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.
256«
______. Estudo da estrutura argumental dos nomes. In KATO, M. A.
(org.). Gramática do Português Falado VI: Desenvolvimentos.
Campinas: Ed. Unicamp/FAPESP, 1996f. pp. 201-229.
»257
Linguística: Funcionalismo – Maria José de Matos Luna
ATIVIDADES
Atividade 1
Atividade 2
Leia o texto abaixo e faça uma análise com base nas três qualidades do
texto.
258«
O carnaval carioca é uma beleza, mas mascara, com o seu luxo,
a miséria social, o caos político, o desequilíbrio que se
estabelece entre o morro e a Sapucaí.
Atividade 3
Garçom, procura-se
Urariano Mota
»259
para ele e outra para o filho e desistiu de trabalhar. Esse é um
retrato do Bolsa Família.
260«
A lógica era primária. Antes do garçom, havia que localizar o
restaurante em Brasília Teimosa, onde antes de se balançar em
redes, a cantarolar sambas, ele trabalhava. Acreditem, no
bairro e vizinhança fui aos seis maiores restaurantes, lugares
de assento do senador. Insatisfeito, fui a mais dois médios,
onde ele nos últimos tempos poderia ter passado. E a dois
próximos de restaurantes médios, onde ele, talvez quem sabe,
num lapso pudesse ter acenado de passagem. Não lhes posso
dizer os nomes – não me autorizaram – mas bem posso lhes
adiantar a experiência vivida em três horas da missão “procura-
se o garçom de Jarbas Vasconcelos”.
- Jarbas?!
»261
- (Com pena do repórter) Hen-hen... Só se ele vem escondido,
de madrugada. Eu passo o dia todinho aqui, sentada, olhando o
movimento. A não ser que ele vá em outro. Mas pergunte aos
empregados, eles sabem. O senhor é pastor?
262«
- Antes ele vinha, há muito tempo. Quem veio agora foi Dilma.
- A ministra?
»263
mais de 30 anos. Pergunto ao flanelinha, “Jarbas, etc., etc.?”.
Acreditem, o flanelinha tem pena do repórter. Ele não me faz
perder a esperança. Não me cobra nada pela vaga e sugere,
com enorme educação e solidariedade, que eu vá aos garçons.
“Aos colegas do bon vivant”, eu me digo, a esta altura suado e
escolado. Que lugar agradável ! Eu não acredito que um homem
troque o trabalho aqui por qualquer paraíso do lar, doce lar.
Música suave, mpb, gente bonita, cheiro bom de todas as
coisas, de crustáceos, com vista do mar, e aquele ar de
distinção nos clientes, que os garçons sabem ser anúncio de
gorjeta boa. Ele jamais poderia ter deixado este lugar. Mas o
dever obriga:
264«
postos, a seguranças, a moradores vizinhos, a gerentes, até a
mim mesmo, “Jarbas vem sempre etc.?”.
Atividade 4
»265
A REVOLTA DAS PALAVRAS3
3
Este texto foi publicado na página 16 do Jornal Universitário da UFPE em
outubro de 1982.
266«
Houve convocação compulsória para os formadores da estrutura
gramatical como os artigos, as preposições, as conjunções, as flexões,
os verbos auxiliares e outros, todos soldadinhos pequeninos, mas de
tal eficiência que constituem a guarda de Sua Majestade.
»267
negava. Anti- e Ante- chegaram juntos, este últimio precedendo o
primeiro, que, como o A- grego acima descrito, também é da oposição.
Finalmente foi aberta a sessão. Como Língua Portuguesa não havia tido
a devida assessoria de seu Ministro, advérbio de Modo, não sabia bem
como encaminhar os trabalhos. Um pouco titubeante, ela começou
solicitando que, quem não fosse completamente brasileiro, se retirasse.
Foi um alvoroço. Levantou-se todo mundo. Só ficaram sentadas uma
meia dúzia de palavras que, embora nuas, estavam revestidas de
268«
muita brasilidade. Eram as de origem indígena. Jacaré cutucou
Jaguar e ambos riram da mancada da bela senhora.
A primeira a apresentar-se foi Xícara que disse ser uma Nauatl pura,
mas não sabia bem se do México ou da América Central (palavras não
conhecem fronteiras). Disse que vivia bem em seu rincão natal,
quando um espanhol dela usou e abusou. O mesmo fizeram muitos de
seus compatriotas que por ela se apaixonaram. Então ela saiu de casa
para viver com os espanhóis. Mas esses latinos volúveis logo se
cansaram de sua beleza. Como estava longe de casa, ela entrou pela
porta do Brasil, onde foi muito bem recebida, e assim foi ficando por
aqui. Lembrou até que causou confusão na Academia Brasileira de
Letras, quando discutiram sua grafia com x ou ch. Então ela disse:
»269
“Andei, virei, mexi e parei aqui.
Aí... Futebol, sempre com a bola no pé, deu com o “foot” na “ball” e
pediu a palavra. Levantou-se muito britânico, posudo, com o respaldo
do Banco de Londres e da Rainha, e com a aquiescência da Seleção,
reivindicando que já tinha grafia própria. Que mais lhe faltava? Disse
que se fosse banido não mais se faria jogo no Brasil.
270«
tal qual fizeste às Malvinas.
»271
súditos mais fiéis ficaram a ver navios e a Língua evoluiu, entrando por
uma perna de pinto e saindo por uma perna de pato...
Atividade 5
Atividade 6
O arcebispo da Inquisição
Urariano Mota
272«
romper o contrato que esse hospital mantém com a Santa Casa.
De fato e de direito, para evitar a santa ira, os médicos
cumpriram com o dever na Maternidade da Encruzilhada, em
outra terra e contrato.
Pois Dom José Cardoso tem uma sombra. Ela se chama Dom
Hélder Câmara. Há correspondências que ajudam a semelhança,
que se casam nesse estranho conúbio e associação. A começar
pela altura, física. Dom José Cardoso e Dom Hélder Câmara têm
ambos a mesma estatura. À vista desarmada, dir-se-ia que os
dois medem os mesmos 1 metro e 58, se muito. Ambos são
nordestinos, Hélder, do Ceará, José, de Pernambuco. Ambos se
encontraram na Arquidiocese de Olinda e Recife. Mas aqui
terminam as semelhanças.
»273
Das realizações do atual arcebispo, o jornal Igreja Nova, criado
pelo Grupo de Leigos Católicos IGREJA NOVA, denuncia um
desmonte implacável da Igreja semeada por Dom Hélder
Câmara. Da posse em 15 de julho de 1985 até a condenação
sem direito à defesa do padre João Carlos Santana da Costa,
expulso da paróquia do bairro de Água Fria, a memória conta
inúmeras perseguições e abusos.
274«
E como melhor lembrou o Jornal Igreja Nova:
»275
fetos. Quem expulsa homens salva o evangelho. Quem expulsa
fetos comete um crime. Desde os tempos da Santa Inquisição.
12/03/2009
276«
Siane Gois Cavalcanti Rodrigues
1
Como as expressões “informação implícita” e “pressuposto” aparecerão em
alguns segmentos deste texto, achamos por bem fazer uma rápida explicitação
da forma como as concebemos. Todo texto tem dois tipos de informação:
»279
estudar a linguagem, a qual não leva em conta o uso. Essa
pressuposição é absolutamente certa, porquanto o funcionalismo
surgiu em oposição ao formalismo (o que não significa, como veremos
adiante, que aquela escola seja mais recente que esta), corrente de
estudo cujo objeto é a língua em si, independente dos usuários e da
situação de comunicação. Não podemos, pois, falar de uma abordagem
sem fazer referência à outra, sob pena de darmos um tratamento
descontextualizado à questão. Comecemos, pois, tecendo as
2
considerações sobre o Formalismo que, por ora, julgamos necessárias
para atingirmos o nosso objetivo.
2. O Formalismo: algumas
considerações introdutórias
280«
como algo descontextualizado. A preocupação recai exclusivamente
sobre o estudo da relação que os constituintes linguísticos mantêm
entre si. Nesse ínterim, a gramática passa a ser a forma legítima de
manifestação da língua, sendo esta última considerada como um
“conjunto de orações”. Sendo assim, ela não é tida como algo real, que
está diretamente relacionada às necessidades dos falantes, mas como
um sistema abstrato. A gramática, então, volta-se para o estudo de
sentenças idealizadas, com regras sintáticas fixas, as quais têm
primazia em relação à semântica e à pragmática, além de serem
independentes delas. Disso resulta que a expressão do pensamento é
considerada como a função elementar da língua. Tal consideração tem
implicações epistemológicas determinantes na maneira como se
concebe a relação dos sujeitos com a língua. Segundo Koch (2006, p.
9-10)
»281
considerada a parte social naturalmente implicada no fenômeno
linguístico. Assim, ele empenhou-se na criação de uma representação
abstrata da língua, a qual era o objeto de estudo dos teóricos. O
derradeiro parágrafo de sua obra póstuma, o clássico “Curso de
Linguística Geral” traduz a essência de tal perspectiva:
282«
já que somente fazendo a referida separação entre sistema e uso seria
possível dar um tratamento realmente científico às investigações
linguísticas. A esse respeito, Calvet (2002, p.15) afirma:
»283
3. Quanto ao Funcionalismo
Para Neves (1997, p. 7), ainda que, nos estudos da Escola Linguística
de Praga, seja recorrente o uso dos termos função e funcional, não há
uma unicidade de interpretação dos mesmos, pois, nas obras dessa
Escola, eles não são suficientemente esclarecidos, além de serem
aplicados “a variados domínios e fenômenos da linguagem”. A essas
questões, ela acrescenta a diversidade de posição entre os autores e a
vaguidão do uso dos termos.
284«
usuários de uma língua. São elas: a emotiva, através da qual o emissor
da mensagem (o centro da função) expressa avaliações, exclamações,
interjeições etc; a conativa, que tem como centro o destinatário; a
fática, que se centra no canal de comunicação; a poética, cujo foco é a
mensagem, e a metalinguística, que dá ao usuário a possibilidade de
usar o código linguístico para falar deste.
3
Ver a esse respeito o capítulo 2 – “Introdução à Linguística” – do volume 1
dessa coleção.
»285
Era uma vez, numa terra muito distante, uma princesa linda,
independente e cheia de autoestima. Ela se deparou com uma
rã enquanto contemplava a natureza e pensava em como o
maravilhoso lago do seu castelo era relaxante e ecológico...
Então, a rã pulou para o seu colo e disse: linda princesa, eu já
fui um príncipe muito bonito. Uma bruxa má lançou-me um
encanto e transformei-me nesta rã asquerosa.
Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num
belo príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz no teu
lindo castelo.
286«
sensação é reforçada com o desfecho da história, em que o autor põe
em xeque um certo padrão de felicidade corrente nas sociedades de
diferentes épocas e lugares. Esse novo rumo que ele dá à história
constitui, pois, a informação nova, que não era do conhecimento do
seu interlocutor. Isso significa que, sempre que produzimos um texto,
seja ele oral ou escrito, fazemos uma previsão do nosso interlocutor e
procuramos, ainda que sem nos darmos conta, equilibrar o novo e o
velho.
»287
adotamos a apresentação que Neves (2004), com base em Nichols
(1984) e em Van Valin (1990), faz dos principais modelos
funcionalistas. Há, segundo essa perspectiva, três classificações do
funcionalismo: o conservador, o moderado e o extremado. Os
autores que se enquadram no primeiro tipo (dentre os quais Neves cita
Susumo Kumo) são contrários tanto ao estruturalismo quanto ao
formalismo e não elaboram uma proposta de análise da estrutura. O
funcionalismo extremado, em que estão Sandra Thompson, como texto
That-deletion from a discourse perspective, Paul Hopper, com a
Emergent Gramar, de 1987, Givón, com On Understanding Grammar,
de 1987, e Érica Garcia, com Discourse without Syntax, 1979,
considera as regras no seu aspecto funcional, o que significa não
haverem “restrições sintáticas”, uma vez que o sistema, que está à
disposição dos interlocutores nos mais distintos propósitos
comunicativos, abarca todas as possibilidades de uso. O terceiro
modelo de funcionalismo é o denominado de moderado. Assim como o
conservador, ele se opõe ao estruturalismo e ao formalismo4, mas não
se limita a isso, associando análise funcionalista e estrutura da língua.
Nele estariam Dik, Halliday, o próprio Van Valin e Givón, em sua
produção mais recente.
4
O que difere uma perspectiva da outra é abordado no capítulo 4 – “Linguística:
Uma incursão no Formalismo” – por Dilma Tavares Luciano.
288«
Halliday considera ser a gramática funcional constitutivamente natural,
porquanto não há forma de uso da língua que não possa ser explicada.
Nesse sentido, os usos da língua constituem o objeto de análise
primeiro, já que são eles que determinam o sistema linguístico. Os
significados são, nesse ínterim, essencialmente funcionais e o teórico
(apud NEVES, op. cit.) postula que, no que diz respeito ao significado,
as línguas naturais têm, em seu modo de funcionar, significados que
lhes são comuns, considerados pelo autor como principais (o ideacional
e o interpessoal) e são por ele denominados de metafunções, que
»289
uma gama de possibilidades de usos. Ora, mas se ele existe para
atender às mais distintas necessidades de comunicação dos grupos
sociais e se as relações que se estabelecem entre esses grupos são
constitutivamente flexíveis (seja graças ao caráter dinâmico da
comunicação ou à influência que as normas linguísticas exercem umas
sobre outras), a função dos interlocutores nas situações de interação,
as características sociais de sua comunidade de fala e as
especificidades são de fundamental importância para a análise
linguística.
290«
exemplo, o trabalho com os operadores argumentativos, os
quais levariam os alunos a entender, por exemplo, a intenção
do autor do texto, o seu papel social etc. Para tanto, ele tomaria
o texto como objeto de estudo e poderia estabelecer relações
entre diferentes textos.
3.1 A Gramaticalização
5
Veja-se, também, no capítulo 4 – “Linguística: Funcionalismo” –, de LUNA, a
relação entre funcionalismo e linguística de texto.
»291
ainda que não sejam linguísticas, determinam os usos, as escolhas dos
usuários, tais como o contexto sócio-histórico, a intenção dos
interlocutores, a especificidade da situação comunicativa. A relação
entre essas forças é denominada “gramaticalização”.
Como afirma Neves (2006), o termo foi utilizado pela primeira vez por
Antoine Meillet6, ainda que alguns estudiosos que lhe antecederam
tenham pesquisado o fenômeno. Para o autor, gramaticalização
significa “a atribuição de um caráter gramatical a uma palavra
anteriormente autônoma” (MEILLET apud NEVES, 2004, p. 113).
Segundo essa perspectiva, as formas gramaticais são, sempre,
provenientes de palavras lexicais. Entre os estudiosos que se debruçam
sobre a temática, a definição da expressão varia bastante, mas
6
Meillet (1866-1936) foi um linguista francês contemporâneo de Saussure que,
embora tenha sido apresentado durante algum temo como seu seguidor,
marcou forte oposição à distinção saussuriana entre sincronia e diacronia, na
resenha que fez do Curso de Linguística Geral.
292«
3.2 A relação entre gramática e
cognição
»293
ilustrar tal questão, tomemos, como exemplo, as composições de Luiz
Gonzaga. Ainda que elas sejam conhecidas em todas as regiões do
Brasil, o uso recorrente de expressões regionais faz com que apenas as
pessoas que conhecem a cultura nordestina tenham subsídios
suficientes para o necessário processo de construção de sentidos de
tais textos.
294«
3.3 A pragmática na gramática
»295
a relação entre as expressões; a Semântica, que se ocuparia da
relação entre expressões e seus significados; e a Pragmática, que
traria para a cena os locutores e se ocuparia da relação entre eles e as
expressões. Tal divisão tem direta relação com o que propusera Peirce
anteriormente. É justamente por conta de tal semelhança que, em
1938, Morris passa a defender a doutrina pragmática de Peirce e,
naturalmente, a combater a separação entre as três disciplinas.
Todavia, posteriormente, o estudioso direciona seus estudos para
caminhos distintos.
296«
sua atenção na diversidade de formas através dos quais eles se
realizam.
Do que foi discutido até aqui, fica clara uma questão essencial para a
compreensão do que representam, para a ciência linguística, as duas
»297
grandes correntes de estudos linguísticos: elas têm objetos de estudo e
objetivos distintos. Assim sendo, consideramos equivocadas as
abordagens que consideram uma ou outra mais importante na história
da ciência linguística. Entretanto, em se tratando do ensino de língua
nas escolas, a opção por uma ou por outra perspectiva tem implicações
determinantes na forma como, no imaginário coletivo, se concebe a
língua. Por julgarmos essa reflexão importante para você, futuro
professor de língua materna, pedimos licença para a abertura de um
parêntese, a fim de tratarmos rapidamente dessa questão. Durante
muito tempo, o ensino de língua nas escolas fundamentou-se na
perspectiva formalista e isso teve (e ainda tem) implicações
metodológicas de grande relevo na maneira como os alunos avaliam o
seu desempenho em língua materna.
Você já deve ter ouvido muitas pessoas do seu convívio afirmando que
não sabem português, ou que português é muito difícil. E, geralmente,
sempre que alguém faz uma afirmação dessa natureza, conta com o
apoio de uma outra pessoa, que se solidariza com o “problema” da
primeira. Considerações desse tipo são comuns, inclusive, entre
indivíduos que já concluíram a Educação Básica. Para comprovar o que
ora afirmamos, é suficiente que você faça, sem maiores rigores
metodológicos, uma rápida pesquisa. Escolha, aleatoriamente, dez
pessoas na comunidade onde você mora, que já tenham concluído o
Ensino Médio e faça a seguinte pergunta: “Como foi a sua relação com
a disciplina Língua Portuguesa, na Educação Básica?”. Infelizmente, é
grande a possibilidade de um percentual significativo de sujeitos dar
respostas similares as que elencamos acima. Tal resultado, ainda que
previsível, continua a proporcionar a um determinado grupo de
pessoas envolvidas com o ensino de língua materna um sentimento de
pesar, afinal, não é fácil ouvir falantes nativos dizerem que não
298«
dominam a sua língua materna. Você já se perguntou quais as causas
desse problema? O que será que leva um falante nativo a ter uma
visão tão equivocada de sua proficiência linguística?
»299
porque a escola não os preparou para enfrentar situações
comunicativas que fazem parte de sua vida e que exigem um
determinado desempenho linguístico.
Referências
300«
fundamentos epistemológicos. Volume 3.ed. São Paulo: Cortez,
2007.
»301
302«
Dilma Tavares Luciano
Maria Lúcia Barbosa
METODOLOGIA I
304»
1. “Transver”1 a prática de ensino
1
O neologismo foi tomado de empréstimo do tema-título do 17º. Congresso de
Leitura do Brasil, 20 a 24 de julho de 2009, inspirado em Manoel de Barros: “O
olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. É preciso transver o
mundo.”
(BARROS, Manoel de. “As lições de R.Q.” In Livro Sobre Nada. Rio de Janeiro:
Record, 2000, p. 75)
2
“Jan Amos Komenský (em latim, Comenius; em português, Comênio) foi
um professor, cientista e escritor checo, considerado o fundador da Didáctica
Moderna. Propôs um sistema articulado de ensino, reconhecendo o igual direito
de todos os homens ao saber. O maior educador e pedagogo do século XVII
produziu obra fecunda e sistemática, cujo principal livro é a Didática Magna. São
suas propostas: a educação realista e permanente; método pedagógico rápido,
econômico e sem fadiga; ensinamento a partir de experiências quotidianas;
conhecimento de todas as ciências e de todas as artes; ensino unificado”.
(Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Comenius>. Acessado em: 17 de
dez. de 2010)
»305
técnicos educacionais em situações de avaliação das propostas de
aprendizagem.
3
“Positivismo é a designação da doutrina criada por Comte, fundada na
extrema valorização do método científico das ciências positivas (baseadas nos
fatos e na experiência) e na recusa das discussões metafísicas. O termo
positivismo foi adotado pelo próprio Comte, definindo toda uma diretriz para a
sua filosofia, de culto da ciência e sacralização do método científico. O
positivismo se caracteriza por um tom geral de confiança na industrialização,
bem como por um otimismo com relação ao progresso capitalista, guiado pela
técnica e pela ciência. [...] o homem torna-se capaz de prever os fenômenos
naturais, podendo agir sobre a realidade. Ver para prever é o lema da ciência
positiva.”(COTRIM, 2006, p.160)
306»
IDEALISTA4. Pelo contrário, é criação de sentido, encarnação de
significação e, como tal, ela dá origem à comunicação”.
Lígia Chiappini de Moraes Leite. Gramática e Literatura: Desencontros e
Esperanças. São Paulo: Editora Ática, 1997, 22-23.
4
“[...] uma doutrina é idealista quando concebe que o sujeito tem um papel
mais determinante que o objeto no processo de conhecimento. Em
consequência, tudo o que o sujeito são suas ideias, suas representações do
mundo, sua consciência.” (COTRIM, 2006, p.179). Os principais representantes
da doutrina idealista são: Platão (teoria das ideias, na Antiguidade), Decartes
(sua célebre frase “penso, logo existo”) e Kant (Crítica da Razão Pura, “das
coisas só conhecemos a priori aquilo que nós mesmos colocamos nelas”).
»307
modo a desenvolver em cada um de vocês, alunos e alunas do curso
de “formação de professor”, a capacidade de avaliação dos recursos
didáticos disponíveis à prática docente e de observação/identificação
precisa das dificuldades de seus alunos no futuro.
308»
por sentirem compaixão do trabalho de Sísifo5 realisado pelos
escolares; diferentes as tentativas, diferentes os resultados.”
5
“De maneira semelhante a Prometeu, Sísifo encarnava na mitologia grega a
astúcia e a rebeldia do homem frente aos desígnios divinos. Sua audácia, no
entanto, motivou exemplar castigo final de Zeus, que o condenou a empurrar
eternamente, ladeira acima, uma pedra que rolava de novo ao atingir o topo de
uma colina, conforme se narra na Odisséia”. (Disponível em:
<http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/mitologia/sisifo.php>. Acessado
em 17 de dez. de 2010)
»309
4. Portanto, são grandes as coisas prometidas, que devem ser
ardentemente desejadas: no entanto, prevejo com clareza que a
alguns parecerão sonhos, e não exposições de fatos concretos.
Suspende o juízo, sejas tu quem fores, enquanto não souberes
como são realmente as coisas: estarás então livre não só para
formular juízo, mas também para expressá-lo. Não desejo, nem
quero, persuadir ninguém à força, de tal modo que consiga
assentimento para uma coisa pouco examinada: mas com todas
as minhas forças aconselho, exorto, esconjuro todos os que se
interessem por este nosso trabalho a utilizar toda a agudeza de
seus sentidos não ofuscados pelo fascínio das opiniões.
6
No original: “CÍCERO, De divinatione, II, 2, 4”. (p.382)
7
No original: “MELANCHTON, a Camerarius, 19 de setembro de 1544 (CORPUS
REFORMATORUM, V, 481). (p.382)
8
No original: “GREGÓRIO DE NAZIANZO, Oratio II apologética, 16 (MIGNE, PG,
XXXV, 425)”. (p.382)
310»
6. Ensinar a arte das artes é, portanto, tarefa árdua que requer
o juízo atento não de um só homem, mas de muitos, porque
ninguém pode ser tão atilado que não lhe escapem muitas
coisas.
COMENIUS, 1592-1670. Didática magna / Comenius; aparelho crítico
Marta Fattori; tradução Ivone Castilho Benedetti. – 3ª. ed. – São Paulo:
Martins Fontes, 2006. – (Paidéia) (p.13-15)
»311
O enfoque aqui proposto pressupõe sensibilidade para manifestação de
uma atitude científica madura para o planejamento, a organização e
aplicação de métodos e técnicas adequados ao contexto do ensino a
vivenciar. Atitude sem radicalismos ingênuos ou descasos
inconsequentes de uma docência capaz de tratar o novo sem
obstáculos, atenta à necessidade constante de adaptações nos
currículos, porque ancoradas no potencial formativo das teorias
disponíveis à perscrutação.
9
Os testes de compreensão para avaliação da escola pública compreendidos
pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica – SAEB – e pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep.
312»
“Pode-se tratar a queda de uma telha como um problema
acadêmico de dinâmica, formulando hipóteses teóricas
alternativas e debatendo a adequação descritiva destas últimas.
É uma abordagem legítima, mas não é a melhor para quem está
embaixo. No caso do ensino, todos nós estamos”.
ILARI, Rodolfo. A Linguística e o Ensino da Língua Portuguesa. São
Paulo: Martins Fontes, 1997.
10
Apud Comenius 2006, p.388.
»313
MÉTODO s.m.
MÉTODO s.m.
abr. de 2009.
Obra que reúne de maneira lógica os
elementos de uma ciência, de uma arte
etc.
314»
Filosofia. Marcha natural e racional do
espírito para a verdade: método
cartesiano.
METODOLOGIA sf.
2005.
METODOLOGIA sf.
»315
Companhia Melhoramentos, investigação da verdade.
1998.
METODOLOGIA s.f.
04 de abr. de 2009.
316»
Quando na segunda parte do capítulo Prática de Ensino e Pesquisa,
intitulada Concepções de língua e teoria linguística: o diálogo
possível11, foi apresentada a noção de competência comunicativa
como sendo o objetivo do ensino de Português na atualidade,
pressupõe-se no trabalho docente a ação – metodologia – voltada para
a construção de conhecimentos a serem mobilizados pelo aluno
durante sua formação e também fora da escola, portanto em situações
reais de comunicação, conhecimentos esses que o habilitam a produzir
textos orais e escritos, bem como ampliam sua capacidade
interpretativa nas escutas de textos orais ou na leitura individual
silenciosa.
Veja, agora, o que diz Perrenoud (1999) nos dois exemplos a seguir,
em sua obra em torno da noção de competências a serem
desenvolvidas na escola:
11
Volume 1 dessa coleção, Dimensão Transdisciplinar na Formação do
Professor.
12
Parâmetros Curriculares Nacionais – Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino
Fundamental – Língua Portuguesa.
»317
EXEMPLO 1:
EXEMPLO 2:
13
O autor refere-se ao ensino de língua francesa nas escolas.
318»
pelas instruções. Por exemplo, a partir de um corpo de breves
trechos (alguns parágrafos) fora de seu contexto e sem
nenhuma indicação sobre seu autor, título, destinatário, tipo de
texto (narrativo, teórico, etc.), a tarefa consistiria em elaborar
e justificar hipóteses sobre o estatuto do enunciado. O que,
então, era um conhecimento declarativo, por exemplo, a
correlação entre um tipo de texto e certos conectivos ou
organizadores textuais, iria tornar-se ferramenta, permitindo
identificar as diferenças significativas e guiar uma classificação.
»319
vista do desenvolvimento teórico científico. A segurança gerada pela
exposição aos conceitos com os quais se pretende mobilizar o aluno à
prática esconde o que tem de mais negativa, metodologicamente
falando: não há conhecimento a ser mobilizado pelo aluno, já que sua
ação diz respeito ao mero “reconhecimento” do modelo a ser repetido
na etapa destinada à ação do aluno, após a exposição, logo, à prática
propriamente dita.
320»
fechaduras desconhecidas”, quando forem desafiados a revelar
competências de comunicação em situações reais de interação.
»321
Esse posicionamento reflexivo-crítico deve sobremaneira caracterizar a
postura acadêmica do licenciando em Letras especialmente nos
momentos destinados à metodologia.
Afinal,
322»
1.2 Nós somos o que fazemos
»323
LEI № 9.394, de 20 de dezembro de 1996
324»
A metodologia de ensino reflete essa historicidade porque é capaz de
desvelar concomitantemente o indivíduo professor, no que “aprendeu”
sobre seu objeto de trabalho, e a qual grupo de indivíduos professores
que “aprenderam” a “fazer de determinada forma” ele pertence,
porque faz parte da história de um coletivo.
Observe:
»325
a(s) teoria(s) escolhida(s) pelos autores de cada capítulo for
apresentando. Essa “opção política” é necessária, pois sem recortes
não há como tratar o “todo”, especialmente quando esse todo diz
respeito a um fenômeno tão amplo e inesgotável como a língua que se
faz linguagem, dando existência à comunicação.
Tudo são escolhas. Caminhos por que optamos conduzir nossos alunos,
cujos limites são determinados pelo Estado, para que não deixemos de
pertencer à Nação.
Por outro lado, ao lermos esse trecho acima, também não resistimos
ao desejo incontrolável de simplificação (típico dos humanos, afinal) e
afirmamos: o professor que somos é resultado do que fazemos, e só
podemos fazer aquilo que nossa compreensão nos permite “conceber”.
• De conteúdos específicos;
326»
• Do como avaliar a percepção/apropriação desses mesmos
conteúdos por nossos alunos.
»327
Nesse sentido, é possível distinguir 3 momentos no ensino de
Português14, decorrentes da percepção de que a competência
15
comunicativa resulta :
14
Consulte seus professores de Linguística e de Língua Portuguesa e sua
biblioteca para compreender melhor o escopo dessa afirmativa.
15
“O reconhecimento da dualidade constitutiva da linguagem, isto é, do seu
caráter ao mesmo tempo formal e atravessado por entradas subjetivas e
sociais, provoca um deslocamento nos estudos linguísticos até então balizados
pela problemática colocada pela oposição língua/fala que impôs uma linguística
da língua. Estudiosos passam a buscar uma compreensão do fenômeno da
linguagem não mais centrado apenas na língua, sistema ideologicamente
neutro, mas num nível situado fora desse polo da dicotomia saussureana. E
essa instância da linguagem é o discurso. Ela possibilitará operar a ligação
necessária entre o nível propriamente linguístico e o extralinguístico a partir do
momento em que se sentiu que „o liame que liga as significações‟ (HAROCHE, C.
ET alii, 1971:98). O ponto de articulação dos processos ideológicos e dos
fenômenos linguísticos é, portanto, o discurso.
A linguagem enquanto discurso não constitui um universo de signos que serve
apenas como instrumento de comunicação ou suporte do pensamento; a
linguagem enquanto discurso é interação, e um modo de produção social; ela
não é neutra, inocente (na medida em que está engajada numa
intencionalidade) e nem natural, por isso o lugar privilegiado de manifestação
da ideologia.”
(BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à análise do discurso.
Campinas, SP. Editora da UNICAMP, 1996. p.11-12.)
328»
Como destacou GERALDI (1997:41) “essas três concepções
correspondem às três grandes correntes dos estudos linguísticos: (i) a
gramática tradicional; (ii) o estruturalismo e o transformacionalismo; e
(iii) a linguística da enunciação”.
»329
habilidades linguísticas, particularmente daquelas associadas
aos padrões da escrita, sempre considerando que:
330»
2. Um pouco da história do
Português como disciplina escolar
»331
subjacentes ao ensino (já mencionadas anteriormente), com ênfase
para as relações entre linguagem e sociedade, bem como para a
responsabilidade social que assumimos quando nos propomos a ser
professores e professoras de Língua Portuguesa.
332»
Muitas são as necessidades de uma sociedade que vivencia intensas
mudanças e a Escola é parte também desse mundo em permanente
transformação. Nada mais justo do que todos os atores sociais que
fabricam o cotidiano da escola reclamarem por condições materiais
efetivas ao sucesso escolar, sobretudo pelo subsídio das novas
tecnologias de ensino. Mas de nada adianta, para nós professores e
professoras de Língua Portuguesa, dotar as nossas escolas de bens
tecnológicos da sociedade da informação, se não avançarmos em
relação às nossas concepções, se continuarmos presos à visão da
gramática tradicional alheios à diversidade linguística do nosso povo,
se permanecermos apáticos diante da importância da leitura das
produções culturais hodiernas, verbais e não verbais, de nossos
escritores e artistas eruditos ou populares.
»333
escolarização através do latim – gramática
da língua latina, da retórica e da poética.
334»
• Textos literários: desenvolvimento de
habilidades de leitura e escrita.
»335
fundamentalmente instrumental.
336»
compreender mensagens.
»337
Final dos anos e recuperação da denominação Português.
80 e anos 90
• Defesa da volta do ensino tradicional / Crítica à
ineficiência da língua.
338»
quadro das práticas socioculturais
contemporâneas de uso da escrita.
»339
• Social – considera as condições de produção
de um conhecimento específico, condições sociais
dos alunos e professores, papéis atribuídos à
escola.
340»
Somente o poder público tem força para legitimar os objetivos de
ensino nos diferentes níveis – Educação Infantil, Ensino Fundamental,
Ensino Médio, Ensino Superior, assim como o fez a lei 5692/71 ao
eleger o objetivo de ensinar a língua nacional como “instrumento de
comunicação” e “expressão do pensamento” da cultura brasileira e
como o fizeram recentemente os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN) - documento oficial que diz o que precisamos ensinar, como
precisamos ensinar, com que objetivos devemos ensinar, pautando-se
na concepção de Língua como interação.
»341
O Artigo 1º. Estabelece como objetivo geral que o ensino proporcione
ao educando “a formação necessária ao desenvolvimento de suas
342»
potencialidades”, as quais promovam “qualificação para o trabalho e
preparo para o exercício consciente da cidadania”.
»343
A Lei 5.692, de 11 de agosto de 1971, fixou diretrizes e bases para o
ensino de 1º e 2ª graus, tendo sido revogada pela Lei 9.394, de 20 de
dezembro de 1996 (confira em <http://portal.mec.gov.br/setec/
arquivos/pdf1/proejalei9394.pdf>), a qual passou a estabelecer
redirecionamento para as diretrizes e as bases da educação Nacional e
encontra-se em vigor até hoje com o documento denominado
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).
344»
forma, num determinado contexto histórico e em determinadas
circunstâncias de interlocução. [...]
16
No original: “Por refacção se entendem, mais do que o ajuste do texto aos
padrões normativos, os movimentos do sujeito para reelaborar o próprio texto:
apagando, acrescentando, excluindo, redigindo outra vez determinadas
passagens de seu texto original, para ajustá-lo à sua finalidade”.
»345
3. Objetivos do ensino
Com base no exposto até esse ponto, temos, assim, o ensino de Língua
e Literatura como o espaço de “ocupações pedagógicas” capazes de e
responsáveis por formar cidadãos que se apropriaram da linguagem
verbal de modo a asseverar a liberdade de expressão e, ao mesmo
tempo, fugir à alienação, quando a aprendizagem resultar no
desenvolvimento da capacidade reflexiva
346»
dimensão polissêmica da palavra como direito à ação intencional do
fazer sentido, para si e para o outro.
»347
Para finalizar essa secao, sugerimos a Atividade 3 xxxx, (página xxx)
para discussão dos trechos ilustrados.
4. O aprendiz
17
Jaime Cordeiro, em livro intitulado Didática, 2009, p.21.
348»
cheia de descobertas, o idioma comum aos dois, professor e aluno; do
outro lado, este último, quando usuário do não-padrão linguístico,
experimentando um processo de auto-conscientização de que o
“Português são dois!” (como brilhantemente definiu o poeta
Drummond) e, quando é o aluno usuário mais proximamente do
padrão linguístico, esses “encontros” funcionam como um dispositivo
acionador de sua consciência revelando que “não sabe Português, essa
língua difícil de aprender!”
»349
metalinguagem da língua ou, quando muito, o aprendizado de
exercícios estruturais de aplicação de noções e categorias.
Privilegia o raciocínio sobre a abstração e consequentemente
sobre o aspecto formal, universal, uno e regular da língua em
detrimento do raciocínio sobre o concreto, o historicamente
definido, o aspecto múltiplo e contraditório da língua enquanto
discurso e enunciação. Que o ensino da língua não se confunde
com o ensino da gramática, não é lícito contestar. Porque uma
coisa é saber a língua, isto é, dominar as habilidades de uso da
língua em situações concretas de interação, entendendo e
produzindo enunciados, percebendo as diferenças entre uma
forma de expressão e outra. Outra coisa é saber analisar uma
língua dominando conceitos e metalinguagens a partir dos
quais se fala sobre a língua.
350»
não interessa à infância, não só, enquanto aos benefícios que se
lhe atribuem, se reduz a uma influência totalmente negativa,
senão que onde atua positivamente, é como elemento de
antagonismo ao desenvolvimento intelectual do aluno.
»351
em primeiro lugar. Pois desenvolver competências é aliar/conjugar
conhecimento teórico a conhecimento procedimental única forma
favorável ao aprender.
352»
“A palavra serve para comunicar e interagir. E também para
criar literatura, isto é, criar arte, provocar emoções, produzir
efeitos estéticos. Estudar literatura implica apropriar-se de
alguns de seus conceitos básicos, mas também deixar o espírito
leve e solto, pronto para saltos, voos e decolagens”.
CEREJA, William Roberto e MAGALHÃES, Thereza Cochar. Literatura
brasileira: ensino médio. São Paulo: Atual, 2005.
»353
[...]
354»
No viés da estreita relação entre literatura e imaginação, o professor
pode oferecer aos seus alunos e alunas a possibilidade de escolha de
sentidos, das leituras possíveis, do usufruto da “arte” cumprindo o seu
papel de proporcionar prazer ou mesmo aliviar as tensões da alma
humana, como nos provoca Veríssimo:
As funções da Literatura
»355
risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não
desertamos nosso posto”.
VERÍSSIMO, Érico. Solo de clarineta. Porto Alegre: Globo, 1978. v.1.
(Fragmento), retirado de ABAURRE, Maria Luiza M. Literatura Brasileira:
tempos, leitores e leituras. volume único. São Paulo: Moderna, 2005. p.
14-15.
356»
linguística (ou gramatical), sem perder de vista as necessidades
comunicativas do cidadão, para além dos muros da Escola18.
18
Visite os endereços na internet listados abaixo, objetivando não só conhecer
os PCN, mas também identificar as orientações específicas para o ensino de
Português e de Literatura.
• Ministério da Educação e Cultura
<http://portal.mec.gov.br>;
• Parâmetros Curriculares Nacionais em Ação 1ª a 4ª séries
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id
=12640%3Aparametros-curriculares-nacionais1o-a-4o-series&catid=195%
3Aseb->;
• Parâmetros Curriculares Nacionais em Ação 5ª a 8ª séries
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id
=12657%3Aparametros-curriculares-nacionais-5oa8oseries&catid=195%
3Aseb-educacao-basica&Itemid=859 educacao-basica&Itemid=859>;
»357
Para o ensino da Literatura, o propósito é fazer acontecer a
interlocução autor-texto-leitor, capaz de conduzir o aprendiz na
identificação do universo social de cada obra, ao mesmo tempo em que
desenvolve a percepção da realidade.
358»
Essas condições colocadas pelas práticas sociais à
aprendizagem do gênero textual impõem desafios, como
analisam Marcuschi, B. e Costa Val (2010) que precisam ser
enfrentados pela escola e pelo livro didático (sobretudo se for
levado em conta o espaço que o LDLP ocupa na sala de aula).
Na efetivação de um ensino que trate a escrita como um
processo de interlocução entre leitor, texto e autor, e, por este
caminho, posicione o trabalho com a produção textual em seu
universo de uso social, a inserção do estudo dos gêneros
textuais em práticas discursivas se impõe. Esses desafios
crescem em significado quando se sabe que as atividades de
escrita de texto desenvolvidas na escola sempre terão um
caráter mimético, pois suas propostas sugerem a imitação de
gêneros de circulação social, sem todavia conseguir preservar a
função sociocomunicativa do espaço de circulação original, que
é substituída pela função pedagógica (MARCUSCHI, B. e
CAVALCANTE, M.).
»359
6. Penúltimas palavras
360»
Vejam, a seguir, uma sinopse do que esperamos de cada um de vocês,
alunos e alunas do E-Letras ou professores em formação, como
“movimento de/ou para a aprendizagem”:
»361
• Opção política: envolve uma teoria de compreensão e interpretação
da realidade. Revela o universo de conhecimentos e crenças do
professor.
362»
• A perspectiva histórica de observação da metodologia do ensino de
Português identifica 6 (seis) etapas marcantes: (i) Brasil Colônia até
meados do século XVIII, (ii) Reforma Pombalina, (iii) anos 50, (iv)
anos 60, (v) anos 80 e 90, e (vi) década de 90 à atualidade.
Referências
»363
BASTOS, L & MATTOS, M. A. A produção escrita e a gramática. 2a
ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
364»
LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 3a ed.,
São Paulo: Ática, 1997.
»365
SMOLKA, A. L. e outros. Leitura e desenvolvimento da linguagem.
Porto Alegre: Mercado Aberto, 1989.
366»
Metodologia I
Dilma Tavares Luciano
Maria Lúcia Barbosa
ATIVIDADES
Atividade 1
»367
significativas no ensino de Português no Brasil, com
interferências na organização política, nos objetivos e
conteúdos curriculares e mesmo na proposta metodológica
em sentido estrito. Identifique esses aspectos procurando
relacioná-los às diferentes concepções de língua no ensino
de Português, tratadas à luz da Linguística.
Atividade 2
368»
Atividade 3
Atividade 4
»369
escolares)", em JOÃO WANDERLEY GERALDI (ORG.), no livro O Texto
na Sala de Aula, São Paulo, Ática, 1997 (pp 117-131).
Atividade 5
Atividade 6
Atividade 7
370»
poema... Agarro-as no voo, quando vão zumbindo, e capturo-as,
limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as
cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas,
como algas, como ágatas, como azeitonas... [...] Tudo está na
palavra... Uma ideia inteira muda porque uma palavra mudou
de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de
uma frase que não a esperava e que a obedeceu ...”
NERUDA, Pablo. Confesso que vivi. Tradução: Olga Savary. Rio de
Janeiro: Difel, 1978. (Fragmento). Disponível em:
<http://www.releituras.com/pneruda_menu.asp. Acesso em: 24 ago.
2004>., retirado de ABAURRE, Maria Luiza M. Literatura Brasileira:
tempos, leitores e leituras. volume único. São Paulo: Moderna, 2005. p.
25.
Atividade 8
»371
372»
Ana Cláudia Tavares
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
374«
1. Introdução à Filosofia e História
da Educação
»375
grego. O helenista Werner Jaeger, que escreveu uma obra intitulada
Paidéia, afirma:
376«
caracterização se deve às críticas de Sócrates e Platão à atitude
intelectual dos sofistas e ao costume solicitarem retorno financeiro por
suas aulas. Recentemente esse modo de pensar depreciativo foi
atenuado, redimensionando-se a importância da sofística para a
educação democrática.
»377
Toda essa discussão, no entanto, não visa a um objetivo puramente
intelectual. O que Sócrates pretende é o reto conhecimento das
virtudes humanas. Ele busca o “intelectualismo ético”, isto é, a
identificação do sábio e do virtuoso, concomitantemente.
Aos vinte anos, Platão travou relações com Sócrates – mais velho do
que ele quarenta anos – e gozou por oito anos do ensinamento e da
amizade do mestre. Quando discípulo de Sócrates e ainda depois,
Platão estudou também os maiores pré-socráticos. Depois da morte do
mestre, Platão retirou-se com outros socráticos para junto de Euclides,
em Mégara.
378«
Daí deu início a suas viagens: visitou o Egito, de que admirou a
veneranda antiguidade e estabilidade política; a Itália meridional, onde
teve ocasião de travar relações com os pitagóricos (tal contato será
fecundo para o desenvolvimento do seu pensamento); a Sicília, onde
conheceu Dionísio, tirano de Siracusa. Caído, porém, na desgraça do
tirano pela sua fraqueza, foi vendido como escravo. Libertado graças a
um amigo, voltou a Atenas.
»379
No âmbito da educação, desenvolveu ideias avançadas para seu
tempo: o Estado assume a educação; a educação da mulher é
semelhante a do homem; valorização da educação intelectual, coroada
pelo estudo das ciências (com especial destaque para a matemática) e
pela dialética, processo que eleva a alma das aparências sensíveis às
ideias.
380«
real existia independentemente das idéias e para conhecê-lo era
necessário desenvolver a lógica. Partiu da observação de que, na nossa
experiência, não existem objetos ideais; quem existe e sofre
transformações são as coisas ou os viventes (chamados “entes”). Os
entes são o ponto de partida da metafísica Aristotélica em seu caminho
até o ser. Aristóteles utilizava a lógica para alcançar a precisão e
propunha restabelecer a unidade do homem consigo mesmo e com o
mundo.
»381
rigorosa, mais apropriada ao desenvolvimento das ciências da natureza
e bem distante das imagens e narrativas místicas de Platão.
382«
1.5 Séculos XV e XVI – Renascimento,
Humanismo e Reforma
Contexto histórico
Ideal da Formação
»383
Busca da individualidade, caracterizada pela confiança no
poder da razão;
Reforma
Contra-Reforma
384«
especial, a Ordem estabelece rígida disciplina militar e tem por objetivo
inicial a luta contra os infiéis e os heréticos.
»385
1.6 Século XVII – Idade Moderna e
Pedagogia Realista
Contexto Histórico
O Pensamento Moderno
386«
• Bacon, pai da Ciência Moderna, desenvolve a concepção
empirista do conhecimento, afirmando que nada está no
espírito que não tenha passado primeiro pelos sentidos. Ele
privilegia, assim, a experiência no processo de
conhecimento (indutivismo).
O Realismo na Educação
»387
• A Pedagogia Moderna está em busca de uma Nova Didática.
Contexto Histórico
388«
entanto, sufocada com a carga de impostos e a falta de legitimidade
social (status) de sua posição: os nobres levavam uma vida parasitária
na corte, com isenção de impostos e os benefícios de serem julgados por
leis próprias. Explodem as revoluções burguesas: 1) A Revolução
Gloriosa (1688) que destrona a dinastia dos Stuarts; 2) Revolução
Francesa (1789) que depõe os Bourbons e defendo os princípios de
igualdade, liberdade e fraternidade.
• Na economia: o liberalismo;
»389
O Naturalismo de Rousseau
390«
Iluminismo e Educação
Contexto Histórico
»391
Nos dias atuais, não estamos diante de uma simples encruzilhada, que
pede desvios de percurso ou pequenas mudanças de rota, como
acontece em situações de crise. Estamos agora diante de um
“labirinto”. O momento exige, portanto, invenção, com ousadia da
imaginação para criar o novo. É preciso detectar com urgência os
sintomas do mundo que emerge, o que não é fácil, pois estamos
mergulhado nele, e nem sempre temos clareza para compreender os
principais sinais da mudança.
392«
• O choque do petróleo em 1973 e 1979 faz ressurgir, nos
países de economia capitalista, o neoliberalismo (Hayeck e
Friedman) que pretende retirar do Estado as funções
assistencialistas assumidas na década de 30;
O Paradigma da Modernidade
O Paradigma Emergente
»393
• Parâmetros da educação atual: perplexidade e
desorientação.
Desafios da Educação
2. Teorias Sociológicas da
Educação
394«
Esses mesmos 100 brasileiros, tendo por base a sua renda, estavam
distribuídos dessa forma:
»395
Vamos juntar as informações:
396«
Assim, para os teóricos O segundo grupo E já um terceiro
da primeira concepção a entende que a grupo de teóricos da
educação é educação reproduz educação que
responsável pela a sociedade como compreendem a
direção da sociedade, ela está: dependente educação como
emerge como um da estrutura social uma instância
instrumento de correção produtora da mediadora de uma
das distorções do dominação e forma de viver e
fenômeno educativo. legitimadora da entender a
marginalização. sociedade.
»397
Embora difunda a idéia de igualdade de oportunidades, não leva em
conta a desigualdade de condições. A educação é concebida com uma
ampla margem de autonomia em relação à sociedade, emergindo como
um instrumento de correção das distorções e curando-a de suas
“mazelas”. O limite de sua função é a superação do problema da
marginalidade.
Aulas expositivas.
398«
O aluno é um participante ativo; o importante não
é aprender, mas aprender a aprender – é mais
importante o processo de aquisição do saber do
que o saber propriamente dito.
»399
O professor é um instrutor da máquina de ensino
(treina e adestra o aluno).
400«
As teorias que tiveram maior repercussão e alcançaram um maior nível
de elaboração foram as seguintes:
Passeron, 1975).
e o couro.
»401
tinha um monte de ovelhas e fazia pelegos.
402«
• Pequenos burgueses: o avanço na
escolarização lhes permitem os quadros médios.
»403
Uma teoria assim enunciada se impõe a tarefa tanto de superar o poder ilusório
(que se caracteriza com as teorias não-críticas) como a impotência (decorrente
das teorias crítico-reprodutivistas). Em ambos os casos, a organização da
sociedade é tida como “natural” e a-histórica (LUCKESI, 1991).
Os teóricos dessa tendência (entre eles Saviani, Luckesi, Libâneo), nem negam
que a educação tem papel ativo na sociedade, nem recusam reconhecer os
seus condicionantes histórico-sociais. Ao contrário, consideram a possibilidade
de agir a partir dos próprios condicionantes históricos.
Não será simples à educação e aos educadores que a realizam efetivar esse
processo dentro da sociedade capitalista; é necessário avançar no sentido de
captar a natureza específica da educação, o que nos levará à compreensão das
complexas mediações pelas quais se dá sua inserção contraditória na sociedade
capitalista.
404«
Trata-se de retomar vigorosamente a luta contra a seletividade, a discriminação
e o rebaixamento do ensino das camadas populares. O papel de uma teoria
crítica da educação é dar substância concreta a essa bandeira de luta, de modo
a evitar que ela seja apropriada e articulada com os interesses dominantes
(SAVIANI, 2000).
Referências
Leitura obrigatória:
»405
Fundamentos da Educação – Ana Cláudia Tavares
ATIVIDADES
Atividade 1
Silêncio.
406«
Nada. Olhares vazios.
Nada.
Legal, disse a mim mesmo. Isso não vai levar a lugar algum.
Talvez eu esteja esperando demais. Exatamente quando pensei
que todos tinham feito uma conspiração de silêncio, um garoto
ergueu sua mão. Quis abraçá-lo, e esperei ansiosamente sua
pergunta.
»407
daquilo que os professores, no Brasil, tendem a chamar de a
“realidade” da prática pedagógica que, por sua vez, estaria “muito
distante” das teorias “propagandeadas” nos cursos de licenciatura.
Atividade 2
408«
Atividade 3
Atividade 4
1º) Por que para Durkheim a ação dos membros de uma mesma
geração, uns sobre os outros, difere da que os adultos exercem sobre
as crianças e os adolescentes?
3º) Por que razão Durkheim afirma que “é uma ilusão acreditar que
podemos educar nossos filhos como queremos”?
5º) Explique por que para Durkheim nós temos dois seres: um ser
individual e um ser social? E o que ele chama de “virtude criadora” da
educação?
»409
6º) Como Durkheim rebate a crítica de que sua teoria transforma a
vida social em uma forma de tirania?
Atividade 5
410«
entrelaçamento dos indivíduos com a instituição, a fragilidade ou a
capacidade de resistência dos primeiros com relação a esta,
examinando o ponto de interseção do indivíduo com a sociedade. Você
tem várias possibilidades de fazer isso:
»411
Revisão| as autoras
Editoração|: Paula Mendes Costa
Capa| Carolina Leal Pires
21 x 29,7 cm
Tipografia
Verdana
Papel
Capa em Triplex 250g/m2
Miolo em Offset 75g/m2