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Resumo Direito dos Registos

1. Registo Civil

Estado civil: conjunto de qualidades jurídicas que o CRPredial sujeita a registo.

Estado das pessoas/estado pessoal: qualidade que condiciona a atribuição a uma pessoa de
uma massa pré-determinada de direitos e vinculações, cuja titularidade ou não titularidade é
aspeto fundamental da situação jurídica da pessoa.

Apesar de ser o direito positivo, que nos dá um critério legal de determinar as qualidades
jurídicas que merecem a qualificação de fundamentais, ou seja, são aquelas que se encontram
inscritas no registo civil; existem algumas qualidades que a lei não sujeita a registo civil, como
por exemplo, a situação de objetos de consciência ou de contumaz. Sendo assim, estas últimas
integram o estado pessoal e não o estado civil.

== A união de fato é juridicamente relevante? Sim, no caso de morte de um deles, o outro


tem direito a pensão de alimentos, pensão de viuvez ou apresentação de IRS conjuntamente. A
união de fato, o estar em união de fato, é uma qualidade que atribui direitos e deveres àqueles
indivíduos
 Art. 1º: a união de fato pertence ao nosso estado pessoal, mas não integra no nosso
estado civil uma vez que a lei não sujeita a união de fato a registo civil.

== Objeção de consciência: recusa legitima de praticar um determinado ato


 Pertence ao nosso estado pessoal, mas não ao nosso estado civil porque não está
sujeita a registo.

OBJETO: dar publicidade à situação jurídica de pessoas singulares através do registo dos
fatos que integram o seu estado civil. Isto significa, permitir a qualquer interessado obter
informação sobre os fatos registados, e consequentemente sobre a situação jurídica das
pessoas a quem dizem respeito.

Fatos sujeitos a registo

 Fatos que a lei permite que sejam levados ao registo, ou seja, que sejam lavrados nos
suportes próprios, legalmente admitidos para o efeito.
 Não podem ser registados quaisquer fatos que a lei não declare como sujeitos a registo.
 Quase todos os fatos sujeitos a registo civil devem ser obrigatoriamente registados,
podendo dizer que o registo civil é tendencialmente obrigatório, sabendo que é a lei que
define quais são ou não objeto de registo obrigatório.
 Segundo o art. 6, os atos lavrados no estrangeiro podem ingressar no registo civil, ou seja,
não são obrigados a isso.
- Fatos sujeitos a registo obrigatório (art. 1 CRCivil)

 Nascimento;
 Filiação;
 Adoção;
 Casamento
 Convenções antenupciais e alterações ao regime de bens convencionado ou legalmente
fixado;
 Regulação do exercício do poder paternal;
 Inibição ou suspensão do exercício do poder paternal;
 Acompanhamento de maiores e tutela e administração de bens;
 Apadrinhamento civil;
 Curadoria provisória;
 Declaração de insolvência;
 Nomeação e cessação de funções do administrador judicial;
 Inabilitação e inibição do insolvente;
 Exoneração do passivo restante;
 Óbito;
 Fatos que determinem a modificação ou extinção de qualquer dos fatos indiciados.

- Os atos de registo lavrados no estrangeiro por entidades estrangeiras competentes,


referentes a portugueses, ingressam no registo civil nacional em face dos documentos que os
comprovem, e mediante prova de que não contrariam os princípios fundamentais da ordem
pública internacional do Estado Português (art. 6 CRCivil)

- Os atos relativos ao estado civil lavrados no estrangeiro, perante as autoridades locais, que
devam ser averbados aos assentos das conservatórias são previamente registados, por meio
de assento, numa conservatória do registo civil ou na Conservatória dos Registos Centrais (art.
6º/2 com remissão para os arts. 10º e 11º). Isto significa que se houver de ser atualizado um
assento de nascimento por virtude de um casamento realizado nos termos do art. 6º/2, o
correspondente averbamento deve ser precedido de realização do assento de casamento na
conservatória competente para tal. O nº 3 do mesmo art. diz-nos que o registo das convenções
antenupciais e o registo de óbito de estrangeiro que dissolva casamento registado em Portugal
não pode ser efetuado através deste procedimento.

 O tribunal terá de verificar esta decisão, e verificar se ela está de acordo com os
nossos princípios; só após este processo, a decisão terá eficácia no nosso país -
PRODUÇÃO DE EFEITOS JURIDICOS. Exemplo: um casal divorcia-se e faz as
partilhas do seu património comum; o imóvel que representa a casa fica a
pertencer a um dos cônjuges, e sendo assim, esse cônjuge fica responsável por
pagar o empréstimo. Se o cônjuge incumprir com o pagamento do banco, este
último pode ir requerer o dinheiro ao outro? Sim, porque este acordo é ineficaz e
não produz efeitos em relação ao banco – por isto, antes de se fazer um acordo,
os mandatários devem ir ao banco ver se este aceita o acordo.

- As decisões dos tribunais estrangeiros relativas ao estado ou à capacidade civil dos


portugueses estão sujeitas a registo, mas por força do art. 7º apenas depois de revistas e
confirmadas pelo tribunal (art. 978º CPC). Estão ainda sujeitas a registo as decisões dos
tribunais estrangeiros no que se refiram ao estado ou capacidade civil de estrangeiros sempre
que constem do registo civil português ou assentos afetados pela decisão.

- As decisões dos tribunais eclesiásticos respeitantes à nulidade do casamento ou à dispensa


de casamento rato e não consumado, depois de revistas e confirmadas, são averbadas aos
respetivos assentos (art. 7º nº 3 DL nº 100/2009, de 11/05).

- Relativamente em matéria de nacionalidade, o art. 18º da Lei da Nacionalidade sujeita a


registo obrigatório, as declarações para atribuição, aquisição ou perda de nacionalidade e a
naturalização de estrangeiros.

- É obrigatório o registo dos casamentos celebrados em Portugal por qualquer das formas
previstas na lei portuguesa, dos casamentos de português ou portugueses celebrados no
estrangeiro e dos casamentos dos estrangeiros que, depois de o celebrarem, adquiram a
nacionalidade portuguesa (art. 1651º nº1 CC).

- É averbado oficiosamente o óbito de beneficiários do estatuto de igualdade, sem prejuízo de


poder ser requerido por alguma das pessoas referidas no art. 27º nº1. Contudo é obrigatório,
se o óbito ocorrer em território nacional, de enviar o respetivo boletim à Conservatória dos
Registos Centrais pelo funcionário do registo civil que tiver lavrado o respetivo registo.

- Fatos sujeitos a registo facultativo (art. 6º)

Os atos de registo lavrados no estrangeiro por entidades estrangeiras competentes,


relativamente a estrangeiros, possam integrar no registo civil nacional, em face dos
documentos que os comprovem, de acordo com a respetiva lei e mediante prova de que não
contrariem os princípios fundamentais da ordem pública internacional do Estado Português.
Contudo exige-se que o estrangeiro mostre legitimo interesse na transcrição (art. 6º nº4). Para
além disto, estão ainda sujeitas a registo civil, facultativo, as convenções antenupciais
respeitantes aos casamentos celebrados antes de 1/01/1959, e as decisões judiciais anteriores
a 1/04/1978 (art. 304º CRCivil).

 Casamento no estrangeiro – é necessário fazer o averbamento e o assento no país;


 Nascimento no estrangeiro – é necessário fazer o assento de nascimento sob pena de não
se atribuir nacionalidade nenhuma à criança [apatria];
 Casamento em Las Vegas – perfeitamente válido, pois é um casamento segundo o nosso
CC e um contrato entre duas pessoas; sendo assim, os nossos princípios fundamentais
estão respeitados e este casamento é considerado válido no nosso país. Para isso, é
necessário trazer a certidão de casamento, traduzi-la e lavá-la a uma conservatória.

Efeitos do registo

 Presunção de verdade e oponibilidade a terceiros: o registo goza da presunção legal de


veracidade e de autenticidade, e logo, também goza da presunção legal da verdade da
situação jurídica resultante dos fatos inscritos. Os fatos sujeitos a registo obrigatório só
podem ser invocados depois de registados, e não são oponíveis a terceiros até esse
momento, salvo disposição em contrário (art. 2º)
 Exceções: casamento anterior não dissolvido (art. 1601º CC); convenções antenupciais
(art. 1711º CC); sentenças de interdição definitiva, bem como as decisões que regulem
o exercício das responsabilidades parentais.

 Prova dos fatos sujeitos a registo: esta prova só pode ser feita pelos meios previstos no
CRCivil (art. 4º). O art. 211º diz-nos que os fatos sujeitos a registo e o estado civil das
pessoas se provam pelo acesso à base de dados do registo civil ou por meio de certidão.
Esta prova não pode ser ilidida por qualquer outra, a não ser nas ações de estado e nas
ações de registo (art. 3º).
 Art. 2ª: apenas depois do registo definitivo do casamento, é que os nubentes podem
dizer “estamos casados”.
 Uma criança cujo pai não a regista, não deixa de ser cidadã portuguesa, apenas
significa que ela precisa ir registar-se.
 Art. 3º: os fatos sujeitos a registo civil obrigatório constituem prova vinculada, ou seja,
o juiz não tem liberdade de apreciação sobre esta prova. Isto significa que o juiz é
obrigado a considerar a prova verdadeira; constituindo por isso uma presunção iuris
etdeuri.
 Ações de Estado: pretende-se alterar o estado tal como consta do registo civil, o
que quer dizer que é o próprio fato registado que se contesta [ex: ações de
investigação}.
 Ações de Registo: têm por objeto o registo em si mesmo – a sua inexistência,
omissão ou nulidade.
 VALOR PROBATÓRIO: o registo civil não presume, afirma. Se o registo civil não afirma, é
porque não existe; tendo por isso valor declarativo.
 Art. 4ª: a prova dos fatos sujeitos a registo só pode ser feita nos termos previstos no
CRCivil, nomeadamente através da certidão da conservatória do assento do registo civil
daquele fato. ATENÇÃO: o cartão de cidadão não tem valor probatório, nem é considerado
como meio de prova previsto no CRCivil.

 Impugnação em juízo dos fatos sujeitos a registo: os fatos registados não podem ser
impugnados em juízo sem que seja pedido o cancelamento ou a retificação dos registos
correspondentes (art. 3º). Isto pretende evitar a incongruência que de outro modo poderia
resultar da circunstância de uma decisão judicial declarar inexistente ou nulo determinado
fato, e manter-se inalterado o correspondente registo.

Vícios do registo

1) Inexistência (art. 85º)


 Fatos juridicamente inexistentes e esse fato deve resultar do próprio contexto 1;
 Aposição do nome de quem não tinha competência para nele apor o seu nome, se tal
resultar do próprio contexto;
 Não tem a aposição do nome do funcionário que nele devia apor o seu nome. Esta não
é causa de inexistência do registo se a omissão for sanada nos termos do art. 61º nº5.
 Assento de casamento que não contenha a expressa menção de os nubentes haverem
manifestado a vontade de contrair matrimónio.

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O fato dele constante nunca se verificou ou que tal fato não é nenhum daqueles que a lei admite a registo.
 O registo lavrado por averbamento só é considerado inexistente por falta de aposição
do nome do funcionário se a falta não for sanável (art. 74º).

 Casos de inexistência do CC (art. 1628º):


 Casamento celebrado por quem não tenha competência funcional para o ato [exceto
casamentos urgentes];
 Casamento urgente não homologado;
 Casamento em que cuja celebração tenha faltado a declaração da vontade de um ou
ambos os nubentes, ou do procurador de um deles;
 Casamento contraído por intermédio de procurador quando celebrado após se terem
cessado os efeitos da procuração.
 Art. 1629ª: não é ineficaz o casamento celebrado por quem não tem competência,
salvo se ambos os nubentes, no momento da celebração, tinham conhecimento da
falta daquela competência.

A inexistência do registo pode ser invocada a todo o tempo, por quem tenha interesse nela,
sendo que o conservador deve promover, desde o momento que tenha conhecimento dela, o
competente processo de declaração ou o suprimento da assinatura em falta (art. 86º). Aplica-
se aqui, o processo de justificação administrativa (art. 241º e ss.) e cuja decisão compete ao
conservador. Contudo, a invocação da inexistência não está dependente de uma declaração
administrativa ou judicial, uma vez que a inexistência pode ser invocada por qualquer pessoa,
a todo o tempo, independentemente de declaração judicial (art. 1630º nº2)

2) Nulidade (art. 87º com remissão para os arts. 88º e 89º): lista fechada de casos em que o
registo ou o título são falsos.
 O registo é falso ou resulta da transcrição de título falso;
 Os serviços de registo foram incompetentes para o lavrar;
 Contiver a aposição do nome de quem não tenha competência funcional para nele
apor o seu nome (art. 369º nº2);
 Se a transcrição de casamento católico tiver sido lavrada não respeitando o disposto
no art. 174º nº1-d) e e).

O registo só pode ser falso se preencher os requisitos do art. 88º;

 A aposição do nome ou assinatura do funcionário não é da autoria da pessoa a quem é


atribuída;
 Viciado por forma a induzir em erro acerca do fato registado ou da identidade das
partes;
 Respeitar a fato que nunca existiu;
 Apresentar-se como transcrição de um título inexistente.

O título só pode ser falso, se preencher os requisitos do art. 89º.

 A assinatura das partes, procurador, testemunhas, intérprete ou funcionário que deva


constar do título, não é da autoria da pessoa a quem é atribuída;
 Viciado na forma a induzir em erro acerca do fato registado;
 Respeitar a fato que nunca existiu.
Fora estes casos, só é possível cancelar um registo ou título se houver decisão do tribunal;
sendo que o conservador só pode cancelar um registo por iniciativa próprio por falsidade,
se preencher uma destas duas normas. Se o conservador souber que aquele título é falso,
mas não o consegue provar com base no art. 89º, não pode proferir nenhuma decisão de
nulidade.

O art. 90º estabelece que a nulidade do registo só pode ser invocada por decisão de
nulidade do conservador, contudo pode ser invocada a todo o momento e pode ser
declarada oficiosamente (art. 286 CC e art. 241º nº3 CRCivil).

A retificação é feita por averbamento, e sendo o vício resultante dos próprios serviços, é
obrigatório a promoção oficiosa do processo de retificação (arts. 93º e 94º).

3) Irregularidade (art. 92º): advém do próprio procedimento do registo em si e advém de


uma circunstância qualquer que levou a que aquele registo não esteja em conformidade
com a lei.

4) Anulabilidade: a anulabilidade do título, na maioria das situações, não acarreta a


anulabilidade do próprio registo. A anulabilidade pode ser declarada, uma vez que os
títulos anuláveis só levam ao cancelamento do registo, se essa anulabilidade for declarada.
Sendo anulado o título, o registo DEVE ser cancelado (art. 91º nº 1-b)).

5) Cancelamento do registo (art. 91º):


 Declarada a sua inexistência ou nulidade pelo conservador;
 O próprio fato registado é judicialmente declarado inexistente, nulo ou anulado
[exceto casamento nulo ou anulado];
 Cancelamento dos registos juridicamente inexistentes por falta de aposição
do nome do funcionário: é efetuado independentemente da declaração da
inexistência, se a omissão de registo do fato que deles conste já se encontrar
suprida;
 Cancelamento dos registos juridicamente inexistentes previstos nos arts. 61º
nº3 e 74º nº3: é efetuado pelo conservador, através de um ato continuo à
feitura da menção da razão pela qual o assento ou o averbamento fica
incompleto.
 Corresponde à duplicação de outro registo regularmente lavrado – o conservador
cancela o registo que não se mostre regularmente lavrado;
 Foi lavrado em conservatória diversa da competente – o conservador transcreve o
registo para a conservatória competente;
 Fica incompleto, pois não foram prestadas as declarações necessárias ou não se
chegou a registar o fato correspondente – o conservador deve mencionar no assento a
razão por que ficou incompleto;
 Nos demais casos especificados na lei.

O registo cancelado não produz nenhum efeito como título do fato registado, sem prejuízo da
possibilidade de ser invocado para prova desse fato no processo destinado a suprir a omissão
do registo. O art. 83º diz-nos que quando tiver sido declarada a inexistência ou nulidade de um
registo pelo conservador, mas esse fato registado é juridicamente existente, deve-se suprir a
omissão do registo.
A omissão de averbamento deve ser suprida por iniciativa dos interessados em face do
documento que comprove o fato a averbar; sendo que para isso se deve apresentar certidão
do assento consular do casamento ou do óbito ocorrido no estrangeiro, mesmo que não
integrado nos termos do art. 5º

- Retificação do registo

O registo declarado juridicamente inexistente, nulo ou irregular deve ser cancelado ou


retificado, mediante processo de justificação ou por simples despacho do conservador (art.
92º). É obrigatória a promoção oficiosa da retificação sempre que a irregularidade, deficiência
ou inexatidão a sanar seja da responsabilidade dos serviços. Se esta responsabilidade não
existir, devem ser os interessados a requerer a retificação e, se não o fizerem, poderá a mesma
ser promovida pelo conservador.

A retificação é feita por averbamento, exceto se se tratar de registo lavrado por inscrição e se
mostrar necessária logo após a aposição do nome do funcionário. Aqui, a retificação deve ser
feita de imediato, por meio de declaração lavrada pelo conservador ou oficial no seguimento
do registo, com aposição do respetivo nome.

. Formas de retificação

a) Retificação administrativa
1. Simples despacho do conservador (art. 93º nº1):
− Erro de grafia ou erro quanto à indicação do lugar ou da data em que o registo foi
lavrado;
− Desconformidade do assento lavrado por transcrição, ou do averbamento
− Erro do assento lavrado por transcrição
− Omissão ou inexatidão

2. Processo de justificação administrativa (art. 241º e ss.): o erro de que o registo


enferma, torna-o juridicamente inexistente ou nulo, ou ainda, face aos documentos
comprovativos da irregularidade, o conservador verifique que esta, manifestamente
não pode ser sanada por simples despacho nem seja exigível processo de justificação
judicial (art. 93º nº2). Os interessados deverão ser ouvidos, sempre que seja
conveniente (art. 93º nº3).

b) Retificação judicial (art. 233º e ss.): resulta de decisão tomada em processo de justificação
judicial. Este processo apenas ocorre quando existe dúvidas acerca da identidade das
pessoas a quem o registo respeita (art. 94º).

- Suprimento da omissão do registo (art. 83º)

 Registo que deva ser lavrado por inscrição


 Registo que deva ser feito por transcrição
 O original não foi lavrado
 Não é possível obter o título
O art. 83º nº2 impõe que o conservador tenha conhecimento da omissão de um registo, e
obriga-o a promover oficiosamente o seu suprimento, efetuando as diligencias necessárias
para o efeito. A omissão do registo de nascimento (art. 98º) ou do registo de óbito (art. 198º),
por falta de declarações efetuadas no prazo legal, obriga as autoridades administrativas e
policiais a participar o fato ao conservador ao MP, a fim de ser suprida a omissão do registo.
Qualquer pessoa, mesmo que não tenha interesse na realização do registo, tem legitimidade
para participar o fato.

- Assentos lavrados por transcrição (art. 53º): reprodução de um fato constante num
documento. EXEMPLO: os casamentos católicos – como o Vaticano é considerado um estado
soberano, existe um acordo entre os dois estados de que os casamentos celebrados por via
católica, existe um privilégio/legitimidade de que esses casamentos são válidos no nosso país.
 O divórcio não é permitido aos olhos da lei eclesiástica;
 O casamento católico só é extinto se declarado nulo ou anulado, ou pela morte de um
dos cônjuges;
 Aos olhos da lei civil, os divorciados são considerados divorciados. Mas aos olhos da lei
católica não o são, ou seja, se pretenderem voltar a casar, só o poderão fazer pela via
civil.
 Art. 56º: como este tipo de assento é retirado de um documento, é necessário
mencionar a proveniência do título, ou seja, descrever de onde tirei a informação.

- Art. 78º: as decisões judiciais que sejam comunicadas aos registos civis, são comunicadas
oficiosamente pelos tribunais e são lavrados por averbamento no assento que disserem
respeito. EXEMPLO: divórcio, regulação de responsabilidades parentais, maior acompanhado,
morte presumida.

Atos de Registo em Geral

1. Assentos
 Inscrição: fatos declarados diretamente ou ocorridos no serviço competente para o
seu registo (art. 52º)
 Transcrição: fatos comprovados por título lavrado por serviço intermediário ou por
outra entidade legalmente competente (art. 53º com remissão para o art. 56º).

Os assentos que se referem a portugueses, realizados no estrangeiro pelos agentes


diplomáticos ou consulares são lavrados em suporte informático e disponibilizados na base de
dados do registo civil nacional (art. 54º).
Relativamente ao conteúdo dos assentos, o legislador distingue entre requisitos gerais (art.
55º), que são comuns a todos os assentos, e requisitos privativos de cada espécie de atos ou
requisitos especiais.

Os assentos são lavrados nas conservatórias, ou mediante pedido verbal dos interessados, nas
unidades de saúde ou em outro lugar a que o público tenha acesso (art. 57º).

Os assentos devem ser escritos por extenso, em face das declarações das partes ou das
próprias observações do funcionário, na presença daquelas e dos demais intervenientes, ou
com base nos documentos apresentados. Admite-se, contudo, o uso de abreviaturas de
significo inequívoco, bem como a escrita por algarismos das datas e dos números (art. 59º).

Os assentos podem ser lavrados pelo conservador ou por um oficial de registos (art. 61º).
Depois de lavrados, são lidos na presença de todos os intervenientes, e o conservador apõe
neles o seu nome. As menções constantes dos registos, além das previstas na lei, é havidas
como não escritas (art. 62º).

2. Averbamentos

A sua função é adicionar aos assentos, alterações verificadas no estado civil dos seus titulares,
ou seja, sujeitas a registo. São também o meio próprio de proceder à retificação de registos.

São lavrados na sequência do texto do assento (art. 68º) e obedecem a modelos aprovados,
devendo ser lançados imediatamente após a realização do ato (art. 73º).

Se o documento for omisso quanto a elementos que não interessem à substância do fato, mas
sejam indispensáveis à sua feitura, podem ser complementados com outros documentos.

Aqui é permitido usar abreviaturas de significado inequívoco, e também escrever por


algarismos das datas e dos números. As menções não previstas na lei é havida como não
escritas.

Devem conter a aposição do nome do conservador ou de oficial de registos. Se de um


averbamento não constar essa aposição, o conservador que notar essa falta, deve opor o seu
nome, mencionado a omissão e a sua data.

Se após o averbamento se concluir, não for possível a aposição do nome do funcionário, deve-
se mencionar, de forma sucinta, a razão do averbamento ficar incompleto (art. 74º).

Matéria de averbamento (art. 69º-72º):

− Assentos de nascimento (art. 69º);


− Assentos de casamento (art. 70º);
− Assentos de óbito (art. 71º);
− Assentos de perfilhação (art. 72º).

Art. 78º: os tribunais devem comunicar a qualquer conservatória do registo civil, sempre que
possível por via eletrónica, as decisões proferidas em ações respeitantes a fatos sujeitos a
registo que devam ser averbados, exceto o disposto no art. 274º.
Relativamente ao processo de insolvência, os averbamentos são eliminados mediante a
elaboração de um novo assento de nascimento nas situações previstas no art. 81º-A, sendo
cancelado o primitivo assento.

- Intervenientes nos atos de registo

1) Partes

Partes: declarante e pessoas a quem o fato diretamente respeite ou cujo consentimento


dependa a plena eficácia deste (art. 39º).

Os declarantes são identificados, no texto dos assentos em que intervierem mediante a


menção do seu nome completo e residência habitual (art. 40º).

As partes podem fazer-se representar por procurador com poderes especiais para o ato (art.
43º). Esta procuração pode ser outorgada por documento assinado pelo representado com
reconhecimento presencial da assinatura por documento autenticado ou por instrumento
público. A procuração passada a um solicitador/advogado, é suficiente o documento assinado
pelo representado. No ato da celebração do casamento, apenas um dos nubentes pode fazer-
se representar por procurador (art. 44º).

2) Intervenção de pessoas surdas, mudas e surdas-mudas

A intervenção destes indivíduos só pode fazer-se mediante a leitura dos assentos e


documentos pelos próprios, ou por interprete idóneo que, sob juramente legal, seja nomeado
no ato (art. 41º). O apoio do intérprete pode partir de iniciativa do próprio interessado. Este
apoio também pode ser pedido à conservatória pelo interessado ou pode ser da iniciativa do
conservador.

Dos atos lavrados com intervenção de intérprete deve constar a menção de que o mesmo
prestou juramente legal (art. 41º nº3).

Os mudos e surdos-mudos que saibam ler e escrever devem exprimir a sua vontade por escrito
em resposta a perguntas formuladas pelo funcionário do registo civil (art. 41º nº2).

3) Intervenção de partes que não conheçam a língua portuguesa

Aqui, o funcionário do registo civil, se também não dominar o idioma em que a parte se
exprime, deve nomear-se um intérprete nos termos previstos no art. 41º (com remissão para o
42º).

4) Testemunhas

As testemunhas abonam a identidade de partes, bem como a veracidade das respetivas


declarações, e respondem no caso de falsidade, tanto civil como criminalmente (art. 45º nº3).

Nos assentos de nascimento, podem intervir (até) duas testemunhas. Nos de casamento
podem intervir entre duas a quatro testemunhas (art. 45º nº1). Só se tiver dúvidas fundadas
acerca da veracidade das declarações ou da identidade das partes, é que o conservador pode
exigir a intervenção de duas testemunhas em qualquer espécie de assento (art. 45º nº2).

Apenas podem ser testemunhas, pessoas idóneas e maiores ou emancipadas, podendo ser
parentes ou afins das partes, ou ainda funcionários (art. 46º).

- Instrução de atos e de processos de registo

Aqui é dispensada a apresentação de certidões de atos ou documentos, sempre que estes


estejam disponíveis na base de dados do registo civil ou tenham sido lavrados ou se
encontrem arquivados na conservatória onde foi requerido o ato ou processo (art. 48º). Isto
também acontece aos casos em que o ato tenha sido lavrado ou o documento se encontre
arquivado em conservatória do registo civil diferente daquela onde foi requerido o ato ou
processo, ou em qualquer outro serviço de registo.

Nos outros casos, a conservatória onde foi requerido o ato ou processo, deve-se solicitar
oficiosamente às entidades ou serviços da AP, o envio de certidões de atos lavrados ou de
documentos arquivados naquelas entidades ou serviços.

Os documentos passados em país estrangeiro, podem servir de base a atos de registo ou


instruir processos independentemente de prévia legalização, desde que não haja dúvidas
fundadas acerca da sua autenticidade (art. 49º). Estes documentos quando escritos em língua
estrangeira, devem ser acompanhadas da tradução respetiva nos termos previstos na lei,
exceto documentos em língua inglesa, francesa ou espanhola, ou ainda se o funcionário
competente dominar a língua em que o documento se encontra.

Em caso de dúvida sobre a autenticidade do conteúdo de documentos emitidos no


estrangeiro, pode se solicitar às autoridades emitentes a confirmação da sua autenticidade,
sendo os encargos suportados pelos interessados. A promoção oficiosa das diligências exigidas
pela confirmação acima prevista, constitui fundamento de sustação da feitura do registo ou da
prossecução do procedimento a instruir com o documento cuja autenticidade se pretende
confirmar. Se aqui, se verificar a falta de autenticidade do documento emitido, o conservador
deve recusar a atribuição de qualquer valor probatório ao mesmo. Mas, se por outro lado, se
concluir pelo carácter defeituoso ou incorreto do documento emitido, o conservador deve
apreciar livremente em que medida o seu valor probatório é afetado pelo defeito ou
incorreção verificada. A recusa do conservador é notificada ao interessado no registo ou no
procedimento, para efeitos da impugnação judicial do despacho de recusa. Sendo interposto o
recurso, a falta de valor probatório do documento emitido em país estrangeiro pode ser
suprida com base nas declarações ou meios de prova complementares apresentados em sede
de recurso (art. 292º).

Atos de registo em especial

A. Nascimento

Este assento cria-se no nascimento, ou quando um estrangeiro ingresse no nosso país, e é


fechada no momento do óbito.
- O nascimento ocorrido em território português deve ser declarado verbalmente, declarado
dos 20 dias imediatos, em qualquer conservatória do registo civil, ou se o nascimento ocorrer
em unidade de saúde onde seja possível declarar o nascimento até ao momento em que a
parturiente (mãe) receba alta da unidade de saúde (art. 96º nº1). O nascimento deve ainda ser
declarado, nos mesmos termos, na unidade de saúde para onde a parturiente tenha sido
transferida, desde que seja possível declarar o nascimento (art. 96º nº2). A declaração de
nascimento ocorrido em unidade de saúde privadas, depende da existência de protocolo
celebrado entre os membros do Governo responsáveis pelas áreas da justiça e da saúde e
estas unidades de saúde (art. 96º-A) – Portaria nº 1370/2008, de 2/12.

Compete:

 Aos pais ou a outros representantes legais do menor ou a quem por eles seja, para o
efeito, mandatado por escrito particular;
 Ao parente capaz mais próximo que tenha conhecimento do nascimento;
 Ao diretor ou administrador ou outro funcionário por eles designado da unidade de saúde
onde ocorreu o parto ou na qual foi participado o nascimento.

 A falta de declaração no prazo legal constitui contraordenação, é punido com coima no


mínimo de 50€ e no máximo de 150€ para as pessoas singulares, e no mínimo de 150€ e
no máximo de 400€ para as pessoas coletivas (art. 295º).
 Quando o nascimento não for declarado no prazo legal, as autoridades administrativas e
policiais, ou qualquer outra pessoa mesmo sem interesse específico, devem participar o
fato ao conservador ou ao MP, a fim de ser suprida a omissão do registo (art. 98º).
 Contudo, se o nascimento já tiver ocorrido há mais de um ano, o art. 99º impõe que nestes
casos, a declaração voluntária de nascimento só pode ser feita por qualquer um dos pais,
por quem o tiver registado, ou pelo próprio quando maior de 14 anos, devendo sempre
que possível, ouvir os pais do registando quando não sejam declarantes.
 Quando o nascimento ocorreu há mais de 14 anos, deve se exigir a intervenção de duas
testemunhas, e se possível, exigir documento que comprove a exatidão da declaração,
podendo, o conservador promover as diligências necessárias ao apuramento dos fatos.
 Nos casos, em que na declaração de nascimento ocorre a declaração do óbito, deve-se
fazer constar do assento de nascimento, lavrado com as formalidades normais que o
registando já faleceu, sendo imediatamente lavrado o assento de óbito (art. 100º).

- Execução do Registo

Deve constar do assento de nascimento, alguns requisitos especiais previstos no art. 102º:

 Nome próprio e apelidos;


 Sexo;
 Data de nascimento, e se possível a hora exata;
 Freguesia e conselho da naturalidade;
 Nome completo, idade, estado, naturalidade e residência habitual dos pais;
 Nome completo dos avós;
 Menções exigidas por lei em casos especiais (art. 56º) – natureza, proveniência e data da
emissão do título em que se baseou uma transição, e a indicação da nacionalidade de
progenitores estrangeiros (art. 37º Lei da Nacionalidade).

Estes dados são fornecidos pelo declarante, devendo ser exibidos sempre que possível, os
documentos de identificação dos pais (art. 102º). E o funcionário que receber essas
declarações, deve averiguar a exatidão das declarações prestadas, em face dos documentos
exibidos dos registos em seu poder.

Competência: qualquer conservatória do registo civil, unidade de saúde onde ocorreu o


nascimento ou aquela em que a parturiente tenha sido transferida desde que seja possível
declará-lo na unidade de saúde (art. 101º). Se o nascimento ocorreu em unidade de saúde, no
prazo de 24H após o nascimento, estas unidades devem inserir um registo informático de
acesso exclusivo das unidades de saúde, do IRN e do ISS (Instituo Segurança Social), dados
sobre o nascimento e com indicação da respetiva data e hora, do sexo do menor e do nome e
residência da parturiente (art. 101º-A nº1).

Depois de lavrar o assento pelas unidades de saúde, procede-se de imediato e por via
eletrónico, à inserção desse fato no respetivo registo informático e à comunicação dos dados
relevantes para efeitos de inscrição da criança nos serviços de SS e de saúde (art. 101º-B e
102º-A).

Se o nascimento ocorrer em território nacional e em unidade de saúde onde não é possível


declarar o nascimento, deve ser exibido documento emitido por essa unidade de saúde que
comprove a ocorrência do parto e indique o nome da parturiente (art. 102º nº5). Contudo se o
nascimento ocorrer em território nacional fora das unidades de saúde, mas com
acompanhamento posterior em unidade de saúde, deve ser exibido documento emitido nos
mesmos termos (art. 102º nº6). Se por alguma razão, a declaração de nascimento não seja
prestada por um dos pais, esse fato é comunicado de imediato e por via eletrónico à Comissão
Nacional de Proteção de Crianças e Jovens em Risco (CNPCJR).

Registo de abandonados: abandonados são os recém-nascidos de pais desconhecidos que


forem encontrados ao abandono em qualquer lugar, e os indivíduos de idade aparente inferior
a 14 anos, ou dementes cujos pais, conhecidos ou não, se hajam ausentado para lugar não
sabido, deixando-os ao desamparo (art. 105º). Quem tiver encontrado o abandonado deve
apresentá-lo no prazo de 24H, com todos os objetos e roupas de que ele seja portador, à
autoridade administrativa ou policial a quem compete promover, se for caso disso, o assento
de nascimento (art. 106º). Essa autoridade deve levantar auto de ocorrência, do qual constem
a data, hora e julgar em que foi encontrado, a idade aparente, os sinais que o individualizem, a
descrição das roupas e objetos de que seja portador e quaisquer outras referencias que
possam concorrer para a sua identificação. O assento é lavrado em qualquer conservatória do
registo civil, com os elementos extraídos daquele auto, e com as necessárias adaptações os
referidos no art. 102º, tendo em conta que a hora, dia, mês e lugar em que o registado foi
encontrado são considerados para fins de registo, como correspondente à hora, dia, mês e
naturalidade devendo o ano ser determinado em função da idade aparente (art. 107º). O art.
108º determina que compete ao conservador atribuir ao registando um nome completo,
escolhendo entre os nomes de uso vulgar ou a derivar de alguma característica particular ou
do lugar que foi encontrado, sempre tendo em conta que devemos evitar denominações
equivocas ou capazes de recordarem a sua condição de abandonado e com respeito pelas
regras de composição do nome previstas no art. 103º nº2. Relativamente à escolha do nome, o
conservador deve respeitar qualquer indicação escrita encontrada em poder do abandonado,
ou junto dele, ou por ele próprio fornecida.

- Conceito de naturalidade

 Lugar em que o nascimento ocorreu ou o lugar, em território português, da residência


habitual da mãe do registando, à data do nascimento, cabendo a opção ao registando, aos
pais, a qualquer pessoa por eles incumbida de prestar a declaração ou a quem tenha o
registando a seu cargo; na falta de acordo entre os pais, a naturalidade será a do lugar do
nascimento (art. 101º nº2).
 O assento ocorrido em unidades de saúde no estrangeiro, ao abrigo de protocolo
celebrado com o Estado português, considera-se naturalidade o lugar, em território
português, a residência habitual de um dos progenitores à data do nascimento (art. 102º
nº4). Aqui a lei não prevê solução para a falta de acordo entre os progenitores –
interpretação analógica (art. 1875º nº2 CC): na falta de acordo entre os pais quanto à
escolha do nome, prevê que seja o juiz a decidir.

- Nome: indicação, composição e alteração

 A indicação do nome deve ser feita pelo declarante, mas se este não o fizer, cabe tal
encargo ao funcionário que receber a declaração (art. 103º nº1). A escolha do nome
próprio e apelidos do filho menor pertence aos pais (art. 1875º nº2 CC), e na falta de
acordo entre os pais quanto à escolha do nome, prevê que seja o juiz a decidir, sempre em
harmonia com o interesse do filho. Esta indicação compete sempre ao conservador no
caso de registando abandonado (art. 108º).

 O nome completo deve conter no máximo, 6 vocábulos – até 2 nomes próprios e 4


apelidos (art. 103º nº2).
 Os nomes próprios devem ser portugueses, de entre os constantes da onomástica
nacional ou adaptados, não devendo suscitar dúvidas sobre o sexo do registando;
 São admitidos os nomes próprios estrangeiros sob forma originaria se o registando for
estrangeiro, houver nascido no estrangeiro ou tiver outra nacionalidade além da
portuguesa;
 São admitidos os nomes próprios estrangeiros sob a forma originaria se algum dos
progenitores do registando for estrangeiro ou tiver outra nacionalidade além da
portuguesa;
 Aos irmãos não pode ser dado o mesmo nome próprio, exceto se um deles já tiver
falecido – aqui, se forem atribuídos dois nomes próprios, um deles pode ser comum,
como o podem ser ambos se a respetiva ordem for invertida (ex: Ana Paula e Ana
Maria OU José Manuel e Manuel José);
 Os apelidos são escolhidos entre os que pertençam a ambos ou só a um dos pais do
registando ou a cujo uso qualquer deles tenha direito, ainda quando não façam parte
do seu nome, podendo na falta de apelidos, escolher-se um dos nomes por que sejam
conhecidos;
 Se a filiação não ficar estabelecida, pode o declarante escolher os apelidos a atribuir ao
registando, e se não o fizer, terá de ser o conservador do registo civil a fazê-lo por
aplicação do regime previsto para os abandonados.

 Admite-se, em virtude da Lei da Liberdade Religiosa, os nomes próprios da onomástica


religiosa da religião professada (art. 8º-g)).

 As partículas de ligação (de, da, dos, e) não constam como unidades vocabulares e podem
ser aceites mesmo quando se não encontrem nos nomes dos pais.

 Nada proíbe também a repetição de apelidos que pertençam simultaneamente ao pai e


mãe.

O nome que consta do assento pode ser modificado, mediante autorização do conservador
dos Registos Centrais, concedida no processo especial privativo do registo civil designado por
processo de alteração do nome (art. 278º-282º)

Art. 1677º CC: os cônjuges têm o direito a conservarem os seus próprios apelidos, e a
acrescentar-lhes apelidos dos outros, até ao máximo de dois, faculdade esta última que não
pode ser exercida por quem conservar apelidos do cônjuge de anterior casamento.

Art. 104º: alteração de nome. Estas alterações são efetuadas por averbamento, a
requerimento do interessado que quando for apresentado verbalmente, deve ser reduzido a
auto. No entanto, o averbamento da alteração resultante da renúncia aos apelidos adotados
por virtude do casamento, e da perda do direito ao nome por parte do registado, é realizado
oficiosamente. Após isto devem ser comunicadas ao serviço de identificação.

Art. 1875º e 1876º CC: se a maternidade ou paternidade forem estabelecidas posteriormente


ao registo do nascimento, o nº 3 do 1875º permite que os apelidos do filho possam ser
alterados nos termos do nº 1 e 2 do mesmo artigo, donde resulta que o filho poderá
acrescentar apelidos pertencentes ao pai ou à mãe consoante tenha sido estabelecida a
paternidade ou a maternidade. Na falta de acordo entre os pais, o juiz decidirá de harmonia
com o interesse do filho. Quando a paternidade não se encontre estabelecida, o art. 1876º
permite que sejam atribuídos ao filho menor, apelidos do marido da mãe, se esta e o marido
declararem, perante funcionário do registo civil, ser essa a sua vontade.

Adoção plena (art. 1988º CC): o adotado perde os seus apelidos de origem, sendo o seu novo
nome constituído com as necessárias adaptações com apelidos do pai e mãe adotivos ou só de
um deles. A pedido do adotante, o tribunal pode excecionalmente modificar o nome próprio
do menor, se a modificação salvaguardar o seu interesse, nomeadamente o direito à
identidade pessoal, e favorecer a integração na família. Contudo, o adotado pode ser filho do
cônjuge do adotante, e aqui, conserva-se os apelidos do progenitor.

Divórcio: é permitida a conservação de apelidos por parte do cônjuge divorciado, mediante


autorização do ex-cônjuge, prestada em auto lavrado perante o conservador ou de documento
autêntico ou particular autenticado, de termo lavrado em juízo ou mediante autêntico do
tribunal (art. 104º nº6). O conservador, ouvindo o outro cônjuge e se este não se opor,
autoriza a conservação dos apelidos; se houver oposição e constatando-se a impossibilidade
de acordo, o processo segue a via judicial (art. 5º e 8º DL nº 272/2001, de 13/10). O cônjuge
vivo que tenha acrescentado ao seu nome apelidos do outro, conserva-os em caso de viuvez, e
se o declarar até à celebração do novo casamento, mesmo depois das segundas núpcias (art.
1677º-A CC). Depois da celebração das segundas núpcias não se pode adicionar os apelidos do
anterior cônjuge. O averbamento de conservação de apelidos por parte do cônjuge viúvo, que
contrai novas núpcias é feito em face de declaração prestada perante o conservador, em auto
no processo de casamento (art. 104º nº7). Aqui já não poderá exercer a faculdade de
acrescentar apelidos de novo cônjuge (art. 1677º nº2).

Por último, em caso de reconhecimento jurídico da identidade de género, permite-se alterar o


nome próprio nos termos previstos na Lei nº 38/2018, de 07/08.
2. Registo Predial
 O registo predial destina-se a conferir certeza e confiança jurídica e publicidade aos fatos
que a lei sugere a registo, e que se refere a prédios.

Art. 1º CRPredial: o seu objetivo é dar publicidade à situação jurídica dos prédios, tendo em
vista a segurança do comércio jurídico imobiliário. Esta publicidade visa garantir a verdade e a
legalidade da situação jurídica que dá a conhecer. Para o comércio jurídico imobiliário releva
muito mais a natureza do direito fiscal e das obrigações, do que a natureza do direito civil. Por
isso o conceito de prédio não equivale ao conceito de coisa imóvel, nem a distinção de prédio
rústico e urbano, ambos do CC [embora o CRPredial não tem nenhuma definição de prédio].

Prédio
 Art. 204º CC: distingue prédios de águas, plantações e as próprias partes integrantes dos
prédios – coisa imóvel e um elenco de realidades que incluem outras coisas como os rios.
 Art. 2º nº1 CIMI: “toda a fração de território, abrangendo as águas, plantações, edifícios e
construções de qualquer natureza nela incorporados ou assentes com carácter de
permanência, desde que faça parte do património de uma pessoa singular ou coletiva.”
 DL nº 172/95, de 18/07 [Regulamento do Cadastro Predial}: “uma parte delimitada do
solo juridicamente autónoma, abrangendo as águas, plantações, edifícios e construções de
qualquer natureza nela existentes ou assentes com carácter de permanência e, bem assim,
cada fração autónoma no regime de propriedade horizontal (art. 1º nº1-b)).

Com o excerto destas três diferentes definições de prédio, entendemos que o conceito de
prédio não é sinónimo do conceito de coisa imóvel no CC [realidades distintas].

Para além disso, o art. 204º CC, faz ainda outra distinção, entre prédio rústico e prédio urbano.
Se não houver construção, ou se elas forem adstritas ao fim, o CC assume que são prédios
rústicos, uma vez que a construção não define o fim; se houver construção, já se considera
prédio urbano.

 Art. 204º CC: “por prédio rústica uma parte delimitada do solo e as construções nela
existentes que não tenham autonomia económica, e por prédio urbano qualquer edifício
incorporado no solo, com os terrenos que lhe sirvam de logradouro.”
 Art. 84º CRPredial: distinção entre prédio rústico, urbano e misto; contudo não apresenta
os critérios de diferenciação.
 CIMI:
 Art. 3º: prédios rústicos são os terrenos situados fora de um aglomerado urbano
que não sejam de classificar como terrenos para construção nos termos do art. 6º
nº3.
 Art. 4º: “Prédios urbanos são todos aqueles que não devam ser classificados como
rústicos, sem prejuízo do disposto no artigo seguinte”.
 Art. 5º (prédios mistos): “Sempre que um prédio tenha partes rústicas e urbana
será classificado, na integra, de acordo com a parte principal. Se nenhuma das
partes puder ser classificada como principal, o prédio será havido como misto”.
 Art. 6º: este código distingue os prédios urbanos em 4 categorias – habitacionais,
comerciais, industriais ou para serviços, e terrenos para construção.
Os monumentos privados, conglomerados desportivos e outros tipos de prédios não dedicados
à exploração agrícola incluem-se certamente no âmbito dos prédios urbanos – isto demonstra
o defeito da classificação dos prédios em razão da sua natureza (que é o que o CIMI faz).

O conceito mais abrangente de prédios, adotados pela lei fiscal e predial, ou seja, a
classificação em rústicos, urbanos e mistos, também tem se demonstrado insuficiente. As
águas com autonomia económica, os monumentos ou os caminhos, sempre que inseridas no
âmbito do domínio privado, e consequentemente do comércio imobiliário, têm de ser
considerados prédios para efeitos da lei, contudo não se conseguem inserir na classificação de
rústicos, urbanos ou mistos, mesmo nos casos de prédios urbanos específicos do CIMI.

Com isto, e com a crescente dificuldade em se definir o que é prédio urbano, o CRPredial
demite-se de tentar, e o próprio CIMI não vai além da confissão implícita da ausência de
critério, e apenas diz que prédios urbanos “são todos aqueles que não devam ser classificados
como rústicos”, o que, honestamente, não esclarece nada.

Relativamente ao lote de terreno para construção, aos olhos da lei civil estamos perante um
prédio rústico (204º CC); contudo aos olhos da lei fiscal estamos perante um prédio urbano
(art. 2º CIMI); e ainda aos olhos da lei predial estamos mais uma vez perante um prédio
urbano. É de referir que foi o DL nº 46/673 que veio reconhecer a novidade do loteamento, e
que obrigou os terrenos para construção ao cumprimento de um certo número de requisitos
que lhes conferissem autonomia económica.

O conceito de logradouro não é objeto de definição nem na lei civil nem na legislação registal,
contudo a jurisprudência define o logradouro – jardins, piscinas, courts de ténis e outros
espaços de lazer anexos a prédios urbanos – como prédio urbano.

Estes dois conceitos distinguem-se, simplesmente porque o logradouro “é uma porção de


terreno – podendo ou não conter certas construções acessórias, sem autonomia privada – que
se destina a servir de terreiro ou quintal de um edifício, mas não tendo individualidade em
relação ao prédio urbano em que se integra e possuindo a mesma natureza deste.”; enquanto
o lote para construção é um terreno destinado à construção com autonomia.

Princípios orientadores do registo civil


1) Princípio da instância (41º CRPredial)
 O registo efetua-se a pedido dos interessados, assim o conservador não atua por sua
própria iniciativa.
 O DL nº 116/2008, de 04/07 substituiu a expressão “pedido dos interessados” por
“pedido de quem tenha legitimidade”, e visava abranger as entidades que titulam
certos fatos jurídicos e que passam também a estar obrigadas a promover o
correspondente registo.
 Legitimidade (art. 36º): sujeitos ativos ou passivos, da respetiva relação jurídica, e em
geral, todas as pessoas que nele tenham interesse ou que estejam obrigadas à sua
promoção. Esta “definição” abrange, por exemplo, os credores ou os interessados na
feitura de um ato de registo dependente de outro ainda não efetuado.
 Contitularidade de direitos (art. 37º): qualquer um dos herdeiros pode pedir, a favor
de todos os titulares, o registo de aquisição de bens e direitos que façam parte de
herança indivisa. Também qualquer um dos comproprietários ou compossuidor pode
pedir, o registo de aquisição dos respetivos bens ou direitos.
 Exceção – AVERBAMENTOS ÀS DESCRIÇÕES (art. 38º): é necessário que o interessado
esteja inscrito no registo predial.
 Ao representante legal ou ao MP, compete requerer o registo quando, em processo de
inventario, for adjudicado a incapaz ou ausente em parte incerta qualquer direito
sobre imóveis (art. 39º nº5).
 Art. 8º-A e ss: prazo para se fazer o registo de 2 meses a contar da titulação (Art. 8º-C
nº1). Se este prazo não se cumprir, paga-se o dobro do emolumento (art. 8º-D). O art.
8º-B apresente o novo regime de sujeitos que estão onerados com a obrigação de
registar e que também são interessados para o princípio da instância, ou seja, que têm
legitimidade (art. 36º). O solicitador que elabora um documento particular autenticado
está obrigado a registar essa transmissão de direito predial, ou seja, são interessados
para efeitos deste princípio.

2) Princípio da tipicidade/numerus clausus (art. 2º e 3º)


 Só podem ser levados a registo, os fatos que a lei indica como a ela sujeitos, e
consequentemente, nenhuns outros.
 Art. 1º CRPredial: elenco fechado de fatos sujeitos a registo. Contudo pode existir mais
fatos em legislação avulsa, mas segundo este princípio, só podem ser levados a registo
os fatos que a lei preveja que o possam ser, ou seja, listas fechadas. Com isto, estamos
perante uma tipicidade taxativa e não exemplificativa.
 Art. 2º e 3º: fatos jurídicos sujeitos a registo predial. Estes fatos são os mais relevantes
a nível pessoal ou patrimonial (ex: restrição de direitos, restrição administrativa de
bens). Contudo existem casos como a nossa atividade profissional é relevante, mas
não está sujeita a registo.
 A consagração deste princípio no nosso ordenamento jurídico não é unanimemente
aceite pela doutrina, argumento que o código não indica fatos concretos em algumas
das alíneas dos artigos citados – ex: art. 2º nº1-a) – aqui o legislador limita-se a
enunciar os fatos sujeitos a registo sem concretizar esses mesmos fatos.
 Essência: não reside na disponibilidade do conservador ou dos interessados fazer
registar fatos jurídicos que estes entendem dever ficar inscritos nas tábuas, ou seja,
não é o querer do conservador em registar certo fato jurídico, que esse fato fica
inscrito como tal.

3) Princípio da presunção da verdade registal/exatidão do registo (art. 7º CRPredial com


remissão para o 350º CC)
 O que consta do registo é juridicamente existente e consequentemente o direito aí
enunciado existe, e existe com a precisa extensão nele refletida.
 Quem consta no registo como titular de um direito real sobre um bem imóvel é de fato
o seu titular e pode, portanto, dispor desse direito.
 Regra Geral: o registo não tem efeito constitutivo, mas sim meramente declarativo.
Trata-se, portanto, de uma presunção iuris tantum, pois pode ser destruída por prova
em contrário. Contudo quem tem a presunção legal em seu favor, escusa de provar o
fato que a ela conduz, pois, o efeito da presunção é de inverter o ónus da prova (art.
350º CC).
 EXCEÇÕES – situações que não beneficiam de presunção:
 Registos que não estão sujeitos ao princípio da legalidade (art. 11 CRCom.);
 Fatos sujeitos a registo, em que o registo é constitutivo, ou seja, não já só a mera
presunção, mas a constituição de um direito (ex: registo de constituição de uma
sociedade comercial – art. 13º nº2 CRCom.)
 Art. 7º: o registo definitivo constitui presunção de que o direito existe e pertence ao
titular inscrito, nos precisos termos em que o registo define.

4) Princípio da publicidade (art. 104º)


 Qualquer pessoa tem o direito de pedir informações sobre a titularidade dos direitos
inscritos no registo e sobre o conteúdo dos registos
 Corolário da própria finalidade do registo previsto no art. 1º CRPredial
 Art. 104º: carácter público do registo, determinando que qualquer pessoa pode pedir
certidões dos atos de registo e dos documentos arquivados.
 Esta publicidade respeita aos fatos registados de que decorre a titularidade dos
direitos correspondentes. Contudo já não abrange o acesso à informação dos direitos
de que é titular determinada pessoa, pois estas informações só podem ser dadas com
observância do condicionalismo previsto nos arts. 109º-A e ss.
 Os dados suscetíveis de serem comunicados são apenas os que dizem respeito à
situação jurídica de prédios em concreto.

5) Princípio da especialidade
 Tanto o prédio como os direitos que sobre ele possam existir, devem ser definidos no
registo de forma clara e específica, de maneira a afastar quaisquer dúvidas, quer sobre
a sua identificação precisa, quer sobre a extensão dos direitos e vinculações que sobre
ele incidam.
 Os prédios devem ser descritos com o número suficiente de elementos
individualizadores, de forma que se possa identificá-lo sem dúvidas, e que os direitos
que recaem sobre ele, sejam caracterizados de maneira que também não haja dúvidas
sobre a sua verdadeira natureza e alcance.
 Isto ocorre através da inclusão do ato de registo, da descrição daquela realidade. Ex:
assento de nascimento – coloca-se todas as indicações do art. 102º CRC, mesmo nos
casos de crianças abandonadas.
 A sua indeterminação ofenderia o objetivo fundamental prosseguido pelo registo
(certeza jurídica).
 Arts. 82º e ss: elementos que devem constar das descrições dos prédios.
 Arts. 93º e ss: menções que devem constar das inscrições dos fatos sujeitos a registo.
 CONSEQUÊNCIA: não é possível registar universalidades como cafés ou massa de bens
autónoma, pois não têm individualidade suficiente.

6) Princípio da legalidade (art. 68º)


 Compete ao conservador apreciar a viabilidade do pedido de registo, em face das
disposições legais aplicáveis, dos documentos apresentados e dos registos
anteriores, verificando especialmente a identidade do prédio, a legitimidade dos
interessados, a regularidade formal dos títulos e a validade dos atos dispositivos
neles contidos. Isto significa que o registo é submetido ao controlo da legalidade
por um jurista qualificado.
 Contudo o conservador não pode socorrer-se de elementos de fato que não se
encontrem nos documentos apresentados ou não resultem de registos anteriores.
 Art. 53-A CRCom.: dois tipos de registo – depósito, que é o mero arquivamento,
em que se recebe o documento, não o lê ou aprecia e é imediatamente registado –
e a transcrição em que existe um juízo critico que confirma se o documento está
perante a lei (extratacto).

7) Princípio da prioridade (art. 6º)


 Representa no âmbito do direito dos registos, a materialização de que não pode haver
registos que são incompatíveis entre si – ex: uma mesma pessoa com dois registos de
casamento, não tem a sua situação jurídica clara nem segura.
 Como não é admissível que sobre um mesmo prédio possam sobrepor-se direitos da
mesma natureza e extensão pertencentes a pessoas diferentes, teve de se fixar um
meio jurídico capaz de solucionar eventuais conflitos entre direitos sobre o mesmo
prédio.
 Critério de exclusão – direitos incompatíveis;
 Critério de graduação – direito que pode ser satisfeito depois do outro.
 Critério da prevalência do direito primeiramente inscrito no registo,
independentemente da antiguidade do título (art. 6º): o direito inscrito em primeiro
lugar prevalece sobre os que se lhe seguirem relativamente aos mesmos bens, por
ordem da data dos registos, e dentro da mesma data, pela ordem temporal das
apresentações correspondentes.
 Art. 77º nº1: a data dos registos corresponde à da apresentação ou a data que
corresponde aquando foi efetuado o registo.
 O registo provisório, se se tornar definitivo conserva a prioridade que tinha como
provisório.
 Art. 6ª: se tiver havido recusa de efetuar um registo, se posteriormente vier a ser feito,
ele conservara a prioridade correspondente à apresentação do ato recusado.

-------------------------------------------------EXEMPLO----------------------------------------------------------------

1. Abel regista em 1998 um prédio. Posteriormente, em 2006, Abel vende o prédio a Bernardo
esse mesmo prédio. E em 2018, Bernardo, por sua vez, constitui uma hipoteca, registando-a no
registo predial.

Hoje 2022, aparece outra pessoa, Daniel, que pretende registar a propriedade do prédio a seu
favor, apresentando um documento registado em 1990.

RESPOSTA: Utilizando o critério da antiguidade, Daniel, em 2022, poderia registar o prédio em


seu nome, e Abel, Bernardo veriam os seus registos valerem nada. Contudo, o princípio da
prioridade não adota como regra a antiguidade do título, mas sim o direito inscrito em
primeiro lugar que prevalece sobre os que lhe seguirem (art. 6º CRPredial).

2. A 19 de setembro apresentamos o primeiro registo, convertido a definitivo 10 dias depois, a


29 de setembro.

No dia 21 de setembro, foi feito um segundo registo incompatível com o primeiro, e como a
conservatória foi mais rápido, este registo foi convertido a definitivo no dia 25 de setembro.
RESPOSTA: É com base nestas situações, de registos incompatíveis entre si, que no princípio da
prioridade, o legislador estabelece como regra que o registo apresentado em primeiro lugar
prevalece sobre os seguintes (art. 6º). Assim, o registo feito no dia 19 de setembro, mesmo
apenas sendo convertido a definitivo no dia 29 de setembro, tem como data de registo, o da
apresentação do registo, ocorrida no dia 19/09.

8) Princípio da legitimação de direitos (ART. 9º)


 Só pode exercer direitos quem estiver legitimado para o fazer. Isto significa que só tem
legitimidade para exercer direitos sobre imoveis quem estiver munido de título
suficiente para prova do seu direito. Assim só pode transmitir direitos sobre imóveis
quem tiver esses bens inscritos no registo em seu nome, da mesma maneira que só
podem ser constituídos encargos sobre bens imóveis contra a pessoa em nome de
quem eles estão inscritos no registo (art. 9º nº1).
 Este princípio é aplicado pelas entidades que têm competência legal para lavrar tais
títulos – juízes, notários, advogados, solicitadores, câmaras de comércio e indústria e
outras entidades legalmente competentes.
 EXCEÇÕES (art. 9º nº2):
 Partilha, expropriação, venda executiva, penhora, arresto, declaração de
insolvência e outras providências que afetem a livre disposição dos imóveis;
o Partilha – para ser se titular de uma escritura de partilha, não é necessário
estar no nome dos herdeiros, bastando estar no nome do de cujus (art. 34º
nº3 e 35º)
 Atos de transmissão ou oneração outorgados por quem tenha adquirido no
mesmo dia (art. 54º nº3-a) CN2);
 Casos de urgência devidamente justificada por perigo de vida dos outorgantes.
 Art. 55º CN: este artigo dispensa a exigência do nº2 do art. 9º CRPredial em certas
situações.
 Art. 9º nº3: permite que o primeiro ato de transmissão posterior a 1/10/1984, possa
ser titulado sem a exigência prevista no nº1, se for exibido documento comprovativo,
ou seja, documento que prove o direito para fins de registo (ex: certidão da escritura
de habilitação notarial); ou feita justificação simultânea, do direito da pessoa de quem
se adquire.

9) Princípio do trato sucessivo (art. 34º)


 Concatenação sucessiva de titulares
 Fortemente controlado pelo requisito da conexão entre registos – não posso adquirir
ou constituir um direito que não tenha conexão com um direito anteriormente
existente.
 A garantia do cumprimento do primeiro registo é da responsabilidade das entidades
que titulam os fatos sujeitos a registo, enquanto é ao conservador que tem a seu cargo
o registo, que cabe assegurar a observância do segundo.
 A segurança jurídica exige que no registo estejam refletidas todas as vicissitudes da
vida de um direito real, de tal maneira que os assentos sobre um direito sejam
consequência uns dos outros – o atual titular do direito adquiriu do titular

2
Código do Notariado
imediatamente antes inscrito no registo e que o próximo titular só o poderá adquirir
do atualmente inscrito.
 Art. 34º nº1: o registo de um encargo depende da prévia inscrição do prédio em nome
do sujeito que o onera.
 Art. 34º nº2: o prédio deve estar previamente registo a favor de quem transmite –
aquisição de direitos.
 EXCENÇÕES:
 Art. 34º nº3: dispensa a inscrição no registo de aquisição com base em partilhas.
Este número permite que no caso das partilhas seja dispensado o registo aos
outros filhos que não ficarão com o prédio, e faz-se diretamente o registo para o
filho que ficará com prédio dizendo no processo que houve partilha.
 Art. 35º: também é dispensada a inscrição nos casos de herança indivisa
 EXEMPLO: Afonso, titular inscrito, vende a Bela, que regista, um prédio que se
encontra hipotecado. Afonso não paga e o credor instaura o correspondente
processo de execução: não obstante a inscrição de propriedade em nome de Bela,
pode ser registada definitivamente a penhora e a posterior aquisição no processo
de execução em nome do comprador porquanto se trata de fatos – penhora e
posterior venda – consequentes de outro inscrito anteriormente à aquisição de B –
a hipoteca.
 Art. 34º nº4: no caso de existir sobre os bens, registo de aquisição ou reconhecimento
de direito suscetível de ser transmitido ou de mera posse, é necessária a intervenção
do respetivo titular para poder ser lavrada nova inscrição definitiva, salvo se o fato for
consequência de outro anteriormente inscrito.
 O registo pedido com violação no trato sucessivo só pode ser efetuado como
provisório por dúvidas, e conforme reafirma a deliberação do Conselho Técnico da
Direção-Geral dos Registos e do Notariado.

- Fatos e ações sujeitos a registo (art. 2º)


Ações, decisões, procedimentos e providências sujeitos a registo (art. 3º)

 No registo de ações, o que se regista é o articulado em que o problema é suscitado.


Normalmente ocorre na petição inicial, mas pode apenas surgir na reconvenção, na
contestação ou mesmo na réplica, caso em que se regista então um destes articulados.
 Se o prédio objeto da ação estiver omisso no registo, deve proceder-se à abertura da
respetiva descrição.
 O registo das ações tem necessariamente natureza provisória, em que a conversão do
registo para definitivo resulta da decisão judicial que venha a ser proferida e só tem lugar
após o trânsito em julgado dessa decisão.
 As ações que não põem em causa direitos reais, e portanto, não se inserem na formulação
do nº3, não são suscetíveis de registo – ex: ação de despejo ou ação de demarcação – esta
ação tem a ver exclusivamente com a definição exata da localização, extensão e limites dos
prédios confinantes, mas não tem por fim o reconhecimento, constituição, modificação ou
extinção de algum dos direitos referidos no nº2. Também não são suscetíveis de registo, as
ações pessoais e as possessórias. As ações de restituição de posse, uma vez que não põem
em causa qualquer dos fatos previstos no nº2, não são registáveis, mais uma vez; contudo
aqui, o réu pode vir na contestação alegar o seu direito de propriedade sobre o prédio em
causa e pedir o reconhecimento desse direito. Além destas, as ações que não incida sobre
bens determinados também não são suscetíveis de registo – decorre do princípio da
especialidade em que a correta individualização dos bens é um elemento essencial à
certeza jurídica.
 Por outro lado, estão sujeitos a registo, as ações de reivindicação porque tem por fim o
reconhecimento de um dos direitos referidos no nº2. Contudo, se a ação se incide sobre
prédio que se encontra inscrito a favor do autor, nomeadamente quando nela não se
invoca causa de aquisição diferente da que já consta do registo a seu favor, esta ação já
não é suscetível de registo.
 Os embargos de terceiro também estão sujeitos a registo quando dirigidos ao
reconhecimento de um dos direitos previstos no nº2.
 Por sua vez, a impugnação pauliana (ação pauliana individual) – art. 640º CC – tem
natureza pessoal e escopo meramente indemnizatório, não produzindo a sua procedência
qualquer efeito real. Contudo o legislador, no DL nº 116/2008, determinou a sujeição da
impugnação pauliana a registo, porém sem o tornar obrigatório.
 Por fim, um recurso extraordinário de revisão de sentença é suscetível de registo quando
da sua procedência resulte a extinção de relações jurídicas relevantes para o registo
predial.

Obrigatoriedade do registo – prazos e sanções

 O registo da providencia cautelar não é obrigatório se já se encontrar pedido o registo da


ação principal.
 Art. 8º-B nº1 com ressalva do nº3: devem promover o registo de fatos obrigatoriamente a
ele sujeitos, as entidades que celebrem a escritura pública, autentiquem os documentos
particulares ou reconheçam as assinaturas neles apostas, ou quando tais entidades não
intervenham, os sujeitos ativos do fato sujeito a registo.
 Art. 8º-B nº 5: a obrigação de pedir o registo cessa no caso de este se mostrar promovido
por qualquer outra entidade que tenha legitimidade.
 Art. 8º-C – PRAZOS:
− Nº 1: o registo deve ser pedido no prazo de dois meses a contar da data em que os
fatos tiverem sido titulados.
− Nº2: o registo de ações referidas nas alíneas a) e b) do art. 3º nº1, sujeitas a registo
obrigatório, deve ser pedido no prazo de 10 dias após a data da audiência de
julgamento.
− Nº3: o registo das decisões finais proferidas nas ações referidas no nº2, deve ser
pedido no prazo de um mês contar da data do respetivo trânsito em julgado.
− Nº4: o registo das providências deve ser pedido no prazo de um mês a contar da data
em que os fatos foram titulados.
− Nº7: os fatos sujeitos a registo titulados em serviço de registo competente são
imediatamente apresentados.
 O decurso do prazo não extingue a obrigação de registar.
 Art. 8º-D – SANÇÃO PARA O INCUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO DE REGISTAR: pagamento
acrescido de quantia igual à que estiver prevista a título de emolumento (esta sanção não
se aplica aos tribunais nem ao MP). Aqui a responsabilidade pelo pagamento desta quantia
recai sobre a entidade que está obrigada promover o registo, e não sobre aquela que é
responsável pelo pagamento do emolumento (art. 151º nº2).

- Efeitos do registo
A. Presunções derivadas do registo (art. 7º)

O registo definitivo constitui presunção de que o direito existe e pertence ao titular inscrito,
nos precisos termos em que o registo o define. Assim, quem tem o registo a seu favor, não
precisa provar que o direito lhe pertence, porquanto o ónus da prova cabe a quem pretende
sindicar o que consta do registo.

A impugnação judicial de fatos registados faz presumir o pedido de cancelamento do respetivo


registo (art. 8º); assim deixa de ser obrigatório que com a impugnação judicial seja
simultaneamente pedido o cancelamento do registo. A obrigação de pedir o cancelamento do
registo resulta da necessidade de ser evitada uma contradição possível.

B. Eficácia dos fatos entre as partes, independentemente do registo

Estes fatos podem ser invocados entre as próprias partes ou seus herdeiros (art. 4º nº1). O nº2
apresenta-nos a exceção dos fatos constitutivos de hipoteca voluntária cuja eficácia, mesmo
entre as próprias partes, depende da realização do registo.

C. Oponibilidade a terceiros

Os fatos sujeitos a registo só produzem efeitos contra terceiros depois da data do respetivo
registo (art. 5º nº1), significa isto que são inoponíveis a terceiros enquanto não registados,
com exceção da aquisição fundada na usucapião, dos direitos referidos no art. 2º nº1-a) e das
servidões aparentes.

A falta de registo não pode ser oposta aos interessados por quem esteja obrigado a promovê-
la, nem pelos seus herdeiros (art. 5º nº3) – estes estão obrigados à promoção do registo e seus
herdeiros não podem ser considerados terceiros.

A noção de terceiros levantou serias discussões, se se usaria em sentido restrito ou amplo.


Terceiros em sentido restrito são aqueles que do mesmo autor ou transmitente recebem sobre
o mesmo objeto direitos total ou parcialmente incompatíveis. Por sua vez, terceiros em
sentido amplo são aqueles que têm a seu favor um direito que não pode ser afetado pela
produção dos efeitos de um ato que não foi levado ao registo e que é incompatível com aquele
direito.

Seriamos tentados a dizer, que terceiros para efeito de registo predial seriam os titulares de
direitos incompatíveis provindos do mesmo autor ou transmitente, ou seja, seriamos adeptos
do conceito em sentido restrito.

---------------------------------------------------EXEMPLOS------------------------------------------------------------
1. Ana vende a Bruno a fração de um prédio em regime de propriedade horizontal e mais tarde
Ana vende a Carlos a mesma fração, sendo que Bruno não registou ao contrário de Carlos que
registou.

RESPOSTA: Em qualquer das interpretações do conceito de terceiros, o direito de Carlos


prevalece por força do art. 6º nº1 e do art. 5º. Aqui Bruno e Carlos são terceiros para efeitos
de registo predial, porque adquiriram direitos incompatíveis do mesmo transmitente.
É de notar que este registo é aquisitivo, pois estamos perante uma forma de
aquisição denominada de aquisição registal ou tabular, em que o adquirente Carlos é o
terceiro registal. Por sua vez, se Bruno tivesse registado antes de ter sido pedido qualquer
outro registo de direito incompatível com o seu, teria evitado o risco de o seu direito ser
eventualmente posto em causa; por essa razão o registo declarativo é, nesta situação, também
chamado de consolidativo.

2. Diana vende a Eduardo uma fração de um prédio; a mesma fração é posteriormente


nomeada à penhora, sendo Diana o executado e Filipe o exequente. Filipe registou a penhora e
Eduardo não registou a aquisição ou só a registou posteriormente ao registo da penhora.

RESPOSTA: De harmonia com o conceito amplo, o direito de Filipe prevalece e


consequentemente prevalece a penhora, e a eventual venda judicial subsequente porque o
conceito de terceiro não exige que os direitos incompatíveis provenham do mesmo autor. Se
fossemos pelo conceito restrito, a falta de registo não pode ser oposta a Eduardo, donde
resulta que o direito de Filipe não prevalece, porque os direitos incompatíveis não provêm do
mesmo transmitente.

Após muita discussão, chegou-se a um entendimento, que está previso no art. 5º nº4 que
dispõe que terceiros para efeitos de registo predial, são aqueles que tenham adquirido de um
autor comum direitos incompatíveis entre si. Contudo este artigo não é aceite completamente,
uma vez que importa não confundir a noção de terceiro para efeitos de oponibilidade do
registo ou da falta dele com a noção mais ampla e usual de terceiro. Assim, este número devia
limitar-se a restringir o sue comando aos efeitos previstos no art. 3º nº1.

Para além deste problema, a jurisprudência ainda se divide relativamente ao conceito de


transmitente comum e do âmbito de aplicação do nº4 no sentido de incluir ou não a penhora e
a venda executiva, considerando os defensores desta última hipótese que o tribunal se
substitui ao executado, assim, os direitos provêm do mesmo titular inscrito. Deste modo, o
acórdão do STJ de 04/04/2002, concluiu que na venda executiva se gera uma aquisição
derivada em que o executado é o transmitente.
Relativamente à compra e venda consagrado no art. 874º CC, embora a lei não defina o que
deve-se entender por contrato, existe um acordo geral que a sua definição deve encerrar um
encontro de vontades. Assim, acolhemos a posição maioritária, dizendo que o réu recorrente
não deve ser considerado como terceiro para efeitos de registo.

D. Cessação dos efeitos do registo


 Art. 10º: os efeitos do registo transferem-se mediante novo registo e extinguem-se por
caducidade ou cancelamento. Sendo que a caducidade se verifica por força da lei ou pelo
decurso do prazo de duração do negócio (art. 11º); os registos provisórios caducam se não
forem convertidos em definitivos ou renovados dentro do prazo da respetiva vigência.
 Prazo de vigência do registo provisório: 6 meses sempre que outro prazo não seja
legalmente fixado – no caso das inscrições provisorias por natureza, devem respeitar os
prazos previstos no art. 92º.
 Data de início da contagem: a contagem do prazo de caducidade deve ter início a partir da
data da apresentação do pedido de registo.
 Art. 12º - PRAZOS ESPECIAIS DE CADUCIDADE – presunção de caducidade dos efeitos
jurídicos do próprio ato ou fato registado. Estamos então perante uma caducidade de
direito.
o Registos de hipoteca, penhor e consignação de rendimentos (valor não superior a
€5.000): 10 anos sobre a sua data
o Registo de renúncia à indemnização por aumento do valor: 20 anos contados a
partir da data do registo
o Registos de servidão, usufruto, uso e habitação e da hipoteca para garantia de
pensões periódicas: 50 anos contados a partir da data do registo
o estes registos podem ser renovados por períodos de igual duração, a pedido dos
interessados.
 Art. 11º nº4: a caducidade deve ser anotada ao registo, logo que notificada.
 Art. 13º: os registos são cancelados com base na extinção dos direitos.
 Art. 79º nº4: tanto a caducidade como o cancelamento dos registos levam a que sejam
trancadas as cotas de referência das inscrições a que se referem e que constam à margem
da discrição.
 Art. 87º nº1: as descrições não são suscetíveis de cancelamento.

- Vícios do registo
1) Inexistência (art. 14º)
Art. 14º: o registo é juridicamente inexistente quando for insuprível a falta de assinatura do
registo. Este registo não produz quaisquer efeitos e a inexistência pode ser invocada por
qualquer pessoa, a todo o tempo, independentemente da declaração judicial (art.15º).
Art. 78º - SUPRIMENTO DA FALTA DE ASSINATURA:
 Os registos que não foram assinados, devem ser conferidos pelos respetivos
documentos para se verificar se podiam ou não ser efetuados;
 Se os documentos apresentados para o registo não estiverem arquivados e a prova
não poder ser obtida mediante acesso direto à informação constante das
competentes bases de dados, são pedidas certidões gratuitas aos respetivos serviços;
 Se a prova não for suficiente, deve-se solicitar ao interessado a junção dos
documentos necessários no prazo de 30 dias.
 Se se concluir que o registo podia ter sido efetuado, ele é assinado e é feta a anotação
do suprimento da irregularidade com menção da data, ou ao contrário, é consignado
que a falta é nuli e notificado do fato o respetivo titular para efeitos de impugnação.

2) Nulidade (art. 16º)


 Os registos efetuados por serviço de registo incompetente ou assinados por pessoa sem
competência devem ser conferidos com os respetivos documentos para se verificar se
podiam ser efetuados (art. 78º nº2 e 3). Se se concluir que sim, o registo podia ter sido
efetuado, este é confirmado com menção da data; se por outro lado, se concluir que o
registo não podia ter sido efetuado, deve ser instaurado, oficiosamente, processo de
retificação com vista ao seu cancelamento (art. 16º-A).
 Art. 294º e 295º CC: são nulos os atos jurídicos praticados contra disposição legal de
carácter imperativo. Assim, a nulidade do título terá necessariamente de acarretar a
nulidade do registo – isto não está previsto no art. 16º.
 O REGISTO É FALSO QUANDO FOR LAVRADO SEM TÍTULO (ex.). POR SUA VEZ, O TÍTULO É
FALSO QUANDO RELATA REALIDADES QUE NÃO SE VERIFICARAM (art. 372º nº2 CC).
 Art. 16º-B: os interessados podem mediante apresentação de requerimento
fundamentado, solicitar perante o serviço de registo, que se proceda à anotação ao registo
da invocação da falsidade dos documentos. Aqui considera-se interessados, pessoas que
figuram no documento como autor deste e como sujeitos de fato.
 A invocação de falsidade é anotada ao registo respetivo e comunicada ao MP, que deverá
promover a competente ação judicial de declaração de nulidade, cujo registo conserva a
prioridade corresponde à anotação. Estes registos estão sujeitos ao regime da
provisoriedade (art. 92º nº2-b)). Esta anotação é inutilizada se a ação da declaração de
nulidade do registo não for proposta e registada dentro dos 60 dias a contar da
comunicação efetuada ao MP.
 Art. 17º nº1: a nulidade do registo só pode ser invocada depois de declarada por decisão
judicial com trânsito em julgado, sabendo que pode ser invocada a qualquer momento e
pode ser declarada oficiosamente pelo tribunal (art. 286º CC).
 Art. 289º nº1 CC: a declaração de nulidade tem efeito retroativo.
 Se o registo se enfermar de alguma das nulidades previstas no art. 16º-b) ou d), ou ainda
no art. 121º nº2; permite-se que o registo possa ser cancelado com o consentimento dos
interessados, ou em execução de decisão tomada no processo de retificação – tenta evitar-
se que tenha de se aguardar pela declaração judicial de nulidade para poder se efetuar
novo registo, agora pedido ou efetuado de forma regular.
 Art. 17º nº3: a ação judicial de declaração de nulidade do registo pode ser interposta por
qualquer interessado ou pelo MP.
 Art. 17º nº2: esta declaração não prejudica os direitos adquiridos a título oneroso por
terceiro de boa-fé, se o registo dos correspondentes fatos for anterior ao registo da ação
de nulidade.
 Art. 291º nº2 CC: os direitos de terceiro não são reconhecidos, se a ação for proposta e
registada dentro dos três anos posteriores à conclusão do negócio.
 Art. 121º nº4: relativamente à nulidade prevista no art. 16º-e); este artigo permite que os
registos nulos por violação do princípio do trato sucessório possam ser retificados pela
feitura do registo em falta, se não estiver registada a ação de declaração de nulidade.

3) Inexatidão (art. 18º)


 O registo é inexato quando se mostrar lavrado em desconformidade com o título que lhe
serviu de base ou enfermar de deficiências provenientes desse título que não sejam causa
de nulidade. Estes registos devem ser retificados nos termos do processo de retificação
regulado nos arts. 120º e ss.
- Atos de registo
I. Descrição
Art. 79º: a descrição tem por fim a identificação física, económica e fiscal dos prédios, o que
significa que envolve uma enumeração das características individualizadoras de cada prédio de
molde a diferenciá-lo de qualquer outro. Com isto a descrição é um ato de registo e não um
fato sujeito a registo. Nesta descrição, denominada de genérica, além da pessoa que constrói o
prédio, e seria conjuntamente o dono do prédio, não apareceria mais nenhuma inscrição, ou
seja, vendas posteriores para outros donos – cada bem imobiliário constitui uma unidade
registal e é o elemento básico sobre o qual se centram todos os direitos suscetíveis de serem
inscritos.
 Identificação física: indicação da localização do prédio e da respetiva área
 Identificação económica: indicação, além da sua natureza rústica, urbana ou mista e
utilização concreta dos prédios
 Identificação fiscal: indicação do artigo da matriz predial ou NIP (número de
identificação predial).

Art. 80º: as descrições são feitas na dependência de uma inscrição ou de um averbamento, ou


seja, não se pode abrir uma descrição de forma autónoma, terá sempre de haver uma razão
para tal. Contudo poderemos proceder à abertura da descrição no caso de recusa do registo
do prédio omisso, para efeitos previstos no art. 69º nº3.
Art. 80º nº3: o registo das operações de transformação fundiária e das suas alterações, dá
lugar à discrição dos lotes ou parcelas que já se encontrem juridicamente individualizadas.
Art. 79º nº3: lançamento do número correspondente às inscrições em vigor, que representa
uma forma fácil de estabelecer a ligação entre a descrição e as inscrições que lhe respeitam.
Art. 79º nº4: quando as inscrições caduquem ou sejam canceladas, as inscrições ou cotas de
referência devem publicitar que a informação deixou de estar em vigor.

Por sua vez, o art. 81º apresenta-nos as descrições subordinadas, que são o caso de prédios
constituídos em regime de propriedade horizontal ou de direito de habitação periódica. Neste
tipo de prédios, para além da descrição genérica, faz-se uma descrição distinta para cada
fração autónoma ou unidade de apartamento. Esta necessidade surge da existência de direitos
de propriedade sobre parcelas identificáveis de um prédio ou de direitos de habitação
periódica.
Art. 82º: menções gerais das descrições.
Art. 83º: menções das descrições subordinadas.
Art. 84º - concessões em bens do domínio público: as parcelas delimitadas de terreno devem
estar descritas com as necessárias adaptações e respeitando o disposto no art. 82º. Aqui deve-
se fazer apenas uma descrição na conservatória competente com os elementos de
individualização constantes do respetivo título.

 Anexação: junção a um prédio de outro ou outros, ou mesmo parcelas de outros. Tem


como requisitos essenciais a contiguidade dos prédios a anexar, a sua pertença ao mesmo
proprietário e o consentimento deste à formação da nova unidade.
 Desanexação: destacamento de parcela de um prédio para constituir um outro ou juntar a
outro.
 Art. 85º nº2: as inscrições vigentes sobre a desanexação ou anexação são mencionadas na
ficha da nova descrição.
Art. 59º-B: quando o prédio não estiver descrito, deve esta circunstância ser previamente
confirmada pelo serviço de registo da área da sua situação sempre que se pretenda sobre ele
registar fato em serviço de registo diverso.
Art. 86º - descrições duplicadas: reproduzem-se na ficha de uma delas os registos em vigor
nas restantes fichas, cujas descrições se consideram inutilizadas.

Art. 87º: as descrições não são suscetíveis de cancelamento, mas devem ser inutilizadas
quando se verificarem as condições referidas nesta disposição e que no fim das contas têm a
ver com o fato de o prédio descrito ter deixado de existir em si mesmo ou ter deixado de
existir na forma descrita.

II. Averbamento à descrição


Art. 79º: cada vez que necessitamos alterar o registo predial, é necessário fazer um
averbamento a descrição, devemos o procedimento presente no art. 88º e ss. CRPredial. Estas
alterações não prejudicam os direitos de quem neles não teve intervenção desde que
definidos em inscrições anteriores (art. 88º). Os averbamentos devem conter, além do número
de ordem privativo e do número e data de apresentação, menção dos elementos da descrição
alterados, completados ou retificados (art. 89º). Os elementos das descrições devem ser
oficiosamente atualizados quando a alteração possa ser comprovada por um dos modos
previstos no art. 90º.
Enquanto não se verificar a intervenção do documento efetuado com intervenção da
pessoa com legitimidade para pedir a atualização prevista na alínea c) do art. 90º; a
atualização é anotada à descrição, inutilizando-se a anotação se a intervenção não ocorrer
dentro do prazo de vigência do registo que lhe deu origem.
Art. 38ª: é neste artigo que estão referidos os indivíduos com legitimidade para pedir
averbamento às descrições.
A existência de autorização de utilização é anotada mediante a indicação do respetivo
número e da data de emissão.
Os averbamentos à descrição nunca podem ser provisórios.

III. Referências matriciais e toponímicas


Art. 28º-A – procedimento específico: retificação de área por erro de medição. Existem casos
em que pode ser expropriada uma área do prédio, que deixa de pertencer ao prédio, e
pertence ao domínio público; contudo existem casos em que a CM pode obrigar o proprietário
do prédio, a que uma parte do prédio fique a pertencer ao domínio público para, por exemplo,
construir vias de acesso ou parques de estacionamento. Este artigo diz respeito às situações
em que o prédio em si não sofre qualquer alteração, o que acontece é que a área do prédio
está incorretamente medida, e por isso não podemos considerar erro de mediação como
averbamentos à descrição presentes no art. 88º.
Existe então uma regra para estas situações – REGRA DA HARMONIZAÇÃO ENTRE A
DESCRIÇÃO PREDIAL E INSCRIÇÃO MATRICIAL (art. 28º): a informação da descrição predial
devem coincidir com os elementos da inscrição matricial, mas não são todos os elementos
como a localização, área, artigo de matriz (art. 28º nº1). O nº2 do mesmo artigo já nos diz que
a localização já não é um dos elementos em que deve coincidir.
Confrontações: elemento que mais está desatualizado, pois o que está identificado é o nome
do vizinho, e não é algo que se altera quando o vizinho se muda ou falece. Os elementos
identificados no artº. 28, são os que o legislador entendeu como suficientes para garantir que
estamos perante um mesmo prédio numa base de dados e na outra. Contudo isto apenas está
relacionado com a área, porque a área é como uma atividade humana que está sujeita a erro.

Art. 28º-A: a determinação de áreas não é exata, então o legislador estabeleceu tolerâncias
entre a área que consta das Finanças, e a área que consta do registo predial. Se existir
diferença, quanto à área entre a discrição e a inscrição matricial, ou tratando-se de prédio não
descrito entre o título e a inscrição matricial seja dispensada a harmonização se a diferença
não exceder em relação à área maior: a) 20% nos prédios rústicos não submetidos a cadastro
geométrico; b) 5% nos prédios rústicos com cadastro geométrico; c) 10% nos prédios urbanos
ou terrenos para construção.
Prédios omissos: tem-se em conta a inscrição matricial e o título, porque é o título que vai
servir de base ao registo. Contudo isto apenas serve para os prédios omissos, pois se o prédio
estiver descrito, o título não conta para nada, sendo irrelevante.

Quando é necessário ou pretendido proceder à correção de áreas, os arts. 28º-B e 28º-C


apresentam alguns procedimentos que variam consoante não só o prédio está numa zona de
cadastro geométrico, mas também se o erro está ou não dentro dos limites apresentados pelo
art. 28º-A.
Art. 28º-B: a área constante da descrição predial pode ser atualizada, no limite das
percentagens fixadas no 28º-A, se o proprietário inscrito declarar que a área correta é a que
consta da matriz. Aqui não é necessário juntar nenhum documento, bastando a mera
declaração do proprietário inscrito. Contudo, apesar de ser o procedimento mais simples,
apenas pode ser usado uma vez como consta no nº3 do mesmo artigo.

Art. 28º-C nº1: nos casos de divergência de área entre a descrição e o título, e se essa mesma
divergência estiver dentro dos limites expressos no 28º-A, e não utilizou a faculdade do 28º-B,
a atualização da descrição pode ser efetuada se o proprietário inscrito esclarecer que a
divergência provém de simples erro de mediação.
Nos casos em que a divergência ultrapassa os limites expressos no 28º-A, usa-se a faculdade
do nº2 do 28º-C, em que os prédios dentro do cadastro geométrico, o erro de medição é
comprovada com base na informação da inscrição matricial donde conste a retificação da área
e em declaração que confirme que a configuração geométrica do prédio não sofreu alteração;
por outro lado, os prédios sem cadastro geométrico, o erro é comprovado pela apresentação
dos seguintes documentos, podendo o proprietário escolher o procedimento de um alínea ou
de outra – alíneas alternativas.
 Art. 28º-C-b) nº i): planta do prédio e prova de que o técnico está habilitado – termo
de responsabilidade do topografo e cópia da sua cédula profissional;
 Art. 28º-C-b) nº ii): planta do prédio e declaração dos confinantes de que não ocorreu
alteração na configuração do prédio. Se algum dos confinantes se recusar a assinar, o
art. 28º-C nº3, estabelece que a falta de assinatura pode ser suprida pela notificação
judicial do confinante sem oposição no prazo de 15 dias. Se houver oposição isso fica
anotada na descrição predial e a área não se pode alterar.

Se estivermos perante um prédio que confina com cursos de água ou vias públicas, deverá ser
sempre a entidade gestora dessa via ou curso de água assinar.
Art. 59º-A: as alterações da situação dos prédios devem ser comprovadas por comunicação,
preferencialmente eletrónica e automática, da CM competente, oficiosamente ou a pedido do
serviço de registo.

Alterações toponímicas: são alterações de nomes de localidades, ruas e outras vias de


comunicação que envolvem também a necessidade de atualizar as descrições.
Art. 33º: as CM devem comunicar sempre que possível por via eletrónica e automática aos
serviços de registo, até ao último dia de cada mês, todas as alterações de denominações de
vias públicas e de numeração policial dos prédios verificadas no mês anterior. Se não se puder
obter a prova da correspondência entre a antiga e nova denominação, essa falta pode ser
suprida por declaração complementar dos interessados quando a CM, a pedido do serviço de
registo, comunicar a impossibilidade de a estabelecer.

IV. Inscrições
As inscrições visam definir a situação jurídica dos prédios mediante extrato dos fatos a eles
referentes, e só podem ser lavradas com referência a descrições genéricas ou subordinas (art.
91º). A inscrição de qualquer fato respeitante a várias descrições é lavrada na fica de cada uma
destas. O art. 99º apresenta o leque de casos em que é feita uma única inscrição.
Quando o título constitutivo do empreendimento turístico substitua o título constitutivo
da propriedade horizontal, é feita uma única inscrição que abranja os dois fatos.

REGISTOS PROVISÓRIOS
Art. 70 – REGISTO PROVISÓRIO POR DÚVIDA
Recebida uma apresentação de um pedido de registo, é constatada a existência de um
qualquer vício nesse pedido; o conservador vai tomar uma primeira constatação – ou se
considera o vício insanável e recusa de imediato (art. 69º), ou considera que o vício é suprível.
Nesta última opção, o conservador dá um prazo ao interessado/apresentante, para poder
suprir a deficiência encontrada de 5 dias, por força do art. 73º, se a deficiência não puder ser
suprida oficiosamente. Se, contudo, o conservador puder suprir a deficiência, o art. 70º
permite-lhe essa possibilidade – espécie de princípio do inquisitório.
Apenas se não for possível sanar as deficiências nos termos do art. 73º, é que o
conservador vai lavrar o registo provisório por dúvida. Isto significa que enquanto não for
sanado o vício, o registo não produz efeitos, com exceção de um deles – publicidade do registo
provisório. Ao extrairmos uma certidão de um prédio, irá surgir que a informação daquele
registo é provisório por dúvidas.
Art. 11º nº2 e 3: aquele registo irá perdurar durante o prazo de 6 meses. Findo esse prazo
se não forem supridas as deficiências, o registo caduca, ou seja, com a provisoriedade por
dúvidas, é concedido ao interessado um prazo maior para suprir aquelas deficiências.
Mesmo neste regime provisório, aplica-se o princípio da prioridade (Art. 6º nº3):
apresenta-se o pedido de registo a 10 de junho de 2022, e fica provisório por dúvidas, tendo o
prazo de 6 meses a contar daquela data. Nesses 6 meses existem imensos atos intercalados
que podem ocorrer e ser sujeitos a registo. Se o registo for convertido em definitivo, até 09 de
dezembro de 2022, o registo terá a data da apresentação (10/06/2022), e todos os registos
posteriores a este que forem incompatíveis com o mesmo serão excluídos.
ART. 92º - REGISTOS PROVISÓRIOS POR NATUREZA
Estes registos não tem qualquer vício, o que acontece é que a situação ou fato jurídico em
causa é uma situação transitório, situação que por ela própria não goza da tendencial
perpetuidade dos direitos reais.
Com base neste artigo, são nos apresentados um conjunto de situações que não estão
feitas para perdurar no tempo, como por exemplo, as ações judiciais ou o registo do arresto ou
do penhor. O legislador sabe que a situação há de ganhar definitividade, seja por conversão do
registo em definitivo, ou pela eliminação do registo. Este procedimento evita que as pessoas
andem a cancelar registos, ou seja, os direitos iriam ficar registados enquanto não se
lembrassem de cancelar
As alíneas b), c), d), g), i) e j) referem-se a registos que reportam situações de urgência
para publicidade do registo.
EXEMPLO: Andreia instaura uma ação a 02/10/2022 e regista essa mesma ação referente
ao prédio do réu. O réu a 10/10/2022 vende o prédio mesmo sabendo que existe uma ação a
circular. Contudo, sabendo que este registo era provisório, torna-se definitivo a 05/04/2025, e
o autor (Andreia) ganha a ação. O registo definitivo fica com a data inicial de 02/10/2022 por
força do art. 6º CRPredial e todos os atos posteriores incompatíveis com o mesmo são
anulados, ou seja, a vendo do prédio do réu a Cecília a 10/10/2022, também fica nulo. Assim, o
réu responde pela ação e a venda é anulada.
Art. 11 com remissão para o art. 92º nº3: prazos especiais (ex: registo de aquisição – 6
meses sendo renovável até 1 ano).

Os registos provisórios caducam se não forem convertidos em definitivo ou renovados


dentro do prazo da respetiva vigência, sendo de 6 meses o prazo de vigência do registo
provisório, salvo disposição em contrário (art. 11º).
Art. 92º nº3-9 e 12: prazos de validade das inscrições provisorias por natureza.

− Art. 93º: conteúdo das inscrições;


− Os sujeitos passivos são indicados somente pelo nome e NIF, no caso de pessoas
singulares, ou pela denominação da firma ou número de pessoa coletiva, no caso de
pessoas coletivas.
− Art. 93º nº3: se as pessoas não poderem ser identificadas por esta forma, mencionam-se
as circunstâncias que permitam determinar a sua identidade.
− O conteúdo da inscrição deve ser complementado, sempre que possível, com as
convenções ou cláusulas acessórias (art. 94º). O conteúdo ainda deve ser complementado
com as menções especiais previstas no art. 95º nº1.
− Art. 95º nº3: se as condições técnicas permitirem o arquivamento eletrónico dos
documentos junto das inscrições, devem ser efetuadas por remissão para o documento
arquivado que serve de base ao registo.
− Art. 96º: menções especiais do extrato da inscrição da hipoteca.
− Art. 97º: a inscrição que envolva o registo de aquisição ou mera posse acompanhada da
constituição de outro fato sujeito a registo ou da extinção de fato registado determina a
realização oficiosa do registo desse fato.
− Art. 97º nº4: os recibos de quitação assinados pelo credor com menção do número, data e
entidade emitente do documento de identificação civil ou documento de identificação
equivalente, são formalmente suficientes para comprovar a extinção das dívidas de tornas
ou de legados.

V. Averbamentos à inscrição
Art. 100º nº1: as inscrições podem ser completadas, atualizadas ou restringidas por
averbamento, tendo atenção que salvo disposição em contrário, o fato que amplie o objeto ou
os direitos e os ónus ou encargos, definidos na inscrição, apenas poderá ser registado
mediante nova inscrição (art. 100º nº2). Aqui os averbamentos às inscrições de fatos
respeitante a várias descrições são lavrados em cada uma das fichas respetivas (art. 100º nº4).
Art. 101º nº1 e 2: fatos registos por averbamento às respetivas inscrições;
Art. 100º nº3: os averbamentos referidos no nº1 podem ser feitos provisoriamente por
dúvidas ou por natureza.
Art. 101º nº4: a conversão em definitiva determina o correspondente averbamento oficioso de
alteração ou de cancelamento.
Art. 101º nº5: a inscrição de aquisição, em processo de execução ou de insolvência, de bens
penhorados ou apreendidos, determina o averbamento oficioso de cancelamento dos registos
dos direitos reais que caducam nos termos do art. 824º nº2 CC.
Art. 102: requisitos gerais dos averbamentos
Art. 103º nº 2 e 3: o averbamento de conversão em definitivo, deve conter apenas essa
menção, salvo se envolver alteração da inscrição, tal como acontece com o averbamento de
cancelamento.

- Procedimento de registo
Princípio da legalidade: competência do conservador para apreciar a viabilidade do
pedido de registo, em face das disposições legais aplicáveis, dos documentos apresentados e
dos registos anteriores, verificando especialmente a identidade do prédio, a legitimidade dos
interessados, a regularidade formal dos títulos e a validade dos atos neles contidos (art. 68º).
Assim, só podem ser registados os fatos constantes dos documentos que legalmente os
comprovem.
Art. 69º: leque de casos em que o registo deve ser recusado. O registo só pode ser
recusado se, por falta de elementos ou pela natureza do ato, não puder ser feito como
provisório por dúvidas. A falta de elementos terá de ser entendida como a falta de algum dos
requisitos julgados necessários e suficientes para que terceiros possam tomar conhecimento
das relações jurídicas nele contidas e que lhe podem ser opostas, como seria designadamente
a indeterminação dos sujeitos ou do objeto da relação jurídica. Relativamente à recusa com
fundamento na natureza do ato, acontece, normalmente, nos casos de averbamento que, a
menos que sejam subinscrições, não podem ser registados como provisórios por dúvidas. A
falta de legitimidade do requisitante não seria fundamento de recusa, mas apenas de
provisoriedade por dúvidas.
Arts. 294º e 295º CC: são nulos os atos e os negócios jurídicos celebrados contra
disposição legal de carácter imperativo; assim o pedido de registo de fato violador de
disposição de tal natureza teria também de ser objeto de recusa. Contudo, não será assim se
estivermos perante um ato ou negócio jurídico que apenas é anulável, caso em que dado que a
anulabilidade pode ser sanada por confirmação, deveria ser efetuado um registo provisório
por dúvidas. À luz do art. 92º, o registo deve ser pedido como provisório por natureza.
O despacho de recusa ou de provisoriedade por dúvidas, deve especificar os
fundamentos de fato e de direito que justificam a decisão, sob pena de nulidade.
O conservador não pode exigir prova ou entrar em linha de conta com fatos que
ultrapassam o dispositivo previsto no art. 68º.
A recusa de registo não impugnada, nunca transita em julgado.
Art. 69º nº3: no caso de recusa, anota-se na ficha o ato recusado, a seguir ao número,
data e hora da respetiva apresentação. Assim respeita-se o princípio da prioridade, garantindo
que o ato recusado conserve a prioridade correspondente à data da apresentação se, em sede
de recurso, for considerado que ele deve ser efetuado.
Art. 71º nº 2 e 3: a qualificação dos registos como provisórios por natureza é
notificada aos interessados nos dois dias seguintes, sendo a data da notificação anotada na
ficha.
Art. 72º: impede que qualquer ato sujeito a encargos de natureza fiscal seja
definitivamente registado sem que se mostrem pagos ou assegurados os direitos do fisco, mas
não está sujeita à apreciação do conservador ou do oficial do registo, a correção da liquidação
de encargos fiscais feita nos serviços de finanças. É assegurado o imposto de selo nas
transmissões gratuitas, como também é assegurado o pagamento dos direitos
correspondentes às transmissões operadas em inventário judicial.
Art. 73º: permite a correção de deficiência;
Art. 74º: é permitida a desistência depois de feita a apresentação e antes de efetuado
o registo. Se se tratar de fatos sujeitos a registo obrigatório, é apenas possível a desistência
quando existe deficiência que motive recusa ou for apresentado documento comprovativo da
extinção do fato. A desistência pode ser requerida verbalmente, sendo necessário assinar o
comprovativo do pedido, ou por escrito. A desistência do registo acarreta a perda de
prioridade correspondente à data da respetiva apresentação – um novo pedido de registo
relativamente ao mesmo fato terá prioridade.
Art. 75º: os registos são efetuados no prazo de 10 dias e pela ordem de anotação no
diário, salvo exceções previstas na lei. Relativamente, a cada ficha, os registos são efetuados
pela ordem temporal daas apresentações no diário e fica excluída a subordinação à ordem de
anotação no diário, a feitura dos registos a que deve ser aplicado a faculdade de suprimento
de deficiência nos termos do art. 73º. Se estivermos perante um caso de urgência, o registo
deve ser efetuado no prazo máximo de um dia útil, sem subordinação à ordem de anotação no
diário, mas sem prejuízo da ordem a respeitar em cada ficha. Nestes casos, é competente o
conservador, sem prejuízo da competência atribuída pelo art. 75º-A aos oficiais de registo para
atos de registo aí previstos, bem como para aqueles em relação aos quais o conservador lhes
possa delegar essa competência.

- Publicidade e meios de prova


Carácter público do registo
 Qualquer pessoa pode pedir certidões dos atos de registo e dos documentos arquivados,
bem como obter informações verbais ou escritas sobre o conteúdo de uns e de outros (art.
104º). Contudo apenas os funcionários da repartição podem consultar os livros, fichas e
documentos, de harmonia com as indicações dadas pelos interessados (art. 105º).
 A publicidade diz respeito só aos atos de registo e aos documentos arquivados, não
abrangendo, por conseguinte, quaisquer informações sobre a situação patrimonial e
financeira dos titulares dos titulares.
 Este carácter, contudo, está condicionado pela necessidade de respeitar as normas de
proteção dos dados pessoais, consagrados nos arts. 26º e 35º CRP no RGPD. Esta
publicidade tem por objetivo a segurança do comercio jurídico imobiliário (art. 1º
CRPredial). Este condicionalismo exige que o acesso aos dados pessoais constantes dos
registos seja limitado à publicidade das situações jurídicas que relevem da segurança do
comércio jurídico imobiliário, o que levaria a conhecer da legitimidade do interesse de
quem solicita as certidões ou as informações relativas a pessoas singulares.
 Art. 106º: as bases de dados do registo predial têm por finalidade organizar e manter
atualizada a informação respeitante à situação jurídica dos prédios, com vista à segurança
do comércio jurídico, não podendo ser utilizada para qualquer outra finalidade com aquela
incompatível.
 Art. 108º: os dados pessoais respeitantes aos sujeitos do registo que podem ser recolhidos
são o nome, estado civil, e sendo solteiro, menção de maioridade ou menoridade, nome
do cônjuge e regime de bens, residência habitual ou domicílio profissional e o NIF.
 Aos apresentantes dos pedidos de registo, são recolhidos o nome, residência habitual ou
domicílio profissional, NIF, número do documento de identificação ou da cédula
profissional, e ainda o número de identificação bancária.
 Art. 109º: os dados pessoais constantes das bases de dados são recolhidos do pedido de
registo e dos documentos apresentados.
 Art. 109º-C: permite que certos indivíduos possam ter acesso direto aos dados referidos
no art. 109º-A nº1 e 2.

- Retificação do registo
Arts. 120-132º-C: os registos inexatos e os indevidamente lavrados devem ser
retificados, por iniciativa do conservador logo que tome conhecimento da irregularidade ou a
pedido de qualquer interessado ainda que não inscrito. Os registos indevidamente lavrados
que enfermem de nulidade nos termos do art. 16º-b) e d), por terem sido lavrados com base
em títulos insuficientes para a prova legal do fato registado ou por terem sido efetuados por
serviço de registo incompetente ou assinados por pessoa sem competência podem ser
cancelados com o consentimento dos interessados ou em execução de decisão tomada no
processo de retificação (art. 121º nº2).
Art. 121º nº5: os registos que foram lançados em ficha distinta daquela em que
deveriam ter sido lavrados, são oficiosamente transcritos na ficha que lhes corresponda,
anotando-se ao registo errado a sua inutilização e a indicação da ficha em que foi transcrito.
Também os registos afetados por deficiências não expressamente enquadráveis nas
irregularidades típicas do registo, devem ser retificadas, aplicando-se o processo previsto nos
arts. 120º e ss.
A iniciativa do processo cabe ao conservador, logo que este tome conhecimento da
irregularidade, ou a pedido de qualquer interessado, ainda que não inscrito.
Art. 121º nº3 e 4: a retificação do registo é feito por averbamento, contudo os registos
nulos por violação do princípio do trato sucessivo são retificados pela feitura do registo em
falta se ainda não tiver sido registada ação de declaração de nulidade.
Art. 122: a retificação do registo não prejudica os direitos adquiridos a título oneroso
por terceiros de boa-fé, se o registo dos fatos correspondentes for anterior ao registo da
retificação ou da pendência do respetivo processo.
Art. 123º: o pedido de retificação deve especificar os fundamentos e a identidade dos
interessados, e deve ser acompanhada dos meios de prova necessários e do pagamento dos
emolumentos devidos. A falta de pagamento de preparo é considerada uma causa de rejeição
do pedido sem prejuízo do disposto no art. 121º nº9.
Se a retificação tiver sido requerida por todos os interessados, é retificado o registo
sem necessidade de outra qualquer formalidade quando se considere em face dos
documentos apresentados (art. 124º). O art. 125º refere que, mesmo quando isto não
acontece, existem casos de dispensa de consentimento dos restantes interessados não
requerentes; aqui a retificação que não seja suscetível de prejudicar direitos dos titulares
inscritos é efetuada, para além de estabelecer uma presunção de que da retificação não
resulta prejuízo para a herança, se tal for declarado pelo respetivo cabeça-de-casal.
Art. 126º nº1 e 2: fora estes casos, o processo de retificação prossegue com o
averbamento ao respetivo registo da pendência da retificação, com referência à anotação no
diário do pedido ou do auto de verificação da inexatidão, não prejudicando este averbamento
o decurso do prazo de caducidade a que o registo retificando esteja sujeito. O averbamento é
oficiosamente cancelado mediante decisão definitiva.
Art. 127º: quando o pedido se prefigurar como manifestamente improcedente, o
conservador deve indeferi-lo liminarmente, por despacho fundamentado de que notifica o
requerente. A decisão pode ser impugnada nos termos do art. 131º, contudo o conservador
face aos fundamentos alegados no recurso, pode reparar a sua decisão de indeferir
liminarmente o pedido, mediante despacho fundamentado que ordene o prosseguimento do
processo.
Art. 129º: os interessados são notificados no prazo de 10 dias para impugnarem os
fundamentos do recurso. Se os interessados forem incertos, deve-se notificar o MP, e são
feitas nos termos gerais da lei processual civil. As notificações editais são feitas pela simples
afixação de editais pelo prazo de 30 dias, no serviço de registo da situação do prédio, na sede
da junta de freguesia da situação do prédio.
Art. 130º: recebida a oposição ou decorrido o respetivo prazo, o conservador procede
às diligências necessárias de produção de prova. A prova testemunhal tem lugar mediante a
apresentação das testemunhas pela parte que as tiver indicado, em número não superior a
três. A perícia é requisitada pelo conservador ou realizada por perito a nomear (art. 467º CPC).
O conservador pode em qualquer caso, proceder às diligências e produção de prova que
considerar necessárias.
Art. 131º: a decisão sobre o pedido de retificação pode ser impugnada mediante
interposição de recurso hierárquico. A interposição faz precludir o seu direito à interposição de
recurso hierárquico e equivale à desistência deste quando por si já interposto. Determina
também a suspensão do processo de recurso hierárquico anteriormente interposto por
qualquer outro interessado até ao trânsito em julgado da decisão que ponha termo àquela
impugnação. Tem legitimidade para recorrer qualquer interessado e o MP, têm efeito
suspensivo e devem ser interposto no prazo de 10 dias, por meio de requerimento onde são
expostos os respetivos fundamentos.
Apresentada a impugnação, são notificados os interessados, no prazo de 10 dias, para
impugnarem os seus fundamentos. Se não houver lugar a qualquer notificação ou findo o
prazo referido, o processo é remetido à entidade competente (art. 131º-A).
Art. 131º-B: a decisão proferida é notificada aos recorrentes e demais interessados e
comunicada ao serviço de registo. Se o recurso tiver sido julgado improcedente, o interessado
pode ainda impugnar judicialmente a decisão sobre o pedido de retificação; qualquer outro
interessado na parte que lhe for desfavorável, pode impugnar judicialmente decisão nele
proferida.
Art. 131º-C: a impugnação judicial é proposta mediante apresentação do
requerimento no serviço de registo competente, no prazo de 10 dias a contar da data da
notificação da decisão, devendo o processo ser remetido ao tribunal no prazo de dois dias,
instruído com o processo de recurso hierárquico.
Art. 132º: o juiz que tenha intervindo no processo donde conste o ato cujo registo está
em causa, fica impedido de julgar a impugnação judicial.
Art. 132º-A: pode interpor recurso para o tribunal da Relação, os interessados, o
conservador e o MP. O recurso, que tem efeito suspensivo, deve ser interposto no prazo de 30
dias; podendo sempre que seja admissível recurso, recurso para o STJ.
Art. 132º-B: após trânsito em julgado da sentença ou do acórdão proferido, o tribunal
devolve à conservatória o processo de retificação.
Registo comercial

Registo de fatos referentes a pessoas singulares ou coletivas, que exercem uma


atividade económica mercantil. Mas não apenas fatos referentes exclusivamente às pessoas,
porque este registo abrange também o estabelecimento individual, de responsabilidade
limitada que não revestindo natureza pessoal, mas sim patrimonial, nem gozando de
personalidade jurídica, está indissoluvelmente ligado a uma pessoa singular que exerça ou
pretenda exercer uma atividade comercial. Esta pessoa só pode constituir um único E.I.R.I e o
seu nome tem de ser utilizado como firma desse estabelecimento, ainda que eventualmente
acrescido da referência ao objeto do comércio nele exercido.

Objeto (art. 1º nº1 CRCom.) – dar publicidade à situação jurídica dos comerciantes
individuais, das sociedades comerciais, das sociedades civis sob forma comercial e dos
estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada, tendo em vista a segurança do
comércio jurídico. Por força do art. 1º nº2 CRCom, o registo comercial abrange também as
cooperativas, as empresas públicas [organizações empresariais constituídas sob a forma de
sociedade de responsabilidade limitada – art. 1º nº5 DL nº 133/2013, de 03/10], os
agrupamentos complementares de empresas e os agrupamentos europeus de interesse
económico bem como outras pessoas singulares e coletivas a ele legalmente sujeitas. Exclui-se
assim do registo comercial as instituições particulares de solidariedade social.

As associações na hora não estão sujeitas a registo comercial, mas a sua constituição é
tramitada nas conservatórias do registo comercial por força da Lei nº 40/2007, de 24/08, que
criou um regime especial de constituição imediata de associações com personalidade jurídica.
Este regime não é aplicável aos partidos políticos, às pessoas coletivas religiosas, às
associações socioprofissionais de militares e de agentes das forças de segurança (…)
Para se aplicar este regime, deve-se optar por uma denominação constituída por expressão de
fantasia previamente criada e reservada a favor do Estado; e optar por estatutos de modelo
aprovado por deliberação do conselho diretivo do IRN, desde que o mesmo se adeque ao fim
da associação que se pretende constituir.

Formalidade do registo

A regra geral é de que basta um simples documento particular escrito, dispensando


assim a formalização por meio de escritura pública ou outro documento autêntico. No
entanto, por força do art. 4º-A CSC, a exigência de forma escrita, de documento escrito ou de
documento assinado, considera-se cumprida ou verificada no caso de o suporte em papel ou a
assinatura serem substituídos por outro suporte ou por outro meio de identificação, desde que
sejam assegurados a inteligibilidade, durabilidade e autenticidade.

Formas e âmbito de registo

O art. 57º determina que a cada entidade sujeita a registo seja destinada uma pasta,
guardada na conservatória situada no conselho da respetiva sede, onde são arquivados todos
os documentos respeitantes aos atos submetidos a registo, podendo ser determinado por
despacho o arquivo dos documentos em suporte eletrónico em substituição do arquivo
previsto nas pastas.
Os documentos arquivados em suporte eletrónico, tem força probatória igual à dos originais
(art. 57º nº3).
Os documentos que servem de base ao registo lavrado por transcrição são obrigatoriamente
arquivados, agora em suporte eletrónico (art. 59º). No registo por depósito, os documentos
são arquivados na sede da sociedade (art. 242º-E nº3 CSC); e a empresa deve facultar o acesso
a esses documentos a qualquer pessoa que demonstre ter um interesse aceitável na sua
consulta, no prazo de 5 dias a contar da solicitação (nº4).

Os registos podem ser efetuados por transcrição ou por depósito (art. 53º-A).
O registo por transcrição consiste em o conservador extrair do título o fato sujeito a
registo, e inscreve-o. Já o registo por depósito consiste no mero arquivamento de documentos
que titulam fatos sujeitos a registo. Contudo, chamar “registo” ao mero arquivamento de
documentos, sem qualificação pelo conservador, representa um manifesto abuso da
linguagem jurídico registal.
A competência para realizar os registos por depósito é diferente da competência para
realizar registos por transcrição, como explica o art. 55º. Os funcionários têm competência
para os registos por depósito, ou seja, qualquer funcionário pode registar registos por
depósito; contudo só o conservador ou algum substituto pode realizar registos por transcrição.
Isto acontece porque nos registos por depósito não existem nenhuma apreciação crítica do
documento, apenas um “mero arquivamento” no ficheiro de uma empresa ou sociedade.
Os registos por depósito não estão sujeitos ao princípio da legalidade previsto no art.
47º. O conservador vai verificar se o registo é viável em face das disposições legais aplicadas,
dos documentos apresentados e dos registos anteriores, especialmente a legitimidade das
pessoas; assim este princípio só se aplica aos registos por transcrição, e é por causa disso que
só o conservador pode registar este tipo de registo.
A data do registo por transcrição é a da apresentação, ou se desta não depender, a
data em que tiver lugar, a data do registo por depósito é a do respetivo pedido, mas a data do
pedido do registo da prestação de contas é a do respetivo pagamento por via eletrónica. Os
atos de registo por transcrição são efetuados em suporte informático sendo as inscrições e
averbamentos lavrados por extrato, decorrendo deles a matrícula (art. 58º).
Só o registo por transcrição definitivo constitui presunção de que existe situação
jurídica, nos precisos termos em que é definida, estando sujeita a despacho de qualificação
(art. 47º), enquanto a promoção do registo por depósito é da responsabilidade da sociedade
ou outra entidade em causa e não beneficia de presunção de verdade legal (art. 11º CSC).
O prazo de feitura do registo por transcrição é de 10 dias pela ordem de anotação ou
da sua dependência, ou até apenas de um dia útil se for requerida urgência, a menção na ficha
do registo por depósito é efetuado no próprio dia em que foi pedido.
Ao registo por transcrição não se aplicam os princípios do trato sucessivo nem o
princípio da prioridade, pois o art. 12º (com remissão para o art. 242º-C) apenas prevê a sua
aplicação aos fatos relativos às mesmas quotas ou partes sociais, sujeitos apenas a registo por
depósito. O art. 31º CRCom. apresentava o princípio do trato sucessivo, revogado em 2008.
Esta revogação levou que nascesse uma controvérsia: há quem defenda que face à revogação
deste artigo, o princípio do trato sucessivo não se aplica aos fatos sujeitos a registo comercial.
No Código das Sociedades Comerciais, é o art. 242º-D que apresenta este princípio que
continua a ter aplicação plena nesse código, contudo só se aplica aos registos por transcrição,
não aos de depósito.
Existe uma exceção pela positiva. O registo de constituição da sociedade, presente no
art. 13º CRCom. com remissão para o art. 5º CSC, é um registo constitutivo, ou seja, só a partir
dele, do registo dele, é que a sociedade adquire a personalidade jurídica e o contrato é eficaz
entre as partes.
São provisórios por dúvidas as inscrições de fatos sujeitos a registo cujo pedido se não
mostre instruído com todos os documentos legalmente exigíveis, falta essa que todavia não
constitua fundamento para um despacho de recusa do registo por não ser subsumível a
qualquer dos casos para tanto legalmente previstos; ou seja, os registos podem ser lavrados
provisórios por dúvidas quando exista alguma deficiência no procedimento do registo que não
possa ser suprida nos termos do art. 52º (remissão para o art. 49º), não existindo registo
provisório por natureza no registo comercial. São provisórios por dúvidas as inscrições de fatos
sujeitos a registo.
O registo comercial é obrigatório para os fatos previstos no art. 15º, em que o prazo
normal é de 60 dias (2 meses).

Vícios do registo

1) Nulidade (art. 22º)

A nulidade carece de ser declarada judicialmente, e alguns registos nulos, não todos,
podem ser retificados e é a lei que determina aqueles que podem ser retificados.
Por força do art. 294º e 295º CC, são nulos os atos jurídicos praticados contra
disposição legal de carácter imperativo, salvo nos casos em que outra solução resulte da lei.
A nulidade do título, embora não prevista, implica, a nulidade do registo. A nulidade do
registo só pode ser invocada depois de declarada por decisão judicial com trânsito em julgado
(art. 22º nº3), sem prejuízo de ser invocável a todo o tempo e de poder ser declarada
oficiosamente pelo tribunal (art. 286º CC).
Os registos nulos só podem retificados nos casos previstos na lei, como dito
anteriormente, e se ainda não tiver sido registada a ação de declaração de nulidade, o
processo especial de retificação é objeto dos arts. 81º e ss.
Os registos embora nulos produzem todos os seus efeitos, como se fossem válidos,
enquanto não transitar em julgado a decisão que os declare nulos, sem prejuízo do seu efeito
retroativo (art. 289º nº1 CC).
A declaração de nulidade não prejudica os direitos adquiridos a título onerosos por
terceiro de boa-fé, se o registo dos correspondentes fatos for anterior ao registo da ação de
nulidade (nº4).

2) Inexatidão (art. 23º)

O registo é inexato quando se mostre lavrado em desconformidade com o título que


lhe serviu de base ou enferme de deficiências provenientes desse título que não sejam causa
de nulidade.
Estes registos são retificados mediante o processo especial de retificação, regulado nos
arts. 81º e ss., por iniciativa do conservador, logo que tome conhecimento da irregularidade,
ou a pedido de qualquer interessado ainda que não inscrito.

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