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Nota: 5,0.

Ótima resposta, articulando de maneira própria e em linguagem simples os principais pontos


trabalhados. Faltou, no entanto, a resposta para a segunda pergunta (por isso a nota).

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

BACHARELADO INTERDICIPLINAR DE
ARTES

ESTÉTICA II

RESPOSTAS DA PROVA ll

Este escrito consiste em textos, respondendo questões


de caráter estético/filosófico, aplicadas pelo docente
Pedro Augusto da Costa Franceschini.

JENIFFER LIMA DOS SANTOS

14 DE DEZEMBRO DE 2022
SALVADOR/ BA
Resposta da primeira questão:

É inegável que o avanço da técnica afetou drasticamente a forma com que vivemos em
sociedade. A técnica permitiu romper com as barreiras de tempo e espaço geográfico,
possibilitou a comunicação em tempo real e o desenvolvimento de novas ferramentas práticas
para a produção e a reprodução em larga escala. Este processo incontornável transformou por
completo não somente a forma como habitamos o mundo, mas também, a forma como
percebemos o mundo, e é sobre este último ponto que o crítico literário e ensaísta, Walter
Benjamin, discorreu em parte de suas produções textuais, especificamente em “A obra de arte
na época de suas técnicas de reprodução” e “Experiência e pobreza”

Para Benjamin, a técnica alterou o tecido da percepção do sensível e consequentemente a


qualidade das relações humanas. No passado, os seres humanos compartilhavam narrativas
das quais se era possível extrair uma experiência que se acumulava com o passar do tempo,
experiência essa que se sedimentava a partir do coletivo e se renovava a cada nova narração
daquela história. Porém, com o passar dos anos, esta forma de transmitir experiência foi se
perdendo, dando espaço a uma narrativa superficial e insípida, que se baseia apenas na
vivência isolada, incapaz de perdurar e que não acrescenta ao coletivo. O escritor Leandro
Konder, em um trecho de seu livro intitulado Walter Benjamin – o Marxismo da Melancolia,
reforça a visão do crítico literário:

“...O que conta, nas condições criadas pelo capitalismo, não é mais a assimilação de uma
experiência humana que se desdobra no tempo, através de um movimento complexo: é a
informação em toda a sua secura.” (Nova barbárie, p.82)

Consequentemente, o progresso das forças produtivas afetou também o fazer artístico.


Em sua origem, a arte possuía um papel semelhante ao de um objeto de culto, uma produção
autêntica que proporcionava, a pessoa que a observava, um sentimento único, totalmente
vinculado a exclusividade daquele momento, do ato de estar contemplando aquele objeto
“insubstituível” e “sagrado”. Essa energia de autenticidade da arte é nomeada por Benjamin
como “aura”.
Segundo o ensaísta, a arte vem perdendo esta “aura”, pois a forma com que o público interage
com essas produções mudou com a passagem dos anos. O avanço tecnológico permitiu a
reprodução em massa de peças artísticas, rompendo com o contato exclusivo que outrora
dava qualidade a essas produções.
Por outro lado, essa reprodutibilidade técnica possibilitou a democratização ao acesso das
massas a arte. O cinema por exemplo, ao mesmo tempo que replica em quantidade suas
obras, lucrando a partir da reprodução massiva de entretenimento, conseguiu desenvolver
uma linguagem própria, com poder de aprofundar nossa compreensão sensível e de estimular
um pensamento crítico em relação ao mundo que nos rodeia, como podemos notar neste
trecho escrito por Benjamin, em “A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução”.

“Alargando o mundo dos objetivos dos quais tomamos conhecimento, tanto no sentido visual
como no auditivo, o cinema acarretou, em consequência, um aprofundamento da percepção...”
(XIII, p. 22)

É indubitável que as mudanças que ocorreram com o advento tecnológico são definitivas, no
sentido de que não é possível retornar ao estado de experiência que a arte possuía
anteriormente, mas a partir de Benjamin, podemos pensar em uma nova forma de conceber
arte através da técnica, utilizando as forças produtivas como mecanismos de emancipação da
arte, produzindo experiências e promovendo o desenvolvimento de uma visão crítica sobre o
nossas interações com o mundo.

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