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Universidade do Minho

Escola de Engenharia

Carlos Filipe Fernandes Monteiro

CORTE DE PEDRA POR FIO DIAMANTADO

Carlos Filipe Fernandes Monteiro CORTE DE PEDRA POR FIO DIAMANTADO


UMinho | 2014

outubro de 2014
Universidade do Minho
Escola de Engenharia

Carlos Filipe Fernandes Monteiro

CORTE DE PEDRA POR FIO DIAMANTADO

Dissertação de Mestrado
Ciclo de Estudos Integrados Conducentes ao
Grau de Mestre em Engenharia Mecânica

Trabalho efetuado sob a orientação do


Professor Doutor António Alberto Caetano Monteiro

e coorientação do
Professor Doutor João Pedro Mendonça A. Silva

outubro de 2014
Corte de pedra por fio diamantado

AGRADECIMENTOS

Queria agradecer a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, me ajudaram e contribuíram para a
realização deste trabalho, em especial:

Ao Professor Alberto Caetano Monteiro pelo apoio e orientação, que permitiu o evoluir do trabalho.

Ao Professor João Pedro Mendonça pelo tempo que dedicou a este trabalho.

À empresa D2 Technology pela oportunidade concedida para obter experiencia profissional

Muito obrigado!

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Corte de pedra por fio diamantado

RESUMO

A área das rochas ornamentais e de revestimento constitui uma das mais promissoras no sector
mineral, com uma taxa média anual de crescimento da produção mundial superior a 6% ao ano,
nos últimos 20 anos. Constituem um produto com elevado interesse à escala mundial não só devido
às suas propriedades naturais (estéticas e estruturais) mas sobretudo pela diversidade de
aplicações, que incluem a arquitetura e a construção civil. Desenvolvimentos tecnológicos recentes
do tratamento da pedra, desde a pedreira ao acabamento final, fazem prever um elevado
investimento em novos equipamentos e apontam para a necessidade de conduzir investigação
aplicável ao domínio. As tecnologias de corte, têm sido alvo de grande atenção principalmente por
parte das várias indústrias de exploração e transformação de rochas naturais. Parece evidente
contudo existir necessidade de melhor caracterização dos novos processos de corte, em particular
do corte por fio diamantado. Esta técnica é caracterizada por permitir uma grande diversidade de
operações de corte que lhe confere elevada versatilidade, apresentando elevadas taxa e velocidade
de corte, permitindo a obtenção de uma espessura média de corte reduzida, com baixo desperdício
de matéria-prima e um traçado de corte muito regular de que resulta um excelente acabamento
superficial. Os equipamentos utilizados por esta tecnologia apresentam um reduzido custo de
manutenção, permitem realizar multicorte, e, por controlo numérico fica possibilitada a obtenção
de geometrias tridimensionais, quer diretamente por orientação da direção do fio de corte, quer
pela utilização de cabeças de corte com ferramentas convencionais. O corte por fio diamantado é
conseguido por abrasão entre a pedra e a ferramenta, constituída por de pérolas diamantadas
montadas num cabo de aço, o qual é arrastado e orientado por meio de um sistema adequado de
polias. A abordagem desta tecnologia tem sido empírica, pelo que o principal objetivo deste
trabalho incide sobre o estudo sistematizado dos principais parâmetros envolvidos, não só para
melhorar as condições operacionais dos equipamentos em utilização mas também para permitir o
desenvolvimento de equipamentos mais eficazes, robustos e económicos. Neste sentido, foi
modelado um protótipo de um equipamento de corte de pedra por fio diamantado. Posto isto é
notório um elevado desconhecimento relativo à tecnologia de corte de pedra por fio diamantado,
aliado a um enorme potencial evolutivo desta tecnologia de corte, dada a sua vasta aplicação em
diversas operações fabris nas rochas ornamentais.

Palavras-chave: Corte de pedra; Fio diamantado; CNC.

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Corte de pedra por fio diamantado

ABSTRACT

The area of ornamental rocks and coating is one of the most promising in the mineral sector, with
an average annual growth rate of over 6% per year over the last 20 years. Rocks are a product
highly interesting not only because of its natural properties (either structural and aesthetic) but
rather by the diversity of the applications, including architecture and construction. Recent
technological developments in stone treatment from the quarry to the final finished product, do
provide high investment in new equipment and point to the necessity of developing further
research. Cutting technologies have attracted a lot of attention especially from the industries of
natural rocks exploitation and processing. It seems clear however there is a need to better
characterize the new cutting processes, in particular diamond wire cutting technology. The
technique is characterized by allowing a wide range of cutting conditions, what allows great
versatility, high rate and speed cutting operations, so allowing to obtain a mean reduced section
thickness, with low waste of raw materials and a very regular cut path also offering excellent
surface finishing. The equipment used in this technology have reduced maintenance costs,
allowing to perform multi slice, and by using numerical control obtaining three-dimensional
geometries is made possible, either directly by orientation the direction of the cutting wire or by
the use of tools with conventional cutting heads. The diamond wire cutting is done by abrasion
between the stone and the tool, consisting of diamond beads mounted on a steel cable, which is
dragged through a proper system of pulleys. The approach of this technology has been empirical,
which justifies a systematic study of the main parameters involved, not only to improve the
operating conditions of the equipment in use but also to allow the development of more efficient,
robust and economical equipment. In this sense, it was modelling a prototype of a stone cutting
equipment by diamond wire. In resume, it is clear a high ignorance on the diamond wire for stone
cutting technology, combined with a huge evolutionary potential of this cutting technology, given
its wide application in various manufacturing operations in ornamental rocks.

Keywords: Stone cutting; Diamond wire; CNC machines.

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Corte de pedra por fio diamantado

ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO AO TEMA ..................................................................................................... 1
2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA TECNOLOGIA ................................................ 3
3 ESTADO DA ARTE ................................................................................................................ 5
3.1 Enquadramento do fio diamantado nas diversas tecnologias de corte de pedra ............... 5
3.2 Análise do funcionamento da máquina de corte ............................................................... 6
3.2.1 Máquina de corte para exploração de pedra ................................................................ 6
3.2.2 Máquinas convencionais para o desmonte dos blocos rochosos ................................. 7
3.3 Funções preparatórias ....................................................................................................... 9
3.3.1 Torção do fio diamantado ........................................................................................... 9
3.3.2 Execução de emendas do fio diamantado ................................................................. 10
3.3.3 Realização de furos no maciço rochoso .................................................................... 10
3.4 Versatilidade de Orientação do fio diamantado ............................................................. 11
3.5 Fio diamantado ............................................................................................................... 13
3.5.1 Cabo de aço ............................................................................................................... 13
3.5.2 Revestimentos do fio diamantado ............................................................................. 14
3.5.3 Pérolas diamantadas .................................................................................................. 14
3.6 Problemas associados ao processo de corte de pedra com fio diamantado .................... 15
4 ESTUDO DO CORTE DE PEDRA POR FIO DIAMANTADO .......................................... 19
5 PARAMETRIZAÇÃO DO CORTE DE PEDRA POR FIO DIAMANTADO ..................... 25
6 PROSPEÇÃO INDUSTRIAL E ECONÓMICA DA TECNOLOGIA DE CORTE POR FIO
DIAMANTADO ........................................................................................................................... 31
7 PROJETO DO EQUIPAMENTO DE CORTE ...................................................................... 33
7.1 Metodologia de projeto ................................................................................................... 33
7.2 Definição da tarefa.......................................................................................................... 35
7.3 Lista de requisitos ........................................................................................................... 35
7.3.1 Especificações técnicas das rochas ........................................................................... 36
7.4 Análise/Estrutura de Funções ......................................................................................... 37
7.5 Soluções iniciais ............................................................................................................. 38
7.5.1 Colocação da chapa ................................................................................................... 38
7.5.2 Operações antecedentes ao processo de corte ........................................................... 39
7.5.3 Processo de corte ....................................................................................................... 41
7.6 Recolha de chapa ............................................................................................................ 50
7.7 Avaliação das soluções ................................................................................................... 50
8 SELEÇÃO E DIMENSIONAMENTO DOS COMPONENTES CONSTITUINTES DO
PROTÓTIPO ................................................................................................................................. 55
8.1 Sistema de polias ............................................................................................................ 55
8.2 Sistema de medição da tensão exercida sobre o fio diamantado .................................... 56
8.3 Colunas do pórtico .......................................................................................................... 63

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Corte de pedra por fio diamantado

8.4 Sistema de transmissão do movimento sincronizado das estruturas das polias ............. 64
8.5 Sistema de transmissão do movimento sincronizado das colunas do pórtico ................ 66
8.6 Especificações técnicas do protótipo .............................................................................. 66
8.7 Modelação do protótipo.................................................................................................. 67
9 TRABALHOS FUTUROS ..................................................................................................... 69
10 CONCLUSÕES E CRÍTICAS AO TRABALHO DESENVOLVIDO NA ÁREA ATÉ À
ATUALIDADE ............................................................................................................................. 71
11 BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................. 73

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Corte de pedra por fio diamantado

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1- Fio diamantado ................................................................................................................ 3


Figura 2 – Fio helicoidal ................................................................................................................. 4
Figura 3 - Máquina de corte utilizada na lavra de pedra ................................................................. 6
Figura 4 - Máquina de corte multifios ............................................................................................ 7
Figura 5 - Máquina de corte monofio.............................................................................................. 8
Figura 6 - Máquina de corte estacionária controlada por computador ............................................ 8
Figura 7 - Ilustração da torção ocorrida no fio diamantado ............................................................ 9
Figura 8 - Ilustração da execução de emendas .............................................................................. 10
Figura 9 - Ilustração da execução de furos no maciço rochoso .................................................... 10
Figura 10 - Corte vertical normal .................................................................................................. 11
Figura 11 - Corte vertical em "L" .................................................................................................. 11
Figura 12 - Corte horizontal normal .............................................................................................. 12
Figura 13 - Corte horizontal em "L" ............................................................................................. 12
Figura 14 - Corte cego .................................................................................................................. 12
Figura 15 - Composição do cabo de aço ....................................................................................... 13
Figura 16 - Fio Diamantado revestido com molas metálicas ........................................................ 14
Figura 17 - Fio Diamantado com revestimento em plástico ......................................................... 14
Figura 18 - Fio diamantado com revestimento em borracha ......................................................... 14
Figura 19 - Pérolas Sinterizadas .................................................................................................... 14
Figura 20 - Pérolas eletrolíticas ..................................................................................................... 15
Figura 21 - Ilustração do ângulo de ataque do fio diamantado com a superfície de corte nos
diferentes tipos de equipamentos de corte..................................................................................... 16
Figura 22 - Ilustração do desgaste diferencial da pérola diamantada ........................................... 16
Figura 23 - Ilustração da execução de emendas ............................................................................ 17
Figura 24 - Ilustração do efeito cometa na pérola diamantada ..................................................... 17
Figura 25 - Ilustração do revestimento do fio diamantado compactado ....................................... 17
Figura 26 - Ilustração da conicidade das pérolas diamantadas .................................................... 18
Figura 27 - Ilustração da fragmentação das pérolas diamantadas ................................................. 18
Figura 28 - Representação das forças atuantes sobre o fio diamantado ........................................ 19
Figura 29 - Representação esquemática do corte de pedra por fio diamantado e divisão deste em
zonas específicas durante a operação de corte .............................................................................. 20
Figura 30 - Representação esquemática do corte de pedra por fio diamantado e divisão deste em
zonas específicas durante a operação de corte .............................................................................. 21
Figura 31 - Representação do movimento das pérolas diamantadas durante a operação de corte 22
Figura 32 - Forças aplicadas sobre a pérola diamantada durante o processo de corte .................. 22
Figura 33 - Representação do movimento do equipamento de corte em relação ao maciço rochoso
....................................................................................................................................................... 26
Figura 34 – Diagrama das fases do projeto do produto onde são realizadas pesquisas e
desenvolvimentos .......................................................................................................................... 33

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Corte de pedra por fio diamantado

Figura 35 - Diagrama da metedologia de projeto mecânico adotada (Fonte: [31]) ...................... 34


Figura 36 - Árvore de objetivos do projeto ................................................................................... 36
Figura 37 – Dimensões máximas da chapa ................................................................................... 37
Figura 38 – Estrutura de funções do produto ................................................................................ 37
Figura 39 - Ponte rolante ............................................................................................................... 38
Figura 40 – Garra .......................................................................................................................... 38
Figura 41 - Cabo de aço ................................................................................................................ 39
Figura 42 – Ventosas..................................................................................................................... 39
Figura 43 - Atuador linear ............................................................................................................. 40
Figura 44 - Carenagem da estrutura envolvente do fio diamantado ............................................. 40
Figura 45 – Representação esquemática do mecanismo de movimentação da estrutura metálica 41
Figura 46 – Representação esquemática da operação de corte com movimentação da chapa ...... 42
Figura 47 - Representação esquemática da operação de corte com movimentação da Mesa ....... 42
Figura 48 - Representação esquemática da operação de corte com movimentação da estrutura
envolvente do fio diamantado ....................................................................................................... 43
Figura 49 - Representação esquemática do sistema de polias ...................................................... 43
Figura 50 - Representação esquemática do sistema de polias com o sistema de medição da tensão
do fio diamantado.......................................................................................................................... 44
Figura 51 - Ilustração de um transformador diferencial variável linear ....................................... 45
Figura 52 - Representação do sistema de medição da tensão exercida sobre o fio diamantado ... 46
Figura 53 - Representação da deformação da mola helicoidal no sistema de medição da tensão
exercida sobre o fio diamantado ................................................................................................... 46
Figura 54 - Exemplo de configuração da área de trabalho ........................................................... 47
Figura 55 - Representação esquemática da chapa a seccionar sem alocação de suportes ao longo
do perfil de corte ........................................................................................................................... 48
Figura 56 - Representação esquemática das placas de nylon ao longo do perfil de corte gerado . 48
Figura 57 - Representação esquemática dos diferentes tipos placas de nylon .............................. 48
Figura 58 - Representação esquemática do depósito com as placas de nylon .............................. 49
Figura 59 - Representação esquemática do veio do depósito das placas de nylon ....................... 49
Figura 60 - Representação esquemática do alimentador das placas de nylon ............................... 49
Figura 61- Representação do sentido e direção da carga exercida pelos patins da guia linear nas
vigas do pórtico, com base na curvatura do fio diamantado ......................................................... 63
Figura 62- Perfil cantoneira de abas iguais ................................................................................... 64
Figura 63 - Representação esquemática do mecanismo de movimentação da estrutura metálica 65
Figura 64 - Ilustração do sistema de equilíbrio de massas das estruturas das polias .................... 65
Figura 65 – Perspetiva frontal do protótipo .................................................................................. 67
Figura 66 – Perspetiva da retaguarda do protótipo ....................................................................... 67

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Corte de pedra por fio diamantado

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Comparação técnico-económica das tecnologias existentes para a exploração de


Mármore .......................................................................................................................................... 5
Tabela 2 - Comparação técnico-económica das tecnologias existentes para a exploração de Granito
......................................................................................................................................................... 6
Tabela 3 - Parâmetros de corte de pedra por fio diamantado ........................................................ 25
Tabela 4 – Solução 1 ..................................................................................................................... 50
Tabela 5 - Solução 2 ...................................................................................................................... 51
Tabela 6 - Solução 3 ...................................................................................................................... 51
Tabela 7 - Solução 4 ...................................................................................................................... 51
Tabela 8 - Matriz de comparação .................................................................................................. 52
Tabela 9 – Avaliação das soluções ................................................................................................ 53
Tabela 10 - Valores dos vários fatores que formulam as equações 3 e 4 ...................................... 56
Tabela 11 - Valores dos fatores que formulam a equação 5 ......................................................... 56
Tabela 12 - Valores dos fatores que formulam a equação 6 ......................................................... 56
Tabela 13 - Valores dos fatores que formulam a equação 9 ......................................................... 57
Tabela 14 - Valores dos fatores que formulam a equação 12 ....................................................... 58
Tabela 15 - Valores dos fatores que formulam a equação 13 ....................................................... 58
Tabela 16 - Valores dos fatores que formulam a equação 11 ....................................................... 59
Tabela 17 - Valores dos fatores que formulam a equação 7 e 10.................................................. 59
Tabela 18 - Valores dos fatores que formulam a equação 14 ....................................................... 59
Tabela 19 - Valores dos fatores que formulam a equação 15 ....................................................... 60
Tabela 20 - Valores dos fatores que formulam a equação 16 ....................................................... 60
Tabela 21 - Valores dos fatores que formulam a equação 17 ....................................................... 60
Tabela 22 - Valores dos fatores que formulam a equação 8 ......................................................... 61
Tabela 23 - Valores dos fatores que formulam a equação 18 ....................................................... 61
Tabela 24 - Valores dos fatores que formulam a equação 19 ....................................................... 61
Tabela 25 - Valores dos fatores que formulam a equação 20 ....................................................... 62
Tabela 26 - Valores dos fatores que formulam a equação 21 ....................................................... 62
Tabela 27 - Valores dos fatores que formulam a equação 22 ....................................................... 62
Tabela 28 - Caraterísticas da mola helicoidal de compressão dimensionada ............................... 62
Tabela 29 - Valores dos vários fatores intervenientes na equação 23 ........................................... 64
Tabela 30 - Especificações técnicas do protótipo ......................................................................... 66
Tabela 31 – Parâmetros de corte de pedra por fio diamantado ....................................................... 7

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Corte de pedra por fio diamantado

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Representação Gráfica da variação da tensão exercida sobre o fio diamantado ........ 20
Gráfico 2 - Representação Gráfica da variação da tensão exercida sobre o fio diamantado ........ 21
Gráfico 3 - Influência da velocidade periférica e da tração sobre o fio diamantado no desgaste das
pérolas diamantadas no corte de mármores................................................................................... 26
Gráfico 4 - Influência da velocidade periférica e da tração sobre o fio diamantado no desgaste das
pérolas diamantadas no corte de mármores................................................................................... 27
Gráfico 5 - Influência da velocidade periférica e da tração sobre o fio diamantado no desgaste das
pérolas diamantadas no corte de mármores................................................................................... 27
Gráfico 6 - Influência da velocidade periférica e da tração sobre fio o fio diamantado na
produtividade da operação de corte de mármores ......................................................................... 28
Gráfico 7 -Influência da velocidade periférica e da tração sobre fio o diamantado na produtividade
da operação de corte de mármores ................................................................................................ 28
Gráfico 8 - Influência da velocidade periférica e da tração sobre fio o diamantado na produtividade
da operação de corte de mármores ................................................................................................ 29
Gráfico 9 - Evolução das exportações portuguesas dos produtos em pedra ................................. 32

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Corte de pedra por fio diamantado

1 INTRODUÇÃO AO TEMA

As rochas ornamentais1 são um produto com elevado interesse devido às propriedades


características e à sua diversidade de aplicações [1][2]. As aplicações das rochas ornamentais são
consideradas quase ilimitadas, e podem ser divididas em 4 grupos principais: arquitetura e
construção (os grupos com maior relevância), revestimento de elementos urbanos, arte e
decoração. As técnicas de corte aplicadas na exploração de rochas ornamentais provenientes de
maciços rochosos requerem tecnologia, também necessária posteriormente para o processamento
dos blocos resultantes da fase de exploração. Assiste-se hoje à evolução das várias tecnologias de
corte de pedra existentes e ao desenvolvimento de outras, potenciada pelas possibilidades técnicas
atuais. O corte de pedra por fio diamantado é uma técnica recente, e tem proliferado em diversos
sectores industriais, principalmente na construção civil e na exploração das rochas naturais. Esta
tecnologia de corte apresenta uma elevada versatilidade de operações de corte, e é caracterizada
pela sua elevada velocidade de corte. Esta tecnologia consegue reduzir a espessura média de corte
permitindo assim reduzir o desperdício de pedra em comparação com outras tecnologias, e ainda
um traçado de corte muito regular aliado a um excelente acabamento superficial [3]. Contudo, não
se encontram bem especificados os parâmetros de corte mais adequados para o corte dos diferentes
tipos de pedra. Parece pois justificar-se a realização de estudos sobre a tecnologia de corte de pedra
por fio diamantado com o objetivo de desenvolver melhorias, quer ao nível da ferramenta de corte,
quer do controlo dos equipamentos ou ainda no desenvolvimento de novos equipamentos de corte.
O presente trabalho tem como objetivo o estudo da tecnologia de corte por fio diamantado. Numa
primeira etapa foi realizado um levantamento do estado da arte relativo à tecnologia de corte de
pedra por fio diamantado. Seguidamente realizou-se o estudo do corte de pedra por fio diamantado,
análise e reflexão crítica sobre a influência no processo de corte dos diversos parâmetros de corte
associados a esta tecnologia. Por fim foi realizada uma análise relativa à prospeção industrial e
económica da tecnologia de corte de pedra por fio diamantado. Numa segunda, foi adotada uma
metodologia de projeto mecânico que culminou com a realização de um modelo conceptual
relativo a um equipamento de corte por fio diamantado. Este modelo concetual teve por base a
lista de requisitos imposta pela empresa, D2 Technology, e toda a componente teórica presente
neste trabalho. Por fim, são dadas sugestões de trabalhos e áreas de interesse de estudos no futuro
e também as principais conclusões.

1
A Rocha ornamental é definida como uma substância rochosa natural que, submetida a diferentes graus de
modelamento ou beneficiamento, pode ser utilizada em diversas aplicações [4].
Monteiro, Carlos 1
Corte de pedra por fio diamantado

2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA TECNOLOGIA

As rochas ornamentais sempre tiveram, desde a pré-história até aos dias de hoje, um papel
importante na vida do ser humano devido às inúmeras áreas de aplicação em que são empregues.
Segundo factos históricos, os primeiros povos a utilizar rochas ornamentais na construção
urbanística foram os Egípcios e os Mesopotâmios por volta de 3000 antes de Cristo [2].
Posteriormente, os gregos difundiram a utilização de rochas ornamentais por meio da escultura e
da arquitetura [2]. Os romanos por volta do ano 80 antes de Cristo, tornaram-se os pioneiros no
sector da construção urbanística com a utilização de rochas ornamentais e revestimentos, pois estas
ofereciam uma maior robustez e durabilidade da obra [2][5]. Nessa época, Roma explorava o
mármore travertino, numa região denominada de Tivoli [2]. Posteriormente, a exploração foi
deslocada para as montanhas de Apuanas, tendo o centro de produção na região de Carrara, cuja
tradição na exploração de mármore perdura até à atualidade [2].
A construção de casas, principalmente nos países junto ao mar Mediterrâneo, é realizada com
rochas ornamentais devido à abundância das mesmas nesta região e também pelas suas
propriedades térmicas que se adequam ao clima característico do local.
Portugal insere-se na região do Mediterrâneo e tem a tradição de utilizar, principalmente no sector
da construção civil, as rochas ornamentais, fruto dos recursos naturais e do conhecimento existente
no sector industrial em análise. O país tem uma indústria ativa que explora os recursos rochosos
existentes, principalmente o mármore e granito, mas também, possui uma indústria produtora de
equipamentos, máquinas e ferramentas de corte de pedra. Portugal e os países onde se fala a língua
portuguesa, nomeadamente o Brasil, apresentam um importante mercado no sector industrial em
estudo no presente trabalho. Normalmente, as empresas internacionais produtoras dos mais
diversos equipamentos para as várias indústrias do sector, têm o cuidado de traduzir a sua página
de internet para português, o que demonstra a importância do mercado do setor da pedra.
No início do século XX ocorreu uma enorme expansão comercial das rochas ornamentais,
conjugado com um avanço tecnológico notório do parque industrial das diversas empresas
inseridas no sector da exploração de rochas ornamentais bem como no sector de transformação de
blocos rochosos [2].
O presente trabalho aborda o estudo de uma técnica de corte de pedra desenvolvida recentemente.
O corte de pedra por fio diamantado reflete o desenvolvimento tecnológico evidenciado nos
últimos tempos.
O fio diamantado (Figura 1) foi inventado por uma empresa designada por Diamant Boart, há
precisamente 35 anos, cuja finalidade era a extração de mármore [6].

Figura 1- Fio diamantado (Fonte: http://br.all.biz/img/br/catalog/28021.jpeg,


acedido a 10/10/2014)

Monteiro, Carlos 3
Corte de pedra por fio diamantado

As primeiras ferramentas de corte foram aplicadas na exploração de mármore em Carrara, no norte


de Itália [5]. Esta região é conhecida internacionalmente pela bela combinação de cores adjacentes
ao mármore explorado. Pouco tempo após da invenção do fio diamantado, várias empresas ligadas
à exploração de mármore substituíram a ferramenta de corte. Até à data, era utilizado o fio
helicoidal, como ferramenta de corte, para exploração de mármore (Tabela A do Anexo I) [6]. O
fio helicoidal (Figura 2) consiste, no enrolamento de três cabos de aço em torno de um eixo.

Figura 2 – Fio helicoidal


(Fonte: http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQIztpQxJi6c2Q_2XIqqUcp0pZYG7bZBUT9hm--
Eor1A55x7idoFg, acedido a 10/10/2014)

Esta ferramenta de corte só é aplicável em rochas macias, como o mármore, e na atualidade é uma
tecnologia obsoleta. Em meados dos anos 80, a empresa que desenvolveu o fio diamantado,
evoluiu a mesma ferramenta de corte para a lavra de granito [6]. Subjacente à implementação da
ferramenta de corte descrita, foram desenvolvidos novos equipamentos, pérolas diamantadas e
revestimentos mais resistentes ao desgaste e à corrosão, devido às propriedades intrínsecas da
rocha a cortar.
O sucesso foi tal que, a maioria das industrias que exploravam rochas duras e abrasivas, como o
granito, adotou esta nova técnica de corte.
Atualmente, esta técnica de corte de pedra tem vindo a ser empregue em máquinas de desmonte
de blocos rochosos. Devido ao elevado interesse, na tecnologia de corte, da indústria do
esquadrejamento de blocos rochosos, foram desenvolvidas alterações na configuração do fio
diamantado.

Monteiro, Carlos 4
Corte de pedra por fio diamantado

3 ESTADO DA ARTE

3.1 Enquadramento do fio diamantado nas diversas tecnologias de corte de


pedra

O corte de pedra pode ser realizado adotando-se várias técnicas, a escolha depende do tipo de
rocha a cortar, das condicionantes geométricas das mesma e das restrições operacionais de cada
operação. A constante evolução conferida aos equipamentos de corte e às ferramentas de corte
provocou o desuso e consequente extinção de algumas técnicas de corte em detrimento de outras.
Após uma análise das especificações de corte realizada às técnicas de corte de pedra mais usuais,
conclui-se que as técnicas com melhor desempenho e mais lucrativas são o cortador por corrente
e o corte por fio diamantado, como se pode verificar na Tabela 1 e Tabela 2. O fio diamantado é
mais utilizado que o cortador por corrente, uma vez que é uma técnica com um custo de
implementação inferior e com maior versatilidade de tipos de corte [3]. A técnica de corte de pedra
por fio diamantado é caracterizada pela sua elevada versatilidade de operações, elevada velocidade
de corte, obtenção de uma espessura média de corte insignificante e um baixo desperdício de pedra
comparado com outras tecnologias e um traçado de corte muito regular aliado a um excelente
acabamento superficial.

Tabela 1 - Comparação técnico-económica das tecnologias existentes para a exploração de Mármore (Fonte: [3])
Legenda:
EXPL – Uso de
explosivos;
FH – Fio helicoidal;
FD – Fio
diamantado;
CC – Cortador por
corrente;
CMH – Cunha
metálica ou
hidráulica;

Monteiro, Carlos 5
Corte de pedra por fio diamantado

Tabela 2 - Comparação técnico-económica das tecnologias existentes para a exploração de Granito (Fonte: [3])
Legenda:
EXPL – Uso de
explosivos;
FH – Fio helicoidal;
FD – Fio diamantado;
CC – Cortador por
corrente;
CMH – Cunha
metálica ou
hidráulica;

3.2 Análise do funcionamento da máquina de corte

3.2.1 Máquina de corte para exploração de pedra

A máquina de corte utilizada na exploração de pedra (Figura 3) tem na sua constituição dois
motores, elétricos ou a diesel, e a sua estrutura está assente sobre carris, cujo seu deslocamento é
realizado por um sistema cremalheira pinhão [7].

Figura 3 - Máquina de corte utilizada na lavra de pedra (Fonte: https://encrypted-


tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSBCvdKbWBQLrTWV6JuhGRc6tU3uVnfx94LcGq8YcjLy8BverIB,
acedido a 07/11/2014)

Um dos motores é responsável pelo acionamento da polia motora, o outro motor tem a função de
deslocar a máquina de corte sobre os carris. O movimento linear do fio diamantado é realizado
pela rotação da polia motora, posicionada verticalmente e lateralmente à máquina, conjugado a um
Monteiro, Carlos 6
Corte de pedra por fio diamantado

sistema de polias e hastes de acordo com o plano a ser cortado. Durante o processo de corte os
valores da velocidade linear e a velocidade de avanço são introduzidos no controlo numérico da
máquina e mantidos constantes. A conjugação dos parâmetros inseridos no controlo numérico com
as condições de corte originam uma determinada tensão exercida sobre o fio diamantado [7][8]. A
tensão da ferramenta de corte é provocada principalmente pela conjugação do movimento de
avanço, ou seja, o movimento da máquina de corte sobre os trilhos no sentido oposto ao bloco
rochoso a cortar, com o comprimento de fio diamantado interessado no corte. Neste tipo de
equipamentos o comprimento do fio diamantado interessado no corte é variável ao longo do
processo de corte, cujo fenómeno justifica a variação da tensão exercida sobre este. A tensão do
fio diamantado deve ser mantida dentro de valores específicos para evitar o rompimento deste
durante o corte [7]. Porém, atualmente existem equipamentos desenvolvidos, pela maioria dos
fabricantes deste tipo de máquinas, com sistemas de monitorização da tensão sobre o cabo de aço
do fio diamantado2. O principal objetivo destes equipamentos é melhorar a produtividade de corte,
aumentar a longevidade da ferramenta e reduzir o risco de rompimento do cabo de aço.
A ação de corte tem como base o atrito entre as pérolas diamantadas e a superfície rochosa. Durante
processo de corte ocorre a lubrificação com água, onde o principal propósito é reduzir a
temperatura da superfície de corte e da ferramenta de corte. Devido à lubrificação, ocorre uma
formação de lamas abrasivas, proveniente das poeiras e pequenas partículas rochosas misturadas
com água, sendo um fator relevante no processo de corte [3].

3.2.2 Máquinas convencionais para o desmonte dos blocos rochosos

As máquinas de corte multifios (Figura 4), as máquinas de corte monofio (Figura 5) e a máquinas
de corte monofio CNC com dois eixos coordenados (Figura 6), são as que tem maior presença no
parque de máquinas da indústria do setor do desmonte de blocos rochosas.

Figura 4 - Máquina de corte multifios (Fonte: http://img.directindustry.com/images_di/photo-g/diamond-wire-


cutting-machines-multi-wire-granite-69464-3140393.jpg, acedido a 11/11/2014)

2
http://www.poeiras.com/#!master-cut/c1gpq, acedido a 22/11/2014;
Monteiro, Carlos 7
Corte de pedra por fio diamantado

Figura 5 - Máquina de corte monofio (Fonte: http://www.ajfigueiredo.pt/ajf/wp-


content/uploads/2013/05/AJF_Produtos_Monofio_01.jpg, acedido a 15/10/2014)

Figura 6 - Máquina de corte estacionária controlada por computador (Fonte:


http://www.ajfigueiredo.pt/ajf/wp-content/uploads/2013/05/AJF_Produtos_Monofio_Texto_01.jpg,
acedido a 15/10/2014)

As máquinas de corte convencionalmente utilizadas para o desmonte dos blocos rochosos, têm um
sistema simples de polias, onde uma das polias é a polia motora e outra é a polia tratora.
Atualmente, este tipo de equipamentos utiliza duas polias no seu sistema de polias, no entanto já
se verifica a utilização de mais polias por parte de alguns construtores de máquinas. O movimento
de rotação da polia motora provoca o movimento linear do fio diamantado pelo sistema de polias.
A transmissão do movimento é assegurada pelas forças de atrito que se desenvolvem na superfície
de contato do fio diamantado com a polia motora. Neste sentido, o fio diamantado deve ser sujeito
a uma determinada tensão para que a força de atrito gerada, entre a polia motora e o fio diamantado,
seja suficiente para este se movimentar linearmente. Desta forma, o tensionamento ocorre por meio
da movimentação da polia tratora para aumentar a tensão sobre o cabo de aço do fio diamantado.
Após esta fase inicial, de movimentação do fio diamantado, seguem-se os movimentos de corte.
O fio diamantado é posicionado a uma determinada cota, tendo por base as dimensões do bloco a
cortar. Seguidamente, o movimento de avanço pode decorrer em duas direções, a vertical ou
horizontal. A máquina de corte de fio diamantado CNC, mais frequente no parque de máquinas no
setor industrial do desmonte de blocos rochosos, conjuga as duas direções de avanço. Todavia
alguns construtores de equipamentos já desenvolveram máquinas de corte de pedra por fio

Monteiro, Carlos 8
Corte de pedra por fio diamantado

diamantado com 3 e 4 eixos coordenados3. Relativamente ao comando dos vários tipos de


equipamento já referidos, estes, numa fase prematura, eram comandados com velocidades de
rotação e avanço contantes, assim como, a tensão exercida pela polia tratora também era constante
durante o todo o processo de corte. No entanto, tal como sucedeu nas máquinas utilizadas na
exploração de pedra, os fabricantes desenvolveram melhorias nestes equipamentos com o objetivo
de melhorarem o processo produtivo e a longevidade da ferramenta de corte. Atualmente são
produzidos equipamentos em que a tensão do cabo de aço do fio diamantado é medida e
monitorizada pela variação de outros parâmetros de corte45.
O fenómeno abrasivo no qual resulta o corte da pedra, deste tipo de equipamentos de corte, é
semelhante ao descrito nas máquinas de corte para exploração de pedra.

3.3 Funções preparatórias

As funções preparatórias representam todas as tarefas que são realizadas antes do processo de
corte.

3.3.1 Torção do fio diamantado

O fio diamantado é sujeito a uma torção (Figura 7), antes de ser inserido no sistema de polias da
máquina de corte. A torção, aplicada ao fio diamantado, irá animar o mesmo de um movimento
helicoidal sobre o seu próprio eixo durante o processo e corte. Consequentemente irá incitar um
desgaste uniforme na superfície de revolução das pérolas diamantadas.
A torção aplicada, à ferramenta, de corte depende do próprio fabricante, no entanto o seu valor
varia entre 1,5 a 2 voltas por metro a cada 200 horas de funcionamento [3].
A ferramenta de corte é sujeita a observações periódicas, quando esta não desenvolve o movimento
desejado, o processo de corte pára, o fio diamantado é removido da máquina de corte e aplica-se
uma nova torção ao mesmo, por fim este é inserido novamente no sistema de polias da máquina.

Figura 7 - Ilustração da torção ocorrida no fio diamantado


(Fonte: http://img10.imageshack.us/img10/782/67620167qt0.jpg, acedido a 11/11/2014)

3
http://www.breton.it/marble/pt/product/Monowire_Shaping_machines/POKER_4AXES_-_Shaping_machine,
acedido a 22/11/2014;
4
http://www.poeiras.com/#!demetrius/cew1, acedido a 20/10/2014;
5
http://www.ajfigueiredo.pt/portfolio/monofio/, acedido a 20/10/2014;
Monteiro, Carlos 9
Corte de pedra por fio diamantado

3.3.2 Execução de emendas do fio diamantado

A operação de emenda no fio diamantado (Figura 8) consiste na ligação das duas extremidades do
cabo de aço, antes do início da operação de corte, através da aplicação de um tubo metálico para
que o circuito fique fechado [3].
Na realização de uma emenda, é retirado o material protetor do cabo de aço das duas extremidades
e estas são engatadas no tubo metálico, sendo este prensado posteriormente.

Figura 8 - Ilustração da execução de emendas (Fonte: [6])

3.3.3 Realização de furos no maciço rochoso

Na operação de corte com fio diamantado na lavra de pedra é necessária a realização de furos
complanares, que irão delimitar o volume a extrair do maciço rochoso [3].
Os furos são realizados com auxílio de uma perfuratriz (Figura 9) nas direções pretendidas, com
diâmetros na ordem dos 100 mm. Desta forma a ferramenta de corte envolve a superfície de corte
pretendida.

Figura 9 - Ilustração da execução de furos no maciço rochoso


(Fonte: http://s7d2.scene7.com/is/image/Caterpillar/C749232?$Type2$?$cc-g$, acedido a 19/10/2014)

Monteiro, Carlos 10
Corte de pedra por fio diamantado

3.4 Versatilidade de Orientação do fio diamantado

A técnica de corte por fio diamantado é caracterizada pela versatilidade de tipos de corte, uma vez
que é possível a modificação da posição do sistema de polias, que têm a função de orientar o fio
diamantado na operação de corte. Desta forma o corte por fio diamantado pode ser utilizado em
todas as operações de corte, nas explorações de pedra.
Os tipos de corte mais usuais são: o corte vertical normal (Figura 10), o corte vertical em “L”
(Figura 11), o corte horizontal normal (Figura 12), o corte horizontal em “L” (Figura 13) e o corte
cego (Figura 14) [3].
Os tipos de corte mais simples e frequentemente empregues são, o corte vertical normal e o corte
horizontal normal. Os restantes tipos de corte são postos em prática em situações em que o espaço
na exploração de pedra é limitado, quando existem irregularidades do terreno ou devido a outros
factos limitativos que impossibilitem a aplicação dos tipos de corte mais simples. Assim, perante
a versatilidade de orientação do fio diamantado, pelo sistema de polias, é possível o
desenvolvimento de um sistema de polias, mais complexo, para as máquinas de corte de pedra
utilizadas para o desmonte de blocos rochosos, com o objetivo de tornar mais rentável a tecnologia
de corte de pedra por fio diamantado.

Figura 10 - Corte vertical normal (Fonte: [3])

Figura 11 - Corte vertical em "L" (Fonte: [3])

Monteiro, Carlos 11
Corte de pedra por fio diamantado

Figura 12 - Corte horizontal normal (Fonte: [3])

Figura 13 - Corte horizontal em "L" (Fonte: [3])

Figura 14 - Corte cego (Fonte: [3])

Monteiro, Carlos 12
Corte de pedra por fio diamantado

3.5 Fio diamantado

O fio diamantado é constituído por um cabo de aço inoxidável, em que são inseridas pérolas
diamantadas regularmente espaçadas [3][7]. Este fio constitui a ferramenta de corte, cuja
configuração é definida tendo em atenção principalmente o tipo de rocha a cortar e a própria
operação de corte a realizar.

3.5.1 Cabo de aço

Os cabos de aço são constituídos por três componentes estruturais básicos: o núcleo, os filamentos
e o arame (Figura 15). Por norma, os arames são enrolados helicoidalmente em torno do arame
que se situa no centro do filamento (núcleo do filamento) formando assim o próprio filamento. De
seguida os filamentos são enrolados helicoidalmente em torno do núcleo, concebendo o cabo de
aço.

Figura 15 - Composição do cabo de aço


(Fonte: http://communities.ptc.com/servlet/JiveServlet/showImage/2-241982-72264/wire+rope.jpg,
acedido a 16/11/2014)

Atualmente são produzidos cabos de aço com diversas configurações relativas aos filamentos,
mais concretamente à quantidade, disposição e tipo de enrolamento destes em torno do núcleo.
Existe também uma grande diversidade de materiais usados nos componentes que constituem o
cabo de aço [9].
Contudo, em toda a bibliografia estudada, não foi encontrada qualquer informação específica
referente aos cabos de aço utilizados no fabrico de fio diamantado. Tendo em consideração a
importância dos cabos de aço no processo de corte, devido a tensão a que são sujeitos e à influência
desta sobre o corte, é uma das áreas onde, porventura, existe uma maior margem para
desenvolvimento tecnológico.

Monteiro, Carlos 13
Corte de pedra por fio diamantado

3.5.2 Revestimentos do fio diamantado

As pérolas diamantadas são mantidas em posição por separadores adequados, sendo atualmente
utilizadas três configurações possíveis: molas metálicas (Figura 16), revestimento de material
plástico (Figura 17) ou de borracha (Figura 18). Estes sistemas de separação das pérolas
diamantadas constituem também um revestimento de proteção do cabo.

Figura 16 - Fio Diamantado revestido com molas metálicas (Fonte: [6])

Figura 17 - Fio Diamantado com revestimento em plástico (Fonte: [6])

Figura 18 - Fio diamantado com revestimento em borracha (Fonte: [6])

As pérolas constituem o elemento cortante, cabendo ao cabo transmitir o esforço de tração


responsável pelo deslocamento das pérolas sobre a pedra, e assim, realizar o corte por abrasão. Os
elementos separadores permitem acomodar pequenas diferenças de deslocamento das pérolas
durante o corte, mas também funcionam como proteção do cabo contra a abrasão provocada pelas
partículas originadas no corte (resultantes do desgaste da pedra e das próprias pérolas).

3.5.3 Pérolas diamantadas

As pérolas diamantadas são constituídas por um suporte anelar em aço, revestido por pasta
diamantada. Esta pasta pode ser depositada sobre o suporte anelar através dos processos de
eletrólise ou sinterização. As pérolas diamantadas sinterizadas (Figura 19) têm uma maior
circulação comercial devido à sua maior durabilidade e aplicabilidade ao corte de diferentes tipos
de rocha, o que conduz a um custo operacional inferior comparativamente às perolas diamantadas
eletrolíticas [6].

Figura 19 - Pérolas Sinterizadas (Fonte: [6])

Monteiro, Carlos 14
Corte de pedra por fio diamantado

As pérolas diamantadas eletrolíticas (Figura 20) são processadas por deposição galvânica, em que
se utiliza como eletrólito uma mistura de sais de níquel6. O suporte anelar em aço é assim revestido
por uma pasta metálica que contém grãos de diamante embutidos, salientes sobre a sua superfície
[11].

Figura 20 - Pérolas eletrolíticas (Fonte: [6])

Atualmente, a maioria das ferramentas diamantadas é produzida pelo processo de sinterização. A


sinterização por compactação a quente é o processo mais comum utilizado no fabrico de pérolas
diamantadas [12][13]. Neste processo as partículas de diamante são ligadas à matriz metálica por
combinação de interações químicas e físicas. A concentração de partículas de diamante e o tipo de
ligante a ser usado na matriz metálica dependem, fundamentalmente, da natureza e abrasividade
da rocha a ser cortada e da produtividade de corte pretendida [11][14]. A concentração de
partículas de diamante varia entre as 0,26 e as 0,44 gramas de diamante por cm3 de volume do
abrasivo [12]. Os ligantes mais comuns, presentes nas matrizes metálicas, são o tungsténio,
empregue em operações de corte em que o material a cortar tenha uma dureza extremamente
elevada, e o cobalto, destinado ao corte de materiais com durezas elevadas. São também empregues
ligas de cobalto-ferro, ferro-cobalto e ferro-bronze na matriz metálica, com ligantes, para o corte
de materiais macios [13]. A principal função dos ligantes é reter as partículas de diamante na
matriz metálica, evitando a sua perda prematura e assim controlar o desgaste da matriz metálica.
As pérolas diamantadas sinterizadas assumem, na atualidade, o domínio da aplicação em todo o
tipo de operações de corte de pedra por fio diamantado. Contudo, vem sendo evidenciada a
necessidade de estudar a introdução de diferentes elementos de liga como alternativa ao cobalto,
uma vez que a toxicidade deste elemento afeta o seu processamento e também por este apresentar
grandes variações de preço de mercado [14][15][16][17]. Também tem sido colocado a hipótese
de desenvolver novas configurações das pérolas diamantadas ou mesmo do conjunto que constitui
a ferramenta de corte [10][13][18].

3.6 Problemas associados ao processo de corte de pedra com fio diamantado

Os problemas existentes no processo de corte de pedra com fio diamantado são, na maioria das
situações, refletidos na ferramenta de corte. O controlo dos parâmetros de corte que estão
associados ao processo são o fator de maior relevância para a minimização de problemas. As
anomalias mais frequentes, associadas ao processo de corte, são: a variação do ângulo de ataque,
o efeito da ovalização, o efeito cometa, a diminuição do espaçamento entre as pérolas diamantadas
e a rutura do fio diamantado na zona de execução de emendas. Na maior parte das situações, a
aparência da ferramenta de corte é o reflexo do tipo de defeito ocorrido na operação de corte. Desta
forma é de extrema importância a implementação de observações periódicas ao fio diamantado ao
longo do processo de corte.

6
http://www.breu-diatools.com/br/production-process.html, acedido a 23/10/2014;
Monteiro, Carlos 15
Corte de pedra por fio diamantado

A variação do ângulo de ataque (Figura 21) tem uma enorme influência no desgaste das pérolas
diamantadas [3]. Quanto maior for o ângulo de ataque, entre o fio diamantado e a superfície de
corte, maior será a superfície de contacto das pérolas diamantadas interessadas no corte, e
consequentemente, é originada uma maior tensão no fio diamantado, o que provoca uma elevado
desgaste das pérolas diamantadas [3].

Figura 21 - Ilustração do ângulo de ataque do fio diamantado com a superfície de corte nos diferentes tipos de
equipamentos de corte

A ovalização (Figura 22) é uma deformação que ocorre nas pérolas diamantadas resultantes de um
desgaste diferencial [3]. Em condições operacionais ideais, o desgaste da superfície de revolução
das pérolas diamantadas ocorre de forma uniforme. O fenómeno descrito ocorre quando
determinada zona da pérola diamantada é mantida, por um período de tempo elevado, em contacto
com a superfície de corte. Este fenómeno resulta de uma operação, relativa à torção do cabo de
aço do fio diamantado, deficientemente executada por parte do operador.

Figura 22 - Ilustração do desgaste diferencial da pérola diamantada (Fonte: [19])

As emendas (Figura 23) são consideradas zonas críticas de possível rutura na ferramenta de corte
e normalmente, as pérolas adjacentes à zona da ementa apresentam um desgaste diferencial [3].
Assim, a zona da emenda no fio diamantado deve ser alvo de observações periódicas.

Monteiro, Carlos 16
Corte de pedra por fio diamantado

Figura 23 - Ilustração da execução de emendas (Fonte: [6])

O efeito cometa (Figura 24) é um fenómeno provocado pela velocidade de translação ou da


velocidade de avanço do fio diamantado inferior ao ideal [3][19]. Este fenómeno provoca um
aumento do contacto das pérolas diamantadas com a superfície de corte, que implica uma maior
vibração na ferramenta de corte e origina uma quebra acentuada dos diamantes. Esta quebra resulta
num rasto característico ao longo da pérola diamantada.

Figura 24 - Ilustração do efeito cometa na pérola diamantada (Fonte: [3])

A diminuição do espaçamento entre as pérolas diamantadas (Figura 25) é um defeito que ocorre,
principalmente, nos fios diamantados com o revestimento em plástico [3][19]. Quando ocorre o
entalamento de uma pérola diamantada, durante o corte, verifica-se a acumulação do revestimento
junto a esta e consequentemente ocorre uma diminuição do espaçamento entre as mesmas. O
aquecimento gerado, na situação descrita, torna o revestimento plástico compressível.

Figura 25 - Ilustração do revestimento do fio diamantado compactado (Fonte: [3])

Os danos no revestimento do fio diamantado são causados, principalmente, pelo fraco fluxo de
água utilizado no processo de corte [19].
Devido a uma velocidade linear demasiado reduzida do fio diamantado, as pérolas diamantadas
adquirem uma forma geométrica cónica (Figura 26) [19].

Monteiro, Carlos 17
Corte de pedra por fio diamantado

Figura 26 - Ilustração da conicidade das pérolas diamantadas (Fonte: [19])

A faturação das pérolas diamantadas, fenómeno ilustrado na Figura 27, resulta do excesso de
pressão sobre as pérolas diamantadas [19].

Figura 27 - Ilustração da fragmentação das pérolas diamantadas (Fonte: [19])

E notório que os diversos equipamentos utilizados no processo de corte têm uma elevada margem
de evolução, onde o principal objetivo passa por eliminar ou reduzir os problemas associados ao
processo de corte.

Monteiro, Carlos 18
Corte de pedra por fio diamantado

4 ESTUDO DO CORTE DE PEDRA POR FIO DIAMANTADO

O estudo do corte, realizado neste capítulo, é relativo a uma máquina de corte convencional para
o desmonte de blocos rochosos. Este estudo baseia-se nos sistemas de transmissão mecânica
flexíveis, com principal enfoque nas correntes planas, uma vez que foram verificadas algumas
semelhanças relativas à gama de velocidades lineares e ao funcionamento de ambos os sistemas
[20].
A transferência de potência transmitida ao fio diamantado, pela rotação da polia motora, provoca
o movimento deste através do sistema de polias. O fio diamantado possui um movimento
helicoidal durante a operação de corte, devido à torção aplicada ao cabo de aço, com base nas
instruções do fabricante. A transmissão do movimento é assegurada pelas forças de atrito que se
desenvolvem entre a ferramenta de corte e a polia motora [20]. Neste sentido, o fio diamantado
deve ser sujeito a uma determinada pré-tensão cuja grandeza depende: da potência a transmitir, da
velocidade linear e do ângulo de contato com a polia motora [20]. Posto isto, o pré-tensionamento
do fio diamantado é realizado pelo deslocamento de uma das polias do sistema. O sistema de polias
mais comum nas máquinas de corte estacionárias monofio é composto por duas polias, ou seja
uma polia motora e outra tratora (Figura 28).

Figura 28 - Representação das forças atuantes sobre o fio diamantado

A pré-tensão e a tensão exercida sobre o fio diamantado são parâmetros de corte de extrema
relevância no corte de pedra por fio diamantado, tendo por base toda a bibliografia consultada. Por
isso, foi identificada a importância da realização de um estudo sobre a variação da tensão exercida
no fio diamantado durante o corte ( Figura 29 e Gráfico 1). Assim, com base na lei da conservação
da energia, a potência fornecida ao sistema pela rotação da polia motora, é transmitida ao
fenómeno abrasivo entre as pérolas diamantadas e a superfície de corte, desprezando as forças de
atrito.

Monteiro, Carlos 19
Corte de pedra por fio diamantado

Figura 29 - Representação esquemática do corte de pedra por fio diamantado e divisão


deste em zonas específicas durante a operação de corte

Gráfico 1 - Representação Gráfica da variação da tensão exercida sobre o fio diamantado

A tensão máxima exercida no fio diamantado, durante o corte, ocorre entre as zonas 3 e 6,
esquematizado na Figura 29 e no Gráfico 1. Esta fração é relativa ao ramo tenso do fio diamantado
do sistema de polias. A tensão mínima exercida no fio diamantado surge no ramo bambo do
sistema de polias, mais especificamente entre as zonas 1 e 2. Todavia constata-se que a inversão
do sentido de rotação da polia motora, relativamente ao esquema apresentado na Figura 29,
provoca uma variação da tensão sobre a ferramenta de corte um pouco distinta comparativamente
ao estudo realizado anteriormente. A variação da tensão sobre o fio diamantado, tendo em
consideração o sentido de rotação ilustrado na Figura 30, é representada no Gráfico 2.
A Figura 30 e o Gráfico 2 demonstram que a tensão máxima exercida sobre o fio diamantado,
durante o corte, ocorre entre as zonas 2 e 1 do sistema de polias. Enquanto que, a tensão mínima
sobre o fio diamantado surge no ramo bambo do sistema de polias, mais concretamente entre as
zonas 6 e 3.

Monteiro, Carlos 20
Corte de pedra por fio diamantado

Figura 30 - Representação esquemática do corte de pedra por fio diamantado e divisão deste em zonas
específicas durante a operação de corte

Gráfico 2 - Representação Gráfica da variação da tensão exercida sobre o fio diamantado

Assim, conclui-se que a tensão resultante sobre o fio diamantado, durante o processo de corte, é
definida como a conjugação da pré-tensão realizada pela movimentação da polia tratora, com a
variação da tensão oriunda da ação de corte. Também é expectável que para as mesmas condições
de corte, no sentido de rotação da polia motora representado na figura 29, seja evidenciado um
maior degaste sobre a polia tratora do que no sentido inverso de rotação da polia (figura 30). Este
fenómeno justifica-se pelo facto de o fio diamantado se encontrar à tensão máxima na zona da
polia tratora como representado na figura 29 e gráfico1.
Posteriormente, foi estudada e caraterizada a movimentação e as forças exercidas sobre as pérolas
diamantadas, durante a ação de corte.
Os movimentos envolvidos na operação de corte por fio diamantado são movimentos entre a peça
e a superfície de revolução, característicos das pérolas diamantadas (Figura 31) [21]. O movimento
de corte é definido pelo movimento realizado pela ferramenta de corte sobre a superfície rochosa,
que, sem a conjugação do movimento de avanço originaria somente a remoção da pequena camada
da superfície rochosa que se encontra em contato com as pérolas diamantadas. O movimento de
avanço é definido como o movimento da ferramenta ou do bloco rochoso, no sentido e direção de
corte. O movimento efetivo de corte é definido como o movimento resultante dos movimentos de
avanço e de corte, ocorridos em simultâneo. O movimento de rotação do fio diamantado resulta
da torção efetuada, que antecede a colocação deste no sistema de polias. Contudo, é importante
esclarecer que o impacto deste movimento é irrelevante para o movimento efetivo de corte. A
importância deste movimento é justificada pelo desgaste uniforme da superfície de revolução das
pérolas diamantadas ao longo do corte.

Monteiro, Carlos 21
Corte de pedra por fio diamantado

Legenda:
(1) Movimento de corte
(2) Movimento de avanço
(3) Movimento efetivo de corte
(4) Rotação da ferramenta de
corte

Figura 31 - Representação do movimento das pérolas diamantadas durante a operação de corte

O interesse do conhecimento dos esforços de corte sobre as pérolas diamantadas está diretamente
relacionado com a previsão dos fenómenos abrasivos que ocorrem na superfície de corte e também
com o critério para determinação da maquinabilidade das diversas rochas a cortar. Na Figura 32
são representadas as forças aplicadas sobre as pérolas diamantadas, tendo em consideração a
curvatura da superfície de corte gerada ao longo do processo de corte [22]. A curvatura do fio
diamantado é justificada pela flexibilidade característica dos cabos de aço.

Figura 32 - Forças aplicadas sobre a pérola diamantada durante o processo de corte

A força Fa é projetada ao longo da direção de corte e a força Fp é a força perpendicular à direção


de corte [21][22]. A força Fa é responsável pela remoção da superfície rochosa em contato com a
pérola, através da abrasão, tendo em consideração o coeficiente de atrito (µ) [21][22]. A força Fp
é referente à força que a superfície de corte exerce sobre a pérola diamantada [21][22]. As forças
F1 e F1+ ΔF representam o diferencial de tensões exercidas sobre o cabo de aço da ferramenta de
corte, durante o corte. Em suma, são definidas duas equações com base no diagrama de forças
representado na figura 32 [21]:

∑ 𝐹𝑥 = 0 ↔ 𝑇1 cos 𝛼 + 𝑇2 cos 𝛽 + 𝐹𝑎 = 0 (1)

∑ 𝐹𝑦 = 0 ↔ 𝑇1 sin 𝛼 + 𝑇2 cos 𝛽 + 𝐹𝑝 = 0 (2)

Monteiro, Carlos 22
Corte de pedra por fio diamantado

Sandro Turchetta et al (2014) demonstra teoricamente, pela dedução das equações 1 e 2, duas
considerações relativas à pressão exercida sobre as pérolas diamantadas. A força exercida sobre
as pérolas do fio diamantado interessadas no corte é crescente desde a entrada até à saída da rocha
a cortar. Admitindo um valor máximo admissível relativo à tensão exercida sobre o fio
diamantado, controlado pelo controlador do equipamento de corte, a pressão exercida pelas pérolas
diamantadas sobre a superfície de corte aumenta quando a curvatura do fio diamantado aumenta.

Monteiro, Carlos 23
Corte de pedra por fio diamantado

5 PARAMETRIZAÇÃO DO CORTE DE PEDRA POR FIO


DIAMANTADO

O desgaste das pérolas diamantadas sinterizadas não é linear. O mecanismo de desgaste deste tipo
de pérolas consiste no desbaste gradual da matriz metálica, que suporta os diamantes, para que
estes aflorem e se tornem afiados. À medida que os grãos de diamante são desgastados, novos
grãos afloram, devido ao desbaste da matriz metálica, estabelecendo-se assim um ciclo [23].
A tecnologia de corte por fio diamantado é, na atualidade, a tecnologia de corte de pedra mais
difundida no mundo [23]. O custo do fio diamantado representa 40% a 50% do total da operação
de corte, sendo o desgaste das pérolas diamantadas o principal fator económico a considerar na
operação de corte. Assim, é de extrema importância conciliar uma elevada produtividade com uma
satisfatória vida útil da ferramenta de corte. Contudo, é indispensável conhecer a influência dos
parâmetros de corte intrínsecos desta tecnologia de corte [23][24].
A operação de corte de pedra por fio diamantado é afetada por parâmetros controlados e não
controlados, que podem ser sistematizados como se apresenta na Tabela 3. Os parâmetros de corte
controlados referem-se à parametrização da técnica de corte e a aspetos operacionais, ao passo
que, os parâmetros de corte não controlados referem-se às propriedades das rochas a cortar
[23][25]. Os parâmetros controlados são definidos na máquina de corte, principalmente, em função
das propriedades da rocha a cortar [26].

Tabela 3 - Parâmetros de corte de pedra por fio diamantado (Fonte: [23])


Parâmetros não controlados
relacionados com as Parâmetros controlados ou parcialmente controlados
propriedades das rochas
Propriedades do equipamento e
Operabilidade
ferramenta de corte
 Potência da máquina;
 Dureza;
 Velocidade periférica;
 Abrasividade;
 Tensão exercida no fio
 Tensões;  Qualificação do operador;
diamantado;
 Descontinuidades;  Direção de corte;
 Pré-tensionamento;
 Grau de alteração;  Ângulos de ataque do fio
 Caudal e pressão da água;
 Propriedades mineralógicas;  Raio de curvatura do fio
diamantado com o bloco
 Características texturais. diamantado em contacto com a
rochoso.
superfície de corte;
 Configuração do fio
diamantado.

Segundo Douglas Marcon et al. (2012), a posição de corte é um dos parâmetros operacionais que
mais afeta a produtividade de corte. De acordo com o autor é notória uma menor produtividade
nos cortes horizontais (Figura 12) relativamente aos cortes verticais (Figura 10). Este facto é
justificado pela acumulação excessiva de lamas, resultantes da operação de corte, na superfície de
corte. Isto origina um esforço superior do motor principal da máquina de corte, para a conservação
da velocidade periférica da ferramenta de corte. O fenómeno descrito não é tão importante nos
cortes verticais, pois, devido à força da gravidade, as lamas não se acumulam na superfície de
corte. A acumulação excessiva de água na superfície de corte contribui também para a diminuição
da produtividade de corte, uma vez que provoca o efeito de aquaplanagem [23]. Este estudo carece
de uma adequada caracterização quantitativa relativamente a vários parâmetros de corte, de modo
a estabelecer claramente a sua influência relativa, na operação de corte de pedra, e permitir a
realização de trabalhos de verificação que confirmem ou infirmem os resultados apresentados.

Monteiro, Carlos 25
Corte de pedra por fio diamantado

Erlon Cavazzana (2005) concluiu no seu estudo que, quanto maior a superfície de contacto das
pérolas diamantadas com a superfície rochosa, maior será a produtividade de corte (Figura 10,
Figura 12 e Figura 33) [26]. Contudo, existe um equilíbrio entre o comprimento máximo
interessado no corte (em contacto com a superfície rochosa) e a potência máxima útil do
equipamento de corte, pois um excesso de tensão exercida na ferramenta de corte pode originar a
sua rotura. O fenómeno descrito é recorrente nos equipamentos de corte monofio, utilizado nas
pedreiras, em que o comprimento do contacto da ferramenta de corte com a superfície rochosa
varia durante a operação de corte.

Figura 33 - Representação do movimento do equipamento de corte em relação ao maciço rochoso (Fonte: [27])

Os resultados do estudo efetuado por Dr. S. C. Jain et al. (2013), demostram que, do aumento da
velocidade periférica e da tensão do fio diamantado resulta um aumento do desgaste das pérolas
diamantadas (Gráfico 3, Gráfico 4 e Gráfico 5) (Tabela B, Tabela C e Tabela D do Anexo I).

Gráfico 3 - Influência da velocidade periférica e da tração sobre o fio diamantado no desgaste das pérolas
diamantadas no corte de mármores (Fonte: [25])

Monteiro, Carlos 26
Corte de pedra por fio diamantado

Gráfico 4 - Influência da velocidade periférica e da tração sobre o fio diamantado no desgaste das pérolas
diamantadas no corte de mármores (Fonte: [25])

Gráfico 5 - Influência da velocidade periférica e da tração sobre o fio diamantado no desgaste das pérolas
diamantadas no corte de mármores (Fonte: [25])

Relativamente à produtividade de corte, não existe uma demonstrada relação direta provocada pela
variação da velocidade periférica e da tensão do fio diamantado parametrizados na operação de
corte (Gráfico 6, Gráfico 7 e Gráfico 8) (Tabela B, Tabela C e Tabela D do Anexo I). No entanto,
é verificado que o aumento da tensão exercida sobre o fio diamantado origina um aumento da
produtividade de corte.
O desgaste provocado nas pérolas diamantadas é diretamente proporcional à dureza das rochas a
cortar. Já a produtividade de corte é inversamente proporcional à dureza das rochas a cortar [25].
Porém nesse estudo teórico-experimental verifica-se a deficiência da caracterização de diversos
parâmetros de corte importantes, como as propriedades dos mármores a cortar, incluindo a
granulometria, e o valor da dureza, ou as características texturais, estabelecidas qualitativamente
sem indicação de valores de referência quantitativos que possam servir de base para estudos
comparativos. Também não são indicados os parâmetros controláveis, como a configuração da
Monteiro, Carlos 27
Corte de pedra por fio diamantado

ferramenta de corte, o(s) valore(s) da pré-tensão exercida no fio diamantado, a potência e o sistema
de controlo da tensão sobre o fio diamantado da máquina de corte, valores alcançados relativos à
velocidade de avanço, os ângulos de ataque da ferramenta de corte ao bloco rochoso e ainda os
valores da pressão ou caudal da água usados no corte.

Gráfico 6 - Influência da velocidade periférica e da tração sobre fio o fio diamantado na produtividade da
operação de corte de mármores (Fonte: [25])

Gráfico 7 -Influência da velocidade periférica e da tração sobre fio o diamantado na produtividade da


operação de corte de mármores (Fonte: [25])

Monteiro, Carlos 28
Corte de pedra por fio diamantado

Gráfico 8 - Influência da velocidade periférica e da tração sobre fio o diamantado na produtividade da


operação de corte de mármores (Fonte: [25])

O estudo teórico realizado por Sandro Turchetta et al (2014) demonstra que durante a operação de
corte de pedra, o fio diamantado sofre sempre uma curvatura [22]. O valor do raio da curvatura do
fio diamantado é influenciado, principalmente, pela força de tensionamento exercida sobre a
ferramenta de corte [22]. O estudo realizado por Sandro Turchetta et al. (2014) é complementado
por uma componente experimental. O autor construiu um protótipo, cuja velocidade de avanço de
corte é controlada segundo o valor máximo da tensão admissível sobre o fio diamantado inserido
no controlador. A velocidade linear do fio diamantado é mantida constante durante todo o processo
de corte. Neste sentido, Sandro Turchetta et al. (2014) desenvolveu um sistema de medição do
valor da tensão exercida sobre o fio diamantado durante a operação de corte.
O sistema de medição da tensão exercida sobre a ferramenta de corte baseia-se num medidor de
potência de um atuador hidráulico. O atuador hidráulico é responsável, numa primeira fase, por
movimentar a polia tratora até esta provocar uma determinada pré-tensão sobre o fio diamantado.
Essa pré-tensão tem de ser suficiente para que o fio diamantado se movimente no sistema de polias.
Numa segunda fase, durante a operação de corte, o atuador hidráulico será sujeito a uma maior
potência, para que a polia tratora se mantenha na mesma posição, uma vez que se verifica um
aumento da tensão sobre o fio diamantado provocado pela operação de corte. Posteriormente, o
autor estudou qual impacto da pré-tensão exercida pelo atuador hidráulico sobre o fio diamantado.
Durante os diversos testes foram seguidos todos os parâmetros e configurações recomendadas pelo
fabricante relativos à ferramenta de corte. Concluiu-se que o raio de curvatura do fio diamantado
diminui com o aumento da tensão exercida sobre este, durante o corte [22]. O fio diamantado
assume sempre o mesmo raio de curvatura, durante o corte, para o mesmo valor de pressão
exercida pelo atuador hidráulico [22]. Por fim, concluiu-se também que a produtividade de corte
aumenta com a diminuição da pressão exercida do atuador hidráulico sobre a ferramenta de corte
[22]. É importante realçar que também foi verificado que uma pressão, aplicada pelo atuador
hidráulico, abaixo dos 128 MPa origina uma oscilação abrupta do fio diamantado, que provoca o
descarrilamento deste sobre o sistema de polia.
Posto isto, o autor assumiu o valor de 128 MPa como o valor de pressão mínima e de maior
produtividade, demonstrado pelo protótipo. Com base neste valor de pressão exercida pelo atuador
hidráulico otimizado, o autor realizou o corte de vários tipos de pedra com diferentes classes de
dureza com o protótipo construído. Seguidamente, efetuou o corte dos mesmos tipos de pedra com
uma máquina estacionária de corte de pedra por fio diamantado já comercializada e comparou os
resultados.

Monteiro, Carlos 29
Corte de pedra por fio diamantado

Sandro Turchetta et al. (2014) concluí que, o protótipo alcança o dobro da produtividade de corte,
independentemente do tipo de pedra a cortar, comparativamente com a máquina já comercializada
e que foi utilizada no teste [22]. A ferramenta de corte evidência um desgaste uniforme das pérolas
conjugado um boa qualidade da superfície de corte gerada (desvio geométrico de 0.5mm). Os
vários fios diamantados usados nos dois equipamentos de corte em estudo têm, sensivelmente, o
mesmo período de vida útil (13,6 𝑚2 de área cortada por cada metro da ferramenta de corte) [22].
Este resultado da longevidade é um pouco vago, uma vez que existe carência de informação
relativa às rochas cortadas. Mas, segundo os valores de longevidade do fio diamantado presentes
no catálogo da Diamant Boart (2008), este valor de longevidade é nitidamente baixo, tendo em
consideração que foram cortados diversos tipos de rochas com durezas compreendidas entre 1 e 5
[10].
A principal crítica ao trabalho teórico-experimental do autor Sandro Turchetta et al. (2014) é
relativa há omissão do(s) valor(es) de tensão máxima admissível sobre o fio diamantado inseridos
no controlo numérico do protótipo durante os testes realizados. Também não é referenciado como
é que o autor obteve esse(s) valor(es) relativos à tensão máxima admissível sobre o fio diamantado.
Neste estudo tal como no estudo do autor Dr. S. C. Jain et al. (2013) verifica-se a inexistência de
informações relativas às propriedades das pedras cortadas e de alguns parâmetros de corte
importantes, como:
 O caudal de água usado no corte;
 As velocidades de avanço obtidas durante os vários testes;
 A influência da velocidade linear do fio diamantado;
 O valor dos raios ou perfis de curvatura e consequentes ângulos de ataque do fio
diamantado durante o corte dos vários tipos de pedras.
Outro fator relevante, e esquecido por todos os autores, diz respeito ao desgaste evidenciado na
superfície das polias. Esse desgaste das polias está diretamente relacionado com a tensão exercida
sobre a ferramenta de corte e é, sem dúvida, um fator que poderá influenciar fortemente o valor
máximo de tensão suportada pelo cabo de aço do fio diamantado.

Monteiro, Carlos 30
Corte de pedra por fio diamantado

6 PROSPEÇÃO INDUSTRIAL E ECONÓMICA DA TECNOLOGIA DE


CORTE POR FIO DIAMANTADO

As rochas ornamentais constituem uma das áreas mais promissoras no sector mineral. O sector em
análise teve, nos últimos 20 anos, uma taxa média anual de crescimento da produção mundial
superior a 6% ao ano [1].
Esta evolução deve-se ao avanço tecnológico na área da extração de pedra e da transformação dos
blocos rochosos, e possibilitou a inclusão no mercado de tipos rochosos que nunca tinham sido
explorados e consequentemente nunca comercializados.
Atualmente as rochas ornamentais, devido à conjugação das suas qualidades estéticas e estruturais,
apresentam-se como um produto primordial em diversas áreas [2].
As aplicações das rochas ornamentais são consideradas quase que ilimitadas, embora possam ser
divididas em 4 grupos principais: a arquitetura/construção (grupo com maior relevância), o
revestimento de elementos urbanos, a arte e a decoração [2].
No sector industrial das rochas ornamentais, são gerados vários conjuntos de produtos, devido à
enorme diversidade de conjugação de aplicações. Estes produtos podem ser resumidos segundo:
blocos, chapas, placas para revestimentos, ladrilhos modulares, revestimentos e obras
dimensionais ou manufaturadas [2].
Atualmente, os países que se destacam como principais exploradores de rochas ornamentais e de
revestimento são a China, a África do Sul, a Turquia, a Índia, a Itália, o Brasil e a Espanha [1]. Em
alguns dos países referidos, principalmente a China, a Índia e em parte o Brasil, são evidenciados
défices de conhecimentos no corte de pedra e existe pouco desenvolvimento a nível tecnológico,
comparativamente com os países mais desenvolvidos no sector, nomeadamente a Itália e a
Espanha. Contudo, nos últimos anos, o Brasil, a Índia e a China têm-se vindo a desenvolver muito
nas diversas áreas relacionadas com as rochas ornamentais, com a aquisição de equipamentos e
tecnologia [1]. O investimento no sector é justificado pelo crescimento económico dos países em
análise, refletido pelo vigoroso crescimento da construção de habitações decorrentes do processo
de urbanização, e da filosofia e política de exportações.
A técnica de corte de pedra por fio diamantado é considerada por muitos como “uma invenção
fantástica”, devido às excelentes especificações de corte e pelas diversas operações de corte onde
esta é aplicada. Todos os equipamentos com a tecnologia de corte por fio diamantado têm sido
alvo de grande interesse e compra por parte das várias indústrias de exploração e transformação
de rochas ornamentais.
A indústria construtura de máquinas e equipamentos, associados ao corte de pedra, tem uma
importância extrema para todo o sector de rochas ornamentais, pois a evolução deste depende do
desenvolvimento tecnológico ocorrido nas máquinas e equipamentos produzidos [28]. As
indústrias em análise demonstram uma grande evolução devido aos requisitos e solicitações
pretendidas pelo mercado, não só ao nível tecnológico como ao nível organizacional produtivo e
administrativo [28]. Os equipamentos produzidos e as rochas ornamentais são bens transacionáveis
(Gráfico 9), o que os torna alvo de grande interesse a nível económico do país onde se encontra o
tipo de indústria em análise [28].

Monteiro, Carlos 31
Corte de pedra por fio diamantado

Gráfico 9 - Evolução das exportações portuguesas dos produtos em pedra (Fonte: [23])

Em suma os eixos orientadores para os próximos anos deverão passar pelo [28]:
 Desenvolvimento das técnicas e tecnologias para o setor industrial da pedra;
 Estímulo das empresas na adoção e desenvolvimento de práticas e conceitos quer ao nível
organizacional da produção (ferramentas Lean) como a nível administrativo;
 Incentivo à internacionalização e consolidação de todos os produtos, técnicas e tecnologias
relacionadas com o enorme e próspero setor da indústria das rochas ornamentais.

Monteiro, Carlos 32
Corte de pedra por fio diamantado

7 PROJETO DO EQUIPAMENTO DE CORTE

7.1 Metodologia de projeto

O projeto de um produto é uma metodologia lógica que é iniciada com a identificação de uma
necessidade. Essa necessidade motiva a criação e desenvolvimento de um produto que satisfaça
um tipo de cliente alvo [29]. O projeto envolve um conjunto de atividades, realizadas por pessoas
de diferentes áreas de trabalho. A pesquisa e o desenvolvimento são duas atividades que estão
presentes em diversas fases do projeto do produto (Figura 34), principalmente nas áreas
responsáveis pela criação e refinamento de soluções [30].

2º - Pesquisa e
1º - Pesquisa de
desenvolvimento
mercado
do produto

4º - Pesquisa e 3º - Pesquisa e
desenvolvimento desenvolvimento
de materiais de Processos

Figura 34 – Diagrama das fases do projeto do produto onde são realizadas pesquisas e desenvolvimentos
(Fonte: [30])

O produto projetado pode ser totalmente inovador, nunca produzido ou pensado, ou então o
produto projetado pode satisfazer o mesmo tipo de necessidades que outros já comercializados, no
entanto apresenta características inovadoras ou diferentes, comparativamente aos demais.
O projeto abrange três grandes áreas: a abstrata, a estética e a funcional. O produto resultante do
presente projeto insere-se na área funcional, uma vez que são impostos, ao produto final, vários
requisitos e especificações técnicas [31].
Hoje em dia é aconselhável que o projetista siga uma metodologia de projeto, independentemente
do ramo industrial do mesmo. Existem diversos modelos que têm como base a formalização de
procedimentos típicos de projeto, melhorando a eficácia de todo o processo [32].
No projeto do equipamento do presente trabalho, foi utilizado um modelo prescritivo. Este tipo de
modelo baseia-se num procedimento sistemático e algorítmico, que garante que o problema a
solucionar está completamente compreendido (Figura 35) [31].

Monteiro, Carlos 33
Corte de pedra por fio diamantado

Identificação e definição do problema

Identificação do problema Determinar o âmbito do problema Análise de mercado

Desenvolvimento do plano de trabalho

Atribuição de objectivos Realização de especificações do produto

Preparação de soluções

Realização da estrutura de funções do produto Desenvolvimento de soluções

Seleção de soluções

Seleção de soluções Avaliação do conjunto de soluções selecionadas

Projeto do produto

Dimensionamento Seleção de componentes e materiais

Teste do produto
Levantamento dos aspetos a melhorar ou erros
Definição das áreas a testar do produto
cometidos durante

Implementação
Realização dos desenhos para a produção Definição da estratégia de venda do produto

Figura 35 - Diagrama da metedologia de projeto mecânico adotada (Fonte: [31])

O projeto de um produto é sempre iniciado com a identificação de uma necessidade ou de um


problema, esta identificação foi realizada pela empresa D2 Technology. Depois de a necessidade
estar claramente definida são estabelecidos os objetivos, requisitos e especificações para a
realização de um plano de trabalho. Posteriormente são definidas, com base na função principal,
todas as subfunções que integram o produto a projetar e são idealizadas possíveis soluções para
cada subfunção. Para desenvolver soluções verosímeis é necessário realizar uma pesquisa onde
seja possível adquirir conhecimento relativo a todo o meio ambiente e à tecnologia inerente ao
produto a projetar. Recorrendo a um método de avaliação é selecionada uma solução para cada
subfunção, tendo em conta todas as soluções idealizadas. Nesta fase é concluído o modelo
conceptual.
Na fase seguinte é realizado o dimensionamento e a seleção de materiais e componentes, com base
nas especificações e requisitos estabelecidos anteriormente. Nesta fase do projeto é comum
efetuarem-se algumas modificações relativamente ao modelo conceptual, no entanto os aspetos
funcionais do mesmo são sempre mantidos. Um aspeto de extrema relevância e por vezes ignorado
neste período do projeto passa pelo dimensionamento de componentes tendo em conta aspetos
Monteiro, Carlos 34
Corte de pedra por fio diamantado

relativos à manufatura dos mesmos. Estes fatores quando ignorados podem repercutir elevados
custos de produção, quando forem manufaturados os componentes dimensionados. Estes elevados
custos são por vezes conjugados com longos períodos de produção, ou em situações limite a
impossibilidade de fabrico dos componentes projetados.
Todas as seleções de materiais ou componentes, e os respetivos resultados, devem ser justificados
num dossier. O objetivo deste dossier é refletido no futuro, uma vez que se ocorrerem problemas
com o equipamento projetado, toda a informação encontra-se complicada e fica facilitado o
trabalho de resolução do problema corrido. O resultado final desta etapa do projeto será um
conjunto de desenhos técnicos, de todos os componentes a manufaturar, acompanhados por
especificações de produção do produto.
O modelo conceptual desenvolvido (protótipo) deverá ser testado, antes de ser apresentado como
produto final, e deve existir aprovação para o início de construção do mesmo. As áreas do
equipamento a testar devem ser muito bem definidas, antes dos testes serem realizados (por
exemplo: segurança, operabilidade do equipamento, performance, fiabilidade e impacto
ambiental). Desta forma não são menosprezadas áreas ou detalhes de relevo, ou não é desperdiçado
tempo com testes sem haver necessidade dos mesmos. Diversas vezes são verificadas algumas
anomalias durante os testes do protótipo e são identificadas situações que nunca foram pensadas
durante o projeto e que necessitam de um estudo adicional. Neste caso o projeto é retrocedido, e
realiza-se uma metodologia igual à efetuada até esta fase do projeto, tendo em consideração todos
os problemas ocorridos durante os testes do protótipo.
O teste do modelo conceptual projetado é uma etapa frequentemente colocada de parte, uma vez
que esta etapa envolve custos avultados. Por outro lado, se as anomalias no produto forem
verificadas quando este já se encontra em comercialização, os custos poderão ser extremamente
avultados, na maioria dos casos, para além da detioração da imagem da empresa.
Após a aprovação do protótipo são refinados alguns detalhes, principalmente relativos aos
desenhos técnicos e informações de produção das diversas peças a manufaturar, assim como são
ultimados todos os detalhes relativos à montagem do equipamento. No presente trabalho a fase de
teste e implementação do produto não serão considerados.

7.2 Definição da tarefa

A divisão de uma chapa, por uma com a espessura pretendida, é a única tarefa requerida ao
equipamento em desenvolvimento neste trabalho. Diversas empresas que realizam o
processamento de pedra, não têm capacidade para serrar os blocos rochosos e consequente
enobrecimento da superfície das chapas resultantes [33]. Todo o equipamento e instalações
requeridas para a produção massiva de chapa, têm associado um custo avultado. Por este motivo,
essas empresas compram chapas a terceiros mediante as suas necessidades. Contudo, devido a
fatores comerciais e financeiros este tipo de empresas necessitam de serrar as chapas que têm em
armazém, para obterem chapas com a espessura pretendida, para responderem às necessidades
momentâneas. O desenvolvimento deste equipamento é justificado pela incapacidade de qualquer
tipo de equipamento de corte com disco realizar a divisão de chapas, devido às dimensões das
mesmas. Os equipamentos de corte com disco são concebidos para o processamento de chapas, e
são um equipamento ubíquo no parque de máquinas dos clientes alvo.

7.3 Lista de requisitos

Os requisitos estabelecidos, pela empresa D2 Technology, para o projeto e construção do


equipamento foram:

Monteiro, Carlos 35
Corte de pedra por fio diamantado

 O intervalo de espessura de chapa serrada exigida está compreendido entre os 10 e os 350


mm;
 Fácil e rápida colocação e recolha de chapas do equipamento;
 Superfície de corte gerada com qualidade (desvio dimensional admissível de 0,5mm);
 Desgaste das pérolas diamantadas controlado;
 Fonte de energia elétrica;
 Capacidade de cortar todos os tipos de pedra;
 Reaproveitamento da água utilizada durante a operação de corte;
 Segurança do equipamento.
Além destes requisitos, foram também consideradas outros, tendo em conta aquilo que é
ambicionado. Desta forma foi elaborada uma árvore de objetivos (Figura 36) que contém os vários
pontos que se pretendem alcançar com o desenvolvimento do equipamento.

Equipamento aplicável industrialmente,


eficaz e a um preço reduzido

Aplicabilidade industrial Rentabilidade Preço Segurança

Componentes Segurança dos


Fácil operabilidade Eficácia de corte Fiabilidade
normalizados operários

Controlo dos Reduzido


Custo reduzido Segurança de
Interface intuitivo parâmetros de número de
das manutenções operação
corte componentes

Componentes Equipamento
adequados ao simplista
ambiente de
trabalho

Legenda:

Produto a desenvolver Sub-objetivos

Objetivos Meios para atingir os objetivos

Figura 36 - Árvore de objetivos do projeto

7.3.1 Especificações técnicas das rochas

As especificações técnicas do produto a ser processado são de elevada importância para o projeto,
uma vez que estas determinam vários aspetos construtivos do equipamento. Sendo assim,
elaborou-se uma lista de especificações onde constam algumas das informações relevantes das
chapas rochosas:
 Espessura da chapa: 20 a 350 mm;
 Dimensões máximas da chapa a cortar: 4000 x 2000mm (Figura 37);

Monteiro, Carlos 36
Corte de pedra por fio diamantado

 Massa máxima da chapa: 8000 kg7 8.

Figura 37 – Dimensões máximas da chapa

7.4 Análise/Estrutura de Funções

“A função geral de um produto é a relação entre as entradas e as saídas do mesmo. A função de


um produto pode ser posteriormente subdividida em subfunções que identificam ações com um
determinado propósito que o produto se destina a executar” [34]. Posto isto, foi efetuada uma
estrutura de funções (Figura 38) do equipamento a projetar, contemplando as várias subfunções
necessárias ao funcionamento do equipamento.

Figura 38 – Estrutura de funções do produto

7
http://geology.about.com/cs/rock_types/a/aarockspecgrav.htm, acedido a 25/10/2014;
8
Tendo por base a densidade das rochas mais comercializadas, acedido a 26/10/2014.
Monteiro, Carlos 37
Corte de pedra por fio diamantado

7.5 Soluções iniciais

Após a identificação das várias subfunções, são idealizadas as respetivas soluções. Ressalva-se
que todas as figuras são meramente exemplificativas, uma vez que não há necessidade de produzir
esquemas detalhados nesta fase.

7.5.1 Colocação da chapa

A operação de colocação de chapa a seccionar na área de trabalho pode ser efetuada de três formas:
por meio de uma garra, cabos de aço ou de um mecanismo composto por ventosas. As três formas
de transporte de chapa são sistemas periféricos à ponte rolante (Figura 39). Estes estão presentes
em qualquer empresa do ramo industrial para qual o equipamento projetado é dirigido.

Figura 39 - Ponte rolante (Fonte: Http://www.poeiras.com/#!untitled/zoom/cs89/image9o6, acedido a


19/10/2014)
A garra (Figura 40) é um mecanismo simples e totalmente mecânico, em que a força de aperto é
diretamente proporcional ao peso da chapa. Existem diferentes tipos de garras dependendo do peso
e da espessura das chapas a transportar, no entanto estas só podem transportar uma chapa de cada
vez.

Figura 40 – Garra (Fonte: Http://cdn3.volusion.com/bgqmg.sfuxf/v/vspfiles/photos/8010215-,


acedido a 22/10/2014)
Os cabos de aço (Figura 41) são a técnica de transporte de chapa mais comum nas indústrias que
realizam o desmonte de blocos rochosos e processamento de chapa, devido à sua versatilidade de
utilização. Esta técnica permite transportar uma ou várias chapas ou até blocos rochosos, desde
que o seu peso não exceda os limites de peso recomendados pelo fabricante. O custo reduzido de
manutenção dos cabos de aço e o longo período de operação são as principais vantagens quando
comparado com outros sistemas de transporte de chapas.

Monteiro, Carlos 38
Corte de pedra por fio diamantado

Figura 41 - Cabo de aço (Fonte: http://www.mocamar.com.pt/pt/images/clip_image012.jpg,


acedido a 02/11/2014)

As ventosas (Figura 42), através de uma sistema complementar de vácuo, são capazes de
transportar chapas com uma massa considerável, que ronda os 2000 kg, e a superfície da chapa
transportada pode ser polida, semi-polida, cerrada ou grenalhada9.

Figura 42 – Ventosas (Fonte: http://img.directindustry.com/images_di/photo-g/4-pads-vacuum-lifters-


stone-slabs-20876-2663483.jpg, acedido a 03/11/2014)

O preço de compra e de manutenção deste tipo de equipamento é mais dispendioso


comparativamente com outros sistemas de transporte. As ventosas são um sistema de transporte
pouco versátil uma vez que suportam chapas com superfícies específicas, mas só podem
transportar uma chapa de cada vez.

7.5.2 Operações antecedentes ao processo de corte

Antes do processo de corte é realizado o tensionamento do fio diamantado e o posicionamento


deste, a uma determinada cota, com base na espessura da chapa a cortar e a espessura de chapa
pretendida.

7.5.2.1 Movimentação da polia tratora


A tensão realizada, sobre o cabo de aço da ferramenta de corte, é originada pela movimentação de
uma polia numa determinada direção. Desta forma aumenta-se a distância entre os eixos das polias,
incitando um incremento da força de atrito do fio diamantado com a superfície de contato da polia
motora, que resulta na inexistência de escorregamento entre ambos. A aplicação de um atuador

9
http://www.elephant.it/eleph_en/prod_ventose_marmo.asp, acedido a 02/11/2014;
Monteiro, Carlos 39
Corte de pedra por fio diamantado

linear (Figura 43) é a solução pensada para desempenhar a função de movimentação da polia
tratora.

Legenda:
1- Mesa
2- Guias
3- Fuso

Figura 43 - Atuador linear (Fonte: http://www.egroj.com.br/sistemas.jpg, acedido a 22/11/2014)

A polia tratora é fixada à mesa do atuador linear, esta movimenta-se sobre as guias pelo
acionamento de um motor acoplado ao fuso. Desta forma o deslocamento da polia tratora pode ser
controlado por um sensor instalado numa determinada posição, com base no comprimento de fio
diamantado. Por ventura se o equipamento possuir um sistema de medição da tensão do cabo de
aço da ferramenta de corte, o deslocamento da polia tratora pode ser controlado com base num
determinado valor de tensão que seja suficiente para que o fio diamantado se movimente
linearmente, sem ocorrência de escorregamento na polia tratora.
O principal motivo para a variação do eixo das polias é justificado pela simplificação da colocação
do fio diamantado sobre o sistema de polias.

7.5.2.2 Posicionamento do fio diamantado

Antes de ser iniciada a operação de corte da chapa, a ferramenta de corte é posicionada a uma
determinada cota da área de trabalho mediante a espessura de chapa pretendida. O fio diamantado
está envolto por uma carenagem assente sobre uma estrutura metálica, cuja principal função é a
proteção dos operários quando ocorre a rutura do cabo de aço (Figura 44). A função da estrutura
metálica é de suportar todos os equipamentos necessários para o correto funcionamento do sistema
de polias.

Legenda:
1 – Fio diamantado
2 – Carenagem da
estrutura envolvente do
fio diamantado

Figura 44 - Carenagem da estrutura envolvente do fio diamantado

Monteiro, Carlos 40
Corte de pedra por fio diamantado

A solução idealizada para o mecanismo de movimentação da estrutura metálica encontra-se


esquematizado na Figura 45.

Legenda:
1 – Corrente de elos
2 – Roda dentada
3 – Guia linear
4 – Fuso
5 – Coluna do pórtico

Figura 45 – Representação esquemática do mecanismo de movimentação da estrutura metálica

Em cada coluna do pórtico são fixadas duas guias lineares, um fuso e na parte superior deste é
acoplado uma roda dentada.
O movimento de rotação simultâneo dos fusos é realizado por uma transmissão de corrente de elos
que liga as duas rodas dentadas. Esta transmissão é acionada por meio de um motor elétrico
acoplado a um dos fusos. O movimento da estrutura metálica ocorre sobre as guias lineares, todavia
este é assegurado pela transmissão dos fusos com as porcas que estão fixas na estrutura metálica.
Desta forma é possível controlar o posicionamento do fio diamantado mediante a espessura de
chapa a cortar e a espessura de chapa pretendida.
O pórtico do equipamento projetado pode ser fixo ou móvel dependendo do tipo de movimentação
escolhido para o avanço durante operação de corte.

7.5.3 Processo de corte

A conjugação do movimento de avanço com o movimento de corte permite realizar o corte por
abrasão e/ou arranque de material rochoso da superfície de corte (Capítulo 4). Neste subcapítulo
são idealizados sistemas para o movimento de avanço e o movimento de corte.

7.5.3.1 Movimento de avanço


A primeira solução pensada para o movimento de avanço encontra-se esquematizada na Figura 46.
A chapa é colocada sobre um tapete de rolos no entanto o movimento de avanço é realizado pela
movimentação do tapete transportador. É importante realçar que a chapa é colocada sobre o tapete

Monteiro, Carlos 41
Corte de pedra por fio diamantado

de rolos para facilitar a operação de transporte e de colocação da mesma na área de trabalho. Desta
forma a chapa é dirigida para o fio diamantado ocorrendo o corte da mesma.

Legenda:
1 – Tapete de rolos
2 – Tapete
transportador
3 – Chapa
4 – Carenagem da
estrutura envolvente
do fio diamantado

Figura 46 – Representação esquemática da operação de corte com movimentação da chapa

A solução descrita é um sistema simples, e os seus componentes são encontrados em diversas


empresas de comercialização de sistemas de transporte. No entanto, o custo de manutenção do
tapete de rolos e do tapete transportador é muito dispendioso, aliado ao fato de os componentes
demonstrarem alguma fragilidade, tendo em consideração o comportamento e operabilidade que
caracterizam os operadores alvos para o qual o equipamento é projetado.
Uma outra solução representada na Figura 47, passa pela supressão de algumas desvantagens
evidenciadas, numa primeira análise, relativas ao primeiro modelo apresentado. Assim, foram
substituídos o tapete de rolos e o tapete transportador por uma mesa, onde a chapa será colocada e
movimentada sobre guias e acionada por uma transmissão mecânica pinhão e cremalheira.

Legenda:
1 – Guia linear
2 – Cremalheira
3 – Mesa
4 – Chapa
5 – Carenagem da
estrutura envolvente
do fio diamantado

Figura 47 - Representação esquemática da operação de corte com movimentação da Mesa

Na solução descrita é expetável o desgaste prematuro ou até deformação da mesa, provocado pelo
uso descuidado, característico da maioria dos operadores que trabalham neste setor industrial. A
área envolvente das guias e das cremalheiras carece de alguns cuidados relativamente aos resíduos
resultantes da operação de corte.

Monteiro, Carlos 42
Corte de pedra por fio diamantado

A última solução pensada encontra-se ilustrada na Figura 48. Nesta solução a movimentação de
avanço é realizada pelo movimento da estrutura envolvente do fio diamantado em direção à chapa,
que se situa na área de trabalho, realizando o corte.

Legenda:
1 – Guia linear
2 – Cremalheira
3 – Área de trabalho
4 - Chapa
5 – Carenagem da
estrutura envolvente
do fio diamantado

Figura 48 - Representação esquemática da operação de corte com movimentação da estrutura envolvente do fio
diamantado
O movimento da estrutura é feito por meio de guias lineares e de uma transmissão mecânica pinhão
e cremalheira. A opção descrita é bastante simples, a área de trabalho em betão demonstra elevada
resistência conjugado com um custos construtivos e de manutenção reduzidos. Nesta solução,
assim como na anterior, a área envolvente da transmissão mecânica e do guiamento carece de
cuidados, pelos motivos justificados anteriormente.

7.5.3.2 Sistema de polias e controlo dos parâmetros de corte

A disposição e a direção do fio diamantado, pelo sistema de polias, em conjunto com a forma
como são controlados os parâmetros de corte, durante o processo de corte, têm extrema relevância
relativamente à produtividade de corte e à longevidade das pérolas diamantadas. Com base na
bibliografia consultada ao longo deste trabalho, mais especificamente os capítulos relativos ao
estudo e parametrização de corte de pedra por fio diamantado (capítulo 4 e 5), foram consideradas
duas soluções para o equipamento a projetar.
A primeira solução idealizada, e a mais comum nos diversos equipamentos de desmonte de blocos
rochosos por fio diamantado, é composta por duas polias (Figura 49).
Legenda:
1 – Polia motora
2 – Polia tratora
3– Fio diamantado

Figura 49 - Representação esquemática do sistema de polias

Monteiro, Carlos 43
Corte de pedra por fio diamantado

A polia motora encontra-se diretamente ligada ao veio do motor elétrico, que realiza o movimento
linear da ferramenta de corte através do sistema de polias. O sentido de rotação da polia motora,
representado na figura 49, é justificado, pela maior duração expectável da polia tratora durante o
processo de corte (Capítulo 4).
A polia tratora é acoplada a um atuador elétrico que quando é ativado, provoca uma determinada
pré-tensão sobre o fio diamantado. O valor da pré-tensão exercida sobre o fio diamantado deve ser
o mínimo necessário para que o fio diamantado seja movido linearmente, sobre o sistema de polias,
sem escorregamento.
Relativamente ao controlo dos parâmetros de corte, foi idealizado que o operador introduza, no
controlador do equipamento, os valores da velocidade de avanço, da velocidade linear do fio
diamantado e da tensão exercida pela polia tratora, sobre o cabo de aço do fio diamantado, com
base no material e nas dimensões da chapa a serrar. Durante o processo de corte estes parâmetros
são mantidos constantes. A solução apresentada não é a mais evoluída tecnologicamente e,
consequentemente, a produtividade de corte e a longevidade do fio diamantado estão um pouco
distantes dos valores alcançados por equipamentos em que são controlados os parâmetros de corte
durante o processo de corte. No entanto, tendo em consideração o propósito do equipamento a
projetar, a solução é considerada plausível, pois a cadência produtiva pretendida para o
equipamento não é intensiva. A solução apresentada demonstra simplicidade de operação e
manuseamento, aliada a um custo reduzido.
A segunda solução idealizada tem por base a mesma disposição de polias, sentido de rotação da
polia motora e o mesmo sistema de pré-tensionamento do fio diamantado apresentado na solução
anterior. No entanto, após a verificação deficiente do controlo dos parâmetros de corte, durante o
processo de corte, foi idealizada a adição de um sistema de medição da tensão do fio diamantado
no sistema de polias analisado anteriormente (Figura 50).

Legenda:
1 – Polia motora
2 – Polia tratora
3 – Fio diamantado
4 – Sistema de
medição da tensão do
fio diamantado

Figura 50 - Representação esquemática do sistema de polias com o sistema de medição da tensão do fio
diamantado

Relativamente ao controlo dos parâmetros de corte, é idealizado que o operador introduza apenas
o valor da velocidade linear do fio diamantado, valor esse recomendado pelo fabricante de
ferramentas de corte, com base na dureza da rocha a cortar. A velocidade de avanço é controlada
pelo controlador com base nos valores medidos da tensão exercida sobre o cabo de aço da
ferramenta de corte. A velocidade linear do fio diamantado é mantida constante durante todo o
processo de corte. Posto isto, é sobressaída a necessidade de atribuição de um valor relativo à
tensão máxima admissível sobre o fio diamantado, pelo qual é controlado a velocidade de avanço
da operação de corte.
A solução apresentada é mais evoluída, em termos tecnológicos e construtivos, o que resulta num
acréscimo do custo do equipamento, comparativamente com o sistema de polias e controlo
apresentado anteriormente. Contudo, tendo em consideração o aumento da produtividade de corte
Monteiro, Carlos 44
Corte de pedra por fio diamantado

aliada ao previsto aumento da longevidade do fio diamantado é expectável que o cliente venha a
ter o retorno do investimento realizado a médio e longo prazo.

7.5.3.2.1 Sistema de medição da tensão do fio diamantado


O instrumento de medição da tensão do cabo de aço do fio diamantado é um subsistema que esta
inserido no sistema de polias, apresentado no subcapítulo 7.5.3.2, na Figura 50. Este instrumento
é instalado na polia tratora, uma vez que a tensão máxima exercida sobre o cabo de aço do fio
diamantado encontra-se entre a zona de saída da chapa a serrar e a polia tratora, tendo em
consideração o sentido de rotação esquematizado na Figura 50. A função principal do instrumento
de medição, no equipamento projetado, é o controlo dos parâmetros durante o processo de corte,
mas também de proteção dos operários e meios físicos situados na área circundante. Uma tensão
excessiva, sobre o cabo de aço, pode provocar a sua rutura, e devido à tensão a que este está sujeito
existe a possibilidade de serem projetadas as pérolas diamantadas ou até mesmo o próprio cabo de
aço [22].
O transformador diferencial variável linear (Figura 51) foi o instrumento de medição selecionado
para medir a tensão exercida sobre o cabo de aço.

Figura 51 - Ilustração de um transformador diferencial variável linear (Fonte:


http://www.solartronmetrology.com.br/image.asbx?AttributeFileId=3fa87208-654e-4485-88d2-f97f466c9993,
acedido a 06/11/2014)

Os transformadores diferenciais variáveis lineares são caraterizados pelo seu custo reduzido, por
serem duradouros devido à sua robustez e solidez e por possuírem curtos tempos de resposta [35].
O princípio de medição associado ao instrumento selecionado é relativo a um fenómeno de
natureza física, mais concretamente a tensão elétrica [36][37]. A tensão elétrica é a grandeza que
se pretende medir (mensuranda) [36]. A movimentação do núcleo magnético no interior das
bobinas irá provocar uma variação da tensão elétrica, e consequentemente, o valor medido é
convertido num sinal elétrico [36][37].
O instrumento de medição em análise é empregue com frequência em diversos tipos de
dispositivos mecânicos, onde é necessário converter uma posição física num sinal elétrico. O
funcionamento do sistema de medição da tensão exercida no cabo de aço do fio diamantado do,
equipamento a projetar, é apresentado na Figura 52.

Monteiro, Carlos 45
Corte de pedra por fio diamantado

Legenda:
1- Fio diamantado
2- Polia
3- Chumaceira
4- Guias da polia
5- Mola helicoidal de
compressão
6- Núcleo magnético
7- Sistema de bobinas

Figura 52 - Representação do sistema de medição da tensão exercida sobre o fio diamantado

Durante o processo de corte a tensão exercida sobre fio diamantado varia em função das condições
de corte. Neste sentido, sabendo que a área de contato do fio diamantado com a polia é constante,
a pressão exercida sobre a polia é dependente do valor da tensão exercida sobre o cabo de aço,
resultante da operação de corte. Logo a tensão exercida sobre o cabo de aço da ferramenta de corte
provoca uma deformação da mola helicoidal de compressão (calibrada) e consequentemente
ocorre o deslocamento do núcleo magnético pelo interior do sistema de bobinas (Figura 53).

Legenda:

1- Fio diamantado
2- Polia
3- Chumaceira
4- Guias da polia
5- Mola helicoidal de
compressão
6- Núcleo magnético
7- Sistema de bobinas

Figura 53 - Representação da deformação da mola helicoidal no sistema de medição da tensão exercida sobre o fio
diamantado

Desta forma, o valor do deslocamento provocado pela deformação da mola helicoidal de


compressão é convertido num sinal elétrico. Este sinal é enviado ao controlador, que com base no
valor medido da tensão elétrica pelo transformador diferencial variável linear, controla a
velocidade de avanço da operação de corte.
O uso deste sistema de medição maximiza a eficiência de corte, uma vez que é expetável um
aumento da longevidade das pérolas diamantadas conjugado com uma maior produtividade de
corte, tendo por base um valor de tensão adequado às condições de corte. Este sistema de medição
tem a particularidade de responder de uma forma hábil quando ocorre o entalhamento das pérolas
diamantadas no perfil de corte, pois verifica-se uma diminuição repentina da tensão sobre o cabo
de aço da ferramenta de corte, devido à deformação da mola, e ocorre a diminuição da velocidade
de avanço. Este sistema é vantajoso comparativamente com sistemas de medição e controlo da

Monteiro, Carlos 46
Corte de pedra por fio diamantado

tensão da ferramenta de corte existentes. Nesses sistemas verifica-se que quando ocorre um
aumento brusco da tensão sobre o cabo de aço, é diminuída a velocidade de avanço mas a tensão
sob a ferramenta de corte durante um curto, mas relevante intervalo de tempo, é mantida constante,
o que origina condições de corte violentas sob pérolas diamantadas.

7.5.3.3 Processamento do fluído e dos resíduos de corte


A àgua é o recurso utilizado como fluído de corte, na generalidade das operações fabris efetuadas
na pedra, devido à sua notória e benéfica influência. É importante referir que em Portugal é
obrigatório por lei todas a empresas ligadas ao setor industria,l ao qual se dirige o equipamento
projetado, possuirem nas suas instalações sistemas de aproveitamento e reutilização da àgua e de
retenção e depósito das lamas provenientes da operação de corte, em locais destinados. Estas
lamas, posteriormente, são recolhidas e utilizadas na composição de diversos produtos por outras
entidades industriais.
Assim, toda a àrea envolvente ao local onde o equipamento irá operar, é contruída com uma
determinada configuração para que a àgua e todos os residuos provenientes da operação de corte
sejam dirigidos para o local adequado (Figura 54).

Legenda:

Locais de escoamento da água


juntamente com as lamas e
resíduos resultantes do corte na
área de trabalho

Figura 54 - Exemplo de configuração da área de trabalho (Fonte:


http://www.poeiras.com/#!untitled/zoom/c5ho/image1uep, acedido a 23/11/2014)

Por norma, toda a àgua proveniente do parque de máquinas é direccionada para um reservatório,
onde é acumulada. No trajecto até ao reservatório a àgua é filtrada e são romovidos e depositados
em locais específicos todos os residuos provenientes do corte.

7.5.3.4 Sistema Auxiliar de corte

No processo de divisão da chapa, durante a operação de corte, é necessária a alocação de um


objeto, ao longo do perfil de corte gerado, para que a chapa não se fragmente devido à sua flexão
(Figura 55).

Monteiro, Carlos 47
Corte de pedra por fio diamantado

Figura 55 - Representação esquemática da chapa a seccionar sem alocação de suportes ao longo do perfil
de corte

A solução pensada, para a resolução da situação descrita, passa pela alocação manual ou
automática de placas de nylon ao longo do perfil de corte gerado (Figura 56).

Figura 56 - Representação esquemática das placas de nylon ao longo do perfil de corte gerado

Por ventura, se optar pela alocação manual, o operador terá de colocar manualmente as placas de
nylon ao longo do perfil de corte gerado dos dois lados da chapa. A opção de alocação automática
é totalmente viável, visto que a produtividade de corte da tecnologia de corte por fio diamantado
2
situa-se à volta dos 4,5 𝑚 ⁄ℎ [22]. Este valor demonstra que o operário iria passar tempo
considerável sem realizar qualquer tipo de tarefa durante a operação de divisão da chapa. A solução
idealizada baseia-se em quatro componentes que em conjunto formam o sistema de alocação das
placas no perfil de corte. O primeiro componente é a placa de nylon. Foram idealizados dois tipos
de placas (Figura 57) com configurações distintas. A diferença encontra-se na posição do furo no
centro das placas, pois a configuração do furo é igual nos dois tipos de placas.

Figura 57 - Representação esquemática dos diferentes tipos placas de nylon

Monteiro, Carlos 48
Corte de pedra por fio diamantado

O segundo componente é o depósito das placas de nylon, onde estas terão de ser introduzidas
alternadamente (Figura 58). O terceiro componente é um veio com dois perfis retangulares na sua
extremidade alinhados a 180ᵒ (Figura 59).
O veio atravessa o centro das placas de nylon situadas no alimentador, a rotação deste está limitada
a quatro intervalos de rotação de [0ᵒ,90ᵒ], de [90ᵒ,180ᵒ], de [180ᵒ,270ᵒ] e de [270ᵒ,360ᵒ]. Devido à
alternância da posição dos dois tipos de furos das placas de nylon e da configuração do veio, é
possível que cada placa, devido à gravidade, caia no alimentador na posição correta (Figura 60).

Figura 58 - Representação esquemática do Figura 59 - Representação esquemática do veio


depósito com as placas de nylon do depósito das placas de nylon

Figura 60 - Representação esquemática do alimentador das placas de nylon

Monteiro, Carlos 49
Corte de pedra por fio diamantado

A cada movimento de rotação do veio, uma placa cairá sobre o alimentador que está posicionado
debaixo do depósito das placas. O alimentador, o quarto elemento do sistema, é movimentado por
um cilindro pneumático que irá alocar a placa de nylon no perfil de corte gerado. As abas na parte
inferior da placa de nylon servem para tornar mais fácil e fiável a movimentação da placa sobre o
alimentador, mas a função desta é evitar o contato do alimentador com a pedra quando este aloca
a placa de nylon no perfil de corte. O curso do cilindro pneumático é controlado pela largura da
chapa, este dado é introduzido pelo operador na máquina. A cadência de alocação de placas de
nylon no perfil de corte é controlada pela distância de corte percorrida. O material selecionado
para as placas foi o nylon, devido à sua elevada resistência ao desgaste e à sua fácil operabilidade.

7.6 Recolha de chapa

A operação de recolha de chapa é realizada com os mesmos equipamentos descritos no subcapítulo


7.5.1, mais concretamente a garra, os cabos de aço e a ventosa. Assim, com estes equipamentos as
chapas são facilmente removidas da área de trabalho e transportadas para o local pretendido.

7.7 Avaliação das soluções

Depois de concebidas as diversas soluções, correspondentes a todas as subfunções, estas são


combinadas para se gerar uma solução completa. Foram avaliadas em primeiro lugar as soluções
de forma grosseira, excluindo aquelas que aparentemente têm falhas graves ou que não são tão
praticáveis como outras, que por motivos de complexidade, custo, dificuldade de construção ou
operação. Neste sentido formaram-se 4 soluções possíveis para posterior avaliação, apresentadas
nas Tabela 4, 5, 6 e 7.

Tabela 4 – Solução 1
Colocação de
Cabos de aço
chapas
Tracionamento do fio
Atuador linear
diamantado
Operação de corte
Posicionamento do fio
Rotação simultânea dos fusos
diamantado
Movimento de avanço Movimento da estrutura envolvente do fio diamantado
Sistema de polias e
Sistema de polias com controlo dos parâmetros de corte
controlo dos parâmetros
com base no valor medido da tensão do fio diamantado
Processo de corte de corte
Processamento do fluído e Configuração da área envolvente ao equipamento de
resíduos de corte corte
Sistema auxiliar de corte Alocação automática de placas de nylon
Recolha de chapas Cabos de aço

Monteiro, Carlos 50
Corte de pedra por fio diamantado

Tabela 5 - Solução 2
Colocação de
Cabos de aço
chapas
Tracionamento do fio
Atuador linear
diamantado
Operação de corte
Posicionamento do fio
Rotação simultânea dos fusos
diamantado
Movimento de avanço Movimento da estrutura envolvente do fio diamantado
Sistema de polias e
Sistema de polias sem controlo automático dos
controlo dos parâmetros
parâmetros de corte
Processo de corte de corte
Processamento do fluído Configuração da área envolvente ao equipamento de
e resíduos de corte corte
Sistema auxiliar de corte Alocação manual de placas de nylon
Recolha de chapas Cabos de aço

Tabela 6 - Solução 3
Colocação de
Garra
chapas
Tracionamento do fio
Atuador linear
diamantado
Operação de corte
Posicionamento do fio
Rotação simultânea dos fusos
diamantado
Movimento de avanço Movimento da mesa de trabalho
Sistema de polias com controlo dos parâmetros de
Sistema de polias e controlo
corte com base no valor medido da tensão do fio
dos parâmetros de corte
Processo de corte diamantado
Processamento do fluído e Configuração da área envolvente ao equipamento de
resíduos de corte corte
Sistema auxiliar de corte Alocação automática de placas de nylon
Recolha de chapas Garra

Tabela 7 - Solução 4
Colocação de chapas Cabos de aço
Tracionamento do fio
Atuador linear
diamantado
Operação de corte
Posicionamento do fio
Rotação simultânea dos fusos
diamantado
Movimento da estrutura envolvente do fio
Movimento de avanço
diamantado
Sistema de polias e Sistema de polias com controlo dos parâmetros de
controlo dos parâmetros corte com base no valor medido da tensão do fio
Processo de corte
de corte diamantado
Processamento do fluído e Configuração da área envolvente ao equipamento de
resíduos de corte corte
Sistema auxiliar de corte Alocação manual de placas de nylon
Recolha de chapas Cabos de aço

Concluído o arranjo das várias soluções, que constituem a solução final, é realizada uma avaliação
destas, tendo como principal objetivo obter a melhor solução. Para tal, foi efetuado um

Monteiro, Carlos 51
Corte de pedra por fio diamantado

procedimento racional e utilizado o método dos objetivos ponderados. Este método atribui pesos
numéricos aos objetivos e pontuações numéricas aos desempenhos das soluções medidas em
função dos objetivos. Numa primeira fase são listados e ordenados, por ordem de importância,
todos os objetivos presentes na árvore de objetivos. Neste sentido é construída uma matriz, onde
é realizada a comparação entre pares de objetivos (Tabela 8). A comparação é realizada da seguinte
forma: é atribuído o valor 1 ou 0 em cada célula da matriz, dependendo se o primeiro objetivo é
considerado mais ou menos importante que o segundo, e assim por diante.

Tabela 8 - Matriz de comparação


Objetivos A B C D E F G H I J Total
A - Fácil operação - 0 1 0 0 1 1 1 1 0 6
B - Controlo dos parâmetros de
1 - 1 0 0 1 1 1 1 0 7
corte
C – Simplicidade do equipamento 0 0 - 0 0 0 0 0 0 0 1

D - Componentes adequados ao
1 1 1 - 0 1 1 1 1 0 8
meio de trabalho

E - Segurança dos operários 1 1 1 1 - 1 1 1 1 1 10


F – Interface do software da
0 0 1 0 0 - 1 0 0 0 3
máquina intuitivo
G - Reduzido número de
0 0 1 0 0 0 - 1 0 0 3
componentes
H - Custo reduzidos de manutenção 0 0 1 0 0 1 0 - 0 0 3
I - Componentes normalizados 0 0 1 0 0 1 1 1 - 0 5
J - Segurança de operação 1 1 1 1 0 1 1 1 1 - 10

Concluída a matriz de comparação de objetivos, procede-se à verificação do resultado relativo à


simplicidade do equipamento, que ficou abaixo do esperado, todavia, visto ser um objetivo
relevante para o equipamento, foi aumentado o seu peso relativo, diminuindo-se o peso relativo
dos componentes adequados ao meio. Também é de realçar que o cumprimento de uns objetivos
irá resultar no cumprimento de outros, exemplo disso é a simplicidade do equipamento que se
reflete em grande parte pela constituição maioritária de componentes normalizados e por um
número reduzido dos mesmos. Posto isto, os objetivos foram ordenados de forma a serem
atribuídos pesos relativos a cada um, com base na matriz de comparação de objetivos.
Posteriormente, foi atribuída uma avaliação, através de uma escala crescente, de 1 a 5 valores para
cada solução relativamente aos objetivos. Essa avaliação foi transformada em percentagens, que
foram somadas. A melhor solução teórica é a apresentada pela solução 4, como se pode verificar
na Tabela 9.

Monteiro, Carlos 52
Corte de pedra por fio diamantado

Tabela 9 – Avaliação das soluções


Pesos Solução 1 Solução 2 Solução 3 Solução 4
Objetivos Ordenados relativos
(%) 1-5 (%) 1-5 (%) 1-5 (%) 1-5 (%)
Segurança dos operários 17,86 5 17,86 4 14,29 5 17,86 5 17,86
Segurança da operação 17,86 5 17,86 4 14,29 5 17,86 5 17,86
Componentes adequados ao
12,5 5 12,5 5 12,5 4 10 5 12,5
meio de trabalho
Controlo dos parâmetros de
12,5 5 12,5 2 5 5 12,5 5 12,5
corte
Fácil operabilidade 10,71 4 8,57 3 6,43 4 8,57 5 10,71
Componentes normalizados 8,93 5 8,93 5 8,93 5 8,93 5 8,93
Reduzido número de
5,36 3 3,22 5 5,36 3 3,22 4 4,29
componentes
Custos reduzidos de
5,36 4 4,29 4 4,29 4 4,29 4 4,29
manutenção
Interface do software da
5,36 5 6,36 4 4,29 5 5,36 5 5,36
máquina intuitivo
Simplicidade do equipamento 3,57 4 2,86 5 3,57 4 2,86 4 2,86

Totais 100 45 93,94 41 78,94 44 91,44 47 97,15

Monteiro, Carlos 53
Corte de pedra por fio diamantado

8 SELEÇÃO E DIMENSIONAMENTO DOS COMPONENTES


CONSTITUINTES DO PROTÓTIPO

8.1 Sistema de polias

Neste subcapítulo será calculado o valor teórico da força que a polia tratora tem de exercer sobre
o fio diamantado para que não ocorra o escorregamento entre ambos. O valor da pré-tensão,
aplicada ao fio diamantado, tem extrema importância devido ao impacto deste sobre o processo de
corte (capítulo 4). Neste sentido, o valor calculado para a pré-tensão representa um valor teórico,
uma vez que é necessária a realização de diversos testes que validem ou desvirtuem o valor da pré-
tensão calculado. Todos os cálculos realizados para o pré-tensionamento são fundamentados,
tendo por base os estudos realizados para o dimensionamento de correias, devido às semelhanças
com a tecnologia de corte de pedra por fio diamantado [38]. Através das equações 3 e 4 é
formulado um sistema onde se calcula o valor da tensão no ramo tenso e a tensão no ramo bambo.

𝑇 𝑟𝑎𝑚𝑜 𝑡𝑒𝑛𝑠𝑜
= 𝑒 µ𝛼 (3)
𝑇 𝑟𝑎𝑚𝑜 𝑏𝑎𝑚𝑏𝑜

𝑃 = (𝑇 𝑟𝑎𝑚𝑜 𝑡𝑒𝑛𝑠𝑜 − 𝑇 𝑟𝑎𝑚𝑜 𝑏𝑎𝑚𝑏𝑜). 𝑣 (4)

Uma vez que existe uma carência relativa ao conhecimento da potência necessária para a
realização da operação de corte, foi realizado um estudo de mercado em algumas empresas que
comercializam equipamentos idênticos ao equipamento a projetar. Perante o estudo de mercado
realizado conclui-se que a potência mais comum utilizada, no tipo de equipamento em análise, é
de 15 kW10 11.
Outro fator totalmente desconhecido é o coeficiente de atrito entre o fio diamantado e a superfície
da polia. Segundo vários fabricantes de fio diamantado, para o tipo de operação de corte realizado
pelo equipamento projetado neste trabalho, é aconselhável a utilização de uma ferramenta de corte
com 30 a 40 pérolas por metro espaçadas por um revestimento de plástico. Assim é evidente a
dificuldade em atribuir um valor teórico relativo ao coeficiente de atrito. Para efeitos de cálculo
foi considerado um valor de 0.9. A atribuição deste valor teve como fundamentação teórica o
coeficiente de atrito estático entre o algumas conjugações de materiais idênticos ao contato do fio
diamantado com a superfície da polia motora12.
Segundo a maior parte dos fabricantes de fio diamantado, o intervalo de velocidades utilizadas
para o corte dos diversos tipos de rochas está compreendido entre os 20 e 35 𝑚⁄𝑠. A partir da
equação 4 verifica-se que o incremento da velocidade linear da ferramenta de corte provoca uma
diminuição da tensão sobre esta. Tendo em consideração o efeito da velocidade linear sobre a
tensão do fio diamantado foi selecionado o valor de velocidade linear, que resulta numa maior
tensão sobre o cabo de aço (20 𝑚⁄𝑠). Desta forma, é teoricamente esperado que, para qualquer
velocidade, não ocorra o escorregamento do fio diamantado sobre a superfície da polia motora. É

10
http://www.breton.it/marble/pt/product/Mono-wire_Shaping_machines/EASYWIRE_mono-wire_machine,
acedido a 05/11/2014;
11
http://www.poeiras.com/#!double-face-stone-block/c1xpz, acedido a 05/11/2014;
12
http://www.ctb.com.pt/?page_id=1467, acedido a 06/11/2014.
Monteiro, Carlos 55
Corte de pedra por fio diamantado

assim credível a atribuição, pelo controlador do equipamento, de uma força de pré-tensionamento


específica com base na velocidade de corte desejada para realizar a operação de corte, uma vez
que é conhecida a importância da força de pré-tensionamento exercida sobre a ferramenta de corte.
No cálculo da tensão do ramo tenso e do ramo bambo é desprezada a força centrífuga, facto que
se justifica pela reduzida velocidade linear e pelo reduzido peso por unidade de medida.

Tabela 10 - Valores dos vários fatores que formulam as equações 3 e 4


T ramo tenso 797 N

T ramo bambo 47 N

Coeficiente de atrito (µ) 0.9

Ângulo de contacto do fio diamantado com a


π
polia motora (α)
Potência (P) 15kW

Velocidade linear (𝒗) 20 𝑚⁄𝑠

A força de pré-tensionamento é dada aproximadamente por [38]:

T ramo tenso+T ramo bambo


T0 = (5)
2

Tabela 11 - Valores dos fatores que formulam a equação 5


T ramo tenso 797 N

T ramo bambo 47 N

Força de pré-tensionamento (𝑻𝟎 ) 422 N

O comprimento do fio diamantado para o sistema de polias idealizado do equipamento de corte é


aproximadamente [38]:

(𝐷−𝑑)2
𝐿 = 2𝐶 + 1.57 (𝐷 + 𝑑) + (6)
4𝐶

Tabela 12 - Valores dos fatores que formulam a equação 6


Entre-eixo (C) 3770 mm

Diâmetro da polia tratora (D) 590 mm

Diâmetro da polia motora (d) 590 mm

Comprimento do fio diamantado (L) 9400 mm

8.2 Sistema de medição da tensão exercida sobre o fio diamantado

As molas são utilizadas em equipamentos para exercerem força, transmitir flexibilidade e


armazenar ou absorver energia. Existem diversos tipos de molas com várias morfologias,
disposições e diferentes materiais que constituem o arame. No equipamento a projetar foi

Monteiro, Carlos 56
Corte de pedra por fio diamantado

empregue uma mola helicoidal de compressão com as duas extremidades do arame em esquadro e
esmeriladas. Esta seleção é justificada fundamentalmente pelos requisitos a que a mola é sujeita e
pelo local onde esta é alocada.
O material do arame da mola foi selecionado com base na carga a que esta é sujeita e pela forma
como varia a carga durante o ciclo de funcionamento da mola. Nesse sentido, o material mais
adequado para o arame da mola é o aço Cromo-Vanádio. Este material é aplicado em molas sujeitas
a tensões elevadas (impacto) e em situações em que seja essencial uma elevada resistência à fadiga.
Após selecionado o material do arame da mola foi realizado o dimensionamento desta, para cargas
dinâmicas. Em termos de fadiga é fundamental conhecer o valor da tensão média (τm) e da tensão
alternada (τa), com base nos valores da força mínima e da força máxima aplicadas sobre a mola,
durante o processo de corte. O dimensionamento de molas à fadiga é formulado por dois critérios
conhecidos da teoria da fadiga:
1º Critério: o valor da tensão alternada (τa) terá de ser inferior ou igual ao valor da tensão limite
de fadiga em torção (equação 7) [20]:

𝑆𝑠𝑒
τa ≤ (7)
𝑛

2º Critério: o valor da soma da tensão média (τm) e da tensão alternada (τa) terá de ser inferior ao
valor da tensão de cedência (ao corte) em torção (𝑆𝑠𝑒 ) (equação 8) [20]:

𝑆𝑠𝑦
τ max = τa + τm ≤ (8)
𝑛

Segundo Zimmerli, para diâmetros de arames inferiores a 10 mm, a resistência à fadiga dos aços
da mola é de 𝑆´𝑠𝑒 = 465 𝑀𝑃𝑎 para molas grenalhadas ou 𝑆´𝑠𝑒 = 310 𝑀𝑃𝑎 para molas não
grenalhadas. Estes valores de 𝑆´𝑠𝑒 devem ser afetados pelos fatores de correção de temperatura
(𝑘𝑐 ) e fiabilidade (𝑘𝑑 ). Uma vez que a variação entre a força máxima e a força mínima é elevada
é preferível o uso das molas grenalhadas, pois estas evidenciam uma maior resistência à fadiga
comparativamente à mesma mola sem o tratamento superficial [20].

𝑆𝑠𝑒 = 𝑆´𝑠𝑒 × 𝑘𝑐 × 𝑘𝑑 (9)

Tabela 13 - Valores dos fatores que formulam a equação 9


𝑺´𝒔𝒆 465 MPa

𝒌𝒄 (Temperatura ambiente) 1

𝒌𝒅 (Fiabilidade de 99%) 0.814

𝑺𝒔𝒆 378 MPa

Posteriormente foi calculada a tensão alternada (τa) [20]:

8 𝐹𝑎 𝐷
τa = Kw (10)
𝜋 𝑑3

𝐹 𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑎−𝐹 𝑚í𝑛𝑖𝑚𝑎
𝐹𝑎 = (11)
2
Monteiro, Carlos 57
Corte de pedra por fio diamantado

A força alternada (Fa) exercida sobre a mola, durante o seu ciclo de funcionamento, é
respetivamente a diferença entre a força máxima e a força mínima exercida pelo fio diamantado
sobre a polia tratora. A força mínima é representada pela força exercida sobre a polia tratora
durante a fase de pré-tensionamento, calculada anteriormente. Logo a força mínima é dada por
(equação 12) [20]:

𝐹 𝑚í𝑛𝑖𝑚𝑎 = 2 𝑇0 × 𝑠𝑒𝑛 (𝛼 ⁄2) (12)

Tabela 14 - Valores dos fatores que formulam a equação 12


Força de pré-tensionamento (𝑻𝟎 ) 422 N

Ângulo de contacto do fio diamantado com a


π
polia motora (α)

F mínima 844 N

A força máxima exercida pelo fio diamantado, sobre a polia tratora, é um valor totalmente
desconhecido em toda a bibliografia consultada. No entanto, o valor teórico atribuído é calculado
com base na tensão de cedência à tração dos cabos de aço que compõe o fio diamantado. Segundo
o fabricante, Diamant Boart, o diâmetro do cabo de aço varia entre os 3,5 e os 4mm, tendo como
base as diversas configurações de fio diamantado indicadas para o equipamento a projetar.
Sabendo o diâmetro e o tipo de configuração do cabo de aço (6 × 7 𝐹𝐶), foi calculada a tensão de
cedência à tração através da equação 13 (anexo II) [20]:

𝑇𝑈 = 𝐴 × 𝑑1.95 (13)

Tabela 15 - Valores dos fatores que formulam a equação 13


Coeficiente (A) 0.608

Diâmetro do cabo de aço (d) 3.5 mm

Tensão de cedência à tração (𝑻𝑼 ) 7000 N

Para efeitos de cálculo, foi selecionado o cabo de aço com menor diâmetro, uma vez que este é
caracterizado por um valor de tensão de cedência à tração inferior comparativamente com o cabo
de aço com um diâmetro ligeiramente maior. É conhecido que o valor de tensão de cedência à
tração do cabo é muito superior à tensão desejável do cabo de aço durante o processo de corte, e
que somente em situações de corte críticas e indesejáveis é que a tensão do fio diamantado é similar
à tensão de cedência do cabo de aço. Posto isto, foi identificada a necessidade do equipamento
controlar a tensão máxima de corte sobre o cabo de aço do fio diamantado, entre valores abaixo
da tensão de cedência à tração deste. Deste modo, é expectável, que incite um menor desgaste da
ferramenta de corte e das polias. Para efeitos de cálculo é admitida uma tensão máxima sobre a
polia tratora de 4000 N, embora este valor careça de fundamentação teórica e prática. Neste sentido
a força alternada é calculada pela equação 11 [20].

Monteiro, Carlos 58
Corte de pedra por fio diamantado

Tabela 16 - Valores dos fatores que formulam a equação 11


F máxima 4000 N

F mínima 844 N

Fa 1578 N

Com base no primeiro critério de dimensionamento da fadiga de molas (equação 7) é atribuído um


valor para o diâmetro do arame da mola inferior a 10 mm e calculado o diâmetro médio da mola.
Relativamente ao coeficiente 𝐾𝑤, este é calculado a partir da relação entre o diâmetro do arame e
o diâmetro médio da mola. O seu valor tem uma insignificante variação e uma reduzida influência
na equação 15, no entanto é admitido um valor para o diâmetro médio da mola de 50 mm,
exclusivamente para o cálculo do fator 𝐾𝑤 [20].

Tabela 17 - Valores dos fatores que formulam a equação 7 e 10


Diâmetro médio da mola Admitido (𝑫𝒎 ) 50 mm

Diâmetro do arame atribuído (d) 10 mm


𝑫𝒎
Índice de mola (c): 𝒄 = 5
𝒅

𝟒𝒄−𝟏 𝟎.𝟔𝟏𝟓
Fator de correção de Wahl (Kw): 𝑲𝒘 = + 1.3
𝟒𝒄−𝟒 𝒄

Força alternada (Fa) 1578 N

Fator de segurança (n) 1.2

Tensão alternada (𝛕𝐚) = (𝑺𝒔𝒆 ⁄𝒏) 315 MPa

Diâmetro médio calculado 60 mm

Diâmetro médio da mola atribuído (D) 45 mm

Tensão alternada (𝛕𝐚) para um diâmetro médio da mola de 45 mm 235 MPa

Durante o cálculo do diâmetro médio da mola foi necessário atribuir um valor inferior ao diâmetro
médio calculado, uma vez que para o diâmetro médio calculado a tensão máxima (τ máx) exercida
sobre a mola excedia a tensão cedência em torção (𝑆𝑠𝑦 ) (equação 8). Foi necessário atribuir um
diâmetro médio à mola para que esta resistisse às solicitações provenientes do processo de corte.
O valor do diâmetro médio da mola, que respeita os dois critérios de dimensionamento de molas
à fadiga, é de 45 mm [20].
Após ser determinado o diâmetro médio e o diâmetro do arame da mola, com base no primeiro
critério à fadiga (equação 7), foi verificado pelo segundo critério (critério de cedência estática)
(equação 8) se a mola resiste à carga a que é sujeita. Posto isto, foi calculada a força média (Fm)
com base na equação 14 [20]:

𝐹 𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑎+𝐹 𝑚í𝑛𝑖𝑚𝑎
𝐹𝑚 = (14)
2

Tabela 18 - Valores dos fatores que formulam a equação 14


Força máxima 4000 N

Força mínima 844 N

Força média (Fm) 2422 N

Monteiro, Carlos 59
Corte de pedra por fio diamantado

Posteriormente foi calculada a tensão média (τm) [20]:

8 𝐹𝑚 𝐷
τm = Kw (15)
𝜋 𝑑3

Tabela 19 - Valores dos fatores que formulam a equação 15


Diâmetro médio da mola Admitido (𝑫𝒎 ) 50 mm

Diâmetro do arame atribuído (d) 10 mm


𝑫𝒎
Índice de mola (c): 𝒄 = 5
𝒅

𝟒𝒄−𝟏 𝟎.𝟔𝟏𝟓
Fator de correção de Wahl (Kw): 𝑲𝒘 = + 1.3
𝟒𝒄−𝟒 𝒄

Força média (Fm) 2422 N

Fator de segurança (n) 1.2

Diâmetro médio da mola especificado (D) 45 mm

Tensão média (𝛕𝐦) 360 MPa

Posteriormente foi calculada a tensão de cedência (ao corte) em torção (𝑆𝑠𝑦 ) (equação 17) com
base na tensão de rotura à tração da mola (𝑆𝑢𝑡 ) (equação 16) (Anexo III) [20].

𝐴
𝑆𝑢𝑡 = 𝑑𝑚 (16)

Tabela 20 - Valores dos fatores que formulam a equação 16


Constante (A) 2000 MPa

Diâmetro do arame (d) 10 mm

Expoente (m) 0,167

𝑺𝒖𝒕 1362 MPa

𝑆𝑠𝑦 = 0.56 𝑆𝑢𝑡 (17)

Tabela 21 - Valores dos fatores que formulam a equação 17


𝑺𝒖𝒕 1362 MPa
𝑺𝒔𝒚 763 MPa

Por fim é validado o segundo critério para o dimensionamento de molas helicoidais à fadiga
(equação 8) [20]:

𝑆𝑠𝑦
τ max = τa + τm ≤ (8)
𝑛

Monteiro, Carlos 60
Corte de pedra por fio diamantado

Tabela 22 - Valores dos fatores que formulam a equação 8


Tensão alternada (𝛕𝐚) 235 MPa

Tensão média (𝛕𝐦) 361 MPa

Tensão de cedência em torção (𝑺𝒔𝒚 ) 763 MPa

Fator de segurança (𝒏) 1,2


𝑺𝒔𝒚
𝛕𝐚 + 𝛕𝐦 ≤ 596𝑀𝑃𝑎 ≤ 635 𝑀𝑃𝑎
𝒏

Terminado o dimensionamento da mola à fadiga, foi realizado o cálculo das restantes


especificações morfológicas da mola, baseados na deformação admissível (equação 18) e na
configuração requerida para as extremidades da mola. Admitindo uma deformação máxima da
mola de 60 mm foi calculado o número de espiras ativas da mola [20]:

8 𝐹𝑚𝑎𝑥 𝐷 3 𝑁𝑎
𝑦 = 𝐾𝑤 (18)
𝑑4 𝐺

Tabela 23 - Valores dos fatores que formulam a equação 18


Fator de correção de Wahl (Kw) 1.3
Força máxima (F máx) 4000 N
Diâmetro médio da mola (D) 45 mm
Número de espiras ativas (Na) 12
Diâmetro do arame (d) 10 mm
Módulo de elasticidade da mola (G)13 77 GPa
Deformação (y) 60 mm

A configuração das extremidades da mola em esquadria e esmeriladas confere à mola a seguinte


morfologia [20]:
1º) Número total de espiras da mola (equação 19):

𝑁𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑁𝑎 + 2 (19)

Tabela 24 - Valores dos fatores que formulam a equação 19


Número de espiras ativas da mola (Na) 12

Número total de espiras da mola (Na total) 14

2º) Comprimento da mola comprimida (equação 20):

𝐿𝑖 = (2 + 𝑁𝑎) 𝑑 (20)

13
http://www.hoesch.com.br/index.php/tecnologia-constante/br/constante-elastica, acedido a 10/11/2014;
Monteiro, Carlos 61
Corte de pedra por fio diamantado

Tabela 25 - Valores dos fatores que formulam a equação 20


Número de espiras ativas da mola (Na) 12

Diâmetro do arame (d) 10 mm

Comprimento da mola comprimida (Li) 140 mm

3º) Passo da mola (equação 21):


(𝑦+𝐿𝑖 )−2𝑑
𝑃= (21)
𝑁𝑎

Tabela 26 - Valores dos fatores que formulam a equação 21


Deformação (y) 60 mm

Comprimento da mola comprimida (Li) 140 mm

Diâmetro do arame (d) 10 mm

Número de espiras ativas da mola (Na) 12

Passo da mola (P) 15 mm

4º) Comprimento livre da mola (equação 22):

𝐿0 = 𝑁𝑎 × 𝑃 + 2𝑑 (22)

Tabela 27 - Valores dos fatores que formulam a equação 22


Número de espiras ativas da mola (Na) 12

Passo da mola (P) 15

Diâmetro do arame (d) 10 mm

Comprimento livre da mola (𝑳𝟎 ) 200 mm

Em suma, as características da mola helicoidal de compressão dimensionada para desempenhar a


função pretendida estão estabelecidas na Tabela 28.

Tabela 28 - Caraterísticas da mola helicoidal de compressão dimensionada


Comprimento livre da mola (𝑳𝟎 ) 200 mm

Deformação (y) 60 mm
𝑭 𝒎á𝒙
Constante da mola (K): 𝑲 =
𝒚 66667 𝑁⁄𝑚

Diâmetro do arame (d) 10 mm

Diâmetro médio da mola (D) 45 mm

Índice de mola (C) 4,5

Número de espiras ativas da mola (Na) 12

Configuração das extremidades da mola Extremidades em esquadria e esmeriladas

Material do arame da mola Aço Cromo-Vanádio

Tratamento superficial do arame Grenalhagem

Monteiro, Carlos 62
Corte de pedra por fio diamantado

8.3 Colunas do pórtico

A seleção do perfil estrutural das colunas do pórtico do equipamento a dimensionar, teve por base
a deflexão máxima admissível, ou seja, é a capacidade da estrutura suportar determinado
carregamento sem sofrer deformações consideradas excessivas para determinada aplicação. A
deflexão máxima admissível de uma viga sob um determinado carregamento tem uma importância
determinante, uma vez que as especificações de projeto de uma viga, geralmente incluem um valor
máximo admissível para a sua deflexão [39].
A Figura 61 representa, simplificadamente, o sentido e a direção da carga que o patim da guia
linear exerce sobre a viga durante o processo de corte.

Curvatura do fio diamantado

Figura 61- Representação do sentido e direção da carga exercida pelos patins da guia linear nas vigas do pórtico,
com base na curvatura do fio diamantado

Na Figura 61 é ilustrada uma viga em balanço, onde uma das extremidades é encastrada no solo.
A carga P é aplicada na extremidade livre da viga, pois é nesta posição que se verifica a máxima
deflexão (1550 mm).
Tendo como base a equação 23, relativa à deflexão de vigas em balanço, e considerando que a
carga máxima (P) é a mesma que a calculada anteriormente para a tensão de cedência à tração do
cabo de aço, conclui-se que para uma deflexão máxima admissível de 1 mm é necessário um perfil
em aço com um momento de inércia de 4.35 × 103 𝑐𝑚4 , na direção da carga aplicada na viga.

𝑃𝑝 𝐿3
𝑦𝑎 = (23)
3𝐸𝐼

Monteiro, Carlos 63
Corte de pedra por fio diamantado

Tabela 29 - Valores dos vários fatores intervenientes na equação 23


Deflexão máxima (ya) 1mm

Carga máxima aplicada na viga (P) 7000 N

Fator de segurança 1.1

Potência de projeto (𝑷𝒑 ) 7700 N

Comprimento da viga onde é aplicada a carga (L) 1550 mm

Módulo de elasticidade do aço (E) 210 Gpa

Momento de inércia (I) 4.35 × 103 cm4

O perfil cantoneira de abas iguais a 250x250x20 (Figura 62) foi o perfil selecionado para as
colunas do pórtico. A preferência deste perfil, em prol de outros, é justificado por fatores
meramente construtivos dos vários componentes periféricos à coluna.

Figura 62- Perfil cantoneira de abas iguais (Fonte: http://www.scielo.br/img/revistas/rem/v60n2/n02a18fig03.gif,


acedido a 23/11/2014)

Relativamente à estabilidade da coluna, isto é, a capacidade desta suportar determinado


carregamento axial sem sofrer uma mudança abrupta da sua configuração, conclui-se, após uma
análise da carga axial excêntrica que atua sobre a coluna, com o perfil selecionado anteriormente
(cantoneira de abas iguais 250x250x20), que a encurvadura exercida na coluna é desprezável [39].

8.4 Sistema de transmissão do movimento sincronizado das estruturas das


polias

Relativamente ao sistema idealizado no subcapítulo 7.5.2.2, referente ao posicionamento do fio


diamantado, foram realizadas algumas modificações relevantes para o projeto final do
equipamento. O motivo que propiciou a mudança do sistema ilustrado na Figura 63 (anteriormente
ilustrado pela Figura 45), para a movimentação sincronizada das estruturas, foi o facto do peso
destas estarem aplicadas sobre o respetivo sistema de transmissão de movimento do fuso com a
porca. Este facto iria provocar um desgaste prematuro dos dois componentes, aliado à imprecisão
do movimento.

Monteiro, Carlos 64
Corte de pedra por fio diamantado

Legenda:
1 – Corrente de elos
2 – Roda dentada
3 – Guia linear
4 – Fuso
5 – Coluna do pórtico

Figura 63 - Representação esquemática do mecanismo de movimentação da estrutura metálica

A solução idealizada para resolver o problema verificado passa pelo acréscimo de uma roldana em
cada coluna do pórtico, através da qual é movimentado um cabo de aço. Este é ligado à respetiva
estrutura e a uma massa sensivelmente de igual valor (contrapeso), situado do lado oposto da
coluna do pórtico (Figura 64).

Legenda:
1 – Roldana
2 – Estrutura da roldana
3 – Cabo de aço
Pr – Carga resultante exercida
sobre o veio da roldana

Figura 64 - Ilustração do sistema de equilíbrio de massas das estruturas das polias

A roldana fixa no topo da coluna do pórtico tem a função de auxiliar o movimento linear do cabo
de aço mas também de suportar a carga composta pelo peso da estrutura de polias e pelo
contrapeso. Esta modificação faz com que o binário necessário, realizado pelo motor sobre o fuso
a que é acoplado, seja muito reduzido para movimentar de forma sincronizada as duas estruturas.
Para além disso, a carga exercida sobre o sistema de transmissão de movimento dos fusos com as
porcas é desprezável.

Monteiro, Carlos 65
Corte de pedra por fio diamantado

8.5 Sistema de transmissão do movimento sincronizado das colunas do pórtico

No presente trabalho não foram selecionadas as guias lineares sobre as quais ocorre o movimento
sincronizado das colunas que compõem o pórtico. Também não foram selecionados os motores
elétricos que acionam o sistema de transmissão pinhão cremalheira. Isto verifica-se, uma vez que
este tópico não contempla os objetivos propostos para o presente trabalho, sendo um trabalho a
desenvolver no futuro.

8.6 Especificações técnicas do protótipo

As especificações técnicas referentes ao protótipo encontram-se especificadas na Tabela 30.


É evidente a ausência de algumas especificações, mais concretamente, as potências dos motores
elétricos necessárias para o movimento de translação das colunas do pórtico e do movimento das
estruturas das polias e o peso do protótipo. A seleção dos componentes em falta é proposto para
trabalhos a realizar no futuro com base no trabalho apresentado.

Tabela 30 - Especificações técnicas do protótipo


Potência do motor da polia motora 15.000 W

Potência do motor do fuso -

Potência dos motores da transmissão pinhão cremalheira -

Gama de velocidades lineares do fio diamantado [0 a 40] m/s

Velocidade de avanço de corte Controlada pelo controlador

Caudal de água [15 a 25] l/min

Pré-tensionamento do fio diamantado Controlado pelo controlador

Comprimento do fio diamantado 9400 mm

Altura mínima de corte referente à área de trabalho 20 mm

Altura máxima de corte referente à área de trabalho 400 mm

Dimensões da área de trabalho 2100 x 4500 mm

Peso do equipamento -

Monteiro, Carlos 66
Corte de pedra por fio diamantado

8.7 Modelação do protótipo

Figura 65 – Perspetiva frontal do protótipo

Figura 66 – Perspetiva da retaguarda do protótipo

Monteiro, Carlos 67
Corte de pedra por fio diamantado

9 TRABALHOS FUTUROS

Neste capítulo são enunciadas algumas propostas de trabalho a desenvolver, diretamente


relacionados com a tecnologia de corte de pedra por fio diamantado.
Seria pertinente prosseguir o desenvolvimento e construção do protótipo modelado, com o objetivo
de estudar detalhadamente o corte de pedra por fio diamantado. A programação do controlador do
protótipo é um trabalho a realizar no futuro, por parte dos alunos do mestrado de sistemas
mecatrónicos
O desenvolvimento e construção do protótipo tem como principal interesse a clarificação da
influência dos parâmetros de corte estudados pelos vários autores em análise no presente trabalho.
Seria também interessante estudar os parâmetros ou fatores intervenientes no corte não abordados
pelos autores, mas identificados como possivelmente relevantes no processo de corte. Exemplo
desses parâmetros é a verificação de valores reais de alguns parâmetros, sobre os quais não existe
qualquer informação, por parte dos fabricantes de equipamentos nem por parte dos autores com
bibliografia nesta área. Existe ainda a possibilidade de melhorar o protótipo modelado, com o
principal intuito de resolver possíveis problemas construtivos existentes nos equipamentos de corte
similares comercializados.
Relativamente às ferramentas de corte de pedra, é extremamente pertinente o estudo e
desenvolvimento de diferentes geometrias e configurações, conjugado com a contínua evolução
relativa à composição química e física da matriz metálica da pasta diamantada.
Uma outra análise interessante a realizar, devido à sua importância e beneficência que se pode
refletir no processo de corte, passa pelo estudo, aplicação e teste de diferentes materiais sobre a
superfície das polias.
Por fim, é proposta a análise sobre a capabilidade de adaptação do conceito base do processo de
corte de pedra por fio diamantado, para o corte de outros materiais, com especial interesse para a
madeira.

Monteiro, Carlos 69
Corte de pedra por fio diamantado

10 CONCLUSÕES E CRÍTICAS AO TRABALHO DESENVOLVIDO NA


ÁREA ATÉ À ATUALIDADE

Na generalidade das indústrias do setor industrial das rochas ornamentais em Portugal, verifica-se
um défice de organização e controlo da produção fabril aliado à carência de planos de manutenção
do parque de máquinas. Todavia, nos últimos anos, é notório o investimento na reformulação deste
setor, na implementação de estratégias e conceitos de organização e controlo da produção aliado
as estratégias de processamento de todos os resultantes do corte. Os operários que laboram neste
setor industrial são caraterizados na sua generalidade, pelas reduzidas habilitações literárias e pela
reduzida formação na operação dos diversos equipamentos, o que origina rotinas de trabalho
ineficazes e descuidadas.
Existe em Portugal uma indústria crescente de fabrico de equipamentos e ferramentas de corte de
pedra, desenvolvidos não só para apoiar a exploração e trabalho da pedra em Portugal, mas também
é dirigida a apoiar a exportação, em particular para o Brasil.
Foi identificado um défice sobre a influência da parametrização da técnica de corte de pedra por
fio diamantado, que deve ser colmatado pela realização de estudos a efetuar em condições
controladas. No entanto, esta premissa é baseada na bibliografia tratada neste trabalho, onde é
reconhecido um atraso considerável entre o trabalho científico publicado relativo à tecnologia de
corte de pedra por fio diamantado e o nível tecnológico presente nos equipamentos de corte de
pedra comercializados em diversas entidades.
Em suma, a tecnologia de corte de pedra por fio diamantado evidencia um enorme potencial
evolutivo, dada a sua intensa utilização em diversas operações fabris nas rochas ornamentais.
É importante realçar o trabalho científico publicado na conferência do CONEM no Brasil (Anexo
IV) e a preparação de outro artigo para outra conferência, mais concretamente o COBEM,
resultantes da presente dissertação. As publicações científicas mencionadas têm como principal
público-alvo o Brasil, pelas fortes ligações educativas e empresariais com Portugal.

Monteiro, Carlos 71
11 BIBLIOGRAFIA

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Corte de pedra por fio diamantado

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[24] Y. Ozcelik; E. Yilmazkaya, 2010, “Performance analysis of a diamond bead in its lifetime by
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[25] Dr. S. C. Jain; Dr. S. S. Rathore; Dr. H.K. Jain, 2013, “Investigation the Effects Of Machine
Parameters On Cutting Performance Of Diamond Wire Saw Machine In Cutting Of Marble
Bench”. International Journal of Engineering Research & Technology, Índia;
[26] Erlon Cavazzana, 2005, “Modelo teórico de um fio diamantado para corte de mármore e
granito”. Projeto de Graduação, Universidade Federal do Espírito Santo;
[27] Atlascopco, 2014, http://www.atlascopco.pt/Images/SpeedCut_ac0047924_456.jpg,
consultado a 20/02/2014;
[28] InovStone. (2012). “Novas tecnologias para a competitividade da pedra natural”;
[29] Nigel Cross. 2000, “Engineering Design Methods: Strategies for Product Design”. 3rd
Edition, John Wiley & Sons LTD, Chichester;
[30] Richard Birmingham; Graham Cleland; Robert Driver; David Maffin. 1997, “Understanding
Engineering Design”. Prentice Hall;
[31] William Perkins Spence. 1988, “Engineering Graphics”. 2º Edição, Prentice Hall;
[32] Pahl, G; Beitz, W; Feldhusen, J; Grote, K.H. 2007 “Engineering Design: A Systematic
Approach”, Third Edition, Springer, London;
[33] Clébio Goulart Coimbra Filho. (2006). “Relação entre processo de corte e qualidade de
superfícies serradas de granitos ornamentais”. Dissertação de mestrado. Escola de Engenharia
de São Carlos da Universidade de São Paulo;
[34] Haik, Y; Shahin, T. 2010, “Engineering Design Process”, Cengage Learning, Second Edition,
USA;
[35] Professor Geomar, 2008, “Automação industrial”, Universidade Federal de Santa Maria;
[36] Pedro Guedes, 2011, “Metrologia industrial”, ETEP, Lisboa;
[37] Professor Luís Filipe Baptista, 2012, “Instrumentação e controlo”, Escola Nautica Infante
D.Henrique, Lisboa;
[38] Professor catedrático Carlos Branco, Professor António Miranda; (1986) “2º Curso de
aplicações de transmissões mecânicas”, Universidade do Minho;
[39] Ferdinand P.Beer; E Russul Johnston, Jr; John T. DeWolf; David F. Mazirek. (2011)
“Mecânica dos materiais”. 5º edição. McGraw-Hill;

Monteiro, Carlos 74
ANEXO I

Tabela A - Comparações técnicas entre o fio helicoidal e o fio diamantado para a exploração de mármore (Fonte: [3])

Tabela B - Influência dos parâmetros de corte na performance de corte no mármore macio (Fonte: [25])
Influência dos parâmetros de corte na
performance de corte no mármore macio
Tensão
Velocidade Área da Desgaste das
aplicada ao Tempo
Nº do periférica do fio superfície Produtividade pérolas
fio de corte
ensaio diamantado cortada de corte (𝑚2 /h) diamantadas
diamantado (h)
(m/s) (𝑚2 ) (μm/𝑚2 )
(N)
1 27 850 438,48 93,07 4,71 1,05
2 28 850 441,17 93,89 4,70 1,07
3 29 850 445,76 88,03 5,06 1,08
4 30 850 457,19 99,97 4,57 1,09
5 27 930 443,27 98,82 4,49 1,06
6 28 930 461,52 85,07 5,43 1,08
7 29 930 452,67 82,54 5,48 1,09
8 30 930 437,58 83,16 5,26 1,1
9 27 1010 448,62 66,92 6,70 1,14
10 28 1010 444 64,94 6,84 1,17
11 29 1010 452,88 63,61 7,12 1,19
12 30 1010 451,96 67,06 6,74 1,2

1
Tabela C - Influência dos parâmetros de corte na performance de corte no mármore com dureza média (Fonte: [25])
Influência dos parâmetros de corte na
performance de corte no mármore com
dureza média

Velocidade Tensão
Área da Desgaste das
periférica do aplicada ao Tempo
Nº do superfície Produtividade pérolas
fio fio de corte
ensaio cortada de corte (𝑚2 /h) diamantadas
diamantado diamantado (h)
(𝑚2 ) (μm/𝑚2 )
(m/s) (N)
1 27 850 414,85 103,47 4,01 1,16
2 28 850 425,59 95,96 4,44 1,18
3 29 850 420,13 97,93 4,29 1,19
4 30 850 421,79 101,13 4,17 1,2
5 27 930 418,22 86,06 4,86 1,17
6 28 930 418,49 79,86 5,24 1,19
7 29 930 423,57 82,85 5,11 1,2
8 30 930 423,27 87,29 4,85 1,21
9 27 1010 409,6 63,31 6,47 1,25
10 28 1010 415,05 61,97 6,70 1,28
11 29 1010 418,53 63,85 6,55 1,29
12 30 1010 421,86 65,5 6,44 1,3

Tabela D - Influência dos parâmetros de corte na performance de corte no mármore com elevada dureza
(Fonte: [25])
Influência dos parâmetros de corte na
performance de corte no mármore com
elevada dureza

Velocidade Tensão
Área da Desgaste das
periférica do aplicada ao Tempo
Nº do superfície Produtividade pérolas
fio fio de corte
ensaio cortada de corte (𝑚2 /h) diamantadas
diamantado diamantado (h)
(𝑚2 ) (μm/𝑚2 )
(m/s) (N)
1 27 850 363,03 94,69 3,83 1,27
2 28 850 365,48 84,72 4,31 1,29
3 29 850 368,1 88,1 4,18 1,3
4 30 850 375,03 94,53 3,97 1,31
5 27 930 372,45 89,88 4,14 1,29
6 28 930 363,43 80,47 4,52 1,32
7 29 930 368,16 85,67 4,30 1,33
8 30 930 372,49 88,51 4,21 1,34
9 27 1010 368,65 62,43 5,91 1,38
10 28 1010 369,69 59,47 6,22 1,41
11 29 1010 365,63 60,7 6,02 1,42
12 30 1010 363,8 61,11 5,95 1,43

2
ANEXO II

3
ANEXO III

4
ANEXO IV

CORTE DE PEDRA POR FIO DIAMANTADO

Carlos F. F. Monteiro, a58824@alunos.uminho.pt


João Mendonça Silva, jpmas@dem.uminho.pt
António Caetano Monteiro, cmonteiro@dem.uminho.pt

Universidade do Minho, Campus de Azurém, 4800-048 Guimarães, Portugal

Resumo: A área das rochas ornamentais e de revestimento constitui uma das mais promissoras no sector mineral,
com uma taxa média anual de crescimento da produção mundial superior a 6% ao ano, nos últimos 20 anos.
Constituem um produto com elevado interesse à escala mundial não só devido às suas propriedades naturais
(estéticas e estruturais) mas sobretudo pela diversidade de aplicações, que incluem a arquitetura e a construção
civil. Desenvolvimentos tecnológicos recentes do tratamento da pedra, desde a pedreira ao acabamento final, fazem
prever um elevado investimento em novos equipamentos e apontam para a necessidade de conduzir investigação
aplicável ao domínio. As tecnologias de corte, têm sido alvo de grande atenção principalmente por parte das várias
indústrias de exploração e transformação de rochas naturais. Parece evidente contudo existir necessidade de melhor
caracterização dos novos processos de corte, em particular do corte por fio diamantado. Esta técnica é caracterizada
por permitir uma grande diversidade de operações de corte que lhe confere elevada versatilidade, apresentando
elevadas taxa e velocidade de corte, permitindo a obtenção de uma espessura média de corte reduzida, com baixo
desperdício de matéria-prima e um traçado de corte muito regular de que resulta um excelente acabamento
superficial. Os equipamentos utilizados por esta tecnologia apresentam um reduzido custo de manutenção, permitem
realizar multicorte, e, por controlo numérico fica possibilitada a obtenção de geometrias tridimensionais, quer
diretamente por orientação da direção do fio de corte, quer pela utilização de cabeças de corte com ferramentas
convencionais. O corte por fio diamantado é conseguido por abrasão entre a pedra e a ferramenta, constituída por
de pérolas diamantadas montadas num cabo de aço, o qual é arrastado e orientado por meio de um sistema adequado
de polias. A abordagem desta tecnologia tem sido empírica, pelo que se justifica estudo sistematizado dos principais
parâmetros envolvidos, não só para melhorar as condições operacionais dos equipamentos em utilização mas
também para permitir o desenvolvimento de equipamentos mais eficazes, robustos e económicos. Este domínio
reveste-se de particular interesse no caso do Brasil, não só porque apresenta uma indústria extrativa em expansão,
mas também pela valorização do produto acabado alcançável pelo desenvolvimento tecnológico dos equipamentos
associados ao corte de pedra.

Palavras-chave: Corte de pedra, Fio diamantado, CNC

1. INTRODUÇÃO

As rochas ornamentais são um produto com elevado interesse devido às propriedades características à diversidade
de aplicações deste produto (Calaes, 2009 e Ribeiro, 2005). As aplicações das rochas ornamentais são consideradas
quase ilimitadas, e podem ser divididas em 4 grupos principais: arquitetura e construção (os grupos com maior
relevância), revestimento de elementos urbanos, arte e decoração. As técnicas de corte aplicadas na exploração de
rochas ornamentais provenientes de maciços rochosos requerem tecnologia também necessária posteriormente no
processamento dos blocos resultantes da fase de exploração. Assiste-se hoje à evolução das várias tecnologias de corte
de pedra existentes e ao desenvolvimento de outras, potenciada pelas possibilidades técnicas atuais. O corte de pedra
por fio diamantado, uma técnica recente, tem proliferado em diversos sectores industriais, principalmente na
construção civil e na exploração das rochas naturais. Esta tecnologia de corte apresenta uma elevada versatilidade de
operações de corte, é caracterizada por elevada velocidade de corte, consegue reduzir a espessura média de corte
permitindo assim reduzir o desperdício de pedra em comparação com outras tecnologias, e ainda um traçado de corte
muito regular aliado a um excelente acabamento superficial (Regadas, 2006). Contudo não se encontram bem

5
especificados os parâmetros de corte mais adequados para o corte dos diferentes tipos de pedra. Parece pois justificar-
se a realização de estudos sobre a tecnologia de corte de pedra por fio diamantado com o objetivo de desenvolver
melhoramentos, quer ao nível da ferramenta de corte, quer do controlo dos equipamentos ou ainda no desenvolvimento
de novos equipamentos de corte.
O presente trabalho inicia o estudo da tecnologia de corte por fio diamantado; aborda-se a caracterização dos
vários constituintes da ferramenta de corte, o fabrico de pérolas diamantadas, os parâmetros de corte associados a esta
tecnologia de corte de pedra, a sua influência no processo de corte, e produz-se uma reflexão crítica sobre o tema. A
finalizar apresenta-se uma perspetiva dos trabalhos a realizar em continuação.

2. O FIO DIAMANTADO

O fio diamantado é constituído por um cabo de aço inoxidável, em que são inseridas pérolas diamantadas
regularmente espaçadas (Regadas, 2006, Gotardo, 2008). Este fio constitui a ferramenta de corte, cuja configuração é
definida tendo em atenção principalmente o tipo de rocha a cortar e a própria operação de corte a realizar. As pérolas
diamantadas são mantidas em posição por separadores adequados, sendo atualmente usadas atualmente três
configurações possíveis, constituídas por molas metálicas, revestimento de material plástico ou borracha, que são
apresentadas respetivamente nas figuras 1, 2 e 3. Estes sistemas de separação das pérolas diamantadas constituem
também um revestimento de proteção do cabo.

Figura 67. Fio Diamantado revestido com molas metálicas (Diamant Boart, 2008)

Figura 68. Fio Diamantado com revestimento em plástico (Diamant Boart, 2008)

Figura 69. Fio diamantado com revestimento em borracha (Diamant Boart, 2008)

As pérolas constituem o elemento cortante, cabendo ao cabo transmitir o esforço de tração responsável pelo
deslocamento das pérolas sobre a pedra, e, assim, realizando o corte por abrasão. Os elementos separadores permitem
acomodar pequenas diferenças de deslocamento das pérolas durante o corte, mas também funcionam como proteção
do cabo contra a abrasão provocada pelas partículas originadas no corte (resultantes do desgaste da pedra e das próprias
pérolas).

2.1. Fabrico das pérolas diamantadas

As pérolas diamantadas são constituídas por um suporte anelar em aço, revestido por pasta diamantada; esta pode
ser depositada sobre o suporte anelar pelos processos de electrólise ou sinterização. As pérolas diamantadas
sinterizadas (fig. 4) têm uma maior circulação comercial devido à sua maior durabilidade e aplicabilidade ao corte de
diferentes tipos de rocha, o que conduz a um custo operacional inferior comparativamente às perolas diamantadas
electrolíticas (Diamant Boart , 2008).

Figura 70. Pérolas Sinterizadas (Diamant Figura 71. Pérolas electrolíticas (Diamant
Boart, 2008) Boart, 2008)

6
As pérolas diamantadas electrolíticas (figura 5) são processadas por deposição galvânica, em que se utiliza como
eletrólito uma mistura de sais de níquel. O suporte anelar em aço é assim revestido por uma pasta metálica que contém
grãos de diamante embutidos, salientes sobre a sua superfície (Cabral et al., 2011).
Atualmente a maioria das ferramentas diamantadas é produzida pelo processo de sinterização. A sinterização por
compactação a quente é também o processo mais comum de fabrico de pérolas diamantadas (DE OLIVEIRA e
Filgueira, 2008 e Marcello Filgueira e Pinatti, 2006). Neste processo as partículas de diamante são ligadas à matriz
metálica por combinação de interações químicas e físicas. A concentração de partículas de diamante e o tipo de ligante
a ser usado na matriz metálica dependem fundamentalmente da natureza e abrasividade da rocha a ser cortada e da
produtividade de corte pretendida (Cabral et al., 2011 e R. R. Thorat et al., 2004). A concentração de partículas de
diamante varia entre 0,26 e 0,44 g de diamante por cm3 de volume do abrasivo (DE OLIVEIRA e Filgueira, 2008).
Os ligantes mais comuns presentes nas matrizes metálicas são o tungsténio, empregue em operações de corte em que
o material a cortar tenha uma dureza extremamente elevada, o cobalto, destinado ao corte de materiais com durezas
elevadas e são empregues ligas de cobalto-ferro, ferro-cobalto e ferro-bronze na matriz metálica com ligantes para o
corte de materiais macios (Marcello Filgueira, 2006). A principal função dos ligantes é reter as partículas de diamante
na matriz metálica, evitando a sua perda prematura e assim controlando o desgaste da matriz metálica.
As pérolas diamantadas sinterizadas assumem na actualidade o domínio da aplicação em todo o tipo de operações
de corte de pedra por fio diamantado. Contudo vem sendo evidenciada a necessidade de estudar a introdução de
diferentes elementos de liga como alternativa ao cobalto, dada a toxicidade deste elemento afectar o seu processamento
e também por apresentar grandes variações de preço de mercado (R. R. Thorat et al., 2004 Anderson Barbosa, 2008 e
HUANG Guoqin e XU Xipeng, 2013). Poderá também colocar-se a hipótese de desenvolver novas configurações das
pérolas diamantadas ou mesmo do conjunto que constitui a ferramenta de corte

2.2. Parametrização da operação de corte de pedra por fio diamantado

O desgaste das pérolas diamantadas sinterizadas não é linear. O mecanismo de desgaste deste tipo de pérolas
consiste no desbaste gradual da matriz metálica, que suporta os diamantes, para que estes aflorem e se tornem afiados.
À medida que os grãos de diamante são desgastados, novos grãos afloram devido ao desbaste da matriz metálica,
estabelecendo-se um ciclo (Douglas Marcon et al., 2012).
Segundo o mesmo autor a tecnologia de corte por fio diamantado é, na actualidade, a tecnologia de corte de pedra
mais difundida no mundo. O custo do fio diamantado representa 40% a 50% do total da operação de corte, sendo o
desgaste das pérolas diamantadas o principal factor económico a considerar na operação de corte. Neste sentido é de
extrema importância conciliar uma elevada produtividade com uma vida útil da ferramenta de corte satisfatória.
Consequentemente parece indispensável conhecer a influência dos parâmetros de corte intrínsecos desta tecnologia
de corte (Douglas Marcon et al., 2012 e Y. Ozcelik e E. Yilmazkaya, 2010). A operação de corte de pedra por fio
diamantado é afectada por parâmetros controlados e não controlados, que podem ser sistematizados como se apresenta
na tabela 1. Os parâmetros de corte controlados são relativos à parametrização da técnica de corte e a aspectos
operacionais, ao passo que os parâmetros de corte não controlados são relativos às propriedades das rochas a cortar
(Douglas Marcon et al., 2012 e Dr. S. C. Jain et al., 2013, 2010). Os parâmetros controlados são definidos na máquina
de corte principalmente em função das propriedades da rocha a cortar (Erlon Cavazzana, 2005).

Tabela 31 – Parâmetros de corte de pedra por fio diamantado (Douglas Marcon et al., 2012 eY.
Ozcelik e E. Yilmazkaya, 2010)
Parâmetros não controlados
relacionados com as Parâmetros controlados ou parcialmente controlados
propriedades das rochas

Propriedades do equipamento e
Operabilidade
 Dureza ferramenta de corte
 Abrasividade  Potência da máquina
 Qualificação do operador
 Tensões  Velocidade periférica
 Direção de corte
 Descontinuidades  Tensão exercida no fio
 Ângulos de ataque do fio
 Grau de alteração diamantado
diamantado com o bloco
 Propriedades mineralógicas  Caudal e pressão da água
rochoso
 Características texturais  Raio de curvatura do fio
 Configuração do fio
diamantado em contacto com a
diamantado
superfície de corte
7
Os resultados do estudo efectuado por Dr. S. C. Jain et al., mostram do aumento da velocidade periférica e da
tensão do fio diamantado resulta um aumento do desgaste das pérolas diamantadas (figuras 6, 7 e 8).
Relativamente à produtividade de corte, não parece demonstrada uma relação directa provocada pela variação da
velocidade periférica e da tensão do fio diamantado parametrizados na operação de corte (figuras 9, 10 e 11). O
desgaste provocado nas pérolas diamantadas é directamente proporcional à dureza das rochas a cortar. Já a
produtividade de corte é inversamente proporcional à dureza das rochas a cortar (Dr. S. C. Jain et al., 2013). Todavia
nesse estudo teórico-experimental verifica-se a deficiência de caracterização de diversos parâmetros de corte
importantes, como as propriedades dos mármores a cortar, incluindo a granulometria, e o valor da dureza, ou as
características texturais, estabelecidos qualitativamente sem indicação de valores de referência quantitativos que
possam servir de base para estudos comparativos. Também não são indicados os parâmetros controláveis, como a
configuração da ferramenta de corte, a potência da máquina de corte, os ângulos de ataque da ferramenta de corte ao
bloco rochosa e ainda os valores da pressão ou caudal da água usados no corte.

Tracção de 850 N aplicada ao fio diamantado


Desgaste das pérolas diamantadas

1,4E-06
1,2E-06
1,0E-06 Mármore_Macio
8,0E-07
(𝐦⁄𝒎𝟐 )

6,0E-07 Mármore_dureza_
Média
4,0E-07
Mármore_dureza_
2,0E-07 elevada
0,0E+00
26 27 28 29 30 31
Velocidade periférica (𝐦⁄𝐬)

Figura 72. Influência da velocidade periférica e da tracção sobre o fio diamantado no desgaste das pérolas
diamantadas no corte de mármores (Dr. S. C. Jain et al. 2013)

Tracção de 930 N aplicada ao fio diamantado


Desgaste das pérolas diamantadas

1,6E-06
1,4E-06
1,2E-06
1,0E-06 Mármore_Macio
(𝐦⁄𝒎𝟐 )

8,0E-07 Mármore_dureza_
6,0E-07 Média
4,0E-07 Mármore_dureza_
elevada
2,0E-07
0,0E+00
26 27 28 29 30 31
Velocidade periférica (𝐦⁄𝐬)

Figura 73. Influência da velocidade periférica e da tracção sobre o fio diamantado no desgaste das pérolas
diamantadas no corte de mármores (Dr. S. C. Jain et al. 2013)

8
Tracção de 1010 N aplicada ao fio diamantado

Desgaste das pérolas diamantadas


1,6E-06
1,4E-06
1,2E-06
1,0E-06 Mármore_Macio
(𝐦⁄𝒎𝟐 )

8,0E-07
Mármore_dureza_
6,0E-07 Média
4,0E-07 Mármore_dureza_
2,0E-07 elevada
0,0E+00
26 27 28 29 30 31
Velocidade periférica (𝐦⁄𝐬)

Figura 74. Influência da velocidade periférica e da tracção sobre o fio diamantado no desgaste das
pérolas diamantadas no corte de mármores (Dr. S. C. Jain et al. 2013)

Figura 75. Influência da velocidade periférica e da tração sobre fio o fio diamantado na produtividade da
operação de corte de mármores (Dr. S. C. Jain et al. 2013)

Figura 76. Influência da velocidade periférica e da tração sobre fio o diamantado na produtividade da
operação de corte de mármores (Dr. S. C. Jain et al. 2013)

9
Figura 77. Influência da velocidade periférica e da tração sobre fio o diamantado na produtividade da
operação de corte de mármores (Dr. S. C. Jain et al. 2013)

Segundo Douglas Marcon et al., a posição de corte é um dos parâmetros operacionais que
mais afeta a produtividade de corte. De acordo com o autor é notória uma menor produtividade
nos cortes horizontais (fig. 12) relativamente aos cortes verticais (fig. 13). Este facto é justificado
pela acumulação excessiva de lamas resultantes da operação de corte na superfície de corte,
originando um esforço superior do motor principal da máquina de corte, para a manutenção da
velocidade periférica da ferramenta de corte. O fenómeno descrito não é tão importante nos cortes
verticais, pois, devido à força da gravidade, as lamas não se acumulam na superfície de corte. A
acumulação excessiva de água na superfície de corte contribui também para a diminuição da
produtividade de corte, pois provoca o efeito de aquaplanagem [13]. Contudo este estudo, como
no estudo de Jain et al. anteriormente referido, também carece de adequada caracterização
quantitativa relativamente a vários parâmetros de corte, para estabelecer claramente a sua
influência relativa na operação de corte de pedra e permitir a realização de trabalhos de verificação
que confirmem ou infirmem os resultados apresentados.

Figura 78. Corte horizontal do maciço rochoso Figura 79. Corte vertical do maciço rochoso
(Regadas, I. C. M. C., 2006) (Regadas, I. C. M. C., 2006)

Erlon Cavazzana concluiu no seu estudo que, quanto maior a superfície de contacto das pérolas diamantadas com
a superfície rochosa, maior será a produtividade de corte (figs. 12 e 13e 14) [16]. Todavia existe um equilíbrio entre
o comprimento máximo interessado no corte (em contacto com a superfície rochosa) e a potência máxima útil do
equipamento de corte, pois, devido ao excesso de tensão exercida na ferramenta de corte, pode ocorrer a sua rotura.
O fenómeno descrito é recorrente nos equipamentos de corte monofio, em que o comprimento do contacto da
ferramenta de corte com a superfície rochosa varia durante a operação de corte.

10
Figura 80. Representação do movimento do equipamento de corte em relação ao maciço rochoso
(atlascopco, 2014)

2.3. Trabalhos em curso

A informação recolhida e tratada no presente trabalho despoletou o interesse pelo estudo da tecnologia de corte
de pedra. Existe em Portugal uma indústria crescente de fabrico de equipamentos e ferramentas de corte de pedra,
desenvolvidos não só para apoiar de exploração e trabalho em pedra, mas também e dirigida à exportação em particular
para a indústria extractiva Brasileira. O estudo empreendido sobre a tecnologia de corte de pedra por fio diamantado
juntamente com a percepção do potencial de mercado das rochas ornamentais, aliado ao reconhecimento das vantagens
de endogeneizar os conhecimentos de construção de máquinas ferramenta, conduziu ao estabelecimento de um plano
de desenvolvimento de equipamentos de de corte de pedra. Este plano pretende não só sustentar o desenvolvimento
crescente deste sector industrial, mas também possibilitar a realização de estudos de parametrização da operação de
corte de pedra por fio diamantado.

11
3. CONCLUSÃO

Foi identificado um défice de conhecimento da influência da parametrização na técnica de corte de pedra por fio
diamantado, que deve ser colmatado pela realização de estudos a efectuar em condições controladas.
Foi lançado o projecto e a construção de um equipamento laboratorial de corte de pedra, especificamente destinado
a realizar estudos teórico-experimentais da parametrização desta técnica de corte de pedra.
Julga-se indispensável a identificação e quantificação pormenorizada dos parâmetros de corte de pedra por fio
diamantado para estabelecer as melhores condições operacionais aplicáveis a cada caso em que esta tecnologia é
aplicada.

4. REFERÊNCIAS

[1] Calaes, G. D., 2009, "Evolução do Mercado Mineral Mundial a Longo Prazo", Relatório Técnico, Ministério de
Minas e Energia MME.
[2] Ribeiro, R. P., 2005,"Influência das características petrográficas de granitos no processo industrial de
desdobramento de blocos", Tese Doutoramento, Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São
Paulo.
[3] Regadas, I. C. M. C., 2006, "Aspectos Relacionados às Lavras de Granitos Ornamentais com Fio Diamantado no
Norte do Estado do Espírito Santo, Brasil". Tese de Mestrado, Escola de Engenharia de São Carlos da
Universidade de São Paulo
[4] Gotardo, L. B., 2008, "Proposta de sistema de controle para máquina de fio diamantado com PLC + inversor de
frequência”. Projeto de Graduação, Departamento de Engenharia Elétrica do Centro Tecnológico da Universidade
Federal do Espírito Santo.
[5] Diamant Boart , 2008, "Ferramentas diamantadas para a indústria da pedra", Catálogo.
[6] Brunno Muniz Costa, 2009, “Avaliação qualitativa das metodologias de lavra utilizadas na extracção das rochas
ornamentais no município de Santo Antônio de Pádua”. Universidade Federal rural do Rio de Janeiro.
[7] Cabral, S. C.; Oliveira, L.J.; Filgueira, M., 2011, “Estudo do melhor parâmetro de sinterização do ferro (Fe)
processado por prensagem a quente (metalurgia do pó)”. Grupo de Compósitos e Ferramentas de Materiais de
Alta Dureza, Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciências dos Materiais, Universidade Estadual do
Norte Fluminense.
[8] DE OLIVEIRA, L.J.; FILGUEIRA, M., 2008, “Pérolas diamantadas obtidas por metalurgia do pó: Nacionalização
da tecnologia”. Revista matéria, Universidade Estadual do Norte Fluminense.
[9] Marcello Filgueira, Daltro Garcia Pinatti, 2006, ”Desenvolvimento de Uma Nova Rota de Processamento de
Ferramentas Diamantadas: Metalurgia do Pó e Forjamento Rotativo”. Revista matéria, Universidade Estadual do
Norte Fluminense.
[10] R. R. Thorat, P. K. Brahmankar and T. R. R. Mohan, 2004, “Consolidation behavior of Cu-Co-Fe pre-alloyed
powders”. ISRS, Indian Institute of Technology Madras.
[11] Anderson de Paula Barbosa, 2008, “Processamento via metalurgia do pó e caracterização das ligas de Fe-Cu-Co
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5. RESPONSABILIDADE AUTORAL

“Os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo deste trabalho”.

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DIAMOND WIRE STONE CUTTING

Carlos F. F. Monteiro, a58824@alunos.uminho.pt


João Mendonça Silva, jpmas@dem.uminho.pt
António Caetano Monteiro, cmonteiro@dem.uminho.pt

Abstract. The area of ornamental rocks and coating is one of the most promising in the mineral sector, with an
average annual growth rate of over 6% per year over the last 20 years. Rocks are a product highly interesting not
only because of its natural properties (either structural and aesthetic) but rather by the diversity of the applications,
including architecture and construction. Recent technological developments in stone treatment from the quarry to
the final finished product, do provide high investment in new equipment and point to the necessity of developing
further research. Cutting technologies have attracted a lot of attention especially from the industries of natural rocks
exploitation and processing. It seems clear however there is a need to better characterize the new cutting processes,
in particular diamond wire cutting technology. The technique is characterized by allowing a wide range of cutting
conditions, what allows great versatility, high rate and speed cutting operations, so allowing to obtain a mean
reduced section thickness, with low waste of raw materials and a very regular cut path also offering excellent surface
finishing. The equipment used in this technology have reduced maintenance costs, allowing to perform multi slice,
and by using numerical control obtaining three-dimensional geometries is made possible, either directly by
orientation the direction of the cutting wire or by the use of tools with conventional cutting heads. The diamond wire
cutting is done by abrasion between the stone and the tool, consisting of diamond beads mounted on a steel cable,
which is dragged through a proper system of pulleys. The approach of this technology has been empirical, which
justifies a systematic study of the main parameters involved, not only to improve the operating conditions of the
equipment in use but also to allow the development of more efficient, robust and economical equipment. This area is
of particular interest in the case of Brazil, not only because it presents an extractive industry expansion, but also the
appreciation of the finished product achievable by technological development of equipment associated with stone
cutting.
Keywords: Stone cutting, diamond wire, CNC machines

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