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24/02/2022 10:30 EDUCAÇÃO E HISTÓRIA: NOTAS PARA UM ESTUDO SOBRE A IMIGRAÇÃO ALEMÃ EM SERGIPE

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EDUCAÇÃO E HISTÓRIA
O blog EDUCAÇÃO E HISTÓRIA publica textos, informações, artigos científicos, divulgação de eventos e
comentários a respeito dos campos da Educação e da História, com ênfase nos estudos sobre História da
Educação, História da Cultura, História da Ciência e Política. O blog é coordenado pelo Prof. Dr. Jorge
Carvalho do Nascimento (jorge@ufs.br), a partir do trabalho que realiza o Grupo de Pesquisa em História
da Educação da Universidade Federal de Sergipe.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009 Quem sou eu


Jorge

NOTAS PARA UM ESTUDO SOBRE A Ver meu perfil completo

IMIGRAÇÃO ALEMÃ EM SERGIPE


É farta a bibliografia brasileira acerca da imigração alemã. Todavia, os estudos centram
Seguidores
sua atenção principalmente sobre os três Estados da região Sul e algumas áreas da região
Sudeste que receberam muitos colonos oriundos da Alemanha, principalmente no Seguidores (66)
Próxima

período que vai da segunda metade do século XIX até o final da Segunda Guerra
Mundial, na década de 40 do século XX. A maior parte dos estudos sobre o problema
construiu uma representação segundo a qual a presença alemã no Brasil estaria reduzida
a essas regiões, obscurecendo as possibilidades de outras interpretações. Há, contudo,
muitos registros de imigrantes alemães em outras regiões do Brasil que ainda não
receberam a necessária atenção dos estudiosos da história que se dedicam a este tipo de
Seguir
problema.

É necessário analisar com mais cuidado a importância que teve a presença alemã na
região Nordeste do Brasil ao longo do século XIX, principalmente na constituição de Pesquisar este blog
modelos explicativos adotados por grupos que se opuseram ao regime monárquico
Pesquisar
(NASCIMENTO, 1999) e as suas contribuições ao desenvolvimento econômico. Tal
presença é visível principalmente na Província de Pernambuco, onde se desenvolveu o
movimento da chamada Escola do Recife, assentando as bases do culturalismo Arquivo do blog
brasileiro. O discurso da intelectualidade alemã foi apropriado por um grupo de
► 
2011
(68)
intelectuais da Faculdade de Direito do Recife e ganhou força, transformando Tobias
Barreto em grande expressão do movimento. O trabalho de Tobias Barreto levou a ► 
2010
(133)
intelectualidade pernambucana a assumir com muito entusiasmo as idéias de teóricos
▼ 
2009
(89)
como Ernest Haeckel, Rudolf von Jhering, Hermann Post e Eduard von Hartman. Mas,
► 
Dezembro
(20)
os padrões explicativos alemães também foram fortes no movimento da Escola
Tropicalista Baiana, organizado em torno da Faculdade de Medicina da Bahia. Merece ► 
Novembro
(10)
menção ainda a chamada Padaria de Idéias, “movimento que se organizou no Ceará em
▼ 
Outubro
(24)
face da influência de alguns intelectuais que se formaram sob a orientação intelectual do
A HISTORIOGRAFIA E A POLÍTICA
grupo da Escola do Recife” (NASCIMENTO, 1999, 8).

EDUCACIONAL DA DITAD...
A colonização alemã no Brasil começou em 1818, com a fundação da Colônia Leopoldina
no município de Mucuri, sul da Bahia, pelo cônsul alemão Peter Peycke e pelos O BACHAREL E A AGRONOMIA
naturalistas G. W. Freireiss e Morhardt.
O MAL ESTAR DOS ALEMÃES

O MANEJO DA CANA DE AÇÚCAR

Dessa colônia participavam 133 pessoas. Em 1822 uma outra colônia alemã foi fundada A HISTORIADORA MARIA THÉTIS
NUNES
no Vale do Peruíbe, bem próxima da Colônia Leopoldina. A Colônia Frankental, o
segundo núcleo, trouxe colonos da região de Francônia. No mesmo ano, Peter Weyll cria ANOTAÇÕES SOBRE A BOTÂNICA
uma outra colônia alemã na Bahia. Eram 161 pessoas que se estabeleceram na margem EM SERGIPE DURANTE A PR...

esquerda do rio Cachoeira, próximo ao atual município de Ilhéus. Naquela região do ANOTAÇÕES SOBRE A BOTÂNICA
Estado da Bahia são comuns sobrenomes como Lorenz, Schaun, Berbert, Holenwerger e EM SERGIPE DURANTE A PR...
Weyll (NASCIMENTO, 1999, 126).
PROBLEMAS DE MÉTODO NOS
ESTUDOS SOBRE O ENSINO
AGR...

Dados sobre a imigração alemã no Brasil revelam que entre 1836 e 1948 entraram no SOBRE OS ALEMÃES EM SERGIPE
país cerca de 260 mil alemães (BASTO, 1970). Somente os portugueses (1.766.771),

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italianos (1.620.344) e espanhóis (719.555) têm uma participação maior na colonização THÉTIS E A HISTÓRIA DA
do território brasileiro (NASCIMENTO, 1999, 124).
EDUCAÇÃO EM SERGIPE
É propósito deste artigo contribuir para a compreensão da presença alemã em Sergipe. O UMA MULHER ALEMÃ EM
tema ainda não mereceu um estudo mais aprofundado por parte dos estudiosos da MARUIM
história sergipana, não obstante a sua importância. As notas aqui apresentadas foram
A CANA DE AÇÚCAR
obtidas a partir de diferentes textos e documentos sobre a história de Sergipe, nos quais
as referências estão dispersas. Além disso, foram examinados levantamentos sobre os NOTAS PARA UM ESTUDO SOBRE A
IMIGRAÇÃO ALEMÃ EM SE...
alemães em Sergipe que vêm sendo organizados pelo cônsul honorário da Alemanha em
Salvador, relatórios do Governo de Sergipe publicados em diferentes períodos, bem NOTAS PARA UM ESTUDO SOBRE A
IMIGRAÇÃO ALEMÃ EM SE...
como registros existentes na imprensa local e no Arquivo Geral do Poder Judiciário do
Estado de Sergipe.
NOTAS PARA UM ESTUDO SOBRE A
IMIGRAÇÃO ALEMÃ EM SE...

NOTAS PARA UM ESTUDO SOBRE A


A COLÔNIA DO QUISSAMÃ
IMIGRAÇÃO ALEMÃ EM SE...

NOTAS PARA UM ESTUDO SOBRE A


IMIGRAÇÃO ALEMÃ EM SE...
Ao longo do século XIX foram muitas as discussões registradas em Sergipe acerca da
NOTAS PARA UM ESTUDO SOBRE A
necessidade de mandar trazer colonos europeus. Em 1851, o presidente da Província, IMIGRAÇÃO ALEMÃ EM SE...
Amâncio João Pereira de Andrade, defendia tal proposta, afirmando que a colonização
NOTAS PARA UM ESTUDO SOBRE A
proporcionaria a prosperidade de Sergipe e estimularia a mudança daquilo que ele IMIGRAÇÃO ALEMÃ EM SE...
considerava “costumes bárbaros e ferozes” dos habitantes sergipanos. O Estado de
AGRICULTURA OU PEDAGOGIA?
Sergipe criou as condições para o projeto da colônia agrícola formada por europeus
AGRÔNOMOS E PEDAGOGOS
desde o ano de 1894, quando aprovou a lei estadual nº 93, autorizando o governo a NO...
aplicar cem contos de réis por ano a fim de concretizar tal objetivo. Afinal, a imigração
AGRICULTURA OU PEDAGOGIA?
de estrangeiros “era entendida como uma forma de trazer novos hábitos culturais, de AGRÔNOMOS E PEDAGOGOS
difundir o cultivo de outros produtos e técnicas agrícolas e industriais ou, ainda, de NO...
acordo com a mentalidade” vigente, aumentar o contingente demográfico de europeus e
AGRICULTURA OU PEDAGOGIA?
seus descendentes – os únicos capazes de produzirem uma sociedade civilizada, segundo AGRÔNOMOS E PEDAGOGOS
o entendimento à época dominante (PASSOS Subrinho, 2000, 400).
NO...
Em Sergipe, a única experiência de assentamento de colonos alemães em torno da qual é GRUPO ESCOLAR E ESCOLA
possível encontrar registros, é a da Colônia Quissamã. Na área da Fazenda Quissamã SERIADA III
funciona atualmente a Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão. Localizada na região
GRUPO ESCOLAR E ESCOLA
leste do Estado de Sergipe, situada no quilômetro 96 da BR 101, Povoado Quissamã, SERIADA II
Município de São Cristóvão, a Escola dista do centro urbano da capital
aproximadamente dezoito quilômetros. Ela teve sua origem no Patronato São Maurício, ► 
Setembro
(30)
criado em 1924, com curso de aprendizes e artífices destinado a crianças e adolescentes
► 
Agosto
(5)
com problemas de ajustamento social e emocional. Atualmente é o único
estabelecimento escolar do Estado de Sergipe a oferecer cursos de nível médio para a
formação de técnicos destinados ao setor primário da economia (NASCIMENTO, 2004,
80).

O projeto de ocupar a área do Quissamã foi estabelecido a partir de 1922, durante o


governo do presidente Maurício Graccho Cardoso, no contexto das suas preocupações
com os problemas agrícolas de Sergipe e os impactos da atividade agrícola na economia
local. Para dinamizar o setor, Graccho Cardoso criou o Banco Estadual de Sergipe e
implantou centros experimentais de sementes selecionadas, com a finalidade de
aperfeiçoar a produtividade e a qualidade do algodão em Sergipe. Com o mesmo
propósito contratou um pesquisador norte-americano, o professor Thomaz R. Day,
oriundo do Texas. O principal objetivo buscado com a presença deste especialista
estrangeiro em Sergipe era fundar a Estação Experimental[i] Miguel Calmon. Em 1923,
Graccho Cardoso criou o Departamento Estadual do Algodão.

Na área do Quissamã instalou-se o Centro Agrícola Epitácio Pessoa[ii], sendo fundado


um laboratório de análises com o objetivo de “atender ao requisito da falta de controle
científico e conhecimentos técnicos na produção do solo” (SERGIPE, 1923). Mas, a pedra
de toque do projeto naquela região foi o assentamento de vinte e duas famílias de
colonos alemães, uma experiência frustrada e abandonada em seguida. Graccho
começou a preparar o processo de colonização ainda em 1923, quando editou o decreto
758, regulamentando a contratação e localização de imigrantes estrangeiros em Sergipe.
O próprio presidente Graccho Cardoso registrou o início da experiência:

Iniciei a colonização estrangeira, com a localização, nos lotes adrede preparados, nesse
estabelecimento, de 22 famílias alemãs. Penso que surtirá bom resultado este
tratamento, que virá animar os proprietários agrícolas, que tanto sentem a falta de
braços para o tamanho de suas terras, a procurarem esse valioso elemento (SERGIPE,
1924, 24).

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EDUCAÇÃO É HISTÓRIA
Desde o século XIX a formação de colônias agrícolas com trabalhadores europeus era
Histoire de l'éducation française
defendida por intelectuais e políticos.

HISTÓRIA DE SERGIPE
HISTÓRIAS DA VIDA PRIVADA
No entender da intelligentsia nacional do século XIX, o principal problema brasileiro era REVISTA VEJA
o predomínio da população de origem africana e mestiça, de forma que o aumento do
estoque da população de origem européia era um objetivo em si mesmo, ainda que,
eventualmente, não resolvesse o problema de braços para a lavoura (PASSOS Subrinho,
2000, 280).

O projeto dos patronatos foi, em todo o país, tanto quanto possível, associado sempre à
instalação de colônias agrícolas. Estas eram vistas, também, como uma possibilidade de
fixar os egressos dos patronatos agrícolas, quando estes não conseguiam emprego nas
propriedades particulares ou nas repartições do governo. A Colônia do Quissamã
representava a contribuição do Estado de Sergipe ao projeto brasileiro de ampliar a
entrada de brancos no país, ao mesmo tempo em que se impedia a entrada de africanos e
asiáticos, ao lado de outras medidas que o presidente Graccho Cardoso tomara e que
diziam respeito a decisões que o governo do Brasil vinha adotando quanto a políticas de
saneamento, “de combate a epidemias tropicais, de higiene e o desenvolvimento de
projetos eugênicos (inclusive a defesa da esterilização dos considerados não
regeneráveis, como os deficientes, loucos, epilépticos, delinqüentes, dentre outros)”
(VAGO, 2002, 28).

As 22 famílias de colonos alemães chegaram a Aracaju em fevereiro de 1924, a bordo do


vapor Comandante Miranda. Eram 82 imigrantes que receberam os lotes do Centro
Agrícola Epitácio Pessoa. O fato era considerado tão importante que o próprio
presidente do Estado, Graccho Cardoso, e o secretário de governo, Hunald Cardoso,
estiveram pessoalmente a bordo do navio recebendo os colonos, dando boas vindas e os
encaminhando para uma hospedaria na qual estes permaneceram durante oito dias
(SERGIPE, DIÁRIO OFICIAL, 1924). Na mesma oportunidade foi designado o médico
Alexandre Freire para inspecionar as condições de saúde dos imigrantes.

Ao serem transferidos para a Colônia, receberam as 20 casas que o governo mandara


construir em lotes de 150 tarefas, todas dotadas com luz elétrica e instalações sanitárias.
Além disso, os colonos recebiam assistência dentária e tinham a liberdade de escolher a
cultura que pretendiam explorar.

Dezoito meses depois do assentamento, em setembro de 1925, o próprio presidente


Graccho Cardoso informou à Assembléia Legislativa que, das 22 famílias iniciais, apenas
16 continuavam vivendo no assentamento, totalizando 53 pessoas. 29 alemães haviam
abandonado o projeto. Contudo, o governante continuava otimista quanto ao futuro do
empreendimento:

melhor não pode ser o estado de desenvolvimento da colônia, pelo que se pode inferir da
boa disposição que os seus membros apresentam, resultante das ótimas condições
sanitárias e da adaptação fácil de todos aos costumes regionais. Eles estão atualmente
empenhados na cultura da cana, algodão, mandioca (SERGIPE, 1925).

[i] “Sem estações experimentais é inútil querer que se implante com resultados
satisfatórios, em qualquer país, o ensino agrícola adequado às necessidades locais”. A
frase é de Melo Morais, da Escola Agrícola Luiz de Queiroz, de Piracicaba, no Estado de
São Paulo. Cf. AZEVEDO, Fernando de. 1957. A educação na encruzilhada. São Paulo,
Melhoramentos. p. 147.

[ii] Na década de 1930, o Centro Agrícola Epitácio Pessoa foi transferido para o controle
do Ministério da Agricultura e se transformou na Estação Experimental de Plantas
Têxteis. Cf. BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. 1938. Relatório das atividades
do Ministério da Agricultura, durante o período de julho de 1934 a dezembro de 1935,
apresentado pelo Ministro Odilon Braga. Rio de Janeiro, Diretoria de Estatística da
Produção do Ministério da Agricultura. p. 15.

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Jorge
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