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Contexto Histórico da patologia cárie dentária:

Quando se volta o pensamento para o contexto histórico da carie dentária, observa-se que a
patologia acompanha a humanidade desde os primórdios da história. Por meio de registros
arqueológicos é possível analisar que a carie dentária já estava presente em nossos ancestrais
há mais de dez mil anos. Inicialmente, era caracterizada pelas comunidades primitivas como uma
doença de baixo impacto populacional pois, não ocorria com frequência e seu nível de severidade
era considerado aceitável e não preocupante. A doença normalmente era mal compreendida e
muitas das vezes era submetida a tratamentos invasivos e sem técnica correta, como é descrito
à Discovery News, por Stefano Benazzi, paleantropologista da universidade de Bolonha, na Itália.
“Basicamente, o tecido infectado foi removido do dente, usando uma ferramenta de pedra
pequena, afiada. Isso mostra que os seres humanos tardios do Paleolítico Superior estavam
cientes dos efeitos deletérios da cárie, bem como da necessidade de intervir com um tratamento
invasivo para limpar a cavidade dentária profunda”. O artigo publicado pela revista Scientific
Reports afirma que os tratamentos implicavam em práticas de raspagem e não de perfurações,
como foi observado durante o período Neolítico e também na odontologia moderna. Esses
métodos não necessariamente eram feitos por outras pessoas, os mesmos poderiam ser
executados pelo próprio homem. Que se preocupavam apenas com o alívio imediato da dor.
A partir do processo de civilização, simultaneamente aos novos hábitos introduzidos pela
população, dentre eles hábitos alimentares consistidos em episódios frequentes de exposição a
carboidratos, açucares e alimentos fermentáveis e o estilo de vida sedentário, junto a crescente
urbanização e criação de industrias, relata-se como os principais fatores que contribuíram para
a disseminação da carie ao longo do tempo. Desde então a carie dentária passou a ser uma
patologia denominada como moléstia violenta e de grande prevalência, tornando-se um
problema populacional de saúde pública.
O termo ‘carie dentária’, que provém do latim foi utilizado em literatura pela primeira vez em
meados do ano de 1634. Era apenas utilizado para descrever “buracos” que apareciam nas faces
dentes, sem nenhuma relação a conhecimento aprofundado em questão de patogênese ou
etiologia dos mesmos. Foi apenas no século XVIII, que o dentista francês Pierre Fauchard (1678-
1761), publicou o seu livro “Le Chirurgien Dentiste” ( O Cirurgião Dentista), a obra proporcionou
grande salto para evolução da ciência odontológica, sendo a partir dai considerado o “pai da
odontologia”. Pierre F. reconheceu também, as intimas relações entre as condições bucais, os
meios externos e a saúde em geral. Vindo após esse grande marco, estudos de formas mais
aprofundadas sobre a patologia.
No princípio, a teoria unicausal denomina a produção da doença, vindo de fora do organismo
agredido. Essa denominação ganhou grande força com o advento do capitalismo, assim
substituía explicações sobrenaturais descritas pela sociedade, dando força aos avanços
científicos das descobertas bacteriológicas.
Em 1980, Willoughby D. Miller, a partir das bases de Pasteur, que descobriu que algumas
bactérias podem fermentar açúcares em ácido lático, juntamente a outro francês, Emil Magitot,
que identificou por meio de experimentos laboratoriais, que esse processo de fermentação de
açucares pode dissolver os minerais dos dentes. Surge assim, o essencial ao pensamento
odontológico cientifico, resultando em que a bactéria é a principal etiologia da doença. Até então
não havendo especificidade a qual classe essas bactérias fazem parte. O que faz essa teoria
sofrer transformações ao longo da história, perante as suas realidades explicativas implicadas.
Uma nova descoberta em 1950, trouxe a bactéria do gênero Streptococcus Mutans como o
patógeno primário da lesão cariosa, esses microrganismos foram notados agregados e
coexistindo na placa dentária. Porém, essa bactéria não foi definida como o fator exclusivo para
a progressão do processo carioso. Embora, Miller não fosse a favor da extração dos dentes
cariados para eliminar o foco da infecção, sendo totalmente adepto ao tratamento e obturação
dos canais radiculares, a extração desses dentes ainda sim se tornou uma prática aceita pelos
profissionais daquela época.
A partir do conhecimento aprofundado da doença cárie, as pesquisas começaram a dar foco para
identificação dos corretos microrganismos e estratégias para o seu controle. Desde então foram
criados programas educativos de intervenção para combater o uso indiscriminado de açúcares,
programas preventivos de saúde pública orientam e estimulam a utilização de flúor nas
escovações, exigem água fluoretada a toda a população.
Ao final da década de 1980 e meados de 1990, era perceptível a diminuição da prevalência,
principalmente em crianças menos que doze anos de idade. Nota-se que a doença cárie é de
cunho multifatorial relacionado a fatores etiológicos: sendo eles a principal causa da doença, o
Streptococcus Mutans e a fatores não etiológicos: relacionados aos fatores socioeconômicos,
como renda, também a fatores psicossociais e variáveis clínicas. Ainda está presente no século
XXI, sendo um problema de saúde global, porém, a compreensão cientifica, as medidas
preventivas e os avanços tecnológicos atualmente disponíveis são grandes aliadas ao declínio e
diminuição da doença exposta.

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