Você está na página 1de 66

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO – UFERSA


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS E TECNOLÓGICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM IRRIGAÇÃO E DRENAGEM – PPID

IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO

SÉRGIO LUIZ AGUILAR LEVIEN

Mossoró – RN
2012
IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO
SÉRGIO LUIZ AGUILAR LEVIEN

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 1
2. COMPONENTES DE UM SISTEMA DE IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO .......... 3
2.1. SISTEMA DE BOMBEAMENTO ...................................................................... 3
2.2. TUBULAÇÕES .......................................................................................... 3
2.3. ACESSÓRIOS ........................................................................................... 4
2.4. DISPOSITIVOS DE ASPERSÃO ..................................................................... 4
3. CARACTERÍSTICAS DE FUNCIONAMENTO DO SISTEMA .......................... 9
3.1. MARCO DE IRRIGAÇÃO.............................................................................. 9
3.2. DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA ......................................................................... 10
3.3. VAZÃO ................................................................................................. 11
3.4. PRECIPITAÇÃO ...................................................................................... 11
3.5. PULVERIZAÇÃO ..................................................................................... 12
4. SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO ............................................ 13
4.1. SISTEMAS ESTACIONÁRIOS ...................................................................... 13
4.2. SISTEMAS MECANIZADOS ........................................................................ 20
5. SELEÇÃO DO ASPERSOR.......................................................................... 28
5.1. FATORES QUE AFETAM O DESEMPENHO DO ASPERSOR.................................... 28
5.2. ESPAÇAMENTO DOS ASPERSORES .............................................................. 31
5.3. INTENSIDADE DE PRECIPITAÇÃO ............................................................... 32
5.4. GRAU DE PULVERIZAÇÃO ......................................................................... 33
5.5. OUTRAS INFORMAÇÕES ........................................................................... 34
6. UNIFORMIDADE DE APLICAÇÃO DE ÁGUA ............................................. 36
7. RECOMENDAÇÕES PARA A ESCOLHA DA INSTALAÇÃO DE IRRIGAÇÃO . 40
7.1. FATORES CLIMÁTICOS............................................................................. 40
7.2. FATORES AGRONÔMICOS ......................................................................... 40
7.3. FATORES TÉCNICOS ................................................................................ 42
7.4. FATORES ECONÔMICOS ........................................................................... 42

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) i


7.5. FATORES PRÁTICOS ................................................................................ 43
8. ETAPAS DA IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO ................ 45
8.1. PROJETO DO SISTEMA ............................................................................. 45
8.2. INSTALAÇÃO DO SISTEMA ........................................................................ 46
8.3. MANEJO DO SISTEMA.............................................................................. 46
9. INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS PARA O PROJETO DE UM SISTEMA DE
IRRIGAÇÃO ................................................................................................. 47
10. PROJETO AGRONÔMICO ....................................................................... 48
10.1. NECESSIDADES DE ÁGUA DAS CULTURAS .................................................. 48
10.2. DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS DE IRRIGAÇÃO ..................................... 52
11. PROJETO HIDRÁULICO ......................................................................... 56
12. AVALIAÇÃO DE UM SISTEMA DE IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO
CONVENCIONAL .......................................................................................... 59
13. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 61
14. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............................................................... 62

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) ii


1. INTRODUÇÃO

A irrigação por aspersão é uma técnica de irrigação em a água é aspergida


sobre a superfície do terreno, na forma de uma chuva artificial, causada pelo
fracionamento do jato d’água em gotas, que se espalham pelo ar, caindo sobre o
solo. O jato de água e o seu fracionamento são obtidos pelo fluxo da água sob
pressão através de pequenos orifícios ou bocais. A pressão é conseguida,
normalmente, pelo bombeamento da água através de tubulações até as estruturas
especiais para pulverização do jato, denominadas aspersores.

Há muitos séculos o homem pratica a irrigação por aspersão, embora que seja
por processos primitivos, que é o caso do regador. A irrigação por aspersão começou
realmente no final do século XIX, sendo que os primeiros aspersores rotativos,
precursores dos utilizados hoje, apareceram no início do século XX. Após o final da II
Guerra Mundial a irrigação por aspersão começou a se difundir tanto na Europa
como nos Estados Unidos. No Brasil, a irrigação por aspersão começou em meados
do século XX na cultura do café.

O método de irrigação por aspersão possibilita, melhor que qualquer outro


método, a irrigação de complemento ou salvação que, em algumas regiões, permite
não só um aumento mas também uma extraordinária regularização da produção
agrícola.

O vento, a umidade relativa do ar e a temperatura, são os principais fatores


climáticos que afetam o uso da irrigação por aspersão. O vento afeta a uniformidade
de distribuição da água pelos aspersores e, juntamente com a temperatura e a
umidade relativa do ar, afeta a perda d’água por evaporação. Deste modo, em
regiões sujeitas a ventos constantes e fortes, a baixa umidade relativa do ar e
temperaturas elevadas, não se recomenda utilizar a irrigação por aspersão.

A irrigação por aspersão se adapta a quase todos os tipos de culturas. Ela


interfere um pouco com os tratos fitossanitários, como as pulverizações e
Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 1
polvilhamento, por lavar a parte aérea da planta. Quanto à altura e ao tipo de
cultura, tem-se que escolher o tipo e a altura do aspersor apropriados.

O método de irrigação por aspersão não deve ser usado com água de irrigação
com alta concentração de sais, devido à redução da vida útil dos equipamentos e
possíveis danos às folhas dos vegetais.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 2


2. COMPONENTES DE UM SISTEMA DE IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO

Uma instalação de irrigação por aspersão consta, essencialmente, de um


sistema de bombeamento, uma rede de tubulações, dispositivos de aspersão e
acessórios.

2.1. SISTEMA DE BOMBEAMENTO

O sistema de bombeamento é uma unidade de fundamental importância no


sistema de irrigação por aspersão. Tem a finalidade de captar a água do reservatório
e impulsioná-la sobre pressão. Este equipamento pode variar desde um simples
conjunto motobomba, para pequenas áreas, até uma complicada instalação de
grande potência, para grandes extensões.

2.2. TUBULAÇÕES

A condução da água desde o sistema de bombeamento até os dispositivos de


aspersão é efetuada por meio das tubulações, que podem ser de diversos tipos de
materiais, tais como: ferro fundido, ferro galvanizado, aço, aço galvanizado, aço
zincado, alumínio, cimento amianto, concreto, PVC rígido e polietileno. Os tubos, em
geral, têm um comprimento padrão de 6 m, cujos peso, pressão de serviço e
espessura da parede variam com o material de que são constituídos.

Os tubos, usados na irrigação por aspersão, apresentam, nas extremidades,


acoplamentos especiais que facilitam a montagem e desmontagem das linhas ao
mesmo tempo em que garantem uma vedação perfeita.

O conjunto de tubulações de um sistema de irrigação por aspersão constitui-se


de linha principal, linha secundária, linha terciária e linha lateral.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 3


A linha principal conduz a água do sistema de bombeamento até as linhas
secundárias ou terciárias, e geralmente são fixas.

As linhas secundárias, quando existem, fazem a conexão entre as linhas


principal e terciárias, e, de modo geral são fixas.

As linhas terciárias, também chamadas de linhas porta laterais, fazem conexão


entre as linhas principais ou secundárias e as linhas laterais, servem para distribuir a
água pela parcela, e, podem ser fixas ou móveis.

As linhas laterais, também chamadas linhas porta aspersores, conduzem a água


das linhas terciárias até os dispositivos de aspersão, e, geralmente, são móveis.

2.3. ACESSÓRIOS

Os sistemas de irrigação por aspersão, por causa da condução d’água em


tubulações e sua elevação até os dispositivos de aspersão, requerem diversos tipos
de acessórios, que possibilitem adaptação dos sistemas em qualquer situação
topográfica ou de área, facilitando as montagens das linhas, derivação da água,
funcionamento das partes separadas, entre outras.

Os acessórios mais comuns são: registros, curvas, tampões, tês, reduções,


cruzetas, cotovelos, manômetros, braçadeiras, válvulas de derivação, válvulas de
retenção, válvulas de pé, pés de suporte para tubos, tubos de subida, tripés e
outros.

2.4. DISPOSITIVOS DE ASPERSÃO

Os dispositivos de aspersão são os elementos encarregados de repartir a água


em forma de chuva. Os mesmos são as peças principais do sistema de irrigação por
aspersão, e operando sobre pressão lançam o jato d’água no ar, o qual é fracionado
em gotas devido à resistência do mesmo, caindo sobre o terreno sob a forma de
uma chuva artificial.

Os dispositivos de aspersão podem ser:

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 4


- tubos perfurados;

- aspersores estacionários ou difusores;

- aspersores rotativos.

2.4.1. Tubos perfurados

Os tubos perfurados são constituídos de tubos metálicos ou de PVC, onde são


instalados orifícios calibrados ou pequenos bocais enroscados na parte superior e
distribuídos em todo seu comprimento com um espaçamento de 10 a 15 cm.

Os tubos perfurados podem ser estáticos ou dotados de movimento oscilante


mediante um motor hidráulico ou elétrico. Irrigam faixas de terreno de 5 a 15 m e
funcionam com pouca pressão. Seu campo de aplicação se limita a cultivos hortícolas
ou flores.

2.4.2. Aspersores estacionários

Existem no mercado numerosos modelos de aspersores estacionários. Um dos


mais utilizados tem um orifício calibrado por onde sai o jorro de água, que se
dispersa ao chocar contra um defletor colocado de forma perpendicular ou obliqua
em relação ao eixo do aspersor. Estes aspersores são utilizados, em geral, sob baixa
pressão, com um raio de alcance pequeno (0,5 a 5 m), e seu campo de aplicação se
limita a cultivos em estufa e jardinagem.

2.4.3. Aspersores rotativos

Os aspersores rotativos, que são os mais utilizados em agricultura, são


constituídos por um ou mais tubos onde ao seu final são instalados bocais calibrados,
cujo diâmetro oscila de 2 a 20 mm. O aspersor gira ao redor de seu eixo, o que lhe
permite irrigar a superfície de um círculo cujo raio corresponde ao alcance do jorro. A
maioria dos sistemas de irrigação por aspersão usa aspersores rotativos.

Estes aspersores podem ser de giro completo (360) ou do tipo setorial,


permitindo a regulagem da amplitude de giro. Este último é menos comum e só é
usado em áreas periféricas da parcela a ser irrigada ou sob condições especiais.
Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 5
Quanto à velocidade de rotação, os tipos mais comuns são os de baixa velocidade de
rotação, em geral de 1 a 2 rpm (rotações por minuto) para os aspersores pequenos e
0,5 rpm para os aspersores gigantes. Para um bom desempenho dos aspersores, a
velocidade de rotação deve ser uniforme.

Quanto ao ângulo de inclinação do jato com a horizontal, para os aspersores


pequenos e médios gira entre 27 e 32, com exceção para os aspersores subcopa,
onde a inclinação é de 4 a 7, e nos canhões hidráulicos a inclinação é inferior a
22.

Os bocais dos aspersores são peças que apresentam orifícios para a saída do
jato d’água, sendo responsáveis por vazão, pulverização do jato, distribuição,
diâmetro de cobertura e tamanho das gotas d’água, quando operando a uma
determinada pressão. Quanto ao número de bocais por aspersor, tem-se aspersor
com um e com dois bocais, e normalmente se caracterizam os aspersores pelo
diâmetro de seus bocais; nos aspersores com dois bocais, o menor bocal é o que
tem menor raio de alcance.

Em um mesmo tipo de aspersor, pode-se usar bocais de diferentes diâmetros.


Para cada combinação entre pressão de serviço e diâmetro do bocal do aspersor,
têm-se diferentes diâmetros molhados, diferentes vazões por aspersor e,
consequentemente, diferentes intensidades de precipitação.

Segundo o mecanismo que produz o movimento de rotação, estes aspersores


podem se classificar da seguinte maneira:

- aspersores de braço oscilante: o movimento rotativo do corpo do aspersor é


descontínuo, devido a impulsos periódicos provocados pelo jato d’água que
golpeia intermitentemente um braço oscilante, o qual volta a sua posição inicial
pela ação de uma mola ou de um contrapeso. São aspersores de giro lento. São
os mais utilizados, existindo no mercado uma ampla gama de modelos, desde
pequenos aspersores com um bocal até aspersores grandes com vários bocais.

- aspersores de reação: são baseados no molinete hidráulico, onde a reação à


saída da água provoca o movimento de giro do aspersor. O bocal ou bocais estão
orientados de forma que a reação à mudança de direção no movimento da água

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 6


provoque o movimento de rotação. São de giro rápido e se utilizam em
jardinagem e em irrigação subcopa de árvores.

- aspersores de turbina: nestes aspersores o jato incide sobre uma turbina, cujo
movimento se transmite a um eixo instalado ao longo do tubo do aspersor, e
deste, mediante engrenagens, à base do aspersor, para produzir um giro do
aspersor lento e uniforme.

Vários tipos de tamanhos de aspersores estão disponíveis no comércio.


Segundo a pressão de funcionamento, os aspersores rotativos podem ser reunidos
na seguinte forma:

- aspersores de pressão de serviço muito baixa: são aspersores que


trabalham com pressão variando entre 4 e 10 mca e possuem pequeno raio de
ação, menor que 6 m, e compreendem os tipos especiais de aspersores, como
microaspersores e aspersores de jardim, e são, em geral, do tipo estacionário,
sendo muito usados em jardins e pomares.

- aspersores de pressão de serviço baixa: estes aspersores trabalham com


pressão variando entre 10 e 20 mca e possuem pequeno raio de ação, entre 6 e
12 m. São, em geral, do tipo rotativo, movidos por impacto do braço oscilante e
usados, principalmente, para irrigação subcopa de pomares ou para pequenas
áreas de cultivos. Por necessitarem de baixa pressão, muitos destes sistemas
podem ser instalados utilizando pressão proveniente da diferença de nível entre a
fonte d’água e a área a ser irrigada (por gravidade).

- aspersores de pressão de serviço média: são aspersores que trabalham com


pressão variando entre 20 e 40 mca, e possuem raio de ação entre 12 e 36 m.
Constituem os tipos mais usados nos projetos de irrigação por aspersão e se
adaptam a quase todos os tipos de solo e de cultura. São, em geral, do tipo
rotativo, movidos por impacto do braço oscilante e constituídos de um ou dois
bocais.

- aspersores gigantes ou canhão hidráulico: têm os inconvenientes de que são


custosos, tanto de custo inicial como de funcionamento, a distribuição da água é
muito afetada pelo vento e produzem gotas muito grossas que prejudicam a

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 7


determinados solos e culturas. Existem dois modelos de aspersores do tipo
canhão:

- aspersores de médio alcance: estes aspersores trabalham com pressão


variando de 40 a 80 mca, possuem um raio de ação entre 30 e 60 m e são
usados para irrigação de capineiras, pastagens, cereais, cana de açúcar e
pomares.

- aspersores de longo alcance: estes aspersores trabalham com pressão


variando entre 50 e 100 mca, possuem um raio de ação entre 40 e 80 m e são
mais usados em sistemas autopropelidos para irrigação de cana de açúcar,
pastagens e capineiras.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 8


3. CARACTERÍSTICAS DE FUNCIONAMENTO DO SISTEMA

As características mais importantes do funcionamento são as seguintes:

- marco de irrigação;

- distribuição da água;

- vazão;

- precipitação;

- pulverização.

3.1. MARCO DE IRRIGAÇÃO

O marco de irrigação é a distância que existe, por um lado, entre duas linhas
laterais contíguas e, por outro, entre dois aspersores contíguos da mesma linha
lateral. As disposições que podem adotar os aspersores são:

- disposição em quadrado: os aspersores ocupam os vértices de um quadrado,


sendo a distância entre linhas laterais igual a separação entre os aspersores
dentro da mesma linha lateral. Os marcos mais utilizados são 12 X 12 m, 18 X 18
m, 24 X 24 m.

- disposição em retângulo: os aspersores ocupam os vértices de um retângulo,


devido a que a separação dos aspersores é distinta da separação das linhas
laterais. Para reduzir o número de linhas laterais e de mudanças (no caso de
sistema semifixo) se usará a maior distância para a separação de linhas laterais e
a menor para a separação de aspersores dentro da mesma linha. Os marcos mais
utilizados são 12 X 18 m, 18 X 24 m, 24 X 30 m.

- disposição em triângulo: os aspersores ocupam os vértices de uma rede de


triângulos equiláteros. A disposição em triângulo oferece melhores condições, já
que para uma mesma superfície se precisa menor número de aspersores que na
Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 9
disposição em quadrado; mas esta última é mais utilizada nas irrigações com
linhas portáteis, pelas dificuldades que oferece a disposição em triângulo para a
mudança dos tubos. Os marcos mais usados são 18 X 12 m, 24 X 18 m.

A superfície (S) que se considera irrigada por cada aspersor é a seguinte


(Figura 1):

- disposição em quadrado:

S  a2 (1)

- disposição em retângulo:

S  ab (2)

- disposição em triângulo:

a2  3
S (3)
2

Retangulo
Quadrado Triangulo

Figura 1. Marcos de irrigação

3.2. DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA

A distribuição no solo da água aplicada por cada aspersor não é uniforme, mas
varia ao longo do raio de alcance do aspersor. Em geral, a zona próxima ao aspersor
recebe mais água, decrescendo conforme aumenta a distância ao aspersor. Para
lograr uma maior uniformidade de distribuição no sistema é preciso solapar
(sobreposicionar) uma parte das áreas irrigadas por aspersores consecutivos. Quanto
à separação de aspersores em relação ao raio de alcance do jato há diversas
recomendações dadas por distintos autores e projetistas, que variam e um a outro,
para um mesmo marco de irrigação. Haja vista que cada modelo de aspersor tem um
Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 10
comportamento distinto, para projetar corretamente o marco de irrigação é
necessário que o fabricante forneça os dados do comportamento real da
uniformidade conseguida com tal modelo nos distintos marcos de irrigação. Na falta
destes dados (que deveriam ser sempre exigidos ao fabricante) podem servir de
orientação as seguintes recomendações de separação dos aspersores:

- em marcos quadrado e triangular: 60% do diâmetro molhado.

- em marco retangular: 75% (na separação de linhas laterais) e 40% (na separação
de aspersores dentro da mesma linha) do diâmetro molhado.

Estes dados se referem à velocidade de vento inferior a 2 m s-1. Devem ser


reduzidos proporcionalmente até 25% à medida que a velocidade do vento aumenta
até 10 m s-1.

Existem outras tabelas e recomendações referentes ao assunto na bibliografia.

3.3. VAZÃO

A vazão emitida por um aspersor está relacionada com o diâmetro de seus


bocais e com a pressão que existe neles. É dada por sua curva característica ou
equação de descarga:

q  k  hx (4)

onde:

q = vazão emitida, em L h-1;

h = pressão nos bocais, em mca;

kex = constantes características do aspersor.

3.4. PRECIPITAÇÃO

A precipitação média do sistema é a quantidade de água que descarrega um


aspersor sobre a superfície que teoricamente lhe corresponde irrigar, supondo que
essa quantidade será repartida de modo uniforme. É dada pela equação:

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 11


q
P (5)
S

onde:

P = precipitação;

q = vazão do aspersor;

S = superfície irrigada pelo aspersor.

A precipitação deve ser inferior à velocidade de infiltração estabilizada, com a


finalidade de evitar encharcamento ou escorrimento superficial.

A precipitação máxima admissível varia em função da textura do solo, da


declividade do terreno e da cobertura vegetal. Na bibliografia são encontradas
tabelas onde são apresentados valores para diversos casos.

Ainda que se possa usar valores elevados de precipitação em solos de textura


grossa, desde o ponto de vista prático se recomenda que a precipitação seja baixa (6
a 7 mm h-1), com a finalidade de compensar as distorções causadas pelo vento.

3.5. PULVERIZAÇÃO

O grau de pulverização varia conforme os seguintes fatores:

- as gotas são de maior tamanho a medida que aumenta sua separação do


aspersor;
- o tamanho das gotas aumenta, quando aumenta o diâmetro do bocal;
- o tamanho das gotas aumenta a medida que diminui a pressão de funcionamento.

As gotas grossas podem produzir danos, por efeito do choque, em algumas


culturas delicadas (hortaliças, flores). Por outro lado, as gotas grossas produzem
compactação na camada superficial dos solos de textura fina, o que reduz a
velocidade de infiltração, com o consequente risco de erosão ou encharcamento.

No extremo oposto, uma chuva demasiado fina é mais facilmente arrastada


pelo vento e se produzem perdas importantes por evaporação.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 12


4. SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO

Os diversos tipos de sistemas de irrigação por aspersão são classificados


segundo o tipo de tubulação usada, o modo de instalação no campo, os tipos de
conexões ou engates entre tubos, a movimentação das linhas laterais no campo e o
tipo de manejo da irrigação.

Na bibliografia podem ser encontradas várias classificações dos sistemas de


irrigação por aspersão.

Os sistemas de irrigação por aspersão podem ser divididos em dois grandes


grupos:

- sistemas estacionários ou convencionais: permanecem na mesma posição durante


a irrigação;

- sistemas mecanizados: deslocam-se continuamente durante a irrigação.

4.1. SISTEMAS ESTACIONÁRIOS

Os sistemas estacionários podem ser classificados em:

- sistema móvel: todos os elementos da instalação são móveis, inclusive pode ser
o conjunto motobomba quando se faz uma tomada de água distinta em cada
posição de irrigação. Este sistema se utiliza só em pequenas superfícies ou pra
aplicar irrigações complementares. O conjunto motobomba móvel, que pode ser
acionado pela tomada de força de um trator, envia a água a uma tubulação onde
são instalados os aspersores. Com a finalidade de diminuir o número de posições
podem ser acopladas à tubulação umas mangueiras, em cujos extremos se
colocam os aspersores. Deste modo, cada aspersor ocupa várias posições de
irrigação antes que seja necessário mudar a tubulação.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 13


- sistema semifixo: neste sistema são fixos o conjunto motobomba e a rede de
tubulações principais, que costuma ser enterrada. Dela derivam os hidrantes onde
se conectam os ramais de alimentação (fixos ou móveis), onde, por sua vez,
conectam-se as laterais de irrigação, que são móveis. Estas últimas levam
acoplados os aspersores, ou diretamente ou através de umas mangueiras, com a
finalidade de permitir a irrigação em várias posições sem necessidade de mudar a
tubulação. Este sistema está sendo usado cada vez menos, pois tem maiores
necessidades de mão de obra e exige um trabalho incômodo ao ter que mudar as
tubulações em solo molhado.

- sistema fixo: todos os elementos deste sistema são fixos, salvo alguns casos
onde os aspersores ocupam sucessivas posições ao longo das laterais de irrigação.
A colocação da rede pode ser permanente (permanece enterrada a uma
profundidade de 0,6 a 1 m durante toda a vida útil) ou temporária (coloca-se ao
princípio da campanha de irrigação e se retira ao final da mesma). Esta última
modalidade requer um pouco mais de trabalho, mas oferece a vantagem de que o
equipamento pode ser utilizado cada ano em parcelas diferentes e é possível
variar o marco de plantação quando se crer conveniente. Um sistema onde todas
as tubulações e aspersores são fixos pode ser chamado de cobertura total. É
utilizado cada vez mais, devido a pouca mão de obra que requer, já que o
trabalho se reduz, praticamente, a abrir e fechar os registros. É o sistema mais
idôneo para parcelas pequenas ou medias de forma irregular. Quando o sistema é
automatizado, a partida e a parada dos aspersores é realizada mediante a
recepção de uns sinais enviados desde um programador central, onde pode existir
um programa de irrigação pré-estabelecido, ou então se utiliza a informação
enviada desde uns sensores situados em diversos pontos do terreno de irrigação,
que indicam a umidade existente neles.

As tubulações fixas costumam ser de fibrocimento ou de material plástico (PVC


ou polietileno). Estas últimas não se utilizam em diâmetros grandes, por seu preço
maior.

As tubulações portáteis são de alumínio ou de material plástico. A primeira tem


pouco peso e uma grande resistência à corrosão. A de PVC (com material especial

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 14


para uso sob intempérie) é muito leve e oferece muito pouca resistência à passagem
da água, mas tem o inconveniente de que é muito frágil. A tubulação portátil de aço
galvanizado praticamente não se usa, devido a seu maior peso. As tubulações
portáteis flexíveis (mangueiras), utilizadas na irrigação, são fabricadas com borracha
reforçada ou materiais plásticos de boa qualidade, com a finalidade de suportar os
esforços que se produzem em seu deslocamento.

As tubulações rígidas portáteis são constituídas por elementos (tubos) de 6 m


de comprimento, e diâmetros normalizados que variam desde 40 mm (1 ½ “) até
150 mm (6”), ainda que os de diâmetro superior a 100 mm raramente são utilizados.
As uniões dos elementos permitem um certo movimento angular, conseguindo-se a
estanqueidade mediante juntas de borracha que se comprimem mediante a pressão
da água ou mediante um anel de borracha que se comprime por meio de uma trava
de fechamento.

4.1.1. Disposição das tubulações nos sistemas estacionários

As disposições básicas mais frequentes são as seguintes:

- disposição unilateral: o ramal de alimentação se situa na divisa da parcela,


enquanto que os ramais laterais se colocam num só lado de dito ramal. Quando os
ramais laterais são portáteis vão se deslocando ao longo do ramal de alimentação a
medida que se realiza a irrigação (Figura 2).

Tubulação Lateral

Figura 2. Disposição unilateral e cobertura parcial, com um só ramal lateral

- disposição bilateral: o ramal de alimentação se situa atravessando a parcela


por seu centro, enquanto que os ramais laterais se colocam em ambos os lados
dele (Figuras 3 e 4). Se os ramais laterais são portáteis vão se deslocando

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 15


sucessivamente ao longo do ramal de alimentação. Se a instalação é fixa se irriga
por blocos de irrigação, já que desta forma, ao diminuir as bordas da zona
irrigada, logra-se uma maior uniformidade e uma diminuição das perdas por
evaporação. Um caso particular desta disposição é quando partem umas
tubulações flexíveis do ramal de alimentação, em cujos extremos se acoplam uns
aspersores. Os aspersores se deslocam de uma posição à seguinte puxando-se
pela tubulação flexível, operação que se realiza desde terreno seco (Figura 5).
Normalmente, monta-se os aspersores sobre rodas para facilitar o trabalho de
deslocamento dos mesmos.

Figura 3. Disposição bilateral e cobertura parcial, com dois ramais laterais e uma
posição de irrigação

Figura 4. Disposição bilateral e cobertura parcial com posição de espera, com


quatro ramais laterais e duas posições de irrigação.

Figura 5. Ramais laterais flexíveis

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 16


Para o traçado dos ramais laterais tem que se levar em conta os seguintes
fatores:

- forma da parcela;

- topografia do terreno;

- cultura;

- direção do vento dominante.

Quando não é possível atender a todos estes fatores se tomará a decisão mais
favorável. Dentro do possível se seguirão as seguintes recomendações relativas aos
ramais laterais:

- situar-se-ão paralelos a uma das divisas da parcela;

- colocar-se-ão em direção perpendicular ao vento dominante;

- colocar-se-ão na direção das fileiras das plantas;

- seguirão, no possível, as curvas de nível, para reduzir ao mínimo as diferenças de


pressão entre os aspersores de um ramal lateral. Estas diferenças de pressão não
devem ultrapassar 20% da pressão média. Melhor ainda, convém que siga uma
direção ligeiramente descendente, para compensar os aumentos de perdas de carga
à medida que os aspersores se afastam da origem.

4.1.2. Exemplos de instalações de sistemas estacionários

Se procurarmos na vida prática bem como na bibliografia especializada


podemos encontrar vários tipos de instalações de sistemas estacionários de irrigação
por aspersão A seguir apresentamos alguns desses exemplos de instalações de
sistemas estacionários:

- sistema semifixo de laterais móveis: a tubulação principal, de PVC ou de


fibrocimento, é colocada enterrada e nela se instalam os hidrantes (Figura 6). O
PVC é mais econômico que o fibrocimento para diâmetros inferiores a 200 mm.
Em parcelas pequenas a tubulação principal costuma ser de alumínio, colocada
sobre a superfície. A cada hidrante se conecta um ramal lateral móvel, de

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 17


alumínio, que realiza um determinado número de posições de irrigação. A mão de
obra necessária se estima em 2,5 horas por irrigação e hectare.

Posições de Irrigação

Tubulação Principal Hidrante

Lateral Móvel

Figura 6. Exemplo de um sistema semifixo de laterais móveis

- sistema semifixo de laterais com mangueiras: o esquema é semelhante ao


anterior. Às laterais se conectam umas mangueiras em cujos extremos se acoplam
os aspersores (Figura 7). Estes aspersores realizam um determinado número de
posições de irrigação só com o deslocamento das mangueiras. As mangueiras
costumam ser de 36 m de comprimento, com uma separação entre posições de
irrigação de 12 ou 18 m, o que permite fazer 7 ou 5 posições respectivamente,
sem modificar a posição da lateral. Quando se realiza o número total de posições
possíveis em cada hidrante se translada o equipamento (formado por uma lateral
e as mangueiras) até o hidrante seguinte.

Posições de Irrigação

Tubulação
Hidrante Principal

Lateral móvel
com mangueiras

Figura 7. Exemplo de um sistema semifixo de laterais com mangueiras

- sistema semifixo enterrado com aspersores móveis: da tubulação principal


(de PVC ou de fibrocimento) derivam as tubulações secundárias (de PVC) e, por
sua vez, destas derivam as terciárias onde se situam as tomadas de irrigação com
aspersores móveis, que se deslocam depois de cada posição de irrigação à
seguinte (Figura 8). As tubulações terciárias, que formam uma rede malhada

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 18


fechada com a secundária (com a finalidade de baratear o custo), costumam ser
de polietileno de alta densidade, de 32 mm de diâmetro. Esta tubulação é
enterrada com um equipamento especial sem necessidade de abrir uma vala.
Pode ser empregado um jogo duplo de aspersores e portaaspersores, com a
finalidade de não ter que entrar em terreno molhado para fazer a mudança de
posição.

Tubulação Válvula
Principal

Tubulação
Secundária

Tubulação
Terciária

Figura 8. Exemplo de um sistema fixo enterrado com aspersores móveis

- cobertura total enterrada: da tubulação principal (de PVC ou de fibrocimento)


derivam as secundárias (de PVC) e destas, as terciárias (de PE de alta densidade),
onde se instalam os aspersores fixos. A mudança de posição se realiza mediante
válvulas manuais ou automáticas. A irrigação é realizada simultaneamente com
várias linhas de aspersores formando um bloco (Figura 9). Uma modalidade
distinta consiste em instalar os aspersores sobre a tubulação secundária de PVC
(com diâmetros de 50 a 75 mm). Esta modalidade requer escavar uma vala para
enterrar todas as tubulações, fator importante a ser considerado desde o ponto de
vista econômico (Figura 10).

Válvula

Tubulação de Setor
Principal

Tubulação Tubulação
Secundária Terciária

Figura 9. Exemplo de cobertura total enterrada

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 19


Tubulação
Principal

Válvula

Tubulação
Secundária

Figura 10. Exemplo de cobertura total enterrada

- cobertura total aérea: na tubulação principal se instalam hidrantes aos que se


conectam as tubulações que abastecem as laterais com os aspersores (Figura 11).
Atualmente se usa muito a tubulação de plástico (PVC e PE) com tratamento, que
evita a sua deterioração pela ação da luz solar e que tem preços bastante
competitivos com a tubulação de alumínio.

Hidrante

Tubulação
Principal

Tubulação
de abastecimento

Lateral

Figura 11. Exemplo de cobertura total aérea

4.2. SISTEMAS MECANIZADOS

Os sistemas mecanizados podem ser classificados em:

- sistemas com deslocamento de um emissor de grande tamanho: correspondem


aos canhões de irrigação autopropelidos;

- sistemas com deslocamento sobre rodas da lateral de irrigação: correspondem ao


Pivô central (deslocamento circular) e aos sistemas de deslocamento lateral.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 20


Estes equipamentos irrigam ao mesmo tempo em que se deslocam, com o que
a precipitação não é determinada unicamente pela vazão instantânea, mas também
é preciso considerar a velocidade de avanço.

4.2.1. Sistemas autopropelidos

O sistema autopropelido consta de um aspersor de grande alcance e vazão


(canhão) montado sobre uma carreta e conectado a um ponto de tomada de água
mediante uma mangueira. O equipamento irriga uma superfície em forma de setor
circular e sempre para trás em relação ao sentido do avanço, com a finalidade de
que se desloque sempre em terreno seco. O sistema motriz costuma ser um motor
hidráulico acionado pela pressão da água de irrigação, com uma velocidade de
avanço ajustável em função do fluxo. Este sistema é indicado para irrigação de cana
de açúcar, pastagens, forrageiras, pomares e cereais, em áreas de tamanho médio a
grande.

Há duas modalidades de sistemas autopropelidos, que são as seguintes:

- autopropelido convencional (“traveller”): consiste num canhão montado


sobre uma carreta que arrasta uma mangueira flexível conectada a um hidrante. A
carreta percorre uma rua entre as culturas, deslocando-se com a ajuda de um
cabo de aço ancorado no extremo da rua ou guiado por uma roda diretora que se
desloca sobre uma guia previamente traçada. Para iniciar a irrigação se coloca a
carreta com o canhão num extremo duma rua da parcela. No outro extremo da
rua se ancora o cabo previamente desenrolado desde um carretel localizado na
carreta. O deslocamento se produz ao mesmo tempo em que se enrola o cabo no
carretel, que é acionado por um pistão ou uma turbina alimentada por uma parte
da vazão que chega pela mangueira. Quando o carro chega ao outro extremo da
rua para automaticamente e fecha a passagem da água (Figura 12). Para mudar
de posição se desconecta a mangueira, esvazia-a de água, recolhe-se num
carretel acionado pela tomada de força do trator e se coloca a máquina na posição
seguinte.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 21


Carreta com canhão

Mangueira

Deslocamento
Tubulação
Hidrante
Cabo

Ancoragem

Figura 12. Irrigação com autopropelido convencional

- autopropelido tipo enrolador (“trac“): consiste num canhão montado sobre


uma carreta pequena e um carretel onde se enrola uma mangueira flexível. Este
carretel é instalado numa outra carreta que fica estacionada em cada posição de
irrigação, junto a um hidrante. Para irrigar, coloca-se a carreta com o canhão no
extremo oposto ao do carretel, desenrola-se a mangueira e se conecta ao canhão.
Quando se irriga entra em funcionamento um mecanismo hidráulico (acionado
pela pressão de serviço) que faz girar o carretel, com o qual a mangueira vai se
enrolando ao mesmo tempo em que arrasta a carreta com o canhão. Quando a
carreta pequena chega ao final do seu percurso entra em funcionamento um
mecanismo que para a irrigação (Figura 13). A carreta aonde vai montado o
carretel leva um dispositivo que lhe permite girar 180, com o qual se pode
desenrolar a mangueira em sentido oposto e irrigar outro tanto de superfície sem
mudar a posição do carretel.

Carreta com canhão

Mangueira
Carretel
Deslocamento
Tubulação
Hidrante

Figura 13. Irrigação com autopropelido tipo enrolador

O autopropelido do tipo enrolador é mais utilizado do que o autopropelido


convencional, devido a que é de mais fácil manejo e necessita menos mão de obra
para mudanças de posição. A área irrigada por posição é em torno de 5 ha, usando-
se mangueira flexível de alta pressão de até 500 m (depende do tipo de
autopropelido), irrigando uma área de até 500 m de comprimento por mais de 100 m
Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 22
de largura por posição. Pode irrigar até 70 ha, trabalhando 24 h dia-1. Os hidrantes
são colocados a cada 100 m, aproximadamente. A velocidade de deslocamento gira
em torno de 40 a 100 m h-1. A vazão está compreendida entre 20 e 150 m3 h-1 e a
precipitação costuma variar de 5 a 35 mm h-1.

O diâmetro da mangueira está compreendido entre 50 e 125 mm, e o


comprimento varia de 100 a 500 m. A mangueira tem que suportar grandes pressões
de serviço e forças de tração ao ser arrastada pelo solo. Costumam durar de 6 a 8
anos.

Estes equipamentos são muito adequados para climas e culturas onde a


precipitação natural permite espaçar as irrigações, ou nos outros casos onde se
necessita irrigações de salvação. As culturas mais adequadas são aquelas que
cobrem uma grande proporção de superfície de solo. Deve se ter precaução com
culturas delicadas, sobretudo durante a germinação e a floração. Neste caso, deve-
se utilizar bocais mais pequenos e maior pressão, com a finalidade de diminuir o
tamanho das gotas.

A irrigação com canhões autopropelidos apresenta alguns inconvenientes, tais


como:

- requer uma pressão elevada;

- produz escorrimento superficial em solos argilosos com baixa velocidade de


infiltração;

- o impacto das gotas grandes produzidas atua desfavoravelmente sobre o solo,


sobretudo em solos argilosos e sem cobertura vegetal;

- a uniformidade da irrigação é muito afetada pelo vento, devido à grande altura e


distância do jato d’água.

Mas, apresenta a vantagem de que requer uma inversão inicial baixa em


relação à superfície irrigada.

Pode-se conseguir uma boa uniformidade na distribuição da água quando se


projeta e maneja bem o equipamento, escolhendo adequadamente o tipo e tamanho
do bocal, a pressão de trabalho, o ângulo de inclinação do jato com a horizontal e o
espaçamento entre as posições de irrigação.
Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 23
Como norma geral podem ser dadas a seguintes recomendações:

- a pressão de trabalho aumenta com a vazão.

- em nenhum ponto da parcela a pressão deve variar mais de 20%, com a


finalidade de que a vazão não varie mais de 10%. Quando a variação de pressão
supera este valor coloca-se um regulador de pressão na entrada do canhão.

- o ângulo de inclinação do jato com a horizontal está compreendido entre 20 e


25. Abaixo de 20 o jato tem pouco alcance e acima de 25 é muito afetado pelo
vento. Quando a velocidade do vento supera os 4 m s-1, rebaixa-se o ângulo a 20
a 21, ainda que seja melhor deixar de irrigar.

- o espaçamento entre duas posições de irrigação está compreendido entre 80% e


60% do diâmetro molhado, segundo a velocidade do vento varie de zero até 5 m
s-1.

- quando a parcela tem bastante declividade convém que o deslocamento do


canhão seja feito no sentido da máxima declividade, com a finalidade de que o
escorrimento se produza em terreno seco.

- recomenda-se que o deslocamento seja perpendicular aos ventos dominantes.

- quando existe uma linha de alta tensão, o canhão deve ser situado a uma
distância mínima da mesma de 30 m, procurando em todo o caso que o jato de
água se rompa antes de chegar aos cabos.

Em alguns casos, os sistemas autopropelidos evoluíram no sentido de substituir


o canhão por uma tubulação onde se montam os emissores (aspersores, difusores ou
gotejadores). Desta forma o canhão se transforma numa linha de irrigação (ou
braços tubulares suspensos) que se mantém sobre uma carreta e se desloca de
forma análoga aos sistemas de autopropelidos com canhão. Estas linhas de irrigação
trabalham sob baixa pressão e com isso se consegue uma boa uniformidade de
irrigação. Irrigam faixas de 20 a 40 m e aplicam pequenas doses de irrigação, o que
obriga a dar maior número de irrigações. Em alguns tipos, os braços giram em
circulo completo, enquanto irrigam. Em outros tipos, movimentam-se apenas alguns
graus, na direção horizontal, como também podem inclinar na direção vertical, para
acomodação, em terrenos com alguma declividade. O equipamento movimenta-se
Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 24
em faixas, com velocidade variável, em função da quantidade de água que se deseja
aplicar.

4.2.2. Sistemas de deslocamento lateral sobre rodas

Estes equipamentos consistem em linhas laterais montadas sobre rodas, com


diâmetro variando de 1,20 m a 2,40 m, para deslocamento lateral, por meio de um
mecanismo de engrenagens e correntes adaptado no meio da linha lateral, o qual é
acionado por um motor. As rodas que movimentam as laterais têm garras para evitar
que patinem no terreno ou são dotadas de pneus. As laterais são abastecidas por um
sistema motobomba e uma tubulação adutora ou principal, dotada de tomadas de
água, que se conecta às laterais com mangueiras flexíveis.

Existem dois tipos deste sistema:

- sistema tipo rolão: consiste num sistema em que a linha lateral serve como eixo
das rodas, que deslocam o equipamento no sentido frontal desde uma posição de
irrigação até a seguinte. O sistema tem uma unidade propulsora, com motor de
combustão interna, colocada no centro ou num dos extremos da lateral de
irrigação. O comprimento máximo da lateral é de 400 m, com vazão de até 160
m3 h-1, sendo indicado para áreas de até 60 ha. Este sistema funciona com a
lateral estacionada numa posição até que a lâmina de água calculada seja
aplicada. O sistema é desligado e a água da tubulação é drenada
automaticamente. Com o auxílio da unidade propulsora, o sistema é deslocado
para a próxima posição e assim por diante. Cada aspersor possui uma válvula para
drenar a água após a irrigação em cada posição. Este equipamento, de baixo
custo inicial, adapta-se bem a parcelas grandes de forma retangular, logrando
uma boa uniformidade de irrigação. Desde o ponto de vista mecânico é pouco
resistente e não pode ser utilizado em culturas de porte alto nem em terrenos de
topografia irregular.

- sistema linear sobre rodas: consiste num sistema em que a linha lateral é
instalada em plano superior ao topo das rodas, suportada por torres ou armações,
apoiadas nas rodas com pneus. O espaçamento também pode ser de 12 m entre
aspersores, como no sistema tipo rolão. A água é fornecida por mangotes flexíveis
Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 25
de até 400 m que fazem a ligação da linha lateral com a linha de adução ou
principal. O equipamento tem um movimento contínuo feito através de uma
turbina hidráulica que transmite um movimento de rotação a uma bobina que, por
sua vez, é enrolada num cabo de aço estendido e preso a uma âncora fincada no
começo do campo irrigado.

4.2.3. Pivô central

É um sistema automatizado de irrigação com movimentação circular, girando a


uma velocidade constante e prefixada. É indicado para grandes áreas. É constituído,
fundamentalmente, por uma estrutura metálica que suporta a tubulação com os
emissores, dotada de um mecanismo de avanço automático e uma alimentação de
água contínua, o que permite irrigar durante o avanço. A estrutura gira ao redor de
um extremo fixo (pivô), por onde recebe a água e a energia elétrica e onde se
situam os elementos de controle.

O equipamento de irrigação é composto de vários trechos articulados,


suportados por torres metálicas, que em seu movimento descrevem círculos
concêntricos. O movimento de cada trecho é conseguido mediante um motor elétrico
ou hidráulico que transmite o movimento a umas rodas mediante uma engrenagem
redutora. Hoje, o motor elétrico é mais usado do que o hidráulico, porque permite
mudar o sentido da marcha e deslocar o equipamento sem irrigar.

Todos os trechos se mantêm alinhados mediante uns sensores que atuam sobre
o sistema motriz. Existe um dispositivo de segurança que detém o funcionamento do
equipamento quando o desalinhamento ultrapassa os limites previstos.

O comprimento do equipamento de irrigação varia de 50 a 800 m, o que


permite selecionar o modelo adequado ao tamanho da área a ser irrigada. A inversão
inicial por área irrigada diminui à medida que aumenta o comprimento do
equipamento.

A separação entre torres varia de 25 a 75 m. Os equipamentos com trechos


longos resultam ser mais baratos (porque dispõem de menos torres por unidade de
comprimento), mas se adaptam pior a terrenos ondulados; ao dispor de menos

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 26


torres transmitem mais peso ao solo, o que pode originar problemas de o
equipamento atolar em alguns terrenos.

A tubulação de irrigação está a uma altura de 3 m, aproximadamente, o que


origina uma grande dispersão da chuva em caso de ventos fortes. Para diminuir esta
interferência dos ventos alguns modelos incorporam uns tubos verticais (bengalas)
em cujo extremo se colocam os emissores (aspersores e difusores), para que estes
se aproximem mais do solo. Porém, para plantas de porte alto, há problemas com o
seu uso, pois são um empecilho ao caminhamento do pivô. No extremo móvel da
lateral de irrigação costuma-se colocar um aspersor de grande vazão, que aumenta a
superfície irrigada.

O sistema de pivô central opera em terrenos de até 30% de declividade, devido


às juntas flexíveis multidirecionais presentes nos trechos da tubulação. No entanto,
não se recomenda o seu uso em declividades elevadas.

Tem-se que procurar que a precipitação se mantenha constante em todo o


círculo irrigado, o que requer aumentar a taxa de aplicação dos trechos da lateral de
irrigação a medida em que avança do centro até a extremidade externa. Para
satisfazer esta exigência, os emissores podem ter espaçamento regular (distâncias
iguais entre eles, mas com maiores vazões à medida que se distanciam do pivô), ou
espaçamento irregular (o espaçamento decresce à medida que se distancia do
centro, mas com emissores com mesma vazão).

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 27


5. SELEÇÃO DO ASPERSOR

A irrigação por aspersão tem por objetivo principal simular precipitações,


aplicando uniformemente quantidades de água pré-estabelecidas sobre a área a ser
irrigada. Para a obtenção de uma uniformidade satisfatória, dependemos de uma
escolha adequada do aspersor. A seleção correta de um aspersor para uma
determinada situação de trabalho envolve o conhecimento de características
intrínsecas e extrínsecas. Existe uma série de fatores que afetam direta ou
indiretamente o desempenho do aspersor.

5.1. FATORES QUE AFETAM O DESEMPENHO DO ASPERSOR

5.1.1. Bocal

A distribuição da água dos aspersores varia com o tipo de aspersor e os tipos


de bocais usados. A maioria dos aspersores possui um ou dois bocais, mas existem
alguns com três bocais. O diâmetro dos bocais, em geral, varia de 2 a 30 mm.
Existem duas categorias de bocais, uma para longo alcance e outra para espalhar o
jato. Nos aspersores com três bocais, há um bocal de longo alcance e os outros dois
são para espalhar o jato. Nos aspersores com dois bocais, há um de cada tipo, e nos
aspersores de um bocal, este terá as duas funções.

5.1.2. Diagrama pluviométrico

O diagrama pluviométrico de um aspersor traduz o modo como se distribui a


precipitação na área circular teoricamente atingida pelo mesmo.

De nada vale que um aspersor tenha um bom alcance do jato se o seu


diagrama pluviométrico for inconveniente.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 28


Na teoria, se não houver vento e a velocidade de rotação for rigorosamente
uniforme, a lâmina d’água precipitada (h) em cada ponto da superfície coberta deve
ser apenas uma função da distância x do ponto do aspersor, ou seja:

h  f x  (6)

A forma da função que estabelece o diagrama pluviométrico do aspersor,


também é chamada de curva pluviométrica. O diagrama pluviométrico depende de
fatores externo (vento) e interno (diâmetro do bocal, pressão de serviço e velocidade
de rotação). A obtenção do diagrama pluviométrico deve ser realizada em locais sem
vento ou protegidos do mesmo e com o aspersor em movimento.

Existem, geralmente, quatro tipos teóricos de diagramas pluviométricos (Figura


14), que são:

- diagrama tipo retangular: não existe na prática, nem teria grande interesse a
não ser para aspersores isolados, uma vez que seria prejudicado pela
superposição.

- diagrama tipo triangular: é o tipo mais frequente; é característico dos


aspersores funcionado com pressão adequada.

- diagrama tipo elíptico: tem mais ou menos a mesma característica do tipo


triangular; no entanto, as superposições não são tão ideais como no tipo anterior.

- diagrama tipo trapezoidal: o diagrama é compensado com menores


superposições do que as necessárias nos diagramas do tipo triangular e do tipo
elíptico; é, em princípio, o diagrama, teoricamente, ideal para aspersores,
traduzindo uma maior economia das instalações sem prejuízos para a
uniformidade de aplicação de água. Infelizmente, o diagrama rigorosamente
trapezoidal só existe no campo da teoria.

A B

C D

Figura 14. Tipos teóricos de diagramas pluviométricos


Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 29
5.1.3. Pressão

A vazão do aspersor é função do diâmetro e da pressão da água no bocal. Os


aspersores devem funcionar dentro dos limites de pressão especificados pelo
fabricante, para obter um bom perfil de distribuição. Uma pressão muito alta causa
uma excessiva pulverização do jato d’água, produzindo gotas de tamanho reduzido,
diminuindo seu raio de alcance e causando uma precipitação excessiva próxima ao
aspersor. Uma pressão muito baixa resulta numa inadequada pulverização do jato
d’água, proporcionando uma maior deposição da água na extremidade da área
molhada, causando um perfil de distribuição muito irregular.

O raio de alcance do aspersor amplia com o aumento de pressão até


determinado ponto. Pressões acima e abaixo desses valores causam um decréscimo
do raio de alcance.

5.1.4. Superposição

Para obter uma boa uniformidade de aplicação d’água sobre a área irrigada, os
aspersores devem ser espaçados, de modo que se obtenha uma superposição entre
os perfis de distribuição d’água dos aspersores, ao longo da linha lateral e entre
linhas laterais ao longo da linha terciária. A porcentagem de superposição requerida
depende do tipo de aspersor e da intensidade do vento na área a ser irrigada.

5.1.5. Vento

O vento afeta a uniformidade de distribuição d’água dos aspersores,


prejudicando grandemente a uniformidade de aplicação da água. A distorção
provocada depende da velocidade do vento e do tamanho das gotas d’água. Quanto
maior for a velocidade do vento e menor o diâmetro das gotas, menor será a
uniformidade de aplicação.

O efeito do vento pode ser minimizado pelo decréscimo do espaçamento entre


aspersores, ao longo da linha lateral, e decréscimo do espaçamento entre linhas
laterais.

Para minimizar o efeito do vento, deve-se:

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 30


- diminuir o espaçamento entre aspersores, pois isto aumenta a uniformidade de
distribuição, mas também aumenta a intensidade de aplicação. Em regiões
sujeitas a vento, o que se pode fazer é usar aspersores de menor capacidade, os
quais requerem, normalmente, menores espaçamentos.

- colocar as linhas laterais perpendiculares à direção predominante dos ventos.

- Escolher aspersores com menor intensidade de aplicação, mas isto demanda


maior tempo de funcionamento por posição, para aplicar determinada lâmina
d’água, e quanto maior for o tempo de funcionamento por posição melhor será a
uniformidade de distribuição.

Na bibliografia podemos encontrar recomendações para espaçamento entre


aspersores em função da velocidade do vento e do diâmetro de cobertura, tais como
o apresentado na Tabela 1, abaixo:

Tabela 1. Espaçamento dos aspersores em função do diâmetro de cobertura e da


intensidade do vento
Velocidade do vento Espaçamento dos aspersores em função do diâmetro de cobertura
(m s-1) (%)
Sem vento 65 a 70
0 a 2,0 55 a 65
2,0 a 4,0 45 a 55
> 4,0 30 a 45

5.2. ESPAÇAMENTO DOS ASPERSORES

O objetivo básico da irrigação por aspersão é aplicar uniformemente uma


lâmina d’água preestabelecida, com determinada intensidade de aplicação. Como a
maioria dos aspersores aplica água sobre uma área circular, é necessária uma
determinada superposição de áreas molhadas para obter uma razoável uniformidade.
Para manter a mesma uniformidade sobre toda a área a ser irrigada, é necessário
manter constante o posicionamento e espaçamento entre aspersores. A disposição
dos aspersores no campo, normalmente, é nas formas de retângulo, quadrado e
triângulo equilátero, sendo as duas primeiras as mais comuns. Quando a disposição
for de forma retangular, o maior espaçamento deverá ser entre linhas laterais e o

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 31


menor entre aspersores, ao longo das linhas laterais. Sendo o comprimento padrão
das tubulações fabricadas no Brasil de 6 m, o espaçamento entre aspersores e entre
linhas laterais deverá ser múltiplo de 6 m.

Para os aspersores convencionais, os espaçamentos mais comuns, em m, são:


12 X 12, 12 X 18, 12 X 24, 18 X 18, 18 X 24, 18 X 30, 24 X 24, 24 X 30 e 30 X 30;
para os aspersores gigantes ou canhão hidráulico, o espaçamento poderá variar de
36 até 78 m, dependendo do raio de alcance do canhão hidráulico.

5.3. INTENSIDADE DE PRECIPITAÇÃO

A velocidade com que a água é aplicada pelos aspersores é um parâmetro que


deve ser observado quando da escolha correta de um aspersor. A maioria dos
autores, é unânime em afirmar que, a intensidade de precipitação de água pelos
aspersores deve ser menor do que a infiltração básica da água no solo. Tal
consideração é feita com o objetivo de evitar o problema da erosão e consequentes
efeitos na eficiência de aplicação. Existem dois tipos de intensidade de precipitação:
a efetiva e a média.

5.3.1. Intensidade de precipitação efetiva

A intensidade de precipitação efetiva de aspersor, é a altura média de chuva


distribuída por unidade de tempo na área coberta pelo aspersor, e pode ser calculada
pela expressão:

4q
Pe  (7)
  D2

onde:

Pe = intensidade de precipitação efetiva;

q = vazão do aspersor;

D = diâmetro molhado pelo aspersor.

A intensidade de precipitação efetiva considera o aspersor funcionando


isoladamente sem superposição.
Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 32
5.3.2. Intensidade de precipitação média

A determinação da intensidade de precipitação média, é feita considerando-se a


superposição dos jatos dos aspersores. A obtenção desse parâmetro é feita em
função da vazão e do espaçamento dos aspersores, e o cálculo pode ser feito pela
expressão:

q
Pm  (8)
S1  S 2

onde:

Pm = intensidade de precipitação média;

q = vazão do aspersor;

S1 = espaçamento entre aspersores na linha lateral;

S2 = espaçamento entre linhas laterais.

5.4. GRAU DE PULVERIZAÇÃO

O grau de pulverização dos jatos dos aspersores está relacionado com a


dimensão das gotas de água. O tamanho das gotas, efetivamente, está vinculado à
cultura, às características do solo e do clima.

O impacto das gotas d’água grossas pode produzir danos a alguns cultivos,
como é o caso das flores que são bastante afetadas pelo choque com as gotas.
Quanto à sensibilidade das culturas à pulverização das gotas, podem ser classificadas
em cinco classes, que são as seguintes:

- praticamente insensíveis: pastagens naturais;

- pouco sensíveis: pastagens artificiais, forrageiras, cana de açúcar;

- moderadamente sensíveis: pomares de um modo geral e algumas culturas


hortícolas;

- muito sensíveis: culturas hortícolas e árvores com frutos delicados, feijão, milho
e outras;

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 33


- extraordinariamente sensíveis: flores, fumo, e outras.

Em determinados tipos de solo, as gotas grossas, provocam a compactação da


camada superficial do mesmo, reduzindo consequentemente a velocidade de
infiltração da água, podendo acarretar como resultado a erosão e/ou o
encharcamento. Esse fenômeno, ocorre, principalmente, em solos argilosos.

Pulverizações muito finas, podem dar lugar a grandes perdas por evaporação e
a ação do vento é bastante significativa no arraste das mesmas, influenciando na
eficiência e uniformidade de aplicação.

O grau de pulverização dos jatos dos aspersores é calculado pela equação:

PS
GP  (9)
D

onde:

GP = grau de pulverização;

PS = pressão de serviço do aspersor (m);

D = diâmetro do maior bocal (mm).

A avaliação do grau de pulverização pode ser feita conforme a Tabela 2,


abaixo:

Tabela 2. Avaliação do grau de pulverização do aspersor


Grau de pulverização Tipos de gotas Classificação das culturas
< 3,0 Grossa Praticamente insensíveis
3,1 a 4,0 Semigrossa Pouco sensíveis
4,1 a 5,0 Semifina Moderadamente sensíveis
5,1 a 6,0 Fina Muito sensíveis
> 6,0 Finíssima Extraordinariamente sensíveis

5.5. OUTRAS INFORMAÇÕES

Quando da seleção dos aspersor, também são observadas as seguintes


informações:

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 34


- os aspersores de bocal único, prestam-se mais a pulverizações de pequena
intensidade;

- para uma mesma pressão, o bocal de menor diâmetro apresenta pulverização


mais fina;

- pulverizações mais finas são obtidas com aumento da pressão de serviço;

- os aspersores devem ser instalados a uma certa distância da tubulação, variando


esta com a vazão do aspersor, para evitar a turbulência causada pela mudança da
direção de fluxo prejudique o seu funcionamento (Tabela 3).

Tabela 3. Comprimento mínimo do tubo de subida do aspersor em função da


vazão
Vazão do aspersor Comprimento mínimo do tubo de subida do aspersor
(m3 h-1) (m)
< 2,3 0,15
2,3 a 5,7 0,23
5,7 a 11,4 0,40
11,4 a 27,4 0,45
> 27,4 0,90

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 35


6. UNIFORMIDADE DE APLICAÇÃO DE ÁGUA

A uniformidade de distribuição da água na superfície do solo depende,


fundamentalmente, dos seguintes fatores:

- do modelo de distribuição da água pelo aspersor, que depende, por sua vez do
projeto do aspersor, da pressão de serviço e do número e tipo de bocais.

- da disposição dos aspersores (marco de irrigação).

- da intensidade do vento dominante durante aplicação da água; o tamanho das


gotas tem um papel fundamental nas perdas causadas por evaporação, enquanto
que a distância e a altura da trajetória do jato influem no arraste da água pelo
vento.

Também influem na uniformidade, ainda que em menor proporção, outros


fatores, como por exemplo, a duração da irrigação, que ao ser incrementada
favorece a uniformidade, já que se compensam os efeitos de distorção do vento ao
mudar a direção do mesmo durante o tempo de irrigação. Por outro lado, tem-se que
levar em conta que a distribuição da água no perfil do solo melhora em relação à
distribuição na superfície, devido às diferenças de potencial hídrico.

Existem várias equações para calcular a uniformidade de aplicação de um


sistema de irrigação por aspersão, sendo três as mais usadas, ou seja:

- Coeficiente de Uniformidade de Christiansen (CUC);


n

x
i 1
i x
CUC  1  (10)
nx

onde:

xi = precipitação observada no pluviômetro de ordem i;

x = precipitação média;

n = número de pluviômetros.
Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 36
- Coeficiente de Uniformidade de Distribuição (CUD);

x 25%
CUD  (11)
x

onde:

x 25% = precipitação média dos 25% menores valores coletados nos pluviômetros;

x = precipitação média, considerando todos os pluviômetros;

- Coeficiente de Uniformidade Estatística (CUE).

 x  x
2

i 1
i

CUE  1   1  1  CV (12)
n  1  x 2 x

onde:

xi = precipitação observada no pluviômetro de ordem i;

x = precipitação média;

n = número de pluviômetros;

 = desvio padrão dos dados de precipitação;

CV = coeficiente de variação.

Para determinar a distribuição de água dos aspersores se utilizam os seguintes


procedimentos:

- coloca-se uma rede de pluviômetros entre quatro aspersores de duas linhas


laterais, numa instalação existente de irrigação por aspersão;

- coloca-se uma rede de pluviômetros ao redor de um só aspersor isolado, e se


estabelece posteriormente a distribuição correspondente a qualquer marco de
irrigação;

- coloca-se uma só fila de pluviômetros num raio (ou diâmetro) de um círculo


molhado, para determinar o modelo de distribuição radial, de onde se deduz a
precipitação de toda a rede.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 37


Para se estabelecer o diagrama pluviométrico e a distribuição correspondente a
qualquer marco de irrigação com as respectivas superposições podem ser usados
alguns programas de computador que existem.

Com um Coeficiente de Uniformidade (CU) elevado se obtém maior


uniformidade na distribuição e, em consequência, uma maior eficiência de irrigação e
um incremento da produção, mas se requer um equipamento mais custoso. O
objetivo principal da irrigação é obter o máximo benefício; mas pode ocorrer que os
valores elevados de uniformidade e eficiência não coincidam com o maior benefício,
devido ao aumento de custo da instalação. Como orientação se pode recomendar os
seguintes valores de CU, apresentados na Tabela 4, abaixo:

Tabela 4. Valores de CU recomendados


Tipos de culturas CU
- culturas de alta rentabilidade, especialmente com sistema radicular superficial 0,85 a 0,88
- culturas com sistema radicular de profundidade média em solos de textura média 0,80 a 0,85
- culturas de horta, forrageiras e cultivos em zonas chuvosas 0,75 a 0,80

Uma uniformidade de aplicação absoluta teria o coeficiente de uniformidade


igual a 100%, o que é quase impossível, e, portanto, para projeto, admite-se um
valor recomendável de 80%. Alguns autores e projetistas sugerem um coeficiente de
uniformidade de até 65%, dependendo do espaçamento da cultura irrigada.

A uniformidade de distribuição é grandemente influenciada pelo vento, que,


desviando a trajetória do jato, transforma a superfície molhada, de circular em
elíptica. Nos casos em que isso ocorre, algumas medidas podem ser usadas para
diminuir esse problema, as quais são:

- diminuir o espaçamento entre aspersores e entre laterais, aumentando a


superposição dos jatos e por consequência aumentado a uniformidade;

- colocar as linhas laterais de aspersores em direção perpendicular à direção do


vento;

- reduzir a pressão de serviço dos aspersores até 20%, produzindo com isso gotas
mais grossas, quando não haja prejuízo para a cultura;

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 38


- deslocar as posições de aspersores e linhas laterais, em irrigações sucessivas,
evitando a repetição duas precipitações idênticas no mesmo local;

- distribuir os aspersores em triângulo.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 39


7. RECOMENDAÇÕES PARA A ESCOLHA DA INSTALAÇÃO DE IRRIGAÇÃO

Para a escolha da instalação de irrigação tem que se levar em conta uma série
de fatores: climáticos, agronômicos, técnicos, econômicos e práticos.

7.1. FATORES CLIMÁTICOS

7.1.1. Vento

O vento distorciona o modelo de distribuição dos aspersores. A magnitude


desta distorção depende da velocidade do vento (maior velocidade, maior distorção)
e do tamanho das gotas (menor tamanho, maior distorção). Para diminuir os efeitos
distorcionadores do vento é aconselhável irrigar nas horas de vento menos intenso
(geralmente à noite) ou quando a velocidade deste é inferior a 2 m s-1. Se isto não é
possível recomenda-se instalar aspersores de pouco alcance e baixa ou média
pressão, para que não haja uma excessiva pulverização. A irrigação de fruteiras com
hastes porta aspersores altas só deve ser feita se existirem barreiras cortaventos.

7.1.2. Temperatura

As temperaturas altas acentuam as perdas por evaporação, especialmente se a


chuva é muito pulverizada. Para diminuir estes efeitos negativos convém utilizar
aspersores de baixa ou média pressão, com bocais de maior diâmetro.

7.2. FATORES AGRONÔMICOS

7.2.1. Topografia

Quando a topografia é acidentada não é aconselhável utilizar aspersores de


baixa pressão, com os quais é difícil cumprir a norma de que a perda de carga

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 40


existente os aspersores da mesma linha lateral seja inferior a 20% da pressão de
serviço, salvo que se utilize laterais muito curtas. Também, as declividades fortes
favorecem o escorrimento superficial, pelo que se aconselha menor precipitação do
que em terreno plano.

7.2.2. Solo

A velocidade de infiltração da água no solo limita a precipitação. As gotas


grossas provocam a compactação de determinados solos, com a consequente
diminuição da velocidade de infiltração, pelo que se aconselha uma chuva fina
naqueles solos com más condições de estabilidade. Em solos de textura fina, se a
velocidade de rotação do aspersor é demasiado baixa, as longas fases sem irrigação
entre duas passadas consecutivas pode provocar a deterioração da estrutura
superficial.

7.2.3. Cultura

O tipo de cultura, seu porte e sua cobertura sobre o solo condicionam o tipo de
instalação. Algumas culturas muito frágeis (flores, algumas plantas hortícolas)
necessitam precipitações débeis, com grande pulverização e uma excelente
uniformidade de irrigação, o que exige pouca separação entre aspersores. Em
culturas de porte alto (milho, sorgo, girassol) se aconselha a irrigação com
precipitações médias ou elevadas. Em fruteiras pode-se utilizar aspersores colocados
sobre hastes porta aspersores altas (para irrigar por cima da folhagem) ou
aspersores de ângulo baixo (para irrigar por debaixo da folhagem). Em pastagens se
utiliza aspersores de grande alcance, com a finalidade de diminuir o custo.

7.2.4. Água

Com águas sujas utiliza-se aspersores com bocais grandes, para evitar sua
obstrução.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 41


7.3. FATORES TÉCNICOS

O tipo e o diâmetro dos bocais determina o modelo de distribuição do aspersor.


O mais geral é que tenha dois bocais, com percursos diferentes e complementares:
um distribui a água na periferia do circulo molhado, e o outro a distribui na
proximidade do aspersor. No caso de um só bocal (em geral, aspersores de baixa
pressão e pequeno alcance) este tem que cumprir as duas missões.

Cada aspersor é projetado para operar dentro de uma faixa de pressões, dentro
da qual a distribuição da água se ajusta a um modelo de distribuição de água
normal. Quando a pressão é inferior, o jato se fraciona em gotas grandes, e se essa
diminuição é excessiva a chuva se concentra em dois círculos concêntricos, um na
zona próxima ao aspersor, e outro na periferia do diâmetro molhado. Em troca,
quando a pressão é excessiva se produz uma grande pulverização, o que provoca
uma diminuição do alcance do jato e um excesso de precipitação na zona próxima ao
aspersor.

Em geral, os marcos ou espaçamentos pequenos (iguais ou inferiores a 12 m)


fazem uma irrigação mais uniforme e precisam de menores pressões; apresentam os
inconvenientes de um maior custo do equipamento e a necessidade de efetuar um
maior número de translado de tubulação nas instalações portáteis. Os marcos
grandes (superiores a 24 m) apresentam as vantagens e inconvenientes opostos. Os
marcos médios (compreendidos entre 12 e 24 m) participam parcialmente das
vantagens de ambos.

Em tubulação superficial se costuma utilizar marcos de irrigação múltiplos de 6


m, enquanto que em tubulação enterrada se pode utilizar qualquer marco.

7.4. FATORES ECONÔMICOS

O grau de cobertura da rede é condicionado, sobretudo, pelo limite de inversão


que o agricultor possa realizar e pela disponibilidade de mão de obra.

Em sistemas semifixos de linhas laterais móveis ou em sistemas fixos com


colocação temporária das tubulações sobre a superfície, o comprimento das linhas

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 42


laterais, desde o ponto de vista econômico, não deve ultrapassar os 200 m, ainda
que em qualquer caso convém fazer o estudo econômico pertinente.

Os aspersores de baixa pressão requerem menor consumo de energia, mas em


sistemas semifixos tem que fazer um maior número de troca de posições, com o
consequente aumento de mão de obra.

Em sistemas fixos tender-se-á a instalar aspersores que trabalhem a pressões


compreendidas entre 25 e 35 mca e façam uma boa distribuição da água.

7.5. FATORES PRÁTICOS

Em termos gerais se podem seguir as seguintes recomendações:

- é necessário que o fabricante forneça os dados do comportamento real, em


qualquer marco de irrigação, do aspersor selecionado.

- sempre que seja possível, fazer irrigação noturna, pelos seguintes motivos: é mais
barata a energia elétrica, o vento é mais suave e há menos perdas por
evaporação; tem o inconveniente de que se necessita certa automatização.

- procurar que a precipitação seja baixa (5 a 7 mm h-1), para compensar as


distorções causadas pelo vento, já que duram mais tempo as posições de
irrigação.

- irrigar formando blocos de irrigação, pois ao diminuir o tamanho da zona irrigada


se consegue uma maior uniformidade na distribuição e uma diminuição das perdas
por evaporação.

- utilizar aspersores de baixa pressão (menor do que 20 mca) em marcos pequenos


(com separação entre aspersores menor ou igual a 12 m), para culturas frágeis
(jardinagem, hortaliças), para irrigação subcopa de frutíferas ou em zonas de
muito vento.

- utilizar aspersores de média pressão (de 20 a 40 mca), com dois bocais (melhor
do que com um), em marcos médios (12 X 12 m a 24 X 24 m) para grande
variedade de cultivo extensivos e intensivos. Em aspersores com dois bocais

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 43


convém utilizar um prolongador do jato (que o torna mais compacto) no bocal de
maior diâmetro quando a velocidade do vento é maior do que 2 m s-1.

- utilizar canhões de irrigação para irrigações de complemento em culturas pouco


frágeis e ventos pouco intensos.

- em marcos retangulares (como 12 X 18 m) é mais recomendável que o menor


espaçamento seja paralelo à direção do vento quando se utiliza aspersores de um
bocal; com aspersores de dois bocais é mais recomendável que o maior
espaçamento seja paralelo à direção do vento, ainda que isto costuma ter pouca
influencia se o bocal maior leva um prolongador do jato.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 44


8. ETAPAS DA IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO

A tecnologia da irrigação consiste no uso eficiente da água para a produção


agrícola. Desde um ponto de vista do produtor, o objetivo principal é o de manter
níveis de umidade que otimizem o retorno econômico. A implementação da
tecnologia da irrigação requer três etapas:

- projeto (design);

- instalação;

- manejo.

As características de dita tecnologia são tais que cada uma destas etapas deve
ser implementada corretamente. Se uma das etapas resulta deficiente, o sistema de
irrigação como um elemento dum sistema de produção agrícola será deficiente sem
importar o grau de perfeição que se tenha obtido nas outras duas etapas.

8.1. PROJETO DO SISTEMA

A etapa de projeto consiste em toda ação requerida para produzir as


especificações físicas do sistema. Ditas especificações consistem numa série de
planos, mapas, desenhos e cálculos que garantam que o sistema foi projetado para
satisfazer as demandas da cultura e também cumpre com os códigos de engenharia
vigentes e com os aspectos legais aplicáveis. Também, os planos, mapas, desenhos
e cálculos devem ser o suficientemente detalhados para obter a lista de materiais
requeridos para a instalação do sistema. A etapa de projeto também deve produzir
um manual de operação sob condições normais de operação e recomendações gerais
para a operação sob condições extremas.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 45


8.2. INSTALAÇÃO DO SISTEMA

O resultado da etapa de instalação consiste num sistema que cumpra com os


requisitos estabelecidos na etapa de projeto.

8.3. MANEJO DO SISTEMA

A etapa de manejo consiste de:

- estabelecimento de calendários de irrigação;

- operação do sistema de acordo com os calendários;

- manutenção do sistema.

Os calendários de irrigação num sistema bem administrado são desenvolvidos


principalmente com base nas demandas de água da cultura geradas por condições
climáticas.

A operação consiste na aplicação oportuna da água e na quantidade requerida


pelas condições de solo e planta.

Finalmente, a manutenção do sistema consiste naquelas ações que são


requeridas para garantir que este funcione de forma contínua de acordo com as
especificações do projeto.

Como se afirmou anteriormente, se alguma das três etapas de implementação é


levada a cabo inadequadamente, o sistema de irrigação não logrará cumprir com seu
objetivo principal. Quer dizer, sistemas mal ou bem projetados e mal manejados,
serão ineficientes.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 46


9. INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS PARA O PROJETO DE UM SISTEMA DE
IRRIGAÇÃO

Para projetar um sistema de irrigação por aspersão tem que ser determinadas
todas as características técnicas da irrigação, com a finalidade de que a distribuição
da água seja uniforme e eficiente. Faz-se em duas etapas: no projeto agronômico se
consideram aqueles aspectos relacionados com o meio (solos, clima, culturas, e
outros), e no projeto hidráulico se dimensiona a rede de distribuição. Os dados
imprescindíveis que se necessita são os seguintes:

- do solo: densidade aparente, capacidade de campo, ponto de murcha


permanente, profundidade e velocidade de infiltração estabilizada;

- do clima: interessa conhecer, sobretudo, os dados relativos sobre vento, já que é


a principal causa de distorção na aplicação da água;

- da cultura: alternativa de culturas, necessidades hídricas, fração de reposição da


água disponível, profundidade radicular, marco de plantação, trabalhos a serem
realizados;

- da parcela: dimensões, topografia, ponto de captação de água e área a ser


irrigada;

- da água: vazão disponível e qualidade da água;

- da irrigação: tempo disponível de irrigação cada dia e dias livres de irrigação


durante o ciclo; a eficiência que se pretende alcançar é fixada de antemão.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 47


10. PROJETO AGRONÔMICO

O projeto agronômico tem por finalidade garantir que a instalação seja capaz
de aplicar a quantidade suficiente de água, com um controle efetivo de sais e uma
boa eficiência na aplicação da água. É desenvolvido em duas fases:

- cálculo das necessidades de água;

- determinação dos parâmetros de irrigação: dose, frequência e intervalo entre


irrigações, vazão necessária, duração da irrigação, número de emissores e
disposição dos mesmos.

10.1. NECESSIDADES DE ÁGUA DAS CULTURAS

As necessidades líquidas de irrigação (Nl) são definidas pelas seguintes


variáveis:

- as necessidades de água da cultura (Etc);

- aportes da precipitação efetiva (Pe);

- aporte capilar desde um lençol freático próximo às raízes (Ac);

- variação no armazenamento de água no solo (A).

Nl  ETc  Pe  Ac  A (13)

Do total de água de precipitação que cai sobre a superfície de um terreno, uma


parte se infiltra e se incorpora à zona radicular, outra parte percola em profundidade
fora do alcance das raízes, outra parte se perde por escorrimento superficial e outra
parte é interceptada pela vegetação, donde se evapora posteriormente. Chama-se
precipitação efetiva à proporção de água retida na zona radicular em relação à
quantidade de chuva caída. Sua magnitude depende:

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 48


- das características do terreno: condições físicas, grau de umidade,
declividade, cobertura da cultura, e outras;

- das características da precipitação: quantidade de chuva caída, intensidade,


duração e frequência.

Salvo em casos muito particulares não se leva em conta o aporte capilar desde
o lençol freático nem a variação no armazenamento de água no solo. Em irrigação de
alta frequência também não se considera a chuva efetiva, devido à grande
frequência na aplicação da água.

Deixando de lado as perdas havidas nos canais principais, de condução e


distribuição da água até a parcela de irrigação, as perdas ocorridas na própria
parcela podem ser agrupadas da seguinte forma:

- por evaporação no solo: que já são levadas em conta ao avaliar as necessidades


de evapotranspiração;

- por escorrimento superficial e percolação profunda;

- por lavagem ou lixiviação: ocorre em circunstâncias em que se precisa aplicar um


excesso de água para arrastar os sais para fora do alcance das raízes;

- por evaporação direta desde o jorro (jato) de água nos sistemas que pulverizam a
água;

- por distribuição deficiente da água: esta perda é produzida quando nas zonas
menos irrigadas se quer aplicar a quantidade de água necessária para cobrir as
necessidades das plantas, com o que nas zonas mais irrigadas se aplica um
excesso.

As necessidades totais são definidas pela equação:

Nl
Nt  (14)
Ea

onde:

Nt = necessidades totais, em mm dia-1;

Nl = necessidades líquidas, em mm dia-1;

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 49


Ea = eficiência de aplicação da água.

A eficiência de aplicação da água, levando-se em conta as perdas havidas na


parcela, é relacionada com:

Ea  f Rp, FL, Fr ,CU  (15)

onde:

Rp = relação de percolação;

FL = fator de lixiviação;

Fr = fator de evaporação direta da água;

CU = coeficiente de uniformidade.

O fator de evaporação direta da água (Fr), em circunstâncias normais tem um


valor muito próximo da unidade, pelo que não costuma ser considerado.

Rp e FL não são usados simultaneamente, mas se considera somente o de


menor eficiência, que é o que produz maior perda de água.

Se Rp  FL , as necessidades totais são:

Nl
Nt  (16)
Rp  CU

Se FL  Rp , as necessidades totais são:

Nl
Nt  (17)
1  RL  CU
onde:

FL  1  RL (18)

sendo:

RL = requerimento de lixiviação.

Em irrigação por aspersão de baixa frequência o requerimento de lixiviação (RL)


é dado pela equação:

CEa
RL  (19)
5  CEe  CEa
Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 50
Em irrigação por aspersão de alta frequência o requerimento de lixiviação é:

CEa
RL  (20)
2  CEemax

onde:

CEa = condutividade elétrica da água de irrigação, em dS m-1;

CEe = condutividade elétrica do extrato de saturação do solo, para o qual o


descenso de produção é uma porcentagem que se impõe, em dS m-1;

CEemax = condutividade elétrica do extrato de saturação do solo, para o qual o


descenso de produção é de 100%, em dS m-1.

Para efeitos de projeto, o coeficiente de uniformidade (CU) é uma condição que


se impõe, e deve ter um valor ao redor de 0,8 para ser considerado aceitável.
Quando a instalação estiver em funcionamento se efetua a comprovação de CU
previsto no projeto. Um valor baixo de CU indica alguma incorreção na pressão de
trabalho, número e tamanho das saídas (bocais) dos aspersores ou um inadequado
marco de irrigação (separação entre aspersores).

Para o cálculo das necessidades de água na irrigação por aspersão se costuma


utilizar também o seguinte critério:

Se RL  0,1

Nl
Nt  (21)
E a

Se RL  0,1

0,9  Nl
Nt  (22)
E a  1  RL

E’a é uma eficiência de aplicação que inclui os efeitos de perdas devido à


percolação, evaporação desde o jorro (jato de água) e arraste do mesmo pelo vento
e falta de uniformidade na aplicação da água.

Os valores orientativos de E’a que devem ser usados no projeto são os


apresentados na Tabela 5, a seguir:

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 51


Tabela 5. Valores de E’a recomendados
Sistema de irrigação por aspersão E’a
- sistemas estacionários ou sistemas com deslocamento contínuo, com uniformidade
0,85
excelente, em climas frescos ou úmidos e ventos débeis
- sistemas com deslocamento contínuo na maior parte de climas e ventos; sistemas
estacionários na maior parte de climas e ventos débeis, com pluviometria media ou 0,80
alta e boa uniformidade
- sistemas estacionários na maior parte de climas e ventos; sistemas de laterais
0,75
deslocáveis em climas áridos e ventos fortes
- sistemas estacionários com pluviometria alta em climas áridos com ventos fortes ou
0,70
com pluviometria baixa em outros climas com ventos fortes; canhões deslocáveis
- sistemas estacionários com pluviometria moderadamente baixa em climas áridos e
0,65
ventos fortes
- sistemas estacionários com pluviometria baixa de pequeno tamanho de gota, em
0,60
climas semi-áridos e ventos médios ou fortes; canhões em posição fixa

10.2. DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS DE IRRIGAÇÃO

Uma vez conhecidas as necessidades hídricas das culturas serão determinados


os distintos parâmetros de irrigação: dose, intervalo entre irrigações, vazão
necessária, duração da irrigação, número de aspersores e disposição dos mesmos.

A dose de irrigação é a quantidade de água que se aplica em cada irrigação por


unidade de superfície. Vale diferenciar entre dose líquida (Dl) e dose bruta ou total
(Dt). A dose líquida corresponde à reserva de água disponível para a planta, e é
dada pela equação:

Dl  CC  PM   da  Z  f (23)

onde:

Dl = dose líquida, em mm;

CC = capacidade de campo, em % de peso de solo seco;

PM = ponto de murcha, em % de peso de solo seco;

da = densidade aparente do solo;

Z = profundidade das raízes, em mm;


Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 52
f = fração de reposição da água disponível.

Quando CC e PM são expressos em % do volume de solo, a equação seria:

Dl  CC  PM   Z  f (24)

A dose total é:

Dl
Dt  (25)
Ea

sendo:

Ea = eficiência de aplicação.

Deve-se irrigar quando as extrações das plantas esgotem a reserva de água


disponível para a planta (RH2O). Em consequência, o intervalo (i) em dias será:

R H 2O
i (26)
Nl diárias

ou

Dl
i (27)
Nl diárias

ou

Dl
i (28)
ETc  Pe

Naturalmente, a dose líquida (Dl) e as necessidades líquidas diárias (Nldiárias)


têm que ser expressas nas mesmas unidades (m3 ha-1, L m-2 ou mm de altura de
água).

A vazão de água necessária é dada pela expressão:

S  Dt
Q  10  (29)
ir  T

onde:

Q = vazão necessária, em m3 h-1;

S = superfície irrigada, em ha;

Dt = dose total, em mm;


Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 53
ir = número de dias empregados em irrigar, dentro do intervalo de irrigação;

T = tempo de irrigação, em h dia-1.

A duração da irrigação em cada posição é calculada mediante a seguinte


equação:

Dt
t (30)
pm

onde:

t = duração de cada posição, em h;

pm = precipitação média, em mm h-1.

A precipitação média deve ser inferior à velocidade de infiltração estabilizada,


com a finalidade de evitar encharcamentos ou escorrimento da água que sobra.

Nos sistemas semifixos tem que se levar em conta o tempo empregado no


translado do equipamento móvel. O translado das linhas de irrigação móveis de uma
posição para outra requer uma mão de obra de 2,5 horas por hectare,
aproximadamente.

Quando se utiliza energia elétrica interessa irrigar o maior tempo possível à


noite, que é quando a energia é mais barata. Também, há melhor eficiência de
irrigação (ao diminuir as perdas por evaporação) e maior uniformidade na
distribuição de água (porque os ventos costumam ser menos intensos).

O número de aspersores que funcionam simultaneamente numa posição de


irrigação é dado pela equação:

Q
N (31)
q

onde:

N = número de aspersores em cada posição de irrigação;

Q = vazão necessária;

q = vazão de cada aspersor.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 54


Para projetar a rede de distribuição e a disposição dos aspersores tem que se
procurar que sejam mínimas as diferenças de pressão dos aspersores situados numa
lateral de irrigação, pelo que se procurará que as laterais sigam as curvas de nível
ou, melhor ainda, com uma ligeira pendente descendente (declive), para compensar
os aumentos de perdas de carga a medida que os aspersores se afastem da origem.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 55


11. PROJETO HIDRÁULICO

O projeto hidráulico tem por finalidade o cálculo das dimensões da rede de


distribuição e do ótimo traçado da mesma.

As tubulações laterais ou portaaspersores são as que distribuem a água à


cultura por meio dos aspersores acoplados a elas. As tubulações terciárias,
portalaterais ou de alimentação são aquelas de onde derivam as laterais. Tanto em
laterais como em terciárias se dá o caso de uma condução com saídas múltiplas
distribuídas ao longo dela, uniformemente espaçadas e por onde descarrega a
mesma vazão.

Ao principio da tubulação com saídas múltiplas (em sua conexão com a


tubulação de alimentação), a vazão é Q. À medida que se avança na tubulação, as
perdas de carga por atrito são menores que as que ocorreriam numa tubulação de
igual diâmetro e longitude, mas sem saídas intermediárias. Estas perdas de carga
podem ser calculadas trecho a trecho entre duas saídas consecutivas, onde a vazão
se mantém constante, e logo somar os valores obtidos em todos os trechos. Para
evitar este procedimento tão complicado, Christiansen idealizou um método baseado
no cálculo da perda de carga numa tubulação de igual comprimento, diâmetro e
rugosidade, sem saídas intermediárias, por onde circula a vazão Q. Posteriormente
se multiplica por um coeficiente redutor F (fator de Christiansen) para que as perdas
em ambos os casos sejam equivalentes.

O cálculo do diâmetro de uma linha lateral se baseia na uniformidade


conseguida na descarga da água pelos aspersores da linha. Como norma se
estabelece que a diferença máxima da vazão descarregada por dois aspersores
quaisquer da mesma linha seja inferior a 10% da vazão nominal. Demonstra-se que
em irrigação por aspersão uma variação de 10% da vazão representa uma variação
de 20% na pressão de entrada do emissor. Portanto, a diferença na pressão de

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 56


entrada entre dois aspersores quaisquer da linha deve ser inferior a 20% da pressão
nominal do aspersor, no caso de linhas horizontais.

Este mesmo critério poderia ser aplicado (como se faz em irrigação localizada)
a um bloco de irrigação formado por uma tubulação terciária e pelas laterais que
derivam dela. Neste caso, o custo mínimo da instalação ocorre quando 55% das
perdas admissíveis no bloco são produzidas nas laterais, enquanto 45% restantes
são produzidas na tubulação terciária.

Quando se dimensiona uma linha lateral, em irrigação por aspersão, com o


intuito de reduzir o custo inicial do projeto, aconselha-se usar dois diâmetros
distintos, de modo que, o somatório das perdas de carga em cada trecho aproxime-
se do limite estabelecido. Não é aconselhável o emprego de mais de dois diâmetros
por lateral. Alguns projetistas afirmam que utilizar mais de um diâmetro por lateral
em sistemas de irrigação por aspersão semifixos pode gerar confusão na hora de
trocar os tubos de posição.

Já, utilizar dois ou mais diâmetros nas linhas terciárias, não gera problemas,
pois as mesmas geralmente são fixas no terreno.

O procedimento a ser seguido para dimensionamento com dois ou mais


diâmetros pode ser encontrado na bibliografia, sendo normalmente utilizado o
método das tentativas, onde se fixa valores de comprimentos diferentes e diâmetros
comerciais diferentes e, se calcula as perdas de carga para cada trecho, verificando
se a sua soma está dentro do valor admitido.

O cálculo das tubulações secundárias e principal é feito em cada caso com


ajuste ao projeto da instalação. As perdas de carga podem ser calculadas por trechos
sucessivos de vazão constante, ou aplicando o coeficiente de Christiansen para
tubulações com saídas uniformemente espaçadas pelas quais descarrega uma vazão
constante.

Quando no projeto se formam blocos de irrigação semelhantes às subunidades


de irrigação localizada, pode ser aplicado no cálculo o mesmo critério que neste
sistema de irrigação.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 57


Um processo utilizado para o dimensionamento das linhas principal e
secundárias consiste em estabelecer um valor para a perda de carga nas mesmas.
Utiliza-se fixar o valor da perda de carga em torno de 15% a 20% da pressão de
serviço dos aspersores. Para o caso em que as condições topográficas acarretam
uma grande diferença de nível ao longo da linha principal, faz-se necessário, usar
válvulas de controle de pressão ou registros no início das linhas laterais, e quando
assim se proceder, pode-se permitir um aumento no limite das perdas de carga, nas
linhas principal e secundárias. Pode-se trabalhar, também, sem fixar um valor
máximo de perdas de carga na tubulação.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 58


12. AVALIAÇÃO DE UM SISTEMA DE IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO
CONVENCIONAL

Ao avaliar um sistema de irrigação se busca determinar parâmetros que


indicam o desempenho do mesmo. Normalmente, as grandezas medidas ao se
avaliar um sistema de irrigação por aspersão convencional são a uniformidade de
aplicação d’água e a eficiência de irrigação.

A uniformidade de aplicação, na irrigação por aspersão, é avaliada através da


determinação do coeficiente de uniformidade. Para tal, pode ser utilizada uma das
equações 10, 11 ou 12, sendo que o mais utilizado na irrigação por aspersão é o
Coeficiente de Uniformidade de Christiansen.

A eficiência de aplicação, na irrigação por aspersão, pode ser determinada


através da seguinte equação:

he
Ea  (32)
ha

onde:

Ea = eficiência de aplicação;

he = lâmina média efetiva coletada pelos pluviômetros instalados na área de


teste;

ha = lâmina aplicada pelos aspersores.

A lâmina aplicada pelos aspersores pode ser calculada em função da vazão


aplicada pelo aspersor e a superfície coberta pelo mesmo, como na equação 5.

A avaliação pode ser feita utilizando-se um aspersor isolado para determinar o


seu diagrama pluviométrico, bem como o seu diâmetro de molhamento. Para isso
instala-se um conjunto de pluviômetros equidistantes em torno do aspersor a ser
testado. O aspersor deve ser posto a funcionar por um período nunca inferior a duas
horas. Durante o teste mede-se a vazão e a pressão no bocal (ou bocais) do
Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 59
aspersor, a direção e a velocidade do vento, e o volume ou lâmina d’água coletada,
em cada pluviômetro, ao final do teste.

A área em torno do aspersor é dividida em subáreas quadradas, de iguais


dimensões. Os coletores de precipitação são colocados no centro de cada subárea.
Assim, o volume ou lâmina coletada, em cada pluviômetro, representa a precipitação
em cada subárea. O número mínimo de coletores a ser instalados geralmente varia
de 100 a 144.

O tempo ideal para cada teste deve ser igual ou maior do que a metade do
tempo que o sistema funcionará por posição, durante as irrigações normais.

O resultado deste teste representa o desempenho de um aspersor, mas na


irrigação no campo sempre existe superposição de vários aspersores sobre a mesma
área. Para determinar a uniformidade de distribuição do sistema, tem-se que
considerar qual é o tipo de arranjo dos aspersores no campo (retangular, quadrado,
triangular) e simular as diversas combinações de espaçamento entre aspersores, ao
longo da linha lateral e entre linhas laterais; fazer a superposição, para cada
combinação de espaçamento, das precipitações sobre a área entre quatro
aspersores, considerando todos os aspersores periféricos que podem atingir a área;
e calcular a uniformidade com os totais superpostos em cada pluviômetro.

Também pode se fazer a avaliação utilizando-se um sistema de irrigação por


aspersão já instalado no campo. Neste caso, colocam-se os pluviômetros entre
quatro aspersores de duas linhas laterais. Para cada marco de irrigação deve ser
feita uma avaliação.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 60


13. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O método de irrigação por aspersão é aquele em que a água é distribuída em


forma de chuva sobre a superfície do terreno depois de circular através de
tubulações fechadas sob pressão e sair pelos aspersores, elementos responsáveis de
distribui-la sobre o terreno.

A rede de distribuição é constituída por tubulações e elementos ou peças


especiais que podem ser de distintos materiais, diâmetros, etc. Pode ter um maior ou
menor grau de mobilidade, classificando-se em fixa, móvel e mista. Em geral o
sistema torna-se mais caro quanto mais fixa seja a rede de distribuição.

Os aspersores são aqueles elementos da instalação encarregados de distribuir a


água sobre o solo sob a forma de chuva. Estes são classificados de acordo com o
mecanismo de giro (de impacto, turbina e rotativos), com a área molhada (circulares
e setoriais) e com a pressão de trabalho (de baixa, media e alta pressão). Cada tipo
é mais adequado para certas condições de tamanho da parcela e tipo de cultura.

Os sistemas de aspersão são classificados de acordo com o grau de mobilidade


dos diversos componentes que integram o sistema, Normalmente se distinguem os
sistemas estacionários (móveis, semifixos e fixos) e os sistemas de deslocamento
contínuo (pivôs, laterais de avanço frontal ou “ranger” e canhões enroladores).

Em resumo, com a irrigação por aspersão se molha toda a superfície do solo


aplicando a água em forma de chuva. Requer um sistema de distribuição na parcela
formado por tubulações e aspersores e um sistema de bombeamento para fornecer à
água a pressão necessária. A aplicação da água está muito condicionada às
condições climáticas, porém é um método muito útil para realizar irrigações leves, de
lixiviação de sais ou de salvação.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 61


14. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BERNARDO, S. Manual de irrigação. Viçosa, MG, Imprensa Universitária da UFV,


657p. 1995.
CASTAÑON, G. Ingeniería del riego: utilización racional del agua. Madrid,
España, Paraninfo SA, 198p. 2000.
FUENTES YAGÜE, J.L. Técnicas de riego. Madrid, España, Ediciones Mundi-Prensa,
471p. 1996.
GUROVICH, L.A. Fundamentos y diseño de sistemas de riego. San José, Costa
Rica, IICA, 433p. 1985.
KLAR, A.E. Critérios para escolha do método de irrigação. Irriga, Botucatu, SP,
v.5, n.1, p.52-82. 2000.
LOSADA VILLASANTE, A. Riegos: fundamentos hidrológicos, métodos de
aplicación. ETSIA, Universidad Politécnica de Madrid, Madrid, España, 152p. 1992.
MACHADO, L.S.F. Sistemas de irrigação por aspersão convencional, sulco e
localizada (Sinopse). Fortaleza, CE, Banco do Nordeste do Brasil SA, DERUR,
DIPOP. 107p. 1995.
MERRIAM, J.L.; KELLER, J. Farm irrigation system evaluation: a guide for
management. Utah State University, Logan, Utah, USA. 271p. 1978.
OLITTA, A.F.L. Métodos de irrigação. Brasília, DF, ABEAS, Curso de Engenharia de
Irrigação, Módulo 7, 108p. 1987.
PROGRAMA NACIONAL DE IRRIGAÇÃO. Curso de elaboração de projetos de
irrigação. Brasília, DF, PNI, Fundação CTH. 1986.
REICHARDT, K. A água em sistemas agrícolas. São Paulo, SP, Editora Manole
Ltda, 188p. 1990.

Irrigação por aspersão / PPID Sérgio Levien (out/2012) 62

Você também pode gostar