Você está na página 1de 49

BIOQUÍMICA ANIMAL E

ALIMENTOS
1

Sumário
NOSSA HISTÓRIA ................................................................................. 2

INTRODUÇÃO ....................................................................................... 3

REGRAS GERAIS DE SEGURANÇA EM LABORATÓRIO .................... 4

BIOQUÍMICA DOS CARBOIDRATOS .................................................. 12

Funções dos carboidratos ................................................................. 13


Carboidratos importantes .................................................................. 15
BIOQUÍMICA DOS LIPÍDEOS .............................................................. 19

Conceitos básicos sobre metabolismo .................................................. 23

Bioquímica clínica de proteínas e compostos nitrogenados .................. 28

Bioquímica clínica de glicídeos ............................................................. 30

Bioquímica clínica de minerais ............................................................. 33

Bioquímica hormonal ............................................................................ 35

Perfil Bioquímico Sanguíneo ................................................................. 38

Introdução à bioquímica toxicológica .................................................... 43

REFERÊNCIAS: ................................................................................... 46

1
2

NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

2
3

INTRODUÇÃO
A Bioquímica é a ciência que estuda as biomoléculas, isto é, moléculas
envolvidas com a formação e viabilidade da menor unidade viva – a célula.
Neste contexto, aspectos estruturais e funcionais são importantes para
entendermos com estas estruturas estão envolvidas com os mecanismos de
transformação ou metabolismo, permitindo a adaptação da célula ao
ambiente. Outra característica da vida, a hereditariedade, só é possível devido
a propriedade de algumas moléculas serem capazes de fazer cópias.
As principias biomoléculas são os carboidratos, lipídios, aminoácidos,
proteínas, nucleotídeos e ácidos nucleicos. Estas juntamente com outras
moléculas regulatórias como vitaminas e minerais atuam nos mecanismos de
geração de energia, síntese e divisão celular. Com base em suas
propriedades químicas alguns experimentos podem ser feitos de forma a
caracterizar as biomoléculas e ajudar a compreender suas ações na célula.
A Bioquímica permite observar como a versatilidade das biomoléculas
são determinantes para a formação da célula. Considerando que esta,
compõe os tecidos, estes dos sistemas e por último o organismo, o
entendimento das biomoléculas permite compreender como tudo funciona na
sua condição mais simples.
Assim, nesta apostila iremos realizar alguns experimentos para
determinar características estruturais e funcionais das principias biomoléculas
e, desta forma, a facilitar o aprendizado da bioquímica e perceber esta ciência
não está distante do nosso cotidiano, pelo contrário ela faz parte dele a todo
momento.

3
4

REGRAS GERAIS DE SEGURANÇA EM LABORATÓRIO


As regras gerais de segurança em laboratório resultam de vários anos
de esforços de pessoas preocupadas em tornar o trabalho no laboratório uma
atividade segura. Assim, os laboratórios são lugares de trabalho que
necessariamente não são perigosos, desde que certas precauções sejam
tomadas.
Acidentes em laboratórios ocorrem frequentemente em virtude da
pressa excessiva na obtenção de resultados. Todo aquele que trabalha em
laboratório deve ter responsabilidade no seu trabalho e evitar atitudes ou
pressa que possam acarretar acidentes e possíveis danos para si e para os
demais. Deve prestar atenção a sua volta e se prevenir contra perigos que
possam surgir do trabalho de outros, assim como do seu próprio. O usuário
de laboratório deve, portanto, adotar sempre uma atitude atenciosa,
cuidadosa e metódica no que faz. Deve, particularmente, concentrar-se no
trabalho que faz e não permitir qualquer distração enquanto trabalha. Da
mesma forma não deve distrair os demais enquanto desenvolvem trabalhos
no laboratório.
PORTANTO, a observância das normas de segurança pessoal é
importante para a integridade física das pessoas que atuam de forma
permanente (professores e técnicos) ou eventual (pessoal de limpeza, alunos
etc).
• Vestuário Apropriado
1. Avental de mangas compridas, longos até os joelhos, com fios de algodão na
composição do tecido.
2. Calça comprida de tecido não inteiramente sintético.
3. Sapato fechado, de couro ou assemelhado.
4. Óculos de segurança.
5. Luvas
• Vestuário NÃO RECOMENDADO

4
5

1. Bermuda ou short.
2. Sandália, Chinelo, Sapato aberto.
3. Uso de braceletes, correntes ou outros adereços.
4. Avental de naylon ou 100% poliester.

HÁBITOS INDIVIDUAIS
• Faça no Laboratório
1. Lave as mãos antes de iniciar seu trabalho.
2. Lave as mãos entre dois procedimentos.
3. Lave as mãos antes de sair do laboratório.
4. Certifique-se da localização do chuveiro de emergência, lava-olhos, e suas
operacionalizações.
5. Conheça a localização e os tipos de extintores de incêndio no laboratório.
6. Conheça a localização das saídas de emergências.
• Não Faça no Laboratório
1. Fumar
2. Comer
3. Correr
4. Beber
5. Sentar ou debruçar na bancada
6. Sentar no chão
7. Não use cabelo comprido solto
8. Não (ou evite) trabalhar solitário no laboratório
9. Não manuseie sólidos e líquidos desconhecidos apenas por curiosidade.

• Atitudes Individuais com Bicos de Gás


1. Feche completamente a válvula de regulagem de altura de chama.
2. Abra o registro do bloqueador da linha de alimentação.
3. Providencie uma chama piloto e aproxime do bico de gás.

5
6

4. Abra lentamente a válvula de regulagem de altura de chama até que o bico


de gás ascenda.
5. Regule a chama.

RISCOS RELACIONADOS AOS PRODUTOS QUÍMICOS


Os produtos químicos mais agressivos ao homem e ao meio ambiente podem
ainda afetar pessoas que não têm conhecimentos de suas características,
como é o caso do pessoal da coleta de lixo, catadores de lixo etc. Estes, por
serem leigos no assunto, ficam sobremaneira expostos às consequências do
seu manuseio inadequado.
Além do contato direto com a pele, os diversos agentes químicos manuseados
em laboratórios podem agredir o organismo humano por três vias:
a) Por inalação: constitui a principal via de intoxicação. A absorção de gases,
vapores, poeiras e aerossóis pelos pulmões e a sua distribuição pelo sangue,
que os leva às diversas partes do corpo, é extremamente facilitada pela
elevada superfície dos alvéolos pulmonares. A equivocada cultura de que
“laboratórios têm naturalmente odor de produtos químicos” com frequência
leva a atitudes negligentes, provocando efeitos crônicos à saúde, com danos
muitas vezes permanentes ou irreversíveis.
b) Por absorção cutânea: a pele e a gordura protetora são barreiras bastante
efetivas, sendo poucas as substâncias que podem ser absorvidas em
quantidades perigosas. Os efeitos mais comuns da ação de substâncias
químicas sobre a pele são as irritações superficiais e sensibilizações
decorrentes da combinação do contaminante com as proteínas. Como
decorrência destes fatos, o agente químico pode penetrar pela pele, atingindo
a corrente sanguínea. Neste sentido é necessário especial cuidado quando
houver danos à integridade da pele – feridas expostas devem ser
devidamente protegidas.
c) Por ingestão: pode ocorrer de forma acidental, ou ao ingerir partículas que
estejam retidas no trato respiratório, resultantes da inalação de pós ou fumos.

6
7

Os riscos de ingestão por contaminação das mãos e alimentos serão


inexistentes se houver a devida atenção e higiene no trabalho.

• Atitudes Individuais com Ácidos


1. Adicione sempre o ácido à água; nunca faça o inverso.

• Atitudes Individuais com Soluções


1. Não transporte soluções em recipientes de boca largas, se tiver que efetuá-
lo por certa distância, triplique sua atenção durante o percurso e solicite um
colega que o acompanhe.
2. Não leve a boca a qualquer reagente químico, nem mesmo o mais diluído.
3. Certifique-se da concentração e da data de preparação de uma solução antes
de usá-la.
4. Não pipete, aspirando com a boca, líquidos cáusticos, venenosos ou corantes,
use pêra de segurança.
5. Não use o mesmo equipamento volumétrico para medir simultaneamente
soluções diferentes. 6. Volumes de soluções padronizadas, tiradas dos
recipientes de origem e não utilizadas, devem ser descartados e não
retornados ao recipiente de origem.

• . Manuseio e cuidados com frasco de reagentes


1. Leia cuidadosamente o rótulo do frasco antes de utilizá-lo, habitue-se a lê-lo,
mais uma vez, ao pegá-lo, e novamente antes de usá-lo.
2. Ao utilizar uma substância sólida ou líquida dos frascos de reagentes, pegue-
o de modo que sua mão proteja o rótulo e incline-o de modo que o fluxo escoe
do lado oposto ao rótulo.
3. Muito cuidado com as tampas dos frascos, não permita que ele seja
contaminada ou contamine-se. Se necessário use o auxílio de vidros de
relógio, placas de Petri, etc. Para evitar que isso aconteça.

7
8

4. Ao acondicionar um reagente, certifique-se antes da compatibilidade com o


frasco, por exemplo, substâncias sensíveis à luz, não podem ser
acondicionadas em embalagens translúcidas.
5. Não cheire diretamente frascos de nenhum produto químico, aprenda esta
técnica e passe a utilizá-la de início, mesmo que o frasco contenha perfume.
6. Os cuidados com o descarte de frascos vazios de reagentes não devem ser
menores que os cuidados com o descarte de soluções que eles dão origem.

• Descarte de sólidos e líquidos


1. Deverá ser efetuado em recipientes apropriados separando-se o descarte de
orgânicos de inorgânicos.
• Cuidados com aquecimento, incluído: reação exotérmica, chama direta,
resistência elétrica e banho-maria.
1. Não aqueça bruscamente qualquer substância.
2. Nunca dirija a abertura de tubos de ensaio ou frascos para si ou para outrem
durante o aquecimento.
3. Não deixe sem o aviso "cuidado material aquecido", equipamento ou vidraria
que tenha sido removida de sua fonte de aquecimento, ainda quente e deixado
repousar em lugar que possa ser tocado inadvertidamente.
4. Não utilize "chama exposta" em locais onde esteja ocorrendo manuseio de
solventes voláteis, tais como éteres, acetona, metanol, etanol, etc.
5. Não aqueça fora das capelas, substâncias que gerem vapores ou fumos
tóxicos.

CUIDADOS COM APARELHAGEM, EQUIPAMENTOS E VIDRARIAS


LABORATORIAIS
1. Antes de iniciar a montagem, inspecione a aparelhagem, certifique-se de que
ela esteja completa, intacta e em condições de uso.
2. Não utilize material de vidro trincado, quebrado, com arestas cortantes.

8
9

3. Não seque equipamentos volumétricos utilizando estufas aquecidas ou ar


comprimido.
4. Não utilizes tubos de vidro, termômetros em rolha, sem antes lubrificá-los com
vaselina e proteger as mãos com luvas apropriadas ou toalha de pano.

SAIBA COMO AJUDAR A SI MESMO E A OUTROS MEMBROS DO


LABORATÓRIO EM CASO DE EMERGÊNCIA
Memorize os números de telefone de segurança.
Bombeiros 193
Polícia 190
SAMU 192

Localize onde está o estojo de primeiros socorros


Não execute nada que você tenha dúvidas, sem antes esclarecê-las.
Relacionar os produtos químicos empregados, com danos e seus riscos,
sintomas e tratamento específico.
Em caso de acidentes deve-se, mantendo a calma, desligar todos os
equipamentos e materiais próximos, evacuar a área e não permitir a entrada
no laboratório de pessoas estranhas, enquanto aguarda a chegada de
socorro. Algumas providências imediatas devem ser tomadas:
Havendo cortes não profundos, deve-se deixar sangrar um pouco e verificar
se ficaram estilhaços de vidro. Lavar com água corrente e desinfetar com
álcool, protegendo o ferimento com gaze esterilizada. Se houver sangramento
ou hemorragia, pressionar o ferimento até cessar.
Em caso de acidente com fogo, se as proporções não forem grandes,
abafasse a chama com pano úmido. Se alguma roupa pegar fogo nunca
correr, e sim rolar no chão ou envolver-se num cobertor.
Queimaduras térmicas, provocadas por chamas, água fervente ou placas
quentes devem ser resfriadas com água e nunca gelo. Recomenda-se um jato
fraco de água levemente morna ou fria, demoradamente, sobre a zona

9
1
0

queimada. Para aliviar a ardência pode ser usado creme de sulfadiazina de


prata a 1 %. Encaminhar para atendimento médico.
Em caso de queimadura com ácido ou base, lava-se a região atingida com
água corrente em abundância para remover todo o reagente. Se o produto
cair no vestuário, removê-lo imediatamente. Em seguida se providencia
cuidados médicos.
Se houver queimaduras químicas nos olhos, lavá-los abundantemente com
água (lava-olhos) e em seguida procurar atendimento médico.
Quando houver inalação de gases, vapores ou poeiras, deve-se afastar a
pessoa afetada da área contaminada e levá-la para outro bem arejado,
afrouxar-lhe a roupa e mantê-la deitada de lado enquanto aguarda socorro
médico. Nunca dar água, leite ou qualquer líquido.
Se houver ingestão acidental de sólidos ou líquidos deve-se levar a pessoa
imediatamente a um hospital, cuidando para levar junto a anotação das
especificações da substância ingerida. Jamais provocar o vômito.
Todos os acidentes devem ser imediatamente relatados ao professor
responsável.

PREPARO DE REAGENTES E SOLUÇÕES


O preparo das soluções e reagentes consiste de uma etapa importante para
um experimento bem-sucedido. Para isso é necessário verificar as normas
técnicas relacionadas ao preparo de soluções, observar os rótulos dos
produtos a serem manipulados, averiguar possíveis incompatibilidades e
condições físico-químicas para manipulação e atentar para a concentração.

A validade dos produtos é variável dependendo do local de armazenamento


(temperatura, umidade, incidência de luz, entre outros). Entretanto qualquer
modificação no aspecto da solução se faz prudente descartá-la, atentando
para as normas de segurança quanto à eliminação de resíduos.

10
1
1

Assim para evitar desperdícios, observamos a rotina do laboratório e


manipulamos um volume de solução suficiente para, no máximo, um ano de
duração.
SOLUÇÕES
Soluções são misturas homogêneas unifásicas constituídas de duas ou mais
substâncias miscíveis, que não reagem quimicamente entre si. As partículas
dispersas são moléculas ou íons invisíveis a olho nu e ao microscópio. São
formados por dois compostos, o soluto e o solvente. O solvente é a substância
que dissolve o soluto e o soluto é a substância que está dissolvida no solvente.
Nas soluções de sólido em líquido ou de gás em líquido, o solvente é o líquido.
Porém, quando a solução é de dois líquidos ou de dois sólidos, o solvente é o
que existe em maior proporção.
Solução Diluída
Solução em que a proporção de soluto numa determinada solução é pequena.
O parâmetro é solução que apresenta no máximo um décimo de mol de soluto
por litro de solução.
Solução Concentrada
Solução em que a proporção de soluto numa determinada quantidade de
solução é grande. O parâmetro é solução que apresenta mais de um décimo
de mol de soluto por litro de solução.
Solução Saturada
Solução saturada é a que contém a quantidade máxima possível de um soluto
em uma determinada temperatura e pressão, perfeitamente dissolvido no
solvente.
Coeficiente de Solubilidade
Coeficiente de solubilidade é a quantidade de soluto necessária para saturar
uma quantidade padrão de solvente, em determinadas condições de
temperatura e pressão.

11
1
2

A variação do coeficiente de solubilidade em função da temperatura em um


sistema de coordenadas produz uma curva, chamada de curva de
solubilidade.

- Solução insaturada: apresenta quantidade de soluto inferior ao coeficiente


de solubilidade nessa temperatura.
- Solução saturada: apresenta quantidade de soluto dissolvido exatamente
igual ao coeficiente de solubilidade nessa temperatura. Pode ou não conter
precipitado.
- Solução supersaturada: apresenta quantidade de soluto dissolvido superior
ao coeficiente de solubilidade nessa temperatura. É uma solução instável.

BIOQUÍMICA DOS CARBOIDRATOS


Carboidratos abrangem um dos grandes grupos de biomoléculas na
natureza, além de serem a mais abundante fonte de energia. A designação
inicial de carboidratos ocorreu por serem hidratos de carbono. Eles podem ser
chamados, de uma maneira geral, de glicídios, amido ou açúcar. Os
carboidratos são classificados como polihidroxialdeídos ou polihidroxicetonas.
Como exemplo de alimentos ricos em carboidratos temos: cereais; pães;
farinhas; doces; frutas e tubérculos (mandioca, batata, inhame, entre outros).

12
1
3

Funções dos carboidratos


Os carboidratos desempenham funções importantes como:
1. Fonte de energia: os carboidratos servem como combustível energético para
o corpo, sendo utilizados para acionar a contração muscular, assim como
todas as outras formas de trabalho biológico. São armazenados no organismo
humano sob a forma de glicogênio e nos vegetais como amido.
2. Preservação das proteínas: as proteínas desempenham papel na
manutenção, no reparo e no crescimento dos tecidos corporais, podendo
inclusive ser fonte de energia alimentar. Quando as reservas de glicogênio
estão reduzidas, a produção de glicose começa a ser realizada a partir da
proteína. Isto acontece muito no exercício prolongado e de resistência.
Consequentemente há uma redução temporária nas "reservas" corporais de
proteína muscular. Em condições extremas, pode causar uma redução
significativa no tecido magro (perda de massa muscular).
3. Proteção contra corpos cetônicos: se a quantidade de carboidratos é
insuficiente devido a uma dieta inadequada ou pelo excesso de exercícios, o
corpo mobiliza mais gorduras, que também atuam na produção de energia,

13
1
4

para o consumo (do mesmo modo como faz com as proteínas). Isso pode
resultar no acúmulo de substâncias ácidas (corpos cetônicos), prejudiciais ao
organismo.
4. Combustível para o sistema nervoso central: carboidratos são os
combustíveis do sistema nervoso central, sendo essenciais para o
funcionamento do cérebro, cuja única fonte energética é a glicose.
Primariamente o combustível, glicose, vai para o cérebro, medula, nervos
periféricos e células vermelhas do sangue. Assim, uma ingestão insuficiente
pode trazer prejuízos não só ao sistema nervoso central, mas ao organismo
em geral.
CLASSIFICAÇÃO DOS CARBOIDRATOS
Os carboidratos são classificados em monossacarídeos,
oligossacarídeos e polissacarídeos.
Os monossacarídeos são as unidades mais simples de carboidratos.
Podem ser divididos quanto à função orgânica presente, cetose (função
orgânica cetona) e aldose (função orgânica aldeído), e quanto ao número de
átomos de carbono na cadeia, triose (3 átomos de carbonos), tetrose (4
átomos de carbono), pentose (5 átomos de carbono), hexose (6 átomos de
carbonos). Essa classificação pode ainda ser mesclada, como:
Aldohexose: carboidrato com função orgânica de aldeído e com 6
átomos de carbono.
Cetohexose: carboidrato com função orgânica de cetona e com 6 átomos de
carbono.
Oligossacarídeos são monossacarídeos unidos através da ligação glicosídica,
podendo variar de 2 a até 10 unidades de monossacarídeos.
Polissacarídeos são monossacarídeos unidos através da ligação glicosídica,
apresentando milhares de monossacarídeos. Eles podem ser de origem
vegetal (celulose, amido e fibras) e animal (glicogênio).

14
1
5

Carboidratos importantes
Frutose: encontrada principalmente nas frutas e no mel. É o mais doce
dos açúcares simples. Fornece energia de forma gradativa, por ser absorvida
lentamente, o que evita que a concentração de açúcar no sangue (glicemia)
aumente muito depressa.

Glicose: resultado da "quebra" de carboidratos mais complexos,


polissacarídeos, encontrados nos cereais, frutas e hortaliças. É rapidamente
absorvida, sendo utilizada como fonte de energia imediata ou armazenada no
fígado e no músculo na forma de glicogênio muscular.

Galactose: proveniente da lactose, o dissacarídeo do leite e seus derivados.


No fígado, é transformada em glicose para fornecer energia.

15
1
6

Sacarose: encontrada na cana-de-açúcar e na beterraba. É o açúcar mais


comum, açúcar branco, formado por glicose e frutose. Tem rápida absorção e
metabolização, eleva glicemia e fornece energia imediata para a atividade
física, contribui para a formação das reservas de glicogênio.

Lactose: principal açúcar presente no leite, sendo de 5 a 8% no leite humano


e de 4 a 5% no leite de vaca. É composto por glicose e galactose, sendo o
açúcar menos doce.

16
1
7

Maltose: formada por duas moléculas de glicose, é resultado da quebra do


amido presente nos cereais em fase de germinação e nos derivados do malte.

Amido: é um polissacarídeo encontrado nos vegetais, como cereais, raízes,


tubérculos, leguminosas e outros. Constitui a principal fonte dietética de
carboidrato.

Maltodextrina: este polímero de glicose fornece energia devido ao mecanismo


enzimático que ocorre no intestino, até sua forma mais simples, glicose. Evita,

17
1
8

deste modo, picos glicêmicos, além de ser ótimo precursor para a síntese de
glicogênio muscular.
Celulose: como os outros materiais fibrosos, é resistente às enzimas
digestivas humanas, não sendo digerida. Um de seus papéis é ajudar no bom
funcionamento do intestino, formando o bolo fecal. É encontrada
exclusivamente nas plantas e perfaz a parte estrutural das folhas, caules,
raízes, sementes e cascas de frutas.

Quitina: polissacarídeo estrutural; semelhante à celulose, também é utilizado


como sustentação. Possui ligações b (1¨4) entre as unidades de N-
acetilglicosamina. Está presente na carapaça de crustáceos como caranguejo
e siri.

18
1
9

Pectina: é um polissacarídeo indigerível, absorve água formando gel, retarda


o esvaziamento gástrico. Está presente na casca de frutas. Utilizada em
geléia, marmelada, e como estabilizante em bebidas e sorvetes.

BIOQUÍMICA DOS LIPÍDEOS

19
2
0

São constituídos por carbono (em maior número), hidrogênio e


oxigênio, fornecendo 2,23 vezes mais energia/kg quando da oxidação, em
relação aos carboidratos (açúcares, amidos, celuloses, gomas, entre outros).

As gorduras servem principalmente como fornecedores de energia,


sendo degradadas nas células durante a respiração celular. Alimentos ricos
dessas substâncias costumam ser chamados de alimentos energéticos.

Os lipídeos são de importância tanto aos peixes, embora encontrados em


apenas 2,1% da composição dos seus nutrientes, como ao homem, pois
servem como fonte de energia e fonte de ácidos graxos essenciais.

Os lipídeos servem como transportadores de nutrientes e das vitaminas


lipossolúveis, substâncias solúveis em gorduras, como as vitaminas A, D, E e
K.
Os lipídeos são abundantes nas células, formando, juntamente com as
proteínas, a estrutura fundamental das membranas celulares.
Os lipídeos podem ser sólidos ou líquidos, sendo que os lipídeos
considerados gorduras têm origem animal e são sólidos enquanto que as
gorduras líquidas são conhecidas como óleos, e têm origem vegetal.

20
2
1

As funções dos lipídeos são:


1. Fornecer energia.
2. Ser precursores de hormônios.
3. Auxiliar na absorção e no transporte das vitaminas lipossolúveis (A, D, E e
K).
4. Melhorar a textura e o sabor dos alimentos.
CARACTERÍSTICAS DOS LIPÍDEOS
São brancos ou levemente amarelados. Exemplos: óleo de soja e óleo
de coco. São gordurosos ao tato. Insolúveis em água, mas emulsionáveis
nela.
COMPOSIÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS EM ÓLEOS E GORDURAS
Os óleos e gorduras são constituídos de ésteres de ácidos graxos de
alto peso molecular e glicerol.

Esses ácidos graxos podem ser saturados e insaturados. Por isso apresentam
diferentes solubilidades à temperatura ambiente. As gorduras podem ser
chamadas de saturadas e insaturadas.

21
2
2

As gorduras saturadas estão relacionadas ao aumento do nível de colesterol


sanguíneo.
As gorduras insaturadas (mono e poli) estão envolvidas com a diminuição dos
níveis de colesterol total de sangue, atuando principalmente na redução de
colesterol ruim.
A substituição da ingestão de gorduras saturadas, presentes em maior
quantidade em alimentos de origem animal, pelas insaturadas está
relacionada ao efeito protetor contra o surgimento de doenças coronarianas.
Mesmo assim, não devemos consumir em excesso as gorduras insaturadas.
O gráfico a seguir mostra a composição de alguns óleos em relação ao tipo
de ácido graxo presente.

22
2
3

Conceitos básicos sobre metabolismo


BIOENERGÉTICA
A parte da física que estuda as trocas de energia entre os sistemas
materiais é conhecida como termodinâmica. O mesmo estudo, quando
realizado nos seres vivos, recebe o nome de bioenergética. As leis físicas da
termodinâmica são aplicadas de igual forma aos seres vivos e aos sistemas
materiais. Os seres vivos precisam produzir energia para poder manter o
equilíbrio de sua estrutura, para se locomoverem, para a reprodução, e para
manterem as funções normais nos diferentes processos, tais como
crescimento, gestação, lactação, oviposição e ciclicidade reprodutiva. Essa
energia é obtida a partir de processos químicos que ocorrem no interior das
células
Energia livre
A energia capaz de produzir um trabalho é denominada energia livre.
Existem várias formas de energia, as quais podem ser interconvertidas entre
si: energia potencial, cinética, térmica, elétrica, radiante, química, nuclear,
calórica, hidráulica, eólica. No processo de interconversão de uma forma de
energia a outra, sempre há uma perda de energia útil. Nas máquinas, é
aproveitável até 25 % da energia contida em um sistema em uma
interconversão, enquanto, nos processos biológicos, a eficiência de
conservação da energia em uma interconversão é da ordem de 38 %.
Nos animais, a energia é obtida a partir da oxidação de compostos
orgânicos. Segundo Lavoisier, um dos pioneiros no estudo da bioenergética,
“[...] os animais que respiram são verdadeiros corpos combustíveis que se
queimam e consomem a si mesmos [...]; poder-se- -ia dizer que [...] a tocha
da vida se acende pela primeira vez no momento em que se nasce e somente
se extingue com a morte”.
Leis da termodinâmica

23
2
4

Em termodinâmica, um sistema, do ponto de vista físico, é defi nido


como uma parte limitada do universo, caracterizada por um conjunto fi nito de
variáveis que o identifi cam. Um sistema pode ser um organismo, uma célula,
uma organela citoplasmática ou os componentes de uma reação química. O
sistema é considerado “aberto” quando está em contato com um meio com o
qual tem troca de matéria e energia, como é o caso dos sistemas vivos. Estes
nunca estão em equilíbrio com seu meio, pois o nível de organização interna
dos sistemas é maior do que o do meio.
A primeira lei da termodinâmica é o princípio da conservação da
energia, a qual estabelece que, em qualquer mudança física ou química, a
energia do sistema mais a energia do meio, isto é, a energia do universo,
permanece igual. Em outras palavras, a energia pode transformar-se de uma
forma a outra, mas não pode ser criada nem destruída.

Figura 4 – Esquema do metabolismo hepático de lipídeos, glicídeos e


proteínas. Os nomes dos metabólitos estão em retângulos, e os nomes das
rotas metabólicas estão em retângulos de bordas arredondadas. Os números
correspondentes às diferentes rotas estão referenciados no texto.

24
2
5

A glicose-6-fosfato está em um cruzamento de caminhos das rotas dos


carboidratos no fígado. Ela pode tomar cinco possíveis rotas, dependendo das
necessidades metabólicas do organismo. Essas rotas estão controladas por
enzimas reguladoras (enzimas alostéricas) ou por hormônios que controlam a
atividade de certas enzimas. As possíveis rotas da glicose-fosfato no fígado
são as seguintes:
Pode ser defosforilada pela enzima glicose-6-fosfatase, gerando
glicose livre, a qual é exportada para manter a concentração de glicose no
sangue. Tal concentração deve estar sempre constante (4-5 mM) para que o
aporte de energia ao cérebro e a outros tecidos seja mantido.
Se não houver necessidade de glicose no sangue, a glicose-6-fosfato
é convertida em glicogênio hepático e armazenado.
Pode ser oxidada para a produção de energia via glicólise,
descarboxilação do piruvato e ciclo do ácido cítrico. No entanto, no fígado, o
combustível preferido para a produção de energia são os ácidos graxos.
Quando há um excesso de ingestão de carboidratos, não sendo
necessário repor a glicose sanguínea, e quando o fígado satura sua
capacidade de armazenamento de glicogênio, a glicose-6-fosfato é degradada
via glicólise até acetil-CoA. Este é usado para sintetizar ácidos graxos [9], os
quais são incorporados aos triglicerídeos, fosfolipídeos e colesterol. Esses
lipídeos são levados para outros tecidos mediante as lipoproteínas.
Alterações do equilíbrio hidroeletrolítico e acidobásico
A ÁGUA NOS ORGANISMOS ANIMAIS
A água é a substância mais abundante nos seres vivos, compondo 60
% a 75 % do peso corporal. Nos animais domésticos adultos, este valor está
próximo de 60 %, enquanto que nos neonatos é de 75 %. Todas as reações
químicas do organismo são realizadas em meio aquoso, e o equilíbrio de tais
reações depende da concentração dos produtos de ionização da água, isto é,
dos íons H+ e OH- . A água nos animais está localizada em dois

25
2
6

compartimentos: (a) o compartimento intracelular, que contém 55 % a 60 %


do total da água do organismo; e (b) o compartimento extracelular, que contém
40 % a 45 % do total da água.
A água ingressa no organismo através dos alimentos e da água bebida
e é eliminada por quatro vias diferentes: pele, pulmões, rins e intestino. Apesar
das variações no consumo e na perda de água e de eletrólitos no organismo,
as concentrações desses compostos nos diferentes compartimentos, é
mantida de forma relativamente constante. O volume de água no
compartimento extracelular num animal adulto corresponde, dependendo da
espécie, a 15-30 % do seu peso corporal. O fluido extracelular inclui (a) o
plasma, (b) o fluido intersticial, (c) a linfa e (d) os fluidos transcelulares. Entre
estes últimos, está o fluido gastrointestinal, que tem especial importância nos
grandes animais, atingindo 30-45 L nos equinos, e 30-60 L nos bovinos.
Propriedades físico-químicas da água
Apesar do pequeno tamanho da molécula, a água tem altos valores dos
pontos de fusão (0 o C) e de ebulição (100 o C). O calor de vaporização,
definido como a energia calórica necessária para converter 1g de água em
vapor sob condições de temperatura de ebulição e pressão atmosférica, tem
também um valor relativamente alto na água (2,26 kJ/g). A água também tem
um alto calor específico (energia calórica necessária para aumentar a
temperatura de 1g de água em 1o C) quando comparado com moléculas de
peso molecular similar. As características anteriores revelam que a molécula
de água possui uma grande força de atração entre suas moléculas. Isso é
devido ao caráter dipolar de sua estrutura, onde os átomos de hidrogênio
compartilham um par eletrônico com o átomo de oxigênio, e os pares de
elétrons do oxigênio não compartilhados geram uma carga parcial negativa
(δ-). Por sua vez, a força de atração eletrônica do átomo de oxigênio, elemento
mais eletronegativo (eletronegatividade = 3,5) que o hidrogênio
(eletronegatividade = 2,1), origina uma carga parcial positiva (δ+) sobre os

26
2
7

átomos de hidrogênio, resultando em uma molécula dipolar, porém


eletricamente neutra.
O caráter dipolar faz com que uma molécula de água possa realizar
pontes de hidrogênio com até outras quatro moléculas de água.
Em um sistema tampão típico (HA ↔ H+ + A– ), quando ocorre aumento
de H+, a reação é deslocada para a esquerda, aumentando a [HA] e
diminuindo a [A– ]. Portanto, a relação [A– ]/[HA] diminui. Conforme a equação
de Henderson-Hasselbalch, a diminuição nessa relação causa diminuição do
pH (acidifi cação). No entanto, se a fração [HA] estiver sendo constantemente
removida, a relação [A– ]/[HA] permanecerá estável, e o pH sofrerá menor
alteração. É o que acontece no sistema HCO3 – /CO2 , no qual o CO2
(equivalente à fração HA) é removido pela respiração. Portanto, a relação
HCO3 – / CO2 muda pouco e o pH é menos alterado. Esta remoção de uma
fração do sistema signifi ca que o sistema é aberto. A Figura 3 mostra uma
representação esquemática da inter-relação entre o transporte de O2 e CO2
e o sistema tampão bicarbonato.
Quando ocorre adição de base (OH– ), esta é neutralizada pelo ácido
carbônico, o qual é convertido em bicarbonato. A concentração do bicarbonato
é controlada pelo rim.
O sistema HCO3 – /CO2 é complementado, ainda, por outros sistemas.
No caso de um aumento de CO2 (acidose), o excesso de H+ produzido é
removido pelo sistema das proteínas ou do fosfato. Nesse caso, o HCO3 –
aumenta mais do que o H+, pois este último é removido, favorecendo o
aumento de pH. Por outro lado, se ocorre uma didiminuição de CO2 , a reação
compensatória no sentido H+ + HCO3 – → CO2 é favorecida pelo aumento
de H+ fornecido com a dissociação dos grupos H- proteínas e H2 PO4.
O equilíbrio do sistema bicarbonato não depende somente da
concentração de HCO3 – , mas também da concentração de CO2 , a qual, por
sua vez, determina a concentração de H2 CO3 .

27
2
8

A concentração plasmática de CO2 depende da frequência e da intensidade


da respiração, a qual é regulada pelo sistema nervoso central, no centro
respiratório, e por outros centros dos grandes vasos (corpos aórticos e
carotídeos).

Bioquímica clínica de proteínas e compostos


nitrogenados
As proteínas são as macromoléculas mais abundantes nos seres vivos,
constituindo cerca de 50 % do peso vivo (em base seca). São também as
biomoléculas mais versáteis quanto à funcionalidade, e essa versatilidade
funcional está determinada pelo número, a classe e a sequência dos
aminoácidos que compõem suas unidades estruturais.
Os aminoácidos como unidades básicas das proteínas
Todas as proteínas estão constituídas a partir de 20 tipos de
aminoácidos, unidos por ligações peptídicas, variando nas diferentes
proteínas tão somente o número e a sequência dos aminoácidos. Os
aminoácidos são moléculas pequenas, com peso molecular médio de 130 Dal;
todos têm em comum a presença de um grupo carboxila e de um grupo amina
unidos ao mesmo carbono (carbono α) e diferem entre si na estrutura do seu
grupo residual (grupo R).
Além dos 20 aminoácidos que fazem parte das proteínas (aminoácidos
proteicos), existem outros aminoácidos que têm funções metabólicas
diversas, como, por exemplo, a ornitina e a citrulina, que são metabólitos

28
2
9

intermediários do ciclo da ureia. Os aminoácidos proteicos, com suas


respectivas abreviaturas e símbolos, são apresentados no Quadro 1.
Classificação dos aminoácidos
Os aminoácidos estão classificados em cinco grupos, em função da
estrutura de seus grupos residuais (grupos R), de acordo com a polaridade e
a carga, como segue:
(a) Aminoácidos não-polares (Gly, Ala, Val, Leu, Ile, Pro): seus grupos R são
alifáticos e hidrofóbicos; a glicina é o aminoácido mais simples; a prolina é um
iminoácido (grupo amina secundário), pois o carbono α está unido com o
extremo do grupo R, ciclizando a molécula e deixando-a mais rígida.
(b) Aminoácidos polares sem carga (Ser, Th r, Cys, Met, Asn, Gln): são
hidrofílicos e sua polaridade pode ser dada pelos grupos hidroxila, amida ou
sulfi drila (tiol), que formam pontes de H com a água; asparagina e glutamina
são amidas dos ácidos aspártico e glutâmico, respectivamente; a cisteína
pode sofrer oxidação em seu grupo sulfi drila (SH) e formar um composto
dimérico (Cys-Cys ou cistina) por união de duas cisteínas mediante uma ponte
dissulfeto (S-S); essas pontes são comuns nas proteínas e contribuem para
estabilizar a molécula.
(c) Aminoácidos carregados negativamente ou aminoácidos ácidos (Asp, Glu): a
carga está determinada pelos grupos carboxila ionizados.
(d) Aminoácidos carregados positivamente ou aminoácidos básicos (Lys, Arg,
His): a carga positiva está determinada pelos grupos amina (Lys), guanidino
(Arg) ou imidazol (His).

29
3
0

O AMP produzido na reação anterior deve ser convertido em ADP mediante a


participação de um ATP, o que signifi ca que nesta reação são gastos,
realmente, dois ATP.

Bioquímica clínica de glicídeos


Os glicídeos ou carboidratos são as biomo lé culas orgânicas mais
abundantes na natureza, en con tra dos principalmente na forma de poli ssa
carídeos, como o amido e a celulose nas plantas, e o glicogênio, nos animais.

30
3
1

Os glicídeos constituem uma importante fonte energética para os animais,


além de fazerem parte da estrutura da parede das células vegetais e
bacterianas.
Estruturalmente os glicídeos são polihidro xi-aldeídos ou poli-hidroxi-
cetonas, e o nome “carboidratos” provém do conceito originado de sua fórmula
empírica, Cn (H2 O)n , a partir da qual foram classificados inicialmente como
hidratos de carbono, embora existam glicídeos que não obedeçam a essa
fórmula, assim como outros que contêm elementos diferentes de C, H e O,
como, por exemplo, N, S e P.
Dependendo do número de subunidades contidas na sua estrutura, os
glicídeos são classificados em:
(a) Monossacarídeos ou açúcares simples, com a glicose ou a fructose.
(b) Oligossacarídeos, que contêm umas poucas subunidades de
monossacarídeos unidas entre si mediante ligações glicosídicas. Dentre os
mais abundantes, estão os dissacarídeos, que contêm duas subunidades de
monossacarídeos, como a sacarose e a lactose. Os oligossa carídeos com
mais de três subunidades costumam estar associados a outras biomoléculas,
especialmente com lipídeos, formando glicolipídeos e com proteínas,
formando glicoproteínas.
(c) Polissacarídeos, que contêm centenas de monos sacarídeos unidos por
ligações glicosídicas, podendo ser lineares, como a celulose, ou ramificados,
como o amido e o glicocênio.
Animais monogástricos
As principais fontes de glicídeos na dieta dos animais monogástricos são
polissacarídeos, tais como amido, glicogênio e dextrinas, e alguns
dissacarídeos, como sacarose, lactose e maltose.
Os polissacarídeos constituem os glicídeos mais abundantes na natureza e
diferem entre si quanto ao tipo e número de monossacarídeos que os formam,
quanto ao tipo de ligação entre suas subunidades e quanto ao grau de
ramificação. Eles servem de reservas energéticas ou de elementos estruturais

31
3
2

e estão formados por centenas a milhares de unidades de monossacarídeos,


tendo pesos moleculares muito variados, mas sempre elevados.
Entre os polissacarídeos que constituem reservas energéticas estão o amido
e o glicogênio, ambos constituídos por unidades de glicose.

Conversão do piruvato em fosfoenolpiruvato (PEP). As enzimas relacionadas são [1] piruvato


carboxilase, [2] malato desidrogenase e [3] fosfoenolpiruvato carboxiquinase.

São gastos 6 grupos fosfato de alta energia, 2 ATP e 2 GTP na conversão de


2 moléculas de piruvato até PEP; e mais 2 ATP na conversão de duas
moléculas de 3-fosfoglicerato a duas moléculas de 1,3-difosfoglicerato.
Também são gastas 2 coenzimas reduzidas NADH. No inverso desta via, ou
seja, na glicólise, somente são produzidos 2 ATP.
Gliconeogênese a partir de propionato
Embora esta rota ocorra tanto nos monogástricos quanto nos ruminantes, é
de especial importância nestes últimos animais, pois é utilizada como a mais
importante fonte de glicose (Figura 13). O propionato, um ácido graxo volátil

32
3
3

produzido pela fermentação micro bianados glicídeos, é absorvido no epité


lioruminal, passando para o fígado, onde ingressa na rota gliconeogênica.
A rota do propionato à glicose envolve o seu ingresso no ciclo de Krebs até
formar OAA, precursor gliconeogênico que pode ser convertido em PEP,
como já foi explicado. Inicialmente o propionato deve ser ativado a propionil-
CoA, pela ação da enzima propionil CoA sintetase, a qual tem Mg2+ como
cofator. Após, o propionil CoA é carboxilado em D-me tilmalonil CoA, pela
ação da enzima pro pio nil-CoA carboxilase, a qual requer biotina como
cofator. Nesta reação é consumido outro ATP.

Bioquímica clínica de minerais


Além das biomoléculas orgânicas, os tecidos animais também
possuem elementos inorgânicos que fazem parte dos tecidos e se encontram
em uma proporção de 2 a 5 % do peso total dos animais. Entre esses
elementos, os minerais têm funções essenciais tanto na estrutura de tecidos
e biomoléculas, como no próprio metabolismo animal, participando como
cofatores enzimáticos, ativadores da ação hormonal, e como responsáveis
pela pressão osmótica e pelo equilíbrio acidobásico.
Os minerais podem ser divididos em:
(a) Macrominerais, aqueles que estão em maior concentração no organismo
animal e cujos requerimentos são expressados em percentagem, quais sejam:
cálcio (Ca), fósforo (P), magnésio (Mg), sódio (Na), cloro (Cl), potássio (K) e
enxofre (S). As principais funções dos macrominerais são indicadas na Tabela
1.
(b) Microminerais ou oligoelementos, aqueles que estão em concentrações bem
menores, cujos requerimentos são expressados em partes por milhão e entre
os quais estão: cobre (Cu), zinco (Zn), iodo (I), selênio (Se), ferro (Fe), cobalto
(Co), manganês (Mn), molibdênio (Mo) e fl úor (F). As principais funções dos
microminerais são indicadas na Tabela 2.

33
3
4

São considerados como minerais essenciais para os animais Ca, P, Mg, K,


Na, Cl, S, I, Fe, Cu, Co, Mn, Zn, Se, Mo, Cr, Sr, V, Ni e Si. Desses elementos,
não são essenciais para as plantas Ca, I, Co, Se e Cr, havendo, com
frequência, defi ciências deles na alimentação baseada em pastagens. Os
requerimentos médios na alimentação, a concentração plasmática e as
principais fontes dos principais minerais são mostrados na Tabela 3.
As deficiências mais frequentes de macro minerais nos animais são as de
fósforo e as de sódio, principalmente nos animais mantidos a pastejo. A
deficiência de cálcio, embora menos frequente, cobra importância nos bovinos
de leite e, em menor escala, em suínos, aves e cães. Quanto aos
oligoelementos, as deficiências mais comumente observadas são as de cobre,
cobalto e zinco, seguidas de ferro, selênio e iodo. Os graus de deficiência,
porém, variam bastante, desde estados carências leves ou subclínicos que
afetam principalmente a produtividade e a fertilidade até estados graves com
sintomatologia específica.
A defi ciência de fósforo é o distúrbio mineral mais comum e economicamente
o mais importante em bovinos mantidos em regime de campo, devido às
múltiplas funções que o fósforo desempenha no organismo e à deficiência
generalizada em solos e forrageiras, além do elevado custo de sua
suplementação.
Animais herbívoros encontram nas plantas um fator limitante para o
surgimento de carências, pois a composição mineral dos vegetais é
influenciada pelo clima, sendo necessária a avaliação dos seus teores em
diferentes estações do ano, para ter uma estimativa da real composição.

34
3
5

Controle endócrino na hipocalcemia Controle endócrino na hipercalcemia

Bioquímica hormonal
A integração do metabolismo, nos mamíferos, é realizada pelos
sistemas nervoso e endócrino. No primeiro, a comunicação opera através de
neurotransmissores, tais como noradrenalina, acetilcolina ou serotonina,

35
3
6

enquanto, no segundo, operam mensageiros químicos denominados


hormônios, os quais são transportados pelo sangue até seu local de ação
(órgão-alvo). Estes dois sistemas estão inter-relacionados, pois o sistema
nervoso pode controlar a função endócrina ao tempo que alguns hormônios
controlam funções nervosas. Por exemplo, a secreção de insulina, prolactina,
adrenalina e glicocorticoides está regulada via estímulos neurais. Por outra
parte, a tiroxina e o cortisol regulam a função de neurônios hipotalâmicos em
sistemas de regulação feedback.
Alguns mensageiros químicos são comuns para ambos os sistemas,
como é o caso da adrenalina e da noradrenalina, as quais funcionam como
neurotransmissores em algumas sinapses do cérebro e do músculo liso e
também como hormônios reguladores do metabolismo energético no fígado e
no músculo esquelético.
Embora os sistemas nervoso e endócrino geralmente sejam estudados
de forma separada, no estudo da regulação do metabolismo, eles atuam de
forma integrada em um sistema neuroendócrino. O sistema neuroendócrino
constitui a base do controle dos outros sistemas, estando, portanto,
estreitamente ligado aos processos metabólicos de nutrição, crescimento e
reprodução.
Os hormônios são modificadores (moduladores) das reações
enzimáticas do metabolismo, participando de funções específicas, tais como
crescimento celular e tissular, regulação do metabolismo, regulação da
frequência cardíaca e da pressão sanguínea, função renal, eritropoiese,
motilidade do trato gastrointestinal, secreção de enzimas digestivas e de
outros hormônios, lactação e atividade do sistema reprodutivo.
As características endócrinas são frequentemente herdadas, o que
pode ter utilidade na determinação de parâmetros de seleção para
melhoramento em várias espécies animais, através da dosagem dos níveis
sanguíneos de deter mi na dos hormônios, tais como soma totropina,
hormônios gonadotrópicos e esteroides sexuais.

36
3
7

O primeiro a descrever fatos relacionados com a função endócrina foi


Aristóteles (322 a.C.), que relatou os efeitos da castração nas aves e no
homem, constituindo a primeira alusão à atividade hormonal, embora sem
com preender o mecanismo. A endocrinologia como ciência tem pouco mais
de 100 anos. Antes disso, os órgãos endócrinos eram conhecidos, porém não
estavam esclarecidas as suas funções nem os mecanismos de controle de
sua secreção . Von Haller, em 1766, foi o primeiro a propor o conceito de
“órgão endócrino”, no sentido de um órgão tando-se nova amostra para
dosagem de cortisol após uma hora da aplicação do ACTH. Cães saudáveis
apresentam valores de cortisol pós-ACTH na faixa de 60 a 170 ng/mL. Valores
maiores que 220 ng/mL são consistentes com diagnóstico de HAC (Figura 8).
Uma limitação desse teste, além do custo, é que não permite a diferenciação
entre HPD e HAD. Apesar disto, esse é o único teste que permite a
comprovação de um HAC iatrogênico. Neste último não há aumento da
concentração de cortisol após a aplicação do ACTH em decorrência da atrofia
do córtex adrenal promovido pelo uso crônico de corticoides exógenos.
O teste de supressão por baixa dose de dexametasona (TSBDD) tem
como base fisiológica que a administração de dexametasona em um cão
normal provoca uma supressão da produção de cortisol por até 48 horas
devido ao feedback negativo promovido na hipófise e no hipotálamo. A
dexametasona é o esteroide de eleição para o teste, uma vez que não tem
reatividade cruzada com o cortisol no imunoensaio. Desta forma, este teste
avalia na verdade a responsividade do eixo hipotálamo-hipófi se-adrenal. A
premissa básica do HAC é que existe disfunção desse eixo de controle tanto
no HPD como no HAD, e em ambas as formas da doença, a administração de
dexametasona não irá promover a supressão do cortisol plasmático. Este
teste é um pouco mais complexo e longo em comparação ao teste de
estimulação com ACTH, porém é o teste de triagem de eleição para
diagnóstico de HAC, além de apresentar uma sensibilidade maior que 95 %.

37
3
8

O protocolo de realização do teste envolve a coleta de uma amostra de


sangue para determinação de cortisol basal sérico, seguindo-se a
administração de uma dose de 0,01 a 0,015 mg/kg de fosfato sódico de
dexametasona por via intravenosa. Após essa aplicação sucedem-se mais
duas coletas de sangue para dosagem de cortisol: uma após 4 horas da
aplicação e outra após 8 horas da aplicação da dexametasona. A base da
interpretação é que cães com HAC são resistentes ao feedback negativo no
hipotálamo-hipófise.

Gráfico ilustrativo das respostas ao teste de estimulação com ACTH em paciente normal,
com hiperadrenocorticismo (HAC) de origem natural e como hiperadrenocorticismo iatrogênico.

Perfil Bioquímico Sanguíneo

A determinação e a interpretação de compostos químicos no sangue


são algumas das principais aplicações práticas da Bioquímica
Clínica. Os perfi s bioquímicos do plasma podem ser utilizados em
veterinária, não somente para avaliação clínica individual, mas
também para avaliar e monitorar a condição nutricional e metabólica
em grupos de animais. Quando interpretado adequadamente, o
perfil bioquímico do plasma fornece importante informação com
relação ao estado clínico, metabólico e produtivo de um animal.

38
3
9

Entretanto, deve-se ressaltar que os perfis laboratoriais são


considerados uma ajuda no diagnóstico e que o veterinário deve
fazer uso de toda a informação disponível, como o exame físico e a
história clínica, antes de chegar a qualquer diagnóstico final.
O perfil bioquímico serve também como indicador dos processos
adaptativos do organismo, no metabolismo energético, proteico e
mineral, além de oferecer subsídios na interpretação do
funcionamento hepático, renal, pancreático, ósseo e muscular.
Alguns metabólitos podem funcionar como indicadores do potencial
produtivo e reprodutivo dos animais, sendo que alguns desses
indicadores podem estar geneticamente controlados, o que motiva
o aprofundamento no estudo desses aspectos na área de
melhoramento animal.
O número de metabólitos a serem analisados no perfil sanguíneo
pode ser ilimitado, mas só se justifica estudar aqueles em que se
conhecem a sua fisiologia e metabolismo, de forma a poder fazer
uma interpretação útil.
No metabolismo energético, são considerados os níveis sanguíneos
de glicose, colesterol e ácidos graxos livres. Em ruminantes,
também são estudados os níveis de β-hidroxibutirato (BHB). No
metabolismo proteico, são determinados os níveis de proteínas
totais, albumina, globulinas e, em ruminantes, a ureia. No
metabolismo mineral (Tabela 1), são pesquisados, entre outros, os
níveis de cálcio, fósforo, magnésio, potássio, ferro, cobre, zinco e
cobalto, bem como indicadores para selênio (glutation peroxidase) e
para iodo (tiroxina).
O perfil metabólico pode incluir a determinação do quadro hemático,
para avaliar anemias, estados de desidratação e quadros
infecciosos, bem como enzimas e outros metabólitos que permitam
avaliar o funcionamento de diferentes sistemas.

39
4
0

VALORES DE REFERÊNCIA DO PERFIL BIOQUÍMICO


SANGUÍNEO
A interpretação do perfil bioquímico é complexa, tanto aplicada a
rebanhos quanto a indivíduos, devido aos mecanismos que
controlam o nível sanguíneo de vários metabólitos e, também, à
grande variação desses níveis em função de fatores, como raça,
idade, estresse, dieta, nível de produção leiteira, manejo, clima e
estado fisiológico (lactação, gestação, estado reprodutivo).
METABÓLITOS SANGUÍNEOS INDICADORES DO
FUNCIONAMENTO RENAL
Metabólito
Albumina
Comentário
É a principal fração proteica que se perde nos rins em casos de
glomerulonefrites e doenças glomerulares primárias, levando à
hipoalbuminemia.
Metabólito
Ureia
Comentário
Este metabólito é excretado quase totalmente pelo rim; altos níveis no plasma
podem estar relacionados com filtração renal insuficiente.
Metabólito
Creatinina
Comentário
Metabólito mais específico de diagnóstico de função renal alterada. É
excretado pelos rins e, por isso, altos níveis plasmáticos indicam defi ciente
função renal.
Metabólito

40
4
1

Relação Albumina/ Globulinas


Comentário
Em doenças glomerulares, ocorre diminuição da relação A/G por perda de
albumina nos rins.
Metabólito
Cálcio
Comentário
No hiperparatireoidismo secundário de origem renal, pode ocorrer
hipocalcemia.
Metabólito
Potássio
Comentário
Altos níveis no plasma são encontrados em problemas da função
glomerular; níveis baixos no plasma estão associados com problemas nos
túbulos renais ou na nefrite intersticial crônica.
Metabólito
Fósforo
Comentário
Seus níveis séricos estão aumentados quando há insuficiente filtração
renal, o que pode levar a um hiperparatireoidismo secundário de origem renal.
Metabólito
Fibrinogênio
Comentário
Seu aumento está relacionado com amiloidose renal.
Metabólito
Fosfatase alcalina (FA) e gamaglutamil transferase (GGT)
Comentário

41
4
2

A isoforma renal da FA não está presente no plasma; quando há dano


renal, a FA aparece na urina junto com a GGT.
QUADRO 4 – METABÓLITOS SANGUÍNEOS INDICADORES DO
FUNCIONAMENTO PANCREÁTICO
Metabólito
Amilase
Comentário
Níveis extremamente elevados são encontrados no estágio inicial de uma
pancreatite aguda; níveis baixos estão relacionados com insufi ciência
pancreática exócrina.
Metabólito
Lipase
Comentário
É considerada a melhor enzima para o diagnóstico de pancreatite por ser
menos afetada por outros fatores do que a amilase e por se manter elevada
por longo período.
Metabólito
Tripsina imunoreativa
Comentário
Seus níveis aumentam na disfunção do pâncreas.
Metabólito
Cálcio
Comentário
A hipocalcemia é frequente achado na pancreatite aguda devido ao aumento
de ácidos graxos, por ação da lipase, que se combinam com o Ca tornando-o
insolúvel no plasma.
Metabólito
Colesterol

42
4
3

Comentário
Seus níveis estão aumentados na disfunção pancreática devido à elevação
das lipoproteínas de alta e baixa densidade no plasma.
Metabólito
Triglicerídios
Comentário
Podem aumentar no plasma, na insuficiência pancreática, devido à pouca
liberação de lipase pelo pâncreas.
Metabólito
Glicose
Comentário
Pode estar com níveis aumentados na pancreatite por aumento da secreção
de glucagon.
Metabólito
Albumina
Comentário
Níveis diminuídos no plasma em casos avançados de insuficiência
pancreática por falhas na absorção de aminoácidos.

Introdução à bioquímica toxicológica


Similarmente aos mecanismos de defesa desenvolvidos em face de
agressões microbianas, os seres vivos têm desenvolvido delicados
mecanismos de defesa contra as agressões químicas. Enzimas com
diferentes graus de especificidade localizadas preferencial e estrategicamente
no fígado (todas as substâncias químicas ingeridas passam pelo fígado antes
de chegar na circulação sistêmica) encarregam-se de biotransformar as
substâncias potencialmente tóxicas para diminuir sua lipossolubilidade e
acelerar sua eliminação.

43
4
4

As enzimas da fase I de detoxificação aumentam a polaridade


(hidrossolubilidade) das substâncias tóxicas mediante a inserção de grupos
polares tais como o grupo hidroxila (-OH). As enzimas da fase II são enzimas
que conjugam compostos altamente polares às substâncias tóxicas, tornando-
as altamente hidrossolúveis e facilmente excretáveis através do rim ou via
biliar. Finalmente, proteínas complexas de alto peso molecular participam da
eliminação de substâncias tóxicas transportando compostos de um lado a
outro das membranas celulares (Fase III).
O presente capítulo resume as principais características bioquímicas
das enzimas mais importantes do metabolismo fase I e fase II de xenobióticos,
bem como dos transportadores hepáticos da fase III.
METABOLISMO E ELIMINAÇÃO DE XENOBIÓTICOS
As enzimas citocromo P450 (CYP450) são uma superfamília de
enzimas (mais de 1.000 sequências de genes de CYP450 são conhecidas
atualmente) presentes tanto em organismos superiores como em
microrganismos. O nome dessas enzimas deriva do fato de serem citocromos
(hemoproteínas cuja principal função é transportar elétrons ou H+, mediante
a mudança de valência reversível do ferro do grupo heme) e de a forma
reduzida da enzima, unida a uma molécula de monóxido de carbono (CO),
apresentar um máximo de absorção a 450 nm. As CYP450 são os únicos
citocromos extramitocondriais associados a membranas que podem ser
isolados da fração microssomal das células. Os microssomos são estruturas
vesiculares formadas a partir do retículo endoplasmático liso (REL) quando a
célula é homogeneizada e suas frações subcelulares são separadas mediante
centrifugação diferencial. Os microssomos são, então, artefatos resultantes
da centrifugação em alta velocidade do REL. Os passos seguidos para obter
microssomos são mostrados na Figura 1.
A importância dos microssomos na pesquisa bioquímica e toxicológica
radica no fato de conservarem a maior parte da atividade enzimática, podendo

44
4
5

ser utilizados como fonte de tócitos, embora essas enzimas possam estar
presentes em praticamente qualquer tecido.
As CYP450 de organismos superiores estão fortemente associadas às
membranas do REL e são muito difíceis de obter em forma pura para estudos
de elucidação de sua estrutura. Entretanto, a citocromo P450cam da bactéria
Pseudomona putida é uma enzima citossólica solúvel que foi possível
cristalizar e analisar detalhadamente. A estrutura tridimensional da citocromo
P450cam corresponde basicamente a um prisma triangular com 12
segmentos helicoidais que envolvem quase metade dos resíduos de
aminoácidos (Figura 2). O grupo prostético heme encontra-se encerrado entre
duas hélices denominadas L e I. A hélice L está no lado proximal (lado do
grupo tiolato que liga o grupo heme)
A hélice I está no lado distal (lado que sustenta o grupo que liga o
substrato). O grupo heme conserva seu lugar por contatos hidrofóbicos (não
covalentes) com as duas hélices mediante ligações de hidrogênio pela união
do grupo tiolato com o ferro do grupo heme.
A Figura 3 resume o ciclo catalítico da CYP450 e a localização do
resíduo Cys357. Este resíduo está presente em todas as CYP450 devido a
sua relevância no mecanismo de ação da enzima. O ciclo catalítico da enzima
inicia com a união do substrato ao sítio ativo da enzima que faz com que libere
a molécula de água normalmente associada ao ferro (III) do grupo heme da
enzima. Posteriormente a enzima recebe um elétron que reduz o FeIII a FeII
e permite a incorporação de oxigênio molecular (O2 ).
Figura 2 - Estrutura tridimensional da P450cam, CYP450 da Pseudomona
putida.

45
4
6

REFERÊNCIAS:
BRASIL. Ministério da Saúde. Normas e Manuais Técnicos: Lavar as
Mãos – Informações para Profissionais de Saúde. Série A. Brasília, Centro de
Documentação, 1989.

COSTA, M.A.F. Biossegurança: segurança química básica para


ambientes biotecnológicos e hospitalares. São Paulo: Ed. Santos, 1996.

COSTA, M.A..F. Qualidade e Biossegurança: uma necessidade de


integração. Revista Biotecnologia, N.4, jan/fev, 32-33, 1998.

E.; VARELLA, M.D.; ASSAD, A.L.D. Biosafety in Brazil and it´s Interface
with other Laws. http://www.bdt.org.br/bdt/oeaproj/biossegurança, 1998.

Percepção de Riscos em Biossegurança de Laboratórios Centrais de


Saúde Pública no Brasil, Núcleo de Biossegurança – Fiocruz-RJ - CGLAB-
BSB,2001.

LEHNINGER, A.L., NELSON, D.L. & COX, M.M. Princípios de Bioquímica.


2ª ed., Editora Sarvier, São Paulo, 1995.

46
4
7

ALLINGER, N. L.; CAVA, M. P.; JONGH, D. C. de; JOHNSON, C. R.;


LEBEL, N. A.; STEVENS, C. L. Química orgânica. 2o edição. Rio de Janeiro:
Editora Guanabara, 1978.

MORITA, T.; ASSUMPÇÃO, R.M.V. Manual de Soluções, Reagentes e


Solventes: Padronização, Preparação, Purificação. 2ª Edição. São Paulo:
Editora Edgard Blucher Ltda., 1972.

CAMPBELL, J.M.; CAMPBELL,J.B. Matemática de Laboratório


Aplicações Médicas e Biológicas. 3.ed. São Paulo: Livraria Roca, 1986.

CAMPBELL, J.M.; CAMPBELL,J.B. Matemática de Laboratório


Aplicações Médicas e Biológicas. 3.ed. São Paulo: Livraria Roca, 1986.

AMARAL, L. Química orgânica. São Paulo: Editora Moderna Ltda,1981.

Físico-química: um estudo dirigido sobre equilíbrio entre fases, soluções


e eletroquímica Yeda Pinheiro Dick e Roberto Fernando de Souza.

Físico-química I: termodinâmica química e equilíbrio químico Luiz Pilla.

Histologia: texto, atlas e roteiro de aulas práticas Tatiana Montanari.

Introdução à bioquímica clínica veterinária (3. ed. revisada e ampliada)


Félix H. Díaz González e Sérgio Ceroni da Silva.

Métodos numéricos Alejandro Borche.

Ciências Humanas: pesquisa e método Celi Regina Jardim Pinto e Cesar


A. Barcellos Guazzelli (Org.)

Pesquisa quantitativa nas Ciências Sociais Marcello Baquero.

Físico-química II: equilíbrio entre fases, soluções líquidas e eletroquímica


(2. ed. rev. e atual.) Luiz Pilla.

Introdução à cefalometria radiográfica (4. ed. revisada e ampliada) Cléber


Bidegain Pereira, Carlos Alberto Mundstock e Telmo Bandeira Berthold (Org.)

47
4
8

Pré-Cálculo (3. ed.) Claus Ivo Doering, Liana Beatriz Costi Nácul e Luisa
Rodríguez Doering (Org.)

Gestão ambiental em bibliotecas: aspectos interdisciplinares sobre


ergonomia, segurança, condicionantes ambientais e estética nos espaços de
informação.

Planejamento em saúde coletiva: teoria e prática para estudantes e


profissionais da saúde Deison Alencar Lucietto, Sonia Maria Blauth de Slavutzky
e Vania Maria Aita de Lemos

Química geral experimental Mara Bertrand Campos de Araujo e Suzana


Trindade Amaral.

Tópicos educacionais I Maria Bernadette Castro Rodrigues e Maria Isabel


Habstock Dalla Zen (Org.)

Tópicos de Físico-química José Schifino.

Transtornos metabólicos nos animais domésticos (2. ed.) Félix H. Díaz


González, Márcio Nunes Corrêa e Sérgio Ceroni da Silva.

As melhores práticas em Biblioteconomia no Rio Grande do Sul Jussara


Pereira Santos (Org.)

48

Você também pode gostar