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Autismo em Mulheres e o Diagnóstico Tardio

Autism in Women and Late Diagnosis

Helena Beatriz Ramos de Almeida1


Júlia Helena Azevedo1
Priscila Cembranel2

Resumo

Categorizado como um transtorno do desenvolvimento, o Transtorno do Espectro Autista (TEA),


dá-se por uma soma de comportamentos atípicos nas áreas sociais, acadêmicas e comunicativas.
Dessa forma, este estudo objetiva verificar as principais dificuldades enfrentadas pelas mulheres
que recebem o diagnóstico tardio de TEA e os efeitos deste no decorrer de suas vidas. A
metodologia diz respeito à revisão integrativa por meio dos seguintes passos: determinação do
objetivo, elaboração de problema, rastreio nas bases de dados e coleta para seleção e análise. O s
resultados evidenciaram que, o diagnóstico do autismo é composto por uma avaliação, que
engloba a narrativa dos cuidadores e a observação minuciosa, tanto individual como em
ambiente coletivo. Conclui-se que, o TEA é de difícil diagnóstico em mulheres devido ao
processo de socialização feminina. O que dificuldade no diagnóstico precoce e diminui a
qualidade de vida delas.

Palavras-chave: Autismo; Mulher; TEA.

Abstract

Categorized as a developmental disorder, Autism Spectrum Disorder (ASD) is caused by a sum


of atypical behaviors in social, academic and communicative areas. Thus, this study aims to
verify the main difficulties faced by women who receive a late diagnosis of ASD and the effects
of this throughout their lives. The methodology concerns the integrative review through the
following steps: determination of the objective, problem elaboration, tracking in the databases
and collection for selection and analysis. The results showed that the diagnosis of autism is
composed of an assessment, which encompasses the caregivers' narrative and detailed
observation, both individually and in a collective environment. It is concluded that ASD is
difficult to diagnose in women due to the female socialization process. What makes early
diagnosis difficult and decreases their quality of life.

Keywords: Autism; Women; TEA

1
Graduandas em Psicologia pela Sociedade Educacional de Santa Catarina (SOCIESC), e-mail
psi.helenabeatriz@gmail.com e e-mail juliahelenaazevedo@gmail.com.
2
Docente do curso de psicologia na Sociedade Educacional de Santa Catarina (SOCIESC) e Dra. em Administração
e Turismo, e-mail priscila_cembranel@yahoo.com.br
2

Introdução

O termo autismo surgiu em 1911, devido ao estudo do psiquiatra suíço Eugen Bleuler, o
termo foi usado para descrever a fuga da realidade a um mundo interior, este comportamento foi
observado em pacientes esquizofrênicos (Meireles et al., 2020).
Para Bleuler (1911) o espectro autista é caracterizado por uma quebra, ou ausência, de
contato com a realidade, ou seja, de uma relação social e funcional com ela. A falta de contato
com a realidade é uma característica essencial da esquizofrenia, mas o autismo, ao contrário da
esquizofrênia, não apresenta alucinações e delírios, e é capaz de se comunicar. Já para Kanner
(1943), o espectro autista é caracterizado por um conjunto de comportamentos que podem ser
divididos em três grupos principais: a) dificuldade de interação social; b) dificuldade de
comunicação; c) comportamentos repetitivos ou estereotipados.
Kanner (1943) através do estudo dos casos de seus pacientes, nomeou os comportamentos
assistidos como "autísticos" (Assumpção Jr. & Pimentel, 2000). Além disso, capazes de
dificultar o desenvolvimento saudável e típico das áreas sociais da criança e comprometer
severamente a interação social (Paula et al., 2020).. Diante disso, as famílias começam a se
deparar com as dificuldades do Transtorno do Espectro Autista (TEA) no decorrer do
crescimento. (Hofzmann, Perondi, Menegaz, Lopes & Borges, 2019).
O diagnóstico do autismo é composto por uma avaliação com procedimentos específicos
desenvolvido ao longo dos anos, pela narrativa dos cuidadores e observação minuciosa, tanto
individual como em ambiente coletivo (Hofzmann et al., 2019) Assim, por se caracterizar como
um quadro clínico crônico e sem cura, a aceitação da família é essencial para efetividade e
engajamento do paciente nos tratamentos. Este pode ser medicamentoso e ocorrer por meio de
intervenção comportamental com apoio da psicologia e da neurologia (Assumpção Jr. &
Pimentel, 2000).
Percebe-se também que, o Transtorno do Espectro do Autista (TEA) é menos recorrente
em mulheres e por isso, há menos estudos específicos e direcionados à esse público. Fato que,
dificulta o diagnóstico precoce dessas pacientes e impacta a qualidade de vida e o
desenvolvimento saudável (Malagoni & Luz 2021).
Atualmente, há um aumento nos diagnósticos TEA e evolução na discussão deste
transtorno como um distúrbio do neurodesenvolvimento sem causa específica definida e com
diferentes graus de classificação (Muniz Pinto et al. 2016).
Nas mulheres, o autismo pode manifestar-se de forma diferente dos homens. Esta pode
ter uma personalidade introvertida, não gostar de ser o centro das atenções e ter dificuldades em
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expressar seus sentimentos. Além disso, também podem ter dificuldades em se relacionar com
outras pessoas, especialmente se não compartilharem interesses. Ocorre ainda, dificuldades na
linguagem e na comunicação, bem como dificuldades para se adaptar a mudanças nas rotinas
(Hudson et al., 2017)
Dessa forma, considerando a situação das mulheres e a dificuldade para a realização do
diagnóstico, este estudo focaliza o diagnóstico tardio do Transtorno do Espectro Autista (TEA)
na vida de mulheres adultas e nos impactos da descoberta tardia. Para isso, são verificadas as
principais dificuldades enfrentadas pelas mulheres que recebem o diagnóstico tardio de TEA e
como as afetou no decorrer da vida no intuito de resolver ao seguinte problema: “Quais os Comentado [PC1]: Olha o objetivo de vocês

impactos da descoberta tardia do diagnóstico do TEA na vida de mulheres adultas?”

Revisão Bibliográfica: Aspectos Teóricos

Freitas & Revoredo (2022) afirmam que os sintomas do TEA, se apresentam desde a
infância, por volta dos dois anos de idade, mais precisamente, dos doze aos vinte e quatro meses,
categorizado na fase do desenvolvimento, desta forma todo diagnóstico que ultrapasse a primeira
infância é considerado tardio, sendo assim, todo diagnóstico em adultos é tardio.
Os impactos do diagnóstico tardio de TEA afetam diretamente as questões sócio
emocionais do indivíduo prejudicando o desenvolvimento na interação social, na comunicação e
provocam um repertório restrito de atividades e interesse. No caso das mulheres, isso se traduz
no sentimento de inadequação e pouca compreensão acerca de si mesma, podendo levar à tristeza
profunda, depressão e inclusive para o suicídio (Santos & Vieira, 2018).
Sabe-se que o autismo se manifesta de forma diferente nas mulheres, com as meninas
tendendo a ser menos agressivas, menos estereotipadas e mais propensas que os meninos a
reproduzir o comportamento dos outros apesar das dificuldades sociais (Guerra, 2020).
O diagnóstico tardio prejudica também a questão das conexões neurais, pois a poda
neuronal ocorre a partir dos dois anos de idade e dificulta as intervenções a partir de treinamento
comportamental. Na mulher há uma grande dificuldade para o diagnóstico porque esta costuma
camuflar melhor o comportamento a fim de ser aceita no convívio social. Dessa forma, questões
que seriam treinadas com o diagnóstico precoce, são prejudicadas pelo diagnóstico tardio e
afetam a vida da mulher adulta (Silva, 2022).
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM- 5), o TEA
(Transtorno do Espectro Autismo) é um transtorno do neurodesenvolvimento que se caracteriza
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por um déficit na comunicação e nas interações sociais e também os comportamentos


estereotipados e interesses restritos (Vasconcelos, 2022).
É importante entender também que o Transtorno do Espectro Autista (TEA), se
contempla em três níveis, o leve, o moderado e o severo. Isso se dá pelo grau de
comprometimento apresentado pelo indivíduo (Menezes, 2020).
O TEA torna-se difícil de diagnosticar quando apresentado em grau leve e pode ser
confundido com outras condições ou transtornos, ou até mesmo passar sem ser percebido, porque
não é facilmente detectado (Freitas & Revoredo, 2022).
Observa-se que a busca por diagnóstico precoce do TEA disputa uma diversidade de
tribulações, tanto de ordem técnica quanto de natureza social. O que dificulta os métodos para
esse diagnóstico antecipado (Silva, 2022).
Apesar de todo conhecimento e estudos acerca do autismo, ainda há pouco material e
poucas conclusões efetivas sobre o diagnóstico tardio do TEA, o que deixa muitos indivíduos
sem diagnóstico precoce e prejudica o desenvolvimento pleno de suas habilidades sócio
comunicativas e de interação social. Além disso, compromete o comportamento esperado ao
longo do desenvolvimento dessa pessoa e gera sofrimento e angústia (Santos & Vieira, 2018).
Algumas pessoas só recebem o diagnóstico de autismo na idade adulta após perceber os
sinais e diagnosticar algum filho no espectro (Santos & Vieira, 2018), diante disso, reconhecem
seus comportamentos e lembram de acontecimentos na infância que encontram-se com as ações
dos filhos (Vasconcelos, 2022).
Malagoni e Luz (2021) afirmam que, em comparação ao sexo masculino, as mulheres
com TEA apresentam maiores níveis de hiperatividade e comorbidades relacionadas ao
transtorno. Outro ponto são os atrasos mais severos com relação a fala. Os autores salientam
ainda que, meninas e mulheres podem apresentar outros fatores com relação à interação social e
leitura de ambiente.
Sabe-se que o Transtorno do Espectro Autista traz consigo muitas dificuldades no que se
trata de desenvolvimento, como exemplo, o atraso na fala, a ineficiência na comunicação social e
na interação, a dependência nas atividades cotidianas e o nível de ajuda que são necessários na
parte acadêmica. (Assumpção Jr. & Pimentel, 2000) Além disso, há baixa taxa de atenção,
dificuldade de organizar pensamentos, controlar impulsos, ter uma vida ativa e autoestima
adequada (Fonseca et al. 2017).
No que diz respeito a causa do TEA, há muita pesquisa e estudos, pois ainda não se pode
afirmar o motivo. Pode se dar por uma causa genética interligada ao ambiente (Maia, Oliveira,
Almeida, Alves, Saeger, Silva, Oliveira, Martelli, Brito & Silveira, 2019).
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Conforme, Gupta e State (2006), o papel da genética no autismo tem sido amplamente
discutido pois, assim como outros distúrbios neurológicos, o autismo está associado ao
desenvolvimento e funcionamento cerebral. O que faz com que alguns genes sejam transmitidos
de pais para filhos por meio de alterações em múltiplos genes (Gupta & State, 2006).
É importante mencionar que o TEA se manifesta de formas diferentes em cada indivíduo,
e por isso, sua causa ainda não pode ser definida, por este motivo, a avaliação diagnóstica leva
muito tempo até ser fechada, pelo profissional que a faz, pois é preciso levar em conta todos os
ambientes em que a criança vive, além de verificar os laudos médicos e relatos dos outros
profissionais que acompanham o indivíduo (Freitas & Revoredo, 2022).
Entretanto, existem ainda boas razões para acreditar que, uma vez conhecidos os genes
envolvidos, novos agentes terapêuticos poderão atuar em alvos moleculares específicos e
contribuir com a qualidade de vida dessa pessoa (Carvalheira et al. 2006).
O DSM-V, em 2013, definiu que para o diagnóstico as principais causas a serem
observadas seriam: os déficits de interação e comunicação social e os movimentos repetitivos e
estereotipados (Vasconcelos, 2022).
Além disso, as dificuldades em relação ao diagnóstico do TEA são ligadas à renda,
acesso à saúde (por falta de políticas ou da implementação das mesmas) e à informação.
(Menezes, 2020). Por esse motivo, é importante compreender que o autismo é um transtorno com
severo comprometimento e implicações na vida cotidiana dos indivíduos (Lobato, 2020).
Nesses casos, o tratamento só é iniciado após o diagnóstico confirmado e difere conforme
o público. No caso de adultos, o tratamento costuma envolver terapia comportamental cognitiva,
verbal e aplicada, já em crianças, o primeiro passo é a intervenção terapêutica, envolvendo todas
as áreas possíveis, como a área de falante, ouvinte, sensorial e principalmente acadêmica (Silva
& Mulick, 2009).
O diagnóstico de mulheres com TEA visa identificar os sintomas e determinar se eles
estão presentes desde a infância. A história familiar é importante para determinar se outros
membros da família têm TEA ou outros transtornos do espectro do autismo. A partir disso, os
testes cognitivos e psicométricos podem ajudar a médico a avaliar o funcionamento intelectual e
social da mulher (Malagoni & Luz, 2021).
Conforme as observações clinicas, evidenciou-se que um QI mais baixo está relacionado
a uma razão masculino. Isso pode acontecer devido ao fato que o QI é mais protetor contra o
TEA em meninas o que em meninos, tornando raros os casos de diagnóstico do TEA em meninas
com o QI na faixa normal (Viana, 2022).
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É comum que se desenvolva, pelos profissionais que atendem o indivíduo, um plano para
atrelar um grupo social e as habilidades aprendidas que camuflam seus traços de TEA, sendo
uma das possíveis explicações sobre porque pessoas do sexo feminino são diagnosticadas
tardiamente (Vasconcelos, 2022).
Costa (2020), faz um alerta quando diz que os números de suicídios entre pessoas autistas
são maiores do que entre os neuro típicos. O grupo em questão são os de grau leve, pois por não
receberem o diagnóstico, seus sintomas são confundidos e encarados como depressão, ansiedade
ou síndrome do pânico.
A importância do diagnóstico vai além dos aspectos de desenvolvimento pleno das áreas
acadêmicas, mas sim por uma questão de saúde plena e identidade, dos indivíduos com TEA
(Vasconcelos, 2022).
O papel do profissional da psicologia é fundamental, para o processo terapêutico, junto
com uma equipe multidisciplinar, como fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais,
psicopedagogos, neurologistas, psiquiatras. Além disso, é importante para a redução do
preconceito, aumento do acolhimento da causa e acesso a informação (Freitas & Revoredo,
2022).

Aspectos Metodológicos

Este estudo desenvolve-se a partir de uma revisão integrativa. Este método de pesquisa
verifica o que se sabe sobre determinado assunto e pode ser dividida em duas etapas: a primeira é
a revisão narrativa, que descreve os resultados dos estudos selecionados e a segunda etapa é uma
revisão sistemática, que avalia os resultados dos estudos (Burns & Grove, 2005).
As revisões integrativas ocorrem por meio dos passos: determinar o objetivo da revisão,
elaborar uma problemática, executar um rastreio nas bases de dados e coletá-los ao máximo e
após isso, examiná-los e excluí-los ou incluí-los na análise (Mendes, Silveira & Galvão, 2008).
Foram pesquisados artigos nas bases: MEDLINE, LILACS, Index Psicologia –
Periódicos, IBECS, BDENF – Enfermagem, LIPECS e MINSAPERÚ e Google Scholar. Para as
buscas foram utilizados os seguintes descritores: “autismo” AND “mulher”. Foram utilizados
ainda, o filtro com artigos do tipo relato de caso e apenas últimos cinco anos (2018-2022). As
bases foram escolhidas pela ligação à área de saúde e por apresentarem como resultados estudos
gratuitos utilizando os DECS/MESH: Autismo e Mulher.
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O resultado da busca nas bases MEDLINE, LILACS, Index Psicologia – Periódicos,


IBECS, BDENF – Enfermagem, LIPECS e MINSAPERÚ foi de 15 artigos. Já para o Google
Scholar, foi aplicado ainda o filtro: apenas os 20 resultados mais relevantes em forma de artigo.
Assim, procedeu-se o download dos artigos para leitura de resumo e títulos.
A coleta de dados segue as etapas: a) Leitura Exploratória (leitura rápida para ver
adequação do artigo ao trabalho); b) Leitura seletiva (leitura mais aprofundada para a coleta de
informações com vistas a responder aos objetivos geral e específicos); c) Registro das
informações extraídas das fontes (autores, método, resultado e conclusão). Os filtros e resultados
de cada etapa podem ser observados na Figura 1.

Figura 1: Filtros e resultados das pesquisas em bases.

Fonte: autoras.

Dentre os 35 artigos realizou-se a leitura exploratória para verificar a adequação dos


artigos ao tema proposto: Abordar relatos de caso de mulheres adultas diagnosticadas com
autismo em algum grau. Assim, foram excluídos 20 artigos por tratarem de falsos resultados
positivos ou ainda, por se tratarem do caso de mulheres que são mães de crianças ou adultos no
espectro autista.
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Nesta etapa foi feita a leitura seletiva com a finalidade de ordenar e sintetizar as
informações contidas nas fontes, de forma que estas possibilitem a obtenção de respostas ao
problema de pesquisa. Assim, caso houvesse algum estudo que não contemplasse nenhum
objetivo específico proposto neste estudo, o artigo seria eliminado para a etapa de discussão de
resultados. Não foi excluído nenhum estudo nesta etapa. No final, para a análise e discussão dos
dados, restaram 5 artigos.
Os dados obtidos estão agrupados no Quadro1 e foram interpretados para atingimento
dos objetivos desta pesquisa utilizando-se da técnica de análise de conteúdo.

Quadro 1: Artigos analisados e discutidos.

Melhorias causadas
Características que Dificuldades e
pelo
levaram à descoberta obstáculos antes do
ARTIGO acompanhamento
do TEA em mulheres diagnóstico
psicológico
Santos e Costa Acredita-se que a É possível ressaltar que as Não se aplica
(2020). caracterização se dá a dificuldades se dão a
Rosas Azuis: partir das disfunções partir das relações sociais,
atenção à saúde da neurológicas que relacionadas ao
menina e mulher afetam o comportamento, e a
com Transtorno do comportamento, comunicação
Espectro do linguagem e a
Autismo –TEA comunicação. Na
maioria dos casos são
os fatores genéticos
que colaboram para o
transtorno, também é
ressaltado que a falta
de terapia prejudica no
desenvolvimento do
comportamento das
pessoas que possuem o
autismo.
Melo (2021). Não se aplica A dificuldade em ajustar O tratamento deve
Diagnóstico tardio o comportamento social ser combinado com
de autismo; relato pode variar, Foco em estratégias
de um caso adaptando-se a diferentes específicas
vivenciado em circunstâncias, até desenvolvidas pelos
meio a pandemia. apresentar a supressão próprios sujeitos,
afetiva, sendo capaz de enfatizando as
influenciar necessidades do
de forma decisiva a analista
subjetividade desses Valoriza as soluções
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sujeitos, pois a interação únicas que cada


com o outro é a base autista inventa e
primordial da formação acredita que os
psicológica do indivíduo. analistas podem
Melhore-os a partir
de loops
de transferência.
Viana (2022). Não se aplica Uma discussão sobre Não se aplica
Uma discussão como as ferramentas de
sobre como as avaliação atuais impactam
ferramentas de no sobre diagnóstico de
avaliação atuais autismo em meninas.
impactam no sub A capacidade de
diagnóstico de “camuflar” dificuldades
autismo em sociais é considerada uma
meninas. das principais
características do fenótipo
feminino do TEA. A
imitação social ou
camuflagem permite
algum nível de sucesso e
enfrentamento, o que
resulta em algumas
mulheres nunca
receberem um
diagnóstico de TEA.
Guerra (2020). Dificuldades maiores A falta do diagnóstico faz Não se aplica
Há diferença de com relação a com que o próprio autista
gênero na atividades lógicas. não entenda as suas
manifestação do dificuldades,
autismo? principalmente no que se
trata de leitura de
ambiente e socialização.
Vasconcelos Dificuldade de Dificuldade em Mudanças na rotina,
(2022): compreender ironias, socialização pela falta de respeito aos próprios
Meninas e ausência de mastigação compreensão de ironias e limites, identificar
mulheres com durante as refeições, piadas feitas no ambiente comportamentos
Transtorno do ausência de foco, baixo social. autísticos e lidar com
Espectro do contato visual, hiper eles de forma mais
Autismo: focos, agressividade, assertiva.
diagnósticos, comportamentos
reconhecimentos e repetitivos,
vivências. sensibilidade sensorial
e hábitos sistemáticos.
Relatos de Masking, o
ato de mascarar seus
sintomas nos ambientes
sociais.
Fonte: autoras.
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Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) aparece com mais frequência em homens do que
em mulheres. Estima-se que, a cada cinco pessoas, exista apenas uma mulher para cada quatro
homens diagnosticados. Outra característica que difere entre homens e mulheres é o fato de as
mulheres com TEA terem mais dificuldade com atividades no campo da lógica do que meninos.
Isso ocorre devido a socialização das meninas. Elas tendem a serem mais empáticas e terem um
olhar mais direcionado ao outro quando comparadas ao sexo oposto (Guerra, 2020).
Conforme explica Vasconcelos (2022), a diferença em relação aos sintomas não se aplica
apenas à questão biológica do sexo, mas também ao gênero e aos comportamentos esperados
culturalmente. Além disso, a falta do diagnóstico faz com que o próprio autista não entenda as
suas dificuldades, principalmente no que se trata de leitura de ambiente e socialização, sendo
assim, sente-se desconfortáveis em ambientes onde não tem uma inclusão social ou tendem a se
isolarem por preferirem não passar pelo desconforto. (Guerra, 2020).
Vasconcelos (2022) relata que mulheres adultas, que descobriram o diagnóstico
tardiamente, informam ter tido os sintomas de comportamentos repetitivos, sensibilidade
sensorial, dificuldade de compreender ironias, ausência de foco, agressividade, hábitos
sistemáticos e hiper focos, durante toda a vida e que sem o diagnóstico, muitas vezes,
comparavam-se com outras mulheres típicas e se sentiam inferiores.
Guerra (2020) aborda que a sociedade tem expectativa de que meninos, de maneira geral,
sejam mais agitados, falem alto e gritem, enquanto o esperado de meninas, é que sejam mais
quietas, cautelosas e cuidadosas. Diante disso, meninos que apresentam um comportamento mais
calmo, a suspeita do diagnóstico do autismo aumento e, enquanto em meninas por ser um
comportamento esperado, não é feita a investigação.
Com relação a isto um comportamento que aparece com frequência nos estudos é o
Masking, o ato de mascarar seus sintomas nos ambientes sociais, por meio disto, as mulheres
autistas, de grau leve, tendem a não serem reconhecidas, pois aprenderam camuflar suas ações e
estereotipias (Guerra, 2020). Um dos motivos que as faz ter tal comportamento, é a imposição da
sociedade de que mulheres e meninas precisam guardar seus sentimentos e serem o que se espera
num conjunto de fatores (Vasconcelos, 2022).
Viana (2022) também aponta a facilidade das mulheres em camuflar os sintomas do TEA.
Assim, o diagnóstico tardio traz consigo consequências e, no caso das mulheres que descobriram
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o autismo somente na fase adulta, o relato das dificuldades durante o período escolar, a
frustração da comparação por não conseguirem aprender como os outros colegas e não contar
com adaptação ou ajuda de um auxiliar em sala de aula.
Outro dano que a camuflagem traz as mulheres, é o diagnóstico dos sintomas de forma
incorreta, muitas delas são identificadas com transtorno de ansiedade, depressão ou síndrome do
pânico. Esses fatores, trazem consigo o mal tratamento, pois receberam a intervenção incorreta,
tratarão apenas o sintoma e não a sua causa (Vasconcelos, 2022).
Segundo Santos e Costa (2020) 26,4% das pessoas diagnosticadas com autismo são
mulheres. Contudo, existem suspeitas de que esse número seja maior, pelo fato de o TEA ser
difícil de detectar quando ocorre em grau leve.
Viana (2022) aponta ainda, que o diagnóstico tardio enfrenta os fatores culturais,
financeiros e acadêmicos. Ainda, em alguns casos o TEA confunde-se com comportamentos
culturalmente aceitos e passam despercebidos. Famílias em situação de vulnerabilidade social
encontram obstáculos para o diagnóstico por conta disso, mesmo com informações e pesquisas
produzidas sobre o autismo, ainda é difícil apontar com precisão o autismo em mulheres.
Melo (2021) entende que o tratamento deve ser combinado com foco em estratégias
específicas desenvolvidas pelos próprios sujeitos com apoio de um analista (profissional da área
da psicologia) para personalização do tratamento.
Os relatos pós diagnósticos são mistos, algumas mulheres se entristecem com o resultado,
pois este pode causar estranhamento no início, por todo o preconceito envolvido, outras ficam
felizes em entender o porquê dos seus comportamentos e sentimentos. Porém, existe algo em
comum: a clareza de saber como lidar com os sintomas e os recursos para ter uma qualidade de
vida melhor (Vasconcelos, 2022).
Vasconcelos (2022) informa que a maioria das mulheres pós diagnóstico procura diversas
áreas de tratamento, como psicólogos, fonoaudiólogos, terapia ocupacional, adaptam as suas
rotinas, respeitando a si mesmas e quando precisam enfrentar algum desafio (o que ocorre na
maior parte do tempo) sabem como lidar. Além disso, começam a estudar sobre o TEA e com
isso conseguem ajudar outras mulheres nesta jornada.
Para Santos e Costa (2020), as dificuldades a partir das relações sociais, que se associam
ao comportamento e a comunicação, além disso, destaca os fatores genéticos que colaboram para
o transtorno. Outrossim, ressalta que a poderiam ser resolvidas com terapia para
desenvolvimento do comportamento.
Nesta seara, Santos e Costa (2020) ressaltam a importância dos dados quantitativos para
promover maiores números de ações destinadas a mulheres portadoras do TEA na fase infantil e
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na velhice, conforme as linhas de atuação das políticas públicas de promoção e de enfretamento


da violência contra a mulher.
As mulheres autistas são consideradas ainda, um público vulnerável a qualquer situação
de violência, além de necessitar de ações especificas das equipes aonde os serviços de atenção
básica, através da equipe de saúde da família não chegam a elas (Santos & Costa 2022).
Algo importante dentre todas as intervenções a serem feitas com relação ao Transtorno do
Espectro Autista é a informação. Os relatos das mulheres sempre se iniciam com a auto
identificação e percepção dos sintomas. É imprescindível que as informações, com relação as
características do TEA sejam compiladas e divulgadas nos meios de comunicação. (Vasconcelos,
2022).
Outro ponto relevante, conforme Vasconcelos (2022), se dá pelo aleta aos pais, que se
tenham um olhar mais preciso e cuidadoso aos filhos, pois os diagnósticos feitos precocemente
fazem com que o indivíduo, neste caso, as mulheres, não sintam o peso da falta do diagnóstico.

Considerações Finais

O objetivo deste estudo foi verificar as principais dificuldades enfrentadas pelas mulheres
que recebem o diagnóstico tardio de TEA e como isso as afetou no decorrer da vida para mapear
as dificuldades e obstáculos vivenciados antes do diagnóstico de TEA e os impactos na
qualidade de vida.
A análise conclui que os sintomas e obstáculos vivenciados pelas mulheres com
diagnóstico de TEA, em sua maior parte, são relacionados à parte social, tanto em meninas,
quanto já adultas. No que diz respeito, parte de leitura de ambiente, compreensão de conversas,
ironias e sacarmos, em todos os ambientes que frequentam.
Outra contribuição, foi a comprovação da existência de perdas significativas com relação
às partes cognitivas (atrasos e dificuldades) e sentimentais (não compreensão dos mesmos)
quando o diagnóstico é tardio. Os artigos revisados informam que quanto mais cedo feito o
diagnóstico mais rápida a evolução e melhora dos atrasos causados pelo Transtorno do Espectro
Autista (TEA).
Outrossim, o diagnóstico precoce (ou até mesmo o tardio) contribui para que tratamentos
e intervenções adequadas sejam indicadas, e que a qualidade de vida de meninas e mulheres seja
muito melhor, por este motivo, entende-se que se precisa anunciar casa vez mais campanhas e
informações sobre o autismo.
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Conclui-se que é preciso ter um olhar mais aprofundado com relação ao diagnóstico do
TEA, dar a atenção necessária e o apoio as ações essenciais para a informação das famílias e
comunidade. Diante deste estudo, finalizasse com o alerta para o diagnóstico em meninas, a
investigação pode trazer ganhos, em todas as áreas e o mais importante, qualidade de vida. Além
disso, foi verificado uma lacuna nos estudos existentes. Há muitos artigos, livros e matérias
sobre autismo, porém não específicos com relação a adultos e mulheres, o que se tornou um
grande obstáculo para a pesquisa em questão.

Referências

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