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HISTÓRIA DA CULTURA PORTUGUESA

ÍNDICE
Teoria sociológica de Bourdieu......................................................................................... 3
Powerpoints ....................................................................................................................... 4
HISTÓRIA E HISTÓRIA NACIONAL........................................................................ 4
ENSINO ATÉ AO SÉCULO 19 ................................................................................... 4
HISTÓRIA NACIONAL ............................................................................................... 4
MODELO TEÓRICO DE PIERRE BOURDIEU ......................................................... 4
PROPOSTA DE PIERRE BOURDIEU ........................................................................ 4
VISÃO DINÂMICA DOS FENÓMENOS CULTURAIS ............................................ 5
PERGUNTAS FUNDAMENTAIS ............................................................................... 5
INSTÂNCIAS DE CONSAGRAÇÃO.......................................................................... 5
ESPAÇO SOCIAL E ESPAÇO SIMBÓLICO PARA BOURDIEU ............................ 5
LUGARES DE MEMÓRIA .......................................................................................... 6
OS CENTENÁRIOS COMO SYNTESE AFFECTIVA NAS SOCIEDADES
MODERNAS ................................................................................................................. 7
O QUE É UM PANTEÃO? ........................................................................................... 8
WESTMINSTER – PANTEÃO DOS REIS DE IN ...................................................... 8
OBRAS DE SANTA EGRÁCIA .................................................................................. 8
O PANTEÃO NO PERIODO MODERNO .................................................................. 8
Resumo da Matéria............................................................................................................ 8
Pierre Bordieu ................................................................................................................ 8
Bourdieu divide os poderes em quatro tipos de capital - conceitos ............................... 9
Pierre Nora ................................................................................................................... 11
Memória VS História................................................................................................... 11
Lugares de Memória: ................................................................................................... 11
Benedict Anderson ...................................................................................................... 12
Noção da comunidade imaginada ............................................................................ 12
História da literatura portuguesa .................................................................................. 12
Censura Literária: ............................................................................................................ 12
Séc. XIX em Portugal .................................................................................................. 13
Tarefas fundamentais do séc. XIX ........................................................................... 13
Panteão ........................................................................................................................ 14

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Panteão Nacional (1568-1966)................................................................................. 14
Dicionário de Pierre Bourdieu......................................................................................... 16
Campo intelectual: um mundo à parte............................................................................. 18
Por ciência das obras ....................................................................................................... 24
A redução do contexto ................................................................................................. 26
O microcosmo literário ................................................................................................ 28
Posições e tomadas de posição .................................................................................... 28
O campo no final do século ......................................................................................... 30
O sentido da história .................................................................................................... 32
Disposições e tragédias ................................................................................................ 33
A ilusão biográfica....................................................................................................... 33
Economia dos bens simbólicos ....................................................................................... 35
Dom e troca por troca .................................................................................................. 35
Alquimia Simbólica ..................................................................................................... 37
Tabu do cálculo ........................................................................................................... 40
O puro e o comercial ................................................................................................... 40
Entre memória e história – lugares de memória .............................................................. 43
O fim da história-memória .......................................................................................... 43
Memória tomada como história ................................................................................... 45
Os lugares de memória – uma outra história ............................................................... 46
Resumo ............................................................................................................................ 48
Consciência história e Nacionalismo .............................................................................. 50
História e função dos grandes homens ............................................................................ 50
Comunidades imaginadas................................................................................................ 53
Panteão Nacional – um lugar de memória ...................................................................... 54

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Teoria sociológica de Bourdieu

• Bourdieu dizia que a sociedade exerce uma violência simbólica nos


mais desfavorecidos
o Se a sociedade favorece um tipo de cultura, valores, crenças,
quem vem próximo desse pacote cultural, quem não está
socializado nesse pacote, está em desvantagem em relação a
outros
▪ É por isso que uns têm sucesso e outros não
• Analisa as classes de uma forma diferencial – capital económico e
capital cultural
• CAPITAL CULTURAL
o Institucionalizado – diplomas e certificados que a família tem
o Objetivado – Material
o Incorporado (literatura linguas) – cultura geral – conhecimento/o
que sabe
• CAPITAL SOCIAL
o Permite uma melhor tomada de decisões
o Rede de contatos
o Relações interpessoais
• O capital social é diferente consoante a origem social
o Pode se adquirir capital social
• Relação entre estes 2 tipos de capital
• Nós herdamos uma bagagem social consoante a nossa origem social –
BOURDIEU
• A ideia de Habitus
o Os indivíduos têm uma predisposição de fazer algo dependendo
da sua origem social
▪ Classes baixas investem mesmo pois o retorno não é
muito
▪ Estratégias de ação
• Com a experiência ganha-se informação
• Classe média investe no capital cultural
• Herança cultural (conj. Exposição Para ação, Ex: como se deve de agir
achasse consoante)
• Habitus - ligado às classes de origem, capital cultural + Social +
Económico
• Classes sociais são homogéneas
• Condições de sucesso é devido às suas origens/ capital cultural

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Powerpoints

HISTÓRIA E HISTÓRIA NACIONAL

➢ A História Nacional é produto de um momento histórico (as primeiras décadas do


século XIX)
➢ Antes do século XIX não se estudava História Nacional
➢ O curriculum pedagógico correspondente às Ciências Humanas incluía as
disciplinas das chamadas Artes Liberais O trivium e o quadrivium

ENSINO ATÉ AO SÉCULO 19

➢ Trivium
o Retórica, lógica e gramática
➢ Quadrivium
o Aritmética, geometria, astronomia e música
HISTÓRIA NACIONAL
➢ Corresponde a uma atitude mental: a ideia, cara ao Romantismo, de que cada povo
teria uma personalidade própria, tal como teria uma língua, um território, uma
cultura específica.
➢ A noção de História Cultural surge nesta altura, associada à ideia de História
Nacional
➢ Nasce com carácter “nacional”

MODELO TEÓRICO DE PIERRE BOURDIEU

➢ Distingue entre o valor real e simbólico


➢ Adapta o vocabulário da economia à discrição dos fenómenos culturais
➢ Traça um paralelo entre as trocas económicas e as trocas que acontecem no campo
cultural

MODELO TEÓRICO DE PIERRE BOURDIEU – PERMITE RESPONDER A:

➢ O que é a literatura?
➢ Como se distingue um grande autor?
➢ O que diferencia um texto literário de um não literário?
➢ A literatura é uma arte ou é um bem de consumo?
➢ Como se avalia a qualidade das criações culturais

PROPOSTA DE PIERRE BOURDIEU

➢ Integra a produção e disseminação e consumo dos textos na dinâmica social


➢ Propõe um modelo teórico que descreve o modo de funcionamento do campo
cultural
4
➢ Relaciona as produções culturais (literárias, artísticas, etc…) com as dinâmicas de
poder em cada sociedade
➢ Dá resposta às questões relacionada com a qualidade e o valor dos objetos e
criações culturais
PONTOS DE PARTIDA DE BOURDIEU

➢ Bourdieu usa o vocabulário da economia para descrever o que se passa no campo


cultural
➢ Distingue entre o plano do real e o plano do simbólico, propondo a existência de
uma economia dos bens simbólicos paralela à economia real
o Esta distinção é fundamental para análise das produções culturais

VISÃO DINÂMICA DOS FENÓMENOS CULTURAIS

➢ Bourdieu faz a descrição da “vida das obras”


➢ Faz uma problematização do conceito de “valor”
➢ Há um paralelo entre o funcionamento da economia real e o funcionamento do
campo cultural, postulando a existência de uma economia dos bens simbólicos

PERGUNTAS FUNDAMENTAIS

➢ Quem produz?
➢ O que produz?
➢ Para quem produz?
➢ Com que intenções?
➢ Sob que condicionalismos?

INSTÂNCIAS DE CONSAGRAÇÃO

➢ Noção central para a compreensão do estudo da cultura


➢ Explica a dinâmica do campo – construção da reputação, marketing, prémios,
atribuição de subsídios

ESPAÇO SOCIAL E ESPAÇO SIMBÓLICO PARA BOURDIEU

➢ O espaço social está construído de tal maneira que os agentes ou os grupos se


distribuem nele em função da sua posição nas distribuições estatísticas segundo os
dois princípios de diferenciação que, nas sociedades mais avançadas […] são, sem
qualquer dúvida, os mais eficientes, o capital económico e o capital cultural.
➢ devemos evitar transformar em propriedades necessárias e intrínsecas de um
qualquer grupo […] as propriedades que lhes incumbem num dado momento do
tempo em virtude da posição que ocupam num espaço social determinado, e num
estado determinado da oferta dos bens e das práticas possíveis.”
➢ As classes sociais não existem (ainda que o trabalho político orientado pela teoria
5
de Marx tenha podido contribuir, em certos casos, para as fazer existir, pelo menos
através das instâncias de mobilização e dos mandatários).
➢ O que existe é um espaço social, um espaço de diferenças, no qual as classes
existem de certo modo em estado virtual, a ponteado, não como um dado, mas
como qualquer coisa que se trata de fazer.”

LUGARES DE MEMÓRIA

➢ Conceito cunhado por Paul Nora e materializado numa série de 7 volumes coletivos
sobre os lugares de memória da França publicada entre 1984 e 1992
➢ O conceito equaciona questões relativas ao património coletivo e à sua
transformação
➢ A expressão foi consagrada, desde 1993, pela inclusão no dicionário e utilização
na legislação relativa à classificação e conservação do património
➢ Definição
o Sinais de reconhecimento e de pertença a um grupo
o nascem e vivem do sentimento de que não há memória espontânea, que é
preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar
celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariais atas porque essas
operações não são naturais
o Nascem de uma necessidade de memória ou de uma vontade de memória
o Relacionam-se com a redefinição da identidade de um grupo
o Um lugar só é lugar de memória se a imaginação o investe de uma aura
simbólica

➢ TIPOLOGIA DE LUGARES DE MEMÓRIA


o Materiais
▪ Museus
▪ Cemitérios
▪ Monumentos
▪ Objetos
▪ Documentos
▪ Arquivos
o Imateriais
▪ Rituais
▪ Aniversários
▪ Ideias
▪ Narrativas
▪ Lendas
▪ Celebrações
▪ Festas

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OS CENTENÁRIOS COMO SYNTESE AFFECTIVA NAS
SOCIEDADES MODERNAS

No nosso trabalho intitulado Systema de Sociologia, apresentamos a seguinte


passagem:
“Não acompanhamos a conceção teológica de Comte em quanto ás suas formas religiosas,
mas
reconhecemos que nas sociedades modernas alguma cousa se passa, que tendendo a
satisfazer
necessidades de sentimento, vão ao mesmo tempo substituindo as religiões.
A synthese ativa está sendo realizada espontaneamente nas / Exposições, formadas pelos
produtos dos esforços pacíficos;
a synthese affectiva, correspondendo ás novas noções morais da solidariedade humana,
manifesta-se pelos centenários dos Grandes Homens, ou dos grandes sucessos; a synthese
especulativa como reconhecimento geral do poder espiritual da Sciencia, efetua-se por
meio dos Congressos, em que a pátria se alarga na humanidade.”

Como desenvolvimento e comprovação deste pensamento, reunimos as nossas


considerações
sobre alguns sucessos europeus de alta significação moral, como os centenários de
Camões, de Calderon, de Voltaire, do Marquez de Pombal, que nos abordam a consciência
da solidariedade da Civilização ocidental, na sua crise mais ativa de transformação entre o
seculo XVI e o seculo XVIII.

[Nos Centenarios] A consciência moderna achou a forma perfeita da sua Synthese


affectiva.
A Civilização vencendo a estabilidade dos seus elementos tradicionais, confere a
veneração ao
merecimento. É neste momento da historia que os Centenarios dos Grandes Homens se
tornam a synthese affectiva d’esta nova Concórdia moral.

Cairam os mythos religiosos diante da conceção scientifica do universo;


decaíram do seu estéril prestigio as classes privilegiadas;
perderam o respeito as instituições anacrónicas da politica empírica.

Efetivamente sob esta poderosa Acão critica do seculo, falta-nos um objeto para a nossa
veneração condigno da nossa altura moral.

O que dizia Madame de Stael: Restitui-nos o prazer da admiração, torna-se a urgente


necessidade da nossa época, que reclama alguma cousa sobre que exerça o sentimento da
veneração.
Que objeto mais sublimado que a consagração social d’aquelles que exerceram a sua
atividade, a sua afetividade e a sua inteligência elevando a espécie e fortalecendo-a pela
consciência da sua solidariedade?

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O QUE É UM PANTEÃO?
➢ O panteão mais antigo é o panteão de Roma construído no tempo do Imperador
Augusto e reconstruído.
➢ O sentido da palavra pantheon em grego e em latim deu origem a debates ao longo
do tempo mas é clássica a interpretação segundo a qual a palavra se referiria a todos
os
deuses sendo o edifício o lugar de adoração de todos os deuses venerados no
Império Romano

WESTMINSTER – PANTEÃO DOS REIS DE IN

➢ Consagrada em 1065
➢ Coroações desde 1066
➢ Túmulos dos reis de Inglaterra desde 1065
➢ Reconstruída em 1245
➢ Além dos túmulos dos reis de Inglaterra, alberga túmulos de “grandes homens”
(políticos, artistas, poetas, heróis)

OBRAS DE SANTA EGRÁCIA

“O Panteão Nacional destina-se a homenagear e a perpetuar a memória dos


cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao País, no
exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da
cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos
valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa
da liberdade. As honras do Panteão podem consistir na deposição, no Panteão
Nacional, dos restos mortais dos cidadãos distinguidos ou na afixação, no
Panteão Nacional, de lápide alusiva à sua vida e à sua obra.”

O PANTEÃO NO PERIODO MODERNO

➢ A partir do renascimento o panteão romano foi utilizado como local de sepultura


de figuras ilustres
➢ No século 18 foi criado o panteão de Paris para acolher as figuras ilustres da França
à exceção dos heróis militares
➢ Em França para os heróis militares foi criado um local de homenagem próprio
o A igreja dos Invalides

Resumo da Matéria

Pierre Bordieu
A estrutura social é um sistema hierárquico em que os diversos arranjos interdependentes
de poder material e simbólico determinam a posição social ocupada por cada grupo. O
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poder tem múltiplas fontes, por isso, a influência que um determinado grupo exerce sobre
os demais é fruto da articulação entre elas:
➢ poder financeiro;
➢ poder cultural;
➢ poder social;
➢ poder simbólico.

A cada um desses, Bourdieu chama de capital, pois representam a capitalização de um


ativo importante para ter-se uma posição de destaque em determinada sociedade e
contexto histórico. A distribuição desigual desses poderes, que também podemos chamar
de recursos, consolida e reproduz a hierarquia social ao longo do tempo.
Bourdieu divide os poderes em quatro tipos de capital -
conceitos
Capital econômico: abrange os recursos materiais, renda e posses.
Capital cultural: aglutina o conhecimento formal, isto é, o saber socialmente reconhecido
por meio de diplomas.
Capital social: refere-se às relações sociais que podem ser capitalizadas, ou seja, à rede
de relações que propicia algum tipo de ganho, que pode ser prestígio, um bom emprego,
aumento de salário, influência política, espaço no mundo cultural; enfim, representa
benefícios em qualquer das outras modalidades de poder.
Capital simbólico: é o que confere status, honra e prestígio, tratamento diferenciado,
privilégios sociais. A soma ou a ausência desses recursos de poder, herdados ou
adquiridos, determinará o lugar ocupado por grupos e indivíduos na hierárquica estrutura
das sociedades e condicionará seu estilo de vida e suas oportunidades de ascensão.

Espaço social: o espaço social é o conjunto de todos os campos, ou seja, a sociedade onde
um campo está inserido, sendo que dentro deste estão todos os campos literário, científico,
político, universitário, jurídico, empresarial, religioso, jornalístico.

Campo: como resultado de um longo processo de diferenciação, o mundo social moderno


compõe-se de uma multidão de microcosmos, os campos, cada um dos quais com as suas
questões, objectos e interesses específicos (campo literário, científico, político,
universitário, jurídico, empresarial, religioso, jornalístico). Estas estão livres de
estabelecer as suas próprias regras, escapando às influências heteronómicas de outros
campos sociais (critérios económicos ou políticos para os campos universitário ou
científico).
Os campos são “espaços estruturados de posições”, cujas propriedades dependem da sua
posição nesses espaços e que podem ser analisadas independentemente das características
dos seus ocupantes. O campo impõe, pois “uma visão, uma divisão” do mundo daqueles
que são parte integrante e são envolvidos no seu jogo e nas suas questões. “Cada campo
é a institucionalização de um ponto de vista nas coisas e nos habitus. “Cada campo
caracteriza-se pela busca de um fim específico, destinado a favorecer investimentos

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igualmente absolutos em todos aqueles

Campo do Poder: (nao deve ser confundido com campo politico) é o espaço de relações
de força entre os diferentes tipos de capital ou, mais precisamente, entre os agentes
suficientemente providos de um dos diferentes tipos de capital para poderem dominar o
campo correspondente e cujas lutas se intensificam sempre que o valor relativo dos
diferentes tipos de capital é posto em causa (por exemplo, a "taxa de cambio" entre o
capital cultural e o capital económico); isto e, especialmente quando os equilibrios
estabelecidos no interior do campo, entre instancias especificamente encarregadas da
reprodução do campo do poder, são ameaçados. Este campo tem a capacidade de
consagrar e legitimar.

Campo cultural: "Bourdieu analisa ações dos sujeitos no que chama de campo cultural,
levando em conta, exclusivamente, as oportunidades de conquistar poder e prestigio, e
considera os objetos apenas como meios estratégicos que os produtores utilizam na luta
pelo poder. Dentro do campo cultural encontram-se todos os campos que se associam à
cultura, como o campo literário e o campo artístico. Capital cultural: Relacionado
com as qualificações intelectuais (educação). Uma estrutura cruzada, homologa a
estrutura do campo do poder, que opõe os intelectuais, ricos em capital cultural e
(relativamente) pobres em capital economico, e os capitaes da industria e do comercio,
ricos em capital economico e (relativamente) pobres em capital cultural. De um lado,
maxima independencia em relaçao as demandas do mercado e exaltaçao dos valores
desinteressados; de outro, dependencia direta, recompensada pelo sucesso imediato, em
relaçao a demanda burguesa, no caso do teatro, e pequeno-burguesa, isto e, popular, no
caso do vaudeville ou do romance-folhetim. Temos, desde ja, todas as caracteristicas
reconhecidas da oposiçao entre dois subcampos, o subcampo da produçao restrita, que é
o mercado de si mesmo, e o subcampo da grande produçao.

Capital simbólico: Relacionado com a honra e o reconhecimento. As estrategias dos


agentes e das instituiçoes que estao envolvidos nas lutas literarias, isto e, suas tomadas de
posição (especificas, isto e, estilisticas, por exemplo, ou nao-especificas, politicas, eticas
etc.), dependem da posiçao que eles ocupem na estrutura do campo, isto e, na do capital
simbolico especifico, institucionalizado ou nao (reconhecimento interno ou notoriedade
externa),que, atraves da mediação das constitutivas de seus habitus (relativamente
autonomos em relação à posição) inclina-os seja a conservar seja a transformar a estrutura
dessa distribuição logo, a perpetuar as regras do jogo ou a subverte-las.

Instâncias de consagração: estas encontram-se intimamente ligadas às instâncias de


poder. O ato de consagrar é o próprio ato de construção da realidade como tal, logo,
quando selecionamos um objeto para estudo, tal como as cenas musicais, não estamos
diante de uma realidade evidente e perfeitamente notável, dotadas de propriedade
intrínsecas que a análise cientifica deveria “descobrir”. É o próprio ato de nomeação que
dá corpo a uma realidade, que faz ela existir e ser notada a partir de determinadas
características. Aí reside a lógica da consagração. Estando ligadas às instâncias de
legitimação.

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Posição dominante: entidades que se encontra numa posição superior, podendo
fazer/mandar nos dominados.
Situação de dominação: A dominação nao é o efeito direto e simples da açao exercida
por um conjunto de agentes ("a classe dominante") investidos de poderes de coerçao, mas
o efeito indireto de um conjunto complexo de açoes que se engendram na rede cruzada
de limitaçoes que cada um dos dominantes, dominado assim pela estrutura do campo
atraves do qual se exerce a dominação, sofre de parte de todos os outros.

Pierre Nora
Este historiador define o conceito de lugar de memória. São o resultado de um passado
colectivo, constituindo o cerne da sua própria natureza, já que é próprio da sua existência
e da sua evidência, cruzar e esclarecer as ambiguidades e as complexidades que se
estabelecem entre a construção da memória e a existência da colectividade que lhe subjaz.
Por isso, enquanto cristalizações do passado, os lugares de memória podem ser objectos,
instrumentos ou instituições, não dependendo a sua definição da natureza concreta que os
molda, mas apenas da realidade que os habita: uma realidade de que os mesmos são, então,
depositários, enquanto condensações simultâneas do trabalho da História (sedimentações)
e afloramentos da perpetuação da Memória (reminiscências).
É um sinal de reconhecimento e de pertença a um grupo, nascendo de uma
necessidade/vontade que se relaciona com a redefinição da identidade de um grupo.
Podendo ser materiais (museus, cemitérios, monumentos, objectos, documentos,
arquivos) ou imateriais (rituais, aniversários, ideias, narrativas, lendas, celebrações,
festas).
Memória VS História
Memóri Históri
a a
➢ instala lembrança no sagrado; ➢ reconstrução sempre
problemática ecompleta do que já
➢ elo vivido no “eterno presente” ; não existe;

➢ emerge de um grupo que ela une. ➢ é uma operação inteletual e


laicizante que exige análise e
discurso crítico;

➢ pertence a todos e a ninguém.

Lugares de Memória:
➢ perduram no tempo;
➢ cristalizam investimentos efetivos;
➢ “para além da história”/”mitificação da história”;
➢ efeito de reconhecimento na comunidade;
➢ recriados periodicamente ao longo do tempo.

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Benedict Anderson
Uma nação é uma comunidade politica imaginada, limitada e soberana.
➢ Imaginada porque até os membros da mais pequena nação nunca conhecerão,
nunca encontrarão e nunca ouvirão falar da maioria dos outros membros dessa
mesma nação, mas ainda assim, na mente de cada um existe a imagem de
comunhão. As comunidades não devem ser definidas como falsas ou genuínas
senão pelo modo como são imaginadas;
➢ Limitada porque nenhuma nação se imagina a si própria como tendo os mesmos
limites que a humanidade;
➢ Soberana porque o conceito nasceu numa época em que o Iluminismo e a
revolução destruíam a legitimidade do reino dinástico hierárquico e de ordem
divina. As nações anseiam por ser livres e o estado soberano é o garante e o
emblema dessa liberdade.
Noção da comunidade imaginada

É tão marcante a divisão do mundo em nações, e a difenreça na cabeça das pessoas entre
nação e a realidade (hoje em dia, as pessoas têm 2 nacionalidades e 2 ou 3 passaportes),
que na disciplina está lá a portuguesa, história da literatura portuguesa. A questão das
nações atrapalha imenso porque acaba por condicionar mais, mas as fronteiras ao longo
do tempo variam, pois antes da nação haviam reinos que eram hereditários que se podiam
juntar e separar.

História da literatura portuguesa


Durante o período da censura (séc. XVI, XVII, XVIII), os livros eram muito contidos
devido à exitência da censura.
Censura Literária:

1536- estabilização da Inquisição em Portugal;


1539- comissão de exame e revisão dos livros;
+-1570- desembargo do Paço(Tribunal Supremo de Justiça de PT); Censura
Tripartida
Ordinário (Bispo da diocese)
1768- Real Mesa Censória (poder passa para o Estado);
1787- D. Maria I (reestruturação) “Real Comissão Geral sobre o Exame e Censura de
Livros”
1794- D. João VI, retorna à Censura Tripartida
1820- Abolida a censura de livros.
Após esta censura, nos anos 30 do séc. XIX, lutas entre fações políticas são publicadas
em jornais, mulheres começam a publicar textos, há toda uma nova comunicação (jornais
diários, satíricos, escolares, ...).

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Almeida Garrett e Alexandrre Herculano: figuras de uma nova “era” e vida literária
portuguesa.

Séc. XIX em Portugal


Este foi um século muito turbolento em Portugal
➢ Invasões Francesas (1807-Junot ; 1809-Soult ; 1810-Massena);
A França dominava toda a Europa continental, à exceção da Península Ibérica.
Face ao conflito, Portugal procurava conseguir uma difícil situação de
neutralidade. Assim, estas invasões devem-se ao facto de os franceses dominados
por novos sentimentos imperialistas, tinham como objetivo o domínio da grande
potência opositora: a Inglaterra. Com a superioridade naval Britânica a
desaconselhar o desembarque em Inglaterra, Napoleão opta por outras frentes de
batalha e decreta o Bloqueio Continetal, impondo o encerramento dos portos
europeus aos navios ingleses.

➢ Guerra Civil (1832-1834);


A existência de uma monarquia absoluta (poderes incidem todos no Rei) e uma
liberal (existência de uma constituição onde constam todos os direitos e deveres
dos cidadãos e/ou indivíduos) levou ao início da guerra civil, que acaba com a
assinatura da Convenção de Évora Monte.

➢ Criação do projeto “mapa cor-de-rosa” apresentado no Congresso de Berlim


(1884). Trata-se de um tratado sugerido por Inglaterra onde queriam ligar o
Cairo (Egito) ao Cabo (África do Sul). Este desencadeou uma disputa entre
Portugal e a Grã-Bretanha que culminou no ultimato britânico de 1890 e no
Tratado Anglo-Português de 1891, a que Portugal cedeu, causando sérios danos
à imagem do governo monárquico português.
Todas estes acontecimentos serviram para unir a comunidade portuguesa (espírito de
união e patriotismo) e, aquando do Ultimato feito por Inglaterra a Portugal (mapa cor-de-
rosa), surgiu o hino A Portuguesa.
Na história nacional, a escolha dos acontecimentos mais importantes (marcos e figuras)
faz-se através da opinião de pessoas que se encontram no campo do poder (que têm visão;
que são reconhecidos).

Tarefas fundamentais do séc. XIX

➢ O desenvolvimento da racionalidade científica fez surgir a agravação taxonómica


(surgimento de listas e classificações) como por exemplo, as listas taxonómicas
de Darwin dos animais;
➢ A comunidade portuguesa sente a necessidade de se unir, surgindo as ideias
liberais (dando o privilégio lugar ao mérito e a monarquia [Rei] lugar a uma
constituição votada pelas pessoas; e deixam de existir vassalos e passam a ser
denominados cidadãos, surgindo a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão
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Panteão
Inicialmente, há o surgimento do Panteão de Roma, Itália (118-128) e o Panteão de Paris,
França (1758), tendo o primeiro como objetivo de honrar e ser dedicado aos Deuses e
deve-se a isso a abertura da cúpula (proximidade dos Deuses do Olimpo). No segundo,
com o objetivo de homenagear grandes pessoas.
Panteão Nacional (1568-1966)

Este destina-se a homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se


distinguiram por serviços prestados ao País, no exercício de altos cargos públicos, altos
serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e
artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa
humana e da causa da liberdade. As honras do Panteão podem consistir na deposição, no
Panteão Nacional, dos restos mortais dos cidadãos distinguidos ou na afixação, no Panteão
Nacional, de lápide alusiva à sua vida e à sua obra.
1836- proposta de criação do PN pelo ministro Passos Manuel, para celebrar os
heróis da Revolução Liberal (1820, Porto) e honrar grandes Homens, reerguendo a sua
memória coletiva;
1910- atribuído o estatuto de monumento nacional à Igreja de Santa Engrácia;
1916- atribuída a função de PN à Igreja de Santa Engrácia, pois continha uma
cúpula; 1966- aberta ao público com o estatuto de PN.

Personalidades no Panteão
Nacional: Luís de Camões
(1524/1525? -1580)
Pedro Álvares Cabral (1467/1468-
1520/1526) Infante D. Henrique (1394-
1460)
Vasco da Gama (1460/1469?-1524)
Afonso de Albuquerque (1453(?)-
1515)
D. Nuno Álvares Pereira (1360-
1431) Aristides de Sousa Mendes
(1885-1954) Manuel de Arriaga
(1840-1917)
Teófilo Braga (1843-1924)
Sidónio Pais (1872-1918)
Óscar Carmona (1869-1951)
Almeida Garrett (1799-1854)
Guerra Junqueiro (1850-
1923) João de Deus (1830-
1896) Amália Rodrigues
(1920-1999)
Humberto Delgado (1906-1965)
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

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No entanto, a necessidade de dignificar a linhagem de Reis e seus familiares (filhos,
netos), houve projetos anteriores:
➢ Mosteiro da Batalha: D. João I manda integrar uma Capela Real situada à
esquerda do Templo no Mosteiro de Santa Maria da Vitória destinada a ser o
panteão para os reis, seus filhos e netos (reservando para si e futuros monarcas
o espaço central). Ofilho D.duarte manda construir uma capela à parte para sia
(uma das capelas imperfeitas) (sepultados D. João I, D. Filipa de Lencastre, o
infante D. Henrique, o infante D. João, D. Isabel, D. Fernando, D. Afonso V, D.
João II (transladado por D. Manuel I), D. Duarte e também o Soldado
Desconhecido);

➢ Mosteiro dos Jerónimos ( construído de acordo com o desejo do rei D. Manuel I


de eternizar o seu governo, perpetuando as glórias alcançadas durante a Era das
Descobertas) (sepultados Alexandre Herculano; António, Infante de Portugal
(1539– 1540); Carlos, Infante de Portugal; Catarina de Áustria; Dinis, Infante de
Portugal; Duarte de Portugal, arcebispo de Braga; Duarte de Portugal, 4.º Duque de
Guimarães; Fernando Pessoa; Filipe, Príncipe de Portugal; Henrique I de Portugal;
João III de Portugal; Luís de Camões; Manuel, Príncipe de Portugal; Manuel I de
Portugal; Maria de Aragão e Castela, Rainha de Portugal; Sebastião I de Portugal;
Vasco da Gama);

➢ Mosteiro de Alcobaça (sepultados túmulos dos reis D. Afonso II (1185-1223;


túmulo datado de 1224) e D. Afonso III (1210-1279). D. Beatriz, mulher de D.
Afonso III, e três dos seus filhos. D. Urraca, a primeira mulher de D. Afonso II.
Não se conhece a história dos outros sarcófagos, estando estes, hoje em dia,
vazios, após terem sido novamente selados entre 1996 e 2000. D. Pedro I (1320-
1367), com o cognome O Cruel ou também O Justo, e o de D. Inês de Castro).

15
Dicionário de Pierre Bourdieu
➢ Campo
o Resultado de um longo processo de diferenciação
o o mundo social moderno compõe-se de uma multidão de microcosmos, os
campos, cada um dos quais com as suas questões, objetos e interesses
específicos (campo literário, científico, político, universitário, jurídico,
empresarial, religioso, jornalístico).
o Estas partes do espaço social são relativamente autónomas, ou seja, livres
de estabelecer as suas próprias regras, escapando às influências
heteronómicas de outros campos sociais (por exemplo certos critérios
económicos ou políticos para os campos universitário ou científico).
“O processo de diferenciação do mundo social que conduz à existência de
campos autónomos diz respeito simultaneamente ao ser e o parecer: ao
diferenciar-se, o mundo social produz a diferenciação dos modos de
conhecimento do mundo; a cada um dos campos corresponde um ponto de
vista fundamental sobre o mundo que cria o seu próprio objeto e encontra
em si próprio o princípio de compreensão e de explicação que convém a
esse objeto.”
o Num momento dado do tempo, numa apreensão horizontal, os campos
apresentam-se como “espaços estruturados de posições”, as dos agentes
que atuam nesses “campos de forças”, “cujas propriedades dependem da
sua posição nesses espaços e que podem ser analisadas independentemente
das características dos seus ocupantes (em parte determinadas por elas)”.
o A estrutura do campo corresponde a um “estado da relação de forças entre
os agentes ou as instituições empenhadas na luta” pela posição
hegemónica no campo:
▪ trata-se de adquirir o monopólio da autoridade enquanto atribuidora
de poder (pela violência legítima própria do campo) de modificar
ou de conservar a divisão do capital específico a esse espaço
(diploma, conhecimentos, estilo de vida, dinheiro, contactos,
aquisições profissionais, capacidade oratória, origem social,
apresentação de si próprio, ou qualquer outro elemento valorizado
pelo campo).
▪ Herdada das lutas anteriores esta divisão é num certo sentido a
estrutura do campo
▪ Os campos são “mercados para tipos específicos de capital” nos
quais os agentes pensam e agem em função de, pelos e para os seus
recursos próprios nas diferentes variedades de capital.
o Os agentes são o que os faz ser socialmente a sua posição num campo.
o Com efeito, a sua admissão no campo, no jogo (para retomar uma das
analogias favoritas de Bourdieu), faz-se na base de critérios reconhecidos
por ele (a posse das diferentes formas de capital que são as questões, as
finalidades do campo) e, por outro lado, em função da inscrição neles na
forma de disposições (graças a uma aprendizagem ou pela simples prática
regular) de uma maneira de ser requerida pela dinâmica própria do campo.
“A lógica específica de um campo institui-se no estado incorporado sob a

16
forma de um habitus específico ou, mais precisamente, de um sentido do
jogo
o O interesse e os interesses do campo só são percebidos e vividos como
pertinentes, ou mesmo vitais, pelos agentes “dotados do habitus que
implica o conhecimento e o reconhecimento das leis imanentes do jogo, das
questões, etc.”
▪ ou seja, por aqueles que fazem seus, porque isso estão dispostos, os
objetivos do campo.
“Cada campo caracteriza-se pela busca de um fim específico,
destinado a favorecer investimentos igualmente absolutos em todos
aqueles (e só nesses) que possuem as disposições requeridas”
o Os campos sociais, tal como Bourdieu os definiu, não são, pois, estruturas
congeladas, apesar de o seu funcionamento responder a leis gerais dos
campos que o sociólogo procura desvendar.
o A estrutura do campo é o produto da história desse campo, ou seja, da
“história das posições constitutivas desse campo e das disposições que
estas favorecem”
▪ Por outras palavras, o campo é caracterizado a cada momento pelas
relações de força nascidas das lutas intestinas que resultam das
diferentes estratégias mobilizadas pelos atores:
• quer para defender a orientação do campo e a posição que
esta lhe confere (defesa da “ortodoxia”), quer para tentar
subverter a ordem estabelecida (a doxa, a opinião comum do
campo) afim de modificar o agenciamento do capital
específico ao campo (subversão, heresia, a maior parte das
vezes induzida por e para os dominados do campo,
nomeadamente os que nele acabam de entrar).
o Para Bourdieu não é necessário fazer apelo a quaisquer características
invariantes da natureza humana, como o egoísmo, para explicar o caráter
agonístico dos campos.
o As lutas perpétuas de que os campos são lugar decorrem de maneira lógica,
e da concorrência que nasce automaticamente do investimento dos
indivíduos no jogo, e na própria estrutura do campo,
▪ “ou seja, da estrutura de distribuição (desigual) das diferentes
espécies de capital que, ao gerar a raridade de certas posições e os
lucros correspondentes, favorece as estratégias que visam destruir
essa raridade pela apropriação das posições raras, a conservá-la,
pela defensa dessas posições.”
o O campo impõe, pois, “uma visão, uma divisão” do mundo aqueles que são
parte integrante e são envolvidos no seu jogo e nas suas questões.
“Cada campo é a institucionalização de um ponto de vista nas coisas e nos
habitus. O habitus específico, que se impõe aos recém-chegados como um
direito de entrada, é um modo de pensar especifico (um eidos), princípio
de uma construção específica da realidade, baseada numa crença pré-
reflexiva no valor indiscutível dos instrumentos de construção e dos
objetos assim construídos

17
o A lógica do campo, a hierarquização dos interesses e a discriminação dos
objetos pertinentes instituídos, funcionam assim como o pano de fundo
impensado das práticas dos agentes:
▪ elas formam o implícito que está na base de todas as suas ações,
colaborações, e, paradoxalmente, de todos os conflitos e
desacordos. “Esquecemos que a luta pressupõe um acordo entre os
antagonistas sobre aquilo que merece ser disputado que é reprimido
na ideia de que é evidente deixado no estado de doxa ou seja, tudo o
que faz campo o jogo, as questões, todos os pressupostos aceites
tacitamente, mesmo sem saber, pelo facto de jogar, de entrar no
jogo”
o Para além das suas lutas pelo acesso às posições dominantes no campo e
seus desacordos, por vezes profundos, os agentes de um mesmo campo, os
“jogadores” estão ligados por uma “cumplicidade objetiva que está
subjacente a todos os antagonismos”;
▪ essa cumplicidade põe-nos todos de acordo, a priori, e de maneira
geralmente inconsciente, com os valores fundamentais que
estruturam o campo (nomeadamente as oposições duais fundadoras
do campo, que organizam as “tomadas de posição”: por exemplo a
oposição esquerda/direita no campo político, ou entre uma conceção
epistemológica e uma abordagem estético-literária no campo
filosófico.)
o A “Teoria geral dos campos” projetada por Bourdieu forneceria uma
descrição do espaço social nas suas múltiplas dimensões (e já não em
função da imposição arbitrária de um ponto de vista único, económico ou
político, por exemplo, que, impondo uma visão, desnatura o seu objeto ou
visa esconder a violência (simbólica) que lhe inflige.

Campo intelectual: um mundo à parte

➢ Bourdieu comentou que todos os que se dedicaram à ciência das obras literárias ou
artísticas, negligenciaram sempre o espaço social onde estão inseridos – os que
produzem as obras e o seu valor
➢ Noção de Campo de produção cultural – campo artístico ou literário ou científico,
etc…
o Permite romper com as vagas referências ao mundo social (através de
palavras como contexto, meio e fundo social) sendo então essa a forma
com que normalmente a história social da arte e da literatura se contenta
▪ Visto que sem eles não conseguiam ter o poder que têm
o Todos os tipos de homologias estruturais e funcionais entre o campo social
como um todo ou o campo político, e o campo literário, que como eles têm
os seus dominantes e dominados, então podemos dizer que cada um desses
fenómenos reveste-se de uma forma inteiramente específica no interior do
campo literário
o A homologia é uma semelhança na diferença

18

Se formos relacionar este termo com os campos literários e
políticos, afirma-se a existência de traços estruturalmente
equivalentes em conjuntos diferentes
▪ Relação complexa, em que se apressa em destruir os que têm o
hábito de pensar em termos de tudo ou nada
➢ Noção de Campo literário e seus princípios de construção
o O campo literário é um campo como os outros
▪ contra a tendência de pensar que os universos sociais onde são
produzidas essas realidades de exceção que são a arte, literatura ou
ciência só podem ser diferentes sob todos os aspetos
▪ O campo literário é um campo de poder, onde permite haver a
decisão de publicar, recusar uma publicação
• Permite ter capital
o O do autor consagrado que pode ser parcialmente
transferido para a conta de um jovem escritor ainda
desconhecido
• É um campo que consiste num local de forças, estratégias e
interesses
▪ É um campo com muita força, o lugar de relações de força
• Permanece o fato de que essas relações de força que se
impõem a todos os agentes que entram no campo,
especialmente os agentes mais novos
• Para estarmos neste campo, é essencial que haja estratégias
e reconhecimento, viste é alvo de muita concorrência em
que o mérito não se dá apenas pelo sucesso, nem pelo fatos
de se receber prémios, pela notoriedade.
o É exatamente o contrário
o Ignora-se as estratégias e interessantes, tanto no
campo político como no comum
o Os indivíduos apenas lutam pelo poder como é
referido no texto
o Refere ainda que essas lutas possuem alvos
específicos e que o poder e o prestígio que elas
perseguem é absolutamente particular.

• O campo literário é um campo de forças e simultaneamente


de lutas
o As lutas possuem alvos específicos
o O poder e prestígio é de um tipo absolutamente
particular
o Pretende transformar e conservar a relação de forças
estabelecidas

19
▪ Cada agente investe o capital, a força que
adquiriu pelas lutas anteriores em estratégias
que dependem da posição dos agentes do
agente nas relações das forças, sendo o seu
capital
o Na França, desde a metade do séc 19, a poesia torna-se um lugar de
permanente revolução
▪ Os agentes mais novos questionam-se o que foi contraposto pela
revolução precedente, anterior à ortodoxia anterior
• A poesia acabava-se por se reduzir cada vez mais na sua
essência
o À medida que vai sendo despojada pelas sucessivas
revoluções de tudo aquilo que parecia definir
propriamente poético
o Em relação aos limites, necessita-se de ter cuidado com a visão positivista
▪ Determina limites mediante uma decisão, dita operatória, que não
está definida na realidade
• Não se sabe quem é (verdadeiramente) intelectual e quem
não é, a única coisa que está em jogo no campo
literário/artístico é a definição dos limites do campo
o Ou seja, da participação legítima nas lutas
o Exclui-se as pessoas que querem dar a sua essência,
quem realmente luta pelos seus interesses
▪ Essa exclusão simbólica é o inverso do
esforço, no sentido de impor uma definição
da prática legítima
o Quando a estratégia é bem-sucedida, a estratégia e a competência que
coloco em jogo, torna-se artística e política, conseguindo assim garantir-me
um poder sobre o capital detido por todos os que reproduzem
▪ Na medida, em que através da imposição de uma definição da
prática legitima, é a regra do jogo mais favorável a seus trunfos que
acaba-se impondo a todos
• Sobretudo no limite, aos consumidores
o Às luzes do modelo de Aristóteles
▪ cuja sua inconsistência e incoerência, do campo onde foram gerados
e onde funcionaram enquanto estratégias simbólicas na luta pela
dominação simbólica
▪ ou seja, pela luta do poder sobre um uso particular de uma categoria
partículas de signos e desse modo sobre a visão do mundo natural e
social.
o As definições impõem-se especialmente aos novatos, como um direito de
entrada, e assim conseguimos perceber que a luta a propósito da definição
dos géneros da poesia não é apenas uma guerra que diz respeito a palavras,
tornam-se confrontos de objetos de analises e debates académicos
➢ Na medida em que exerce seu domínio no interior da totalidade dos campos, o
campo do poder exerce influência sobre o campo literário.
Porém, existe uma autonomia relativa a esta influência, e avalia o seu processo
histórico de formação.
Atualmente, como se dá essa autonomia do campo literário?
o Os campos de produção cultural ocupam uma posição dominada no campo
do poder
20
▪ É um fato capital que as artes a literatura ignoram
▪ Os artistas e os escritores, na sua generalidade, os intelectuais são
um grupo dominante da sua classe social.
• Sendo das classes mais dominantes, têm muito poder e
privilégios conferidos pela posse do capital cultural que têm
comparada com as outras classes
• Estes grupos dominantes não exercem essa dominação como
antigamente, através das relações pessoais
o Mas toma a forma de uma dominação estrutural
exercida através de mecanismos muito gerais como
os do mercado
• Essa posição contraditória de relação dos dominantes, ou
para explorar a homologia com o campo político, explica a
ambiguidade das suas tomadas de decisão, que se ligam a
essa posição de apoio em falso
o A autonomia dos campos de produção cultural, tem um fator estrutural que
comanda a forma das lutas internas ao campo, varia consideravelmente não
só de acordo com as épocas de uma mesma sociedade, mas de acordo com
as sociedades
▪ Variam a força relativa dos dois polos no interior do campo e o peso
relativo dos papéis atribuídos ao artista e ao intelectual
o Os dominantes têm um técnico que lhes oferece os seus serviços simbólicos
▪ A produção cultural também possui os seus técnicos
o Num extremo dos polos temos os técnicos, noutro temos o papel
conquistado e definido contra os dominantes, de pensamento livre e crítico,
de intelectual que usa o seu capital específico, conquistado por meio da
autonomia e garantindo assim a autonomia do campo, para intervir no
terreno da política
▪ Os produtores culturais também são muitos importantes para a
sociedade e acabam por ter o seu poder contra os dominantes

➢ Na Alemanha federal, os intelectuais desde o movimento de 68, se definem como


estando de preferência à esquerda
o Eles se pensam por oposição à classe dominante
➢ Na análise de lutas simbólicas de Bourdieu, este destina os intelectuais a um lugar
interior das classes dominantes

21
➢ O teatro dessas lutas simbólicas é a própria classe dominante
o Trata se de uma luta de grupo no interior de uma classe da qual os
intelectuais constituem uma parte
➢ Como é que Bourdieu chegou a esta análise?
Para o campo literário ou para algumas das suas parcelas, não se coloca a
questão das possibilidades de exercer uma ação sobre o campo do poder?
Essa não é justamente a pretensão de uma literatura engajada, ativa ou
realista?
o Os produtores culturais detêm de um poder específico
▪ O poder propriamente simbólico de fazer com que se veja e se
acredite, de trazer à luz, ao estado explícito, objetivado,
experiências +/- confusas, fluidas, não formuladas, e até não
formuláveis, do mundo natural e do social, e por essa via, fazendo-
as existir
▪ Eles podem colocar esse poder a serviço dos dominantes
▪ Podem, de acordo com a lógica da sua luta no interior do campo do
poder, colocá-lo a serviço dos dominados no campo social como um
todo
o Segundo o texto os intelectuais acabam por pertencer a uma classe
dominante, que consiste na luta de infrações.
➢ Que mudança a teoria de Bourdieu traz para a ciência da literatura, para a
interpretação da obra, para o espaço tradicional da ciência da literatura?
Ao tomar a obra de arte enquanto expressão da totalidade do campo, que tipo de
consequências isso tem?
o A teoria do campo faz com que se recuse tanto o estabelecimento de uma
relação direta entre biografia individual e a obra / entre a classe social de
origem e a obra, como a análise interna de uma obra em específico ou então
mesmo a análise intertextual, isto é, o relacionamento de um conjunto de
obras
▪ É preciso fazer tudo isso ao mesmo tempo
▪ Tem correspondência bastante rigorosa, uma homologia entre o
espaço das obras consideradas nas suas diferenças, desvios (à
maneira da intertextualidade) e o espaço dos produtores e das
instituições de produção, revistas, editores, entre outras…
o As diferentes posições no campo de produção, podem ser definidas
levando-se em conta não só o género praticado, a categoria nesse género,
identificada através dos lugares de publicação e dos índices de consagração
▪ Ou simplesmente, da antiguidade de entrada no jogo, mas também
os indicadores mais exteriores
• Como a origem social e geográfica
o Retraduzem nas posições ocupadas no interior do
campo, correspondem as posições tomadas no
espaço dos modos de expressão, das formas literárias
e artísticas dos temas e de todos os tipos de índices
formais mais sutis que a análise literária tradicional
o Para se ler adequadamente uma obra na singularidade da sua textualidade é
preciso ler conscientemente ou inconscientemente na sua intertextualidade,
isto é, através do sistema de desvios pelo qual ela se situa no espaço das
obras contemporâneas
▪ Essa leitura diacrítica é inseparável de uma apreensão estrutural do
respetivo autor, que é definido quanto às suas disposições e tomadas
22
de posição, pelas relações objetivas que definem e determinam a
sua posição no espaço de produção e que determinam ou orientam
as relações de concorrência que ele mantém com os demais autores
e o conjunto das estratégias, sobretudo formais, que o torna um
verdadeiro artista, escritor
▪ É necessário que não sejam ingénuos, que estejam a par de tudo o
que se fez e se faz no campo, tenham senso da história, do seu
passado e do seu futuro, dos seus desenvolvimentos futuros, do que
está por fazer

➢ Qual a perspetiva de Bourdieu sobre o lugar do sujeito que produz literatura ou arte?
Que proveito um escritor pode tirar da sua teoria?
o O autor transforma profundamente a sua visão do mundo
▪ Ou seja, as categorias de perceção e de apreciação do mundo, os
princípios de construção do mundo social, a definição do que é
importante e do que não é, do que merece ser representado e do que
não merece
o A revolução simbólica transtorna as estruturas mentais de um autor, que
incomoda os cérebros
▪ o que explica as reações da critica e do publico burgues, as palavras
podem causar estragos.

23
Por ciência das obras
➢ Os campos de produção cultural propõem aos que neles estão envolvidos, um
espaço de possíveis, que tende a orientar a sua busca definindo o universo de
problemas, de referências, de marcas intelectuais, de conceitos em “ismo”, em
resumo, todo um sistema de coordenadas que é preciso ter em mente para entrar no
jogo
o Esse espaço de possíveis é o que faz com que os produtores de uma época
sejam ao mesmo tempo situados, datados, e relativamente autónomos em
relação às determinações diretas do ambiente social e económico
▪ Um bom exemplo, para compreender as escolhas feitas pelos
diretores de teatro contemporâneo, não podemos nos contentar em
relacioná-las às condições económicas, ao estado das subvenções ou
dos ganhos, ou até ao sucesso de público
• É preciso referir-se a toda a história da direção teatral, desde
1880, no decorrer da qual se constituiu a problemática
específica, como um universo de pontos em discussão e um
conjunto de elementos constitutivos do espetáculo sobre os
quais um diretor teatral digno desse nome deve assumir uma
posição
o Esse espaço de possíveis transcende os agentes singulares
▪ Funciona como uma espécie de sistema comum de coordenadas
• Faz com que mesmo que não se refiram uns aos outros
• Os criadores contemporâneos estejam objetivamente
situados uns em relação aos outros
➢ Se refletirmos sobre a literatura, esta não escapa a essa lógica e Bourdieu tenta
analisar o que lhe parecer ser o espaço dos modos possíveis de analisar as obras
culturais
o O método que estabelece a existência de uma relação inteligível entre as
tomadas de posição – as escolhas dentre os possíveis – e as posições no
campo social, deveria apresentar os elementos sociológicos necessários em
cada caso para a compreensão de como vários investigadores estão
distribuídos entre as diferentes abordagens, porque dentro dos diferentes
métodos dos possíveis, eles se apropriam de uns e não de outros
➢ Na medida em que é apoiada por toda esta lógica da faculdade, esta não necessita
de se constituir em corpo de doutrina e pode permanecer no estado doxa
o A noção de doxa (opinião) será geralmente entendida por pensadores
gregos como Platão como contrária ao conhecimento epistêmico,
verdadeiro, devido ao fato de expressar ou particularidades ligadas às
perceções, que podem ser errôneas, ou a passionalidade dos sujeitos.
➢ O New Criticism constituiu em teoria os pressupostos da leitura “pura”, fundada
sobre a absolutização do texto, de uma literatura “pura”

24
o Os pressupostos históricos inerentes à produção “pura” encontram uma
expressão no próprio campo literário
▪ As obras culturais são concebidas como significações atemporais e
formas puras que pedem uma leitura puramente interna e a-
histórica, que exclui qualquer referência, tida como “redutora” e
“grosseira”, a determinações históricas ou a funções sociais.
➢ Se quisermos transformar em teoria essa tradição formalista que despreza
fundamentos, já que está enraizada na doxa institucional, pode-se ver 2 opções
o A teoria neo-kantiana das formas simbólicas
▪ De forma geral, todas as tradições que pretendem descobrir
estruturas antropológicas universais
o Recuperar as formas universais da razão poética ou literária, as estruturas a-
históricas que estão na base da construção poética do mundo
➢ A teoria estruturalista é bem mais pujante, intelectual e socialmente.
o Na perspetiva social, esta assumiu o controle da doxa internalista e conferiu
uma aura de cientificidade à leitura interna como desmonte formal de
textos atemporais
o A hermenêutica estruturalista trata as obras culturais como estruturas
estruturadas sem sujeito estruturante que são realizações históricas
particulares
▪ Devem ser decifradas como tais, mas sem qualquer referência às
condições económicas ou sociais de produção da obra ou dos
produtores da obra – como o sistema escolar
➢ O estruturalismo simbólico, tal como defende Michel Foucault, retém o que é
essencial para o primado das relações
o “A língua é forma e não substância”
➢ Nenhuma obra existe por si mesma, ou seja, fora das relações de interdependência
que a vinculam a outras obras
o Foucault propõe chamar de campo de possibilidades estratégicas o sistema
regrado de diferenças e de dispersões no interior do qual cada obra singular
se define
➢ Este campo de possibilidades estratégicas, Trier dá uma noção como a de “campo
semântico” em que ele recusa buscar fora da ordem do discurso o princípio de
elucidação de cada um dos discursos
o Se a análise dos fisiocratas faz parte dos mesmos discursos que a dos
utilitaristas, não é porque eles viveram na mesma época, não é porque eles
se enfrentaram no interior de uma mesma sociedade, não é porque os seus
interesses se confundiam em uma mesma economia, é porque as duas
opções provinham de uma mesma e única distribuição de pontos de
escolha de um único e mesmo campo estratégico”
➢ Os produtores culturais têm em comum, um sistema de referências comuns, marcas
em comum, ou seja, um espaço de possíveis
o Foucault afirma a autonomia absoluta desse campo de possibilidades
estratégicas, ao qual ele chama de episteme e recusa como ilusão
doxológica a pretensão de encontrar no campo das polémicas e nas
divergências de interesses ou de hábitos mentais entre os indivíduos
▪ O princípio explicativo do que se trata no campo das possibilidades
estratégicas
o RESUMINDO

25
▪ Foucault transfere para o céu das ideias, as oposições e os
antagonismos que se enraízam nas relações entre os produtores e os
que se utilizam das obras analisadas
➢ Não se nega a determinação especifica exercida pelo espaço dos possíveis, já que
uma das funções da noção de campo relativamente autónomo, dotado de uma
história própria, é dar conta disso
o Porém não é possível tratar a ordem cultural, a episteme, como um sistema
totalmente autónomo
▪ Ficamos então impedidos de dar conta das mudanças que ocorrem
nesse universo separado, a menos que lhe atribuamos uma
propensão imanente a se transformar por uma forma misteriosa
▪ Foucault sucumbe a essa forma de essencialismo manifesto em
tantos domínios, como o caso da matemática
• As verdades matemáticas não são essências eternas saídas
prontas do cérebro humano, mas produtos históricos de um
certo tipo de trabalho histórico, feito de acordo com as
regras e as regularidades específicas desse mundo social
particular – campo científico
➢ Foucault utilizou a mesma fonte para criticar os formalistas russos
o Eles apenas consideram o sistema de obras, a rede de relações entre os
textos, a intertextualidade e como são obrigados a encontrar no próprio
sistema dos textos, o princípio da sua dinâmica
o Tynianov afirma que tudo o que é literário só pode ser determinado pelas
condições anteriores do sistema literário
▪ Eles fazem do processo de automatização ou de desautomatização,
uma espécie de lei natural, análoga a um efeito de desgaste
mecânico, de mudança poética

A redução do contexto

➢ Ao nível da análise externa, que pensando a relação entre o mundo social e as


obras culturais na lógica do reflexo, vincula diretamente as obras às características
sociais dos autores – à sua origem social – ou dos grupos que eram seus
destinatários reais ou supostos, cujas expetativas eles supostamente atendem
➢ Bourdieu acredita que o método biográfico é o mais favorável
o Esgota-se em buscar nas caraterísticas da existência singular do autor, os
princípios explicativos que só podem se revelar se levarmos em conta,
enquanto tal, o microcosmo literário no qual ele está inserido
➢ A análise estatística que procura estabelecer as caraterísticas estatísticas da
população dos escritores em diferentes momentos ou das diferentes categorias de
escritores em um dado momento não é muito melhor
o Ela aplica a populações pré-construídas, princípios de classificação também
pré-construídos
o Para assegurar um minino de rigor, seria preciso primeiro estudar a história
do processo de constituição de listas de autores sobre os quais o estatístico
trabalha
▪ O processo de canonização e de hierarquização que leva a delimitar
o que é, em um dado momento, a população de escritores
consagrados

26
o Por outro lado, seria preciso estudar a génese dos sistemas de classificação,
nomes de épocas, de gerações, de escolas, de movimentos, de géneros,
etc…, que usamos na avaliação estatística e que são instrumentos e alvos
de lutas
o Sem irmos pela genealogia crítica, estamos expostos a enfatizar na
pesquisa, o que é problemático na realidade
▪ Os limites da população de escritores
• Aqueles que são reconhecidos pelos mais reconhecidos dos
escritores
• Direito de se dizerem escritores
➢ Se não fizermos uma análise das divisões reais do campo antes, estamos a arriscar,
por efeito dos reagrupamentos que a lógica da análise estatística impõe, destruir as
coesões reais e assim, as relações estatísticas fundadas que apenas uma análise
armada de um conhecimento da estrutura específica do campo poderia apreender
➢ As pesquisas de inspiração marxista, tentam relacionar as obras à visão de mundo
ou aos interesses sociais de uma classe social
o Nesse caso, pressupõe-se que compreender a obra = compreender a visão
de mundo do grupo social que estaria a ser expressa através do artista
o Seria preciso analisar os pressupostos dessas imputações de paternidade
espiritual que acabam por supor que um grupo pode agir diretamente como
causa determinante ou causa final sobre a produção da obra
o Podemos supor que possamos chegar a determinar as funções sociais da
obra
▪ Os grupos e os interesses a que ela serve ou que ela exprime,
teríamos avançado, por pouco que fosse, na compreensão da
estrutura da obra?
➢ Ao afirmar que a religião é o “ópio do povo” não ensina grande coisa sobre a
estrutura da mensagem religiosa
o A lógica da exposição de Bourdieu é a estrutura da mensagem que é
condição de realização da função, se houver
➢ Pouco avançam na compreensão da estrutura da obra
o Foi contra esta espécie de curto-circuito redutor que Bourdieu desenvolveu
a teoria do Campo
➢ A atenção exclusiva às funções levava a ignorar a questão da lógica interna dos
objetos culturais, a sua estrutura como linguagens
o Mas, no fundo, levava a esquecer os grupos que produzem esses objetos
através dos quais eles também preenchem funções
o Max Weber com a sua teoria dos agentes religiosos, ajuda a entender-se
melhor a visão de Bourdieu
▪ A teoria de Weber tem o mérito de reintroduzir os especialistas, os
seus interesses específicos, ou seja, as funções que as suas
atividades e os seus produtos, as doutrinas religiosas, o corpous
jurídicos, preenchem para eles, não percebeu que os universos dos
clérigos são microcosmos sociais, campos que têm as suas próprias
estruturas e leis

27
O microcosmo literário
➢ O microcosmo literário aplica o modo de pensar relacional ao espaço social dos
produtores
o O microcosmo social, no qual se produzem obras culturais, campo literário,
artístico, científico, etc…
o É um espaço de relações objetivas entre posições e não podemos
compreender o que ocorre a não ser que situemos cada agente ou cada
instituição em suas relações objetivas com todos os outros
➢ No horizonte dessas relações de força específicas, e de lutas que têm por objetivo
conservá-las ou transformá-las, que se engendram as estratégias dos produtores, a
forma de arte que defendem, as alianças que estabelecem, as escolas que fundam, e
isso por meio dos interesses específicos que são ai determinados
➢ As determinações externas invocadas pelos marxistas só podem exercer-se pela
intermediação das transformações da estrutura do campo resultante delas
➢ O campo exerce um efeito de refração
o Apenas conhece as leis específicas do seu funcionamento, e com isso pode
compreender as mudanças nas relações entre escritores, entre defensores
dos diferentes géneros ou entre diferentes conceções artísticas que aparecer

Posições e tomadas de posição

➢ A lógica de funcionamento dos campos faz com que os diferentes possíveis,


constitutivos do espaço dos possíveis em um momento dado do tempo, possam
aparecer aos agentes e aos analistas como incompatíveis de um ponto de vista
lógico, quando o são apenas de um ponto de vista sociológico
o É o caso dos diferentes métodos de análise das obras que Bourdieu
examinou
➢ A lógica da luta, e da divisão em campos antagónicos oferecidos pode fazer com
que pareçam inconciliáveis opções que em certos casos nada separa logicamente
➢ Cada campo se coloca ao se opor
o Não pode perceber os limites que impõe a si mesmo no próprio ato
constituir-se
o Foucault disse que para construir o espaço de possíveis, acredita que se
torna obrigado a excluir o espaço social do qual esse espaço é a expressão
➢ O único obstáculo à superação e à síntese são os antagonismos sociais que
sustentam as oposições teóricas e os interesses vinculados a esses antagonismos
➢ Ao termos conservado o que adquirimos acerca das outras abordagens –
internalista, externalistas, formalistas e sociologizantes – podemos pôr em relação
o espaço das obras (formas, estilos, etc…), concebido como um campo de tomadas
de posição que só podem ser compreendidas relacionalmente, à maneira de um
sistema de fonemas
o Sistema de separações diferenciais e o espaço das escolas ou dos autores,
concebido como sistema de posições diferenciais no campo da produção
➢ Assim até ao momento ficam vários problemas resolvido, principalmente o da
mudança
o Um exemplo é: o motor do processo de banalização e de desbanalização,
que os formalistas russos descrevem, não está inscrito nas próprias obras,
mas na oposição, constitutiva de todos os campos de produção cultural e

28
que assume a sua forma paradigmática no campo religioso, entre a
ortodoxia e a heresia
▪ É significativo que Weber, no tema da religião, fale a propósito das
funções do sacerdócio e dos profetas, de banalização ou rotinização
e de desbanalização ou de desrotinização
➢ O processo que propicia as obras é o produto da luta entre os agentes que em
função da sua posição no campo, vinculada ao seu capital específico, tem interesse
na conservação
o Ou seja, na rotina e na rotinização, ou na subversão que frequentemente
toma a forma de uma volta às origens, à pureza das fontes e à critica
herética
➢ A orientação da mudança depende do estado do sistema de possibilidades que são
oferecidas pela história e que determinam o que é possível e impossível de fazer,
pensar em um dado momento do tempo, em um campo determinado
o Mas ela depende também dos interesses que orientam os agentes – em
função da sua posição no polo dominante ou no polo dominado no campo –
em direção a possibilidades mais seguras, mais estabelecidas, ou em
direção aos possíveis mais originais entre aqueles que já estão socialmente
constituídos, ou até em direção a possibilidades que seja preciso criar do
nada
➢ A análise de obras culturais tem por objeto a correspondência entre duas estruturas
homólogas, a estruturas das obras – dos géneros, mas também das formas, estilos e
temas – e a estrutura do campo literário, de forças que é inseparavelmente um
campo de lutas
➢ O motor da mudança nas obras culturais, língua, arte, literatura e ciência reside nas
lutas
o O lugar delas são os campos de produção correspondentes
▪ Essas lutas que visam a conservar ou a transformar a relação de
forças instituída no campo de produção têm o efeito de conservar ou
de transformar a estrutura do campo das formas que são
instrumentos alvos nestas lutas
➢ As estratégias dos agentes e instituições que estão nas lutas literárias
o As suas tomadas de posição dependem da posição que eles ocupem na
estrutura do campo
▪ Na distribuição do capital simbólico específico, institucionalizado
ou não e que através da mediação das disposições constitutivas dos
seus habitus inclina-os seja a conservar seja a transformar a
estrutura dessa distribuição
• Logo, perpetuam as regras do jogo ou a subvertê-las
o Essas estratégias, através dos alvos da luta entre os dominantes e os
pretendentes, as questões a propósito das quais eles se enfrentam, também
dependem do estado da problemática legítima, isto é, do espaço de
possibilidades herdado das lutas anteriores, que tende a definir o espaço de
tomadas de posição possíveis e a orientar a busca de soluções e
consequentemente a evolução da produção
➢ A relação que se estabelece entre as posições e as tomadas de posição, nada tem de
uma determinação mecânica:
o Cada produtor, escritor, constrói o seu próprio projeto criador em função da
sua perceção das possibilidades disponíveis, oferecias pelas categorias de
perceção e de apreciação, inscritas no Habitus por uma trajetória e também

29
em função da propensão a acolher ou a recusar tal ou qual desses possíveis,
que os interesses associados a sua posição no jogo lhe inspiram
➢ RESUMINDO UMA TEORIA COMPLEXA
o Cada autor enquanto ocupa uma posição em um espaço, em um campo de
forças que é também um campo de lutas, visando conservar ou transformar
o campo de forças, só existe e subsiste sob as limitações estruturadas do
campo, mas também que ele afirma a distância diferencial constitutiva da
sua posição, do seu ponto de vista, entendido como vista a partir de um
ponto
▪ Assumindo uma das posições
o Situado, ele não pode deixar de situar-se, distinguir-se e isso, fora de
qualquer busca pela distinção
▪ Ao entrar no jogo, ele aceita taticamente as limitações e as
possibilidades inerentes ao jogo, que se apresentam a ele como a
todos aqueles que a tenham a perceção desse jogo, como “coisas a
fazer”, formas a criar, maneiras a inventar, em suma, como
possíveis dotados de uma maior ou menor “pretensão de existir”
➢ A tensão entre as posições, constitutiva da estrutura do campo determina a sua
mudança
o Através de lutas a propósito de alvos que são eles próprios produzidos por
essas lutas
o Mas por maior que seja a autonomia do campo, o resultado dessas lutas
nunca é completamente independente de fatores externos

O campo no final do século


➢ A oposição entre arte e dinheiro, que estrutura o campo do poder, reproduz-se no
interior do campo literário, na forma da oposição entre a arte “pura”,
simbolicamente dominante, mas economicamente dominada e arte comercial, sob
2 formas:
o O teatro tradicional que almeja grandes lucros e consagração burguesa – a
academia
o Arte industrial, o vandeville, romance popular (folhetim), o jornalismo, o
cabaré
➢ Temos então uma estrutura cruzada, homóloga à estrutura do campo do poder, que
opõe:
o Intelectuais
▪ Ricos em capital cultural
▪ Pobres em capital económico
o Capitães da indústria e do comércio
▪ Ricos em capital económico
▪ Pobres em capital cultural
➢ De um lado, máxima independência em relação às demandas do mercado e
exaltação dos valores desinteressados
o Por outro, dependência direta, recompensada pelo sucesso imediato
➢ Temos então as caraterísticas reconhecidas da oposição entre dois subcampos, o da
produção restrita – mercado de si mesmo - o da grande produção
➢ Esta oposição principal é recortada por uma oposição secundária
o Conforme a qualidade das obras e a composição social dos públicos
correspondentes
➢ No polo mais autónomo, o lado dos produtores para produtores

30
o Essa oposição se estabelece entre a vanguarda consagrada e a vanguarda
nascente – os jovens – ou a vanguarda envelhecida, mas não consagrada
➢ No polo mais heterónimo
o A oposição é menos nítida
o Estabelecida principalmente de acordo com a qualidade social dos públicos
▪ Opondo por exemplo, o teatro tradicional e o romance a todas as
formas de arte industrial

➢ Pela figura vemos que o campo literário está situado no polo dominado do campo
do poder, e este está situado no polo dominante da sociedade
➢ Como se vê, nos finais do século 19, a oposição principal sobrepõe-se
parcialmente à oposição entre os géneros
➢ Temos um espaço em duas dimensões e duas formas de luta e história
o As lutas entre os artistas engajados nos dois subcampos, o “puro” e o
comercial sobre a própria definição do que seja um escritor e sobre o
estatuto da arte e do artista
➢ O polo mais autónomo, no interior do subcampo de produção restrita, as lutas entre
vanguarda consagrada e a nova vanguarda
➢ Os historiadores da literatura, não sabiam da visão dos produtores para produtores,
que reivindicam, com sucesso, o monopólio do nome de artista, não sabem e nem
percebem que o subcampo de produção restrita e toda a representação do campo e
de sua história é falseado
➢ As mudanças que ocorrem no interior do campo de produção originam-se da
própria estrutura do campo
o Ou seja, das oposições sincrónicas entre posições antagónicas no campo
global
▪ Cujo princípio é o grau de consagração no interior –
reconhecimento – ou no exterior – notoriedade – do campo, e
tratando-se da posição no subcampo de produção restrita, da
posição na estrutura de distribuição do capital específico de
reconhecimento

31
O sentido da história
➢ Originando-se da própria estrutura do campo
o As mudanças que ocorrem no campo de produção restrita são amplamente
independentes de mudanças externas cronologicamente contemporâneas
que podem parecer determiná-las
▪ Mesmo se a sua consagração posterior pode dever alguma coisa a
esse encontro de séries causais relativamente independentes
➢ É a luta entre detentores e os precedentes, entre os detentores do título e os seus
desafiantes que faz a história
o O envelhecimento dos artistas e autores, das escolas e das obras, é
resultado da luta entre aqueles que marcaram a época e que lutam para
persistir e aqueles que só podem marcar época enviando para o passado
aqueles que tem interesse em eternizar o estado presente e em parar a
história
o Nas lutas, que no interior de cada género opõem à vanguarda consagrada
▪ a nova vanguarda é levada a colocar em questão os próprios
fundamentos do género
• alegando um retorno às fontes, à pureza das origens
o Em consequência, a história literária tende a
apresentar.se como um processo de purificação
através do qual cada um dos géneros, por meio de
um incessante retorno crítico sobre si, sobre os seus
princípios, os seus pressupostos, reduz-se, cada vez
mais, inteiramente a sua quintessência mais depurada
➢ Os produtores de vanguarda são determinados pelo passado até nas inovações
destinadas a superá-lo inscritas, como em uma matriz original, no esboço dos
possíveis imanente ao próprio campo
➢ O que se produz no campo é cada vez mais dependente da história específica do
campo e mais difícil de deduzir ou prever a partir do conhecimento do estado do
mundo social no momento considerado
➢ A autonomia relativa do campo sempre se realiza melhor nas obras que devem
suas propriedades formais e seu valor apenas à estrutura, ou seja, à história do
campo, desqualificando as interpretações que, por um curto-circuito, julgam-se no
direito de passar diretamente do que se passa no mundo ao que se passa no campo
➢ No polo da produção, não há lugar para primitivos, só para artistas-objetos
o Não há lugar para uma receção ingénua de primeiro grau
▪ A obra produzida de acordo com a lógica de um campo fortemente
autónomo pede uma perceção diferencia, distinta, atenta às
distâncias em relação a outras obras, contemporâneas ou passadas
➢ Resolve-se assim o problema epistemológico colocado para a ciência pela
existência de artes “puras” e de teorias formalistas que explicitam os seus
princípios
o É na história que reside o princípio da liberdade em relação à história
o A história social do processo de autonomização pode dar conta da liberdade
em relação ao “contexto social” que a postulação da sua relação direta com
as condições sociais do momento, anula no próprio movimento para
explicá-la.

32
Disposições e tragédias

➢ A relação que se estabelece entre os agentes singulares, os seus habitus e as forças


do campo
o Relação que objetiva em uma trajetória e em uma obra
➢ Diferentemente das biografias comuns, a trajetória descreve a série de posições
sucessivamente ocupadas pelo mesmo escritor em estados sucessivos do campo
literário, tendo ficado claro que é apenas na estrutura de um campo
➢ É no interior de um estado determinado do campo, definido por um certo estado do
espaço de possíveis, em função da posição +/- singular que ele ocupa e que ele
avalia diferencialmente conforme as disposições que deve à origem social de que o
escritor vem

A ilusão biográfica
A história de vida é uma dessas noções do senso comum que entraram como contrabando
no universo científico. Falar de história de vida é pelo menos pressupor que uma vida é
inseparavelmente o conjunto dos acontecimentos de uma existência individual concebida
como uma história e o relato dessa história. Isto é aceitar tacitamente a filosofia da história
no sentido de sucessão de acontecimentos históricos.
Decorre dessa teoria o fato de que a vida constitui um conjunto coerente e orientado, que
deve ser apreendido como expressão unitária de uma “intenção” subjetiva e objetiva, de
um projeto. O relato, seja ele biográfico ou autobiográfico, propõe acontecimentos que,
sem terem se desenrolado sempre em sua estrita sucessão cronológica, pretendem
organizar-se em sequências ordenadas segundo relações inteligíveis. É provável que esse
ganho de coerência esteja na origem do interesse que os investigados têm pelo
empreendimento biográfico. Essa propensão a tomar-se o ideólogo de sua própria vida,
selecionando certos acontecimentos significativos e estabelecendo entre eles conexões
para lhes dar coerência, conta com a cumplicidade natural do biógrafo.
Não podemos nos furtar à questão dos mecanismos sociais que favorecem ou autorizam a
experiência comum da vida como unidade e como totalidade. De fato, como responder,
sem sair dos limites da sociologia, à velha indagação empirista sobre a existência de um
eu irredutível à rapsódia das sensações singulares? Sem dúvida, podemos encontrar no
habitus o princípio ativo da unificação das práticas e das representações. Mas essa
identidade prática somente se entrega à intuição na inesgotável série de suas manifestações
sucessivas, de modo que a única maneira de apreendê-la como tal consiste talvez em tentar
recuperá-la na unidade de um relato totalizante.
O mundo social dispõe de todo tipo de instituições de totalização e de unificação do eu. A
mais evidente é, obviamente, o nome próprio. Por essa forma institui-se uma identidade
social constante e durável, que garante a identidade do indivíduo biológico em todos os
campos possíveis onde ele intervém como agente, isto é, em todas as suas histórias de vida
possíveis. É o nome próprio “Marcel Dassault” que assegura a constância através do
tempo e a unidade através dos espaços sociais dos diferentes agentes sociais que são a
manifestação dessa individualidade: o dono de empresa, o dono de jornal, o deputado, o
produtor de filmes etc.; e não é por acaso que a assinatura, que autentica essa identidade, é
a condição jurídica das transferências de um campo a outro, isto é, de um agente a outro,
das propriedades ligadas ao mesmo indivíduo instituído. O nome próprio é o fundamento
da unidade das sucessivas manifestações do portador e da possibilidade socialmente

33
reconhecida de totalizar essas manifestações em registros oficiais, curriculum vitae, cursus
honorum, ficha judicial, necrologia ou biografia. A nominação e a classificação
introduzem divisões nítidas, absolutas, indiferentes às particularidades circunstanciais e
aos acidentes individuais, no fluxo das realidades biológicas e sociais. Eis por que o nome
próprio não pode descrever propriedades nem veicular nenhuma informação sobre aquilo
que nomeia: como o que ele designa é uma rapsódia heterogênea e disparatada de
propriedades biológicas e sociais em constante mutação, todas as descrições seriam
válidas somente nos limites de um estágio ou de um espaço.
Assim o nome próprio é o suporte daquilo que chamamos de estado civil, isto é, desse
conjunto de propriedades (nacionalidade, sexo, idade etc.) ligadas a pessoas às quais a lei
civil associa efeitos jurídicos e que instituem as certidões de estado civil. Produto do rito
de instituição inaugural que marca o acesso à existência social, ele é o verdadeiro objeto
de todos os sucessivos ritos de instituição ou de nominação através dos quais é construída
a identidade social: essas certidões de atribuição, produzidas sob o controle e com a
garantia do Estado, também são designações válidas para todos os mundos possíveis, que
desenvolvem uma verdadeira descrição oficial dessa espécie de essência social,
transcendente às flutuações históricas, que a ordem social institui através do nome próprio.
Tudo leva a crer que o relato de vida tende a aproximar-se do modelo oficial da
apresentação oficial de si, carteira de identidade, ficha de estado civil, curriculum vitae,
biografia oficial, bem como da filosofia da identidade que o sustenta. As leis que regem a
produção dos discursos na relação entre um habitus e um mercado se aplicam a essa forma
particular de expressão que é o discurso sobre si; e o relato de vida varia, tanto em sua
forma quanto em seu conteúdo, segundo a qualidade social do mercado no qual é
oferecido – a própria situação da investigação contribui inevitavelmente para determinar o
discurso coligido [reunido]. Mas o objeto desse discurso, isto é, a apresentação pública e a
oficialização de uma representação privada de sua própria vida, pública ou privada,
implica um aumento de coações e de censuras específicas. E tudo leva a crer que as leis da
biografia oficial tenderão a se impor muito além das situações oficiais, através dos
pressupostos inconscientes da interrogação e também através da situação de investigação,
que poderá variar desde essa forma doce de interrogatório oficial que é a investigação
sociológica até a confidência; através, enfim, da representação mais ou menos consciente
que o investigado fará da situação de investigação, em função de sua experiência direta ou
mediata de situações equivalentes (entrevista de escritor célebre ou de político, situação de
exame etc.), e que orientará todo o seu esforço de apresentação de si, ou melhor, de
produção de si.
Tentar compreender uma vida como uma série de acontecimentos sucessivos, sem outro
vínculo que não a associação a um “sujeito” cuja constância certamente é a de um nome
próprio, é quase tão absurdo quanto tentar explicar a razão de um trajeto no metrô sem
levar em conta a matriz das relações objetivas entre as diferentes estações. Os
acontecimentos biográficos se definem como colocações e deslocamentos nos diferentes
estados sucessivos da estrutura da distribuição das diferentes espécies de capital que estão
em jogo no campo considerado. Não podemos compreender uma trajetória sem que
tenhamos previamente construído os estados sucessivos do campo no qual ela se
desenrolou e, logo, o conjunto das relações objetivas que uniram o agente considerado ao
conjunto dos outros agentes envolvidos no mesmo campo e confrontados com o mesmo
espaço dos possíveis.
A necessidade desse desvio pela construção do espaço parece tão evidente quando é
anunciada que seria difícil compreender que não se tenha imposto de imediato a todos os
pesquisadores, se não soubéssemos que o indivíduo, a pessoa, o eu, para o qual nos
34
conduz irresistivelmente uma pulsão narcísica socialmente reforçada, é também a mais
real, em aparência, das realidades, o ens realissimum, imediatamente entregue à nossa
intuição fascinada, intuitus personae.

Economia dos bens simbólicos


➢ Os bens simbólicos são situados espontaneamente pelas dicotomias correntes do
lado do espiritual
o Considerado como fora da capacidade de apreensão da análise científica
➢ Neste texto Bourdieu vai descrever mundos quem têm em comum o facto de
criarem condições objetivas para que o agente social tenha interesse no
"desinteresse".
Dom e troca por troca

➢ Dom gratuito, quer dizer risco e que não há retribuição.


➢ Pretende-se destacar os certos princípios gerais da economia simbólica
➢ Mauss descrevia a troca de dons como uma sucessão descontinua de atos géneros
➢ Lévi-Strauss definia-a como uma estrutura de reciprocidade transcendente aos atos
de troca, em que o dom remete para o contradom
➢ As definições de troca de dons são diferentes por exemplo, Mauss diz que esta
teoria é uma sucessão descontínua de atos generosos, enquanto Strauss designa a
como sendo uma estrutura em que o dom remete para o contradom, porem a
autora, atribui um papel fundamental ao intervalo temporal entre dom e contradom.
➢ Bourdieu investigou o ausente destas duas análises
o O papel determinante do intervalo temporal entre o dom e o contradom
o Visto que muitas as vezes os agentes não recebiam de forma imediata
aquilo que pediam em troca
o Não se retribui de imediato o que se recebeu – o que equivaleria a recusá-lo
➢ Esse intervalo entre o dom e o contradom tem como função formar uma barreira
entre eles, de forma a permitir aos 2 atos perfeitamente simétricos, surgirem como
um só, surgirem como atos únicos, sem ligação entre si.
o Esse intervalo se dá no tempo que se dá e se recebe, e ainda assim há
pessoas generosas que acreditam que ao darem, irão receber, mas muitas
vezes isso não acontece
➢ O intervalo de tempo que distingue a troca de dons da troca por troca, existe para
permitir ao que dá viver o seu dom como dom sem retribuição, ao que dá viver o
seu contradom como gratuito e não determinado pelo dom inicial.
➢ Se podemos viver o nosso dom como sendo gratuito, generoso, que não se destina
a obter um pagamento como retribuição, é antes do mais porque há um risco de
que não haja retribuição, portanto há uma suspensão, incerteza, que faz existir tal
como o intervalo entre o momento que se dá e o momento em que se recebe
➢ Nas sociedades como a de Cabila, a coação é muito grande e a liberdade de não
retribuir é ínfima
o Mas a possibilidade existe e a certeza deixa de ser absoluta
➢ Tudo se passa, como se o intervalo de tempo, que distingue a troca de dons da
troca por troca, existisse para permitir ao que dá viver o seu dom como dom sem
retribuição, e ao que retribui viver o seu contradom como gratuito e não
determinado pelo dom inicial
➢ O intervalo de tempo ajuda no facto de que pode dar a perceber ao dom que não
precisa de uma troca de favor para viver, como também a entender a quem
35
retribuiu que o pode conseguir sem uma troca de favor inicial, pois a verdade é que
essas trocas se tornam numa obrigação para os dois.
➢ Não se pode compreender a existência do intervalo temporal
o A não ser aventado a hipótese de que aquele que dá e aquele que recebe
colaboram, sem o saber, num trabalho de dissimulação tendente a denegar a
verdade da troca, a troca por troca, que representa o aniquilamento da troca
de dons
➢ O importante na troca de dons
o Através do intervalo de tempo interposto os dois agentes da troca
trabalham, sem o sabem e sem se combinarem, para mascarar ou recalcar a
verdade objetiva do que fazem
➢ A primeira propriedade da economia das trocas simbólicas
o Práticas que foram sempre verdades duplas, difíceis de conjugar
▪ É preciso levemos em conta a dualidade em causa
o Os agentes podem ser ao mesmo tempo mistificadores de si próprios e dos
outros
▪ E mistificados, porque mergulham desde a infância num universo,
onde a troca de dons se acha socialmente instituída em disposições
e crenças e escapa por isso aos paradoxos que artificialmente
suscitamos quando nos colocamos na lógica da consciência e da
livre decisão de um individuo isolado
o Quando se esquece que aquele de dá e aquele que recebe foram preparados
para e predispostos a, por todo o trabalho de socialização, entrar sem
intenção nem cálculo de ganho na troca generosa
▪ Cuja lógica se lhes impõe objetivamente, podemos concluir que o
dom gratuito não existe, ou que é impossível, visto que só podemos
então os 2 agentes como calculadores que se fixam o projeto
subjetivo de fazerem o que objetivamente fazem
• Segundo o modelo levi-straussiano, uma troca obedece à
lógica da reciprocidade
➢ A segunda propriedade da economia das trocas simbólicas – tabu da explicitação
o Cuja forma por excelência é o preço
o Dizer o que se passa, declarar a verdade da troca, ou como se diz “a
verdade dos preços” – quando se dá um presente, tira-se a etiqueta com o
preço – é aniquilar a troca
o Tabu de explicação é outra troca simbólica, declarar a verdade da troca,
dizer a verdade dos preços é aniquilar a trocar, é como dar um presente e
tirar o preço.
o Os comportamentos cujo paradigma é a troca de dons, põem um problema
difícil para a sociologia
▪ É obrigada a dizer o que é obvio e deve permanecer tácito, não dito,
sob pena de ser destruído enquanto tal
➢ Do mesmo modo que podemos utilizar a economia das trocas simbólicas como um
analisador da economia da troca económica, podemos também inversamente pedir
à economia da troca económica que sirva de analisador da economia das trocas
simbólicas, o que distingue essa economia das trocas económicas por oposição à
economia dos bens simbólicos funciona como uma expressão simbólica do
consenso sobre a taxa de cambio ou intercâmbio económicos
o Este consenso encontra-se presente numa economia das trocas simbólicas,
mas os seus termos e condições são deixados num estado implícito
➢ Na troca de dons, o preço deve ser deixado implícito
36
➢ Tudo se passa como se os agentes se pusessem de acordo para evitarem pôr-se
explicitamente de acordo sobre o valor relativo das coisas trocadas, para recusarem
toda e qualquer definição prévia explícita dos temos da troca
➢ Recusar a lógica do preço é uma maneira de recusar o cálculo e a calculabilidade
➢ O facto de o consenso sobre a taxa de cambio ser explicito sob a forma do preço é
o que torna possíveis a calculabilidade e a previsibilidade
o Os agentes sabem com o que contam
➢ O que arruína toda a economia das trocas simbólicas é a economia das coisas sem
preço, nos dois sentidos
➢ O facto de o preço não ser exato acaba por não existir contabilidade e preço exato,
já com o pagamento da taxa do cambio os agentes sabem com o que contam.
➢ O silêncio sobre a verdade da troca é um silêncio partilhado
➢ Os economistas que não concebem ação que não seja a racional, calculada, em
nome de uma filosofia finalista e intelectualista da ação, falam de common
knowledge
o Esta informação é quando podemos dizer que cada um sabe que cada um
possui essa informação
➢ No entanto esse silencio acaba por ser um silencio compartilhado tudo isso passa
por uma ideia de tabu.
➢ A teoria da ação, com a noção de habitus, equivale a dizer que a maior parte das
ações humanas tem por princípio uma coisa completamente diferente da intenção
o Disposições adquiridas que se fazem com que a ação possa e deva ser
interpretada como orientada para este ou aquele fim sem que possamos por
isso estabelecer que teve por origem a mira consciente de tal fim
o Consiste no facto de o individuo saber o que está a fazer, e saber o que vai
acontecer sem precisarem de lhe dizer
o A ÚNICA COISA QUE é exigida, é que os indivíduos respeitem as regras,
que haja um esforço.
➢ A troca de dons é concebida como um paradigma da economia dos bens
simbólicos
o Opõe-se à troca por troca da economia económica na medida em que tem
por origem não um sujeito calculador, mas sim um agente socialmente
predisposto a entrar, sem intenção nem cálculo, no jogo da troca

Alquimia Simbólica

➢ É uma hipocrisia estrutural impõe-se particular aos dominantes, segundo a fórmula


noblesse oblige
o para os Cabilos, a economia económica é uma economia de mulheres
▪ os homens de honra não podem pedir nada em troca
▪ as mulheres dizem a verdade dos preços e prazos
• elas estão excluídas da economia da troca simbólica
➢ A denegação da economia realiza-se num trabalho objetivamente orientado para a
transfiguração das relações económicas e das relações de exploração,
transfiguração pelo verbo, mas também pelos atos
➢ A troca de dons é um deles, graças ao intervalo de tempo faz-se aquilo que se faz,
mas ao mesmo tempo não aparenta fazer)
➢ Os agentes envolvidos numa economia das trocas simbólicas despendem uma parte
considerável da sua energia na elaboração destes eufemismos

37
o os agentes envolvidos nas trocas simbólicas acabam por nem se esforçar
muito e tentam adaptar ao gosto do destinatário, mas sem qualquer tipo de
esforço
➢ A economia económica é mais económica na medida em que permite economizar o
trabalho de construção simbólica objetivamente tendente a dissimular a verdade
objetiva da prática
➢ A troca de dons pode acabar por ser também uma contribuição de forma a reforçar
a comunhão em que a mulher dá algo com valor social a outra, já os homens são
responsáveis pelas grandes trocas descontinuas e extraordinários, esses atos fazem
com que haja uma obrigação de retribuir
➢ Para que uma troca simbólica funcione é necessário que haja perspetivas e
apreciação idênticas.
➢ A dominação simbólica assenta no desconhecimento, e, portanto, no
reconhecimento dos princípios em nome dos quais exerce,
➢ O arrendamento em troca de uma quinta parte da colheita não pode funcionar em
sociedades que ignorem a coação do mercado, a menos que haja ligações, e essas
ligações so acontecem quando filho é obrigado a casar e a dar presentes.
➢ O trabalho de domesticação (filho mais novo), que é necessário para transformar a
verdade objetiva de uma relação é obra de todo o grupo, que encoraja e
recompensa o mais novo, para que a alquimia funcione como na troca de dons, é
preciso que seja sustentada por toda a estrutura social e pelas estruturas mentais e
pelas disposições produzidas por essa estrutura social
o É preciso que haja um mercado para as ações simbólicas, que haja
recompensas, ganhos simbólicos que podem converter-se em material, que
seja possível ter interesse no desinteresse, que aquele que trata bem o seu
criado seja recompensado

➢ O capital simbólico é qualquer propriedade, força física, riqueza, valor guerreiro


em que os agentes sociais dotados das categorias de perceção e de apreciação
conseguem percebê-la, conhecê-la e reconhecê-la, se torna simbolicamente eficaz,
como uma verdadeira força mágica
o Uma propriedade que, por responder a expetativas coletivas, socialmente
constituídas, as crenças, exerce uma espécie de ação à distância, sem
contato físico
➢ No entanto uma ordem obedecida, é um ato quase mágico
o É uma exceção à lei da conservação da energia social
o Para que o ato simbólico exerça, sem dispêndio de energia visível, esta
espécie de eficácia mágica, é preciso que um trabalho preliminar, muitas
38
vezes invisível, e em todo o caso esquecido, tenha produzido, entre os quais
estão submetidos ao ato de imposição, de injunção, as disposições
necessárias para que tenham o sentimento de ter de obedecer sem se porem
sequer a questão da obediência
➢ A violência simbólica é a violência que extorque submissões que não são sequer
percebidas como tais apoiando-se em expetativas coletivas, crenças socialmente
inculcadas
➢ Como a teoria da magia, a teoria da violência simbólica assenta numa teoria da
crença, numa teoria da produção da crença, do trabalho de socialização necessária
para produzir agentes dotados dos esquemas de perceção e de apreciação que lhes
permitirão perceber as injunções inscritas numa situação ou num discurso e
obedecer-lhes
➢ A crença é uma adesão imediata, uma submissão dóxica às injunções do mundo,
quando esse concorda com as estruturas implicadas na injunção que lhe é dirigida,
isto é, diz-se que tudo era obvio e que não havia nada que pudesse fazer, fazendo
assim dele um desafio de honra, um verdadeiro homem de honra.
➢ Aquele que responde às expectativas coletivas, ajusta-se imediatamente às
exigências inscritas numa situação, tem todos os ganhos no mercado dos bens
simbólicos, tem o ganho da virtude e do desafogo
➢ A ultima característica importante, este capital simbólico é comum a todos os
membros de um grupo, pelo facto de existir uma relação entre propriedades,
detidas por agentes, e categorias de perceção, que constituem e constroem
categorias sociais, assente na união e na separação, liga-se a grupos, e é um
instrumento e objeto em jogo de estratégias coletivas, visando conservá-lo ou
aumentá-lo e de estratégias individuais visando adquiri-lo ou conservá-lo, por meio
de associação com o grupos dele dotados e distinguindo-se dos grupos pouco
dotados ou desprovidos
➢ Uma das dimensões do capital simbólico, nas sociedades diferenciadas, a
identidade étnica, que pode ser um valor positiva ou negativa.

39
Tabu do cálculo
➢ A constituição da economia é acompanhada pela constituição negativa de ilhotas
da economia pré-capitalista
➢ Este processo corresponde à emergência de um campo, de um espaço de jogo, cujo
princípio é a lei do interesse material
o Onde a troca por troca acaba por ser cínica, onde os próprios familiares são
obrigados a pagar como outros, onde não há preferência.
➢ Para os cabilos a moral dos negócios do mercado opõe-se à lei moral da boa-fé que
refere que nem à família se pode emprestar a juros, podemos concluir que interesse
é interesse, ganho é ganho.
➢ A economia doméstica acha-se constituída em exceção, por um efeito de inversão,
onde os parentescos podem também envolver-se nas trocas.
o As trocas devem desenvolver condições favoráveis, e os agentes sociais
podem confessar-se, dizer onde estão, para o que é, calcular etc.
➢ Com a constituição da economia e generalização das trocas monetárias e do
espírito de cálculo, a economia doméstica deixa de fornecer o modelo de todas as
relações económicas, associando a sua lógica à do amor não mercantis.
o As trocas mercantis são relações sexuais que têm um preço, no caso as
mulheres que não têm utilidade material não têm direito a isso.

O puro e o comercial

➢ A economia de bens culturais, encontramos a maior parte das características da


economia pré-capitalista.
➢ A denegação do económico acaba por ser um mundo invertido em que as sanções
positivas do mercado são indiferentes ou até mesmo negativas.
➢ Este texto realça o facto de artistas bons não terem o seu reconhecimento, que já
estejam destinados ao fracasso visto que não têm grande influência na sociedade
como alguns pintores
➢ E é um mundo ao contrário pelo simples facto de as sanções negativas poderem
tornar-se sanções positivas, onde a verdade dos preços é sistematicamente excluída
➢ Toda a linguagem é eufemística.
➢ Neste texto o uso da linguagem é importante, e é ainda importante não as
confundirmos.
➢ O capital do artista é um capital simbólico e nada se parece mais as lutas de honra
que encontramos entre os Cabilos do que as lutas intelectuais, em que o objeto em
jogo esconde outros objetos que são pontos de honra postos em jogos.
➢ O autor mostra o facto de realmente muitos agentes serem injustiçados porque
realmente têm muito futuro e tudo é questão de poder e influencia o que gera lutas
entre os agentes, pois quem realmente merece não consegue.

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➢ O empreendimento religioso obedece aos princípios na análise da economia pré-
capitalista.
➢ A economia doméstica é uma forma transfigurada, o caráter paradoxal da
economia da oferenda, do benevolato, do sacrifício, revela-se de maneira visível no
caso da igreja católica atual
o Este empreendimento com uma dimensão económica fundada na
denegação da economia mergulha num universo onde, com a generalização
das trocas monetárias, a busca da maximização do ganho, se tornou o
principio da maior parte das práticas correntes, de tal maneira que todo e
qualquer agente tende a avaliar em dinheiro o valor do seu trabalho e do
seu tempo

➢ Existem duas verdades no empreendimento religioso, a verdade económica e a


verdade religiosa em que a parte económica das práticas está presente como a
economia dos bens simbólicos.
➢ A igreja é uma espécie de um banco, mas sem qualquer tipo de troca, ajuda os
outros na alimentação ou em doações, o empreendimento religioso é uma
dimensão económica que não se pode confessar como tal, pois ajuda sem precisar
de um ato económico.
41
➢ Os agentes religiosos acreditam no que fazem, os sacristões oferecem serviços
divinos, não recebendo salário, alias essa palavra nem existe nos empreendimentos
religiosos, visto que é uma grande ofensa, pois eles deram a sua vida para estar ali,
abdicaram de tudo para servir a deus logo não esperam qualquer tipo de troca ou
monetário.
o Benevolato é isso mesmo, é tudo o que eu referi, todos esforços por
caridade e sem qualquer tipo de recompensa.

➢ Análise da economia dos bens e do campo burocrático é um dos lugares de


denegação da economia, o que entrou violentamente em concorrência com o
estado.
➢ A ordem do publico, da coisa publica constitui-se historicamente através da
emergência de um campo onde são possíveis atos de interesse geral, de serviço
publico, encorajados, conhecidos, reconhecidos e recompensados.
➢ A economia dos bens simbólicos é caracterizada como censura do interesse
económico, em que dizer a verdade, quer dizer, o preço deve ser escondido ou
deixo no vago, que se expões assim a fazer surgir como calculadas e interessadas
praticas que se definem contra o cálculo e contra o interesse,
➢ Para os agentes todos os bens têm um preço no caso "sem preço".
o O trabalho de denegação pode ser coletivo.
➢ A economia das trocas simbólicas traduzem se no facto de o vendedor fazer o que
quer, e pedir sempre a retribuição meio que sendo uma obrigação.

42
Entre memória e história – lugares de memória
O fim da história-memória

➢ Aceleração da história
o uma oscilação cada vez mais rápida de um passado definitivamente morto,
a perceção global de qualquer coisa como desaparecida – uma rutura de
equilíbrio
o é o arrancar do que ainda sobrou de vivido no calor da tradição, no
mutismo do costume, na repetição do ancestral sob o impulso de um
sentimento histórico profundo
➢ A ascensão à consciência de si mesmo sob o signo do terminado
o é o fim de alguma coisa desde sempre começada no entanto não acontece
mais, mas será sempre relembrada
➢ A curiosidade pelos lugares onde a memória se cristaliza e refugia está ligada a
este momento particular da história
o Momento de articulação onde a consciência da rutura com o passado se
confunde com o sentimento de uma memória esfacelada
▪ Mas onde o esfacelamento desperta ainda memória suficiente para
que se possa colocar o problema de sua encarnação
➢ Os lugares de memoria existem por não haver mais meios de memória
➢ A mutilação sem retorno que significou o fim dos camponeses, esta coletividade-
memória por excelência cuja voga como objeto de historia coincidiu com o apogeu
do crescimento industrial.
➢ Aceleração
o é a distancia entre a memoria verdadeira, social, intocada, cujas sociedades
primitivas representam o modelo e guardam o segredo consigo
o é a historia que leva a mudança, uma memoria sem passado reconduz
eternamente a herança, pois a história traz poder e os homens foram
reconhecendo isso , esse poder , essa mudança a partir dos tempos
modernos.
➢ Revelação:
o rutura de um elo de identidade muito antigo, no fim daquilo que vivíamos
como evidencia; adequação da história e da memória.
➢ O facto de a nossa memoria ser importante é pelo facto de termos possibilidade de
consagrar lugares de os transformar em lugares de memória, conseguir vivenciar o
passado mas apenas em memórias.
o Os judeus, a sua constituição em povo da memoria excluía uma
preocupação com a história, até que a abertura para o mundo moderno lhes
impôs a necessidade de historiadores.
➢ A memória é a vida, sempre carregada pelos indivíduos e está sempre em
permanente evolução, onde pode haver lembrança e esquecimento.
➢ A história é a reconstrução sempre problemática e incompleta que não existe mais.
➢ A memória é sempre atual, vivido no presente, sendo a historia uma representação
do passado, a memória instala uma lembrança no sagrado
o a historia a liberta e torna sempre prosaica, a historia pertence a todos e não
pertence a ninguém, liga continuidades temporais, Às evoluções e relações
das coisas.
➢ O intuito da memória é destrui-la e repeti-la

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o a historia é desligitimação do passado vivido, uma sociedade que vivesse
integralmente sob o signo da historia não conhecia afinal mais do que uma
sociedade tradicional, lugares onde ancorar a sua memoria.
➢ Não é só os objetos mais sagrados que dão a historia.
➢ Houve um tempo em que a tradição de memoria parecia ter achado sua
cristalização, em que a historia, memoria e a nação mantiveram então, mais que
uma circulação natural.
➢ Acreditava-se que a historia positivista não era cumulativa.
➢ Com as novas conquistas, os novos patrimónios , as memorias permaneceram, as
memorias de uma nação.
➢ A nação deixa de ser um quadro unitário que encerrava a consciência da
coletividade, a sua definição não está mais em questão ˜
➢ O passado só seria possível conhecê-lo e venera-lo se a sua nação servir, sendo
necessário assim preparar um futuro, a historia tornou se uma ciência social e a
memoria um fenómeno puramente privado.
➢ Os estudos de lugares encontra-se assim em dois movimentos que lhe dão hoje na
frança o seu sentido:
o um puramente historiógrafo, o momento de um retorno reflexivo da historia
sobre si mesma
o um movimento propriamente histórico, o fim de uma tradição de memoria
o Os dois movimentos combinam para nos remeter de uma só vez e com o
mesmo elo, os instrumentos de base do trabalho histórico e aos objetos
mais simbólicos da nossa memoria.
➢ Os lugares de memoria são, antes de tudo restos.

44
Memória tomada como história

➢ Tudo o que é chamado de memória não é memoria mas sim historia.


o A necessidade de memória é a necessidade de história.
o Essa memória apoia inteiramente sobre o que há mais preciso no traço,
mais material no vestígio, mais concreto no registro, mais visível na
imagem.
o O movimento começou com a escrita e termina na alta fidelidade e na fita
magnética.
➢ Memoria é vivida no interior mas ela tem necessidade de suportes exteriores e de
referencias tangíveis de uma existência que só se vive através delas.
➢ O sentimento de um desaparecimento rápido e definitivo combina-se à
preocupação com o exato significado do presente e com a incerteza do futuro para
dar mais vestígios.
➢ A lembrança é passado completo em sua reconstituição a mais minuciosa.
➢ A memória é registradora, que delega ao arquivo o cuidado de se lembrar por ela e
desacelerar os sinais onde ela deposita como a serpente sua pele morta
➢ A memória é a constituição gigantesca de material que nos é impossível lembrar, e
ela ocupa esse lugar, de nos lembrar do passado.
➢ Nenhuma época foi tao voluntariamente produtora de arquivos como foi a nossa,
pela superstição que havia e pelo respeito ao vestígio.
o À medida em que desaparece a memoria tradicional nós sentimos
obrigados a acumular religiosamente vestígios, documentos etc.
➢ A materialização da memória em poucos anos dilatou-se prodigiosamente,
desacelerou-se, descentralizou.

45
➢ Os 3 grandes produtores de arquivos reduziam-se às grandes famílias, À igreja e ao
estado.
➢ A liquidação da memoria foi soldada por uma vontade geral de registo.
➢ As memorias são indicadores.
➢ Produzir o arquivo era o imperativo da época onde se guarda absolutamente tudo.
➢ A historia da memoria obrigou a que cada individuo revitalizasse a sua própria
historia, a verdade é que todos os indivíduos sentem a necessidade de saber mais
sobre si indo encontrar as suas origens tornando a sua própria historia.
➢ São os próprios educadores que tomaram mãos da historia da educação, a
comerciar pela educação física ate ao ensino da filosofia, cada historiador procura
uma descoberta diferente, a verdade é que foi necessário haver historiadores para
começar a existir varias coisas como a filosofia por exemplo.

➢ O preço da metamorfose histórica da memoria foi a conversão definitiva à


psicologia individual

➢ O historiador é aquele que impede a historia de ser somente historia


o se a sociedade não tivesse historiador era impossível haver realmente
historia
➢ A mudança do modo de perceção reconduz o historiador aos objetos tradicionais
dos quais ele havia se desviado, os usuais da nossa memoria nacional.
➢ A historiografia inevitavelmente ingressada em sua era epistemológica, fecha
definitivamente a era da identidade, a memoria inelutavelmente tragada pela
historia, não existe mais nenhum homem memoria mas sim um lugar memoria.

Os lugares de memória – uma outra história

➢ Os lugares de memória pertencem a dois domínios que a tornam interessantes, é


simples e ambíguos, naturais e artificiais, imediatamente oferecidos à mais
sensível experiencia, e sobressaindo da mais abstrata elaboração, são lugares com
efeito nas palavras materiais, simbólicos e funcionais.
➢ Mesmo sendo apenas um lugar essa torna-se num local de memorias e de arquivos,
➢ É material por ser um conteúdo demográfico, funcional pois retém lembranças, e
símbolos porque caracteriza experiencias vividas no passado.
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o O objeto deve ser digno de lembrança.
➢ Se a historia, o tempo, a mudança não interviessem seria necessário se contentar
com pequenos memoriais, lugar como o cemitério, lugares mitos etc.
➢ Ser um lugar de memoria é parar o tempo, imortalizar a morte, materializar o
imaterial.
➢ Os lugares de memoria só vivem da sua aptidão para a metamorfose no incessante
ressaltar de seus significados e no silvado imprevisível das suas ramificações.

➢ Ele deixa a memoria coletiva para entrar na memoria histórica, depois na memoria
pedagógica.
➢ É a memoria que dita e a historia que escreve, por isso é que os dois domínio
merecem que nos detenhamos, os acontecimentos e os livros de historia do modo a
delimitar nitidamente o domínio.

➢ Os lugares são nosso momento de historia nacional.


➢ Os lugares de memoria não tem referentes na realidade, é o seu próprio referente,
sinais que devolvem a si mesmo, sinais em estado puro, o que faz os lugares de
memoria é exatamente aquilo, que eles escapam da história, é um lugar duplo,

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excesso, fechado sobre si, fechado sobre sua identidade e recolhido sobre seu
nome, mas com as suas significações.

Resumo

Economia dos bens simbólicos é paralela à dos bens reais. É esta noção de Pierre, com a
descrilão do campo cultural de Pierre bordeu, que vamos refletir sobre os lugares de
memoria.

As sociedades funcionam como um campo de forças, ainda que representado por um


quadrado, grupos de seres humanos que os grupos os individuoes estão em competição, pq
estão constantemente a se aproximar da zona positica do campo social, esta ideia de
competição é fundamental no modelo de Pierre Bourdieu.

Campo cultural está numa zona de prestigio mas em posição dominada, o campo do poder
pode condicionar o campo cultura, nos casos em que há censura estabelecida. Hj em dia é
menos visível, ainda assim existe a possibilidade a cada momento.

Quem e que decide se uma obra é literária ou não, se uma pintura é ou não uma obra de
arte ou não, a diferença é que de facto, uma instancia de consagração que se apropriou e
disse que isto tem valor. Igual que os textos literários, depende sempre como se consiga
consagrar, mesmo alguns erros de sintaxe. Professor Pina Martins, acusava que o Saramago
nem sabia por pontos e virgulas, o mesmo objeto pode ser visto como uma interpretação
criativa, ou apenas una limitação, depende sempre do tempo de quem o le de quem o
consagra.

A tal diferença entre a economia real e o simbólico, e é aqui que o nosso trabalho se coloca.
Os bens que circulam no bem cultural e por mts vezes tem apenas o valor simbólico,
resultado do investimento que foi feito sobre essas produções culturais. Investimentos
simbólicos, que procuram encontrar ancoras para uma ideia do que será Portugal, ou a
portugalidade. Vivemos no mundo das nações, a nação ainda é o principio organizador. A
ideia de que estamos a falar de realidade, qd falamos da cultura temos de questiona la, são
investimentos simbólicos, são realidades simbólicas e por isso a questão do nacionalismo e
da identidade nacional.
A nação é uma comunidade imaginada, pertença a nível emocional mais que a nível real.
Pierre Bourdieu ,o valor da obras e bens culturais, se decide a nível do simbólico, o campo
cultural encontra-se dominado pelo campo do poder. Interessante pensar a questão de que
existe uma dinâmica permanente no campo que procura a consagração. Como é um modelo
dinâmico, podemos entender a trajectoria do agentes (muscios, pintosres), como uma busca
constante a consagração, é a construção de uma reputação. O que dá legitimidade de um
productor cultural faz-se pelo reconhecimento, pela aproximação ao campo do poder,
politico ou cultural mais para cima. Percurso de Saramago, desde o desconhecimento até ao
premio Nobel. O efeito de consagração do Nobel, faz com que passe a ser do Canone. Isto
para ilustrar a ideia de trajectoria. A evolução (A ilusão biográfica), de Pierre Bourdieu, de
que maneira poem em evidencia o que era possível, o que era prestigiado nessa sociedade.
As pessoas entram no campo da consagração, já lhes pendem questões do campo do poder,

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e não acerca da sua escrita. Como fica perto do campo do poder, como é elevado ao prestigio
tem direito a ter opinião sobre tudo.

É possível trocar bens materiais por bens simbólicos. Por isso mm existem essas duas
economias. A dimensão simbólica é tão importante que há coisas que não se conseguem
entender se não entendermos que se trata de um valor simbólico. Por exemplo vender mts
livros não é sinal de muito prestigio. Vendido ao capital, produzir em serie, a questão dos
bens simbólicos. Onde aparece que noção de capital, enquanto se está no sofrimento, o
comportamento deste agente, tem uma imagem de dedicação á sua arte, vai capitalizando
capital simbólico, é como se ele tivesse até á sua consagração, vai acumulando prestigio,
sempre dedicado, sempre a tentar que a sua arte, todos os génios incompreendidos da
historia, camões, Bocage.

1.Distingue entre o valor real e o valor simboluico


2.Adalta o vocabulário da economia á descrição dos denomenos cultirais
3.traça um paralelo entre as trocas economcias e as trocas que acontecem nos campo
cultural.
Pq este modelo é interessante para a cadeira
O capital económico e o capital cultural, sºao diferentes mas determinantes, quem acumula
prestigio vai tentar acumular os dois.
Visão dinâmica dos fenómenos culturais:
Descrição das “vida das obras”
Problematização do conceito de “valor”
Paralelo entre o funcionamento da económica real e o funcionamento do campo culutra,
postulando a existencia de uma economia dos bens simbólicos.

Modelo teórico de Bourdieu


1. Integra a produção, disseminação e consumo dos textos na dinâmica social
2. Propõe um modelo teórico que descreve o modo de funcionamento do campo
cultural
3. Relaciona as produções culturais (literárias, artísticas, etc.) com as dinâmicas de
poder em cada sociedade
4. Dá resposta às questões relacionadas com a qualidade e o valor dos objectos e
criações culturais
Uma ciência das obras literárias, para Bourdieu, precisa dar conta de três operações: análise
do campo literário no campo do poder e sua evolução, análise da estrutura interna do campo
e sua evolução e análise da gênese das posições dentro do campo.
O primeiro caso diz respeito à autonomia do autor, tanto mais independente quanto menos
preso à demanda. A hierarquização do sucesso, por seu turno, é externa, a cargo do grande
público, e interna, como reconhecimento dos pares. Assim, são escritores de sucesso os
comerciais e as vanguardas reconhecidas, enquanto amargam o fracasso os fracos
(comercialmente) e os malditos. A rivalidade literária, portanto, diz respeito ao monopólio
do poder de dizer com autoridade quem é escritor. As lutas dentro do campo legitimam, por

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um lado, aqueles que têm sucesso de vendas e, de outro, as vanguardas, que apontam para
as possibilidades ainda não consagradas, mas com lugar social garantido.

Consciência história e Nacionalismo


➢ O panteão nacional foio inicialmente projetado pelos liberais radicais no poder em
1836
História e função dos grandes homens
➢ O panteão nacional foio inicialmente projetado pelos liberais radicais no poder em
1836

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A história dos grandes homens é uma teoria da história que busca explicar a História a
partir da ação e do impacto dos chamados " grandes homens ", indivíduos muito
influentes, seja por carisma, inteligência genial ou por grande impacto político.
O trabalho de domesticação (filho mais novo), que é necessário para transformar a
verdade objetiva de uma relação é obra de todo o grupo, que encoraja e recompensa
o mais novo, para que a alquimia funcione como na troca de dons, é preciso que seja
sustentada por toda a estrutura social e pelas estruturas mentais e pelas disposições
produzidas por essa estrutura social.
É preciso que haja um mercado para as ações simbólicas, que haja recompensas,
ganhos simbólicos que podem converter-se em material, que seja possível ter
interesse no desinteresse, que aquele que trata bem o seu criado seja recompensado.
A história dos grandes homens é uma teoria da história que busca explicar a História
a partir da ação e do impacto dos chamados "grandes homens", indivíduos muito
influentes, seja por carisma, inteligência genial ou por grande impacto político.

Como exemplo, um historiador que privilegie essa linha de trabalho, estudaria a


Segunda Guerra Mundial enfocando as grandes personalidades nela envolvidas —
Adolf Hitler, Benito Mussolini, Franklin Delano Roosevelt, o Imperador Hirohito,
Josef Stalin, Sir Winston Churchill e outros — e perceberia todos os eventos
históricos como ligados diretamente às decisões e ordens de cada um deles.

Esta teoria é normalmente contrastada com a teoria que propõe que os eventos
acontecem numa dada circunstância de tempo, ou quando uma imensa quantidade de
pequenos eventos causam certos desenrolamentos.

Comumente associada ao filósofo e historiador Thomas Carlyle, que comentou "A


história do mundo é apenas a biografia de grandes homens", a sua abordagem foi
bastante popular por historiadores profissionais entre o final do século XIX e o início
do XX. Um dos exemplos mais expressivos de seu tipo de produção é a
"Encyclopædia Britannica Eleventh Edition" de 1911, que contém longas e
detalhadas biografias sobre grandes nomes da história. Nela, por exemplo, para se
informar sobre o que denomina-se hoje como "migrações dos povos bárbaros", pode-
se consultar a biografia de Átila, o Huno.

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Um ferrenho opositor da história dos grandes homens em sua própria época foi Leon
Tolstói, que reservou a última parte (não-ficcional) de seu clássico Guerra e Paz para
contestar essa teoria, utilizando as Guerras Napoleónicas como exemplo.

Durante a maior parte do século XX, a história dos grandes homens esteve
desfavorecida, uma vez que a grande maioria dos historiadores acreditavam que
fatores econômicos, sociais, ambientais, e tecnológicos eram mais importantes para a
história do que as decisões tomadas por determinadas pessoas. Recentemente,
registra-se, entretanto, um retorno à produção biográfica.

Embora seja popular a crença em que a história gira em torno de "grandes homens",
especialmente quando a sua "grandeza" é determinada primariamente por status
político, essa é uma visão de pouca profundidade, que exclui a participação de
grupos inteiros na história, entre os quais os trabalhadores, as minorias étnicas, as
minorias culturais, e mesmo as mulheres enquanto gênero. Essa crítica espalhou-se
em outros campos do conhecimento, como o criticismo literário, onde o novo
historicismo de Stephen Greenblatt argumenta que as sociedades criam trabalhos de
arte, não apenas os autores. Do mesmo modo, quando essa teoria é aplicada ao
cinema, ela tende a explicar a história do cinema e sua evolução quase
exclusivamente em termos dos "grandes homens", com alguns diretores notáveis, o
que negligencia o esforço dos atores, equipes, assistentes, etc.

Comunidades imaginadas
➢ Conceitos e definições
o Nação (3 paradoxos):
▪ a modernidade objetiva das nações aos olhos do historiador VS a
sua antiguidade subjetiva aos olhos dos nacionalistas;
▪ a universalidade formal da nacionalidade enquanto conceito
sociocultural VS a particularidade irremediável das suas
manifestações concretas, de tal forma que, a nacionalidade “grega”
é sui generis;
▪ a força “politica” dos nacionalismos VS a sua pobreza, incoerência
o Tom Nairn diz que o “nacionalismo” é a patologia da história moderna do
desenvolvimento, é a “neurose” do individuo.
o Entidade como uma ideologia por causa de Nacionalismo (letra maiúscula)
tipo Idade.
➢ O autor propõe a seguinte definição:
o comunidade política imaginada
▪ e que é imaginada ao mesmo tempo como intrinsecamente limitada
e soberana.

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▪ E imaginada porque até os membros da mais pequena nação nunca
ouvirão falar de outra nação, mas na mente existe uma imagem
elaborada sobre cada uma.
➢ Mas Gellner declara que
o “o nacionalismo não é o despertar da consciência das nações ele inventa
nações onde elas não existem”
▪ mascarada sob falsas aparências onde as comunidades
“verdadeiras” que podem justapor se vantajosamente as nações.
▪ A verdade é que a nação é imaginada como limitada porque até a
maior das nações tem fronteiras onde estão localizadas outras
nações.
➢ É imaginada como soberana dado que nasceu quando o iluminismo e a revolução
destruíam a ordem divina e o reino, em que na época uma qualquer religião
universal se enco9ntrava confrontada com o pluralismo dessas religiões.
➢ As nações anseiam por ser livres e o estado soberano é o emblema dessa liberdade.

Panteão Nacional – um lugar de memória

➢ SIMBOLISMO E MEMÓRIAS – LUGAR DE BELÉM


o Belém estava fortemente identificado, tal como o seu mosteiro, por causa
da epopeia marítima lusitana do século 16
▪ Isto porque a imagem de camões foi revalorizada, nos alvores do
romantismo
▪ Quando o orgulho nacional estava ferido pelas invasões
napoleónicas, foi o principal motor da intensa revivescência
memorial criada em torno do monumento no século 19
➢ Com o decorrer da intenção de se homenagear camões no templo do cenóbio
hieronimita, num quadro de progressiva laicização da sociedade e de um certo
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descrédito do poder monárquico, reflexo da conjuntura europeia, fixou-se a ideia
de aí se formar um panteão de heróis nacionais
➢ 2 momentos da dimensão simbólica de santa Maria de belém
o O que acompanhou a sua construção e que o tornou num dos principais
panteões da monarquia portuguesa
▪ O que permite traçar a história dos monumentos
o E o da época do culto dos heróis e da valorização de certos estilos artísticos
▪ Na procura de valores de identidade nacional
➢ O PANTEÃO REAL DE SANTA MARIA DE BELÉM
o A dimensão simbólica não se extingue na sua faceta memorial e exaltadora
da epopeia marítima portuguesa, dos seus protagonistas e de uma época
áurea da conjuntura nacional
o Quando se pretende analisar o caráter ideológico e a expressão material dos
enterramentos régios em Portugal
▪ Manifesta-se incontornável a realidade do mosteiro dos jerónimo
• Pela adoção funerária que a dinastia de Avis-beja dele fez,
bem como alguma ponderação face aos modelos de
panteonização que o antecederam, integrados na
proclamação para todo o sempre do poder do rei
o Fixando na pedra o seu prestígio e recordando que a
sua soberania permanecia para além da morte
o Conotando-se as cerimónias fúnebres da realeza, pela dupla importância
como expressão do poder do que morreu e a legitimação do sucessor, e os
mausoléus promovidos por cada dinastia, ramo dinástico ou soberano,
como manifestações vivas desse poder, torna-se evidente o investimento
que em cada ensejo a coroa dirige para a fixação do seu memoria
vinculando o futuro às lembranças de outros tempos, com projetos
sepulcrais ventilados pela modernidade
o No estado moderno, a atitude de constante reafirmação de legitimidade do
poder real é uma constatação, e os reflexos nas conceções artísticas estão à
vista por esse mundo ocidental fora, beneficiando da criatividade e
novidade estéticas
o Em Portugal, no final do século 14, criou-se os panteões familiares, que por
vezes, sem continuidade no ramo dinástico ou dinastia subsequentes,
pautados por estéticas inovadoras e arrojadas que procuram aglutinar num
mesmo estaleiro de obras arquitetos de renome (inter)nacional, e os mestres
mais conceituados nas diversas artes, com vista à criação de construções
grandiloquentes e singulares

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➢ Foi em prol destes princípios ideológicos, unidos a uma intensa necessidade de
afirmação da legitimidade governativa do reino de Portugal, que D. João 1
promoveu a construção do mosteiro de Santa Maria da Vitória, próximo do lugar
da batalha de Aljubarrota, onde derrotou o rei castelhano, deliberando que naquele
espaço monástico fosse integrada uma capela funerária
➢ O testamento do monarca foi de querer fundar um panteão para os filhos, netos de
reis, na capela real, situada à esquerda do templo, reservando para si e para os
futuros soberanos o espaço central e para os príncipes, os espaços laterais
➢ Este projeto constituiu uma reviravolta no que toca às sepulturas régias em
Portugal
➢ Introduziu-se uma tipologia tumular inédita em terras lusas e definiu-se uma
tendência de competitividade por complexos sepulcrais audaciosos que os dos seus
antecessores, em construção exterior à igreja, à imagem do que sucedia a santa
capela de paris
➢ D. João 1 manifesta uma atitude de afirmação do poder real nas fronteiras do reino,
mas também de promoção internacional da sua imagem estadística
➢ A maioria dos panteões afirmou-se junto ao litoral atlântico, nas cidades mediáveis
mais significativas, definindo uma coluna dorsal, que José Mattoso considerou ser
a linha nevrálgica da formação política da nacionalidade portuguesa
➢ D. Afonso Henriques e seu filho elegeram o mosteiro crúzio de Coimbra, a então
capital

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